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Livro | The Double Me - 6x13: Who's the Dirty Twin? [+18]

   6x13: Who's the Dirty Twin?
“Um Ave Maria para o buraco no meu coração".

Ela acordou desorientada, no sofá da sala.
— Você teve um pesadelo? — Perguntou Andy.
Não que achasse normal ele entrar em seu apartamento sem permissão, ela não estranhou encontra-lo ali, na poltrona, tomando de uma xícara de café.  
— Não lembro bem... — Disse a ele.
— Sabia que o filme A Hora do Pesadelo, de Wes Craven, é baseado na história real de alguns refugiados do Camboja que alegaram ter pesadelos muito assustadores e chegaram a morrer durante o sono?
— Sério? — Ela levantou. — Que conversa maluca... — E foi em direção à mesa da cozinha. Havia de croissant, waffles, ovos mexidos, panquecas com mel, pães artesanais, bolos de nozes e damasco, biscoitos, café, chá e leite integral. — Você fez tudo isto?
Ele repousou a xícara na bancada à direita.  
— Se chama buffet delivery. Posso pagar por mais quinhentos mil destes.
— Bom... — Ela torceu o beiço. — Este é um nível totalmente novo de mata-ressaca.
— Eu sei, tente não vomitar — Ele levantou. — Estou atrasadíssimo para uma reunião na DAINAN.
— Tão cedo?
— Viola, são onze da manhã.
Ela olhou no relógio de parede.
— Ainda parece cedo.
— Para quem tem uma vida noturna — Beijou-a no rosto. — Nos vemos mais tarde.
— Espere. Não vai me acompanhar?
— É que já comi no caminho... — Ele pensou. — Porém, não sou de dizer não às calorias.  Sente-se — Assim ele também.
A certa distância, ele notou duas coisas. A primeira, que Viola parecia tão cansada quanto alguém que aproveitou seu final de semana. E a segunda, que provavelmente estava acompanhada, pois seu vestido fedia a álcool e cigarros e ela nunca dirigiria sozinha para casa nesse estado.
— Então, a noite passada foi divertida? — Ele insinuou.
— Cantei em um clube, nada de mais.
— Liam estava lá?
— Ele disse que tinha uma reunião.
— Muito conveniente... — Andy insinuou.
Viola pensara o mesmo ao receber sua mensagem. Uma reunião de última hora na Rhae Corp. Às onze e meia da noite. Emojis de carinhas tristes no final do texto. Muito conveniente.
— Eles vão se mudar, sabia? — Viola mencionou.
— Depois do casamento?
— Depois da lua de mel... — Ela comia e dizia. — Liam vai assumir a filial da Rhae Corp em Roma assim que voltarem de viagem.
— Ele não perde tempo, não é? — Andy mergulhou o pão no molho de iogurte e mostarda. — A vida de homens héteros sempre gira em torno de grandes fortunas e uma vagina poligâmica extremamente acessível.
— Fatalmente acessível — Ela corrigiu.
Uma porção de creme caiu sobre a alça esquerda do vestido dela; Andy entregou-a um guardanapo.
— Agora recomponha-se — Disse ele. — A vida continua sem Liam e sem threesome.
— Esse não é o problema — Ela lamentava. — Eu não sei mais se quero que ele fique. Não sei se isso faz alguma diferença agora. Às vezes é como se...
— ...Sua vida fosse melhor sem todo esse drama — Andy completou.
O olhar dela reafirmava suas palavras.
— Acha que vou me arrepender se deixa-lo ir? — Perguntou-o.
— Você se arrepende de algo envolvendo Liam e Cassidy?
— Não... mas sei que deveria. Não sou a mesma pessoa desde que os conheci.
— E o que tem feito a respeito, além de se desculpar? — Ele levantou. — Pense nisso. Agora eu preciso ir.
— Precisa mesmo? — Ela não o olhou nos olhos.
Andy teve a impressão de que insistia para que ele ficasse.
— Tenho uma reunião — Justificou. — Posso passar aqui mais tarde? Trago meus videogames e algumas garrafas de vodka.  
