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Livro | The Double Me - 6x22: Remind Me Not to Trust with You Again with the Magic Pills [+18]

   6x22: Remind Me Not to Trust with You Again
                         With the Magic Pills
“Quanto mais perto, mais longe do certo".

Eles os levaram, um a um, à sala de interrogatório.
— O que pode nos dizer sobre ontem à noite? — Perguntou o Detetive Hartley.
— Eu estava em casa — Disse Jensen.
— Sozinho?
— Eu e meu namorado — Respondeu Alex, na sua vez.
E quando perguntaram se alguém poderia comprovar, Cameron disse:
— Sim, minha equipe editorial. Trabalhamos a noite toda.
— Neste caso, — Disse a Detetive Shepherd. — Não se importaria em ceder as imagens das câmeras de vigilância, não é?
— Absolutamente — Concordou Viola.
O Detetive Bloome chegou trazendo uma pasta de fotos, que mostravam Thayer e Alex durante a manifestação.
— Pode explicar isto? — Jogou sobre a mesa.
— Sou eu, no Brasil, um ano atrás — Disse Thayer. — Estas são fotos montagem.
— Não de acordo a quem as tirou.
— Bom, mas de acordo ao Instagram... — Mostrou a eles. Aquilo também fazia parte do plano.
Eram quatrocentas mil pessoas juntas, na cidade mais populosa do mundo. Havia câmeras, celulares e helicópteros sobrevoando o local. É claro que alguém os encontraria.  Por isso Alex pediu a Kerr que fizesse um reconhecimento facial nas novas fotos publicadas na internet, para encontrar as que eles apareciam e poder substituir por fotos montagem do instagram. Agora os detetives viam as mesmas fotos no protesto, mas como se fossem tiradas no Brasil, há mais de um ano, com a data e a hora específica.
Xeque-mate.
— Se vocês não estão envolvidos na fuga de Nathaniel Strauss, — Disse o Detetive Bloome. — Por que Gwenett, sua irmã, está tão convencida disto?
— Porque temos história — Respondeu Alex. — Ela acha que somos responsáveis pelo que aconteceu a seu rosto.
— E não são?
— Foi um acidente — Afirmou Andy.
Os detetives pareciam ter chegado a um beco sem saída.
— Onde está Nathaniel? — Perguntaram um a um.
— Eu não sei — Disse Alex.
— Não tenho ideia — Disse Thayer.
— Desculpe, não posso ajuda-los — Disse Cameron.
— Não nos vemos há meses — Revelou Jensen.
— Pode repetir a pergunta? — Pediu Andy.
Viola apenas encarou os detetives com um olhar de desprezo, enquanto nos fones tocava Pocket Full of Sunshine. Acham que sei alguma coisa? Ninguém me conta nada aqui.
— Ele não quer ser encontrado — Lamentou Jensen, falsamente.
— Nem mesmo por você? — Perguntou a Detetive Shepherd.
— Especialmente por mim — Agora ele dizia a verdade.


Horas depois, quando foram liberados, Jensen passou em um shopping para fazer compras e dirigiu até Jersey City, Nova Jersey, onde encontraria o restante do grupo. Ele não entendia muito bem quem era Henry Langford e como Alex o convenceu a emprestar uma das cabanas de sua família, mas serviu perfeitamente. Tinha dois andares, com garagem, chaminé e jacuzzi, uma trinca de suítes, móveis de fino acabamento, quintal e lavanderia, um lustre de quatrocentas velas pendendo ao teto, na sala de estar, além de janelas com vidro refletivo, que impediam ver do lado de dentro quem estivesse do lado de fora. Isso era bom.
Jensen tirou as compras do carro, subiu as pequenas escadas na entrada e fez o toque secreto, para então abrir as portas. Nate, Alex e Thayer conversavam no sofá.
— A comida chegou! — Gritou Alex, indo até ele. — Dê-me isto... — Pegou as sacolas de uma mão.
Nate levantou logo em seguida e caminhou em direção e ele.
— Oi... — Sussurrou.
— Oi... — Respondeu Jensen, pondo as outras sacolas no tapete.
Seus olhares se encontraram pela primeira vez há mais de... Jensen nem sabia há quanto tempo.
— Eu trouxe algumas coisas... — Disse ele, para quebrar o gelo. — Alex me deu uma lista completa, então eu...
Nate o abraçou. De repente.
— Senti sua falta — Ele disse.
— Eu também — Respondeu Jensen, de olhos fechados. Sentia o coração acelerar. — Como eu ia dizendo... — Continuou. — Eu trouxe algumas coisas. Escova de dentes, roupas novas, shampoo, cerveja, vinho, vodka, whisky, aperitivos e CD’s musicais. Tudo na lista de Alex.
Nate observou.
— Para que tanta bebida? — Tomou uma em mãos.
— Para a festa de hoje à noite — Disse Alex. — Faremos uma pequena reunião entre família e amigos.
— Não acha um pouco arriscado? — Contestou Nate. — A polícia espera que um de vocês os leve até mim.
— Não, tudo bem, todos temos um álibi — Ele dizia e organizava as compras sobre o balcão. — A família de Jensen pode dizer que ele não deixou seu quarto. Travis e Dawn podem confirmar que Thayer passou a noite com eles, no Linnard Report. E Judit convenceria qualquer um de que eu e Mia dormimos no hospital — Pegou uma faca. — Eu diria que temos tudo sob controle... — Cortou o chocolate. — Mas é claro, se conseguirmos despistar os investigadores. Para isto servem os novos veículos de vocês — Mastigou e engoliu. — Perdão, querem um pedaço?
— Não, pode comer — Recusou Nate.
Alex jogou uma fatia para Thayer a seu pedido.
 — Okay, então. Você acha que a sorte é uma vagabunda da qual podemos abusar?  — Perguntou o de olhos verdes.
— Só estou tentando fazer algo pelo grupo — O irmão explicou. — Em duas semanas você vai para Madrid e não sabemos quando nos veremos de novo, ou se nos veremos de novo. Então talvez seja nossa última chance de nos reunir pelos velhos tempos — Comeu outra fatia.
Jensen deslizou uma mão sobre o rosto de Nate.
— Essas marcas... — Sussurrou. — Gwenett?
— Ela tinha seus motivos — Nate tirou sua mão.
— Não bons o bastante. Enfim, — Virou a Alex, já ao lado de Thayer no sofá. — Onde fica aquele encanamento que precisa de reparos?
— Na primeira suíte, à esquerda. Deixei as ferramentas no gabinete.
— Tudo bem. Dê-me quinze minutos — Ele os deixou.
Ao dobrar o corredor, Alex e Thayer começaram a imitar comicamente a cena de reencontro entre Nate e ele.
— Oi... — Sussurrou um deles.
— Oi... — Sussurrou o outro.
— Senti sua falta...
— Eu também...
E assim entrelaçaram as línguas, repulsivamente.
— Que engraçado — Nate ironizou. — Eu acabei de sair do chuveiro e não tinha nenhum problema com o encanamento.
— Digamos que este seja um problema recente — Justificou Alex.
— Muito, muito recente — Thayer o deu cobertura.
— Algo tipo, de dez minutos atrás.
— No máximo.
— Ou menos.
— Nós nem contamos.
Aham, sei.
— Você está usando lentes de contato verdes? — Notara Nate.
— Você gostou? — Disse o irmão. — Estava na lista de compras.
— Oh, God... — Nate achou melhor terminar aquela conversa.
Assim que ele deixou o local, Alex virou ao namorado e disse:
— Ele tem razão, isso é muito divertido. Sinto a vingança dilatar minhas pupilas.
— Tanto faz, Alex. Não vou beija-lo se não tirar isto.
— Por que não?
— Porque não dá pra saber a diferença entre você e Nate.
— E daí? Beije-me.
— Não.
— Beije-me, Thayer!
— Já disse que não.
— Beije-me, beije-me, beije-me! — Tentou agarra-lo.
Eles caíram um sobre o outro, no tapete. Os ossos de alguém estalaram ruidosamente.


