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Livro | The Double Me - 6x06: That Body We Buried Made Us Very Closer [+18]

   6x06: That Body We Buried Made Us Very Closer
“Veneno demais perde o efeito".


Sou eu, Nate. E eu sou um viciado.
Esqueça o álcool, cigarros e drogas ilícitas; não tem nada a ver com isto. Esqueça também sobre o trabalho e as responsabilidades em casa; todos sabemos que é impossível fugir do mundo real. O vício a qual me refiro é de natureza humana; instinto. Algo do qual nenhum de nós pode fugir. Quem nunca se perguntou por que dependemos tanto de afeto, se perde-lo nos leva a todos os outros vícios?
Agora são exatamente nove e quinze da manhã de sábado, dia dezessete de abril. Eu não consegui dormir pensando nisto. Sinto-me frágil, exposto e vulnerável. Quero que ele fique porque preciso disto, mas também quero que ele vá, pois o medo do que aconteceria se de repente eu o perdesse me domina por completo. Há uma designação apropriada para este tipo de problema? Temo ainda estar relutante quanto à palavra com começa com ‘a’. Ela é muito assustadora.
Eu sei, não somos mais os mesmos, muita coisa mudou e temos rotinas diferentes. Mas não consigo me livrar da sensação de que ele está se afastando. Todas as vezes em que demora a atender o celular, ou diz que não podemos sair porque precisa estudar, ou usa os pais como desculpa para dizer-me não, sinto como se estivesse cada vez mais distante, e tudo o que eu pudesse fazer é ser o namorado gentil e compreensivo que respeita seu espaço. Não que haja algo errado nisto; é o ideal. O que me impede de ver tudo com mais clareza é minha insegurança.
Há dois dias ele me ligou pedindo para ensiná-lo a dirigir, pois os pais o proibiram de tirar carteira de habilitação antes de fazer dezoito anos. Foram duas horas diárias, só para nós dois, que valeram por toda minha idealização de romance imprudente. Digamos que ele estava muito mais interessado em transar em um carro no alto de uma colina a tornar-se um motorista responsável. Sorte sua aprender depressa e termos algum tempo livre para aproveitar.
Não sei se reclamo de barriga cheia ao dizer que às vezes me incomodo com todo esse sexo e todo o papo erótico. Chego a ter impressão de que para ele é apenas isto, nada mais. Nos beijamos, fodemos, gozamos, depois ele vai embora e me manda um emoji personalizado do meu pau, um coração do lado e uma carinha feliz. Não lembro a última vez em que fomos a um encontro de verdade, se é que um dia fomos.
Isso nos leva ao dia de hoje.
Deuce! — Nate rogou.
Haviam ambos chegado a um empate de quarenta pontos, que no tênis só é decidido quando um dos jogadores pontua duas vezes seguidas.
Aquela era uma manhã de sol. Desde que fizeram o check in, Nate e Dominik já haviam explorado boa parte das instalações do Lavish Resort. Os membros associados podiam desfrutar de doze quadras esportivas, duas piscinas infantis, quatro adultas, cassino, restaurante ao ar livre, saunas, área de jogos e clube noturno, aberto a partir das vinte e duas horas. Mas somente quem pudesse investir um pouco mais no lazer teria o conforto das suítes presidenciais na cobertura do complexo, com banheiras de hidromassagem e uma adega seleta de vinhos importados.
Conhecer tudo em um dia beirava o impossível, eles sabiam. Dominik tinha toque de recolher, o clube tinha hora para encerrar as atividades diárias e ambos os garotos eram competitivos demais para desistir de uma disputa de tênis que perdurara a manhã inteira. Dominik venceu dois sets, Nate venceu três. Os pontos iam e vinham entre eles como se revezassem a vitória. Primeiro Nate, depois Dominik. Nate, Dominik. Nate, Dominik. Nate, Dominik.
Se não fosse por um erro de crucial na última jogada, Dominik não perderia a partida e Nate nunca estaria tão satisfeito.
— Bom jogo — Saudou o vencedor.
Ao final eles deitaram na quadra em direções opostas, com o rosto colado um no outro.
— Sei que não tenho sido muito presente — Disse Dominik. — Minha vida está uma verdadeira bagunça agora, e a última coisa que eu quero é traze-lo para o meio disso tudo.
— Eu entendo. Uma vez também saí do armário.
— Você tinha a minha idade?
— Eu não tinha idade o bastante.
Dominik virou para encara-lo.
— Você nunca fala sobre isso... — Mencionou.
— Porque não há necessidade. A vida de todo jovem gay é ser reprimido pelos pais, abrir mão da aceitação e sofrer as consequências. Minha história é tão original quanto a de qualquer outro desajustado dos anos dois mil.
— Com a exceção de você ter uma vida pública agora.
— É claro. Ter um nome a zelar faz com que sua descoberta passe a ser viral.
O olhar de Dominik seguiu por entre as nuvens.
— De certa forma, acho bom que todos saibam sobre mim.
— Sério? — Nate virou a cabeça.