— Seria ótimo. Obrigada, Andy.
— Tudo pela minha drag preferida — Beijou-a no rosto.
Assim que ele saiu, Viola levou dois dedos àquele lado da bochecha, como um gesto involuntário. O perfume dele estava por toda parte.


Eles passaram a se encontrar todas as manhãs no dormitório de Jensen e todas as tardes na mansão da Alpha Gamma, a fraternidade de Trent. Uma partida de videogame decidia quem seria o ativo e quem seria o passivo quando não chegavam a um acordo. E quando chegavam, imitar as posições que viam nos filmes pornográficos, na internet, passou a ser um desafio.
Era tudo sobre sexo.
— Vou tomar um banho — Disse Trent, em seus braços. — Me acompanha?
— Em dois minutos. Preciso fumar.
— Guarde um pouco para mim— Beijou-o.
— Não prometo nada... — Ele sorriu ao dizer.
O caminho todo de Trent até o banheiro, Jensen não lhe tirou os olhos. Uma bundinha lisinha e apertadinha. Eu devo ser mesmo muito gay.
Jensen esticou-se na cama, pegou o baseado na escrivaninha e acendeu num clique do isqueiro. Seu celular começara a tocar.
Hey, what’s up? — Cumprimentou o irmão.
— Essa é a sua voz de pós-sexo, não é?
— Talvez. Eu estava no meio de um lance.
— Você sempre está — Ele afirmou. — Pode falar agora? Este assunto merece sua atenção.
— É muito importante?
— Em outras circunstâncias, eu não atrapalharia seu lance.
— Hey, pode pegar algo para comer? — Gritou Trent, do banheiro.
Jensen perdeu o foco por um segundo.
— Estou indo! — Gritou de volta. — Espere um pouco... — Pediu a Jake.
Ele vestiu roupas leves e saiu para o corredor.
— Do que se trata? — Perguntou ao irmão.
— É sobre nossa mãe. Há algo que precisa saber.
— Más notícias?
— Eu não sei. Olhe, vou enviar os arquivos...
Jensen esperou.
As fotos recebidas mostravam uma conversa íntima entre sua mãe e um homem identificado somente como VL.
— Onde conseguiu isto? — Questionou Jensen.
— Kerr hackeou o celular dela a meu pedido.
— Por quê?
— Porque a flagrei duas noites atrás, ao telefone, na suíte da mansão. Tenho certeza de ter ouvido o seu nome.
— O meu nome?
Agora tudo fazia ainda menos sentido.
— Se ela trai nosso pai... — Jensen continuou. —  Por que falaria de mim ao seu amante?
— Não, você não entendeu. Ela não tem um amante. VL é de Van Leigh. Kerr me ajudou a checar os números e a recepção de sinal. Por algum motivo, ela e o presidente da Delta Beta Psi têm trocado informações desde sua chegada à universidade.
— Isso é loucura. Laurel e Austin não têm nada a ver.
— Não diretamente, mas descobrimos que Laurel e Desmond Van Leigh, o pai de Austin, tiveram um romance na faculdade antes de nossos pais se conhecerem. Os registros comprovam que mantiveram contato por todos esses anos através de cartas e ligações.
Jensen assentiu.
— Meu lugar na fraternidade não foi herdado? — Pensou nisto.
— De acordo aos textos, o sistema de herdade entrou em prescrição no ano de dois mil e cinco. Seu lugar na Delta Beta Psi nunca poderia ser seu por direito sem haver uma seleção.
Jensen suspirou.
Malditos filhos da puta. Era tudo uma armação.
— Pode me enviar estes arquivos?
— Preciso digitaliza-los primeiro. Enquanto isso, tome cuidado. Agora o mais importante é pensar em uma estratégia.
— Eu sei. Você fez bem em me contar.
Do outro lado da porta, Jensen não ouvia mais o chuveiro. Trent sairia a sua procura a qualquer momento. 