Amber observou por um momento, logo depois de acordar. O irmão embalava cada bebê em um braço.
— Sabem quem eu sou? — Ele sussurrava. — Sou o Tio Kerr. T-I-O K-E-R.R. E você, senhorita, não tem um nome — Deu um beijo de esquimó — E você, rapazinho, também não tem um nome — Deu nele também. — Mas prometo não deixar sua mamãe lunática batiza-los com nominhos lunáticos.
— Eu agradeceria — Interrompeu Amber. — Não faço ideia de como chama-los.  
O irmão abriu um sorriso em sua direção.
— Aí está a mamãe — Disse. — Acho que é hora de mamar.
— Sempre é hora de mamar — Amber ajeitou-se na cama. — Dê-me eles.
Kerr entregou-os no colo, sentou-se na poltrona ao seu lado. Amber despiu os seios, ele fez uma careta e desviou o olhar.
— Ah, por favor — Ela objetou. — Amamentar é a coisa mais normal do mundo.
— Você é minha irmã. Esta sempre vai ser a minha reação.
— O que vocês acham? — Falava com os bebês. — Perdoamos masculinidade frágil do Tio Kerr? Perdoamos?
— Okay, entendi. Não os ensine a me odiar — Pediu Kerr.
Amber parou um momento e olhou abobalhada.
— Eles são tão lindos. A pele escurinha; os olhinhos pequeninhos; os pezinhos; dedinhos; fiapinhos de cabelo... como eu posso ter feito algo assim?
— Infelizmente, você não estava sozinha — Lembrou o irmão.
A resposta de Amber foi um gemido de dor.
— É tão ruim assim? — Kerr franziu o cenho.
— É bem pior — Ela rangeu as palavras. — Okay, converse comigo. Vai me distrair do que eles fazem com os meus mamilos.
— Do que quer falar?
— Qualquer coisa. Apenas distraia-me.
— Que tal sobre o seu crush, Nathaniel Strauss? A polícia iniciou uma operação de buscas por todo o país hoje cedo.
— Esse bastardinho realmente escapou, não é?
— É o que ele faz.
Sempre se livra de tudo.
— Se bem o conheço — Dizia Amber. — Deve estar em uma praia, em Honduras, agora, tomando um Strawberry Frosé e secando os meninos que jogam vôlei sem camisa.
— Acho que não é tão simples quanto o que vemos em Hollywood — Contrapôs Kerr. — Mas Alex e Thayer também não me contaram muita coisa. 
— Eles sabem onde Nate está?
— Eles fizeram acontecer, Amber. Você conhece nossos amigos.
— É, costumava ser assim. Aí eu engravidei — Ela lamentou.
Kerr havia notado certa fragilidade em seu tom de voz.
— Você está bem? — Tocou-a em uma perna, sobre o manto. — Parece meio pálida.  
— Deve ser porque acabei de dar à luz a dois bebês de três quilos. Não se preocupe.
— Só estou cuidando de você, Amber. Agora vem a parte difícil.
— Eu sei. Mas também é a melhor parte... — Ela beijou a menina, na testa.
De repente veio o choro.
— Não fique assim, okay? — Kerr a abraçou. — Estamos juntos nessa.
— Eu não achei que fosse conseguir, Kerr.
— Tudo bem.
— Achei que desistiria no meio do caminho, e que ...
— Não, você nunca desistiria. É muito mais forte que isso.
— Eu sou?
— E não precisa de mim para dizer — Beijou-a na cabeça. — Vai ficar tudo bem, okay?
— Okay... — Ela tentou conter as lágrimas.
O tempo até ouvirem a notificação no celular dele, quebrando o silêncio, foi o tempo que precisaram para se recompor.
— É a equipe — Ele informou. — Preciso ir agora. Você quer que eu...?
— Sim, eu já terminei — Ela entregou os bebês.
Kerr acomodou um em cada berçário.
— Não se esqueça — Disse ele, já em frente à porta. — Sua luta, minha luta. Isso nunca vai mudar.
— Nem com fraldas cheias de cocô e choro noturno?
— Nunca — Kerr repetiu.
Logo após ele sair, Amber puxou os cobertores e recostou-se na cabeceira, pensando em tirar um cochilo. Mas algo aconteceu. Ela não soube o que, ou sentiu qualquer coisa.
Havia muito sangue por baixo dos lençois.


— Senhora Strauss? — Chamou uma empregada, assim que a viu chegar.
Judit continuou seu trajeto pelas escadas.
— Agora não, Valeska. Preciso de um banho.
— Mas senhora, é importante!
— Qualquer coisa pode esperar.
— Não, é que...
— Dê-me vinte minutos — Estava decidida.


