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Livro | The Double Me - 5x12: They Say I'm Crazy

5x12: They Say I'm Crazy
“As melhores pessoas são loucas".

— Inspire — Entoou a professora.
Amber elevou as mãos em posição de prece, descendo vagarosamente após cinco segundos.
— Agora expire — Veio o comando seguinte.
Pela hora de classe, Julianne sentia a lycra cingir a pele e os cabelos pesarem sobre o coque superior. O calor era insuportável, quase como o verão em uma tarde de praia. E há dois minutos teve certeza de ouvir uma das grávidas da última fileira gemer eroticamente.
— A dor é parte do processo — Disse a professora. — Mas um nascimento é sempre uma dádiva. Ou duas, se tiver o dobro de sorte — Fez as mães de gêmeos sorrirem.
Mais cinco minutos de meditação e estava terminado. Julianne teve a ajuda de um pai da segunda fileira para ficar de pé.
— Obrigada, querido — Sorriu-lhe simpática.
Amber precisava tirar algumas dúvidas com a Senhora Newlin sobre contrações pré-natais, então sua mãe a esperou na sala de visitas, junto aos pais da próxima sessão. Quando estava pronta, saíram as duas por debaixo de sol. Tinham tempo para ver alguns arranjos nas lojas próximas enquanto a limusine não chegava.
— Olhe para isso — Amber tocou em um sapatinho cor de rosa.
Há não muito tempo fizera a ultrassom para descobrir o sexo dos bebês. Um menino e uma menina; tudo parecia ter sido feito para eles desde então.
— É uma gracinha — Disse sua mãe. À direita, viu um berço com dois ursinhos gigantes. — Isto é para um bebê? — Tocou no braço de um deles. — É meio assustador.
— Talvez quando estiverem maiores.
Na próxima loja viram carrinhos, papeis de parede e roupas para recém-nascidos. Amber ficou apaixonada por um macaquinho verde água, que parecia brilhar em suas mãos.
— Podemos levar?
— É chamativo demais — Julianne vasculhava o cabideiro. — Não queremos chamar atenção para a cor dos bebês — Entregou-lhe outro. — Este azul escuro deve servir.
Ou fazer a pele negra parecer um pouco mais clara, Amber pensava.
Não era a primeira vez que a mãe se referia aos bebês como descendentes de cor. Na Alemanha, vetou terminantemente os nomes que Amber sugeriu por achar que confundiriam as pessoas. Perguntou ao médico, durante os exames, se os bebês tinham mais chances de herdar os genes da mãe ou os genes do pai. Agora não podiam levar roupas claras, ou eles chamariam muita atenção.
— Tudo bem, mãe. Talvez eles ganhem algo do tipo no Baby Shower que estão planejando — Caminhava e olhava as vitrines.
— Deveria ser uma surpresa.
— Não há surpresas quanto a Donato. Na próxima gravidez, deixem-no de fora.
— Agora só está tentando me irritar — Como o irmão costumava fazer.
— Casarei um dia. Por que não ter outros filhos com o amor da minha vida?
— Este é um bom plano. Para depois da faculdade, é claro.
Amber pensara nisso a viagem inteira de volta para casa. Podia haver uma forma segura de contar aos pais que não pretendia ingressar em nenhuma – sem que chegassem às ameaças.
— Sobre isso... — Começou a dizer.
Um grupo de paparazzi, de repente, as estava cercando.
— Amber, você teve um caso com Michaela Strauss? — Um deles questionou.
— Seu pai pode ser indiciado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro? — Outro a encurralou.
— É verdade que o pai dos filhos é seu primo, Dhiego Foster, que está em uma prisão, na Inglaterra? — O mais alto interveio.
Amber não sabia como aquelas informações chegaram até eles, mas também não fazia questão. A limusine chegara a tempo de salva-las.
— Não posso acreditar... — Disse Julianne, do banco de trás.
Havia pelo menos quinze deles ao redor do veículo, golpeando as janelas, fazendo cliques, gritando todo tipo de grosseria.
— Dirija, por favor — Amber pediu ao motorista.
Coisas assim a faziam sentir falta da vida na Alemanha. Seu nome era apenas um nome qualquer em outro continente.

— Aqui está — Nate deixou a caneta sobre o papel.
