Especial

Foto:

Livro | The Double Me - 6x15: I'm the Bad Guy, Duh [+18]

   6x15: I'm the Bad Guy, Duh
“Tudo bem ser mal".

Na manhã de sexta-feira, a juíza Andrea Housenn e seu ex marido, o promotor Devin Asheton, compareceram à uma audiência de custódia pela guarda dos filhos na Family Court Division. Nate esteve lá para ouvir as acusações. Depredação de patrimônio privado, no que sucedeu a confissão de dois dos responsáveis pelo vandalismo na residência de Olivia Blythe, a atual esposa de seu ex marido, apontando a juíza como a mandante do crime. Conduta de veículo automotor sob a influência de substâncias ilegais e com agravante acidental, como os testes toxicológicos atestaram e as câmeras de vigilância não podiam provar o contrário  
Diante disso, o juiz Kaplan concedeu guarda total ao ex marido e revogou seu direito a visitações pelo período de cento e oitenta dias. A decisão poderia ser reavaliada posteriormente, no tribunal, contato a ré comparecesse à reuniões do AA pelas próximas vinte e seis semanas, assinasse um termo de compromisso e realizasse semanalmente os testes requeridos. 
— É tudo culpa sua! — Gritou ela, correndo para cima de Nate.
Dois guardas interceptaram seu caminho.
— Prendam-no! — Ela gritava e se debatia. — Ele é o culpado! Ele armou para mim!
— Senhora Housenn, por favor... — Pediu o Juiz.
Nate assistiu à toda a cena de olhar penoso – o mais fiel a sua interpretação. Nem mesmo cedeu a um sorrisinho quando o Juiz Kaplan ordenou que a levassem à uma das celas por desacato a autoridade.
Obrigado, meritíssima. Pela recompensa final.


Na hora do almoço, Nate e Kerr encontraram-se na Strauss International. Vários homens seminus perambulavam o escritório de Nate e distraiam-se com jogos de cartas, tabuleiros de xadrez e as bebidas na adega de vinhos. 
— No gay for pay tonight, boys — Disse Nate. — Vão para casa e durmam um pouco. Você também — Jogou uma jockstrap no rosto de um rapaz.
Havia uma variedade delas, e além de artefatos eróticos espalhados pelo recinto.
— Você organizou uma orgia? — Perguntou Kerr, enquanto eles se retiravam.
— É claro — Nate serviu-se de uma dose de uísque. — Eu tenho uma vocação.
— Que envolve garotos de programa?
— Nem sempre — Admitiu Nate. — Dessa vez eu só estava entediado. Os garotos que não impõem condições são muito fáceis de conseguir e não representam a mesma ameaça extorsiva que os verdadeiros profissionais — Virou a ele. — Aceita um drink?
Kerr o olhou de desgosto.
 — Eu não tocaria em nada nesta sala — Disse. — Mas entendo o que quer dizer. Pequenas conquistas não satisfazem quem já conseguiu convencer um desconhecido a transar na casa dos pais da namorada, contra todas as possibilidades.
— Bom, neste caso eram negócios, não prazer.
— Seja o que for, por que não deixamos esta conversa para a hora do almoço? Estou morrendo de fome.
— Dê-me quinze minutos — Pediu Nate. — Preciso resolver algo antes... — Dos pés da mesa, pegou duas caixas de papelão e colocou-as sobre.
Os olhos de Kerr se atentaram.
— Estes são os arquivos da Cahill & Jones?
— Não todos — Nate folheava. — Já me desfiz de grande parte.
— Eu achei que seriam divulgados na imprensa.
— No momento certo — Afirmou.
Kerr não parecia muito convencido.
— Não vai me dizer o que planeja?
— Este é um termo muito abrangente. Diga o que quer saber.
— Se encontrou algo a mais nestes arquivos. Algo que eu mesmo deixei passar.
— Além de informações privilegiadas? Nada — Bebeu um gole. — Em breve todas elas serão de domínio público.
— E?
Nate o encarou.
— E...  o Nate mimado, egoísta e teatral finalmente vai sair para brincar. Está satisfeito?
— Não, espere... — Kerr deu um passo à frente. — Isso não era sobre arruinar a reputação de Diana e tirar sua licença para advogar?
— Não apenas isto, mas fazer a justiça dos homens — Ironizou Nate. — Se você fosse um membro do sindicato dos trabalhadores rurais e chegasse a descobrir que o advogado e a firma que o representam legalmente possuem um acordo extraoficial com a empreiteira que quer tomar suas terras, não lutaria pelo que é seu por direito?
Sorriu Kerr.
— Você não fez isso.
— Eu fiz mais — Nate pegou uma folha e escorou-se à mesa, sentado. — O protesto que financiei contra a Cahill & Jones deve estar acontecendo agora mesmo, em Woodstock. Diana está a caminho.
— Uau — Ele sorria. — Você a odeia tanto assim pelo que fez?
Nate virou à mesa, tomou em mãos outra folha de papel.
— Meu ódio não pode ser contido... — Usou um isqueiro para acender. — Mas pode ser investido... — Observou. — Qualquer coisa pode — Soprou para apagar as chamas.
Em Woodstock, naquele exato momento, Diana viu-se cercada por manifestantes locais, que erguiam cartazes de protesto e entoavam religiosamente contra a Cahill & Reindel. Não era seguro sair do veículo, também não permanecer do lado de dentro. Cedo ou tarde imaginava que conseguiram quebrar as janelas, ou furar os pneus, ou até mesmo vira-lo, pela força de centenas de homens.
— O que está acontecendo? — Ela perguntou ao motorista.
— Não sei, senhora... — O homem suava frio.
Eles então foram pegos, despidos até as roupas de baixo e levados através da multidão, para que os jogassem em um montante de estrume e serragem. Dizia um ditado em Woodstock que tudo que vinha da terra servia aos vermes de alimento. Neste caso, talvez, de forma bastante literal.
— Hey! — Chamou um homem de jeans, boné e camisa xadrez. — Nathaniel Strauss manda lembranças! — Cuspiu-os.
Todos os cavalos que evacuavam ali perto foram afugentados pelos gritos de Diana.


