Livro | The Double Me - 5x07: Oh Darling, There Are Medications For That
5x07: Oh Darling, There Are Medications For That
“Não há outro remédio senão dar o troco".
Sou eu,
Nate.
Não ouço meu
verdadeiro nome há exatos duzentos e dezoito dias. É meu mais novo record,
teoricamente falando. Nenhum outro narcisista dedicou tanto tempo a reprimir o
próprio ego e por livre escolha.
Eu poderia
dizer a verdade às pessoas mais próximas a mim. Faria com que eu tivesse uma
boa noite de sono e me sentisse estimado outra vez. Mas há sempre um preço a se
pagar por um segredo revelado. As pessoas cometem erros, as notícias se
espalham, e logo a mentira prevaleceria ao intuito de dizer a verdade. Sei por
mim o quanto me sentiria enganado no lugar deles, após longos setes meses.
Se servir de
consolo, é tão difícil quanto para mim. Essa é a primeira coisa em que penso ao
acordar e a última ao deitar para dormir, sem sono. Sempre que desço para o
café da manhã, tenho consciência de estar mentindo para as pessoas mais importantes
que eu tenho por perto. A cada outdoor exibido, a cada flash de câmera, é como
se não houvesse ninguém ali. Vejo através das lentes de contato o que as
pessoas, decerto, teriam como um grande vazio.
Sei uma coisa
ou outra sobre viver em uma tela com todos encarando. E honestamente, sinto que
fui feito para isso. Perdi as contas de quantas vezes meu sorriso desmanchou-se
ao ouvir o ‘corta’ e formou-se outra vez durante o ‘ação’. Um retoque entre as
tomadas e eu estava pronto para convencer a América a consumir qualquer produto
de alto custo, como se precisássemos de algum incentivo.
“Está
perfeito” — Disse-me um fotógrafo.
“Mostre-me o
que você tem” — Disse-me outro.
“Tire a
camisa” — E eu o fiz, roboticamente.
Se há algo que vende, é a nudez.
Suponho que o
lucro exorbitante da Dolce and Gabbana possa pagar pela alma de alguns
consumidores que aspiram equivocadamente a ser tão brancos, loiros e ricos
quanto eu. Hoje, minha contribuição à indústria cultural está para a
frivolidade do que há de atraente e elegante na manipulação digital e na busca
pela perfeição extrínseca. Porque não há nada melhor que uma boa mentira.
— Bom dia — Disse Nate, ao tomar um lugar.
A mesa fora aposta com magret de pato, arroz branco, salada de frizze com figos, suflê de
legumes e duas tortas de nozes com ganache de chocolate para sobremesa.
— Estávamos terminando o almoço — Judit levou
aos lábios uma xicara de chá.
— Eu sei, sinto muito — Em seu prato colocou
de tudo um pouco, apressadamente. — Tive uma sessão de fotos essa manhã.
— Onde o veremos?
— Dolce
and Gabbana.
— Você está mesmo levando isso a sério.
— É só um trabalho — Ele fez-se indiferente.
Lydia e Judit trocaram olhares.
— Esperava que você passasse mais tempo
conosco — Disse sua mãe. — Parece que só nos vemos durante as refeições.
— Claro. Mas estou farto de Nova York,
deveríamos viajar.
Judit também não via a hora. De preferência, para
um país onde não saberiam distinguir uma prótese ocular de um olho de verdade. Ou
não fizessem perguntas inconvenientes.
— Eu concordo. Só precisamos esperar o
encerramento do processo envolvendo a Strauss International. E falando nisso...
— Tomou um último gole ao deixar seu assento. — Temos uma reunião.
— Boa sorte.
— E eu tenho um encontro — Lydia também
levantou.
Os outros dois olharam para ela com o mesmo
sorriso de estarem prestes a caçoar.
— É bom saber que alguém faz sexo nessa casa —
Nate brincou.
— Não a envergonhe — Sua mãe pediu, embora o
acompanhasse com um sorriso formado.
— Não há porque se envergonhar. É muito
saudável na minha idade.
E acima de
tudo, a deixava feliz. Nate não a via
sorrir daquele jeito desde Paris, durante as visitas ao Opera Garnier. Era de
costume, no último fim de semana de cada mês, reservar um dos camarotes
presidenciais e degustar solitariamente de uma taça de vinho Chateau Mouton-Rothschild. Nate a seguiu vezes demais para entender
como o único refúgio.