— Contei porque confio em você — Disse Jake. — E sinto muito por não ter ficado ao seu lado nas outras vezes. Eu realmente achei que as coisas mudariam se ela voltasse à nossas vidas.
— Laurel é um parasita, isso nunca vai mudar.
— Acha que estão nessa pelo dinheiro?
— É sempre pelo dinheiro — Veio-lhe à mente.  
Trent chamou seu nome mais uma vez.
— Preciso ir agora — Sussurrou Jensen. — Envie os arquivos ainda hoje.
— Eu prometo. Nos falamos mais tarde.
— Nos falamos — Desligou.
Lá dentro encontrou Trent já vestido, na cama. Seus cabelos encharcados.
— E a comida? — Levantou os olhos de seu celular.
— Sinto muito, meu irmão me ligou. Vou agora à lanchonete.
— Quer que eu vá junto?
— Não precisa, eu volto logo — Deu-lhe às costas.
— Você nem ouviu meu pedido...
Jensen virou.
— São onze e meia da manhã. Você vai comer salada vegana de grão de bico com brócolis, quesadillas de batata e um pacote de biscoitos de mirtilo, acompanhado de suco natural de frutas vermelhas. Estou errado?
O sorriso nos lábios de Trent acompanhou o seu.
So, you really have the dick and the brains? É bom saber.
Aww, nunca me disseram isso antes... — Ele fez biquinho; era uma clara ironia.
— Ta bom, pode ir.
— Volto em menos de quinze minutos.
— Tudo bem.
— Tudo bem.
Seriam dez para ir e voltar da lanchonete e os outros cinco para ordenar os preparativos da próxima festa na mansão McPhee. Sua mãe merecia, afinal.


Alex saiu a procura de alguns materiais para auxiliar na reforma da lareira e do balcão da cozinha. De acordo a lista de Henry, precisavam de pregos, trinchas, pinceis, polidores, verniz, duas latas de tinta e alças de inox para as gavetas e para as portas dos armários superiores. Era difícil encontrar tudo na mesma loja e pelo preço estipulado por Henry.
Já no supermercado, durante a procura, seu carrinho bateu em um outro. Ele reconheceu a mesma mulher de cabelos negros e olhos azuis com quem falara dias atrás.
— Oh, olá — Ela sorriu. — Que coincidência.
— Kristen, não é?
— Isso mesmo. E você é... Alex?
— Isso mesmo — Ele sorriu. — Sinto muito pela batida, eu estava meio distraído.
— Não, tudo bem, eu andava apressada. Tenho exatos vinte minutos para chegar ao consultório.
— Ele fica aqui perto?
— No centro da cidade, à cinco quilômetros — Ajeitou a alça da bolsa.
Alex não deixara de notar que ela não veio acompanhada.
— Onde estão os pequenos? — Perguntou.
— Na aula de balé. Só assim tive tempo para fazer compras.
— Eles gostam de dançar? — Andou com o carrinho; ela ao seu lado.
— Eles adoram, principalmente Kevin. Ele convenceu Katie a fazerem aulas juntos.
— Meu irmão também sabe ser muito convincente — Lembrava bem. 
Eles estavam prestes a dobrar o corredor.
— No outro dia, esqueci de mencionar... — Disse ela. — Eu e alguns amigos fazemos uma noite de jogos todos os sábados em minha casa. Se você e Henry quiserem fazer algo diferente, serão nossos convidados.
— É um programa para casais?
— Não, nosso grupo é bem diverso. Olhe... — Entregou-o. — Este é meu número. Me ligue a qualquer hora, podemos combinar.
— Perfeito. Obrigado pelo convite.
— Não há de que. Esperarei sua ligação. — Ela passou por ele e acenou.
Ele acenou de volta um pouco tarde.
Mais dez minutos nos corredores, ele encontrou os itens em falta. Mais cinco minutos no caixa, ele saiu e levou as compras à traseira da caminhonete. Tudo parecia normal, até notar o mesmo SUV Lexus RW 350, na cor vermelha, de semanas atrás, ranger o motor em sua direção.
— Algum problema? — Chegou a perguntar.