Jensen não procurou por ele, procurou por seu Peugeot 205 GTi vermelho, de 1991. Onde o veículo estivesse, no campus, Neil também estaria. 
Encontrou-o estacionado em frente ao Horace Cummings Memorial Hall.
— Soube que vai embora — Comentou Jensen, quando o viu sair. — Não acha o martírio um tanto excessivo aos olhos de nossa constituição?  
— Bom dia para você também, Senhor McPhee. Vejo que hoje está de bom humor.
— Mas não para sermões. Há algo que preciso saber.
O professor deixou a caixa com seus pertences sobre o capô do carro.
— Só agora tem interesse nisso?
— É uma simples pergunta — Disse Jensen. — Por que rescindiu ao contrato do livro que escrevia sobre mim?
— E como sabe disso?
— Eu sou um McPhee, afinal — Sorria Jensen.
Ambos entendiam a referência.
— Quer a verdade? — Disse Neil. — Eu não me tornei docente por minha causa. Todo o reconhecimento que preciso parte de vocês, alunos, não do quanto eu sou bom em ensina-los. Quando tomarem em mãos seus diplomas pela primeira vez, ou receberem o primeiro salário, ou contarem a seus filhos, no futuro, que muito do que sabem veio de mim, verei meu êxito em suas conquistas. O que pode ser mais gratificante que isto?
Jensen baixou o olhar.
— Honestamente, — Disse. — Não sei se acredito em você. Pode ter feito a coisa certa em não publicar seu livro, mas continua sendo o autor. Agora descubro que vai deixar Dartmouth... não sei. Parece que quer fugir de suas responsabilidades.
— Eu não irei por sua causa — Reiterou o professor. — Tenho um voo marcado para o Rio de Janeiro, Brasil, hoje à noite. Muitos jovens em comunidades carentes precisam da minha ajuda.
— É um trabalho voluntário?
— Sim. Acabaram de me integrar ao projeto da Community In Action. 
Jensen assentiu.
— O Brasil é muito quente — Lembrava bem.
— Posso usar roupas leves para lecionar — Brincou Neil.
Não era impressão sua, Jensen parecia triste em vê-lo partir.
— Que tal um drink no Novack Café pelos velhos tempos? — Sugeriu Jensen. — Ah é, esqueci. Daqui a pouco começa o campeonato de natação. Vou encontrar alguns amigos no ginásio.
— Se quiser, nos vemos lá.
— Não seria um problema?
— De forma alguma. Posso passar antes no Novack Café e levar algumas bebidas por minha conta.
— Uau, você pensa em tudo — Jensen sorriu.
O professor, ao notar sua deixa, deu nele um último abraço.
— Obrigado, amigo — Sussurrara.
 Digo o mesmo — Retribuiu Jensen. — Não sobreviveria a este semestre sem que intervisse por mim.
— Não, você ficaria bem.
— Acha mesmo?
— Tenho certeza. Eu quem estava tentando tomar os créditos.
Eles sorriram.
— Encontro-o no ginásio, em vinte minutos? — Estipulou Neil.
— Lembre-se das bebidas — Jensen acenou.
Aquela era uma manhã ensolarada. As árvores e os edifícios projetavam longas sombras através do campus, cada vez mais a oeste. Jensen seguiu por elas.
Ao adentrar o ginásio, alguém o bateu de encontro propositalmente. O rapaz usava um jeans desbotado cheio de rasgos nos joelhos, moletom negro com capuz e um par de tênis brancos de corrida. Olhou para Jensen, de relance, com os olhos avermelhados. Ambas suas pupilas dilatadas.
Nick?
— Jensen, aqui! — Rylee acenou.
Ele caminhou até as arquibancadas e sentou-se entre ela e Emmett.
— Demorou pra se arrumar? — Supôs o garoto.
— Tive de encontrar alguém... — Disse Jensen, meio distraído.
Nick e outro rapaz de boné e calças largas conversavam em frente aos portões laterais do ginásio. Ou era uma briga?
— Algum problema? — Notara Rylee.
— Não. Nada não — Respondeu Jensen.
Era mais uma expectativa que uma verdade.

