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Livro | The Double Me - 6x02: If He Finds You First, You'll Know How Personal It Gets [+18]

   6x02: If He Finds You First,
                     You'll Know How Personal It Gets
“O dinheiro é um bom motivo".

Patrick McPhee foi convocado à uma reunião com os seis membros do conselho estudantil da Dartmouth College naquela manhã. A Jensen também solicitaram que estivesse presente, e então seria informado as condições de sua permanência.
— Alguma medida judicial será tomada? — Seu pai perguntou.
— Não até encerrarem as investigações — Respondeu a Professora Kathryn Lively, a Reitora Interina. — Mas como medida cabível, informamos aos pais e responsáveis que as atividades na fraternidade da Delta Beta Psi foram suspensas indefinidamente. Cada um dos trinta e seis membros, incluindo seu filho, Jensen, será direcionado a uma das vagas nos dormitórios da universidade até o final da semana.
— E quanto as acusações por porte ilegal de drogas?
— O exame toxicológico provou que seu filho não fez uso de nenhuma substância ilegal. Não há razão para se preocupar.
— A cobertura de imprensa obriga-me a discordar — Disse Patrick, em inicio a mais um discurso sobre invasão de privacidade e direito à informação.
Jensen não ouviu muita coisa. Nos dias que seguiram o incidente, também não teve muito a dizer. Havia um barulho incessante que limitava sua compreensão e não seria capaz de simplesmente ignorar, como se aquela noite nunca tivesse terminado. Bom, para Ryan nunca terminou.
Os médicos não estavam totalmente seguros de sua recuperação. Falavam à imprensa sobre danos cerebrais irreversíveis, que comprometeriam drasticamente sua qualidade de vida em caso de acordar. Não havia como saber, mas era possível que perdesse os movimentos dos membros e da musculatura do tronco, além de correr o risco de nunca mais falar outra vez.
— Senhor McPhee? — Ouviu chamar a Senhora Lively. — Sente-se bem?
Jensen levou um instante para voltar a realidade.
— Sim — Ele respondeu. — Posso ter meu antigo quarto de volta?
— Isto não será um problema.
— Neste caso, terminamos por aqui — Patrick levantou-se. — Foi um prazer, Senhora Lively, Senhores.
— Igualmente. Faça uma boa viagem de volta para casa — Sorriu -lhe cortês.
O ar lá fora estava frio e úmido. Jensen e seu pai fizeram o caminho inteiro em silêncio até o pátio principal, onde o motorista de Patrick estaria à espera.
— Você parece preocupado — Notara seu pai.
— Pegaram leve comigo por eu ser seu filho.
— O que houve naquela noite não foi culpa sua, todos sabemos disso.
— Não foi? — Jensen ainda duvidava.
Eles pararam de caminhar à sombra de uma árvore.
— Você forneceu bebidas alcóolicas àquele jovem rapaz e o obrigou a pular, bêbado, de uma janela? — Patrick argumentou.
— Não, mas eu estava lá.
— Tentando impedir que alguém se machucasse, exatamente como o fez. Se este for seu crime, não espere por uma condenação.
— Ele poderia ter morrido — Temia Jensen. — É só no que consigo pensar.
Patrick afagou-o nos ombros.
— Você é um bom homem, filho — Disse-o. —Pode não ver isso agora, mas fez a coisa certa — A buzina do carro, à esquerda, o chamou atenção. — Preciso ir. Há algo que queira me dizer?
— Obrigado — Isso batava.
Jensen voltou ao dormitório com suas palavras em mente. Lar, doce lar. Era bom saber que nada havia mudado desde a última vez em que esteve ali.
Ele deitou em sua antiga cama, colocou os fones de ouvido, posicionou as duas mãos sobre o peitoral e olhou através da janela. Lá fora começou a cair uma chuva fraca, o barulho o deixava um pouco mais tranquilo. Suas playlists, em repetição, serviriam também para inibir o rumor conturbado em seus pensamentos. Se ao menos funcionasse para ele.


— Eu entendo — Disse Gwen, ao celular — Aguardaremos o retorno.
Matt havia tomado um lugar na poltrona principal do escritório, as pernas cruzadas formando um quatro. Lexi, presente apenas por chamada de vídeo, em um monitor interativo.
— Ele disse que devemos esperar — Gwen os informou.
Matt tirou o celular do bolso do paletó e desbloqueou a tela usando a digital.
This is bullshit — Disse. — Deixe-me fazer algumas ligações.