— Sim. Quer dizer... não preciso mais mentir a ninguém, isso me traz certo alívio. Meu problema é não saber o que fazer com isto. É como se eu tivesse deixado de ser um garoto normal e me tornado O Garoto Gay, pois é de extrema importância que eu seja definido desta forma.
— Você vai descobrir que há muito mais de interessante em você que a sua orientação sexual, e não importa se isso os ofende. Eu estou aqui... — Sussurrou bem perto.
— Você sempre está aqui... — Dominik beijou-o.
Seus lábios encontraram uma forma perfeita de se encaixar, mesmo que a posição não os favorecesse.
— Quer ir à piscina? — Nate sugeriu.
— Boa ideia. Tire a camiseta.

Um pequeno altar com arranjos floridos ocupava o espaço central da sala de estar da mansão. Cada visitante tinha como formalidade dispor de objetos pessoais em memória a Kim Haw-Young, diante ao mural de fotos. Velas, esculturas, porta-retratos, imagens sacras, artefatos sul-coreanos, como tamborins e pratos de comidas típicas, além de materiais e acessórios de estética, como luvas, pinceis e cosméticos, formavam um aglomerado que se estendia dos painéis suspensos aos tapetes no chão.
Thayer entendeu que ali havia a história de uma vida inteira. Kim Haw-Young, mãe e esposa divorciada. Kim Haw-Young, que nunca esqueceu suas raízes. Kim Haw-Young, uma das mais renomadas esteticistas de Nova York, com uma seleta clientela de atrizes, modelos e cantoras famosas. Não à toa houvesse tantas pessoas a prestar-lhe homenagem.
— Chá gelado? — Ofereceu um garçom.
Thayer serviu-se da bandeja e agradeceu cordialmente.
O mural de fotos nas paredes também chamou-lhe a atenção. Ali estava a pequena Kim em um dia de praia. Seu baile de debutantes, logo à esquerda. A formatura na faculdade, à direita. Gahl Dae-Hyung, seu filho mais velho, ainda recém-nascido. Kim Mi-Kyong, a filha mais nova, indo à escola pela primeira vez. Depois seus aniversários, suas formaturas no primário e eles fantasiados no halloween de dez anos atrás como o Batman e a princesa Ariel, respectivamente.
Nenhuma das fotos mostrava o pai.
— Olá — Disse alguém.
O jovem rapaz vestia uma combinação de preto básico, gravata cinzenta e sapatos oxford cap toe. Não parecia ter mais de vinte e um anos em seus traços, com olhos puxados, a pele clara, lábios rosados, em formato assimétrico, e o nariz fino e arrebitado. Mechas espessas de fios negros caiam-lhe à testa e encobriam duas sobrancelhas de pouco volume e em aspecto linear. Na ponta do queixo, uma cicatriz de infância bem vivida.
Aquela era a primeira vez que Thayer o encontrava pessoalmente.
— Acredito que ainda não nos conhecemos. Sou Gahl Dae-Hyung, mas todos me chamam de Dae — O rapaz estendeu uma mão.
— Thayer Van Der Wall — Respondeu ao cumprimento.
Seu nome fez ao outro de incerteza.
— Oh, Van Der Wall... — Iterou o rapaz. — Não esperava encontra-lo aqui.
— Li sobre o memorial nos jornais e pensei em prestar condolências, se não for um inconveniente.
— De forma alguma. Devemos muito a você pela última publicação no Linnard Report, esclarecendo o que aconteceu. Esperava uma oportunidade para agradece-lo e também dizer que sinto muito... por seu pai.
— Obrigado — Thayer tentou sorrir.
Estavam agora lado a lado, em frente ao mural na parede.
— Ele não gostaria que sentíssemos muito, entretanto — Frisou Thayer. — Tudo a seu respeito era uma questão de celebrar a vida, não lamentar suas aflições.  
— Minha mãe pensava o mesmo. Acho que sempre aspirei ser um pouco mais como ela e um pouco menos como o filho responsável que me tornei, no fim das contas. Ela sabia como se divertir melhor do que ninguém.
Thayer estranhou.
— Não sei se diversão é algo que se aprende com uma mãe.
— Agora eu sei disso — Virou a ele. — O que acha de bebermos um drink qualquer dia desses e não falarmos sobre nenhum assunto mórbido que irritaria nossos pais?
— Seria um prazer.
— Dae, querido! — Chamou uma velha senhora de cabelos grisalhos e véu negro, na varanda.
Dae olhou para trás por um segundo.
— É a minha avó, preciso ir. Fique à vontade para conhecer a mansão e provar do nosso cardápio — Andou de costas. — E mais uma vez, obrigado — Fez o sinal de prece com as duas mãos.
Thayer limitou sua resposta a erguer a xícara e mostrar um sorriso acanhado.
Aquilo era ruim. Muito ruim.