Quem quer que estivesse lá dentro, não respondeu.
Alex então virou às costas e posicionou a chave do lado de fora da caminhonete. Mas antes de fazer qualquer outra coisa, o carro vermelho arrancou em sua direção, obrigando-o a pular no último segundo para não ser atingido. Todas as janelas quebraram de uma única vez e estrondosamente. A força do impacto fez ceder a lataria.
De dentro do SUV, Gwen saiu de jeans, jaqueta de couro negro e os cabelos amarrados em um rabo de cavalo. Alex parecia assustado demais para reagir. Estava no chão, entre os cacos de vidro. Ela o pegou pelo colarinho da camisa. Olhou profundamente em seus olhos azuis.
— Você é Alex — Afirmou.
— Não, eu... — Ele tentava dizer.
Ela interrompeu suas palavras gritando o mais alto de sua fúria. Ninguém entendeu, muito menos ele. A multidão concentrava-se em frente aos portões automáticos do supermercado para observar.
— Gwen, espere! Por favor! — Ele gritava, sem poder impedir que voltasse ao carro.
Olhou os destroços da caminhonete, seguido ao público, seguido ao carro de Gwen, cada vez mais distante.  
Nate precisava saber de alguma forma.


— Comece quando quiser, Mia — Disse o Detetive Lange.
Ela apertou a mão de Thayer sobre os lençois. Fez-se silêncio absoluto.


Eu acordei em uma cela, uma espécie de banheiro coletivo – ela dizia.
Um esquadrão policial invadiu o cativeiro durante seu depoimento.
Fui presa a correntes nas paredes.
Os policias as encontraram.
Durante o dia, fazia apenas duas refeições.
Os pratos e a comida estragada ainda estavam lá.
Noah usava isto contra mim, para que eu finalmente aceitasse o acordo.
“Que acordo?” – Perguntou o detetive.
“O mesmo proposto à Ivy, minha mãe biológica” – ela respondeu.
Os policiais renderam alguns trabalhadores da fábrica.
No início da gravidez, minha mãe descobriu sobre os negócios ilegais de meu pai e também se tornou uma das vítimas em cativeiro. Ele a obrigou a aceitar uma espécie de acordo por sua liberdade. Pagaria sua viagem aos Estados Unidos e nunca mais procuraria a ela e os filhos, contanto não o denunciasse às autoridades. Minha mãe não teve outra escolha, precisava nos salvar.
Um dos policiais alertou a outros dois sobre uma jovem moça encontrada viva.
“Você estava sozinha?” – O detetive anotava em seu livrete.
“Não” – Mia relatou.
Outra garota, chamada Hannah, de quatorze anos, estava na cela ao lado. Ela era abusada... constantemente. Ele queria que eu ouvisse.
A jovem moça fora levada no colo por um dos policiais.
“Fale-me sobre o cativeiro” – Pediu o detetive.
Parecia um complexo industrial abandonado, com madeira pregada em todas as portas e janelas e vários pontos de infiltração. Eu também não vi muita coisa, a não ser... a não ser pelo quarto de bonecas.
“O quarto de bonecas?”
Os policiais invadiram-no e renderam os dois homens de colete.
Eles nos levavam encapuzadas a este outro cômodo, repleto de bonecas de porcelana e fantasias de personagens de desenhos animados. Lá eles nos maquiavam e nos vestiam iguais a elas.
A polícia chegou ao estúdio de revelação através de uma parede falsa. Centenas de fotos foram apreendidas.
“Ao recobrar a consciência, você mencionou uma estação de trens. É próximo ao cativeiro?”
“Sim, ao norte. Foi onde Hannah e eu nos separamos”.
“O que houve com ela?”
Um policial disparou o revólver em direção a um dos fugitivos.
Eu disse para correr e ela pulou em direção aos trilhos. Não sei se conseguiu escapar...– Suspirou. – Espero que tenha conseguido.
A jovem moça nos braços dos policiais via a luz do sol pela primeira vez em meses.
