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Livro | The Double Me - 5x14: I Don't Think You Know What Pain Is

5x14: I Don't Think You Know What Pain Is
“Um fogo vivo devora o outro".

Hi, it’s Lola. If you’re still in the 90’s, leave a message after the beep — Repetira a secretária eletrônica.
Mia resolveu por uma última tentativa.
— Se estiver viva, atenda o celular. Se não estiver, avise, comprarei uma tábua Ouija — Ouviu o barulho da porta.
Noah trazia um conjunto de bolsas e malas de viagem para caber suas telas e os novos materiais de pintura. Não esperava encontra-la no loft de manhã tão cedo.
— Você está aqui — Ele disse.
— Sim, me desculpe. Encontrei as chaves em uma luminária no corredor. Achei que não se importaria.
— Nenhum pouco — Trancou a porta atrás de si. — Algo errado?
— Minha amiga, Lola. Faz dois dias que não atende minhas ligações.
— Quando a viu pela última vez?
— Na noite da exposição. Pedi para que levasse Natasha ao quarto de hotel e ela me mandou uma mensagem dizendo que passaria a noite no apartamento de algum cara que conheceu na galeria. Não sei bem o que pensar — Ao menos não o diria, sendo especulação.
Noah levou um tempo para tirar as bagagens do caminho e posicionar as sacolas de compras sobre o balcão da cozinha.
— Lola costuma fazer isso?
— Desde sempre, mas nunca levou tanto tempo para retornar. E nunca deixou de atender minhas ligações.
— Não quero assusta-la... — Caminhou de volta. — Mas talvez seja melhor chamar a polícia.
Mia recordava de uma matéria no jornal de semana passada, relatando a atividade de um possível serial killer nas redondezas. Três corpos foram encontrados; todas mulheres, na faixa dos vinte e dois anos, e loiras de um tom do mesmo. Lola se encaixava nos padrões.
— Ela pode aparecer nas próximas horas... — Decidira acreditar. — Enfim... planejando uma viagem? — Referia-se as malas que o viu trazer.
Noah olhou para trás, de reflexo.
— Fui selecionado por uma academia no México. Darei aulas de pintura.
— México?
— Recebi a notícia ontem à noite, é uma surpresa para mim também.
— Pensei que viesse comigo à Nova York conhecer meus irmãos. Quer dizer, Alex... quer dizer, Nate — Era seguro contar-lhe. — Nate tomou o lugar do irmão há alguns meses. É uma longa história.
— Uau, isso realmente acontece?
— Contra todas as possibilidades, sim.
Ele tomou um lugar no sofá maior.
— E eles querem que eu vá? — Perguntou.
— Eles ainda não o conhecem.
— Lydia estará lá.
— Posso lidar com ela.
— Eu não. Não sei se estou preparado para voltar.
A parte mais difícil, Mia entendeu. Nate e ela não tiveram a melhor das despedidas, e Lydia passou os últimos meses limitando todos os seus recursos para impedir que encontrasse seu pai. Alex continuava em fuga, Judit a fingir estar bem, e Simon aguardando julgamento em um presídio federal. Parte dela também não queria voltar para essa mesma verdade.
— Podemos dar um jeito — Sentou-se ao lado dele. — O clima do México é adorável nesta época do ano.
— Não posso deixa-la fazer isso. Você tem uma família.
— Aos pedaços.
— Não à toa que precisem mais de você agora — Beijou-a na costa da mão. — Sinto muito, Mia. Preciso fazer isso.
— E quanto tempo vai levar?
— Até o fim do verão. Seus irmãos podem pensar a respeito nesse meio tempo.
— Nada de bom sucede ao deixá-los pensar. Não funciona para eles... — Ela levantou.
No tempo de ir até sua bolsa, no balcão da cozinha, Noah pensou no que dizer.
— Podemos viajar juntos quando eu retornar. Tem um lugar em mente?
— Um que envolva praia e sol — Ela remexia em busca de seu cartão de hospedagem.