Viola chegou ao Campbell Stable, em Bridgehampton, a tempo de ver Andy finalizar o percurso de saltos com obstáculos. O cavalo era o famoso Paladino, de pelagem escura. Ele o ajudou a se classificar no último torneio anual do The Hampton Classic.
Viola observava atrás das cercas, Andy guiava as rédeas. Uma, duas, três, quatro, cinco barreiras foram ultrapassadas. A última viria a ser um desafio pessoal, por ter o dobro do tamanho e dispor de um maior número de obstáculos em seu plano.
— Hey, o que faz aqui? — Andy parou em frente às cercas.
— Liguei para sua casa e seus pais me disseram que treinava hipismo toda sexta-feira — Disse Viola. — Eu tinha que comprovar.  
— E está impressionada?
— Ligeiramente — Ela quase sorriu.
O cavalo parecia agitado por algum motivo, sob as rédeas. Ela resolveu o problema esticando o braço entre dois vãos e acariciando o animal.
— Que estranho — Notara Andy. — O Paladino não se dá muito bem com desconhecidos.
— Deve ser porque eu não sou qualquer desconhecida — Disse Viola. — Ele sabe que não tenho medo, não é?  
Ouviu-se um relinche.
— Quer dar uma volta? — Andy propôs.
— Faz tempo que eu não monto.
— Vem, eu te ajudo — Estendeu uma mão. — Você não deve ter perdido muita coisa nos últimos anos.
— Por sua conta e risco?
— Olhe para a minha mão — Incentivou-a.
Ela não chegou a dizer sim, apenas deixou-se levar.
A propriedade do Campbell Stable compreendia um espaço de 6 hectares no âmbito residencial e 1.5 hectares de reserva agrícolaEles seguiram a cavalo por seus vastos jardins floridos, celeiros, habitações, campos de polo, estandes, piscinas e barracas. As construções erguiam-se grandiosamente de ambos os lados. A maior delas era o ringue principal, de mais de 1400 metros quadrados.
— Postura — Lembrara Andy.
— Acho que estou bem — Viola acatou.
Passavam em frente aos campos de polo.
— Sabe, algo em sua história ainda me deixa confuso — Dizia Andy. — Sua família sempre viveu nos Estados Unidos?
— Eu e Cameron nascemos em Portugal, mas nos mudamos para cá quando eu tinha sete anos — Respondeu ela. — Meu pai quem me ensinou a montar.
— Ele considerava um esporte estritamente masculino?
— Além de elitista — Temia ela.
Andy deu um ar de risos.
— Seu pai é um filho da puta — Saiu sem querer; ele logo voltara atrás. — Sinto muito — Disse. — Não deveria desrespeitar sua família.
— Frank Ridell não é minha família — Ela deixou claro. — Minha família está aqui comigo, em Nova York. Você, Thayer, Amber, Kerr, Nate...
— Não quis dizer Alex?
— Não, quis dizer Nate. Eu sei de tudo.
— Há quanto tempo? — Ele estranhou.
— Desde o meu primeiro desfile, no New Capitale. Esse garoto precisa parar de ser um problema para todos nós.
— Talvez ele só precise de um abraço — Andy brincou.  
O céu naquele ponto estava prestes a escurecer. Viola não gostaria de tardar-se longe da cidade, ou o trânsito ficaria impossível.
— Preciso ir — Disse a ele. — Vou pegar a estrada.
— É sexta à noite. Não me diga que pretende trabalhar.
— Você tem outra ideia?
— Eu tenho, na verdade. Podemos ficar aqui. Tem bebida, internet, música, tv a cabo e lindas paisagens. Se quiser, também chamamos alguns amigos. Sempre quis trazer alguém para mostrar o quanto sou rico.
Ela riu.
— Você me ganhou na parte da bebida — Era um sim. — Agora... — Olhou ao redor. — Como eu faço para descer?
— Espere — Ele saiu do cavalo, deu a volta e posicionou-se ao lado. — Segure minha mão — Instruiu-a. — Agora passe a outra perna.
Assim ela fez. Ou quase.
Parte do vestido prendera nas rédeas, o que a impossibilitou de manter o equilíbrio. Uma poça de lama amorteceu a queda dos dois.
— Ai. Meu. Deus — Clamou Viola.
Ele não parava de rir.
— Você é uma porquinha! — Jogou lama.
— Pare! — Ela gemia. — Acho que torci o tornozelo.
— Deixe-me ver — Aproximou-se.
O simples toque levou-a a gritar de dor.
— Tenha cuidado! — Pedia ela.
— Sinto muito — Disse ele. — Você consegue andar?
— Acho que não. Chame alguém.
— Não tem mais ninguém aqui, é sexta-feira.
— Nem seu treinador?
— Ele saiu depois que você chegou.
Are you fucking kidding me?
— Venha, eu te ajudo — Andy tentou carrega-la.
— Não faça isso, por favor...
— Eu sou um cavalheiro — Insistira.
Viola não teve muito o que fazer. Ele a levou às estalagens, ela não disse uma palavra o caminho inteiro. Estava envergonhada demais para isso.  
— Chegamos — Ele a acomodou em uma poltrona. — Deixe-me ver — Ajoelhou-se e tomou seu pé esquerdo sobre uma coxa. — Não parece tão ruim, um gel para massagens deve resolver.
— Deve?
— Irá — Corrigiu-se. — Ah, sim — Correu para dentro.
Um minuto depois voltara em mãos de uma toalha e um recipiente cheio d’água.
— Para que tudo isso? — Ela perguntou.
— Para higienizar a área afetada — Explicou ele.
Pôs primeiro a toalha no recipiente, depois deslizou, cuidadosamente, sobre a pele.
— Nossa, esse cheiro de lama está me matando — Comentou Viola.
— Eu sei — Também sentia.
O mais prático para ele foi tirar a camiseta, mesmo que não ajudasse muito. Viola não conseguia parar de olhar para os músculos em seu abdome e pensar no motivo de nunca ter notado. Pareciam vários tijolinhos, todos engomadinhos, enfileiradinhos.
— Agora precisamos do gel — Ele levantou. — Não sei bem onde encontra-lo. Espere aqui — Saiu andando.
Ela perguntou a si mesma porque sentia tanto medo.