— Não se precipite. É do nosso interesse fazer o que Aaron diz.
— Desde quando? — Inquiriu Lexi.
Gwen moveu-se alguns centímetros na poltrona giratória.
— Nunca estivemos tão próximos de encontrar Nate. Não precisamos dar motivos para que Aaron acredite que não jogamos de acordo à suas regras — Pelo menos por enquanto.
Matt levantou e disse:
— Para alguém que corre o risco de perder uma enorme quantia em dinheiro, você me perece bem calma.
— E isso significa...?
— Eu não sei — Pôs as mãos na cintura. — Talvez você tenha sua própria agenda. O que acha de compartilhar conosco o que sabe?
— Se puder nos confiar seus segredos, é claro — Lexi também cedeu a uma provocação.
Embora não tomassem sua palavra como verdade, o propósito de Gwen nunca foi reter informações, ou de nada adiantaria ter assinado um contrato milionário para que pudesse utilizar de seus recursos. Precisava, antes do mais, confirmar as suas suspeitas. E suas suspeitas eram...
— O nome é o ponto de partida para encontrar qualquer pessoa em qualquer parte do mundo. Se um cartão de crédito for utilizado, ou uma propriedade adquirida, até mesmo alguém com menos recursos que Aaron Vanean poderá realizar o serviço. A questão é: Nate sabe de tudo isso. Se queria mesmo desaparecer, precisaria de documentos falsos e de um bom lugar para se esconder. Mas estamos em Toronto, e Aaron não levou muito tempo para nos ofertar uma localização, o que significa que o Plano N, de Nome, foi uma cartada certeira. Não parece fácil demais?
— Bom, não era o que queríamos? — Argumentou Lexi.
— Queremos fazer isso da maneira certa. Se Aaron realmente o encontrou, algo está errado. Porque Nate não comete erros.
— Ou talvez queira ser encontrado — Matt conjeturou.
Gwen tomou posse da maleta de dinheiro e foi de encontro à pintura Monet, na parede, onde, atrás, localizava-se o cofre. Os números pareciam pequenos pontos negros em placas de ferro devido à alta sensibilidade de seus olhos à luz artificial – algo que Nate se certificou de que aconteceria. A formação, entretanto, se encaixava nos padrões numéricos utilizados comercialmente. Só precisou usar a memória para garantir o acesso.
— É simples — Dizia ela, enquanto guardava o dinheiro. — Nate é o responsável pelas cicatrizes no meu rosto. Perto dele, Justin e Quentin mal tiveram chance. E sabemos que Theon De Beaufort jamais foi o mesmo depois de conhece-lo. Neste caso, será que realmente pegamos o que nunca foi pego, ou haverá outra surpresa?
Os outros dois fizeram silêncio em um primeiro momento, então Lexi disse:
— Do jeito que fala, parece até que o admira.
Gwen pressionou o botão vermelho sob a escrivaninha para ativar o fechamento automático.
— É diferente quando se conhece alguém da forma que nos conhecemos — Disse, em tom singelo. — Se ele a encontrar primeiro, saberá o quão pessoal pode ficar — E assim passou por Matt, em direção a saída.
Matt observou-a através das portas de vidro até que desaparecesse de seu campo de visão.
— Viu? — Virou a Lexi. — Esta foi uma saída triunfal, é disso que eu sempre falo.
— Cresça, Matthew — Ela finalizou a chamada.
A ele só restou desfrutar do silêncio, em um escritório vazio, e servir-se na adega.
Quentin, seu irmão, costumava dizer que a melhor estratégia em um jogo de xadrez é convencer seu oponente de que vai perder, pois assim ele contará com a vitória cedo demais. Não parecia tão diferente agora, sempre ao dizer a coisa errada, no momento errado, com uma obsessão por diligenciar o papel do jovem imprudente que coloca o dinheiro e o sexo como prioridade. Suas amigas não veriam além disso, nada que pusesse expor suas negociações privadas.
— Sou eu — Disse ao celular. — Teremos uma localização em breve. Certifique-se de chegar antes dela.
— Entrarei em contato — Foi o que disse a outra voz.
O celular ele jogou na poltrona, no copo de whisky serviu-se de outra dose.
— À saídas triunfais — Brindou a seu reflexo na vidraça.
E ao dinheiro, é claro.