— Neste caso, Pietro é nosso novo avô? — Perguntou
a ela.
— Esta conversa chegou ao fim — Judit o beijou
na testa. — Até logo, querido.
Enquanto elas saíam, um dos porteiros se
apresentou à sala de jantar. Nate passou a relaciona-los a suas características
físicas para lembrar os nomes, uma vez que os antigos trabalhadores não estavam
mais disponíveis para a recontratação. Pela escura, barriga inchada, bigode
grande, de paletó um número menor que o seu; só podia ser Donnie, o vietnamita.
— Senhor Alex — Ele chamou, as mãos cruzadas
sobre a frente do corpo. — Temos uma situação nos portões.
— Que situação?
— Um menino, senhor. Ele diz estar procurando
seu irmão mais velho.
— Irmão...?
— Disse que o Senhor Simon Strauss é seu pai.
— Mais essa... — Nate levantou, abotoando o
blazer. — Leve-me até ele.
Podiam vê-lo para além dos portões, com as
duas mãozinhas no gradeado. Tinha cabelos castanhos em um corte arrepiado e as
laterais raspadas, e usava um casaco azul escuro com capuz e estampa frontal do
Homem-Aranha. Não aparentava ter mais de oito anos de idade, pelo tamanho. Nate
achou já tê-lo visto em algum outro lugar há não muito tempo.
— Aí está você! — Ele gritou. — Diga a eles
que você é meu irmão. Eles não me deixam entrar!
Holy
motherfucking shit, Nate agora
lembrava. Gus, o filho ilegítimo de Tara
De Beaufort. Sabia que fora adotado ilegalmente em Nova York para corroborar
as histórias fictícias sobre o passado de Tara, mas nunca soube o que aconteceu
após a prisão dela, no dia seguinte a morte de Theon.
— O que você está fazendo aqui?
— As irmãs do orfanato não me deixavam visita-lo,
então eu fugi. Espere... — Inclinou a cabeça para o lado, como se para entender
melhor o que via. — Você tem olhos azuis.
— De fato. Me chamo Alex Strauss, sou o irmão
gêmeo de Nate.
— E onde está o outro?
— Faz algum tempo que não vem aqui. Sinto
muito, pequeno.
O menino pensou por um instante.
— Você pode me ajudar? Minha mãe está na
cadeia e eu não posso ficar naquele lugar, é cheio de valentões.
— O que faremos, senhor? — Donnie perguntou.
Nate olhou para ele, depois para o menino. Ele
já estava ali, de qualquer forma...
— Abram os portões — Ordenou.
Gus passou saltitando para o lado de dentro, e
Nate alertou-o sobre o jardim florido de Judit antes que seus sapatos fizessem
um estrago.
Na sala de jantar, os empregados receberam
instruções para que fossem preparadas todas as sobremesas disponíveis no
armazém. Gus tomou sorvete com profiterole, comeu trufas negras, uma taça de
morango e uma porção avantajada de petit
gateau. Nate o observava balançar as pernas sobre o assento privilegiado
sem entender o que havia de tão apavorante. Crianças,
afinal.
— Acha que comeu o bastante? — Perguntou.
— Sabia que fui o campeão da competição de
quem comia mais torta no dia de ação de graças? Larry the bunny vomitou nos próprios sapatos.
— Eu acredito em você, mas ainda não sei para
onde vai isso tudo — De tão magro e pequeno que o estava vendo.
— Minha mãe Tara não me deixava comer a
sobremesa. Ela dizia que eu gastava dinheiro demais.
Não era difícil acreditar. Nate se viu
pensando a quantos maus tratos ele foi submetido até buscar conforto e proteção
na casa de um estranho. Lhe era isso, um estranho; alguém que encontrou apenas
uma vez, há quase um ano. E agora estava lá, porque não havia outro lugar.
Nate checou seu relógio de pulso.
— Preciso leva-lo de volta. Não queremos preocupar
as irmãs da Amazing Grace.
— Eu não posso ficar aqui?
— É contra a lei. Se souberem que o deixei
ficar, posso ter problemas.