Todas as pessoas que via estavam lá para dizer adeus a uma mulher que não existiu de verdade. Uma santa, a qual ninguém atribuía falhas e defeitos. Levariam suas vidas sem nunca saber o que ela sentia, seus verdadeiros motivos, ou do que estava à procura e aonde queria chegar ao aceitar a proposta de Theodor na noite em que tudo aconteceu. As mentiras criavam um mundo de evasivas satisfatórias que escondiam as feridas, mas não realmente as curava.
Cada cômodo da mansão, por onde passava, parecia tomado conta pela vida de Kim e seus dois filhos e o que ela escondia por trás disto. Seu pai com certeza esteve ali alguma vez. Talvez assistissem a programa de tv, toda a sexta a noite. Talvez tenham beijado pela primeira vez naquela varanda. Talvez jantassem na mesa da sala de jantar, tão próximos um do outro que dividiam mais que segredos. Era deles que Thayer estava atrás.
Foi pelos jardins, escritório, cozinha, piscinas e sala de música. No andar de cima, todas as portas abriam-lhe para uma suíte ou um banheiro. Ele só precisou encontrar a que mais se assemelhava uma suíte presidencial. A cama era talhada em madeiras nobres e decorada com ouro nas hastes e finas cortinas italianas no mesmo tom de bege dos lençois e almofadas. No alto pendia um candelabro de cristais de quatrocentas lâmpadas. Nas paredes, tapeçaria da melhor qualidade. Era no tom carmesim de suas obras que harmonizavam às cortinas do hall de janelas à direita da cama.
Havia também uma lareira de grande porte, atiçadores de brasas, sofás reclináveis, poltronas, abajures, mesa de centro, uma porta de acesso ao closet, penteadeiras, criado mudo e uma adega de vinhos. Thayer saberia reconhecer uma boa safra, fora criado para isto.
Agora, por onde começar?
Ele foi primeiro ao closet e procurou em gavetas, prateleiras e caixas. Nada ali. Foi depois ao criado mudo e procurou em gavetas, embaixo da cama e atrás do móvel. Nada ali também. Sua última esperança foram as penteadeiras. Kim não ganharia muitos pontos por organização, se contasse pelo acúmulo de documentos em um só lugar. Alguns ele precisou jogar sobre os tapetes para ter acesso a parte do fundo.
 — Posso ajuda-lo a encontrar alguma coisa? — Perguntou Dae, parado na porta.
Não havia como Thayer disfarçar a culpa.
— Não, eu só... — Ele ainda tentou dizer.
— Isto é sobre o Linnard Report?
— Não, sinto muito. Eu juro que...
— Você precisa de uma manchete? — Interrompeu Dae, com outra acusação.
Thayer foi vencido por um suspiro.
— Sei que não é o que gostaria de ouvir... — Disse ele. — Mas a matéria sobre sua mãe no Linnard Report foi uma farsa. Ela e meu pai realmente tiveram um caso, e estavam a caminho do Halekulani Hotel, no Hawaii, na noite do acidente. Eu mesmo confirmei a reserva em nome de ambos.
— Saia daqui, agora — Dae apenas disse.
— Eu tenho como provar — Pegou do bolso do casaco. — Sua mãe escrevia cartas ao meu pai regularmente. Encontrei parte delas em um dos cofres da nossa família no banco, após lerem o testamento. Tudo o que peço a você é que me deixe confirmar a caligrafia.
— Está brincando? Vá embora, agora!
— Não até que leia — Estendeu a ele.
Aquilo era negação nos olhos de Dae, não qualquer outra coisa.
— Eu não preciso — Disse o garoto. — Eu mesmo saberia forjar uma carta.
— É a sua mãe, leia.
— Vá embora.
— Leia — Thayer pressionou as folhas contra o peito dele.
Dae levou um minuto para entender o que lhe estava diante.
— É a letra dela — Confirmou. — Eu lembro... lembro que ela costumava trocar os pingos dos i’s por pequenos corações sempre ao escrever poemas para mim. Eu dizia que era cafona, ela dizia que toda mãe tem esse direito... — Sorriu ao final, cheio de lágrimas nos olhos.
O mais surpreendente para Thayer talvez fosse descobrir que seu pai a incentivava a fazer isto. Theodor Van Der Wall, alcoólatra, machista, neurótico e homofóbico casual, tocado por uma mulher que troca os pingos dos i’s por corações em todos os seus poemas. Um bom exemplo de efeito carmático, se não o melhor de todos.
— Pelo que ela escrevia, acho que meu pai sempre a chamava de Kim — Thayer comentou. — Ele não entendia muito bem sobre a atribuição nominal na Coreia do Sul.
— Pare... — Sussurrou o outro rapaz. — Eu quero que vá embora.
— Olha, Dae, eu sinto muito...
— Não! — Ele gritou. — Vá embora daqui! Eu não quero vê-lo!
— Você nem está me deixando fa...
— Saia! — Empurrou-o. — Você e sua família, fiquem longe da gente! Eu não os quero aqui! Eu não os quero por perto! — Empurrou-o com os punhos fechados.
Tudo o que Thayer pôde fazer, na sua posição, foi aguentar firme até que ele cedesse. Era apenas disso que precisava, externar o que sentia. E uma vez passado, sem mais gritos, socos e acusações, ele encontrou refúgio nos braços de Thayer.