A Madre Esther analisou cada item preenchido.
— Parece tudo certo. Bem-vindo a fila de espera, Senhor Strauss.
— Não há como essas informações virem a público, certo? — Era bom certificar-se de que não saberiam sobre a adoção em nome de Nathaniel Strauss, e não de seu irmão gêmeo.
— É confidencial, não se preocupe — Levantou do assento. — Estarei anexando o documento ao processo. Há algo mais em que possa ajudá-lo?
Nate olhou o relógio de pulso. Dez e cinquenta e dois.
— Meus homens estão para chegar, é melhor que eu os receba no pátio principal.
— É claro. Preciso resolver algumas pendências no terceiro andar, mas a Irmã Marybeth pode acompanha-lo.
Só então Nate reparou na moça sentada no sofá atrás dele. Tinha a pele cor de âmbar e olhos grandes e redondos, em tom castanho claro. Os traços carnudos nos lábios e as sobrancelhas por pouco entrelaçadas, como duas tiras desfazendo-se nas pontas e encontrando-se em outra, eram de um descaso total. Nate só podia imaginar seus cabelos por debaixo do capuz. Cairia bem um negro liso passando o busto ou um cacheado acobreado, de descendência indiana.
— Por aqui, Senhor Strauss — Ela tomou à frente.
Alguns minutos depois já estavam lá os caminhões de entrega, montadores e os representantes de loja. As crianças observavam a movimentação do salão principal.
— Você veio! — Gus finalmente o encontrou na multidão.
Nate ajoelhou com uma perna para caber em seu abraço.
— Eu disse que viria.
— Quem são esses homens? — Via-os de uniforme negro, a pedir instruções.
— Amigos meus. Temos uma surpresa.
— Para mim?
— Para você e todos os seus amigos — Atrapalhou seu cabelo.
As crianças não pouparam o fôlego quando os viram trazer os brinquedos. Havia bonecas, carros de controle remoto, quebra-cabeças, xadrez, damas, pebolins, ursos de pelúcia, bicicletas, motos a bateria, uma vasta coleção em legos e vídeo games portáteis individuais. As armações esportivas seriam instaladas no ginásio para que jogassem futebol, basquete, ping-pong, tênis e hóquei; a piscina de bolinhas, a cama elástica, os escorregadores e os isotubos na área externa dos fundos, onde já fora posicionado outro caminhão de entregas.
Nate também fornecera livros didáticos, novos uniformes, artigos decorativos, uma cozinha completa e de grande porte e móveis de última linha para os dormitórios, tanto os de irmãs quanto os coletivos para as crianças. A dispensa foi carregada de produtos alimentícios até não haver mais espaço, e as salas de informática equipadas com computadores de última geração.
— Ai meu Deus... — A Irmã Marybeth olhava espantada. — Por que está fazendo tudo isso? — Perguntou a Nate.
— É o mínimo que eu posso fazer.
E gostava de vê-los sorrir.
As crianças abriam as caixas, comparavam os brinquedos, trocavam entre si, corriam com eles e faziam-nos falar pressionando alguns botões. Gus tinha acabado de encontrar o Homem-Aranha com armadura de ferro em tamanho equivalente. Ali estava o sorriso que fazia tudo valer à pena.
— Todos os Homens-Aranha são para mim? — O menininho perguntou.
— É seu herói preferido, não faz mal ter um exército dele — Aproximou-se discretamente para sussurrar-lhe. — Agora mostre-me quem é Landon, o valentão.
Gus apontou para o menino de cachos loiros e camiseta listrada que brincava com um megazord. Nate se aproximou com uma caixa embrulhada em mãos.
— Você é Landon? — Perguntou.
— Quem quer saber?
— Pega isso aqui, moleque — Empurrou contra o peito dele. — É um presente — Por como falava, mais parecia um Cavalo de Troia.
O garoto o fulminou com os olhos, mesmo tendo aceitado.
Sob o embrulho havia uma caixa alaranjada com uma estrela azul ostentando o topo e uma manivela vermelha na lateral direita. Nate nem precisou incentiva-lo a testar; ele girou, girou, girou e girou, até que um palhaço das trevas saltasse para fora e lhe acertasse uma tortada.
— Não quero mais brincar... — Ele correu, chorando, enquanto as outras crianças zombavam.