— Como o pai Simon?
— Talvez um pouco menos — Nate sorriu. — A
propósito, como chegou até aqui?
— Eu roubei uma bicicleta. Não estou orgulhoso
disso.
De certa forma, Nate ficava mais tranquilo em
saber que ele não se arriscou pedindo carona na estrada – o que não minimizava
a gravidade do seu delito.
— Vamos fazer assim: Eu te levo de volta,
devolvemos a bicicleta e prometo convencer as irmãs a deixa-lo passar algumas
tardes aqui. Temos um acordo?
— Pergunta: Posso levar um pouco do patí gatão comigo? — Referia-se ao petit gateau que não teve a chance de
terminar.
— Só se prometer comer após o jantar.
— Temos um acordo.
Exatamente o que Nate gostaria de ouvir.
— Agora vem — Atrapalhou o cabelo dele. — Ou
nós dois ficamos de castigo.
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Jensen abriu a porta do dormitório a tempo de
ver Stacey Abrahams abotoando o sutiã dourado. Então é para isso que servem as placas de “Não Perturbe” no lado de
fora.
— Sinto muito — Recuou fechando a porta.
— Entra aí, perdedor — Emmett disse a ele. —
Ela está de saída.
Antes, mesmo assim, precisou checar por entre
a fresta. Emmett jazia na cama com uma guitarra em mãos, sem camisa, enquanto a
menina calçava o segundo salto.
— Ele é todo seu agora — Disse ela, ao sair.
Jensen observou cada um de seus passos até bater
à porta. Algo não estava certo.
— Você é um nerd. Não deveria me pedir ajuda
para conquistar garotas ao invés de transar com elas? — Apontou para trás com o
polegar.
— Cara, você é gay.
— Mais um motivo para confiar em mim.
— Acho que já tive essa conversa com meu pai.
Jensen duvidava.
— Às duas da tarde?
— Bem, você me conhece... — Deixou a guitarra
de lado e caminhou até o banheiro.
— Na verdade, não conheço — Jensen acabara por
perceber.
Jogou-se na cama de braços abertos, os sapatos
ainda tocando o chão. Podia ver o forro retro iluminado em três áreas ao longo
do drywall. Podia ouvir a torneira
ligada e a escova elétrica de Emmett por trás da porta. Aquele era o seu mundo
agora.
— Onde você disse que morava? — Perguntou.
— Harrisburg, Pensilvânia. Rio Susquehanna e a porra toda.
— Parece adorável.
— Não é — Ele cuspiu. — É apenas propaganda.
— E sua família?
Emmett apareceu na porta com a toalha sobre os
ombros.
— Mudaram para São Francisco. Essa é uma
cidade de verdade.
— California
Dreaming... — Agora a música entoava em seus pensamentos.
Jensen não esperava sentir saudades de casa
tão cedo. E mais que isso, desejar conhecer outros lugares. Quatro anos parecia
tempo demais para ficar no mesmo lugar e ter as mesmas ambições e não
questionar cada uma de suas escolhas idealizadas. Seu pai costumava dizer que
falhar só é uma opção a partir da desistência. Surpresa seria se começasse a
ouvi-lo agora que suas palavras tornaram-se as palavras sorrateiras de Laurel.
— Boa tarde, senhoritas — Disse a jovem garota
de black power, regata verde e short
estampado em frente a porta do dormitório. Jensen sentou na
cama para ver melhor. — Interrompo alguma coisa?
— Rylee Gauthier, sempre um prazer — Emmett
não soava assim tão convidativo.
— A casa da Theta Kappa Theta está em reforma e precisa de dois homens fortes,
másculos e viris para ajudar a carregar os móveis e equipamentos. Podemos
contar com a ajuda do nerd asiático e do... — Olhou para Jensen. — ...Namorado
de Nathaniel Strauss? — Fez uma careta.
Jensen não achava que podia piorar.
— Adoro quando as pessoas me chamam assim —
Sorriu fingido.
— Ótimo! — Ela bateu uma mão na outra. — Nos
encontramos lá embaixo. Por favor, usem algo sexy.
— Não tenho algo assim para vestir — Emmett contrapôs.
— Não seja tão duro consigo mesmo. Sua camiseta
do Capitão América é uma gracinha.