O homem de terno azul-escuro e pasta executiva fez seu caminho dos elevadores à sala de reuniões, acompanhado da nova equipe editorial. Nem todos os olhares curiosos o reconheciam, mas antes de passar pelas portas de vidro, ouvia a todos repetir seu nome e comentar sobre o que havia feito.
“É ele mesmo?”
“O que faz aqui?”
“Colin sabe disso?”
“Aquele vídeo foi tão agressivo”.
Thayer esboçou um sorrisinho à sua audiência ao ouvir os rumores.
À direita acompanhava seu irmão, em um terno Armani marrom-acobreado e gravata vermelha, na posição de Editor-Chefe. À esquerda, Dawn, Paige e Russel, na posição de editores-assistentes. Nenhum deles perdia em elegância e decoro ao novo Diretor Executivo.
— Sinto muito por fazê-los esperar — Thayer disse, tomando o lugar principal.
Os membros da conferência não pareciam entender.
— O Senhor Fraser está a caminho? — Perguntou Michelle, a repórter.
— Por decisão unânime do Conselho Administrativo, o Senhor Fraser não ocupará mais o cargo de Diretor Executivo do Linnard Report. A posição disponível foi referida a mim, como sócio majoritário. Os relatórios, Senhorita Merriman, por gentileza.
Dawn entregou-os um por vez.
— Sócio Majoritário? — Questionou Avery, um editor.
— É como passa a ser chamado quando adquire cinquenta e um por cento das ações de uma empresa — Thayer esclareceu.
A mesa fez-se em murmúrios. Ou melhor, protestos subordinados. Thayer gostava de referir-se à sujeição indisciplinada desta forma.
— Como isso aconteceu? — Avery ainda analisava os relatórios.
— Chegaremos lá. Mas primeiro... — O sacrifício.
Thayer tirou uma garrafa de álcool de sua pasta, derramou sobre os murais informativos e acendeu com um isqueiro.
Houve quem deixasse seu lugar à mesa e gritasse o mais alto que podia, temendo que as chamas os alcançassem. E houve quem apreciasse o grande espetáculo, chegando a sorrir de satisfação e filmar com a câmera do celular. Do ponto de vista de Travis, fora um grande exagero. Não que esperasse por sutilezas; conhecia o irmão bem demais para questionar seu senso de humor.
— Ele fez mesmo — Dawn olhava impressionada.
Yeah, he’s an asshole — Travis respondeu.
Como o grande final, Thayer chutou o suporte de madeira para que os murais ruíssem ao chão. E lá eles ficaram, cobertos por chamas.
— Bom, acho que isso prova meu ponto. Reestruturação — Acomodou-se novamente em seu lugar. — Apenas nos últimos seis meses, a administração precisou responder a trinta e sete processos judiciais por calúnia e difamação e desembolsar o equivalente a onze por cento do rendimento anual em indenizações, o que ocasionou a redução de custos que nos permitiu continuar operando. Por pouco. O conselho insiste que nossa nova política empresarial atenda às diligências de privacidade e responsabilidade civil a partir de agora.
Greta, a mulher de meia idade e cachos loiros, do setor de marketing, levantou uma mão timidamente.
— Você precisa ir ao banheiro ou algo do tipo? — Thayer franziu a testa.
— Não, senhor... — Ela respondeu, amedrontada. — Eu ia dizer que... talvez... uma reestruturação possa nos custar mais caro do que estamos tentando economizar.
— Ela está certa — Concordou Michelle. — E este é o nosso trabalho. Como jornalistas, sempre seremos a pedra no sapato de alguém. Não precisamos de uma reestruturação, precisamos de bons advogados.
— Ou não — Avery observou nos relatórios. — Vencemos vinte e quatro entre trinta e sete processos. É um bom número para mim.
Os outros membros pareciam concordar, exceto Thayer.
— Permitam-me perguntar: Termos direito a nosso próprio ponto de vista nos dá direito aos próprios fatos? — Hesitou. — O motivo de eu estar aqui, e Colin Fraser não, é porque um de nós tratou suas indiscrições como parte do trabalho e expôs ao público falsas informações que comprometeriam o empreendimento de terceiros e por pouco não destruíram a reputação de Theodor Van Der Wall, meu pai. Não à toa que um número considerável de anunciantes revogou seus contratos para que suas marcas não fossem associadas à esta corporação. E com a queda das ações, meu investimento nem precisou ser tão generoso para me tornar sócio majoritário. Era isto, ou fechar as portas. — Levantou-se. — Agora temos uma escolha a fazer. Manteremos nossa indiscrição, seremos punidos por isto e pagaremos indenizações milionárias aos que já têm de sobra, ou faremos com que as pessoas sejam ouvidas e tenham poder sobre suas próprias histórias? Ninguém nos conhece, ninguém realmente se interessa pela nossa opinião. Até onde sabem, somos apenas os babacas que assinam seus nomes no rodapé de artigos. Dando um rosto a todas às histórias que contamos, e não apenas um nome, seremos responsáveis somente pela distribuição, não pelo conteúdo veiculado. E sabemos quem as pessoas gostariam de ouvir.