 Não vejo praia desde a California. Sua mãe e eu temos ótimas lembranças — Sorriu lamentoso.
California...
Mia lembrava de uma época em sua pré-adolescência, quando ela e a mãe deitavam no carpete em frente a lareira com um globo escolar e tentavam decidir qual o melhor lugar para se viver longe da realidade do Brooklyn. Ivy sempre frisava as terríveis experiências que teve em cidades litorâneas como Duxbury por serem quentes e úmidas – e por sua pele branca despelar facilmente debaixo do sol. Mencionou a California apenas uma vez ao falar sobre a vivência na estrada com os colegas de elenco.
Sua peça de teatro fora cancelada antes de ter a chance de conhecer a California, e por voltar ao Brooklyn em épocas festivas, com muito frio e tempestades de neve, ela sempre esteve grata.
Mia tentou disfarçar a desconfiança.
— Sempre quis visitar as Ilhas Seychelle — Disse a ele.
— Podemos começar por lá.
— Agora eu preciso ir — Adiantou-se até a porta. — Se Lola aparecer, diga que a estou esperando no hotel.
— Não se preocupe, tenho certeza que nada aconteceu.
— Vejo-o à noite.
— Estarei aqui — Ele acenou por último.
Aquela estranha sensação ficou com ela até voltar ao carro. Se Noah mentiu sobre a California com tamanha convicção, o que mais não tomaria como verdade?


       — Esse jogo ta uma porra! — Nate caiu para trás.
Dominik acabara de dobrar sua pontuação e derrubar a última torre guarnecida pelos dragões adversários. Seis de seus jogadores ainda estavam de pé quando o último feiticeiro adversário perdeu todos os seus pontos de saúde.
— Melhor de cinco? — Propôs a Nate.
— Seria como fazer um pacto com o Diabo.
— Não odeie o jogador, posso oferecer uma vantagem inicial.
— Em um minuto, vou fazer algo para comermos — Levantou-se depressa. — Me acompanha?
— Não sou muito bom nisso.
— Certo. Deixe comigo — E dobrou à cozinha. — Você é uma pessoa salgada ou doce? — Perguntou, num grito.
— Doce, por favor...
Pôde ouvir a risada de Nate no outro cômodo. Era uma ironia.
Dominik distraiu-se com o jogo apenas por quanto durou a missão individual do seu avatar. Para explorar o apartamento, deixou o vídeo game em suspensão e os controles alinhados sobre a bancada.
Encontrou no banheiro escovas de dentes, pasta, desodorante, pomada para cabelos e cremes faciais. A coleção de jogos, Blu-Rays e CD’s musicais estampava um hall completo da estante da sala de estar, organizada por gênero em relação aos jogos e filmes, e por ordem alfabética em relação aos CD’s.
Pelo que havia notado, Nate passara muito tempo naquele quarto de hotel. Seu notebook estava lá; seus livros, suas revistas e também os presentes enviados por fãs, como ursos de pelúcia, cartas escritas a mão e até apetrechos eróticos. Na penteadeira, Dominik encontrou todas as roupas impecavelmente lavadas, dobradas e organizadas por cor. Abaixo delas havia cinco caixas de Clozaril, que alternavam entre totalmente vazias e seladas de fábrica. Para que isso serve?
O que encontrou no fundo da segunda gaveta, por baixo das toalhas, o deixou sem fôlego. Nate voltou no exato momento para vê-lo manejar o revólver.
— Não é para mim — Tomou-o de suas mãos. — É para o tiro prático.
— Não sabia que tinha uma queda por armas.
Há não muito tempo ele não tinha. Então sua irmã reapareceu, Matthew mudou-se para Nova York para vingar a memória do irmão e Lexi uniu-se a eles dois em sua cruzada. Não contaria com a sorte nestas condições.
— É terapêutico — Girou em suas mãos, abriu o carregamento, fechou, engatilhou e apontou para ele. — Quer brincar?
Dominik avançou um passo sob sua mira, até sentir o toque gélido da arma de encontro a sua pele. Um alvo limpo, no meio da cabeça.