E de repente ouviram alguém chama-la. Uma garota de tranças loiras abriu a porta do quarto e a puxou pelo
braço, alertando sobre um dos professores na escadaria principal do The Lodge. As duas saíram correndo, aos
risos, sem se preocupar em fechar a porta. Outras três garotas vestidas nos
mesmos trajes, só que em cores diferentes, as seguiram corredor adentro.
— Você a conhece, não é? — Jensen torcia pelo
sim e esperava pelo não.
— Rylee? — Emmett foi até o armário. — Nós namoramos
no ensino médio.
— Homem de sorte — Era uma clara ironia. —
Podemos?
— Espere. Minha camiseta do Capitão América
deve estar por aqui em algum lugar.
Jensen torcia para que não encontrasse – e esperava
vê-lo escolher qualquer outra coisa pior.
A casa da Theta Kappa Theta localizava-se a oeste do campus conforme seguiam as vias até a área de urbanização. A estrutura central, de fachada triangular, fora coberta por lonas de plástico e andaimes de alumínio temperado, enquanto os segmentos laterais exibiam um novo tom de amarelo queimado para o novo semestre. No lado interior, quase tudo necessitava de acabamento. A extensão do assoalho foi coberta por lonas complementares, onde foram posicionadas duas escadas portáteis de madeira e um conjunto de latas de tinta.
Jensen, Emmett, Rylee e a garota de tranças
loiras ficaram responsáveis pela pintura da cozinha e da repartição dos fundos,
especificamente. Levou uma hora até que terminassem, entre um e outro gracejo. Piadas,
imitações cômicas dos professores, selfies com o celular, e até uma pequena de
tintas com armas de brinquedo – quando a líder da casa não estava olhando. No
final, deitaram-se sobre a lona central, um ao lado do outro.
Jensen precisou tirar a camiseta para evitar
de inutiliza-la.
— E agora? — Perguntou aos outros três.
— Tem festa hoje à noite na Delta Beta Psi — Rylee anunciou. — Devemos
ir.
— Não sinto meus dedos — Emmett abria e
fechava as mãos seguidamente.
Ao ouvirem o ruído de notificação, checaram seus
celulares. Alarme falso para todos exceto Jensen, que deixara o aparelho sobre
um dos degraus da escada removível em frente a porta dos fundos.
— Mal posso esperar pela Hell Week — Ele foi até lá.
— Isso é tão injusto — Disse a jovem de
tranças. Melissa Lionel, se Jensen estava lembrado. — Levei seis semanas para
ser oficialmente admitida na Theta Kappa
Theta, e você, que acabou de chegar ao campus, já tem lugar reservado entre
os Deltas.
— Eu herdei este lugar, é bem diferente — Checava
as novas mensagens.
O desfile para a linha da Sebert Designs teria
início dentro de duas horas no salão principal do New Capitale, em Manhattan. Jensen
lamentava não poder comparecer; Alex desfilaria naquela noite e Viola
precisaria de todo o apoio que encontrasse.
— Entrega para o Senhor Jensen McPhee — Um
homem de uniforme e boné azul apareceu na porta dos fundos.
— Para mim? Aqui? — Ele estranhou.
— São as políticas do campus — Rylee ergueu-se
no chão, sustentando o peso do corpo sobre os dois cotovelos. — As encomendas
só podem ser entregues aos destinatários.
— Mas eu não moro aqui.
— Alguém deve ter dito que estava aqui.
Fazia
sentido. E não importava, afinal. Jensen só
fez assinar os documentos e pegar o caixote. A ornamentação em papel presente
de múltiplas cores e o laço vermelho no topo o fizeram desconfiar de Laurel
automaticamente. Este seria o sexto – ou o sétimo – presente que recebeu desde sua
chegada ao campus, há três dias.
— Quem mandou? — Emmett quis saber.
Nenhum dado do remetente aparecia disponível
no cartão.
— Provavelmente da minha mãe — Jogou a caixa
no chão para os curiosos. — Não estou interessado.
Mas Rylee estava. Ela engatinhou até a caixa,
já com a permissão para abri-la.
— Tem muita coisa aqui dentro — Chacoalhou
próximo a orelha.