O quão inapropriado isso deve ser no país dele? – Thayer perguntava-se. O quão inapropriado estou sendo agora só de pensar em uma coisa dessas?
— Tudo bem — Ele optou dizer. — Vai ficar tudo bem.
— Ela destruiu sua família...
— Não, meu pai fez suas próprias escolhas.
— Mas ela deveria saber melhor — Gaguejou.
Por um momento eles ficaram ali, parados, em silêncio. A proximidade já não os incomodava, mesmo para dois desconhecidos. Mas havia algo intimista no cheiro de hálito e perfume masculino, como tanto haver pela respiração ofegante, de estarem tão próximos.
E numa breve troca de olhares, o beijo. Suas mãos deslizaram para baixo das roupas. Seus olhos disseram que sim, por favor.  
Thayer puxou-o pela camisa, fechou a porta do closet atrás deles, imprensou-o contra as prateleiras e deixou-o nu na parte de trás. Um pouco de baba serviu para facilitar a penetração. Para frente e para trás. Para a frente e para trás.
— Dae? — Gritou uma moça que acabara de adentrar ao quarto.
Thayer tapou a boca dele com uma mão e pediu num sussurro que ficasse quieto.
A jovem chamou outra vez olhou ao redor, caminhou até as janelas. Nada por ali. Ao sair pela porta, achou ter ouvido um barulho estranho que vinha de dentro do closet. Um salto de Kim que pendia à beira de uma prateleira caiu no chão ao menor esforço dos dois.
— Acho melhor procurarmos no andar de baixo — Disse uma moça de vestido azul, outra amiga de Dae.
A jovem moça olhou desconfiada para a porta do closet uma última vez antes ir embora.
— Espere por mim! — Gritou a amiga.  
Alguns minutos se passaram após isto.
Dae deixou o closet com uma toalha para limpar o sêmen no rosto e Thayer ainda a abotoar a camisa e fechar o zíper. Nada precisou ser dito entre eles, pois não era necessário. Thayer parecia tão satisfeito com o goze da minha cara que ouviu nos momentos finais quanto Dae demonstrava estar satisfeito por fazer de acordo ao seu fetiche. Ao menos nisso eles tinham em comum.
Descendo as escadas, Thayer posicionou em frente ao altar de Kim um bracelete de ouro que ganhou do seu pai e caminhou até o carro estacionado. Pela última vez ele parou para contemplar a mansão e o que deixava para trás, somente por saber que seria a última.
Adeus, estranhos. Nunca mais nos veremos.


— O que você vê? — Perguntou Mia à jovem moça.
O tinir dos passos dela no chão alagado guiava sua percepção.
— Luz do sol — Respondeu Hannah.
— É uma abertura?
— Eu não sei. Parece uma janela.
— E consegue passar?
— É alta demais e tem grandes.
Mia suspirou.
— O que mais você vê?
— Há duas janelas vedadas com madeira.
— Tente abrir com as mãos.
— Okay — A menina foi para perto.
Ouviu-se apenas rangidos e estilhaços no minuto que seguiu.
— O que houve? — Perguntou Mia.
— Eu abri uma fenda.
— Consegue ver do outro lado?
— Um pouco — Aproximou os olhos.
Havia uma escada, barris, roupas velhas, máquinas de costura, tijolos empilhados, caixas de papelão, uma antiga fornalha, pneus de bicicleta, ferramentas de jardinagem, canos e fios de alta tensão e uma cadeira virada para baixo, sobre uma pequena escrivaninha que se sustentava em três pernas. A descrição de Hannah se aproximava de uma espécie de porão abandonado, coberto por poeira, teias de aranha e a dispor somente de uma lâmpada como fonte de luz.
Estamos no subsolo, Mia presumiu. A luz nas aberturas vinha de lâmpadas fluorescentes nos outros cômodos, não do lado de fora.
— Devo continuar? — Perguntou a menina.
— Não, tudo bem. Tentamos de novo mais tarde.
— Estou com fome. Ele esqueceu de nos servir o café da manhã.
Ele. Bastou falar para que os portões de ferro se abrissem.
Vestia um blazer negro, gravata listrada em azul e branco, camisa abotoada por baixo e um par de sapatos derby negro Tom Ford.
— Bom dia! — Ele disse, posicionando a cadeira e tomando um lugar de frente para Mia. — Bom dia para você também, Hannah! — Quase esquecera.
A menina não respondeu.
— Ela é meio tímida — Temia ele. — Enfim. É cedo demais para tratar de negócios?
Go to hell.
— Está cheio de boas intenções, não disseram? — Ele abriu os botões do blazer. — Sabe, Mia, eu realmente achei que você fosse mais inteligente. Sabemos que a única forma de sair deste lugar é passar por mim e assinar os papeis. Não poderia ao menos fingir que está de acordo e tentar escapar na primeira oportunidade? Ouça com atenção o que vou dizer agora: Condenar-se a uma vida miserável por motivos ideológicos não é digno de Michaela Strauss. Essas garotas, da laia de Hannah, não podem ser salvas, mas você pode. Você é minha filha.