— Tudo bem, isso é tudo — Levantou o detetive. — Descanse, senhorita Strauss. Vai ficar tudo bem.
— Obrigada — Ela fungou.
Enquanto ele atendia uma ligação no lado de fora do quarto, Thayer se aproximou e sentou ao lado dela na cama.
— Liguei para Lydia mais cedo — Disse ele. — Parece que a situação no aeroporto ainda não foi normalizada. Todos os voos estão suspensos.   
— Então ficaremos aqui até nova ordem?
— Provavelmente. Mas já fizemos a solicitação através da embaixada americana, então, é só esperar. Agora, sobre os riscos de viagem...
— Eu sei dos riscos — Contristou ela.  
Thayer achou melhor não insistir.
— Também liguei para Nate e Judit — Disse. — Eles não me atenderam.
— Você tentou a mansão?
— Sim. Uma empregada informou sobre a viagem de Judit à África do Sul, para fazer trabalho voluntário. Alex... ou melhor, Nate, não aparece em casa há semanas.
— Ele ainda usa as lentes de contato?
— Para ele deve ser a única maneira — Deu de ombros, como se nada pudesse fazer.
Foi quando ouviram outra vez o Detetive.
— Com licença, Senhorita Strauss? — Ele se aproximou. — Acabaram de me informar que localizaram o cativeiro e a jovem chamada Lola Cunningham foi encontrada ainda com vida. Ela está a caminho deste hospital.
— Lola? — Mia quase gritou.
Ela esteve ali o tempo inteiro?
Não, não é possível. Noah não teria... bom, ele teria. Era totalmente capaz.
— Leve-me até lá — Ela pôs uma perna para fora da cama.
— Mia, por favor — Thayer a conteve. — Não é recomendado deixar o quarto. O Detetive Lange pode nos atualizar sobre seu estado de saúde.
— Ele tem razão — Corroborou o Detetive. — Ela precisa primeiro passar por uma avaliação médica.
Neste caso, tudo bem.
— Avise-me assim que ela chegar — Pediu Mia.
— Como quiser, Senhorita — O Detetive se retirou.
Thayer também não levou muito tempo, pois precisava assinar uns papeis na recepção. O celular e os fones de ouvido ficaram com Mia, mesmo após ela adormecer.
— Assine aqui, aqui e aqui — Instruiu a atendente.
Estava pronto em um minuto.
— Obrigada, Senhor — Ela se retirou.
Thayer inclinou a cabeça no balcão, entre os braços, e de olhos fechados. Suas opções mostravam-se bem limitadas. Se voltasse ao quarto, acordaria Mia. Se fosse lá fora, pegaria chuva. Se fosse ao refeitório, encontraria uma fila enorme para a hora do almoço. A fome era um problema. O sono mais ainda. Fazia mais de vinte e quatro horas desde que dormiu – se é que realmente dormiu.
Vozes e passos ecoavam ao seu redor, sem nenhuma distinção. O cheiro característico de éter hospitalar e produtos de limpeza quase passou despercebido. Ele pensava demais. Em tudo. Queria muito que Alex soubesse sobre Mia e estivesse ali. Era de mim que ele estava fugindo, não de seus irmãos. Ele e Nate deveriam estar ao seu lado.
Quando ergueu a cabeça, virando ao corredor, achou ter visto um homem muito parecido ao retrato falado de Noah. Era caucasiano, de cabelos grisalhos. Até um metro e noventa de altura. Usava o uniforme hospitalar de cirurgiões atendentes e botas de couro negro, além de levar nas mãos uma prancheta totalmente vazia.
Thayer tentou segui-lo através dos corredores, não deu em nada. O homem simplesmente desapareceu na multidão. Ninguém pareceu tê-lo notado.
Pode não ser ele, pensou.
De qualquer forma, seria bom não deixar Mia sozinha.


Wren Harold morava em um loft industrial na região de Williamsburg, no Brooklyn. Mais cedo Nate conseguiu as chaves com o proprietário e dirigiu até lá.