Se tivesse dado alguma atenção, ou ouvido apenas uma única frase, seria poupada da grande surpresa. Encontrou Gwen em seu quarto, com suas roupas e suas joias, de frente para o enorme espelho na cômoda. O vestido era um Valentino cor de cacau, sem alças ou decote. Os saltos eram um dos modelos únicos de Stuart Weitzman. A gargantilha e os brincos faziam parte da coleção Winston Cluster, de Harry Winston, com pedras de rubi e diamantes.
— O que faz aqui? — Perguntou a mãe.
— Não é óbvio? — Gwen virou. — Vim reivindicar minha herança, como prometi.
Judit correu até ela, pegou-a pelos cabelos e arrastou-a do quarto ao andar de baixo, e do andar de baixo aos jardins, onde, em frente aos portões, esperava uma dezena de jornalistas sedentos por um clique.
— Pare! Vamos cair! — Gritava Gwen o tempo inteiro.
— Cale a boca! — Gritava Judit, de volta.
As câmeras registraram desde a saída da mansão a correria pelos jardins, e até o momento em que mãe atirava a filha no chão, para cobrir a própria nudez com os pedaços do vestido rasgado.
— Como se atreve a voltar aqui? — Encarou Judit. — Você arruinou esta família! A vida do meu filho!
— Eu também sou sua filha! — Gwen vociferou.
— Não, você não é. Aquela doce menininha morreu no dia do acidente.
— Não foi um acidente, mãe! — Ela se ergueu. — Nate fez isto comigo! — Apontou para as cicatrizes. — Ele me drogou, me sequestrou e pagou a um grupo de cirurgiões clandestinos para me desfigurar. Olhe para mim! — Deu um passo à frente.
Judit ainda relutava com o olhar.
— Mãe, olhe para mim! — Exigiu Gwen.
— O que quer que eu faça? Quer me ouvir dizer que está tudo bem matar um homem, incriminar outra pessoa e tomar a herança de seus irmãos, porque alguém a machucou profundamente? Não é. Apenas um monstro faria algo assim.
— É o que sou? Um monstro?
— Eu não sei mais quem você é — Virou-lhe às costas.
Gwen a fez parar com o tom de sua voz.
— Isto é o que vai acontecer... — Ela dizia. — Tirarei seus filhos, sua casa e seu patrimônio. Dormirei em seu quarto. Usarei suas joias. Estarei na frente de jornais, para que todos vejam. Só então permitirei que todos vocês sejam esquecidos, para que saibam o quanto dói. Lembra deste plano?
— Eu nunca quis isto.
— Você nem estava lá, mãe — Ela virou aos repórteres.
“Gwenett, uma declaração!”.
“Qual o motivo da briga?”
“É verdade que Nate está preso por matar seu estuprador?”
“Qual sua relação com Theon de Beaufort?”
“Pode confirmar o boato de que foi adotada ilegalmente?”
“Sorria para a câmera, princesa!”
“Acho que ela se perdeu...”.
“Eu sei...”
“Sinto pena dela”.
“Coitada”.
Gwen saiu de lá sem olhar para trás.

Dae esperava em seu lugar, à mesa, usando blazer, suéter, calças sociais e um par de sapatos em couro negro, com as solas tramadas. Uma taça de flor-de-lótus e duas velas alinhavam-se ao centro. A vista lá fora era o Times Square, a vinte andares. Estrelas ofuscadas pela luz da cidade grande.
Dae serviu uma taça, bebeu um gole, escorou-se no assento. A pior parte era esperar. Se vinha ou não vinha. Se veio, i viu pela primeira vez e decidiu ir embora. Se nunca quis vir e nunca ligaria para dizer... Ainda bem que tinha álcool. Bebeu mais um gole.
Em um breve momento de distração, com a taça erguida, Cameron apareceu e sentou-se de frente para ele.
— Você é o meu encontro? — Perguntou Dae.
— Na verdade, não — Referiu Cameron. — Acabei de pagar dez mil dólares a um galante rapaz de terno e gravata para deixar o local.
— E assim você seria o meu encontro?
Cameron sorriu a ele.
— Não vamos nos precipitar — Serviu o vinho. — As regras se aplicam caso eu deixe uma primeira impressão.
— Você já deixou — Dae recostou-se. — É um jovem rico, atraente e de boa família, que aprendeu desde cedo a se posicionar usando o sobrenome. Dinheiro e poder intimidam seus adversários, assim como papai o intimidou a vida inteira, mas neste cenário, chega a ser complexo demais para o descreverem somente como mocinho ou somente como vilão. E isso deve fazer de mim uma presa one shot, a qual não pode errar.
— Interessante este termo; Presa. Dá a entender que um de nós está sempre vulnerável.
— E que o outro está sempre à espreita — Bebeu um gole.
Cameron tinha uma oferta a fazer.
— Você e eu, às onze, em Southampton, para um racha ilegal. O vencedor leva cem mil dólares para casa. O perdedor janta poeira de asfalto.
— O que o faz pensar que eu me interessaria por algo assim? — O garoto desdenhou.
— Não é pelo interesse, é pelo desafio. Você não baixaria um aplicativo de encontros e não sairia em uma sexta à noite se esperasse um clichê.
— Eu esperava sexo, na verdade.
— Podemos começar com uma bebida. Garçom? — Fez sinal.
Dae sorriu em resposta.
— Vamos combinar, Cameron. Você me entretém, paga as contas e eu não preciso deixa-lo até meia-noite. Assim está bom?
— Por agora — Ele também bebeu. — Você vai descobrir que as regras se aplicam se a primeira impressão garantir um segundo encontro.
— Isso nunca vai acontecer.
— Claro, sem pressão — Pegou o celular. — Alex, sou eu — Dizia na mensagem. — Estou preso no trabalho, não posso sair. Talvez dure a noite inteira... — Desligou.
Dae encarava-o por cima do menu.
— Onde estávamos mesmo? — Sorriu Cameron.
Dae escondeu-se por trás.