Nate colocou um dedo sobre o gatilho e contou até três para que ele ouvisse.
Um; sorriu provocante.
Dois; Dominik engoliu em seco, de olhos fechados.
Três; puxou o gatilho.
Um sopro gelado dividiu a franja de Dominik em dois. Tremia dos pés a cabeça, mas também corroía de um estranho prazer masoquista.
— Você teme a morte, afinal — Não como a noite no topo do Strauss Capital Hotel, Nate conjeturou.
— O que você teme? — Foi para além da mira, de encontro a ele.
— O esquecimento.


    Dominik tomou seu braço direito. Os cortes mais aparentes cobriam do antebraço à área dos pulsos.
— Não é para eles — Entendia agora. — É para que você lembre.
— Não sou mais assim.
— Eu sei disso... — Fez uma trilha de beijos sobre as cicatrizes e até abeirar o pescoço.
Nate cerrou os olhos.
— Tentador.
— Você é perfeito... nem eu te acredito.
— Vai mudar de ideia...
— Nunca — Dominik beijou-o então.
Tiveram seu momento na cama de casal para encerrar a noite. Lado a lado eles deitaram – Dominik virado à porta, Nate à parede vidraça. Uma lua minguante esplendia ao alto no céu e em contrate à penumbra do cômodo, agora em silêncio total. Horas passaram-se com eles ali.
Dominik resistiu de olhos abertos a todas as investidas do sono. Nate, devido a insônia, apenas fechou os olhos e permaneceu imóvel como se dormisse de verdade. Havia se tornado um hábito divagar pelos lugares obscuros de sua negação. Preocupava-se com Dominik, mais precisamente. Perguntava-se onde iam parar, o que estavam fazendo, e se ao menos era correto.
Algo vinha alerta-lo, frio e cortante, que não levaria muito tempo até descobrir se haveria uma chance de voltar atrás.
— Eu te amo... — Dominik sussurrou.
Os olhos de Nate abriram-se em um verde lúgubre para encarar a vidraça. Não havia como voltar atrás.


      O porta-retratos na mesa de Colin chamou sua atenção enquanto vestia-se. Sua filha Jessica, aos dois de idade, sorria para a câmera sem os dentes da frente, no colo da mãe. Thayer reconheceu as árvores do Central Park atrás delas, e também o logotipo em formato de L vermelho da Linnard Report, no topo do edifício à vista.
— Sua família está na cidade? — Perguntou.
Colin terminava de calçar as meias.
— Não pela próxima semana. Temos o flat só para nós.
— Íntimo demais — Thayer apertou os cintos. — Sexo no escritório não acarreta em inconveniências.
— Maggie teria concordado.
Maggie e ele estavam casados há três anos, desde que terminaram a faculdade. Thayer julgava ser tarde demais para sentir remorso, visto a tê-lo feito sexo oral durante a recepção do casamento em um depósito de cerveja do Monte Carlo Bay Hotel.
— Senhor Fraser? — Ouviram alguém bater à porta.
No tempo de ele atender, Colin caminhou até sua mesa para pegar os óculos.
— Olivia — Thayer a cumprimentou.
A garota parecia ainda mais séria e desconfiada com seus olhos estreitos a esmiuçar todos os detalhes.
— É Dawn, ela está fazendo o coyote ugly — Olhou para Colin por cima de seu ombro. — Está tudo bem?
— É claro — Thayer respondeu. — Foder o chefe faz parte da minha rotina de trabalho.
— O que você disse?
— Estou apenas confirmando suas suspeitas.
— Eu nunca tive susp...
— Não se importe em nos convencer disso. Agora leve-me até ela.
Fazer o coyote ugly estava além do que Thayer engajaria em uma noite de bebedeira. Da última vez em que Dawn subiu às mesas, terminou com a maquiagem borrada, os seios à mostra e sem a calcinha. Não foi tão diferente dessa vez; Thayer chegou no momento exato para impedir o vexame.
— Você vem comigo — Tomou-a no colo.