Nate e Gus bateram de mãos como dois parceiros de crime. Até nisso falhou a Irmã Abigail em notar.
— O que houve? — Aproximou-se deles.
— Sinto muito, havia um brinquedo que não encomendei, por ser de mal gosto, e a loja enviou mesmo assim. Ligarei agora mesmo fazendo uma reclamação... — Tirou o celular do bolso.
— Não se incomode, deve ter havido um engano. Muito obrigada, Senhor Strauss, eu mesma cuido do garoto — Assim partiu.
Nate e Gus bateram de mãos novamente. Ele aprendia rápido – para alguém que não lembrava de escrever o próprio nome com a primeira letra maiúscula.
— Se ele o incomodar outra vez, diga que voltarei — E em companhia de muitos outros palhaços assustadores. Gus havia alertado sobre uma possível coulrofobia na última vez que se viram. — Agora seja um cavalheiro e finja que não temos nada a ver com isto.
— Sim senhor.
— Vem comigo, vamos conversar um pouco — Tomou em mãos o brinquedo para que ele não precisasse.
Estando todos reunidos no salão principal, tinham o corredor de escritórios só para eles. Sentaram lado a lado num banco de ferro, em frente a sala da Madre Esther. Nate agora pensava em troca-lo por algo mais elegante e confortável.
— É verdade que um casal o visitou?
— Sim. Eles me deram isso — Gus apontou para um broche na parte superior da camiseta. As palavras Jesus é amor foram gravadas em vermelho sobre um fundo alaranjado.
— E você gostou deles?
— Eles são legais — Disse, sem tirar os olhos de seu novo herói de brinquedo.
Nate ainda não via motivos para se preocupar. Era apenas uma visita, como acontecia todo os dias para pelo menos metade das crianças do orfanato. Se ainda estavam em capacidade total, pouquíssimas delas terminavam em adoção. Não, isso não é algo bom de se pensar.
— Guardaria um segredo? — Perguntou ao garoto.
— É claro.
— Eu também estou na lista de espera.
— Você pode me adotar? — Um brilho surgiu em seus olhos.
— É, eu acho, se você quiser... não é nada certo, mas a Madre Esther disse que nosso histórico familiar pode facilitar as coisas.
E de repente o viu entristecer.
— Eu nunca fico muito tempo com ninguém — Gus confessou.
Nate só poderia imaginar, e talvez fosse pior que saber de toda a verdade. Em vez de promessas, dar-lhe-ia segurança.
— Sei que você passou por muita coisa, mas estou aqui agora. Eu quero ajudar.
— Você será meu pai?
— Podemos trabalhar nisso — Dizia-o para ele e para si. — O que você acha? — Pôs uma mão a frente.
Gus sabia como aquele jogo funcionava. Se escolhesse sim, colocaria uma mão por cima, de palma virada. Se escolhesse não, nada precisava fazer.
A resposta veio a partir de um sorriso.
— Sim! — Bateu com a mão direita.
— Agora vem aqui — Nate envolveu-o em um abraço e beijou-o nos cabelos. — Espere até ver seu quarto, será seu quartel general.
— Vou ter um quarto só para mim?
— Está brincando? Terá um quarto só para você, outro só para suas roupas e outro só para seus brinquedos. Ainda temos uma piscina nos fundos.
— Posso nadar?
Para isso Nate compraria boias infláveis de desenhos animados e um tobogã triplo. Estava tudo planejado.
— É claro. Pode levar seus amigos também, nos fins de semana.
— Sempre quis aprender a nadar.
— Eu te ensino, não se preocupe — Nate pensava a respeito.
Teria que devolver o emprego do limpador de piscinas e fingir que ele nunca dormiu com sua mãe.

Havia momentos em que Alex ficava feliz por estar longe de casa. Não era sempre, e nunca quando estava acompanhado, mas aprendera a desfrutar do silêncio e da solidão que acarretava a neve de fim de tarde.
Octavia o deixara esperando no pátio do edifício com a promessa de trazer os ingredientes para o suflê de chocolate em no máximo vinte minutos. Então a neve caiu, e haviam se passado mais de quarenta. Não respondia as mensagens, não atendia as chamadas. Interferência de sinal devido a tempestade – informou o noticiário. O leste de Toronto estaria incomunicável pelas próximas duras horas, o que também incluía a internet.