Thayer, Mia e Lola chegaram em uma van de entregas, com o logo lateral da Amazon Prime. Eles foram recebidos com gritos e vuvuzelas.
— Irmã! — Nate correu.
Mia cambaleou para trás com o abraço.
— O que está acontecendo? — Perguntou-o.
— É a reunião do elenco de Friends — Ele envolveu um braço nos ombros dela. — Eu sou a Rachel, Alex é a Monica, Jensen é a Phoebe, Thayer é o Joey, você é o Chandler e esta adorável senhorita, ao seu lado, pode ser o Ross.
— Não, por favor — Disse Lola. — Ross é um babaca sexista.
— Então você é o Gunther. Ele é bonitinho, você é bonitinha — Nate andou na frente.
Aquele elogiou roubou de Lola um sorriso tímido.
— Você ouviu? — Cutucou Mia. — Ele me acha bonitinha.
— E esta deve ser a sua melhor chance — Thayer afagou-a nos ombros, por trás. — Nate também gosta de mulheres.
— É sério?
— Ele está brincando — Disse Mia.
Jensen revirou os olhos.
— Okay, pessoal. Acho que estão todos aqui — Notou Alex.
Jensen e ele sentaram no sofá maior. Thayer sentou no braço, ao lado deles. Nate acomodou-se na poltrona lateral. Mia e Lola sentaram no sofá menor.
 Sobre a mesa de centro havia uísque, vodka, licor, água com gás, maçã verde, folhas de hortelã, sal, açúcar, azeitonas, gelo em cubos, leite condensado e uma pequena porção de kiwi, morangos, uva e maracujá, em um recipiente de vidro. A garrafa de vinho Chateau já estava pela metade, o que queria dizer, em poucas palavras, que Jensen, Alex e Nate começaram sem eles.
— Cameron ainda não chegou — Disse Thayer.
— Ele não vem — Alex serviu-se de outra dose. — Há algumas horas deixou-me uma mensagem dizendo que está preso no trabalho. Até parece... — Tomou um gole. — Trabalho noturno é apenas uma derivação formal de fodendo no escritório.
— Podemos beber antes de falar sobre sexo? — Pediu Mia, encarecidamente. — Porque eu sinto que não estou preparada.
— Bom, eu tenho algo melhor — Thayer jogou sobre a mesa.
Eles fizeram um círculo ao redor.
— É o que eu acho que é? — Perguntou Lola.
— Se acha que é doce, então acertou — Disse Thayer.
Mia precisou pegar um em mãos para entender melhor o que estavam vendo.
— Isto é... um animal? — Ergueu na ponta dos dedos.
— Um elefantinho azul — Reparou Nate. — E aqui uma girafinha amarela — Mostrou aos outros.
Lola também pegou um.
— Eu nunca vi algo assim... — Sussurrou ela, de frente para o jacaré lilás.
— Será que é seguro? — Alex também.
— Eu não sei. Quer tentar? — Desafiou o irmão.
Mia colocou um na boca e engoliu de uma vez.
— Vocês estão me encarando agora mesmo, não é? — Ela sentia.
O grupo se entreolhou, seguido de uma gargalhada.
Com o passar do tempo, todos eles tiveram a chance de experimentar. Mas o único efeito imediato provou ser o sono. Eles beberam e comeram dos aperitivos à mesa, fizeram um tour, cantaram músicas de décadas atrás, aleatoriamente, e Alex até teve tempo de tomar banho, voltando depois com os cabelos todos molhados. Mas nada aconteceu. Nenhuma reação.
Nate acabou deitado no sofá, de costas, com as pernas no recosto. Jensen estirou-se na poltrona. Thayer deitou no outro sofá, com a cabeça no colo de Alex. Mia e Lola sentaram no chão, escoradas no sofá menor.
— Já faz duas horas — Nate olhou no relógio. — Será que fizemos direito?
— Não há outra forma de usar doce — Disse Thayer, numa voz de sono.
— Então estava fora da validade — Jensen tapou o rosto com uma mão.
A luz incomodava nos olhos, mas nenhum deles se dispôs a levantar e desliga-las no interruptor.
— Muito bem, Guadalajara — Disse Nate. — Lembre-me de nunca mais confiar o bagulho a você.
— Por que você mesmo não cuidou disso? — Retrucou Thayer.
— Porque ele é um foragido da polícia — Mia respondeu por ele.
— Exatamente. Obrigado, irmã.
— Não me agradeça ainda. Sabemos que isso tudo é culpa sua.
— Ou talvez Gwen tenha um pouco a ver com isso, já que foi ela quem me incriminou por assassinato.
— Bom, Gwen teria escolhido as drogas certas... — Presumiu Alex.
A única contribuição de Jensen, àquela discussão, foi um acesso de tosse incontrolável.
— Ah, ótimo — Alex suspirou. — Agora todos seremos infectados pelo Coronavírus.
— O que é Coronavírus? — Perguntou Lola.
— É a Gwyneth Paltrow em Contágio — Disse Nate.
— Aquele filme com zumbís?
— Não, aquele em que o porco e o morcego fodem.
— Podem calar a boca? — Implorou Jensen, ainda de olhos fechados.
Thayer pegou uma almofada e jogou em sua direção.  
— Cala a boca você.
— Thayer, come on — Nate sentou-se. — Está arruinando a festa.
— Essa festa é uma droga — Riu Lola.
Alex virou com um olhar de julgamento.
— Você acabou de chegar, não reclame.
— Eu não preciso da sua permissão. As mulheres garantiram esse direito há muitas e muitas e muitas e muitas décadas.  
— Agora vai usar a carta do feminismo? — Jensen revidou.
— Contra o patriarcado, sempre.  
— Lola, cale a boca e tome seu Cuba Libre — Aconselhou Nate.
A risada de Mia saiu totalmente sem querer.
— Vocês não acham estranho que todos os homens nesta sala já tenham transado um com o outro? — Ela disse. — Primeiro Thayer tirou a virgindade do Jensen, quando eram adolescentes. Anos depois, tirou a de Nate e Alex; um em Paris, o outro em Nova York. Agora Nate e Jensen, desvirginados por Thayer, possuem uma relação conturbada. E Thayer, o grande disvirginador, está apaixonado por Alex, que é o irmão gêmeo de Nate, de quem ele também tirou a virgindade. Ter um pênis é tão aleatório. Parece uma delegação de utilidade pública.
— Sabe, Mia, — Disse o de olhos verdes. — Para alguém com uma venda no rosto, você vê muita coisa que não existe.
— Uma garota cega também precisa se divertir, não acha?
— Podemos não falar assim? — Advertiu Alex. — O problema de Mia não é uma brincadeira.
— Cala a boca, Alex! — Gritaram os outros dois, ao mesmo tempo.
Assim ele recuou.
— Beleza, resolvam entre vocês.
— Eu só quero saber o que Mia acha de tão engraçado em enumerar minhas transgressões — Nate a encarou.
— Agora eu sou uma transgressão? — Riu Thayer.
Os outros o ignoraram.
— Eu estou cega, Nate — Disse Mia. — Não quer dizer que tive amnésia.
— Bom, se pudesse ver o estado do seu cabelo agora... — Provocou Lola.
A boca de Mia se abriu como uma cratera.  
— Será que podem ter mais de respeito? — Jensen levantou. — Alex tem razão, não devemos brincar com coisa séria.
— Okay — Assentiu Thayer. — Vamos voltar a parte em que tirei sua virgindade. Você diria que meu pau o transformou em um filho da puta?
— Pois é, quem levou os chifres fui eu — Nate ergueu seu copo, como se brindasse a esta declaração.  
Por algum motivo, que não era a racionabilidade, Lola mugiu como um boi e fez o sinal de chifres sobre própria cabeça.
— Vocês sabem que não foi assim — Jensen defendeu-se. — Eu estava muito confuso naquela época, e muitas pessoas também se aproveitaram disso.
— Claro, o Kilgrave o obrigou a foder geral — Disse Mia.
— Quer que eu comece a falar sobre Natasha e os sonhos eróticos?
— Não se atreva! — ela ergueu o indicador.
— Pessoal...? — Chamou Alex. — Ficamos chapados para nos divertir, não para brigar... — Olhou para a mesa. — Aliás, que tipo de reação é essa? Tomamos adrenalina em pílulas?
— Disseram que vem do México — Respondeu Thayer. — É feito em uma banheira.
— Ah, isso explica tudo... — Ele bocejou.
Seus pensamentos impulsionaram uma risada tímida, que impulsionou uma gargalhada, que impulsionou um ataque de risos, que impulsionou todos os outros a rirem juntos, sem ao menos entender. Para todos os efeitos, a noite começou ali.


