Livro | The Double Me - 5x15: Drink the Kool-Aid, Don't Drink the Kool-Aid
5x15: Drink the Kool-Aid, Don't Drink the Kool-Aid
“Alimente os lobos e eles voltarão em bando".
Seus irmãos da Delta house reuniram-se às sete para o café da manhã. A maioria ainda
usava pijamas, assim como Jensen.
— McPhee! — David o cumprimentou. — You look like hell.
— Pior que isso — Acomodou-se em um dos
lugares.
Austin usava um blazer negro, camisa
quadriculada e calças chino, firmes pelo cinto social. Apenas outros três o
acompanhavam na mesma elegância; Sean, velho conhecido de Jensen. Ryan, um dos
calouros com quem banqueteou vitamina de sapo e óleo de peroba no trote de
iniciação. E Raj, o jovem indiano que lembrava o ator Diego Boneta. Há dois anos
que não o chamavam pelo nome verdadeiro, apenas pelo sobrenome do ator.
— Tome um, se sentirá melhor — Austin jogou
uma cartela de comprimidos.
Thayer tinha-os do mesmo. Gosto de nada,
direito no estômago.
— Com licença, Senhor McPhee — A doméstica adiantou
em servi-lo.
— Obrigado.
Uma partida fora marcada para o próximo
domingo, pelo pouco que ouviu da conversa.
— Nem todos estão aqui — Timothy observou. — É
melhor dividir os times em campo.
— Coloquem os Thunder do outro lado — Sean requereu.
Ryan, Isaac e Dwight eram os únicos torcedores
com quem deveria se preocupar naquele momento.
— McPhee, baseball no domingo. Está dentro? — Gabriel
ficara responsável pelos nomes.
— De manhã?
— Tem planos de ir à igreja ou algo do tipo?
Os outros caíram na risada.
— Achei que tomasse brunch com sua mãe aos domingos — Jensen casualmente respondeu.
E Gabriel tornou-se a piada da vez.
— Esqueçam suas mães, estamos aqui — Disse uma
recém-chegada.
Outras duas meninas da Lambda Tau Sigma fizeram entrada à sala de jantar. A de cabelos
loiros e rabo de cavalo deu a volta na cadeira de David e cumprimentou-o no
canto dos lábios. A de pele negra, com tranças exóticas, sentou no colo de Sean
e beijou-o calorosamente. A última era conhecida de Jensen, ou por assim dizer.
Austin ofereceu-a o lugar reservado ao lado do seu.
Leah Darrell.
— Como foram as compras? — Austin perguntou a
ela.
— Terapêutico.
— Por que se importa? Basta ceder o dinheiro —
Disse Ava, na outra ponta. As tranças caiam-lhe o blazer fechado e até sobre as
coxas em tiras róseas, vermelhas e platinadas.
— Nada feminista a acrescentar — Ginger tomara
o lugar ao lado de David, também na outra ponta.
Serviram ovos com trufas negras, croque monsieur, crostine de tomate e suco
de beterraba com gengibre. Jensen comeu junto a eles, mas não compartilhava de seus
contentos. Os olhos estreitavam a cada risada imódica e ao vê-los trocar
carícias, como se a noite passada não tivesse acontecido. Este era o plano,
afinal de contas. Homens para os lençóis,
mulheres para a audiência.
— Escutem — Austin pediu. — Estamos a dois
dias da Hell Week, mas a previsão é
de que o Coliseu só esteja pronto um dia antes. Preciso de voluntários para
testar as armadilhas e prevenir possíveis acidentes.
— Estamos livres — Timothy ofereceu-se junto a
outros dois.
— Podemos contar com a Lambda Tau Sigma para a exposição?
— Positivo — Ava bateu continência.
— Que bom. Meu trabalho aqui está feito —
Levantou-se, fechando o blazer. — Nos vemos às sete?
— Após o ensaio da torcida — Leah respondeu, e
ele a beijou no rosto.
Jensen esperou um instante para segui-lo até o
hall da mansão.
— Podemos conversar?
— Que seja rápido, tenho um seminário.
— Não está tentando fugir da noite passada?
Austin levou-o a um recanto do salão, onde
apenas o busto em mármore de Dionísio ouviria seus sussurros.
— Jesus Cristo! Não falamos disso, nunca.
— Eu entendo, suas namoradas podem ouvir.
Austin sorriu irônico.