No tempo em que vestiu a camiseta, Jensen pensou melhor sobre aquela situação. Laurel nunca deixava de assinar seus presentes e
escrever cartões amorosos, pois a intenção era mostrar ao filho o quanto se esforçava
para recuperar seu afeto. E não sendo ideia dela, só poderia ter sido...
— Espere, não abra! — Ele gritou tarde demais.
Um conjunto de pênis de borracha enegrecidos
saltou sobre a lona ao mesmo tempo em que um homem efeminado gemia e os
consolos acoplados ao fundo da caixa espirravam leite de vaca sobre o rosto de
Rylee. Emmett e Melissa olhavam incrédulos.
— Ai meu deus! — Rylee passou as mãos sobre os
olhos. — Esse brinquedo acabou de gozar na minha cara. É incrível! Quem fez
isso?
— É, Thayer está aqui — Jensen deduziu.
Viu-o escorado, de braços cruzados, no
acabamento da porta dos fundos. Usava um moletom fino em azul claro com uma
extensa gola v, conciliado a uma camiseta tradicional branca, por baixo, e uma
calça chino amarronzada.
— Alguém pediu um orgasmo? — Ele sorria como
uma criança travessa.
Jensen pegou depressa uma das armas sobre os
degraus da escada e atirou para acerta-lo no rosto.
— Qual é? Para com isso! — Com uma mão Thayer cobria
os olhos, e com outra cobria a primeira mão. Três jatos depois e ele parecia
tão sujo quanto Jensen e seus amigos após uma tarde produtiva de reformas.
Os dois se secaram usando duas toalhas
bordadas com as iniciais da Theta Kappa
Theta antes de saírem pelo campus. Jensen, dessa vez, ficara apenas de
expectador. Era sobre Thayer que caiam os olhares, os sorrisos bobos e os grandes
suspiros, não importava se fossem homens, mulheres, seguranças, ou até mesmo
professores. Um dos alunos que deixava o edifício Hitchcock bateu de encontro com ele e sorriu ao longe como se o
despisse com os olhos. Thayer retribuiu tão provocante quanto achou que
deveria.
— É bom saber que você continua fodendo tudo
que se move — Jensen caminhava ao seu lado.
— Isso não é verdade, estou de dieta.
— De garotas, eu suponho — Tomou um gole de cappuccino.
— Soube que você está estudando na minha
instituição.
Referia-se ao Thayer School Of Engineering, onde esperava se formar em quatro
anos. Jensen pensou nesta mesma eventualidade durante a admissão.
— A cada dia mais perto de ser um engenheiro
civil.
— Que bom que só faltam 1456 dias.
— E você, algum progresso?
— Eu não diria isso — Thayer alocou as mãos no
bolso. — Meu treinador me convenceu a fazer inscrição para uma competição
regional na Argentina durante o verão, mas não é um bom momento. Acabei
de receber uma proposta de emprego em Manhattan.
— Se você está procurando um conselho
motivacional que o ajude a escolher uma carreira, não sou a pessoa certa. Este
é meu terceiro dia na faculdade e eu não faço ideia do que estou fazendo e do
que vai ser do resto da minha vida.
— Você vai construir alguns edifícios e merdas
assim — Precisou esquivar-se para dar passagem a um jovem de bicicleta. — Talvez
eu contrate seus serviços — Disse, dando de ombros.
Jensen poderia gostar do Thayer otimista, só
não mais que o Thayer bêbado.
— Olhe para você, falando sobre o futuro.
— As pessoas precisam saber que eu
definitivamente não estou morrendo de câncer — Colocou-se em frente a ele e
tomou-lhe o cappuccino. Já no
primeiro gole sentiu aquecer os lábios. — O que você sugere? Seja diabolicamente criativo.
— Minha futura fraternidade dará uma festa
hoje à noite. Se você me envergonhar o bastante, talvez não me deixem ingressar.
— Por que eu faria isso? Eu nunca o privaria
de sexo gay no dormitório — Atirou o copo de plástico na lixeira. — Mostre-me o
caminho.
Antes disso, precisariam de roupas novas. Jensen
conhecia o lugar perfeito.
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Alex esperou até o fim da tarde para realizar
a mudança.
Estava sentado sobre uma mesa de carvalho, com
uma taça de Chateau em mãos e o pôr-do-sol a sua disposição para além da vidraça.