— Você mal é humano.
Ele suspirou.
— Posso oferecer a liberdade de Hannah como um gesto de boa fé. O que acha disto?
— E quantas outras garotas da idade dela você mantem em cárcere?
Dessa vez ele riu.
— Você não pode salvar a todas, Michaela.
— Este é o meu ponto. Minha vida não vale mais que a de todas elas.
— Se acreditasse nisto, não teria problemas em desistir. Você sabe que não pertence a este lugar. Não preciso lembra-la disto.
— Ouça com atenção o que vou dizer agora, Noah... — Ela firmou seu tom. — Há muito mais dignidade em apodrecer aqui dentro a ir para casa e fingir que este lugar não existe e que estamos todos seguros. Poupe o seu tempo e o meu.
Antes que ele dissesse qualquer outra coisa, ela escarrou em seus olhos. Noah sempre levava uma toalhinha no bolso do paletó por um motivo.
— Bom, acho que terei de convencê-la — Ele disse por último.
Mia virou o olhar antes que ele partisse.


A música alta e o forte cheiro de bebida vinham de sala de jantar da mansão. Matt estava lá, sozinho, quando Gwen retornou. Para o banquete sem convidados havia chanclish, tabule, quibe cru, charutos de folha de uva e repolho, coalhada, babbaghanouj, arroz com açafrão, arroz com lentilha, chester recheado com trigo grosso e outras receitas da culinária árabe. Castiçais decoravam a mesa com três pontas de velas acesas a cada três lugares. Vasos de plantas artificiais foram dispersos ao centro.
— O que é isto? — Gwen temia perguntar.
— É uma festa — Disse Matt. — Nós estamos celebrando a nova aquisição de meu pai para as empresas Cavanaugh nos Estados Unidos.
— Quem é ‘nós’?
— Eu e o Chateau — Ergueu a garrafa de vinho.
Surpreendentemente, ela não achava uma má ideia.
Sentou próximo a ele, pegou a bebida de suas mãos. Um gole no gargalo deixara escorrer dos lábios ao queixo.
— Então, onde está seu pai?
— Celebrando com os amigos nos Estados Unidos.
— Você perdeu o voo?
— Eu estaria lá se ele me quisesse lá — Tomou de sua taça.
O que ela entendia por isso, e pelo banquete desproposital, era o mesmo que uma tentativa frustrada de substituir onde não havia o afeto de seu pai. Só não diria coração por não acreditar que tivessem um.
— Do que está rindo? — Matt quis saber.
— De sermos todos uns fodidos — Ela disse. — Coloque milhões em nossas contas, faça-nos gozar vezes seguidas ou torne-nos jovens para sempre, mas nada vai mudar. Pergunto-me se cometeríamos estes mesmos erros com nossos filhos.
— Eu não quero ter um destes. Você quer?
— Não agora. Talvez se um dia a minha vida não for esta loucura e eu possa garantir que não siga meus passos.
Para Matt, bastava ter dito nunca.  
— Você não está grávida, não é?
— Não, Matthew. Meu útero encontra-se formalmente vazio.
— Um brinde a isto, então — Ergueu sua taça. — À úteros formalmente vazios...
— E à decadência de nossas almas — Ela completou.
Suas taças tilintaram uma na outra.
— Agora, diga-me... — Ele bebeu da sua e deixou de volta no lugar. — O que faremos quanto a meu pai?
— Devemos fazer algo?
— É claro. Não vou sempre ficar de fora e aceitar isso numa boa.
— Neste caso, vá em frente... — Ela recostou-se à cadeira. — Mas ainda não entendo porque você é tão obcecado com isso. Quentin era o filho preferido, Spencer é o filho bem-sucedido e você é o filho perdedor. Seu pai o trata de acordo ao que vê e ao que você prova todos os dias.
Outch! O que eu fiz para falar assim?
— Se afundou em autopiedade. Foi merecido.
Foi merecido! — Ele a imitou com voz de criança. — Você é que não perde uma oportunidade de alfinetar as pessoas... sabia que veneno demais perde o efeito?
Isso a lembrou de encher novamente sua taça.  
— Seja um cavalheiro — Estendeu a ele.


Horas depois, ao anoitecer, estavam tão bêbados que riam das próprias piadas. A ideia de jogar Verdade ou Desafio com as bebidas na adega de Thomas só poderia ter sido de Matt, a mesma mente por trás do golfe no escritório com atiçador de lareira. Sempre que um deles escolhia verdade, tinha de beber uma dose. Sempre que um deles escolhia desafio, o outro também deveria realizar um desafio logo em seguida.
— Isso vai me matar... — Gwen chegou a dizê-lo.
Matt dispusera a sua frente uma placa de ferro com cinco tiras de pó de café para que ela inalasse com uma caneta vazia. De acordo às próprias regras, um desafio válido.
