Livro | The Double Me - 5x13: I Like Romancing, But I Don't Wanna
5x13: I Like Romancing, But I Don't Wanna
“Ceda ao seu apetite".
Fumar havia se tornado um hábito.
Gwen estava no quinto, deixando a loja de
conveniência do posto. Um maço pela metade excedia o primeiro bolso traseiro e
um isqueiro da Dunhill Gold Apex marcava
o segundo, em relevo.
— Posso ver que não é daqui — Kieran disse a
uma jovem moça.
— Sou de Louisiana — Ela revelou.
Usava uma blusa branca florida com alças bordadas,
shorts jeans ao porte das coxas e sandálias rasteira. Os cabelos eram loiros
ondulados com raiz enegrecida e a pele alva marcada por uma vereda de sardas. Não
o tipo de mulher que Gwen levaria a uma noite de jogos, preferencialmente, embora
também visse o que chamou a atenção de seu namorado.
— Deixe comigo — Kieran ofereceu-se para
ajudá-la com a mangueira.
Gwen observava-os do capô do carro sem muito
interesse. Chicago, em si, deixava-a absorta pelo clima úmido e o movimento ininterrupto
da cidade grande. Não que Kieran soubesse, estava cada vez mais difícil tolerar
as luzes urbanas. Seu olho esquerdo as duplicava como se uma sobrepusesse a
outra parra formar um círculo inexistente no aspecto do irradiar. Acontecia
também ao fixar o olhar por muito tempo em um local específico, sempre de
relance – como uma silhueta contígua que seguia de acordo a movimentação.
Outra
cortesia de Nathaniel Strauss.
— O que você acha? — Kieran escorou-se ao lado
dela no capô, de mãos no bolso.
Mais duas jovens uniram-se a de cabelos loiros
antes de saírem com a picape.
— Ela não serve — Gwen disse a ele. — É do
tipo que provoca, mas foge da raia.
— Como pode ter certeza?
— Uma boa jogadora reconhece a outra.
Ele tomou seu cigarro para ter a última
tragada.
— Devemos ir — Apagou-o sobre o farol
esquerdo. — Estamos atrasados.
Por dois dias esperaram em um quarto de hotel
no centro da cidade pelas instruções para chegar ao Casanova. O rancho localizava-se em uma área de campo cercada por
bosques e serras de baixo relevo, a sete milhas do posto de gasolina. Das três
mansões, apenas a central, entre as vitorianas, promovia os espetáculos.
Tiveram que passar primeiro pela inspeção do time de sentinelas nos pontos mais
altos da propriedade, chamados de Grandes Torres, e posteriormente, pela
revista dos que guarneciam os portões negros.
Estão em
maior número, Gwen observou.
Não era impressão sua ver Kieran tão
despreocupado ao que haviam de enfrentar. Homens depositavam toda a confiança
em uma arma de fogo. Mulheres estavam sempre preparadas para o pior.
A seguir de dez minutos, Aaron Vanean os
recebeu na sala de jantar em companhia da sétima esposa, Jasmine, a qual
chamavam regiamente de Dama de Ferro. Gwen ouvira todas as histórias que os
faziam de uma dupla implacável, mas eram todas de contraste ao rapaz loiro e
esbelto na faixa dos vinte anos e sua esposa drag queen de peruca lilás e vestido cintilante. Quem os teria como
suspeitos até o momento de puxarem o gatilho, quando fosse tarde demais para os
desafortunados?
— Kieran Murillo — Aaron tomou o lugar de
honra.
Ao alto, na parede detrás, vislumbravam uma antiga
pintura de orgia romana. Cabia na prática ao que fizeram da mansão principal,
com leitos de seda, sofás reclináveis e armações de metal, nas paredes, para
suportar adereços eróticos. Convidados mascarados iam e vinham em suas roupas
de baixo e tomados por acompanhantes desnudos, fossem homens musculosos ou
mulheres esbeltas. Todos ostentavam a mesma tatuagem de círculo celta no ombro
esquerdo.
— Adorei o que fez com o lugar — Kieran observava.
Três homens mascarados faziam sexo no leito do
compartimento a detrás, e duas mulheres no leito do compartimento à direita da
mesa de jantar. O ambiente aberto tornava impossível ignora-los.
— Vejo que trouxe companhia — Aaron fitava em
Gwen. — Sente-se, querida. Temos muito a conversar.
Ela tomou o primeiro lugar a sua frente,
Kieran o próximo.
— Peço que não se importem com meus convidados
— Aaron prosseguiu. — Ceder ao instinto primitivo é a especialidade da casa.