Eles riram, beberam e contaram histórias. Fizeram uma fogueira no pátio, que apagou com a ventania. Assim tiveram de voltar para a cabana. Alex fez malabarismo. Nate plantou bananeira. Jensen e Thayer disputaram em uma queda de braços. Lola mostrou-os sua estranha técnica para desenhar círculos perfeitos. Mia tocou My Immortal, do Evanescence, no piano da sala. Algumas incorreções aqui e ali. 
Houve um momento, também, em que fizeram um pequeno jogo de adivinhação. Nate e Alex trocaram de roupas e Alex pôs as lentes de contato. Os outros tentavam descobrir quem era quem.
— Você é Alex — Farejou Mia, em sua vez. — Você é Nate — Disse ao outro.
Foi a única a acertar.
— Ah, não! — Refutou Jensen. — Até ela consegue?
— Ela tem o faro — Explicou Lola.
— E a vagina — Completou Alex.
Depois disso eles deitaram nos sofás e conversaram improdutivamente pelas próximas horas.
— Uma vez, no Canadá, — Dizia Alex. — Fiquei com um garoto chamado Mini.
— Mini? — Nate o encarou. — Isso é um nome vegano?
— Eu não sei. Era tipo Minibar, só que sem o bar.
Eles riram.
[...]
— No que está pensando? — Perguntou Thayer a Mia.
— No quão triste é saber que nenhum de nós deixará esta década antes de trintar.
— Essa doeu... — Disse Alex.
— Acha que estaremos casados e com filhos até lá? — Ocorreu a Nate, de repente.
— Eu não, se tudo der certo — Respondeu Jensen.
Lola virou a ele.
— Onde vai estar aos trinta anos?
— Viajando pelo mundo com o dinheiro do meu pai — Disse Jensen.
— Você pode fazer isso agora — Thayer sugeriu.
— Agora não. Tenho primeiro que escrever algumas cartas e dizer sinto muito aos garotos que já machuquei nos Estados Unidos.
— Até lá vai ser um quarentão — Provocara Nate.
Eles todos gritaram, apontaram para Jensen e acertaram-no com as almofadas.
[...]
— Não é estranho que cada um de nós três já esteve em cativeiro, em algum momento da vida? — Nate parou para pensar.
Isso resultou em uma sequência de olhares evasivos e “eu não quero tocar neste assunto” para todo o grupo.
[...]
— Sabe, eu queria ter crescido com vocês — Alex imaginava. — As coisas seriam muito diferentes se nos conhecêssemos desde sempre.
— Uma vez vi um vídeo de um menino tentando acertar uma maçã na cabeça do irmão com um taco de baseball — Mencionou Nate. — Eu super faria isso com você.
— Eu faria com vocês dois — Mia deixou claro.
— Você é muito assustadora às vezes, sabia?
— Ela é uma garota — Disse Alex. — Todas elas são assustadoras.
— Somos — Concordou Lola.
Mia arrotou deselegantemente, eles todos riram.
[...]
— Se a única opção fosse trabalhar com algo que odeiam, no que trabalhariam? — A pergunta veio de Nate.  
— Eu seria cozinheira — Disse Lola.
— Digital Influencer — Disse Thayer.
— Motorista de uber, eca — Disse Alex.
— A única coisa que odeio é serviço doméstico — Disse Jensen.
— Eu acho que trabalharia em um necrotério — Disse Mia.
A revelação deixou Nate um tanto surpreso.
— Isso é o que odiaria fazer?
— Terminantemente — Ela reafirmou. — Imagine estudar seis anos e descobrir que o ponto alto do seu dia é fazer manobras com o bisturi e examinar cadáveres heterossexuais.
— Não podemos recusar cadáveres que nos fazem sentir desconfortáveis?
— Provavelmente não.
— Que nojo.
— Pois é — Os irmãos brindaram.
[...]
— Isso é verde? — Perguntou Thayer, com um frasco de tinta escolar nas mãos.
— Eu não sei... — Mia observava.
— Jogue no meu rosto.
— É sério?
— Seríssimo.
Ela jogou.
Thayer passou as mãos e espalhou pelos olhos e pela boca.
— Posso sentir que é verde... — Disse ele.
— Parabéns, Bruxa Má do Oeste — Nate caçoou.
Alex pegou frasco de tinta vermelha e jogou em seu rosto.
— Se Thayer é a Bruxa Má do Oeste, você é o Hellboy.
— Meu Deus, Alex... — Nate passou as mãos. — Isso me lembra que faz tempo que ninguém goza na minha cara.
— É, pois é... — Todos se comoveram.
A próxima ideia brilhante custaria uns trocados a Nate e Thayer, que decidiram lavar o rosto e as roupas na pia da cozinha. Estava claro que iria desabar. Que os canos estourariam. E que todos correriam ao mesmo tempo para contar os jatos d’água.
— Você pagará por isto, Nate! — Gritou o irmão.
Nate temia ter que comprar uma casa nova ao tal de Henry até o fim daquele mês.