— Você quer dizer, deixar outras pessoas fazerem nosso trabalho? — Perguntou Aylana, uma editora.
— Fazer seu trabalho por elas, não contra elas. A não ser que possa arcar com os custos de um bom advogado.
— Ela não pode — Michelle deixou claro, e a mesa fez-se em risadas.
Dessa vez, todos pareciam estar de acordo.
— Tudo bem, podemos fazer isso — Avery assentiu. — Mas devemos chama-lo de chefe ou Senhor Van Der Wall?
— Eu pago as contas. Chame-me de Papai.
Assim formou-se outro coro de risadas. Thayer sabia que Avery era um dos bons, ou não se divertiria com o próprio vexame.
Quando a reunião encerrou, Travis seguiu o irmão até sua sala.
— Isso foi um tanto dramático — Disse, ao passar pelas portas de vidro.
— O lance do papai ou os murais em chamas?
— Preciso escolher só um?
Thayer acomodou-se em sua mesa, onde uma pilha de documentos aguardava assinaturas.
— Como um homem de negócios, sabe que precisa causar uma boa primeira impressão.
— E inspirar medo, aparentemente — Travis tomou a outra poltrona.
Não era uma surpresa que Thayer fizesse tão bem a posição de Diretor Executivo, na mesa principal, usando terno e gravata azuis, num tom mais escuro que seus olhos, e empunhado a uma caneta OMAS Limited Edition, que fora presente de seu pai. O novo corte de cabelo, em dégradé, casava perfeitamente ao traçado de barba recém aparada e à elegância polida dos fios negros que penteava para cima.
Travis não lembrava de tê-lo visto tão bem desde que deixou o Liberty County Hospital. Também não o vira com tanta frequência, devido às competições fora do país. Isso explicava algumas coisas.
— Sei que disse a eles que Colin contou uma mentira sobre nosso pai naquela matéria como política de controle de danos... — Discorreu Travis. — Mas ainda acredito que há uma parte sua que não pode ser convencida de que ele realmente era infiel.
Thayer ergueu o olhar por um instante.
— Ele era Theodor Van Der Wall — Sussurrou-o. — Alcoólatra insociável, homofóbico ocasional, estúpido como o leão bordado em sua fivela de cinto. Ter fodido outra mulher durante todo esse tempo é uma verdade que eu não questionaria.
— Que bom não termos permitido que você escolhesse o que seria escrito em sua lápide — O irmão deu risada. — Mas conhecendo-o como o conhecia, sei que teria adorado.
— É claro. Sempre tão orgulhoso de cada um dos seus malditos defeitos... — Quase suspirou.
Travis não via melhor oportunidade para mudar de assunto.
— Ela tinha um filho, sabia? A mulher que estava com ele naquele avião.
— Uma criança?
— Um estudante do segundo ano na Brown University. Ele largou tudo para estar com a família agora.
— Bem, ele deveria — Thayer posicionou a caneta sobre os documentos, recostou-se à poltrona e fitou-o, como se o desafiasse. — Quer que eu publique esta informação?
Seu irmão sorriu-lhe de forma singela.
— Só achei que deveria saber que não somos os únicos a ter perdido alguém. Essa história não é só nossa para contar ou ser enterrada.
— Você sabe que gastei a maior parte da minha herança tentando acobertar o caso do nosso pai e adquirindo cinquenta e um por cento das ações do Linnard Report. Por que tentaria me causar problemas?
— Como Editor-Chefe, posso apenas fazer sugestões.
— E o que, exatamente, o Editor-Chefe está sugerindo?
— Desde que li a versão de Colin sobre os fatos, não parei de me perguntar sobre a verdade que não descobrimos. E se nosso pai não for um filho da puta destruidor de lares que nossa família e a mídia local vêm tentando nos fazer acreditar?
Thayer avaliou em silêncio.