— As cinco ou nada — Lembrou ele.
Gwen posicionou-se em frente à mesa, fechou os olhos e inalou uma por uma. Pó de café havia se espalhado pelo nariz, pela língua, nos dentes e na parte da blusa onde babujou sem querer.
A vez de Matt lhe foi como um regalo, e ela o obrigou a tomar uma batida feita no liquidificador com ketchup, maionese, mostarda, pasta de amendoim, goiabada, calabresa, queijo e presunto. Histórias de vômito nunca fizeram o gosto dela, aliás. A não ser que o motivo fosse uma doce vingança. Ingerir aquele pó de café também a fez vomitar por suas roupas e seus cabelos tanto quanto o fizera depois.
Ao final, Matt desabou sobre o tapete da sala de jantar e ela sobre uma das poltronas em frente a janela. Um chapéu da coleção pessoal de seu pai cobria o rosto dele, para evitar a incidência de luz.
— Você está dormindo? — Matt perguntou sussurro.
— Sim — Ela disse. — Fique quieto.
— Eu não acredito em você.
— Talvez esteja sonhando.
— Belisque-me.
Ela pegou uma almofada e jogou em sua direção.
Matt juntou-a do chão e pôs atrás da cabeça.
— Nunca mais bebo assim, eu juro — Comentou com ela.
— Não culpe a bebida, culpe esses desafios estúpidos.
— Eu sei. Anda sinto o gosto da sua vitamina fortificante.
— E eu o de café.
Ele riu.
— Spencer costumava desafiar a mim e a Quentin quando éramos crianças. Não fique tão surpresa se daqui a três dias ainda puder sentir.
— Três dias? Uau.
Sua última ressaca prolongada durou exatas oitenta e duas horas e teve relação direita com a festa de dezesseis anos de Jennifer Thurman, no segundo ano do ensino médio. Amber ficou ao seu lado o tempo inteiro. Na verdade, sempre esteve ao seu lado. Kieran era o único a quem tinha de implorar por um pouco de carinho e dedicação.
— Última rodada — Matt propôs. — Verdade ou desafio?
— Verdade. Preciso beber alguma coisa?
— Não dessa vez. Diga-me o que ocupa sua mente.
O olhar de Gwen ia através das janelas, para além paisagem noturna.
— Há três anos eu e Amber fizemos uma viagem à Itália sem que Kieran soubesse — Ela relatou. — No dia em que voltei, já no fim do verão, ele estava tão furioso que não me deixou ir embora de sua casa. Lembro de pedir a Amber que contasse aos meus pais algo sobre eu ter decidido prolongar a viagem, pois assim eu ganharia tempo para tirar a mim mesma dessa situação. Eu acabei conseguindo. Mas não antes de me afundar em arrependimentos. Arrependo-me de não me defender sempre que ele me punia com socos, chutes e bofetadas por desobedecer às suas ordens. Arrependo-me de acreditar em suas palavras todas as vezes em que me pegou pelo pescoço e me ameaçou de morte. Arrependo-me de tê-lo deixado cortar meus cabelos, uma mecha por vez, ao me flagrar com seu celular no banheiro. Eu estava contatando a polícia, é claro. Naquela mesma noite o prenderam por lesão corporal, cárcere privado e posse de drogas.
— Seus pais sabem disso?
— Se soubessem, Kieran seria um homem livre? — Ela levantou.
Matt seguiu-a com os olhos até a mesa de jantar.
— Por que contou isso a mim? — Questionou-a. — Não temos tanta intimidade.
— Eu não diria isso. Aquele corpo que enterramos nos deixou bem próximos.
— Que corpo?
— Capitale.
Oh...
Oh... você lembra? — Sorriu cinicamente.
Ao virar na outra direção, a garrafa esbarrou em um castiçal e derrubou-o sobre os tapetes. Um pequeno acidente, isto seria, se não tivessem ensopado o cômodo com álcool durante o teste de tolerância a bebidas de uma hora atrás. Agora as velas acesas no tapete encharcado; isso não era bom.
Podiam ver diante de seus olhos o crescer das chamas.
— Apague isso! — Matt pisava com a sola dos sapatos.
No semblante de Gwen havia mais do fascínio, como uma irresistível e involuntária atração.
— Não! — Ela o segurou pelo braço. — Deixe queimar.
— O que? Vai incendiar a mansão inteira.
— Eu sei. Deixe queimar.
— Não, eu...
— O patrimônio é de seu pai — Ela o lembrou. — Não devemos nada a ele.
Matt olhou para ela, para o fogo, para o relógio na parede, para o fogo, depois de volta a ela. Estava decidido.
Caminhou até a adega de vinhos, escolheu duas garrafas, atirou-as sobre as chamas. Gwen pegou dois castiçais sobre a mesa e incendiou as cortinas da sala de jantar e da sala de estar. Thomas Cavanaugh ainda guardava um estoque de galões de gasolina e diesel em um dos porões, eles também fizeram bom uso disto. Os quartos do segundo andar ficaram inundados e os móveis e espelhos foram estilhaçados antes que o fogo tomasse conta.