— A quem pagar melhor — Kieran estava certo.
— Não é sobre dinheiro, Senhor Murillo, é sobre
comprometimento. Todos temos algo a oferecer, então por que não utilizar de nossos
recursos em proveito a interesses em comum? Trabalha para mim há algum tempo, sabe
o quanto valorizo a contribuição.
— Eu conto com isso. Agora onde está Nate?
O outro sorriu.
— Chegaremos lá. Antes disso, o jantar, por
favor? — Pediu aos serviçais que içassem as tampas.
Um assado de porco com maçã viera acompanhado
de salamandra, ceviche, batatas
recheadas, tortilhas de milho, guacamole
e outras derivações do cardápio mexicano.
— Muito bem — Aaron assentou os guardanapos. —
Contrariando os ensinamentos de meu falecido pai, nunca concordei em separar os
negócios do prazer. Costumo receber meus convidados com um jantar de gala e
contar-lhes histórias de uma infância que perdi cedo demais para aliviar a
tensão. Diga-me, Gwenett, há algo intimidante na maneira como me porto?
— Eu diria que não.
— Alguns de meus homens discordariam. E claro,
há os que julgam saber melhor. Três deles foram pegos desviando mercadoria para
revenda a preço próprio; algo que, de muitas formas, poderia beneficiar a
concorrência. Pergunte-me o que fiz com eles.
Kieran temia imaginar.
— Despedi-os — Aaron logo respondeu. — Não
inteiros, é claro. É importante saber que eu não deixaria passar um deslize, embora
seja contra puni-los de maneira injusta por terem feito o que deu certo para
mim e me colocou nesta mesma posição. Entendem onde quero chegar?
— Não é de nossa responsabilidade — Gwen enfrentava-o
nos olhos. — Não havia homens o suficiente para garantir a integridade do pacote
em caso de imprevistos. Eles morreram tentando salvar a mercadoria, só estamos
aqui por sermos mais espertos.
Aaron gargalhou absurdamente, batendo uma
palma.
— Eu a amo de antemão — Disse-lhe. — Faz
trezentos mil dólares em um furgão em chamas parecer cômico, não trágico. Onde
a encontrou, Senhor Murillo?
— Era a bailarina mais encantadora em toda
Nova York.
— Uma amante das artes, agora vejo. Difícil de
manter.
— Quando se está atrás das grades.
— Ou não dispõe de uma abundante fortuna — Aaron
sorriu-lhe. — O sofisticado lhe cai bem, Gwenett.
Ela poderia ter revirado os olhos.
— Está tarde, Senhor Vanean. Se pretende me
foder sobre o banquete para impressionar meu namorado, ande logo com isso.
— Podemos ir direito ao ponto, caso prefira —
Virou à esposa. — Jasmine, mostraria à convidada nossas acomodações? Há um
assunto que eu e o Senhor Murillo precisamos discutir a sós.
— É claro — Jasmine se prontificou.
Por mais que quisesse ouvi-lo dizer sobre Nate,
Gwen não achava inteligente contrariar o olhar de alerta de Kieran. Estava tudo
sob controle, pois ele se certificaria disso.
Jasmine a levou por um corredor estreito onde fulgia um lilás nebuloso de lustres no teto. Não usavam de portas para cada recinto, apenas uma cortina acobreada e de efeito aerófano. Atrás de cada uma havia dançarinos exóticos, tortura física, disposição de alimentos, apetrechos sexuais, banheiras de hidromassagem, saunas particulares e um importe de animais enjaulados como espectadores. A maioria dos convidados escondia-se por trás de uma máscara ou fantasia do acervo no closet principal. Se não por isso, Gwen os reconheceria de todos os lugares.
A última sala no corredor parecia maior e mais
discreta que as outras a caminho. Jasmine pediu que esperasse à beira da cama
enquanto servia o champanhe.
— Deve estar pronta para o Casanova ao passar pelos portões —
Entregou-lhe uma traça e sentou ao seu lado. — Ou nunca realmente estará... —
Beijou-a no pescoço e descendo ao ombro.
Por um segundo apenas, Gwen fechou os olhos e
imaginou que fosse Kieran.
— Brinque comigo — Jasmine sussurrou-lhe.
O segundo então passou, e ela estava novamente
de olhos abertos. Entre um e outro adereço, no mural de brinquedos eróticos,
notou um pequeno sinal vermelho a piscar encarrilhado. Algo insignificante para
a maioria dos frequentadores assíduos do Casanova.
Não para ela.
Uma câmera
de vigilância... – Entendeu.