— Você não parecia tão crítico ontem à noite com
meu pau na sua boca.
— E quantas mentiras precisou contar para que
isso acontecesse?
— Você é bem resolvido, sorte a sua. Como eu
disse, tenho um seminário — Deu-lhe as costas.
Jensen tinha uma última objeção.
— É por
isso que estou aqui? Precisavam de alguém que não negasse?
— Talvez tenha sido um erro envolve-lo nisso —
Austin denotou. — Você não está preparado para deixar o ensino médio.
— Um erro, você falou bem.
— Lembrarei disso na próxima admissão — E
finalmente saiu.
Jensen o fulminou com os olhos até desaparecer
entre as árvores do campus. Rylee, por coincidência, acabara de entrar. Não começaria
a fazer perguntas sobre os shorts de Pikachu
e as marias chiquinhas nos cabelos.
— Nove
mil dólares — Assim passara a cumprimenta-lo. — O que aconteceu?
— Já sentiu como se as pessoas só se
aproximassem de você por interesse?
— Não. Mas conte-me, como é ser um homem
branco, loiro e rico na América?
Jensen olhou para ela como se fosse a sombra
de Austin materializando-se na sua frente.
— Sem militância no café da manhã? Tudo bem — Deu-lhe
um tapa de ombros e foi à entrada aberta do salão de festas. — Mostre-me outro
garoto branco para atormentar.
Na verdade,
era uma boa ideia.
൴
Estavam há seis horas esperando pelo chefe de aeroporto. Nem metade das famílias fora acomodada nas fileiras de bancos, e a maioria havia chegado antes das quatro de manhã, quando os jornais locais emitiram as primeiras informações sobre o acidente.
Thayer não dormiu na noite anterior; Travis, o
que permitia a posição no recosto, com a cabeça no ombro do irmão. Os pesadelos
haviam voltado, não que ele estivesse surpreso. Por telefone, sua tia Monica os
fez prometer que voltariam à mansão e descansariam para quando chegasse no voo
das dezoito horas. Até ela os conhecia bem o suficiente para saber que não dariam
ouvidos.
— Aconteceu no meu aniversário — Thayer presumiu.
— Talvez eles ainda estejam por aí.
— Saberíamos se estivessem, esperamos há
horas.
— Você não está ajudando.
Thayer sentou curvado para a frente e apoiou
os cotovelos sobre os dois joelhos. Um suspiro o pegou desprevenido.
— Preciso dormir — Olhou para o irmão. — Você
está bem?
— Não vou a lugar algum — Havia decidido.
Parker voltou naquele exato momento trazendo
hambúrgueres ensacados, batata frita, chocolate e dois copos de refrigerante.
— Aqui está — Entregou a ambos.
Por falta de tempo, vestia o casaco de um
outro residente de seu turno e uma calça desbotada – que costumava entrajar por
baixo do jaleco durante os plantões noturnos. Fora também de grande ajuda, os
irmãos reconheciam. Ele quem ofereceu uma carona até o aeroporto John F.
Kennedy quando o carro enguiçou no meio do caminho. E ele quem insistira em
ficar, mesmo com duas cirurgias marcadas para aquela manhã.
— Obrigado, mas não consigo colocar nada no
estômago — Travis lhe disse.
— Eu imaginei. Pode guardar para depois.
Não uma má
ideia. A batata frita ia murchar, o
hambúrguer esfriar, e as pedras de gelo derreter dentro dos copos. O chocolate
poderia servir; Travis guardou-o em um dos bolsos do casaco.
— Não foi como imaginou passar uma noite de
sexta-feira — Voltou a dizer.
— Quem precisa se formar em medicina? — O
namorado sentou ao seu lado.
— Uma pessoa melhor o teria convencido a ir
para casa e descansar, mas não conseguiria sem vocês aqui. Fico esperando pelo
momento em que vou surtar e dizer todas as coisas erradas.
— São seus pais, não há uma reação apropriada
para isso.
— Nem parece real — Levou as mãos sobre o
rosto. — É como se estivessem em todo lugar, mas quando os procuro, são outras
pessoas — Suspirou fundo.
Thayer estava familiarizado àquela sensação. Esperava
vê-los na área de desembarque, deixando os últimos voos, e sempre que uma
equipe de paramédicos cruzava o salão. As outras famílias fortaleciam-se da
mesma confiança.