Pôde ver a decepção no olhar de seus colegas de trabalhos, que esperavam por outro show particular. Não naquela noite.
— Deixe-me em paz! — A garota se debatia.
— Em outro cômodo, minha querida.
Levou-a até a sala de visitas, dois andares abaixo. Havia sofás reclináveis, vasos floridos, pinturas decorativas e esculturas de gesso por cada canteiro. Thayer deitou-a sobre uma fileira de almofadas, posicionando uma delas inferiormente à cabeça inclinada. Já não demonstrava ter a mesma energia agora que encontrou um lugar confortável para o corpo e a mente.
— É assédio sexual... — Ela murmurou.
— Esqueceu da parte em que eu sou gay e estou salvando seu rabo.
— Você já se perguntou por que é gay?
— Algumas vezes — Posicionou uma outra almofada inferiormente à suas pernas. — Ver Matt Bomer em uma capa de revista é o que me esclarece as dúvidas.
— Tem razão, homens são gostosos — Sorriu arrastado.
Thayer teve a impressão de reiterarem as mesmas conversas da época de sua adolescência, quando todos os adultos demonstravam um interesse em particular por ser tão bem resolvido e tão novo para tal. Só não os enfrentou por saber que dependia de uma vida aparente pelas conquistas de medalhista olímpico – e em um futuro não muito distante, como o herdeiro da New York Advance Publishing.
Colin lidava com isso todos os dias.
— Você não deveria estar aqui — Disse Dawn.
— Por que não?
— Sabemos que uma única coisa o faria feliz de verdade, e esta não é Colin Fraser.
É Alex Bennett. Não Strauss; Bennett.
— Seu hálito de bebida não inspira qualquer confiança.
— Estou falando sério — Ela deitou de lado para encara-lo. — Deveria estar procurando por ele agora mesmo.
— Alex não quer ser encontrado.
— Porque ele não sabe que você o quer de volta.
— Eu o quero de volta? — Não sabia ao certo.
Ela tocou a ponta de seu nariz com o indicador.
— Querido, é tudo o que você mais quer — Disse, de afirmo.
Thayer não esperava que soubesse melhor que ele.
— Somos amigos há uma semana e já é capaz de ler minha mente.
— Sou muito perceptiva quando se trata das outras pessoas.
— Não fique tentada a falar sobre isso na frente dos outros, trabalhamos para um tabloide.
Ela riu.
— Você nunca teve um amigo de verdade, não é? — Parecia evidente.
— Tenho um. É o melhor de todos.
— Um que nunca fodeu?
— Isso é impossível.
Ela riu de novo.
— Queria ser um garoto gay...
— Você meio que é.
— Não do jeito certo... — Espreguiçou-se. — Você faz parecer tão fácil... — E aos poucos foi pegando no sono.
Tinha razão. Era tão fácil que propendiam a dificultar pelo mais simples que fosse.
— Bons sonhos, senhorita — Beijou-a na testa.
Por algum tempo fez-lhe companhia, precisava organizar as ideias. Sua jaqueta serviu como um cobertor improvisado e o cesto de lixo fora posicionado em direção ao rosto, caso precisasse.


     Quando voltou ao salão, estavam tocando uma música em sua homenagem. I don’t know about you, but I’m feeling 22.
— Ah, não... — Ele resmungou.
— Não deixaria essa passar — Disse-lhe o irmão. — Só se faz vinte e dois anos uma única vez.
— Podemos fazer melhor que Taylor Swift.
— Beba — Entregou-lhe uma garrafa de cerveja.
Thayer não sabia o que era, só não coincidia ao rótulo.
— O que é isso? — Olhou enojado.
— Nunca foi à Ucrânia?
— Se for um eufemismo para sexo anal, sim.
Ficou mais suportável após o segundo gole.
— Ele está ligando de novo... — Travis mostrou-lhe o celular.
— Deixe-me acabar com isso — Atendeu por ele. — Parker, amigão, você me deve uma pica de aniversário... — E tão rápido o sorriso desmanchou.