O salão de festas do Gotham Hall recebeu naquela noite uma seleta lista de empresários e investidores para celebrar o acordo entre as empresas filiadas ao projeto do LEDA Mall, o novo shopping center em Southampton. Nate informou-se bastante sobre cada um deles. Homens bem-sucedidos. Esposas troféus. Herdeiros bilionários. Patrimônios equivalentes a três vezes a população mundial, em pluralidade. Não à toa estivessem tão interessados no que tinha a dizer. Nate comparava-se em bilhões a mais, ou pouquíssimos bilhões a menos, que não faziam qualquer diferença.
No começo da noite, ele e a família Belmont chegaram a se esbarrar. Estavam na sétima mesa, na fileira de número três. Dominik não os acompanhava. Desde que chegou, restringiu-se a um lugar solitário no parapeito do segundo andar. Seus pais talvez nem soubessem que desobedecera a suas ordens, pois não houve qualquer tipo de aproximação.


— Lembra dessa música? — Nate o abordou.
— Dezesseis de abril — Disse Dominik. — No topo do Strauss Capital Hotel.
— Uau.
— Achou que eu esqueceria?
— Achei que lembrasse de outra forma — Ele admitiu.
O lugar ao seu lado, no parapeito, parecia ainda mais solitário agora.
— Por que está aqui, Nate? — Dominik foi direto ao ponto.
— Apreciando a vista.
— Não é mais um de seus jogos?
— Que jogos?
Ele jogou um pen drive em sua direção.
— Encontrei isto com a equipe de vídeo. Deve ser seu.
— Você assistiu?
— Uma parte, ao menos. Se sua intenção era exibir este vídeo montagem na frente de todos, para humilhar a mim e minha família, devia ter sido mais discreto. Sinto de longe o cheiro de suas armações.
— Bom, você me pegou — Nate sorria cínico. — Acho que o subestimei outra vez.
— Um erro honesto — Afastou-se. — Adeus, Nate — Virou-lhe às costas.
Nate o interrompeu com outra pergunta:
— Sabe o que eu não entendo? — Esperou-o virar. — Você podia ter me denunciado à polícia por falsidade ideológica ou publicado nosso vídeo pornô em meu nome, mas preferiu machucar seu lindo rostinho e fazer um vídeo para a internet. Por que não escolheu o caminho mais fácil?
— Porque você tem todos os recursos que precisa para se livrar disso. Se o denunciasse à polícia, seu dinheiro pagaria por sua liberdade. Mas se arruinasse sua reputação, perante a todos...
— Ah, entendi. Você acha que minha reputação é o que tenho de mais valoroso para alguém me tirar.
— É claro. Sem um nome, você não é ninguém.
— E quem é você, senão o twink que meu pau corrompeu? É como o chamam na internet — Lembrou-o.
Dominik sorriu a ele.
— Embora acredite não dever explicações, — Deixou claro. — É bom que saiba sobre o contrato que acabei de assinar com uma agência de modelos de Manhattan. Em breve me verá em todos os lugares, não apenas na sua cabeça.
— Seus pais sabem disso?
— Eu forjei as assinaturas. Você me conhece, não é?
— Eu conheço — Assentiu. — Se não me falha a memória, a ideia era ser Nathaniel Strauss, não foder Nathaniel Strauss. Você simplesmente seguiu o plano.
Sorriu outra vez.
— Ser você é vintage hoje em dia — Disse Dominik. — Está ficando velho, Nate. E ninguém gosta de uma vadia velha.
— Já se perguntou o que pensam de substitutos do seu nível?
— Não importa. Não pretendo ir a lugar algum — Ele virou.
Nate interrompeu-o novamente:
— Sabe que uma hora irei alcança-lo, não é?   
— É bom que repense sua estratégia — Encarou-o Dominik. — Não esqueça do nosso vídeo amador e do que aconteceria a você se ele vazasse na internet. Talvez, por ser tão rico, não fique muito tempo na cadeia, mas terá seu nome na lista de agressores sexuais até morrer.
— A não ser que esse vídeo não exista... — Nate passou por ele. — Cheque seus arquivos na nuvem, Sunshine.
— O que? — Ele virou.
Nate se preparava para descer as escadas.
— O mérito é todo do meu grande amigo, Kerr Foster — Pôs as mãos nos bolsos. — Lembra que eu falei sobre ele ser um hacker formidável? Pois é — Desceu o primeiro degrau. — Fiz muito bem em não mata-lo anos atrás em sua orquestra.
— Você está blefando — Acusou Dominik. — Não tenho um celular para checar esta informação.
— Ah, é mesmo — Lembrou-se. — Empreste o de Bethany quando voltarem para a casa dela. Se voltarem para a casa dela. Sua família pode precisar de você depois de hoje à noite.
— Isso é uma ameaça?
Nate parou.
— Eu sou o vilão, duh. Não está prestando atenção? Ameaças são as minhas preliminares.
— Não — Contrapôs Dominik. — Você não passa de um grande filho da puta.
— Qual a diferença? O sexo é incrível do mesmo jeito — Deu de ombros.
Lá embaixo, um mediador discursava sobre os principais benefícios do projeto LEDA para o comércio local. Muita coisa aconteceu nesse meio tempo. Cameron apareceu de última hora. Kerr e ele repassaram o plano. Rachel obrigou Dominik a sentar-se à mesa, junto a ela e o marido. Dominik e o pai discutiram na frente de todos. Nate desapareceu em plena vista.
— Está na hora — Avisaram a ele, através do comunicador.
— Certo — Estava em posição.
Um exercício vocal veio calhar para o alívio da ansiedade.
— [...] Com a palavra, agora, o homem disposto a tornar tudo isto possível. Nathaniel Strauss — Anunciou o mediador.
O salão fez silêncio. Os holofotes centraram ao topo das escadarias.