Contra Aaron, seu primeiro trunfo.
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Ele tomou a primeira dose despretensiosamente. A segunda, um tanto a objetivar os efeitos colaterais. A terceira e a quarta por seus amigos da fraternidade terem oferecido tão educadamente. Mas após a quinta, não houve escapatória. Jensen encolheu-se em um dos canteiros do salão principal e lembrou de tudo o que as doses deveriam fazê-lo esquecer de toda uma vez.
Austin e Leah dançavam não muito longe à
escadaria principal. Trent Maddox, do leilão dos Delta, desistira de suas investidas por algo menos complicado – para
o qual Jensen ainda não estava pronto. Emmett e Rylee ele não via há algum
tempo. Competiam de ponta cabeça com um tonel de cerveja e uma mangueira, na
última vez. Agora apenas Melissa e Freya faziam-se em vista no ambiente
secundário junto as outras Theta’s.
— Acontece com os melhores, meu amigo — Ouvira
David dizer.
Um grupo deles o rodeou por completo. Seus
nomes escapavam a língua... Timothy, o de cabelos negros. O de camisa polo e
pinta nos lábios estava mais para Sean, pois combinava com suas linhas de expressão.
Gabriel calhava ao último, algo sobre os cachos loiros e angelicais. Austin deveria
começar a chama-los pelo primeiro nome.
— Faríamos quatorze meses hoje — Jensen tomou
coragem de dizer. — Eu saberia, pois ele antecipou desde as primeiras semanas. Disse
que os casais que sobrevivessem a quatorze meses juntos fariam quatorze anos e
o triplo sem problemas. Chegamos a metade disso, se servir de consolo.
— Parece não servir — Gabriel observou.
Os outros garotos tentaram uma abordagem menos
incisiva.
— Não se preocupe, estamos juntos nessa — Timothy
envolveu-o com um dos braços.
— Deve haver alguma coisa que possamos fazer —
David acrescentou.
Havia muito de verdade em seus olhos, e mais
do que Jensen encontraria em suas lembranças. Eles estavam lá, ao contrário de Nate.
Nate quem desistiu deles dois e foi embora. Não respondia suas mensagens, suas
ligações. Não lembrou de seu aniversário, dia vinte e dois de setembro do ano
passado. Não veio para impedir que se sentisse o responsável por tudo... até
por Theon.
Acumulara toda essa raiva dentro de si.
— É melhor que eu volte ao quarto antes de
arruinar a festa.
— O faremos companhia — David sugeriu.
— Não é necessário — Pôs-se em pé. — Me faria
bem um tempo sozinho. Divirtam-se por mim — Brindou, fúnebre, ao copo de Sean.
Seu quarto não ficava tão longe, só a algumas
portas a oeste da escadaria. Jensen observou a festa do parapeito por alguns minutos
antes de seguir até lá. O mais estranho foi o olhar de Austin, como se o analisasse
cuidadosamente, ou estivesse à espera de cometer o primeiro erro.
Tarde demais. Estava indo para a cama às dez e quarenta e
sete de uma sexta-feira agitada por vontade própria.
Ele tirou a camiseta e jogou-a sobre o criado
mudo do seu lado do quarto. Um passo mal colocado e estava de encontro a
maquete da aula de Tecnologias de Construções. Pequenos fragmentos de madeira
balsa, isopor e cascalho esparralham-se sobre a bancada e em torno de seus pés.
— Filho da puta! — Murmurou, recolhendo-os.
O que diria o
Senhor Baumann se visse seu sonho lúcido aos pedaços? Levara onze horas para construí-lo; onze longas e penosas horas.
— McPhee! — Ouviu abrirem a porta.
Cada um dos quatro amigos trazia consigo uma
garrafa de cerveja, estando David também encarregado de uma grade de duas por
duas.
— Disse que me faria bem um tempo sozinho —
Jensen lembrou a eles.
— É, nós decidimos não ouvi-lo — David
posicionou a grade ao seu lado na cama. Os outros três acomodaram-se nas
proximidades. — Trouxemos cerveja e... — Tirou uma sacola do bolso. — Jujubas
coloridas.
Jensen adorava jujubas.
— Ótimo — Pegou-as de suas mãos e sentou-se escorado
à parede.
O cansaço os atingia monótono e silencioso. Os
minutos passavam-se mais depressa do que poderiam manter um assunto.
— Sabe no que estava pensando? Ben Affleck e
Sandra Bullock não ficam juntos em Forces
of Nature — Timothy lembrou. — Ele volta para casar com sua noiva e ela
termina sozinha em meio a um bosque.