— Você quis dizer... se ele estava apaixonado por ela?
— Acho que nunca vamos saber. Ou vamos?
Se Thayer entendera corretamente, era sua decisão..


Viola chegou ao seu apartamento por volta do meio dia. A porta da frente não estava trancada, como lembrava de ter deixado. E havia os ruídos estranhos vindo da cozinha.
— Olá, amiga — Andy sorriu.
O ar estava carregado de bacon, ovos fritos e café, que ele mesmo tomou a liberdade de preparar. Por que tinha de ser ele? Um assaltante faria menos bagunça. 
— Ah, é você — Lamentou Viola. Sua bolsa ela jogou sobre o sofá maior. — Como entrou aqui? — Perguntou-o.
Andy virou os ovos na frigideira em um movimento rápido.
— Sou um homem branco, hétero, cristão e americano. Faças as contas.
— É, eu imaginei — Seus saltos ela deixou atrás da cômoda. — Mas não pense que somos assim tão próximos.
— Claro que somos. Eu sei, por exemplo, que fodeu Liam a noite inteira.
Ela quase tropeçou no tapete quando ia sentar-se.
— E sei que transaram hoje de manhã outra vez, por isso está chegando essa hora — Andy completou.
Aquela era uma das razões para sentir-se tão desconfortável perto dele.
— Às vezes você me assusta — Ela disse.
— Sente-se e coma — Ele serviu um prato.
Com a fome que sentia, não pareceu tão ruim.
— Nunca tive um stalker antes. Muito obrigada.
— Agora conte-me o que houve — Ele se debruçou com as duas mãos no balcão da cozinha.
— O que quer saber?
— Porque você parece tão mal. Este é o seu cabelo sem os produtos?
Ela tocou uma mecha.
Bom, ele tinha razão. O preço por sentir-se glamurosa na noite anterior era sentir-se terrível no dia seguinte.
— Nós dirigimos até um motel — Dizia ela, enquanto comia.  — Foi realmente... perfeito. Tudo como sempre imaginei.
— Mas? — Andy pressentiu o que viria.
— Mas, na manhã seguinte, ele simplesmente foi embora. Não deixou nenhum bilhete, mensagem de voz, nada. Foi meio estranho. Tínhamos acabado de transar pela terceira vez, mas quando voltei do banheiro, já havia partido.
Andy assentiu.
— Você esperava algo mais?
— Na verdade, não. Ele vai casar. Esse tipo de coisa só acontece uma vez.
— Bom, sim e não — Andy deu a volta para descartar os restos na lixeira da pia. — Não é raro encontrar um homem que deseja viver uma última aventura antes de assumir um compromisso, mas há sempre o risco de não ser somente uma aventura. Quando isso acontece, tudo o que podem fazer é fugir.
— Está dizendo que o motivo de ele ter me deixado sozinha em um quarto de motel, na beira da estrada, é porque sente algo por mim?
— Se estivesse prestes a casar, e percebesse que sua aventura de despedida de solteiro poderia se tornar mais que uma aventura, não tentaria salvar seu casamento antes de cometer o maior erro da sua vida?
Fazia sentido. 
— Isso não importa — Disse ela. — Não pode acontecer outra vez.
— Como quiser — Ele vestiu o paletó. — Peço apenas que não se surpreenda caso esta novela fique um pouco mais interessante nos próximos capítulos.
— Então você estará lá para assistir. Oh, ótimo.
— Com essa atitude, vai acabar se apaixonando por mim — Fez um nó na gravata.
— Não se preocupe, isso só aconteceria se você estivesse prestes a se casar ou descobrisse que tem câncer.
Aquela referência não passou despercebida a ele. 
— Câncer? Sério? —  Perguntou. — Thayer Van Der Wall?
— Não passou de um crush — Ela confessou-o. — Talvez seja pelo lance do "abertamente gay". Dois homens juntos é algo que desperta meu interesse.
A risada de Andy causou-lhe um súbito arrependimento.
— Viu? — Ele pegou sua pasta. — Já estamos compartilhando nossas fantasias, como os bons amigos que somos.
— Eu não iria tão longe, mas obrigada. Pelo brunch. E pelos conselhos — Era bom lembrar.
Se a própria consciência era o anjinho à direita, dando bons conselhos, Andy era o diabinho a sua esquerda, incentivando-a a ceder a seus impulsos. Ouvir seus conselhos faria com que tudo desse muito certo antes de dar terrivelmente errado.   