Enquanto descia, Nate atentou a cada rosto na multidão. Cada expressão confusa. Cada aplauso tímido. Cada câmera voltada a ele. Dominik e sua família tinham nos olhos o receio que esperava ver. Que tipo de perguntas faziam a si mesmos? Nathaniel Strauss é o novo encarregado? Nathaniel Strauss é o investidor secreto? O que mudará no projeto LEDA? Perderemos tudo?
Tédio, tédio, tédio. Nate os intitularia pela falta de criatividade.
— Obrigado, Senhor Rogers — Tomou o microfone.
Todos prestaram atenção.
— Você sabia disso? — Perguntou Rachel ao filho.
— Deixe-me ouvir — Pediu ele.
 — Uma vez disseram-me que eu era novo demais para assumir os negócios da família — Nate discursava. — Quando isso aconteceu, eu tinha seis anos e brincava com os charutos importados do meu pai — A plateia gargalhou. — O motivo de levar comigo esta lembrança é por saber que tudo começou ali, por uma simples fantasia. Hoje, já adulto, entendo que a responsabilidade é mais uma imposição que um privilégio. E que é preciso mais que um sobrenome, se quer ter o seu reconhecido — Uma pausa. — Tive sorte em trabalhar com profissionais extremamente capacitados e que proporcionaram à franquia de hotéis da Strauss International um crescimento progressivo nos últimos dois anos. Hoje à noite celebramos não apenas eles, mas todas as conquistas que estão por vir. O projeto LEDA representa o início do que espero ser uma longa e duradoura parceira entre a Strauss International e as empresas locais que atuam no ramo de construção civil, como a DIM, aqui presente, além de proporcionar uma atuação mais efetiva no investimento social privado. Senhoras e Senhores, A Rainha LEDA, de Esparta — Mostrava o telão.
Os aplausos seguiram a montagem de vídeo pela maioria.
— Que absurdo... — Alguns cochichavam.
— Não acredito... — Diziam outros.
Para Dominik e sua família era bem simples. A Fellon Industry não atuaria mais no projeto do LEDA Mall, deste mosto a acarretar em um prejuízo de mais de cem milhões de dólares aos cofres dos Belmont.
Ele venceu, pensou Dominik. Nos tirou tudo. Não poderiam manter a mansão. Não frequentaria mais a Northview Charter School. Não estaria nas competições. Não importaria mais seu contrato, nem as assinaturas forjadas, pois não poderia ficar. Voltariam para a mesma casinha de subúrbio em Delaware, onde sua mãe um dia montou um salão de cabeleireiro, há muito tempo.
Ele venceu mais uma vez.
— Levem-nos, por gentileza — Ordenou Nate aos seguranças.
Os homens de preto tomaram a família Belmont pelos braços e escoltaram-nos para fora.
— Nate, não! — Gritava Dominik. — Não faça isso! Por favor!
— É música para os meus ouvidos... — Ele desdenhava.
Juntos, Cameron, Nate e Kerr ocupavam o centro da plataforma. Os holofotes refletiam sobre eles. Aos Belmont serviu-se a porta de entrada.