Travis tinha um vago pressentimento de que receberia uma má notícia.
— Algo errado?
— São nossos pais — Thayer disse a ele. — Sofreram um acidente de avião.


      Eles pararam em uma loja de conveniência na beira da estrada para que ela fizesse um curativo. Mal falaram o caminho inteiro, sequer trocaram olhares. Às três da manhã o hotel os recebeu de volta com um item adicional à bagagem.
— Gwen, abra a porta! — Kieran batia do outro lado.
Por quase uma hora ela trancou-se sozinha no banheiro da suíte. Vieram as lágrimas só então.
— Sinto muito pelo que fiz, ele entrou na minha cabeça — Kieran tentava justificar. — Por favor, abra a porta — E forçou a maçaneta.
Ela ia de um lado ao outro, murmurava de tudo sem fazer sentido. Havia barulho do chuveiro ligado, da banheira a transbordar, e da torneira da pia despejando água corrente direito no ralo. Ouvira um inseto zunir, comparado à TV em estático e às buzinas de carros no lado de fora.
Kieran desistiu após algumas tentativas frustradas de comunicação. Voltou somente ao ver a água escapar para o carpete da sala e molhar a sola dos sapatos.
— Gwenett, abra essa maldita porta! Agora! — Bateu mais forte.
Ela estava cansada demais para lutar. Desligou a água corrente e saiu pela porta, passando por ele. Foi a sala de estar, quebrou dois vasos de planta. Foi à parede lateral, quebrou as pinturas. Chutou um cinzeiro, o telefone interligado, e jogou ao chão as duas cadeiras de encosto de vidro. O abajur e os pratos de comida ela arremessou em direção a ele.
— Fique longe de mim! — Tremia ao dizer.
— Você precisa se acalmar!
Ela o estapeou com a costa da mão.
— Bata em mim agora, do jeito que você gosta!
— Pare com isso!
— Bata em mim! — Socou-o no rosto.
A marca que fizera nela agora estampava-o na bochecha em um traço sangrento.
Ela correu para pegar o notebook sobre a mesinha de centro, e ele o tomou em instantes. Então ela pegou a arma que ele levava na cintura.
— Nunca mais... — Apontou para ele, estremecendo. — Nunca mais toque em mim.
— Vai atirar?
— Nunca mais! — Ela gritou.
Levou uma cotovelada no nariz, no que tomava-lhe a arma.
— Acha que pode me intimidar? — Ele arrancou o pente para que ela visse. — Você não sabe de onde eu venho! — Estapeou-a do outro lado do rosto.
Gwen cuspiu uma bola de sangue sobre o carpete.
— Você é um monstro!
— Cala essa boca! — Estapeou-a novamente.
A noite o vencera pela exaustão. Não bastava que Aaron o fizesse de seu cachorrinho e o humilhasse na frente de seus seguranças, Gwen precisava leva-lo ao limite.
— Você mesma causou tudo isso — Foi ao balcão da cozinha para descarregar a mercadoria. — Poderia seguir-me adiante, mas insiste em medir forças — Organizou uma fileira de balas em frente a plataforma de cocaína. — Minha mãe costumava dizer que a dor é cabal. Na medida certa, há pouco que não a exorte — Contou novamente o número de pacotes.
Longe de sua vista, ela fez recolher o cinzeiro. Derrubou-o lento e doloroso com um golpe acima da nuca.
— Sua vagabunda... — Ouvira-o praguejar.
Foi ao quarto de casal em busca de seus equipamentos de treino. Quando retornou, usava apenas a regata branca, sem a jaqueta de couro, e tinha entre os dedos sua soqueira banhada a ouro maciço. Ela montou sobre ele e acertou-o no rosto uma por uma. Sangue respingou sobre o carpete, suas roupas e para dentro da boca e dos olhos, também sobre as unhas e pelo interior do sutiã.
De modo a vexar, arrastou-o pela camiseta e bateu sua cabeça contra a mesinha de centro. Nódulos arroxeados cobriam-lhe os olhos e bochechas com sangue escorrido.