— Estamos apurando o maior número de
informações neste momento — Informou um dos comissários. As pessoas
aglomeraram-se em frente aos balcões de atendimento em questão de segundos. —
Pedimos que tenham paciência; é de grande valia manter a ordem.
— Essa é a América — Travis resmungou.
Houve algo, de repente, que causou a Thayer um
terrível mal-estar. Não soube se eram as pessoas em volta, ou o cheiro de
fritura que transcendia a embalagem do que Parker lhes trouxe. Teve de correr
até o banheiro, com uma mão sobre a boca. O pouco que ainda havia no estômago
ele despejou sobre a latrina.
— Você está bem? — Travis bateu à porta.
— Estou — Despejou outra vez, outra vez e
outra vez. — Não se preocupe.
— Estarei aqui fora — Caso precisasse.
Thayer passou a maior parte do tempo em uma
cabine; a tampa do vaso servia-lhe de assento, a parede lateral como recosto
para a cabeça. Suor escorria pelas roupas e cabelos, das unhas das mãos, abdome
e à beira do maxilar, em gotas, sobre as lajotas no chão. Não adiantava forçar
a vista; melhoraria por conta própria, a tempo de passar a enxaqueca. E havia também aquele cheiro... não
livrava-se dele, pois era a expeli-lo por suor e vômito.
Ele reconheceu a música na frequência do aeroporto. Mr Sandman, The Chordettes. A melodia tinha um estranho poder de acalma-lo os nervos, talvez na mesma proporção em que intimidava os bons pensamentos de Alex. Algo sobre um filme de terror que marcou sua infância e não o deixava dormir à noite sem checar os armários, atrás das portas e embaixo da cama.
Não era incomum pensar em algo nocivo ao
outro, mas do qual Thayer tiraria proveito. Foram moldados em suas diferenças constantes,
sempre dispostos a aprender com elas. Debatiam por horas sobre assistir filmes
legendados ou dublados, quando voltariam toda sua atenção a um beijo. Estavam
sempre entre um e outro, doce e salgado, praia ou a neve. Thayer talvez nunca
soubesse o quanto isso influenciou ao término repentino e nas decisões que viera
a tomar.
Naquela noite, Alex levou todas as respostas
consigo. Agora seus pais...
Sentia o buraco no peito como parte de um
vazio interminável. Por Travis não entregava os pontos, e sua Tia Monica, e
seus primos, na Alemanha, e Nate e Jensen, seus amigos. Família; fazer o necessário para que eles não precisassem.
Quando deixou o toilet, viu Travis de volta a seu lugar. A porta da sala em frente
a ele se abriu.
— Mãe? — Correu para abraça-la, assim como o
irmão.
Eram seus cabelos, suas roupas, seu cheiro,
sua voz. E estava ali, em segurança.
— Não acredito... — Thayer gaguejou. — Você
está bem? Onde está o papai?
— Ele estava no avião, querido. Eu sinto
muito.
Uma dúzia de homens fardados passou por trás
deles em direção a multidão. Thayer entendeu que estavam tomando seu depoimento
antes de prosseguir com os informes.
— Como pode estar aqui? Não estava com ele? —
Travis perguntou.
— Nos informaram que ele estava acompanhado de
uma mulher com as suas características — Completou o irmão.
Sophie fechou os olhos e deu um grande suspiro.
— Eu não estava no avião, queridos. Mas outra
mulher acompanhava seu pai.
Uma amante, Thayer leu nas entrelinhas.
— Onde ele está?
— Não há sobreviventes — Pesou sua mãe.
Travis permitiu-se chorar, finalmente. Thayer
não se moveu.
൴
As jovens reuniram-se às dez no flat dos Foster. Amber usava um vestido longo de vermelho no busto e negro ao inferior, com bolinhas brancas, ademais um casaco de lã rosa com gola ornamentada em um policromo das outras cores. A própria mãe escolhera, por assim vetar todas as suas sugestões. Este foi o começo de um ciclo interminável.
Julianne controlava a entrada, o buffet e seus passos por onde iam. Quando
não destratava os empregados, maldizia as vestes de suas convidadas e esnobava das
embalagens de presentes. Um deles ela jogou para trás do sofá reclinado, alegando
ser uma caixa de música. Não havia espaço
para um item de baixa valia durante a abertura de presentes.
Amber agradeceu aos céus por chegar este
momento.
Sentou no sofá maior e rodeada por convidados.
As caixas foram apostas sobre o tapete.