As nadadoras posicionaram-se uma ao lado do outra sobre os blocos de partida. Ao ouvirem o sinal, realizaram o primeiro salto. A torcida mostrava-se dividida entre Melissa Lionel, na raia três, com a maior pontuação nos duzentos metros do nado livre, e Leah Hoffman, na raia sete, em segundo lugar. 
Jensen notara mais cedo que os garotos da Delta Beta Psi ocupavam a linha de frente na divisória da arquibancada. As barras de ferro sustentavam firmemente o peso de seus corpos debruçados, mas foram alertados várias vezes pelos inspetores sobre os riscos de queda livre. Outros estudantes já haviam se acidentado naquela mesma área e pelo menor dos descuidos.
— Ela vai conseguir, ela vai conseguir... — Clamava Rylee, em prece.
O páreo nos últimos cem metros ficou entre Melissa e Leah. Primeiro Melissa, depois Leah. Primeiro Leah, depois Melissa. Era difícil dizer qual seria o resultado.
— Essas vadias não têm nem chance! — Gritou Austin, para que todos ouvissem.
O copo de que Emmett jogou em sua direção manchou sua camiseta branca de suco de morango. Austin mal sabia apontar o culpado.
— Mandou bem — Elogiou Jensen.
— Por isso guardo todos os recipientes — Disse Emmett.
Na última volta, Leah tomou a vantagem que precisava e conquistou a primeira posição. Os irmãos Delta fizeram um coro em seu nome – alguns que erguiam as meninas da Lambda Tau Sigma nos cangotes.
— Ah, não acredito! — Rylee voltou a senta-se.
— Tudo bem, temos o revezamento — Indicou Emmett.
Aquele breve momento de silêncio fez com que o toque do celular de Jensen parecesse um pouco mais alto do que deveria e chamasse a atenção dos garotos na primeira fileira, que viraram rapidamente para olhar.
— Alô?
— Sou eu — Disse Jake. — Está próximo ao seu computador?
— Não, estou com uns amigos. O que houve?
— Eu consegui aquele programa, agora você só precisa instala-lo.
— Não posso fazer pelo celular?
— Aparelhos móveis servem ao seu propósito de receptores, mas a configuração inicial precisa ser feita em um computador.
Meu Deus, quem inventa essas coisas?
— Tudo bem — Concordou Jensen. — Eu ligo mais tarde.
— Mais tarde pode ser tarde demais. Laurel já está falando sobre comprar um novo aparelho, podemos perder todos os dados no seu atual.
— Não os dados da nuvem.
— Bom, se você fosse dar um golpe milionário, colocaria informações confidenciais na internet?
É, faz um certo sentido.
— Quanto tempo vai levar? — Perguntou Jensen.
— No máximo cinco minutos. Deixe o conteúdo baixar em seu computador e volte para os seus afazeres.
— Okay, não desligue — Pôs a chamada em espera. — Pessoal, preciso resolver uma coisa — Avisou aos amigos. — Volto em quinze minutos.
— Não vá perder o revezamento — Lembrou Rylee.
Ele saiu e voltou aos dormitórios. Ergueu a tela do notebook, curvou-se em frente a ele, em pé, sobre a escrivaninha.
— Estou aqui, guie-me — Pediu ao irmão.
Jake instruiu-o a conectar o celular ao computador via UBS, ativar manualmente o compartilhamento de arquivos e executar o software de instalação como administrador. Depois disso, apareceu uma janela verde no formato de um crocodilo e os dizeres Cave Crawl em vermelho. Jensen precisou digitar alguns códigos nos espaços requeridos, para então ter acesso ao sistema. Já para ter acesso em seu smartphone, precisou sincronizar a ferramenta no sistema operacional ao APK beta.
— Está feito — Concluiu Jake. — Tudo o que Laurel fizer em seu celular, seja baixar arquivos, atualizar conversas ou acionar as câmeras, será registrado em detalhes pelo Cave Crawl.
— Até os arquivos na nuvem?
— Naturalmente — Respondeu. — Agora precisamos tomar cuidado, pois qualquer alteração em pastas e subpastas ou aplicativos constará para ela também. Aconselho a baixar todo o disco rígido para o HD de seu computador e analisar as informações. É o que estou fazendo agora.
— Jesus, Jake... — Ele levou uma mão à testa.
Jake percebeu certa hesitação.
— Algo errado?
— Não, é só... isso parece meio cafajeste.
— Jensen, não vamos ler os sextings de nossa mãe. Esta é uma medida de segurança. Se Laurel pretende reivindicar o título de imperatriz das víboras, nos certificaremos de estar sempre um passo à frente.
— Okay, okay, entendi — Suspirou. — Já coloquei tudo para baixar.
— Ótimo, agora saia daí. Você merece se divertir um pouco.
— É, eu mereço — Desligou.
Achava bom ter voltado aos dormitórios naquele horário, assim não teria desculpas para não realizar as tarefas pendentes. Teve tempo de tirar o lixo, arrumar sua cama, organizar as maquetes, pôr os livros no lugar, secar o banheiro, pendurar as toalhas, juntar as roupas sujas no cesto e dobrar as roupas limpas; tudo isso em menos de dez minutos. Não estava mal.
Foi deixado por último arrumar o seu lado do closet, também quando fosse trocar de roupas. Lá dentro, ao afastar as peças no suporte, viu uma capa negra de chuva, ensacada, com os dizeres “Campus Blood” grafados em vermelho.
A cor e a consistência da tinta aludiam à sangue humano.
— What the fuck...? — Ele pegou para ver.
Podia ser um trote, nada mais. Acontecia o tempo inteiro.
— Ah, Emmett... — Lamentou.
Mais alguns minutos para arrumar o closet e trocar de roupas, Jensen desceu para o primeiro andar. Seu celular tocou na entrada do ginásio.
— Dê-me uma boa desculpa para furar o programa de hoje — Disse a Trent.
— Estou atolado de matéria — Justificou o rapaz. — Caso eu não deixe o quarto pelas próximas quatorze semanas, não se surpreenda.   
— Tudo bem. Porque se Maomé não vai até o ativo...
— O ativo vai a Maomé, entendi. Mas hoje eu não posso. Preciso finalizar esse projeto para amanhã.
— Justo no sábado... — Que lástima.
Jensen passara o centro de ginástica e saíra pela porta de acesso ao próximo corredor. Um grupo de meninas em trajes de natação guiou-o no caminho certo.
— Estou livre no domingo — Lembrou Trent. — Quer escalar minha janela?
— Sou alérgico a hera. Desça e abra a maldita porta para mim.
Trent gargalhou.
— Tudo bem, tudo bem. Nos falamos mais tarde.
— Nos falamos — Desligou.
Passou-se então um segundo. Alguém atirou. Pessoas gritavam. Os estudantes começavam a correr.
— Ele a matou! Ele tem uma arma! — Alguém gritava.
Jensen parecia catatônico. Viu-o em frente à entrada do complexo de piscinas, de sobretudo negro, botas de combate e uma meia escura na cabeça, com buracos para os olhos e o nariz. Nas mãos levava uma espingarda calibre doze semi-automática, e no cinturão uma equipagem de revolveres, facas, projéteis e pequenos fracos contendo o que pareciam ser soluções inflamáveis.
Ele olhou de reflexo, Jensen escondeu-se no vão de escadas, atrás de uma parede. Mais disparos foram feitos naquela mesma direção. Alguém gritava em agonia.
— Não, por favor... não me mate...
E então, outro disparo.
Jensen não via uma maneira segura de atravessar o corredor, mesmo por não saber se a porta mais próxima, a dois metros, estaria aberta ou trancada. Sua única rota de fuga seria pelo segundo andar. As quadras intramurais de basquete não ficavam muito longe do vão de escadas. Elas, em si, eram localizadas no andar inferior. O andar de cima servia como pista de atletismo e também de observatório para a quadra inferior durante os jogos.
Ninguém estava lá.
— Não, por favor, ajudem-me... — Jensen ofegou as palavras.
Vários estudantes cheios de sangue e poeira de detritos corriam em direção a porta dos fundos no primeiro andar. Até pensou em segui-los, se pulasse na direção certa, mas era alto demais. A queda causaria mais danos do que lhe serviria de escapatória.
Okay, por ali, ele correu.
Dobrou um corredor. Dobrou o seguinte. Correu até o final. Passou pelas pistas de esgrima. Avistou a saída. Nick o deu de encontro, repentinamente. Eles derraparam sobre o parapeito das escadas e caíram no primeiro andar, entre um montante de aparelhos. Ali travaram uma intensa batalha pela posse das armas. Jensen o golpeou várias vezes no rosto, até sangrar. Nick chutou-o na perna e no estômago. Jensen bateu a cabeça dele contra o chão.
— Deixe-me puni-los! — Gritou Nick, numa voz rouca.
Essa pequena distração deu a Jensen uma breve vantagem. Conseguiu derruba-lo de costas, longe de sua arma. Mas Nick, já sem ar, com as mãos dele em volta de seu pescoço, usou suas últimas forças para tirar um canivete do cinturão e cravou em sua coxa.
— Seu nome não está na lista — Cuspiu ele, ao se erguer outra vez.
Um grupo de meninas da aula de ginástica, atrás do balcão, viu Jensen cair de joelhos sobre seu ferimento, ao mesmo em que Nick, ainda zonzo, cambaleava até um revólver embaixo dos equipamentos de musculação. Foi quando ouviram o Professor Altman.
— Senhor Denholm, por favor... — Ele implorou.  
Nick apontou a arma para ele instintivamente.
— O que faz aqui?
— A polícia está a caminho — Disse Neil. — Por favor, entregue a arma.
— Perguntei o que faz aqui! — Ele engatilhou.
Os movimentos de Neil tiveram de ser milimetricamente calculados.  
— Eu ouvi tudo — Resolveu dizer. — Já liguei para a polícia.
— Ah, é mesmo. O nosso grande herói — Ironizou Nick. — Uma pena eu estar armado e você não.
— Isso não importa, Nick. Só tem um jeito disso tudo acabar.
— Eu sei, colocando uma bala na minha cabeça. Esse sempre foi o plano — Apontou para as meninas. — Não se mexam! — Elas gritaram.
O professor avançou um passo cautelosamente.
— Nick, por favor, entregue a arma. Muita gente já se machucou.
— Ah, é? — Sorriu o garoto. — Meu irmão se machucou por culpa de todas essas pessoas. Acho que estamos quites.
— O que houve a Ryan foi uma fatalidade...
— Não! — Apontou para ele. — Foi assassinato! Eles o mataram! Está debaixo da terra agora, para servir de comida aos vermes!
— Eu tentei... — Interpelou Jensen. — Eu tentei salva-lo. Mas ele quis pular. Era importante para ele ser aceito pelos outros meninos.
— Não, não, não, não, não, é mentira! — Gritava Nick, enfurecidamente.    
Jensen e Neil trocaram um olhar cauteloso.
— Para trás! — Nick apontou ao professor. — Você não entende? A única coisa que eu quero é justiça. Por mim, meu irmão e minha família.
— Eu entendo — Disse Neil. — Você quem não entende que matar e morrer não faz justiça a ninguém. Não destrua sua vida, Nick. Você merece muito mais.
— Não... — Ele desviou o olhar. — Eu mereço o inferno...
— Não, por favor... — Neil só teve tempo de dizer.
Na primeira vez que Nick puxou o gatilho, acertou-o no quadril. Na segunda vez, acertou-o na parte superior do tórax. Neil perdeu a consciência antes de cair contra o chão.
— Agora vocês! — Nick apontou para as outras garotas.
E então, ouviu-se outro disparo. Jensen piscou repetidamente para ver melhor. Tinha sangue no rosto, nas pernas e nas roupas. Nick jazia no chão, com um buraco de bala no peito. Neil não se movia do lugar. Dois policias seguiam em direção, de armas apostas.
— Vocês estão bem? — Perguntou um deles.
Jensen não se moveu do lugar.