— O que acha de um drink no Beach Bar, hoje à noite, após o expediente? — Ele sugeriu. — Assim ficamos quites.
— Claro — Ela sorriu. — Devo levar notas menores?
— Não é este tipo de estabelecimento, mas por que não? Podemos encontrar uma vagabunda.
— Ou um gigolô passivo em começo de carreira.
Ele sorriu.
— Gosto da forma que pensa — Disse, antes de bater a porta.
Viola não sabia se era o silêncio, o cheiro de fritura ou a bebedeira da noite passada. Algo revirou em seu estômago e a obrigou a correr direto para o banheiro.
Talvez fossem as três coisas juntas. E o casamento de Liam.



      O clima quente e ensolarado atraiu a maioria dos hóspedes do Hero Beach Club às áreas externas do hotel naquela tarde. Lexi escolheu o lugar ao meio na fila de cadeira de sol, à beira da piscina. Usava um biquini cor de pêra em faixa, no formato triangular invertido e estampado com um pingente de meia lua entre os seios. Os óculos escuros protegiam seus olhos dos raios solares; o chapéu de palha, seus longos fios loiros.
Há pouco pedira por um drink Pimm’s Cup a um dos atendentes, que agora parecia não estar em lugar algum. Quando ele retornou, quase meia hora depois, trouxe a notícia de que seus cartões foram recusados.
— Pode me acompanhar à recepção? — Ele pediu.
Lexi o fez sem questionar.
Por sorte, sempre andava com dinheiro vivo. E isso não queria dizer que ela e Gwen não precisavam repensar sobre suas condições de estadia em Nova York.
— Sinto muito, Senhorita — Disse o recepcionista, após o apagamento.
— Não se preocupe, entrarei em contato com a agência bancária agora mesmo — Ela respondeu.
A vista de seu quarto era uma das mais privilegiadas. Via-se a área das piscinas, quadras esportivas e o restaurante ao ar livre, à oeste da entrada principal. Quem apreciava em seu lugar, servido de um drink da adega, era aquele que ela tinha como Alex Strauss.
Neste caso, o banco podia esperar.
Finalizou a chamada.
— Olhos azuis — Cumprimentou-o. — Eu não deveria estar surpresa.
Nate estava entretido demais com a disputa de tênis dos jovens atletas para que sua atenção fosse toda dela.
— Sabe o que eu gosto nos esportes? — Perguntou de forma casual.
— Os garotos?
— A competição. É sempre sobre quem é o melhor, não sobre quem volta para casa e tenta se convencer de que dará certo na próxima vez — Virou a ela. — Se podemos concordar em alguma coisa, é que não há nada nobre na derrota.
— Eu suponho — Ela cruzou os braços.
Nate tomou o último gole de sua dose.
— Sei que posso ser muito competitivo, e sei que meu lado neurótico pode tomar o melhor de mim em uma competição. Mas se não é o seu jogo, não insistiu em jogar, e mesmo assim é desafiado, a melhor maneira de livrar-se desta responsabilidade não seria termina-lo? — Caminhou até a adega. — Veja bem, estava pensando sobre nosso pequeno Feud nas últimas semanas. Sempre me perguntei como alguém com o seu histórico criminal, que já foi presa em outro país por porte de drogas, conseguiu um visto para entrar nos Estados Unidos. Deus sabe que nosso presidente não deixa uma só barata imigrante escalar seus muros para o nosso lado... — Debochou com um ar de risos. — Agora a grande questão: Você teve sorte, ou realmente passou despercebida no nosso radar? Porque o Departamento de Imigração e Alfândega dos Estados Unidos tem sua própria teoria. Liguei para eles hoje de manhã e disseram-me que, legalmente, Alexyne Palmer, AKA, Alexyne Yezhov, continua em Paris. Não é uma loucura? Aposto que sente falta do cheiro de pão de centeio e creosote de madeira ao estilo russo.
Estava claro em sua expressão que ela fora pega de surpresa.
— Nem mesmo um Strauss pode fazer isso... — Disse, um tanto insegura.
Então ouviram-nos bater à porta:
— Departamento de Imigração e Alfândega. Abra, por favor.
A pele dela foi a um tom de palidez como o branco dos seus olhos.
Timing perfeito — Nate checou o relógio. — Prerrogativa de se viver na era Trump. Condenamos o sexo anal, mas sabemos ser um pesadelo de anfitriões.
— Você não pode fazer isso! — Ela gritou. — Eu não posso voltar para lá!