Estava perdido em pensamentos, com as mãos nos bolsos. Só notou a chegada de Cody quando já era tarde demais para fingir que não o reconheceu. As roupas eram as mesmas do dia anterior: Uma calça jeans desbotada e a jaqueta de baseball do colegial. Clássico, Alex julgava.
Ele correu com a jaqueta sobre os cabelos, de cabeça baixa, até que estivesse protegido sobre o teto do pátio principal.
— Está congelando lá fora — Disse, esfregando as luvas.
Alex podia ver o vapor condensado deixando-lhe os lábios.
— Eu acho — Foi só o que respondeu.
— Por que está aqui, sozinho?
— Esperando Octavia.
— Certo. Estava na casa da minha tia, na outra rua. Só percebi a tempestade quando era tarde demais.
Alex apenas assentiu.
— Vencemos o jogo de ontem à noite contra os Tigers por seis a quatro. Você deveria ver os frangotes... — Sorriu chistoso.
E Alex olhou desconfiado. O que, em nome de Deus, ele está fazendo?
— O treinador diz que nossos corpos são como armaduras, por isso nos faz malhar o dobro da carga diária — Cody prosseguiu. — Hoje chegamos aos cinquenta quilos. Suamos a camisa, mas vemos o resultado durante o jogo — Hesitou por uma resposta que não veio. — Você é um cara musculoso. Quanto você aguenta? — Outra vez não houve resposta. — Posso mostrar como se faz.

       
       Soava como uma proposta.
Em um minuto afrontavam-se como dois rivais, olho no olho. Em conseguinte, Alex o fazia sexo oral dentro de um dos armários de limpeza.
— Fique quieto — Pediu num sussurro.
Seus gemidos intercalavam à troada de objetos que derrubavam sem querer das prateleiras.
Cody tentou levar a mente para mais distante. Aguentaria só mais um pouco, e mais um pouco e mais um pouco, e mais um pouco...
So... fucking... good — Sussurrou.
Havia levado mais tempo do que Alex antecipou; isso era bom. Levantou para olha-lo nos olhos, tão perto que poderia beija-lo. Uma linha de sêmen traçava a pele corada das bochechas ao olho direito. Alex preferia que fosse no rosto, nunca na boca.
— Quantos anos você tem?
— Dezessete — Cody respondeu.
— Comeu o rabo alguma vez?
— Elas nunca deixavam. Ouvi dizer que é apertado.
Alex posicionou-se de costas e contra a parede.
— É sua única chance — Instigou-o.
Teve muito a pensar enquanto ele se matinha ocupado na parte de trás. Diria a Octavia para que esquecessem o chocolate e fizessem um suflê de queijo e presunto. Precisaria estar em casa às dezesseis em ponto no dia seguinte para receber os entregadores de móveis. O que Nate diria se soubesse que virou amigo de Emma Roberts e eles trocaram números? Ela o enviou um story particular naquela manhã, direto dos sets de American Horror Story, em Los Angeles.
Também havia a Uniun Nightclub. Isso não ficaria para depois.
— Eu vou gozar — Cody disse a ele.
Por que eles sempre avisavam antes?
Alex foi para vestir suas roupas.
— Eu saio primeiro, você espera cinco minutos.
— Tudo bem. Nos encontraremos de novo?
— Você não tem uma namorada?
— Não é traição se for com um parceiro — Ele parecia certo disso.
Na prática, parceiros divertiam-se juntos.
— Sorte você ser bonito — E ter dezoito centímetros espessos que lhe enchiam a boca.
Virando o corredor para o salão principal, Alex encontrou Octavia. Alguns dos produtos rolaram da sacola furada que ela carregava até alcançar seus sapatos. Latas, em sua maioria.
— Aí está você — Ela disse. — Achei que havia subido.
— Estava a esse ponto — Alex não esquecera nada no chão. — Podemos? — Fez menção ao elevador.
Eles passaram o resto da tarde praticando as receitas da internet e jogando vídeo game no apartamento de Alex. Cada assunto era mais produtivo que o anterior, exceto ao falar abertamente sobre garotos. Octavia insistiu que mudassem de assunto antes de se comprometer para uma vida inteira. Alex preferiu falar sobre Emma – não Cody, nunca Cody.