Dominik ligou para ele a caminho de casa, na limusine.
— Por que demorou a entender?
— Eu sei, desculpe. Estava no banho — Disse Ansel. — Como foi a recepção?
— Já terminou a essa hora. Meus pais devem estar na after party.
— Você não foi com eles?
— Não, apenas adultos permitidos — Ele lamentou. — Mas isso quer dizer que terei a mansão só para mim nas próximas horas. Quer vir aqui?
Um breve silêncio.
— Eu adoraria, Dominik, mas meu pai está aqui. Ele não facilita as coisas.
— Achei que estivesse de viagem.
— Chegou hoje de manhã. Com a amante. E o poodle dela.
— Nossa... — Ele quase sorriu. — Okay, então. Teremos outra chance.
— Sim, teremos. Agora tchau, tchau. Preciso ir.  
— Até mais — Desligou.
A limusine passava os portões da mansão.
— Chegamos, senhor — Avisou o motorista.
Dominik deixou o veículo, entrou na mansão, subiu as escadas. Já em seu quarto, tirou a parte de cima do paletó e desatou a gravata. Estava de frente para seu reflexo.  Cabelos loiros, espetados. Olhos azuis. A pele pálida. Lábios vermelhos. Duas marcas de roxidão no peitoral, que apareciam com os botões abertos. Ah, AnselVocê é sempre assim.
Dominik deixou o relógio sobre a cômoda, abriu uma gaveta para tirar roupas limpas. Lá ele encontrou uma de Nate, no aquário do Strauss Capital Hotel. Olhou para ela mais do que gostaria. Tanto faz.
Deixou a foto no lugar, fechou a gaveta, pegou as roupas, sentou em uma poltrona, para tirar os sapatos. Dali ele viu que mexeram em suas malas. Estavam todas embaixo da cama, com parte em vista, e algumas notas de cem estavam espalhadas por perto.
— Não, não, não, não, não — Ele correu.
Não tinha dinheiro, cartões, documentos. Nada. Nenhum vestígio.
A primeira explicação que lhe veio à mente envolvia seus pais. Mas não, eles não fariam algo assim. Não depois de usar metade do dinheiro para salvar a mansão e o que restou as ações da Fellon Industry. Então os empregados, Dominik chegou a pensar. Mas eram todos de confiança – trabalhavam com os Belmont há duas gerações. As filmagens, ele então lembrou. Pegou o notebook debaixo dos lençois e acessou o sistema. Os vídeos das nove às dez, durante a recepção, mostravam Bethany entrando e saindo com uma mochila nas costas. That fucking bitch.
Dominik dirigiu até sua casa.
— Bethany! — Chegou gritando por ela.
Aquele era o momento exato em que ela se preparava para atirar a mochila e o dinheiro na lareira.
— Não, pare! — Ele a empurrou.
Ela caiu sobre os atiçadores de brasa, no acervo ao lado.
Ele conseguiu salvar a maior parte de suas preciosas notas de cem.
— Você ficou maluca? Essa é a minha vida! O meu dinheiro!
— Não, é um dinheiro sujo! — Ela pôs-se em pé outra vez. — Você se vendeu por uma miséria e continua achando que fez um bom negócio.
— Tanto faz — Ele dizia e guardava as notas na mochila. — Pode falar o que quiser. Só não se meta comigo.
— Ou o que?
Ele a encarou.
— Você acha que eu gosto de viver assim? Que me orgulho do que fiz? A resposta vai ser sempre não. Mas não tente me dizer que eu tenho uma escolha, porque Nate se certificou de que eu não tivesse. Eu sou o que ele fez de mim e faço o que preciso para me garantir.
— Então é isso? Você é apenas uma vítima? Alguém que viu, por acaso, no meio do fogo cruzado?
— Eu não sou uma vítima! — Ele gritou. — Será que não entende? Nate destrói tudo o que toca, inclusive a mim. Não podemos deixá-lo sair impune depois de tudo o que fez.
— E você, Dominik, por que acha que pode sair impune?
A resposta ficou no ar.
— Cara, o que houve com você? — Bethany continuou. — Costumava ser tão bondoso, tão gentil... — Um pequeno sorriso. — Agora tudo o que faz é culpar as outras pessoas por erros que são só seus. Eu, Nate, seus pais. Quem vai ser o próximo? O primeiro a se recusar a dar o que você quer?
— Pela última vez, Bethany, entenda que eu só quero a minha vida de volta. Esse dinheiro é minha única chance.  
Ela discordou com a cabeça.  
— Não, Dominik, esse dinheiro é a sua última chance. Você sabe que a partir daqui, não tem mais volta.
— Isso não é mais problema seu — Tentou passar por ela.
— Não, eu ainda não terminei — Ela o interceptou. — Se quer saber, vou contar tudo a polícia sobre Nate, Ansel, seus pais e até sobre Gwenett, que vocês tanto chamam de Rainha de Copas. Aí quero ver ostentar o título de mentiroso do ano em todos os sites e revistas.
— Faça isto. Será a sua palavra contra a minha.
— Além das nossas mensagens.
— Que podem ser forjadas — Suspirou. — Até quando vamos continuar com esse jogo, Beth? Aceite os fatos. Nate tirou tudo da minha família, eu tirei sua liberdade. Gwen me ofereceu dinheiro para contar sua versão da história, fiquei rico outra vez. Ansel pediu para me foder na cama dos meus pais, eu aceitei. Perceba agora a constância em meus atos. Eu sou assim.
— Por fora?
Ele pendurou a mochila em um ombro.
— Essa conversa termina aqui. Tenha uma boa vida, Bethany — Passou por ela.
Três segundos se passaram até Bethany responder.
— Não vá tão cedo. Fique e tome um drink conosco?
— Conosco? — Dominik virou.
O olhar em seus olhos foi de extrema apatia ao completo choque, quando ele viu um grupo de pessoas vindo do salão principal, com as portas de frente para ele. Gregg e Rachel Belmont, seus pais. A Senhora Maeve, mãe de Bethany. Os pais de Luke, Senhor e Senhora Henderson. As mães de Madelaine Harmon, de sua classe. Os vizinhos mais próximos, Senhor e Senhora Levald. Uma moça do Clube do Livro da Senhora Maeve, chamada Stella Bohren.
Dominik ficou sem palavras.
— O que você disse? — Seu pai se aproximou. — O que você disse, Dominik?
— A vadia armou para mim?
— Eu quero que repita o que disse.
— Não.
— Repita.
— Eu não disse nada! — Gritou ele.
O pai acertou-o com a costa de uma mão, deixando uma marca de sangue em seu olho esquerdo – feita pela sua aliança.
— Todos esses anos eu dizia a sua mãe... — Gregg ponderava. — Sempre soube que tinha algo errado com você. Mas isso... isso é demais. Eu não acredito que criei um monstro.
— Gregg, por favor... — Pediu sua esposa.
— Cale-se! — Gritou com ela. — E você vem comigo agora mesmo, vamos à polícia! — Puxou Dominik pelo braço.
— Não, pai. Por favor!
— Agora mesmo!  — Puxou-o também pelas roupas.
Dominik foi arrastado até o hall da mansão, e do hall às escadarias dos jardins, onde, em um movimento súbito, conseguiu dar a volta com os braços e livrar-se totalmente. O pai caiu sobre terra, galhos e arbustos. O garoto correu para fora da propriedade, já sem a sua mochila.
— Ele vai fugir! — Bethany alertou a todos.
Uma trilha de notas de cem mostrava a direção.