Os agentes da ICE bateram à porta mais uma vez.
— Deveria ter pensado nisso antes de descumprir o nosso acordo e vir à Nova York — Nate a lembrou.
— Nosso acordo? Como você...?
Ele então tirou as lentes de contato. Olhos verdes, não azuis.
Nathaniel. 
You gotta be fucking kidding me... — Ela praguejou.
— Isso é pelo vídeo que está circulando a internet por sua causa. Diga olá por mim às ex lésbicas do t.A.T.u quando chegar à Rússia — Disse por último.
Ele tirou um anel afiado do bolso da camisa, que jogou sobre o tapete logo ao ferir-se com ele na área baixa do pescoço.
— Socorro! — Ele gritou, o sangue a escorrer sobre os dedos.
Os agentes da ICE derrubaram as portas e arrastaram Lexi para fora.
— Não! Ele é Nathaniel Strauss! — Ela gritava. — Eu vou contar a Gwen! Eu vou contar tudo! Solte-me! — Cuspiu em um agente; Nate precisou segurar o riso.
Um deles havia se ajoelhado em frente a ele, no carpete, para checar o ferimento.
— Precisa de assistência médica? — Indagou.
— Não, estou bem — O sangue estancara. — Foi mais pelo susto. Achei que ela fosse me matar.
— É por isso que faço o que faço.
Babaca, Nate pensou. Lamber as botas de Trump é o que você faz.
No lado de fora, as cores do crepúsculo vespertino traçavam as nuvens de vermelho e roxo. Nate dirigiu o caminho inteiro de volta ao Strauss Capital Hotel antes que escurecesse e as primeiras estrelas surgissem ao alto.
Quem o recebeu à portaria foi Dominik.
— Hey — Ele disse. — Não me deixaram subir.
De alguma forma, olhar para ele era como o olhar o sol se pondo. Cabelos loiros, olhos azuis, as bochechas coradas, um meio sorriso avermelhado. Cores vespertinas.
— Pois é, o novo porteiro é hetero — Nate esclareceu. O antigo o deixaria entrar conforme se insinuasse.
— Você está bem?
— Sinto uma leve dor de cabeça, nada demais — Notou seu olhar. — Foi meu anel — Contou a ele, referente a cicatriz no pescoço. — Preciso prestar mais atenção.
— Ah, sim — Dominik assentiu.
Nenhum dos dois parecia saber o que dizer a seguir. E quando tiveram a chance, acabaram falando ao mesmo tempo e sorrindo um para o outro. Aquilo aliviou a tensão.
— Quer algo para beber? — Nate ofereceu.
— Tudo bem.
Eles pegaram o primeiro elevador e trancaram-se na suíte. Dominik contou-o tudo o que precisava saber sobre o problema com seus pais enquanto estavam sentados à beira da cama.
— Então, você será deserdado? — Nate deduziu.
— Seria a primeira vez na família Belmont. Acho que nunca tivemos um homossexual para punir amargamente.
— Você não sabe disso. Talvez seus antepassados chupassem pau de forma mais discreta, apenas.
— Eu não quero ser discreto, eu quero ser eu.
Nate se identificava com aquilo.
— Quer ouvir uma verdade inoportuna? — Esperou até que o olhasse nos olhos. — Seus pais não são tão ruins, só acham que é muito novo para querer o que quer.
— Bom, eles estão errados.
— Talvez. Mas também pode ser uma questão de tempo. Não conheço muitos pais que aceitaram a orientação sexual de seus filhos em primeira instância.
— Não é só isso — Dominik virou o olhar. — Às vezes tenho a impressão de que preferiam me ver morto. Seu próprio filho... — Suspirou. — Enfim, não quero mais falar disso. Está tudo bem se eu passar a noite aqui?
— Se continuar a evita-los, nada vai mudar.
— Só por essa noite. Eu prometo.
O sorriso cortês nos lábios de Nate era uma resposta pronta.
— Só por essa noite — Confirmou com um beijo.
Dominik levantou logo depois.  
— Posso tomar uma ducha? Bethany me fez andar o dia inteiro atrás de trajes de banho e decoração esportiva para minha festa de aniversário. Ela insiste que o tema seja uma parte importante da minha vida.
— Sua festa, claro — Nate agora lembrava. — Que horas devo pegá-lo? — Levantou e ajudou-o a despir-se.
— Às nove — Respondeu Dominik. — No máximo às nove e meia.