Não foram duas pessoas cruzando o caminho em um sábado à noite, casualmente. Alex não teria tomado sua decisão sem que ela o motivasse.
— Você já se sentiu predestinada a algo que nunca imaginou acontecer? — Deitara no tapete de peito para cima, as mãos atrás da cabeça.
Octavia, no outro sofá, mantinha as pernas suspensas sobre o recosto e um pote de chocolate equilibrado na barriga. Levava a colher a boca sempre ao terminar uma porção.
— Não sei se isso existe.
— Lembra da boate que eu falei semana passada? Descobri ontem à noite que está à venda. Posso arriscar uma oferta.
— Eu sei que você é rico — Ela ria. — Se não fosse, não moraria aqui. Mas não precisa exagerar.
— Eu sou um pouco mais rico que isso.
— O quanto?
— Tipo... bilionário.
Ela levantou abruptamente no sofá.
— Está brincando, não é?
 — Não tenho acesso a toda minha herança, mas tenho o bastante no banco para arcar com os custos — Hesitou por um instante. — É claro, terei que investir em algumas reformas. Nada que me exija todo o capital.
— Espera aí, você vai comprar uma boate? — Ela precisou repetir em voz volta. — Você pode comprar esse edifício?
— E todos no quarteirão, para dizer a verdade.
— Ai. Meu. Deus. Você trabalha para a máfia.
Alex teria achado divertido portar uma arma de fogo e colecionar paletós e charutos importados. O sangue, nem tanto. Havia sempre muito disso quando as partes não chegavam a um acordo.
— Meu pai era da máfia, é diferente.
— Estou em perigo? — Meio brincava, meio dizia a verdade.
— Só se transasse comigo. Não diga isso aos outros caras.
Ela o jogou as duas almofadas. Ele pegou uma delas, no chão, e sentou mantendo-a contra o peito, de costas para seu sofá.
— Acha que pode dar certo ou estou viajando? — Havia receio em seu tom de voz.
— Contatou os proprietários?
— Ontem à noite.
— E o que disseram?
— Dizem que sou louco — Todos diziam que era louco, não importava o hemisfério.  
Octavia tinha experiência naquela área.
— Você está viajando, mas pode dar certo. Por que separar as duas coisas?
— Gosto da forma que você pensa — Devolveu a almofada.
De repente ouviram alguém bater. A expressão em seus rostos era de total estranhez.
— Estou indo — Alex correu.
Não lhe era surpresa ver Cody atrás da porta, era surpresa que estivesse coberto de neve e a pálpebra esquerda grudada na pele.
— Tropecei meio fio e caí sobre uma montanha de neve. Isso aconteceu — Apontou.
Alex e Octavia se entreolharam, depois voltaram a ele. Seus cílios pareciam tão rígidos quanto estacas de gelo.
— Prepare a banheira com água quente, Octavia — Alex pediu.
Sentia-se um tanto culpado, por agora pensar. Não sabia se a neve causara o pequeno acidente ou se era sêmen enrijecido.

O horário letivo terminava às dezesseis e vinte para os estudantes da Northview Charter School. Todos os dias Dominik traçava o mesmo percurso na saída do campus e entre as árvores do acostamento até o clube onde treinava natação, às dezesseis e quarenta. Para chegar em casa pouco antes das dezoito, fazia o trajeto inverso por mais meia hora. Era isto, ou o pai buscando-o de carro, na frente de todos.
Sábia escolha.
— Espere or mim! — Sua amiga Bethany correu para alcança-lo.
Folhas mortas rodopiavam com o vento para a altura das árvores à medida que avançavam. Bethany tirou uma delas do amontado ruivo e uns fiapos do uniforme. Todos usavam o mesmo terno cinza escuro com detalhes vermelhos; os meninos de calça de alfaiataria, as meninas de saia listrada.
— Você não terminou de me contar — Lembrou a ele.
Durante o almoço, Dominik contou sobre Nate a quem quisesse ouvir. E como ele era carinhoso. E como se preocupou em satisfaze-lo. E como o beijava, com uma mão em seu rosto e outra no...
Bethany queria demais.
— Quer saber do pau dele? — Dominik imaginou.