— Olha só — Matt chamou sua atenção.
Vários dos segredos mais valiosos de seu pai eram escondidos em um cofre na parede da suíte principal, atrás de uma pintura de Edward Hopper, Chop Suey. Lá encontrariam joias, documentos confidenciais, medalhas de condecoração militar, pequenos artefatos adquiridos em leilão e muito, muito dinheiro em espécie. Que Deus abençoe Quentin e sua data de aniversário por ser sempre o código de acesso a todos os mecanismos de segurança de Thomas Cavanaugh.
— Não... — Gwen tentou convencê-lo.
— Sim... — Ele atirou fogo em tudo o que havia no cofre.
Foram gritos, palmas e gargalhadas em comemoração.
Lá fora, na neve, assistiram lado a lado a queda do império Cavanaugh.
— O que fazemos agora? — Ele virou para encara-la.
— Acho que fugimos.
— Para onde?
— Qualquer lugar onde não sejamos suspeitos.
E rápido.

Dominik desfrutava dos últimos minutos de luz do sol escorado à beira da piscina, de braços abertos. Nate aproveitou seu curto momento de distração, de olhos fechados, para nadar até a borda e surpreende-lo.
— Olá — Entre um sorriso, o beijou.
— Você é perfeito, não é?
— Sim, me custou uma fortuna — Beijou-o outra vez.
Quem parecia discorda era um dos garçons que os atendeu desde o começo do dia. Não importava o quanto fossem atenciosos ou o alto valor das gorjetas, sempre recebiam o mesmo olhar de alguém que cuspiria em seus pratos na primeira oportunidade. O mesmo olhar de: Parem, não façam isso. Não é do meu agrado. Não precisam se exibir para as outras pessoas dessa forma.
— Algum problema? — Nate resolveu perguntar.
— Não, Senhor — Respondeu o jovem, de má vontade.
Em suas mãos ele levava as louças sujas que Nate e Dominik tiveram o cuidado de empilhar sobre uma cadeira de sol.
— Deve ter sido uma má impressão — Disse Nate. — Você não seria indiscreto com um dos sócios do clube e arriscaria perder seu emprego, não é?
— Senhor? Eu não...
— Isso é tudo. Pode se retirar.
Seu olhar agora dizia: Não posso perder este emprego, preciso do dinheiro. Por que me deixei levar por essa hostilidade?
— Você fica sexy quando se comporta mal — Mencionou Dominik.
— Isso te excita?
— Na dose certa, sim. Acho que tenho um tipo.
Bad boys... — Nate ergueu a cabeça e cantarolou exageradamente.
Estavam agora lado a lado, escorados à beirada. A água doce e o oceano pareciam interligados.
— Posso suar seu celular? — Pediu Dominik. — A última foto-álibi foi publicada há algum tempo.  
— Boa ideia — Nate desbloqueou com a digital e entregou-o.
Desativar a localização, logar na conta de Bethany e fazer o download no seu e-mail, sem problemas. Encontrar as imagens baixadas na bagunça da galeria de Nate, sem o auxílio das notificações, o grande porém. Se pensassem em hackea-lo por algumas fotos comprometedoras, seria perda de tempo. Os segredos que escondia na memória do aparelho não poderiam ser chamados de segredos, muito menos ser encontrados.
— Este é você e Jake Bass? — Dominik ampliou a primeira foto.
— Singapura, janeiro deste ano. Muito melhor que nos vídeos.
— Sem chance! Você o fodeu?
— Paguei uma bebida primeiro — Ou várias seguidas.
Dominik não achou muito difícil de acreditar.
— Como eu não sabia disto?
— Eu não faço listas de pessoas com quem já transei. É entediante.
— Mas Jake não é uma pessoa comum, é uma celebridade.  
— É, já tive melhores.
— Então diga.
— Entre atores pornôs?
— Pra começar.
Nate levou alguns segundos.  
— Tyler Sweet — Disse a ele.
— Não conheço.
— É um Twink da Helix Studios, não faz o seu tipo.
— Se você diz... — Ergueu as sobrancelhas. — Diga outro nome.
— Mickey Knox.  
— O Príncipe Ativo. Quem mais?
Hmm... Hunter Page, Ben Masters, Travis Stevens, Joey Mills, Kevin Warhol...
Dominik olhava desacreditado.
— Agora só está tentando se exibir — Disse.
— Por que pensa assim?
— O Joey tem namorado e o Kevin é famoso demais até para você.
— É mesmo? — Nate tomou o celular de suas mãos.
De alguma forma, ele sabia exatamente onde procurar.
— Olhe — Mostrou a ele.
A primeira era uma selfie de Nate e Joey em um clube noturno, junto a outros três rapazes com cordões, pulseiras e braceletes de neon. A segunda mostrava um selinho entre Nate e Kevin à beira de uma piscina, em seus trajes de banho.
— Isso não prova nada — Atestou Dominik.
— Você não tem fé em mim?
— Tenho fé no que posso tocar... — Apalpou-o por debaixo d’água.