— Isso é uma droga, cara — Sean bebeu um gole.
Timothy deitara na cama mais afastada, de pés
sobre seu colo. Jensen e David dividiam o segundo pacote de jujubas na primeira.
E Gabriel bebia solitário, no chão, escorado à madeira onde Jensen pendia um
dos pés.
— Jack morre em Titanic — David lembrava como seu primeiro trauma.
— Oliver casa com uma mulher em Call Me By Your Name, não com Elio — Foi
a vez de Gabriel dizer.
— Isso doeu pra caralho — Jensen lembrava a
sensação. Mais por Nate não estar lá, ao seu lado, que por ter descoberto ao que
casais homossexuais estavam fadados em obras cinematográficas.
Sean viria ainda com o golpe final.
— Jack Twist é espancado até a morte em Brokeback Mountain — Disse, por definitivo.
Os outros lamuriaram em resposta.
— Não há amor para nós neste mundo, seja gay
ou hétero — David concluíra.
E Jensen teria apenas uma exceção. Sempre lhe
haveria mais amor para Nate do que bastava a si mesmo.
— Seremos bons tios aos filhos de Austin —
Gabriel bebeu outro gole.
— Podemos adotar um gato ou dois? — Sean
proporia o mesmo em qualquer outra ocasião.
— Você tem uma noiva, não precisa de gatos.
— Para o caso dela me deixar por um vocalista
de banda como a personagem da Kristin Kreuk em Eurotrip.
Minha mãe
fez algo do tipo, Jensen por pouco
lhes disse.
Mais tarde não conseguiam lembrar do quarto onde
estavam ou se a festa ainda acontecia no andar de baixo. Austin os encontrou após
uma busca completa pela mansão.
— O que estão fazendo aqui?
— Morrendo vagarosamente — Jensen ergueu uma
garrafa vazia.
— Ótima ideia — Jogou-se na cama, entre eles,
dando um leve suspiro.
O ar rescindia a coquetéis de vodka e cerveja
barata.
— Tentei foder Leah, mas a bebida tomou o
melhor de mim — Austin confessou.
Os garotos se entreolharam.
— Seu pau não funciona? — David não queria ter
perguntado.
— Preciso de um incentivo. Onde guarda seu
álbum de família?
— Na última gaveta da penteadeira.
Austin levantou de imediato.
— Okay, mãe do David. Vamos fazer isso.
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Ele raramente chegava tão cedo ao hotel. Dominik estava lá, para sua surpresa. Deitara em sua cama, descalço, com a camisa azul-marinha de botões abertos e um jeans desbotado. O celular nas mãos fora a única distração até Nate chegar.
— Levou tempo o bastante — Cumprimentou-o.
— Como entrou aqui?
— Como entrei na festa de Derek Stan?
Nate sorriu. O que Dominik não conseguiria com
seu lindo rostinho?
— Lembre-me de nunca mais subestima-lo.
— Você foi a minha casa, pensei em retribuir o favor — Jogou o celular para o lado. — Onde quer fazer primeiro?
— Na poltrona?
— Previsível — Ficou à beira da cama.
— No chuveiro?
— Frio demais — Levantou e foi até ele.
— No chão?
Dominik o calou com um beijo.
— Por que não me fode contra a vidraça?
— Não soa tão romântico.
— Eu gosto de romance, mas eu não quero —
Arrancou seu cinto com um puxão.
Nate fez toma-lo no colo, beijando-o
agressivamente. No tempo em que levou para firmar a camisinha, após tirarem as
roupas, Dominik posicionou-se de costas e empinado à vidraça. Seus corpos se
chocaram com tanta intensidade que o rosto de Dominik acertou o vitral e o
queixo de Nate bateu contra sua nuca.
Eles riram juntos em um breve momento de
descontração.
— Não nos faça cair vinte e três andares —
Dominik sussurrou.
Mas não cessava de implorar que fosse mais
rápido, mais forte, com as mãos em volta do pescoço e proferindo insultos
obscenos. Apenas Nate poderia dar-lhe o que queria.
A vidraça fora marcada por suor no formato de
seus corpos e bafejos ofegantes que faziam-se visíveis pela luz incandescente. Em
outra vez seguida, Dominik teve uma prova da posição de ativo – sobre o carpete
e a mesa de cabeceira. Nate ficou com o balcão da cozinha e os dois sofás – e
posteriormente, a poltrona. A rapidez dos movimentos de Dominik levou-o a errar
a abertura e espirrar três jatos em suas costas.