— Você sabe que não é uma festa de verdade se começa antes da meia-noite.
— Também não é uma festa de verdade se não tiver bebidas... — Ele insinuou.
De repente, seu olhar foi sobre os ombros de Nate, em direção a parede vidraça.
— Espere — Avançou dois passos. — Esses paparazzi filhos da puta. Pensei tê-los despistado ao sair da Bethany, mas aparentemente, agora eles escalam prédios.
Nate também se aproximou pra ver. Dois homens vestidos de preto miravam suas câmeras sobre eles, do topo do edifício em frente. Um era careca, de baixa estatura, e usava jaqueta de couro. O outro não aparentava ter mais de vinte e cinco anos, com longos fios loiros caindo sobre os ombros.


       — Venha comigo — Nate o puxou com uma mão até a varanda externa.
— O que está fazendo?
— Demarcando território — Porque todos apreciavam uma grande cena.
Tomando-o pela cintura, Nate o beijou. Os flashes registraram cada movimento de mãos, a cada marca vermelha que deixavam na pele, e cada vez que mordiam os lábios, entre sorrisos, com o olhar provocante direcionado à lente das câmeras. Ela os amava. Eles a amavam ainda mais.

 

Toda a antiga glória pela qual fora conhecida a Mansão Delta agora retratava um cenário de abandono. Móveis, esculturas e peças decorativas foram cobertos por lençois de seda branca e movidos estrategicamente para ceder espaço às caixas de papelão e facilitar a o processo de transferência, na semana seguinte. Nem mesmo as cores pareciam tão vibrantes quanto costumavam ser, ou sequer influíam ao cenário de grandes e calorosas recepções.
Foi bom Jensen ter esperado o anoitecer para pegar o restante de suas coisas, assim não correria o risco de cruzar com um de seus irmãos Delta pelos corredores. Seu quarto não sofreu com as mudanças, pelo que havia notado. Fizeram apenas amontoar seus pertences sobre a cama que costumava dormir, junto a várias caixas de papelão vazias com o seu nome.
Aquilo tomaria alguns minutos de seu tempo.
Jensen levou a primeira caixa, a segunda e a terceira. Seu abajur não cabia em nenhuma delas, por isso teve de leva-lo com as mãos. Na quarta vez, acabou dando de encontro com um jovem branco, de olhos azuis, com touca negra e camiseta estampada. A maneira como o encarou fez Jensen achar que poderia mata-lo somente por não prestar atenção em seu caminho.
— Desculpe-me — Jensen pediu mesmo assim.
Ao retornar à mansão, foi direto ao banheiro. Usou uma das cabines, lavou as mãos, em seguida o rosto. Seu reflexo no grande espelho mostrava o quanto as noites mal dormidas o haviam afetado. As olheiras e a pele ressecada eram o que chamavam mais atenção.
De repente, ao tentar sair, surgiram três de seus irmãos Delta. Jensen afastou-se dois passos, apenas para constatar que haviam mais dois deles posicionados a sua retaguarda.
— Vocês não querem fazer isso... — Alertou.
O que aconteceria não estava mais em suas mãos.
Primeiro o imobilizaram nos braços, para não ter chance de defesa. Então o acertaram com socos, chutes e joelhadas na área do rosto e abdome, até que estivesse sangrando, quase inconsciente, no chão. Foi ideia do jovem de camiseta de time de baseball e boné na cabeça posiciona-lo debaixo de um dos chuveiros e liga-lo na potência máxima. Em poucos segundos, a temperatura da água atingiu níveis tão altos que provocou queimaduras de primeiro grau na pele do rosto, braços e no peito.
Jensen gritou estrondosamente de dor.
— Austin mandou lembranças! — Um deles chutou-o no estômago.
Assim ele foi deixado.

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     E essa foi a nossa estreia. Para elogios, críticas ou para reportar algum erro, só usar a aba de comentários logo abaixo.
    Agora eu gostaria de falar com vocês sobre um projeto pra essa última temporada. O que acham de indicar músicas que vocês gostam para eu publicar junto aos capítulos? Assim podemos sair da mesmice e interagir um pouco mais por aqui. Então, se tiverem alguma dica, comentem o nome, o artista/banda e com qual personagem vocês acham que ela mais combina - pois assim fica mais fácil de inserir durante uma das cenas. 
      É isto. Um beijão pra vocês, e até semana que vem :)

Será que o Team Gwen está chegando perto?

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