Dominik invadiu seu quarto no Strauss Capital Hotel e começou a procurar pelas escrivaninhas, penteadeiras e criados-mudos. Qualquer coisa ajudaria. Um documento, uma nota fiscal. Nate escondia a sujeira em algum lugar.
O chuveiro estava ligado, notara Dominik. Se ele estivesse no banho, ganharia mais algum tempo.
Procurou por fundos falsos em gavetas e armários. Abriu o frigobar, checou a adega, tirou as almofadas. Nada. Então aproximou-se da cama e ergueu o colchão. Estava lá. Ele pegou para ler.
O documento assegurava à Strauss International o direito de rescindir a contratos pré-estabelecidos com quaisquer instituições associadas à empresas concorrentes ao núcleo central do projeto LEDA. Isto é, manter o acordo com a Fellon Industry resultaria em um conflito de interesses enquanto valessem as assinaturas de Gregg e Rachel Belmont autorizando um membro de sua família a realizar campanhas publicitárias para outras marcas não associadas aos representantes da organização.
Nate pensou em cada maldito detalhe. Seus pais assinam, não vão a falência, mas nenhuma outra agência de modelos poderá contrata-lo pelos próximos sete anos. Até lá, terá vinte e três. O momento passaria diante de seus olhos.
— Você arruinou a surpresa — Disse Nate, escorado à porta da cozinha.
— O que é isto?
— Seu certificado de óbito. Não gostou?
— Como algo assim pode ter legalidade?
— Bem-vindo ao ramo empresarial. Se investi setecentos milhões de dólares e ninguém teve colhões para cobrir minha oferta, quem dá as cartas sou eu.
— Na minha vida?
— Se você e sua família trabalharem para mim, sim — Olhou-se no espelho. — A propósito, já enviei uma cópia a seus pais — Abotoou a camisa. — Receio dizer que até amanhã este documento terá suas assinaturas, pois não correriam o risco de perder tudo por sua causa. Sabe, o conceito de ovelha negra é totalmente escusável em uma declaração de falência. Como estou? — Virou a ele.
Dominik lançou-o um olhar fulminante.
— Não precisa dizer — Continuou Nate, a caminho da penteadeira.  
Dominik não virou.
— Sei que cometi muitos erros... — Admitira. — Com você, Nate, principalmente. Mas minha família não merece pagar por nada disso. Em seu nome, eu peço, por favor. Pare.
Nate o abordou por trás, com um braço envolvendo-o pelos ombros e os lábios a sussurrar-lhe ao pé do ouvido.
— Sabe o que acontece, querido twink? A violência é a única linguagem que alguns de nós sabem falar... — Afagou-o nos cabelos. — E é de minha fria natureza ser implacavelmente fluente... — Uniu suas cinturas. — Você gosta de violência, não é? Eu lembro bem. Um bezerrinho sedento por pica.
— Isso tudo... — Sussurrou Dominik. — Isso tudo porque eu o rejeitei?
Nate deu risada.
— Você não desiste, não é? — Mordiscou-o na orelha. — Mas sei que compreende a isonomia poética em meus atos. A juíza Andrea Housenn levou meu filho, então levei os dela. Diana Baldwin me traiu pelo poder, então eu a fiz fraca na frente de todos. Você, querido twink, partiu meu coração. Qual deve ser seu castigo? — Apalpou-o. — Devo quebra-lo em dois? — Beijou-o no pescoço.
Dominik não precisou lutar, ele mesmo o soltou. Nate preparava-se para sair.
— Lembre-se de uma coisa, Dominik — Suas últimas palavras. — Estamos ligados por pau, porra, suor, dinheiro e poder. Diante de tudo isso e um pouco mais, diria que merece qualquer inferno de minha escolha. Desligue as luzes ao sair — Deixou-o.
Lá fora, ele recebeu a notícia por ligação. Chegara ao hospital minutos depois.
— Onde ele está? — Foi logo abrindo as portas.