Deitaram juntos ao fim, Dominik sobre seu
peitoral. Estava contando a Nate sobre o protesto que ele e os outros alunos da
Northview Charter School planejaram para
segunda-feira
— Qual a causa? — Nate observava a página de
evento no celular.
— É uma longa história. Dois de nossos amigos foram
vistos se beijando por um professor particularmente devoto a fé cristã. Por ser
bolsista, Chad foi expulso sob acusação de comportamento inadequado. O
namorado, Kevin, recebeu uma ajudinha do papai milionário. Cerca de trinta e
oito por cento dos alunos da Northview
são LGBT’s, teriam que nos expulsar a todos por comportamento inadequado.
— Talvez eu possa ajudar — Ofereceu-se.
Não era isso que Dominik tinha em mente.
— Meus pais saberiam se você estivesse
envolvido.
— Proibiriam de me ver?
— No melhor dos cenários — No pior, seria colégio interno.
Nate vestiu a cueca.
— Bom que não nos peguem fodendo sobre a pia
do banheiro — Foi até a mesinha de bebidas.
— Meu pai me mataria. Diz isso o tempo inteiro,
nestas mesmas palavras.
— Estive lá. Não fica mais fácil com o tempo.
— Muitos vão ao protesto por si mesmos, não só
por nossos amigos — Valia também para ele e Nate e o que quer que estivessem
vivendo. Isso o fez pensar por um instante. — Enfim, está tarde, não quero ter
que voltar para casa. Posso passar a noite?
— Não se preocupe, o levarei de carro.
— Disse a minha mãe que dormiria na Bethany,
então...
A mentira já
estava contada. Nate não via
como isso facilitaria as coisas, na sua posição. Acabou atrapalhando-se com as
pedras de gelo sobre a bebida.
— Ah, sim, claro. Você pode ficar... — Desviou
rapidamente o olhar.
— Agora sinto que não devo.
— Não diga bobagens, já dormimos juntos antes
— Voltou com uma dose de uísque e sentou-se à beira da cama, de costas para
ele.
— Por isso estranhei sua reação. O que está
acontecendo?
— Não quero apressar as coisas...
— Estamos namorando, não me diga que não posso
dormir com você.
Havia chegado ao ponto. Não era o mesmo que
dormir ao lado de um estanho e despedir-se na manhã seguinte sem lembrar os
nomes. O compromisso os levava a intimidade, e a intimidade, à rotina. Não imaginava
algo pior que acostumar-se com sua presença para então lidar com sua partida em
qualquer dia por vir.
— Só tive o mesmo com outros dois homens. Parti
o coração de um deles, e o outro me... — Não conseguia dizer a palavra.
Theon, Dominik pensou. O outro o estuprou.
— Entendi.
— Sinto muito... — Escorou-se na cabeceira, o
copo de uísque sobre as pernas esticadas. — Não consigo me livrar da sensação
de que tudo vai desmoronar no momento em que me sentir seguro. Você não deveria
ter que lidar com isso agora.
— É parte do que temos. Pelo menos isso eu
entendo.
— Não sou muito bom em ter companhia. Nunca entendi
o que havia de tão especial a meu respeito, sei apenas que não levam muito
tempo para descobrir que nada disso existe. Quando a diversão termina, estar
comigo é o mesmo que estar sozinho.
— Quem tentou convencê-lo disso está errado.
— Não como eu gostaria.
— Não faça isso. Eu sei quem você é —
Aproximou o rosto.
Estavam de olhos fechados, prestes a ceder a
um beijo.
— O que farei com você? — Nate o provou nos
lábios, delicadamente.
— Bom, eu não tenho lugar para ir...
Eles riram baixinho. O ar não mais pesava ao
redor.
— Jogo no Xbox?
— Nate propôs.
— Em cinco minutos — Dominik puxou-o para
perto.
— Cinco minutos.
E então tudo a seu tempo.
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A equipe do Linnard Report o recebeu na saída do elevador com champanhe, confetes, vuvuzelas, chapéus comemorativos e um bolo de dois andares. A faixa cobrindo o hall de janelas era autoexplicativa: Feliz Aniversário, Thayer Van Der Wall – e em letras minúsculas, ‘Pela Primeira Publicação’.
Thayer distinguiu muitos rostos entre os novos
estranhos. Seu irmão usava um moletom marrom escuro por sobre a camisa social e
calças um tom mais claro, próximo ao alaranjado. Colin, seu novo chefe, escolhera
um blazer azul-escuro, calças negras e uma camisa roxo violeta, desabotoada em
dois. Paige, a de vestido longo, Dawn, a de cabelos loiros, e Russel, o de
óculos de grau, também eram redatores iniciantes; os conheceu no primeiro dia.