Lola buzinou do lado de fora, para que eles se apressassem.
— Se cuida, okay? — Mia o abraçou.
— Você também — Disse Nate. — Logo tudo isso vai acabar.
 É uma promessa?
— É a minha palavra.
Thayer colocou-se entre eles.
— Okay, pessoal. Precisamos ir agora.
— Ligo mais tarde? — Perguntou Nate.
— Sim, mas tome cuidado — Mia respondeu.
Não demorou muito para que partissem com a van, os três. Nate esperou um momento antes de voltar à cabana.
— Acho melhor eu ir também — Disse Jensen, levantando do sofá. — Não quero chegar muito tarde em casa.
— Já são duas da manhã, reparou?
— Tarde para mim seria tipo... às quatro da manhã.
— Qual a diferença entre dirigir às duas e às quatro?
— Quanto mais tarde, ou cedo, se preferir, maior a chance de eu dormir ao volante.
— Ah... — Ele riu. — Eu ia oferecer um dos quartos no andar de cima. É tudo bem limpinho, se quer saber.
— Você não se incomodaria?
Nate recolheu lenços, talheres e garrafas vazias no chão.
— Na verdade, seria bom ter alguém aqui — Jogou-os no lixo. — Você pode me ajudar com a limpeza.
— Achei que Alex ficaria também.
— Pois é, ele já está dormindo. A bebida faz isso com ele.
— Bom, neste caso... tudo bem — Olhou ao redor. — Por onde eu começo?
— Qualquer lugar, literalmente.
— Hmm, okay — Jensen pegou a vassoura e foi para trás dos sofás. — Hã, Nate? — Chamou-o num sussurro. — Eu não lembro de ninguém ter vomitado nas últimas horas.
Nate olhou na mesma direção.  
— Foi a Lola — Disse. — Ela fingiu engasgar com um morango.
— Talvez não tenha fingido... — Jensen passou a vassoura.
O morango ainda estava ali, quase inteiro.
— Tudo bem, eu vou pegar o balde — Nate se dispôs.
Eles varreram, lavaram e secaram todas as áreas do piso. Em seguida limparam os móveis, lavaram os banheiros, trocaram as lâmpadas quebradas, enrolaram os tapetes, higienizaram a lareira, cuidaram da louça suja na pia e separaram o material orgânico para a reciclagem. A última tarefa foi mais um teste de memória que de força braçal. Tinham de reposicionar os móveis.
— Até que enfim — Disse Nate, ao terminarem.  
Jensen deitou ao seu lado no sofá maior.
— Você pode ouvir?
— O que?
— Acho que é Alex, lá em cima. Deve estar assistindo TV.
— Ou dormiu com ela ligada — Supôs Nate. — Não sei como ele consegue.
— Talvez esteja em paz, sabe?
— Em paz? — Nate virou e encarou-o. — Isso foi meio mórbido.
— Não, quer dizer... — Jensen mudou de posição. — Ele sabe que está seguro aqui, e sabe que não vamos a lugar algum sem ele. Às vezes é só do que a gente precisa.
— É, às vezes... — Agora Nate pensava.
Jensen levou algum tempo até mencionar:
— Você cheira a alvejante, sabia?
— Você também — Riu Nate. — Eu até gosto.
— Ah, é? — Jensen chegou mais perto.
— É sim — Nate achegou ainda mais. — Acho melhor que bebida.
— Bom, você também cheira a bebida...
— Igual você... — Beijou-o.
O sabor era tênue e adocicado, como eles lembravam. Mas não mascarava todos os motivos pelos quais não deveriam.
— Não, por favor — Jensen se afastou. — Eu não posso.
— Por que não?
— Porque não é o momento certo — Ele levantou. — Desculpa, é melhor eu ir.
— O que? Jensen...? São quatro da manhã. Não vá por minha causa.
— Não é por você, Nate. É por mim. Eu ainda não estou pronto.
— Tudo bem, me desculpe. Não vai mais acontecer.
— Nós ficamos sozinhos por duas horas e algo já aconteceu.
— Sim, apenas um beijo.
— Apenas? — Ele parou.
Nate estava de pé, em frente a ele.
— Eu não tive notícias suas por quase um ano — Continuou Jensen. — Você não me ligou, não respondeu minhas mensagens, ou sequer me alertou sobre a troca com Alex, para eu não fazer papel de bobo — Franziu a testa. — Como quer que eu me sinta sabendo que você prefere fingir que nada disso aconteceu a resolver as coisas entre nós?
— Eu não estou fingindo — Nate argumentou. — Eu quero estar aqui, com você. Da melhor forma que eu posso.
— Você lembra por que terminamos? Essa codependência nos sufocava. Só vivíamos para nós dois.
— E eu aprendi muito com isto. Você não?
Jensen suspirou.
— Honestamente? Entre fracassar nos estudos e sobreviver a um tiroteio em massa, não parei pra pensar como me sinto a seu respeito. Ou sobre nós dois.
— Mas sente alguma coisa, não é?
— Eu não sei se isso importa agora — Ele virou. — Nate, estou cansado... — Esfregou os olhos. — Você continua indo e vindo. Eu continuo esperando. Nenhum de nós sai do lugar — Virou de volta. — Acho que não posso fazer isso por muito tempo.
— O que quer dizer? — Nate perguntou temendo a resposta.
— Que se ficarmos juntos, nunca estarei no controle do que realmente sinto.
— Você quer se apaixonar e estar no controle ao mesmo tempo? — Quase sorriu. — Não é assim que funciona, Jensen.
— Eu não sei como funciona, só sei que isso aqui, nós dois, não funciona mais. Você percebeu isso primeiro que eu, não foi?
Nate encolheu os ombros.
— Acho que me apeguei a ideia de que nós dois seríamos pra valer — Sussurrou. — Que não importa as decisões tomadas, ou o caminho traçado. Sempre iremos nos reencontrar.
— Não existe algo como o destino, Nate. As coisas são do jeito que são.
Ele assentiu.
— Sinto muito, Jensen. Eu não queria...
— Não, tudo bem. Estamos bem — Ele pegou o casaco.
— Não vai ficar?
— Sim, só vou dar uma volta. Preciso de ar fresco.
— Saiba que pode haver ursos nessa região.
— Não irei muito longe, prometo — Ele fechou as portas.
Nate não se moveu, ou falou, ou praguejou, ou esboçou qualquer reação. O silêncio cortava profundamente. Aí está, idiota, ele pensou de si mesmo. Contente-se com a pouca dignidade que lhe restou e finja que nada aconteceu. Será mais fácil assim.
Alex, por outro lado, estava disposto a comprar a briga. Não que Nate soubesse que ele ouviu tudo atrás da porta, ou que Jensen estivesse preparado para o confronto final.
— Hey, asshole! — Alex o chamou.
— Está falando comigo? — Estranhou Jensen.
Eles pararam embaixo de uma macieira.
— Sim — Falou Alex. — Vim dar uma única chance a você para voltar àquela cabana e consertar o que fez.
— Espere, você estava ouvindo?
— É claro. Tudo o que envolve Nate, envolve a mim também.
Jensen riu.
— Oh, Deus. Diz que é brincadeira.
— Não estou brincando, porra! — Alex o empurrou. — Você se acha assim tão nobre e virtuoso por desistir da pessoa que ama, achando que é o melhor para vocês dois? Não é. Não chega nem perto. Você é um bostinha mimado, inseguro e arrogante que prefere a certeza das próprias derrotas a correr um risco maior do que tem a perder.
— O que? Alex, você está...
— O garoto, ali dentro, de quem abriu mãos, é o mesmo que perdoou todas as suas traições, todos os seus erros, e até arriscou a própria vida por você. Então não me diga que ele está fingindo que nada aconteceu, porque sabemos que não estar com você o mata por dentro. Não me diga que quer usa-lo para se sentir melhor, porque nada vai faze-lo sentir-se melhor sem seu filho e sua liberdade. E não me diga que amar não é correr riscos, porque Nate correu todos os riscos que nenhuma outra pessoa correria quando decidiu dar uma chance a vocês dois. Quem mais faria o mesmo?
Jensen suspirou.
— Alex, não é tão simples. Quando estou com Nate, tudo o que sou é seu namorado. Não sobra uma vida para mim.
— Sua vida não precisa sobrar, Jensen. Você a constrói. Mas não sozinho.
— Tudo bem. Agora, diga-me, o que acontece se eu perde-lo outra vez? Se nossas vidas estiverem tão entrelaçadas, se formos tão dependentes um do outro, que eu não consiga mais seguir em frente?
Aquilo fez Alex sorrir.
— Bem-vindo aos relacionamentos adultos. Nunca sabemos o que vai acontecer, mas não desistimos uns dos outros por medo de perde-los. Tire por Nate... — Avançou um passo. — Quando conheceu Gus, não imaginava o que iria acontecer. Mas nem por isso se arrepende de tê-lo encontrado — Puxou uma folha. — Laços como este são para a vida inteira. Nunca dependem do que é finito e do que não é.
— De pais e filhos, talvez — Disse Jensen. — Agora, de homem para homem...
— Não importa, Jensen. É tudo família. Pais, mães, filhos, irmãos, tios, tias, maridos, esposas, primos, avós. Mesmo que nosso presidente não concorde, é família. Até nossos pets são família.
Eles riram.
— Acho que o entendo melhor sem a agressividade — Jensen reparou.
— Lembrarei disso uma próxima vez — Prometeu Alex.
Um sorriso esclareceu que estavam de acordo.
— Eu o amo, Alex — Jensen admitiu. — Amo-o mais que qualquer outra coisa. Mais do que alguém consideraria insensato e intolerável. Isso me deixa maluco, possesso e subindo pelas paredes.
— Então tome uma atitude. Se é o que quer, se é o que sente de verdade, não tem porque fugir disso. Nate esperou por você tão incansavelmente quanto você esperou por ele. Não acha?
— Eu acho que perdemos tempos demais nisso.
— Pois é, agora tomem vergonha na cara — Alex passou por ele. — Boa noite, Jensen. Você sabe o que fazer agora.
Eu sei? – Pensou Jensen.
Sua indecisão era categórica. Voltar para ele, pega-lo nos braços e beija-lo. Ou deixar uma mensagem, esperar uma resposta e odiar a si mesmo no processo. Ou dirigir até o posto, comprar sua comida favorita e fazer uma oferta de paz. Ou voltar para casa, em Nova York, deitar em sua cama, fechar os olhos e inevitavelmente pensar nele. Porque tudo levava a ele de volta.
Tudo bem, ele decidiu. Em direção à cabana.
Encontrou Nate na sala de estar, com uma pá, um esfregão e uma lata de lixo cheia de cacos de vidro. Uma garrafa deve ter quebrado enquanto ele estava fora.
— Ah, você voltou... — Disse Nate, tentando disfarçar o tom de voz.
Não tinha como não perceber os olhos e o nariz vermelhos; o rosto encharcado de lágrimas.
— Ache que tivesse ido embora — Continuou Nate.
— Eu decidi ficar.
— Ah, okay — Ele assentiu. — Vou preparar o quarto de hóspedes.