— Eu sei, eu sei — Amber tateava a embalagem.
— Uma babá eletrônica.
As meninas fizeram um coro.
— Não fique grávida outra vez, você é muito
boa nisso — Disse Rebeca.
O próximo veio embalado em uma estrutura circular
que entregava uma alça de cesta à vista. Delilah pediu que tentasse adivinhar
pelo cheiro.
— É uma colônia? — Amber olhava ansiosa. —
Diga que é uma colônia.
— Um conjunto delas.
Todas em um cesto com fraldas, toalhas
de pano e borboletas de pelúcia nas cores azuis, verde, amarelo e vermelho.
— É adorável — Amber agradeceu. Notara no
verso da embalagem, ainda acoplada ao cesto, um desenho sequente. — Olhem, dois
garotos se beijando! — Mostrou às convidadas. — Isso é tão fofo!
— E inapropriado— Julianne tomou de seu chá.
— Não se meus filhos forem gays. Seria formidável.
— Assim a fez engasgar na frente de todos.
O próximo foi escolhido a dedo por Amber. Uma
caixa ornamentada com papel quadriculado e um laço de três camadas e três cores
distintas. Amber tateou em suas mãos, virou do avesso, cheirou e sacudiu
próximo a orelha.
— O que é isso? — Nada lhe vinha à mente. — Um brinquedo...?
— Seja mais específica, essas são as regras — Serena
lembrou.
— Tudo bem, anh... uma mamadeira?
— Levante-se para a primeira marca, senhorita.
Novamente elas fizeram um coro.
— Ah, não... o que é isso? — Amber não
arriscaria outro palpite.
— Pode abrir — Incentivou a amiga.
Um kit de
banho infantil. Amber nunca
teria acertado.
— É tão injusto! — Disse.
As portas do elevador se abriram mal havia
terminado de falar. Gwen estava lá, de posse a um embrulho com flechas de
cupido. Usava um vestido branco de alça e decote quadrado com pigmentos em tom
de ouro, e por cima um cinto de porte ao abdome na mesma cor.
— Não tinha certeza do horário... — Quebrara o
silêncio.
Se havia alegria nos olhos de Amber, fez-se em
vão ao nota-la. Jogou o embrulho no chão e marchou estritamente até a varanda,
com ela em seu encalço.
— Sei o que vai dizer... — Gwen preveniu.
Amber virou um tabefe com a mão do anel que a
fez recuar com os cabelos sobre o rosto e levando os dedos ao epicentro da dor.
— Você tem muita coragem de vir aqui depois de
tudo o que fez com meus amigos.
— Eu também sou sua amiga — Gwen lembrou a
ela.
— Você me usou para conseguir o que queria. Não
pense que pode me convencer de qualquer outra verdade.
— Você está chateada, posso lidar com isso.
Amber deu um ar de risos.
— O pior é que realmente acredita que há algo
aqui para você.
— Trouxe um presente — Estendeu a sacola. — Achei
que poderia me ouvir.
— Essa é a minha vida, a vida dos meus filhos,
da minha família. Não há lugar para você aqui.
— Sem o benefício da dúvida?
— Você enterrou Nate vivo.
— O mesmo Nate que provocou uma crise de
bulimia em você e espalhou seu vídeo na internet.
— Eu o perdoei, porque também faço parte dessa
história — De todos o seu maior pesar.
Gwen achou justo até ali, pelo menos. Só
precisava lembrar de um único detalhe.
— Fui internada em um hospital psiquiátrico
para morrer sozinha.
— Porque você destruiu a vida dele! — Amber
gritou. — Você, eu, todos nós, todos de quem ele se vingou. O que é justo para
você?
— Você não conhece toda a história.
— Sei que você é um monstro. E por sua causa
todos continuaremos a pagar — Deu-lhe às costas, ou então veria as lágrimas.
Gwen não temia que visse as suas. Havia
verdade nelas, como só Kieran uma vez conheceu.
— O que eu posso fazer? — Avançou um passo.
— Deixe Nate em paz para que ele possa voltar
para casa.
— Minha vida depende disso, você não
entenderia.
— Tudo bem— Encarou-a. — Você pode fugir. Pegue
sua parte da herança e desapareça.
— Eles me encontrariam em qualquer lugar... — Aaron, Kieran.
Não o que Amber gostaria de ouvir.
— Você deve ir agora, estamos no meio de uma
festa.
— Não posso ficar?