— Claro. É “Nada Feito”, “Tudo Bem” ou “Vou Morrer”?
— Ele definitivamente me matou em alguns momentos.
— É cor de rosa? Tem cara de ser cor de rosa.
— O pau de um boneco de neve seria do mesmo jeito — Desviou de outro aluno que vinha à contramão.
Bethany, inesperadamente, soltou um grunhido animalesco.
— Não acredito que um Deus grego o levou para conhecer o olimpo. Se não mostrasse a foto, diria que você enlouqueceu. Sem ofensas.
— Você deposita pouquíssima fé em mim.
— Pelo contrário. Estou feliz que tenha perdido a virgindade da forma certa, assim esqueceremos o incidente com Brian.
Dois amigos virgens e bêbados em uma festa de Bethany Maeve, descobrindo que era impossível penetrar sem lubrificante e que água da torneira só dificultava o processo. Dominik chamaria de catástrofe.
— Não me lembre disso — Pediu a ela. — Se alguém perguntar, eu era virgem.
— Até Alexander Strauss fode-lo por trás em lençóis de seda.
— Três vezes seguidas.
— É esse o espírito. Imagino que vão se ver de novo?
— É complicado — Dominik apertava a alça da mochila sempre que vinha a preocupar-se. — Estamos fazendo um jogo de desencontro para deixar mais divertido.
— Se você perder, ele te fode. Se você ganhar, ele te fode. Bom, estou sem palavras.
Ele riu.
— Estou esperando por uma jogada, essa é vez dele.
— Você e sua boca abençoada. Olhe agora — Fez sinal com a cabeça.
Nate chegava à frente de um Bugatti em preto fosco com textura acinzentada nas rodas e na traseira. Usava óculos escuros, uma jaqueta Tom Ford, sobre o cinza da camiseta, botas de couro, cinto de placas e calças Prada um tom mais claro que o habitual. Os cabelos eram de um loiro particularmente atrativo, penteados para cima e inclinados para a esquerda, de ralo.
Casualmente ele descansava as mãos nos bolsos, escorado no capô. Os olhos miravam a conquista.
— Minha vez — Dominik caminhou até lá.
Nate abriu-lhe a porta do passageiro como um cavalheiro.
— Senhor Belmont.
— Bem a tempo de matar o treino.
— Esse é o plano — Deu a volta para tomar seu lugar. — Acho que suas amigas gostaram de mim — Pela outra janela podia observar.
Havia um grupo de seis garotas uniformizadas – entre elas, Bethany –, fazendo-se em risadinhas e cochichos.
— Elas não contariam a ninguém — Dominik pensou ser este o problema.
Mas não havia problema algum.
— Mal posso esperar pelas fanfics — Nate deu a partida.


     A noite que planejara para ele e Dominik incluía uma mesa de jantar, velas aromadas, cardápio francês e um telescópio. Nate encarregou seus funcionários da inauguração de um restaurante luxuoso no topo do Strauss Capital Hotel. Havia mesas ordenadas, vegetação, colunas luminárias, um bar à esquerda do elevador de acesso e um toilet à direita para ambos os sexos. Cada peça de talher, cada detalhe ornamental, recendia à riqueza.
Dominik só conseguia pensar no quanto dedicara àquela surpresa.
— Você é maluco — Seu olhar fascinado dizia exatamente o contrário.
— Era hora de termos um encontro de verdade.
Para isso, Dominik até se trocou.
Sentaram-se à mesa sob uma tenda praiana com cortinas de seda nevada. Dominik não sabia pronunciar metade do que lia no cardápio, então Nate se dispôs a ensina-lo por cada etapa do jantar. Serviram primeiro as fatias de maçã caramelizadas como aperitivos. Vieram de entrada os Ercargots; como prato principal, Jarret De Veau; e Mille-feuilles com crème brûlée de sobremesa. As saladas de tomate seco com rúcula e as pequenas porções de queijo Camembert foram à parte, entre uma etapa e outra – com a exceção dos vinhos.
Levou duas horas até que experimentassem tudo. Conversaram em frente a lareira, observaram as estrelas pelo telescópio, beijaram-se em um dos sofás reclinados, Dominik em seus braços. Piadas monótonas e histórias de infância que escondiam de todos vieram a calhar para um momento de descontração.