O céu cintilava em tons de roxo, azul e alaranjado sobre seus olhos, refletindo
igualmente sobre o porta-retratos com a foto dos irmãos e as caixas de papelão branco
espalhadas pelo apartamento. Na linha do horizonte, o sol já não era mais que
um pequeno feixe de luz sobre uma Toronto notívaga que começava a mostrar
brilho próprio. E havia também o mar; Alex esperou tempo suficiente para vê-lo
de perto.
A fim de repousar a taça no chão, entre suas
pernas, ele acabou soltando cedo demais para manter o equilíbrio. Parte do
vitral se partiu durante a queda e vinho se espalhou pela extremidade exposta do
tapete.
Foi quando a campainha tocou.
— Só um minuto! — Ele correu com os cacos, os
despejou na lixeira, limpou as mãos com um guardanapo e correu para atender.
A garota estava prestes a tocar a campainha
outra vez quando ele abriu a porta. Pelo pouco que vira, parecia encantada.
— Olá, sinto muito pelo incômodo. Sou Octavia
Delare, do 1804. Estamos no meio de uma confraternização e o gelo ainda não foi
entregue. Você não teria algum, como um favor?
— Gelo? — Alex pensou por um instante. — Sim,
claro, acho que tenho — Foi em direção à cozinha. Quando voltou, viu que ela
dava seu melhor para fingir que não bisbilhotava o apartamento pela porta
entreaberta. — Aqui está — Entregou-lhe uma vasilha com todos os cubos de gelo
que tinha.
— Muito obrigada. Acho que você não me disse
seu nome.
— Alexander... Field — Seu pai adotivo
costumava chama-lo pelo nome completo, e Field era sobrenome da autora do
último livro que leu: O Fantasma de New
Britain.
— Bem americano, não como o meu.
— É, eu acho... — Ele desviou o olhar.
Ela tinha a pele clara, os cabelos negros e
lisos na altura dos seios e os olhos gateados em verde vivo. Seus salto-altos compensavam
a baixa estatura de forma simples e elegante, do mesmo que fazia o casaco
escuro a justificar a área do busto. A maquiagem pesada no rosto talvez
indicasse algum traço de rebeldia; era adolescente, ou um pouco mais velha que
isso. E estava interessada em mais do que
simples cubos de gelo. Alex nunca viu alguém sorrir daquele jeito e por
tanto tempo sem motivo aparente.
— Você mora sozinho? — Ela perguntou.
— Sim, acabei de me mudar — Ele esperava que
as caixas de papelão já tivessem entregado.
— Podia passar na nossa festa, se quiser. Tem
comida e bebida para todos os gostos.
— Não sei se é uma boa ideia.
— Só por quinze minutos — Ela insistiu. — Farei uma margarita de agradecimento
com gelo e limão.
Uma proposta irrecusável. Alex apreciava a solidão
à moda antiga, mas não estava disposto a se privar da companhia de outras
pessoas. Pouco importava que estivesse sendo convidado com segundas intenções.
— Tem certeza que não vou atrapalhar?
— Venha comigo — Ela tomou a frente. — Vou
apresenta-lo ao esquadrão suicida.
൴
Matt contratou duas acompanhantes de luxo e
étnico diferencial para fazer-lhe companhia na piscina do hotel. Eventualmente as
jovens deixavam o salão para que atendesse uma ligação ou trouxessem os
aperitivos requisitados. Foi durante uma de suas deixas que Mia decidiu agir.
— Ligue-me
depois — Matt despediu-se ao celular.
Deixou o aparelho de lado e esticou os braços
sobre o mármore da piscina. Ergueu a cabeça sobre a borda, de olhos fechados, e
com um sorriso formado nos lábios. Quando ela mergulhou, pôde ouvir apenas o
barulho de água esguichada. Ela nadou submersa até ele num maiô preto camuflado
com decote no busto; de uma mancha em desfoque sob imersão a descoberta de seus
lindos olhos verdes de volta a superfície
— Michaela Strauss — Ele só teve o prazer de
dizer.
Mia o prensou contra a borda da piscina e
agarrou seus testículos com as unhas por baixo do short.
— Deixe-me contar a história do garotinho branco
que gostava de brincar de bad boy. Ele
conheceu a mulher errada.