— Não assim. Meus filhos não irão conhecer
esta parte do nosso mundo.
E assim ela partiu.
Amber levou algum tempo a apreciar a vista
antes de retornar. Pediu aos convidados que terminassem as adivinhações, assim
não levaria tanto tempo para abrir os presentes.
— Você está bem? — Rebeca quis ter certeza.
— Estou ótima, podemos continuar — Pegou outro
embrulho no montante do meio.
Uma pequena estrutura de plástico sustentava
um par de sapatinhos de bebês em espiral. Havia os vermelhos, com cadarços; os
amarelos, de abotoar; e os verdes, que mais pareciam botinhas de soldado.
— É tão fofo! — Amber não resistiu ao cheiro.
— E tão chamativos... — Sussurrou a mãe.
— Por que meus filhos podem ser negros?
A sala inteira fez silêncio.
— Vamos deixar uma coisa clara — Amber
prosseguiu. — Meus filhos têm o direito de ser negros, gays, ou qualquer outra
coisa que nascer com eles. Vão usar vermelho, verde, amarelo, e qualquer outra
cor que se encantarem em uma loja. Peço que guarde sua opinião para o Delegado Martinez,
pois só sob acusação de racismo ela terá validade. Estamos claros?
Julianne largou a xícara e saiu de cena
silenciosamente.
— Que bom — Amber sorria outra vez. — Agora vamos
celebrar o nascimento de meus filhos gays e negros.
൴
O Senhor Baumann observou-o a por toda a palestra. Via-o inquieto, sem poder se concentrar nas fórmulas. Derrubou a caneta para mais de sete vezes, de tanto que fazia a distração dos cliques.
— Senhor McPhee, uma palavrinha, por favor —
Pediu ao final do horário.
Jensen já havia acostumado àquela rotina. Sempre
pedia uma palavrinha no final das palestras, servia-lhes café puro e recomendava
um dos livros da biblioteca. Segundo ele, lera a todos no seu ano de calouro. Não
houve muito o que fazer de sua vida acadêmica após ser recusado por todas as
fraternidades as quais se aplicou.
Nisso Jensen poderia acreditar.
— Algo o incomoda? — Perguntou o professor.
— Desperdício de água, a camada de ozônio,
maus-tratos a animais, usar banheiro público, instituições religiosas... devo
continuar?
— Isso tudo é estranhamente específico.
Referia-me ao que ocupou sua mente durante a aula.
— Com todo respeito, senhor Baumann, mas temos
conselheiros para este mesmo propósito.
— Tem razão — Sentou à beira da mesa. — Faremos
outro projeto então.
— Okay, é a fraternidade.
Aquilo
sempre funcionava.
— Delta
Beta Psi, correto? Seu pai era um dos membros originais.
— Você o conheceu? — Jensen sentou na outra cadeira.
O professor, na giratória atrás da mesa.
— Tivemos nossas diferenças, mas assim é a
faculdade.
— Esteja à vontade para chamá-los de babacas —
Jensen incentivou. — É algo que não se perdeu com o tempo.
— Eu era um lobo solitário, como já percebeu.
Os veteranos da fraternidade sempre serão os vilões da minha história.
— Eles são tóxicos. É como se tudo o que
fizessem terminasse em sexo, trotes e ostentação. Precisei me submeter a um
banho com vitamina de sapo para ser admitido.
— Cada vez mais inventivos — Riu o professor.
— Drink the kool-aid, or don’t drink the
kool-aid? — A velha questão de ceder por uma conquista maior.
Jensen ainda não havia decidido. Era bom fazer
uma parte de uma fraternidade, na maior parte do tempo. Não lembrava a última
vez em que se sentiu realmente sozinho para lidar com seus problemas. Mas como nada
vinha sem um preço, e, breve pagaria o seu. Teria que mentir, enganar e
humilhar a todos os que vinham abaixo na hierarquia acadêmica. Aquelas pobres garotas não faziam ideia...
— Meu ex namorado diria que estou exagerando —
Um pouco mais que isso, na verdade. Nate o atropelaria com o carro se
descobrisse que recusou sexo grupal e casual com outros homens igualmente
atraentes. — Mas eu sei o que é certo.
— Tem aí sua resposta. Eu nem precisei
investir em um discurso motivacional.
— Preciso de ar, entende?
— Chega um momento na vida de todos — Fechou
seu livro. — Obrigado pelo seu tempo, Senhor McPhee.