Estava perto das onze quando decidiram terminar.
— Você cometeu um erro essa noite — Dominik disse. — Me fez sentir importante — Um passo à frente adentrava o elevador.
Nate o segurou por uma mão até não mais poder.
— Eu tive intenção.
— Posso entender de outra forma.
— Não me preocupo com isso — Segurou para que a porta não fechasse automaticamente. — Você sabe o que estou pensando.
— Não o conheço assim tão bem.
— Isso o assusta?
— Assustou no começo. Agora soa como a melhor entre as piores ideias.
— Sou feito disso — Segurou novamente a porta. — O que me diz, sem mais jogos?
Dominik pensou a respeito.
— Sem mais jogos.
— Que bom. Te vejo amanhã, depois do colégio — Deu um passo para trás.
A porta fechou-se diante dele, levando embora o sorriso de Dominik.


Seu pai não havia planejado um discurso para aquela noite. Quando subiu ao palco, e encarou a multidão, foi encontrar as palavras certas em meio a tudo o que gostaria de dizer à filha.
Ao final foi aplaudido de pé.


       — Você foi incrível! — Mia o envolveu em um abraço.
Usava um vestido longo negro com decote no busto e duas alças finas que lhe caiam aos ombros. Ele, uma camiseta social cor de vinho e calças chino. A barba fora bem aparada, conivente a ocasião.
— Estou feliz que esteja aqui — Disse à ela.
Lola aproximou-se também para um abraço.
— Parabéns, Senhor Borchardt. Você tem um dom extraordinário.
— Obrigado, Senhorita Cunningham. Algo lhe chamou atenção?
— Eu diria... Nosferatu — Apontou com o mindinho.
— Isso é mórbido.
— Não foi pintado por mim.
— Bem lembrado— Ele sorriu. — Se me dão licença, tenho de receber alguns visitantes. Fiquem por perto caso eu precise ser salvo — E logo voltara ao salão.
Mia não lembrava de tê-lo visto tão comunicativo. Algo mudou, e esperava que fosse ela.
— Ele está me matando — Lola disse. — Se não é o amor da minha vida, por que o fizeram tão bonito?
— Não discutirei a beleza do meu pai com você.
— Talvez eu tenha mais sorte com alguém da minha geração. Seus irmãos são mesmo gays?
— Eles gostam de pica e dinheiro, não de homens.
— Vejam só, temos isso em comum— Bebericou do champanhe.
Atrás delas vinha Natasha, aos tropeços. O vestido vermelho estampava uma pequena marca de vômito em uma das alças e os cabelos eram de um oposto extremo ao radiante que ela tanto se orgulhava.
— Senhoritas! — Chamou as duas.
Antes dela, uma escultura em forma de nota musical envergava o pódio à altura equivalente. Logo após, espatifara no chão. Mia chegou a tempo para que não caísse sobre os milhões de pedaços.
— Você bebeu o bastante — Tomou-lhe a taça de vinho.
E por acaso, caminhando até elas, Lola escorregou em um dos destroços.
— Você está bem? — Noah ajudou-a a se erguer.
Ninguém disse uma palavra por todo salão, embora muito dissessem com apenas um olhar. A Mia restou sair de fininho e levar Natasha consigo antes que chamassem mais atenção.
O toilet da galeria realçava um acabamento dourado nas paredes, louças e lajotas do piso. Havia tudo em três; três cabines individuais, três torneiras, três chuveiros, três vasos de flores, três armários e três latas de lixo por baixo do grande espelho. Mia sentou-a sobre o mármore da pia, na ponta esquerda, para estar livre e procurar as toalhas e os rolos de papel higiênico.
— Vamos começar — Ligou uma das torneiras.
Primeiro lavou o rosto, a seguir das marcas no vestido. Seus cabelos, de tão descuidados, precisavam de uma atenção especial.
— Você até que é bonita... quando não está sendo uma vadia — Natasha sussurrou.
Mia estava de novo com aquele olhar de quem não cria a em suas palavras.
— Você bateu a cabeça?
— Talvez eu tenha caído sobre um arbusto lá fora.
Isso explicava os fiapos de galho que tirou da traseira do vestido e da ponta dos cabelos.