A decoração sobrepujava ao estilo rústico, um tanto rico-extravagante. Um tom de cinza chapiscado nas paredes, assim como o piso. O balcão da cozinha feito em mármore. Dois sofás reclináveis. Blackout nas janelas. Ventiladores de teto. Lustres de cobre. Um estúdio improvisado na sala de estar, onde cercavam as câmeras, holofotes e tripés.
Nate esperou-o pacientemente. Até o abrir dos portões de ferro.
— Strauss? — Wren estranhou.
Tinha uma clara visão de Nate em sua cama, usando apenas um jeans negro e camiseta de botões abertos. No criado-mudo ele notou uma garrafa de champanhe Krug Rosé Francês. Aos pés de Nate, sobre os lençóis, viu uma coleção de apetrechos sexuais que iam do sadomasoquismo à nua e crua tortura.
— Estava a sua espera — Saudou Nate.
— Como entrou aqui?
— Sempre as mesmas perguntas... — Tinha a champanhe em mãos. — Como entrou aqui? Por que devo confiar em você? Em que buraco quer meter primeiro? [...] — Serviu uma taça. — Você não está cansado de todo esse falatório-sexual-preliminar?
O homem desceu as pequenas escadas de entrada.
— Sexual? — Sorriu a ele.
— A menos que não queira misturar negócios e prazer... — Nate deixou a taça sobre o criado-mudo. — Se bem que... — Tirou a camiseta. — Não é má ideia fazermos um ensaio fotográfico... — Jogou-a aos pés da cama.
Wren tomou-a em suas mãos.
— Quer brincar, não é?
— Do meu jeito... — Nate caminhou até ele. — Eu faço as regras... — Beijou-o no pescoço e apalpou-o nas calças. — Você diria a alguém?
— Não... — Wren sussurrou.
O sorriso em seu rosto estava de acordo.


Nate pegou-o pela camiseta, jogou-o sobre a cama. Cada beijo ardia por dentro e por fora; este era plano. Primeiro, deixa-lo tão excitado que não fosse se negar a aumentar o nível de jogo para o mais difícil. Então, certificar-se de que não iria a lugar algum, mesmo a implorar. Para isso serviam as algemas que pegou aos pés da cama.
— O que é isto? — Perguntou Wren.
— Eu disse que faço as regras — Algemou o primeiro braço. — Você não é mais dono de si, eu sou — Algemou o segundo.
Agora não tinha escapatória.
— É isso aí! — Wren o deslizava as mãos. — Quem é o gêmeo safado?
— Oh, este seria eu... — Trateou Nate.
As coisas ficaram meio intensas depois que ele tirou um maçarico de baixo do travesseiro e acendeu as chamas diante de seus olhos.
— Que porra é essa? — O homem gritou.
— Todas as vezes em que tentei ser bom, as pessoas me reduziram a pouca bosta — Nate posicionou uma mão. — Então este sou eu, retribuindo o favor, com as mãos em volta do seu pescoço. Verdade ou desafio, babaca? — Aproximou as chamas.
Wren implorava:
— Não Alex, por favor!
— Por que não? Não é você quem assedia seus modelos? Não é você quem seduz criancinhas de treze anos e as levas para o seu estúdio?
— Não, eu fui inocentado!
— Cale a boca! — Nate o estapeou.
Uma marca vermelha fez-se aparente em seu rosto.
— Vou contar um segredo a você... — Nate se aproximou para sussurrar-lhe. — Eu tenho a senha do seu computador — Puxou-o pelos cabelos. — Sei onde guarda suas fotos e vídeos troféus... — Puxou mais forte. — Que tipo de ser asqueroso é capaz de manter um registro da sua perversão?
— Eu não fiz isso, não sou um monstro!
— Você aparece nas fotos — Pegou na escrivaninha. — Olhe! — Aproximou dele. — Não é para isto que serve sua coleção? Pra dar uma olhadinha e tirar um lazer? — Jogou-as contra.
Wren virou o rosto, seus olhos cheios de lágrimas.
— Pare, por favor...