— Não acho que você sabe o que é a dor — Ela sussurrou, erguendo-o pelos cabelos. — Mas eu sei — Assim deixou que caísse.
O que ele ouviu por último foi o tinido de seus saltos deixando-o para trás.


      A mais antiga tradição de pós-festa da Delta Beta Psi era assistir a jogos gravados de beisebol. Sempre ao encerrar das atividades, os garotos reuniam-se em um dos quartos do segundo andar com sacos de pipoca, chocolate e latinhas de cerveja. Nem sempre dava certo, como provara aquela noite. A maioria dormiu nos primeiros minutos de jogo; os poucos restantes, perderam em energia e incentivo com a derrota dos Fisher Cats para os competidores do Thunder.
Jensen ouvia-os gritar vez ou outra pela parede box. O chuveiro era vizinho de um lado do quarto B7, onde dormiam três dos irmãos, e do outro lado, também do salão de músicas – área restrita aos calouros. Só não estava mais concentrado no placar aberto que na água quente sobre os cabelos e em uma última música que entretinha o cérebro. Não precisava lembrar o nome, contanto que entendesse a mensagem.
Seus problemas podiam ser como uma marca de sujeira; uma vez que asseasse, iriam pelo ralo. Mas cicatrizes não se lavam.
— Certo... — Sussurrou para o espelho. Eram seus olhos encarando-o de volta, não os dele.
Chegou a tempo, no quarto, para os momentos finais da disputa. Oito strikes a cinco para os Thunder.
— Eu desisto! — David jogou o controle na cama.
Pelo que pôde perceber, o camisa vinte e três dos Fisher Cats calculou erroneamente o último lançamento.
— Parece divertido — Jensen tomou uma cadeira ao centro.
— Tortura é a palavra exata — Austin lhe disse. — Cite algo pior que ser eliminado nas semifinais por seu grande rival.
— Não ficar bem de uniforme esportivo.
Sean esboçou uma risada.
— Você está sempre pensando com a cabeça de baixo.
— Não funciona com a de cima — Todas as vezes em que Jensen tentou.
— Homens têm isso em comum. Era de se esperar que Rihanna nos matasse em seus videoclipes.
— Intrigante — Falou quase ao mesmo tempo em que soavam os gritos.
Poderiam acordar os mortos, não os que dormiam enrolados em um edredom. Jensen não saberia dizer se era baba ou vômito seco marcados no colchão.
— O que fará este final de semana? — Austin perguntou.
— Pensei em voltar à Nova York e visitar meu irmão.
— Desde que esteja aqui para a Hell Week de sábado, não teremos problemas.
— Isso é mesmo necessário? — Por bem ele dizia.
Jensen nunca viu razão em despender tempo e recursos promovendo trotes estudantis. Havia sempre o risco de alguém se machucar, ser descoberto, ou causar uma expulsão. Isso sem contar os métodos do instituto para controle de danos, que poria à fogueira o culpado que mais o fizesse parecer inocente diante da mídia e do conselho acadêmico.
— É uma tradição — Austin retrucou. — Não quebre o círculo agora.
— Soa como uma ameaça.
— Preciso certificar-me de que a Delta Beta Psi não fique sem um líder quando eu me formar, ano que vem. Indiquei seu nome ao conselho.
— Eu? Líder de fraternidade?
Austin achava aquilo engraçado.
— Não reconhecer seu potencial é uma de suas qualidades. Eu, por exemplo, nunca fui de muita modéstia.
— Meu silêncio vale mais que uma insígnia com o dobro de quilates.
— Que tal a mansão? Terá três anos para se acostumar ao trono.
— É uma ordem?
— Pense a respeito — Austin bebeu um gole de cerveja quente. — Ah não, fim de jogo! — Levantou da almofada.
Os outros resmungaram palavrões inexistentes para o juiz, os jogadores e também um ao outro. Foi ideia de Austin rever os melhores momentos da partida e apontar seus erros.
— Sabem o que é isso? — Pôs o indicador sobre a tela. — É um homem morto em campo, esperando o próprio carro funerário.