— Algo aconteceu? — Mia perguntou.
— O marido de uma das clientes de Dorian descobriu que estava sendo investigado. Houve uma briga, o cara foi parar no hospital, e Dorian preso por agressão.
— Sinto muito, Natasha.
— Meu pai biológico não quer saber de mim, pois agora tem uma amante francesa para impressionar. Minha mãe desaprendeu o caminho da própria casa após a sétima internação e décima segunda manchete nos jornais. E meu padrasto ganha a vida revelando os podres das pessoas, alguns pelos quais estão dispostos até a matar. Não é o que encontram em nossos cartões postais, durante os feriados, mas ainda está lá. Você acreditaria se eu dissesse que mudar de continente não é o bastante?
— Não pense dessa forma — Mia a alertou.
Natasha deu um ar de risos, os olhos cheios de lágrimas.
— Nem todos os pais levam suas filhas à galerias de artes e dizem o quanto são lindas quando sorriem. Achei que poderia ser algo além, mas pareço precisar fazer o tipo de vadia invejosa...
— Está tudo bem — Mia a abraçou. Sentia as lágrimas rorejarem o vestido, estava tudo bem.
— Eu sinto muito por ter arruinado a noite de vocês...
— Não se preocupe, certifiquei-me pessoalmente de que todas as obras fossem compradas sem que Noah soubesse.
— Você fez o que? — Natasha a encarou.
Por trás da maquiagem borrada, Mia achava estar sendo julgada.
— Ele é orgulhoso demais para aceitar minha ajuda, então fiz uma oferta aos principais colecionadores da cidade. Algumas das obras irão a leilão, por este motivo guardará o segredo.
— Ai meu Deus — Ela suspirou. — Somos duas pessoas horríveis.
— Isso não ajuda em nada. Agora vem — Tomou-a pela mão.
Saindo do toilet, Mia pediu a Lola que levasse Natasha de volta ao quarto de hotel. Teria feito ela mesma, em uma curta viagem de carro, se não fosse tão importante estar ao lado de Noah para a exposição final. O labirinto.
 — Por favor, não vomite no nosso carro alugado — Lola tinha um único pedido.
Natasha, ao seu lado, cooperou involuntariamente. Não havia buzinas ou luzes urbanas que a tirassem de seu sono profundo – o que levara Lola a checar sua respiração e seus sinais vitais insistentemente.
Chegaram ao Pullman London St Pancras Hotel às dez e quarenta e cinco. Lola ajudou-a a descer do carro, levou-a até o elevador, e na suíte, deitou-a sobre uma das camas e cobriu-a com um lençol. Fora uma ótima ideia alocar um balde por perto; Natasha vomitou sobre ele no momento em que ela deixou o quarto.
Havia algum tempo até a exposição final, de acordo com o horário marcado. Lola aproveitou para trocar os sapatos e comer as sobras do jantar que Mia ordenou. Escalopes com Foie gras e damascos; Mousse de gorgonzola e Salada Madson. Lola botou para dentro com uma xícara de chá gelado e um copo de água.
Desceu logo após, sem sua bolsa e o casaco. Ao adentrar o veículo, um homem a surpreendeu no banco de trás com uma navalha e um lenço umedecido. Tudo o que viu foi uma sombra negra, pelo retrovisor, antes de apagar.
O homem a moveu de lugar e dirigiu para longe das câmeras de vigilância.

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    5x13: I Like Romancing, But I Don't Wanna (24 de Fevereiro)
   Decretamos a partir de agora o fim do hiatus prolongado. Sei que precisava ter avisado, é que minha rotina de exames e consultas médicas consumiu todo meu tempo disponível. A partir de agora sem mais atrasos, vamos terminar essa temporada para que eu possa finalizar o livro como deve ser feito.
   Agora vamos ao Dreamcast. O personagem dessa semana é Octavia Delare, a nova melhor amiga de Alex. A atriz Victoria Justice ficaria perfeita no papel, fisionomicamente. Muitos de vocês podem dizer que ela é um pouco velha para interpretar uma colegial de 17 anos, mas num mundo em que atores de 30 interpretam adolescentes, basta uma caracterização apropriada.
          

PS: Meu aniversário é dia 22 de fevereiro. Me deem os parabéns ou suas avós serão malditas.
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