— Você é doente, Wren — Nate fingiu acaricia-lo. — É o que há de mais pútrido e repugnante nesta pátria miserável. Se não na cadeia, pessoas do seu tipo serão melhores à sete palmos.
Wren virou para encara-lo, cuspiu em seus olhos.  
Nate usou a costa da mão para limpar.
— Isso é veneno...
— Solte-me! — Wren esbravejou. — Não pode me prender aqui!
— Ainda não... — Nate saiu de cima dele. — Primeiro eu tenho uma surpresa...
A melhor de todas.
De baixo da cama Nate tirou uma maleta de couro negro, a qual pusera ao lado dele, sobre os lençois. Dentro dela havia um kit completo de tatuagem que incluía máquinas, agulhas, biqueiras, anestésicos, bobinas, pedais, luvas, recipientes batoque, borrachas para o batedor e máscaras cirúrgicas.
Toda a preparação foi feita diante dos olhos de Wren.
— Não, por favor! — Ele implorava.
— Tente relaxar — Nate o montou outra vez.
De tão difícil que ele tornara, gritando e se debatendo, Nate precisou usar o maçarico e queimar uma de suas sobrancelhas. A partir daí, não houve relutância. Nate o tatuava no rosto e Wren chorava baixinho, sem mover um músculo.
— Sabe, Wren, — Dizia Nate. — Eu costumo tirar muito prazer de minhas vinganças, pois é doce na medida certa e amarga até onde eu possa suportar. Mas temo que agora, dessa única vez, não seja sobre mim, mas sobre fazer justiça. Depois que eu terminar com você, não machucará nenhum outro inocente. E se tentar, bom... há quilômetros de pele em seu corpo para registrar a infâmia de seus pecados. Não se mexa... — Estava quase pronto. — Sabe o garoto de quem abusou? Mês passado ele tentou suicídio, um dia após fazer quatorze anos. Esta é uma das vidas que você destruiu para sempre — Hesitou. — Agora, diga-me, quem pode me culpar por ser tão cruel em meus métodos punitivos?  Se a justiça é falha, todos nós nos tornamos responsáveis por corrigir suas omissões. Olho por olho. Dente por dente.
— Você é louco... — Wren soluçou as palavras.
— É claro que eu sou. Esta é a parte divertida — Um ar de risos. — Está pronto. Quer ver? — Pegou o espelho na penteadeira.
Estuprador, estuprador e estuprador, por todo o seu rosto, em letras de forma.
Os gritos de Wren podiam ter acordado a vizinhança.
— Eu vou te matar, seu filho da puta! Seu maldito desgraçado!
— Que escândalo... — Nate caminhou até o closet.
Tinha separado previamente algumas peças de roupas para vestir quando terminasse. Bom, estava terminado. Vestiu as calças, a camiseta e o casaco negro. Calçou o par de sapatos. Arrumou os fios loiros no espelho da penteadeira.
— Você não pode me deixar aqui! — Gritava Wren.
Mas o silêncio de Nate gritava mais alto.
Fora da cama ao closet, do closet ao espelho, do espelho à entrada do loft.
— Você tem quinze minutos até a polícia chegar — Nate o informou. — Allahu akbar, bitch! — E correu os portões de ferro.
A noite lá fora estava mesmo encantadora. Um mar de estrelas que corria os céus. A luz minguante resguardada às nuvens.
Nate tirou um maço do bolso traseiro, acendeu um cigarro e tragou uma vez. Chamou-lhe atenção uma matéria sobre ele e Dominik na tv portátil, em um carrinho de vendas. Não podia ouvir muita coisa àquela distância, mas as imagens o entretiveram da mesma forma.
Então, quem é o próximo?

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   6x14: Won't Hurt You, But I Might Hurt Someone (9 de Julho)
    É isso o que você ganha por foder Nathaniel Strauss. E no próximo capítulo, mais três pessoas da lista aprenderão a mesma lição. Vamos torcer pelo Nate e seu precioso maçarico, né? <3 

Wren: Quem é o gêmeo safado?
Nate: Allahu akbar, bitch!
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