Jensen via o mesmo à distância, só não em dobro.
 Na outra cama, dois dos outros meninos disputavam nos braços uma melhor de três. David finalmente dormiu; isso era bom. Faziam cinquenta e nove horas desde a última vez. Sean desceu para pegar mais cerveja na dispensa, assim Timothy, que dividia a cama, tirou proveito em ter o edredom só para si. Austin poderia ser o único a interessar-se pelo que estava dizendo.
— Parem com isso, pessoal — Gabriel pediu aos dois na cama.
Um deles ficou por baixo, o outro imobilizou seus braços. O volume esbarrou por entre os shorts.
— Cara, você ta de pau duro! — O de baixo empurrou.
Austin e Gabriel jogaram as almofadas sobre eles.
— Se não é o garotão do papai... — Austin zombou.
— Mostre-nos um pouco mais  — Foi a vez de Timothy.
Viram corar as bochechas do de boné azul, mas ele não se acovardou do desafio. O primeiro beijo foi breve e retraído, como fariam em uma brincadeira de roda. Estavam os dois mais preparados para o que viria a seguir.
— Ele está usando a língua! — Austin apontou.
E os dois garotos só fizeram rir.
Um deles levantou – o de shorts vermelhos –, para ir até a bancada de bebidas. Pegou uma garrafa no gelo, puxou a tampinha e bebericou um gole. Austin não resistiu a uma aproximação.
— Tem para mim? — Beijou-o sorrindo.
Os outros garotos iniciaram um coro de incentivo. Jensen não havia decidido se estava confortável com aquela situação.
— Preciso ir — Disse, antes que fosse tarde.
Austin o seguiu pelo corredor.
— Onde você vai? — Puxou-o pelo braço.
— Não me candidatei para isso.
— É só uma brincadeira, não precisa levar a sério.
— Não gosto de ser usado, Austin.
— Hey, hey! — Pôs-se em seu caminho. — Não precisa fazer nada contra sua vontade. Não é não, só achei que estava a fim — Ou o que via duro marcado em suas calças não fosse um total consentimento.
Jensen colocou uma mão sobre a testa, de olhos fechados. A dor confundia os pensamentos, não seu apetite.
— Eu não posso...
— Apenas me siga – Tomou a frente.


       Dessa vez não houve resistência.
Os outros meninos entretiveram pelo resto da noite. Jensen passou maior parte do tempo sentado na cadeira de madeira, com eles ao redor. Enquanto Austin o beijava nos lábios, os dois de shorts dividiam o pênis. Gabriel observava ao longe, tocando uma. E Timothy e David ao seu lado despejando cerveja para que os outros lambessem e forçando as amígdalas até vê-los engasgar.
No andar de baixo, a festa seguia fervorosa. Nate fumava um cigarro, ao mesmo tempo, enquanto Dominik dormia. Thayer e Travis dirigiam desgovernados pelas ruas da cidade grande a caminho do aeroporto. Mia conheceu uma jovem moça em um pub de Londres, mas as últimas palavras de seu pai não lhe saiam da cabeça. Alex e Cody também tiveram um momento, dessa vez em uma cama de verdade.
O que Jensen não antecipou com sua a própria imaginação, Austin mostrou ser possível.

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   Semana que vem Amber receberá uma visita inesperada em seu Baby Shower e Jensen terá que lidar com as consequências da decisão que tomou no dia da festa ao encarar frente a frente as namoradas dos seus irmãos da Delta Beta Psi. 4 capítulos para a season finale!
   E o troféu amor bandido de hoje vai para... Gweren. "Amor" entre aspas, porque a gente sabe que essa loucura passa longe de um sentimento verdadeiro. O ator que mais se aproxima do Dreamcast do Kieran é o Jean Luc-Bilodeau. Sei que ele não é latino, mas essa carinha de bandidão me convenceu totalmente. Imaginem com um cabelinho preto e várias tatuagens pelo corpo.
     

Feliz carnaval!
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