Ali estava. Tão pequeno, na cama. Cercado por aparelhos.
— Senhor Strauss? — Diana o abordou.
Nate não olhou para trás.
— O que houve?
— A família Alonso reportou o desaparecimento de Gus esta manhã — Relatou ela, em voz de choro. — Encontraram um bilhete seu, no qual afirmava ter ido encontrar seu verdadeiro pai, Nathaniel Strauss. Mas no caminho... no caminho alguém ligou para o 911 para informar sobre um atropelamento na West 36. Eu sinto muito, muito mesmo, Senhor Strauss.
Nos olhos de Nate refletiam as lágrimas presas.
— Qual seu estado?
— Os médicos não conseguiram identificar nenhuma atividade neurológica nos exames — Esclareceu Diana. — August foi declarado morto no começo da noite.
— Morte encefálica?
— Sim.
As lágrimas caíram.
— Senhor Strauss, — Ela começou a dizer. — Sinto muito em levantar esta questão em um momento tão delicado, mas os Alonso se recusam a assinar a autorização para efetuar o desligamento dos aparelhos e iniciar o processo de doação de órgãos. Deste modo, consegui uma liminar na justiça que invalida a sentença da Juíza Housenn e o concede a guarda provisória de August.
Que ironia.
— Não me deixaram ser seu pai, porque um veado não tem esse direito. Agora querem que eu seja, porque precisam mata-lo.
— Não, senhor, eu não...
— Saia — Ordenou ele.
A advogada acatou.
Nate sentou à poltrona, em frente ao leito. Deitou a cabeça sobre o peito de Gus. Os versos que o lembravam de sua risada, sua voz e o olhar esperançoso em seus olhos, sussurrou bem baixinho:
Let’s all count sheep, count one, two, three.
Until we sleep, let’s all count sheep.
I’m scared of the dark, Mrs. Appleberry.
I’m scared of the dark, please, please.
See your light shine, you’ll be just fine.
See your light shine, you will be just...
Fine...
Ele fechou os olhos.

  Next...   
   6x16: Wait, There Could Be Four of Us? (23 de Julho)
   6x17: I Would Kill Him for You (23 de Julho)
   Eu considero este capítulo como um dos mais tristes e angustiantes que eu já escrevi. Também sou o tipo de autor que sofre junto dos seus personagens, então podem ter certeza que eu estou sentindo tudo o que vocês estão sentindo agora.
    Semana que vem temos capítulo duplo. Até lá. 
Comentário(s)
0 Comentário(s)

Nenhum comentário