— Está me machucando... — Ele gemia.
— Pensei que gostasse de jogar duro. Por isso
mandou seu homem dopar Natasha Fairley em um pub e leva-la para sua casa.
— Não sei do que...
— Pare de mentir — Puxou-o com mais força.
Matt sentia-se prestes a perder o controle de
sua dor.
— Tudo bem, tudo bem, eu mandei. Estava
tentando pegar você, não ela.
— Neste caso, querido, deveria ter me procurado
— Beijou-o de surpresa.
Matt viu um flash de câmera atravessar uma
janela do hall esquerdo, por entre as árvores. Uma estranha movimentação rumorosa
sucedeu em meio às sombras.
— O que é isso?
— Vantagem — Ela sorriu cinicamente. — Você
está deixando Londres, Senhor Cavanaugh. Vai arrumar suas malas, pegar o
primeiro voo para qualquer inferno e nunca mais se aproximar de mim, Lola ou
Natasha. Faça isso e meu amigo não divulgará suas fotos à imprensa. Em prol ao
controle de danos, temo que o Senhor Bart Cavanaugh o afastaria de suas funções
na empresa.
— Como você...?
— É claro que há fotos suas e de suas acompanhantes
de luxo em momentos íntimos — Subiu as escadas para fora da piscina e tirou o
excesso de água dos cabelos. — Não disse prostituta em respeito a elas e sua
futura esposa, não a você — Olhou de volta para ele — Temos um acordo?
Ele concordou com a cabeça, mesmo relutante.
— Que bom — Ela continuou. — Agora mande um
recado meu para Gwen. Diga para que venha até mim pessoalmente, não mandar um
homem para fazer o serviço.
— Diga você mesma.
Para seu agrado, ele ainda se contorcia de dor.
Mia talvez tivesse empregado muita força; não tinha culpa, sua mãe ensinou
desta forma.
— É evidente seu desafeto pelas mulheres,
Matthew. Como se sente sendo esmagado por uma de nós?
— Como se minhas bolas fossem cair.
— Oh, querido, há medicamentos para isso — Ela
disse por último.
Saiu levando uma de suas toalhas e a caixa de
bombom Delafée que ele ganhou de
presente.
൴
— Ele é um ótimo garoto — Disse a Madre Esther.
Estavam diante ao painel observatório do salão
de jogos do orfanato Amazing Grace. Nate observava Gus montar seu próprio posto de gasolina
com lego, dinossauros, sayajins e
bonecas Polly.
— Ele passou por muita coisa — Tinha certeza.
— Alguém já tentou adota-lo?
— É muito difícil nestas condições. A maioria
dos pais tem preferência a recém-nascidos, não a garotos crescidos. Apenas duas
entre dez crianças na sua idade conseguem um lar antes dos dezoito anos.
Suas palavras lhe partiam o coração. Nate não gostava
da ideia de deixa-lo ali, sozinho, para tentar a sorte. E Gus também lhe havia
alertado sobre valentões que escondiam seus brinquedos para que levasse bronca
das outras irmãs. Outro bom motivo.
— Ele não pode ficar aqui...
— Peço perdão pela intromissão, mas você me parece
um jovem muito responsável, Senhor Strauss. Poderia realizar um cadastro e
entrar na fila de espera.
— Eu? — Nate cogitava pela primeira vez. — Não,
não eu.
— Não seria tão difícil com sua condição
financeira. E é notável o quanto vocês dois se dão bem — Ela havia percebido.
Passaram apenas duas horas
juntos, mas Nate sentia uma forte conexão. É claro, para ele, isso pouco
queria dizer. Duas horas estavam bem longe de ser uma vida inteira. E se ficasse doente? E se matasse aula? E se
crescesse para se tornar um jovem rebelde? E se fugisse de casa? E se fosse
gay, e a pessoas culpassem o pai pelas escolhas do filho? E se fosse hétero e
lhe desse esse desgosto? Nate riu sozinho só de imaginar.
— Não posso fazer isso, posso?
— Você o trouxe em segurança de volta ao
orfanato, talvez seja melhor nisso do que imagina. Obrigada, querida — Ela
agradeceu a uma irmã que a entregou os relatórios. Antes que fosse embora, precisou
chama-la a atenção. — Irmã Irene, a data não corresponde. Estamos em vinte e sete de março,
não vinte e oito.