Jensen assentiu com um sorriso.
Do lado de fora, passou por uma fileira de árvores
até chegar em seu carro. O cheiro era de couro nobre, suscetível ao vapor dos
equipamentos. Cheiro de carro novo.
Jensen sentia-se estranhamente inspirado.
Acelerou com o veículo até o jardim da Theta Kappa Theta, onde Rylee cuidava
das plantas.
— Hey! — Ele buzinou.
— Vai a algum lugar, garoto branco?
— Preciso que me cubra.
— Não me diga que vai à Disneylândia duas
semanas antes das avaliações.
— Algo do tipo — Ele não se importava. — Ajudaria
se não dissesse nada aos meus irmãos da Delta
house.
— Não está falando sério.
Jensen acenou com dois dedos.
— Vejo-a depois da Hell Week — E deu a partida.
Rylee e Melissa trocaram um olhar
desconcertado.
— O que houve? — Melissa indagou.
— Bitch
just get herself out of College.
Há muito tempo ela queria fazer o mesmo.
൴
Firmaram o contrato com um valor trinta por cento menor, devido as urgências de reforma nos banheiros e da área externa no último andar. Os proprietários não estavam satisfeitos.
— Assine aqui — Instruiu a advogada. — E agora
aqui — Esperou que Alex o fizesse. — Aqui, e aqui — Acabara, por fim.
Tanto ela quanto a intérprete revisaram as
assinaturas.
— Foi um prazer, cavalheiros — Alex fechou os
botões do blazer.
Os três homens de preto o fulminaram com o
olhar até sua saída. Então era assim que
Nate se sentia após fechar um excelente negócio? Algo com o que poderia
acostumar-se.
De volta ao condomínio, ele e Octavia
estouraram uma garrafa de Veuve Clicquot
Brut. Espumou sobre o sofá e o carpete da sala.
— You’re
fucking crazy but you did it! — Ela vozeava.
— Custou-me algumas maldições sul-americanas —
Que os proprietários não esperavam ser de seu entendimento.
— Qual o próximo passo?
— Reforma — Encheu uma taça para ele e outra
para ela. — Tenho planos maiores para a Uniun
Nightclub.
A primeira parte do projeto foi desenvolvida em
uma reunião na noite anterior. Isolando as melhorias cabíveis, em disposições já
estruturadas, haveria os custos de um ambiente totalmente novo na área externa.
Agradeceria ao irmão por isso; Nate sempre teve vontade de montar um
restaurante de luxo ao ar livre, no topo dos hotéis minoritários da franquia
Strauss.
— É cedo demais para oferecer meus serviços
como produtora de eventos? — Octavia dispôs-se.
— Não conseguiria sem você. Talvez precise de
um toque feminino.
— Essa parte é com a minha mãe, por enquanto estou apenas como assistente.
— Temos que começar de algum lugar.
E falando nela, acabara de entrar pela porta.
Os pais de Octavia – Senhores Mark e Vanessa
Delare – eram como os casais pragmáticos do cinema e da TV que Alex cresceu
admirando. Ambos jovens, independentes, e além de tudo muito ligados a causas progressistas.
Conheceu-os há algumas noites, quando fora convidado para um jantar de família.
Poderia dizer que sexo e menstruação não eram um tabu diante à mesa.
— Olá, querida — Sua mãe trazia uma mala de
rodinhas.
Seu pai vinha logo atrás com o resto da
bagagem.
— Alexander — Cumprimentou-o.
— Senhor Delare.
— Bem, Vermont é a uma vadia — Vanessa
criticou. — Se casar naquele estado, não reclame por seu marido ter um caso com
um sócio da empresa.
— Ouvi dizer que é adorável no outono.
— Talvez para os conterrâneos com síndrome do
intestino irritável. O que estamos celebrando? — Referia-se a garrafa de
champanhe.
Octavia olhou para Alex como se pedisse
permissão para contar.
— Alex adquiriu uma boate no centro da cidade
por alguns milhões.
— Isso é maravilhoso — Vanessa acomodou-se no
sofá maior. As dores atingiram-na nos dois calcanhares. — Tiraria algum
proveito se tivesse a idade de vocês.
— Na verdade, a ideia é transformar a Union Nightclub em um clube privado. Instalaremos
uma área de esportes, Spa reservado,
dormitórios e um restaurante na cobertura. Podem ser meus primeiros convidados.