E claro, havia Olivia Cheung. Parecia estar em
todos os lugares ao mesmo tempo, cercando-o com seus olhos estreitos e
recitando maldições indecifráveis na língua nativa japonesa. Não ficara feliz
por ele se unir a equipe, tampouco agora por ser celebrado.
— Feliz aniversário, menino de ouro — Colin envolveu-o em um abraço. — Um dia depois do
dia mentira. Essa foi por pouco.
— Você não faz ideia — Ele respondeu.
Aquela era uma velha história que sua mãe
contava. No dia primeiro abril enganou seu pai dizendo que a bolsa havia
estourado e o pequeno Thayer nasceria antes do previsto pelos médicos – tudo
para fazer o marido chegar ao jardim a tempo de levar um banho dos irrigadores.
Sophie riu tanto que sua bolsa estourou de verdade seis horas depois, já no dia
dois de abril. Até convencer o marido de que dessa vez falava a verdade,
precisou suportar quarenta minutos de contrações.
— Feliz aniversário! — Seus amigos o
cumprimentaram.
Logo foi a vez de Olivia, como sempre mal-humorada.
Thayer terminou com uma taça de champanhe em mãos e ao nem saber de onde veio.
— Se não é o ariano da família... — Travis foi
para um abraço. — Não se preocupe, eu o perdoo.
— Pelo que?
— Por não ter me levado em sua viagem. Sei que
vai me compensar.
— Estava pensando em Cairo, Egito.
— Continue pensando, preciso de mais conforto
e menos sol — Brindou a outra taça de champanhe.
Thayer olhou ao redor.
— Onde está Parker?
— Disse que tinha uma cirurgia, agora fica
ligando de cinco em cinco minutos para se desculpar. Olhe para isso —
Mostrou-lhe o registro no celular.
Quarenta e
duas chamadas não atendidas.
— Ele é um homem muito insistente — Thayer
provou de sua taça.
— Deve estar cortando alguém neste exato
momento enquanto eu combino o uber de volta para casa. Só podia ser seu
aniversário.
— Van Der Wall! — Colin chamou de sua sala, e
os dois viraram. — O que tem o pau maior, é claro — Achou ser a melhor maneira
de diferencia-los.
Or irmãos trocaram um olhar.
— Contamos a ele que este sou eu? — Travis
perguntou.
— Não. Agora preste atenção — Thayer colocou
uma mão sobre seu ombro. — Parker o ama e é um ótimo namorado, mas ele também
ama o que faz como qualquer outra pessoa que encontrou sua vocação. Não se
esqueça que este é um dos motivos para que você o ame de volta. Na próxima
ligação, ouça o que tem a dizer.
— Preciso de outro drink para isso.
— Tome o meu — Entregou a ele. — Eu volto já —
Foi até a sala de Colin.
Uma balança pintada a óleo o encarava de volta
sobre a poltrona na mesa principal. Nas laterais, esculturas de ferro e bronze
estimulavam sua percepção. Faces de mídia, em sua maioria inconclusa. Colin
costumava dizer que as câmeras proporcionavam uma única perspectiva contra
milhares de olhos atentos em todo lugar.
— Feche a porta — Colin pediu. Enquanto ele o
fazia, preparou duas taças de Krug Clos d’ Ambonnay. —
Bem-vindo ao Linnard Report,
oficialmente— Entregou uma ele.
— Refinado.
— E merecido. Nenhum outro iniciante chegou a sete
milhões de views em menos de quarenta
e oito horas. Todos na outra sala o odeiam em segredo.
— Terão o seu momento — Sentou no sofá maior, de
pernas cruzadas em um quatro. O champanhe fazia gosto ao monopólio. — Você
nunca disse o que achou.
— Quem disse que eu li seu artigo?
Thayer pensou ter perdido alguma coisa.
— Está mentindo — Acusou.
— Nada é bom o suficiente para mim, Senhor Van
Der Wall. Por que usaria do meu perfeccionismo para interferir no seu trabalho?
Enquanto houver anunciantes e cliques milionários, manterei minha posição.
— Sei o que fez com Viola — Leu todos os
artigos; questionou cada mentira. — Não espere que eu faça o mesmo.
— Fique à vontade para ser melhor que eu. Nunca
joguei pela moral e os bons costumes.
Thayer levantou para encara-lo.
— Machuque meus amigos assim, outra vez, e eu
o arrebento.
— Tão másculo — Olhava-o cheio de desejo. —
Onde estava no meu ano de formatura, quando não havia ninguém para foder meu rabo?