Vinte e sete
de março. Nate se havia feito em um estado
catatônico.
— Preciso ir — Disse a Madre Esther, sem dar
qualquer explicação.
Chegando ao hotel, seus pensamentos lhe eram como
um feixe sombrio indistinguível que falhava ao tentar reprimir. Sua cabeça doía,
seus olhos ardiam, suas mãos formigavam e sua língua estava seca. Achou estar
prestes a desmaiar, mas nada aconteceu; porque o que quer que o estivesse
atormentando, gostaria de mantê-lo acordado.
Vinte e sete
de março. Viola o estava esperando para o desfile
e ele sem forçar para manter-se em pé. Não sabia quanto tempo havia passado na
estrada, dando voltas sem parar. Talvez minutos, talvez horas.
Vinte e sete
de março. Olhou o relógio na parede. Um minuto
se passou. Dois minutos. Cinco minutos. Dez minutos. E ele permanecia imóvel.
Vinte e sete
de março. E finalmente, a meia noite do dia
vinte e oito.
— Feliz Aniversário, Theon — Sussurrou.
Ele mesmo não mais estava lá.
Next...
5x08: This Is the Closest You Got to Being a Communist Bitch (18 de Novembro)
Como dito semana passada, os capítulos 8 e 9 farão parte de um especial que tem como principal evento o desfile de Viola. Nate reencontrará Dominik, Alex fará novos amigos na festa de Octavia e Jensen passará pelo teste de iniciação da Delta Beta Psi ao lado de Thayer. Mia, Lola e Natasha, enquanto isso, descobrem que uma noite das garotas pode terminar de muitas maneiras. Amber e Kerr retornam no capítulo 10, para quem está com saudades.
Curiosidade: Na cena em que Alex conhece Octavia, ele diz que se chama Alexander Field; Alexander por causa do pai adotivo, que o chamava assim, e Field em homenagem a autora do último livro que leu: O Fantasma de New Britain. Sim, esta autora é Chloe Field. E sim, The Double Me e A Punhalada se passam no mesmo universo, que meus amigos apelidaram carinhosamente de Lindleyverse. Quem leu A Punhalada 4 deve lembrar que a Strauss International foi mencionada algumas vezes junto a reuniões misteriosas que Aaron Estwood não cansava de recusar. Além disso, o pseudônimo que Amanda escolheu para forjar a própria morte em A Punhalada 2 foi Natalie Strauss, uma clara homenagem aos gêmeos. Devemos lembrar que A Punhalada 4 se passa no ano de 2027, então podemos dizer, no mínimo, que a Strauss International tem um grande futuro pela frente.
Curiosidade: Na cena em que Alex conhece Octavia, ele diz que se chama Alexander Field; Alexander por causa do pai adotivo, que o chamava assim, e Field em homenagem a autora do último livro que leu: O Fantasma de New Britain. Sim, esta autora é Chloe Field. E sim, The Double Me e A Punhalada se passam no mesmo universo, que meus amigos apelidaram carinhosamente de Lindleyverse. Quem leu A Punhalada 4 deve lembrar que a Strauss International foi mencionada algumas vezes junto a reuniões misteriosas que Aaron Estwood não cansava de recusar. Além disso, o pseudônimo que Amanda escolheu para forjar a própria morte em A Punhalada 2 foi Natalie Strauss, uma clara homenagem aos gêmeos. Devemos lembrar que A Punhalada 4 se passa no ano de 2027, então podemos dizer, no mínimo, que a Strauss International tem um grande futuro pela frente.
Reservei o Dreamcast desta semana para homenagear o crush supremo de todos os leitores, Thayer Van Der Wall. Não estou 100% certo da escolha do ator, mas não encontrei nenhum outro com estas mesmas características. O único diferencial é o cabelo; o Thayer nos livros tem os cabelos negros e penteados para cima, não como o ator Brendan Dooling nas fotos a seguir. É só um detalhe mesmo. Enfim, se alguém conhecer algum ator branco, de cabelos negros e com idade até 24/25 anos, sabendo que Thayer tem 21 até o momento, pode me recomendar.
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