O beijo teve mais sabor com suas mãos onde deveriam.
— Você me ama? — Perguntou Nate. — Mesmo que eu seja uma vagabunda imoral que fode atores pornôs?
— Amo todas as suas partes, incluindo as imorais.
— Mas elas em especial?
— Sim... — Ele deu risada.
O beijo também teve mais sabor por sorrirem nos lábios.
— Vamos subir — Nate tomou-o por uma mão.


Eles voltaram ao quarto, despiram-se, deitaram sobre a cama. Dessa vez não parecia apenas sexo, havia algo a mais. Nate soube ser mais gentil em seu toque e em suas palavras. Dominik recebeu-o com mais doçura e delicadeza, sem ceder às inibições. Isso é fazer amor?
— Estou pronto — Disse Nate.
Seus olhares lampejaram ao reflexo da luz fosca.
Do it — Dominik respirou fundo.
A dor estava lá também.
Às dezoito e meia eles deixaram o quarto, já de banho tomado. Um último beijo em frente aos elevadores foi de despedida.
— Você precisa mesmo ir? — Nate o segurou no rosto.
— Se eu chegar atrasado, meus pais nunca mais me deixarão sair de casa.
— Mas as fotos no Instagram provam que você e Bethany foram ao museu.
Yeah, I think they know this is bullshit.
Eles riram juntos.
Nate deixava-o ir apenas pouco a pouco, com uma mão na sua. As portas do elevador haviam acabado de se abrir.
— Mesmo horário, semana que vem?
— Ligue-me — Dominik se posicionou. — É um número clandestino, mas você sabe de cor. 
— É, eu sei.
— Boa noite.
— Boa noite. Por agora.
As portas do elevador se fecharam.

Um estranho ruído do outro lado da parede deixou Mia em alerta. Portas se abriram, passos ecoaram, uma voz sussurrou bem baixo. O que é isto?
Naquela noite, Nate decidira passar no clube de tiro esportivo a caminho de casa. Faia algum tempo que Dominik enviava mensagens de texto falando sobre a festa tediosa a qual seus pais o obrigaram a ir. Mate-me agora – Dizia uma delas, com uma foto sua simulando um suicídio de gravata.
Nate respondeu com um emoji, recarregou o pente e mirou outra vez. Um, dois, três, quatro, cinco, seis, sete tiros. Todos no alvo.
Ele não sabia de tudo. E o que Dominik não contava dizia respeito a um vídeo íntimo deles dois, gravado em segredo na suíte do Lavish Resort. Se algo acontecesse, algum dia, poderia usa-lo a seu favor. Algum dia.
Dominik fechou o player de vídeo com um clique.
— Cuidado! — Gwen o alertou sobre as portas do elevador.
Matt e ela vinham de um tumulto na Alexander Street envolvendo uma carruagem de circo, trapezistas e animais soltos. Agora tinham em posse das chaves eletrônicas para um quarto no décimo sexto andar do Shangri-la Hotel Toronto.
— Eu sempre imaginei como era ter um pau pulsante dentro das calças... — Ela disse, escorada à parede.
Matt apoiou uma mão no espaço entre ela e a porta e aproximou seus lábios.  
— Isso é um desafio?
— Talvez...
Então a beijou. Tinha gosto de vinho francês e bala de menta.
— Não a machuque, por favor! — Mia implorava — Eu aceito o acordo!
Podia ouvi-la gritar e forçar suas correntes. A madeira quebradiça, o vai e vem de seus corpos. A chuva lá fora, que não encobria todo aquele horror.
— NÃAAAAAAAAAO! — Ela gritou estrondosamente.
Queria morrer; nunca quis tanto morrer. Nunca havia chorado tanto.
— Certo, aguardarei a ligação — Thayer disse ao celular.
Do corredor ele viu surgir Natasha Fairley, irreconhecível. No lugar das mechas ruivas, um loiro descorado. Em vez de Chanel, um sobretudo negro, ósculos escuros, saltos baixos e uma boina.
— Thayer Van Der Wall? — Ela deu um passo à frente.
— Sim?
— Eu preciso de sua ajuda. É sobre Mia — Tirou os óculos.
Se não o convencera da urgência da situação através do disfarce, o hematoma ao redor de seu olho esquerdo o faria.
— Sangre, vagabunda! — Noah clamava.
Nate atirou, Dominik tomou de sua bebida, Gwen desprendeu o sutiã, Natasha fechou as persianas, Dae releu as cartas, Matt a colocou contra os travesseiros, Thayer pegou seu gravador e Mia caiu de joelhos no chão, sem forças.
— Eu sinto muito... — Sussurrou a Hannah.
Nada lhe restou ao final.

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   6x07: I Mean, Did Judas Went Through All This Trouble Back Then? (29 de Maio)
   O capítulo de hoje representa o final do primeiro ciclo desta temporada. Ao todo, são quatro, e o capítulo 6x07 inicia o próximo.

Ninguém: a
O NATE E O DOMINIK:
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