— São negócios — Beijou-o então.
Colin levou um segundo para recobrar o fôlego.
— Te farei gozar antes que termine a bebida —
Virou-o para a mesa e tirou-lhe as calças.
Seus lábios pegando-o duro também faziam gosto
ao monopólio.
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Ela tocou o maxilar, onde Jasmine deixara um hematoma arroxeado. Outra marca fez-se aparente em sua clavícula esquerda e por baixo da regata. Kieran.
— Temos algo em comum, você e eu — Aaron disse
a ele, na sala de jantar.
— O que seria?
— Custa-nos demais ao ego reconhecer uma autoridade.
Gwen secou as lágrimas e a maquiagem borrada com
um lenço umedecido, que então jogara contra seu reflexo no grande espelho do
toilet. Patética, a palavra lhe vinha
aferrada.
— Não deveria ser uma inconveniência após sete
anos trabalhando juntos — Kieran provocou.
— Podemos chegar a um acordo. Creio que não se
arriscariam ao rancho sem uma boa proposta.
— Bilhões de dólares podem fazê-lo reavaliar
suas decisões.
— E que garantias eu tenho de receber o
dinheiro quando entregar a cabeça de Nathaniel Strauss em uma bandeja de prata?
— Sorriu para ele.
Gwen colocou as duas mãos sobre a torneira e
aproximou-se para lavar o rosto. Jasmine, atrás dela, aparecera
sorrateiramente.
— Pode nos encontrar em qualquer lugar — A
Kieran, uma garantia eficaz.
— Matar a ambos não me deixará mais perto da
fortuna dos Strauss, embora seja uma ideia tentadora.
— Sabemos demais, Senhor Vanean. E não somos
os únicos.
— Deveria falar por si mesmo — Bebericou de
seu vinho.
Kieran só entendeu ao ouvir os gritos de Gwen,
do outro cômodo. Jasmine tentava sufoca-la com uma sacola de plástico.
— O que você fez? — Kieran sacou o revólver,
mas Aaron foi mais rápido. O tiro fez com que a arma ricochetasse de suas mãos
para disparar sobre o carpete.
De modo instintivo, Gwen escalou a pia com os
pés e impulsionou seus corpos para trás. Jasmine caiu sobre a latrina de uma
das cabines, e ela sobre metade da porta quebrada. Trocaram golpes, também
rasgando suas vestes. Gwen arrancou sua peruca; ela quebrou um de seus saltos
com um chute, fazendo-a cair sobre as lajotas.
No segundo em que levou para tirar os cabelos
do rosto, Jasmine ficou de pé. Gwen chutou-a na área dos seios, de volta a
cabine. Conseguiu imobiliza-la com a cabeça na latrina e um de seus braços no
contorno das costas. Quando ela puxou a descarga, para enfim livrar-se da água
suja, Gwen bateu sua cabeça contra a porcelana.
Inconsciente era encantadora, sobretudo pela
fragilidade.
Gwen levou-a pelas roupas até a sala de
jantar, onde Kieran fora rendido de joelhos.
— A vagabunda tentou me matar — Largou-a no
chão sem qualquer delicadeza.
Aaron redarguiu com uma gargalhada.
— Não esperava menos de uma Strauss. Estou
orgulhoso.
— Deixe-nos ir.
— Convença-me — Engatilhou a arma para que ela
visse.
— Puxar o gatilho lhe custará a Dama de Ferro
— Posicionou o cano do salto sobre o ouvido dela.
Aaron apenas sorriu. Ele sempre o fazia, até
em derrota.
— Vamos conversar por um minuto. Sentem-se —
Assim como ele o fez.
Gwen e Kieran tomaram os mesmos lugares de
antes. Ela atentou para a marca de sangue que corria dos lábios à testa do
namorado – outro confronto sucedera à sala de jantar enquanto lidava com a doce
Jasmine.
— Ninguém morrerá esta noite, meus caros — Aaron
folgazava com a arma sobre a mesa. — Pensem nisso como um teste. Provam-me o
seu valor, e saem com o grande prêmio.
— Onde está meu irmão? — Gwen perguntou.
— Não tão rápido. Primeiro estabelecemos uma
relação de confiança.
— Outro jogo — Kieran concluiu.
Então ele
havia entendido.
— Digo que não nos conhecemos tão bem. Por
exemplo, Senhor Murillo, onde cumpriu sua pena?
— Queensboro.
— Tem isso em comum com meu irmão mais velho,
quem diria? — Virou para ela. — E você, Senhorita Strauss, onde fazia balé?