— Este é um rapaz de visão — Mark
aproximou-se. — E nós estamos atrasadíssimos. Voltamos em duas horas — Beijou a
filha uma vez na testa.
Vanessa reclamou outra vez – mais por sentir-se
obrigada a parabenizar a amiga por mais um ano de Botox e um tanto por perder uma boa oportunidade de um drink no Scaramouche. Alex e Octavia deitaram no
chão da varanda logo que eles saíram.
— Sua mãe quer que eu peça você em casamento —
Alex brincou.
— Desista, ela sabe que você é gay.
— Você contou?
— Não precisei, ela tem uma espécie de gaydar no cérebro. Foi assim que
descobrimos sobre o irmão do meu pai.
Alex perguntou-se por um instante como seria
sua vida com uma mãe tão liberal.
— Seu tio está solteiro?
— Casou-se há dois anos — Fora também um dia
triste, ela lembrava. — De toda a família, apenas eu e meus pais comparecemos.
— Isso ainda acontece...
— Ano passado um dos meus tios que se recusou
a ir ao casamento foi preso por posse de cocaína, e minha tia por parte de mãe,
que nos acusou de confraternizar com pecadores, foi descoberta tendo um caso
com o vizinho. Aprendi que a moral tem critérios singulares.
— Minha mãe adotiva disse que eu iria para o
inferno quando me viu beijando meu namorado. É como se ainda ouvisse sua voz
sempre que algum garoto se aproxima.
Ela virou para encara-lo.
— Por isso você fugiu?
— É um pouco mais complicado — Um dia contaria,
talvez.
— Vou pegar algo para comer — Ela levantou.
Alex escorou-se nas pernas do parapeito e
tirou o celular do bolso. Deixara na memória uma única foto de todos os seus
entes queridos para os momentos em que decidira punir a si mesmo com suas
lembranças. Agora não mais precisava.
Apagou a maior parte delas, incluindo a dos
irmãos. Thayer foi o único a faze-lo hesitar.
൴
— Estou com sua lista de aniversário — Bethany pegou o celular.
Até a mansão dos Belmont restava meio quarteirão.
— Name
it — Dominik pediu.
— Você, o aniversariante. Eu, Garrett, Crystal,
Owen, Mary Jane, Brian... — Ela se atrapalhou. — Desculpe, esqueci de
exclui-lo.
— Não, convide-o também. Quero que me veja ao
lado de Alex.
— Você é terrível. Sabe que ele está
apaixonado por você.
— Também sei que é ruim de cama.
— Adicionamos Dean à lista? Você era obcecado
por ele — Lembrava bem.
Dominik não pensava-o há várias semanas.
Costumava assistir ao treino de futebol com as outras meninas – e Garrett, o
melhor amigo gay –, esperando por ele tirar a camiseta e exibir o abdome
definido. Tinha os cabelos loiros no mesmo tom do seu, só a pele um tanto mais
bronzeada. Os olhos eram azuis, e os lábios finos e alinhados. Alguém contou
sobre uma tatuagem de cupido descendo a virilha, mas foi sempre muito cuidadoso
perto aos docentes. Na Northview Charter,
uma tatuagem seria motivo de expulsão.
— O veredito é todo seu — Dominik disse a ela.
Poderia convida-lo, poderia não convida-lo. O mais certo é de que não aceitasse
devido a agenda esportiva. — Peça a alguém para levar as bebidas, Alex tem
restrições quanto a isso.
— Faz sentido, você é menor de idade.
— Não seria minha primeira vez.
— Eu e o estado de Nova York culpamos seus
pais por isso.
— Eles definitivamente são culpados de alguma
coisa — De limitar sua liberdade.
Ela apagou o cigarro em uma árvore.
— Alguém precisa dizer não a você, Dominik
Belmont. Estou feliz que seja Alex Strauss e não um de seus primos de primeiro
grau.
— Poderia ser pior — Ele sabia.
Chegaram então aos portões da mansão Belmont. Dois
minutos depois ela seguiu caminho pela estrada à oeste e Dominik passou pelos
portões. Um frio ascendeu à espinha ao ver os pais acompanhados da misteriosa
mulher que observava a mansão do lado de fora dias atrás.
— Está tudo bem? — Ele perguntou.
Lexi mostrou um sorriso cínico. Sua mãe
encarou-o dura nos olhos.
— Você está tendo um caso com Alexander
Strauss?
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