— Não — Jensen correu até ele e beijou-o, com tudo de si.
A mesma proporção foi de Nate estranhar e também corresponder.
— Espere, o que está fazendo?
— Estou cansado de esperar... — Jensen rasgou seus botões.
Em um movimento rápido, pegou-o pela cintura e suspendeu-o no recosto do sofá. Não deu muito certo. Eles caíram, aos beijos, sobre as almofadas. Nate arrancou suas roupas com um puxão. Jensen virou-o de costas e abancou por cima.
— Eu senti tanta falta desse pau... — Disse Nate, com as mãos no lugar.
Jensen aproximou-se ao pé do ouvido e sussurrou:
— Então toma.
Longe dali, em Bridgehampton, Nova York, o céu noturno traçava o caminho de Dominik até a Mansão Harleigh, a procura de Ansel. Ligou para seu celular quando chegou à propriedade.
 — Ansel, graças a Deus — Ele clamou. — Preciso da sua ajuda.
— Dominik? São quatro da manhã...
— Não, me escute. Algo aconteceu. Eu não tenho para onde ir.
— O que?
— Meus pais. Eles me expulsaram de casa... — Mentiu Dominik.
A hesitação de Ansel era palpável.


— Okay, mantenha a calma. O que eu posso fazer?
— Eu preciso de um lugar para ficar.
— Com meu pai aqui? Sem chances.
— Ele vai entender se explicarmos...
— Não, Dominik. Ele é um babaca homofóbico. Você estará mais seguro se for até a casa de Bethany e passar a noite lá.
Dominik assentiu.
— Okay, okay, pode me dar uma carona? Estou a pé.
— Você sabe que não posso sair à noite. Meu pai me mataria.
— Ansel, por favor... — Ele chorava.
Ansel respirou fundo.
— Olha, faremos o seguinte. Vá a algum lugar seguro, envie por mensagem sua localização e eu pedirei para Bethany ir busca-lo. O que acha? Alô? Alô?
— Ansel? Está aí?
— Não consigo ouvir...
— Ansel? — A chamada caiu.
De relance Dominik olhou para a janela de seu quarto, e viu com bastante clareza o momento em que Ansel livrava-se de suas roupas e caminhava até outro rapaz, negro, de olhos escuros, com uma filmadora nas mãos. Então não tinha papai homofóbico, nem toque de recolher. As prioridades de Ansel eram outras.
— Fuck... — Correu Dominik.
Seus gritos eram para ninguém ouvir.
— São oitenta e três e cinquenta e um, senhor — Disse a operadora do caixa.
Kerr entregou a ela seu cartão mais modesto.
— Não quer levar também o Golfinho Inx? — Ela ofereceu. — Ele e o Tubarão Jaguar são melhores amigos.
— É, tudo bem — Ele concordou.
— Neste caso, são noventa e cinco e vinte três.
— Faça sua mágica.
Ela fez com um sorriso no rosto.
— Obrigada, senhor — Entregou-o as sacolas.
Kerr caminhou da lojinha do hospital ao andar de Amber, quase sem interrupções. Lá ele encontrou os pais e os Doutores Elam e Breslin. Algo estava errado. Sua mãe chorava inconsolavelmente nos braços da Doutora. Seu pai encarava o chão, com o olhar vazio.
— Onde ela está? — Kerr antecipou-se.
— Senhor Foster, — Disse o Doutor Elam. — Receio não ter boas notícias.
— Onde ela está? — Reiterou Kerr, em tom mais severo.


O Doutor pediu que o acompanhasse. 
Levou-o a um quarto de UTI, onde jazia Amber, na cama, com um tubo endotraqueal. Cercada de aparelhos de terapia intensiva.
— O que aconteceu? — Kerr tocou a vidraça.
— Seu estado se agravou e tivemos que opera-la às pressas, mas houve uma complicação — Explicou o Doutor Elam. — É possível que um coágulo tenha se formado durante a cirurgia, o que comprometeu o fluxo sanguíneo em algumas áreas do cérebro. Quando isso acontece, chamamos de...
— Acidente vascular cerebral — Completou Kerr.
Não, Amber. Não faça isso comigo.
— Ela vai ficar bem? — Indagou ao Doutor.
A resposta estava também em seu olhar.
— Eu sinto muito, Senhor Foster. O cérebro de Amber ficou sem oxigênio por mais de dez minutos e não pudemos detectar nenhuma atividade cerebral após traze-la de volta.
Oh. Okay.
— Eu entendo... — Sussurrou Kerr.
Ele entrou no quarto, sentou-se ao lado dela. O toque gelado de suas mãos, dessa única vez, não lhe veio à conforte.
Ela se foi.

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   6x23: Young Hurt (10 de Setembro)
    Contagem regressiva para o grande final: 2 semanas. 
   Lembrando que haverá um especial no ultimo capítulo, no qual contarei algumas curiosidades sobre o processo de escrita e o que inspirou os personagens de The Double Me. Se você sempre quis saber por onde andam o Jensen, a Gwen e o Nate da vida real, chegou a hora de expor alguns fatos e fazer alguns cancelamentos.

É, Dominik. Quem com chifre fere, com chifre será ferido.
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