— Academy
East — Ela respondeu.
— Realmente fascinante. Duas pessoas de mundos
opostos excedendo as expectativas para ficar juntos. Se ao menos não fosse uma
trágica história de amor... — Suspirou. — Diga-me, Gwenett, o hematoma em sua
clavícula foi cortesia de Jasmine ou de seu namorado?
Os outros dois trocaram um olhar. Parte da
blusa fora encobrida por ela.
— Noticiários relatam diariamente casos de
violência doméstica, mas é muito difícil de acreditar que pode acontecer na
nossa frente, com alguém que conhecemos.
— Terminou? — Kieran fitava-o impaciente.
— A Senhorita Strauss sabe que não foi a
única?
Ela olhou para o namorado.
— A ex esposa do Senhor Murillo ficou por três
meses em coma após um estranho acidente doméstico — Aaron relatou. — Denise Carlson,
era este seu nome? A cicatriz permanente no rosto não é tão desacorde a sua,
Senhorita Strauss.
— Você não vai conseguir — Kieran deixou-lhe
claro. — Somos mais fortes que isso.
— Eu acredito em você. Três anos é muito tempo
para se esperar por alguém, e aqui estão, lutando um pelo outro. Pergunto-me se
a Senhorita Strauss disporia da mesma indulgência caso não entretece os
investidores do pai — Bebericou mais um gole.
A atenção de Kieran era em todo à suas
palavras.
— Sei a maioria dos nomes — Aaron prosseguiu.
— Celey Freemond, Jesse Turner, Belgra DeLacchio... — Aos poucos via-o
embravecer. — Talvez Samuel Dye, não tenho certeza... — Via-o balançar as
pernas como em um tique nervoso. — Ah, Donato Foster, o papai da melhor amiga,
Amber. Sinto muito, ex melhor amiga.
Kieran cerrou as mãos em um punho, e ela o
suplicou com olhos lacrimosos. Nada igualava a Aaron como uma generosa vitória.
— Você não estava lá... — Gwen só foi capaz de
dizer.
Levou um tabefe com as costas da mão, que fez surgir
um traço de sangue na bochecha esquerda. Os cabelos em frente ao rosto escondiam
apenas parte do olhar fulminante.
— Extraordinário! — Ao menos Aaron tirava proveito.
— Obrigado pelo seu tempo, meus caros. Estão livres para ir agora — Assim ficou
de pé, seguido por Kieran. Quando Gwen estava prestes, lembrou de algo
importante. — Na verdade, Senhor Murillo, poderia esperar no outro cômodo? Eu e
a Senhorita Strauss daremos uma palavrinha — Sem que possa interferir.
Kieran não gostava da ideia, mas o fez sem contestar.
Aaron sentou na ponta da mesa e estendeu à
Gwen um guardanapo branco para os ferimentos. Ela o tomou ríspido de suas mãos.
— Sinto muito por isso, não pensei que chegaria
a tanto.
— Tenho impressão de que tudo ocorreu como
planejava — Ela estancou o sangue.
— Não se subestime. Uma mulher com a motivação
certa pode ser tão imprevisível quanto um lunático portando uma arma.
— Você saberia.
— Melhor que ninguém — Jogou-lhe uma moeda
francesa.
De um lado um arcanjo assumia escrituras por
rochas maciças, sobre um pedestal. Do outro, as palavras 20 Francs 1893 brilhavam em relevo.
— O que é isto? — Gwen perguntou.
— Entregue a um de meus homens em Toronto e
ele dirá o que fazer. Vá atrás de seu irmão, efetive sua vingança.
No Canadá, era até de esperar-se.
Ela empunhou a moeda como se sua vida
dependesse disso.
— Tudo o que uma garota deseja ouvir.
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5x14: I Don't Think You Know What Pain Is (03 de Março)
A noite ainda não acabou. Semana que vem teremos mais de Thayer, Gwen, DomiNate, e um pouco do que acontece quando deixam meninos a sós em uma fraternidade. Faltam só 5 capítulos para a season finale!
Reservei o Dreamcast de Gwen para este capítulo em particular, pois é seu grande destaque desde que a temporada começou. Imagino uma atriz como Virginia Gardner no papel. Nas fotos abaixo a caracterização se aproxima bastante do personagem da vida real.
Gwen é inspirada na filha mais velha do meu padrasto, um dos piores pesadelos da minha pré adolescência. Mas não se preocupem, não aconteceu nada tão grave quanto nos livros. Essa é uma história que fico devendo a vocês para o especial de Series Finale.
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