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Livro | The Double Me - 5x07: Oh Darling, There Are Medications For That


5x07: Oh Darling, There Are Medications For That
“Não há outro remédio senão dar o troco".



Sou eu, Nate.
Não ouço meu verdadeiro nome há exatos duzentos e dezoito dias. É meu mais novo record, teoricamente falando. Nenhum outro narcisista dedicou tanto tempo a reprimir o próprio ego e por livre escolha.
Eu poderia dizer a verdade às pessoas mais próximas a mim. Faria com que eu tivesse uma boa noite de sono e me sentisse estimado outra vez. Mas há sempre um preço a se pagar por um segredo revelado. As pessoas cometem erros, as notícias se espalham, e logo a mentira prevaleceria ao intuito de dizer a verdade. Sei por mim o quanto me sentiria enganado no lugar deles, após longos setes meses.
Se servir de consolo, é tão difícil quanto para mim. Essa é a primeira coisa em que penso ao acordar e a última ao deitar para dormir, sem sono. Sempre que desço para o café da manhã, tenho consciência de estar mentindo para as pessoas mais importantes que eu tenho por perto. A cada outdoor exibido, a cada flash de câmera, é como se não houvesse ninguém ali. Vejo através das lentes de contato o que as pessoas, decerto, teriam como um grande vazio.
Sei uma coisa ou outra sobre viver em uma tela com todos encarando. E honestamente, sinto que fui feito para isso. Perdi as contas de quantas vezes meu sorriso desmanchou-se ao ouvir o ‘corta’ e formou-se outra vez durante o ‘ação’. Um retoque entre as tomadas e eu estava pronto para convencer a América a consumir qualquer produto de alto custo, como se precisássemos de algum incentivo.
“Está perfeito” — Disse-me um fotógrafo.
“Mostre-me o que você tem” — Disse-me outro.
“Tire a camisa” — E eu o fiz, roboticamente. Se há algo que vende, é a nudez.
Suponho que o lucro exorbitante da Dolce and Gabbana possa pagar pela alma de alguns consumidores que aspiram equivocadamente a ser tão brancos, loiros e ricos quanto eu. Hoje, minha contribuição à indústria cultural está para a frivolidade do que há de atraente e elegante na manipulação digital e na busca pela perfeição extrínseca. Porque não há nada melhor que uma boa mentira.
— Bom dia — Disse Nate, ao tomar um lugar.
A mesa fora aposta com magret de pato, arroz branco, salada de frizze com figos, suflê de legumes e duas tortas de nozes com ganache de chocolate para sobremesa.
— Estávamos terminando o almoço — Judit levou aos lábios uma xicara de chá.
— Eu sei, sinto muito — Em seu prato colocou de tudo um pouco, apressadamente. — Tive uma sessão de fotos essa manhã.
— Onde o veremos?
Dolce and Gabbana.
— Você está mesmo levando isso a sério.
— É só um trabalho — Ele fez-se indiferente.
Lydia e Judit trocaram olhares.
— Esperava que você passasse mais tempo conosco — Disse sua mãe. — Parece que só nos vemos durante as refeições.
— Claro. Mas estou farto de Nova York, deveríamos viajar.
Judit também não via a hora. De preferência, para um país onde não saberiam distinguir uma prótese ocular de um olho de verdade. Ou não fizessem perguntas inconvenientes.
— Eu concordo. Só precisamos esperar o encerramento do processo envolvendo a Strauss International. E falando nisso... — Tomou um último gole ao deixar seu assento. — Temos uma reunião.
— Boa sorte.
— E eu tenho um encontro — Lydia também levantou.
Os outros dois olharam para ela com o mesmo sorriso de estarem prestes a caçoar.
— É bom saber que alguém faz sexo nessa casa — Nate brincou.
— Não a envergonhe — Sua mãe pediu, embora o acompanhasse com um sorriso formado.
— Não há porque se envergonhar. É muito saudável na minha idade.
E acima de tudo, a deixava feliz. Nate não a via sorrir daquele jeito desde Paris, durante as visitas ao Opera Garnier. Era de costume, no último fim de semana de cada mês, reservar um dos camarotes presidenciais e degustar solitariamente de uma taça de vinho Chateau Mouton-Rothschild. Nate a seguiu vezes demais para entender como o único refúgio.
— Neste caso, Pietro é nosso novo avô? — Perguntou a ela.
— Esta conversa chegou ao fim — Judit o beijou na testa. — Até logo, querido.
Enquanto elas saíam, um dos porteiros se apresentou à sala de jantar. Nate passou a relaciona-los a suas características físicas para lembrar os nomes, uma vez que os antigos trabalhadores não estavam mais disponíveis para a recontratação. Pela escura, barriga inchada, bigode grande, de paletó um número menor que o seu; só podia ser Donnie, o vietnamita.
— Senhor Alex — Ele chamou, as mãos cruzadas sobre a frente do corpo. — Temos uma situação nos portões.
— Que situação?
— Um menino, senhor. Ele diz estar procurando seu irmão mais velho.
— Irmão...?
— Disse que o Senhor Simon Strauss é seu pai.
— Mais essa... — Nate levantou, abotoando o blazer. — Leve-me até ele.
Podiam vê-lo para além dos portões, com as duas mãozinhas no gradeado. Tinha cabelos castanhos em um corte arrepiado e as laterais raspadas, e usava um casaco azul escuro com capuz e estampa frontal do Homem-Aranha. Não aparentava ter mais de oito anos de idade, pelo tamanho. Nate achou já tê-lo visto em algum outro lugar há não muito tempo.
— Aí está você! — Ele gritou. — Diga a eles que você é meu irmão. Eles não me deixam entrar!
Holy motherfucking shit, Nate agora lembrava. Gus, o filho ilegítimo de Tara De Beaufort. Sabia que fora adotado ilegalmente em Nova York para corroborar as histórias fictícias sobre o passado de Tara, mas nunca soube o que aconteceu após a prisão dela, no dia seguinte a morte de Theon.
— O que você está fazendo aqui?
— As irmãs do orfanato não me deixavam visita-lo, então eu fugi. Espere... — Inclinou a cabeça para o lado, como se para entender melhor o que via. — Você tem olhos azuis.
— De fato. Me chamo Alex Strauss, sou o irmão gêmeo de Nate.
— E onde está o outro?
— Faz algum tempo que não vem aqui. Sinto muito, pequeno.
O menino pensou por um instante.
— Você pode me ajudar? Minha mãe está na cadeia e eu não posso ficar naquele lugar, é cheio de valentões.
— O que faremos, senhor? — Donnie perguntou.
Nate olhou para ele, depois para o menino. Ele já estava ali, de qualquer forma...
— Abram os portões — Ordenou.
Gus passou saltitando para o lado de dentro, e Nate alertou-o sobre o jardim florido de Judit antes que seus sapatos fizessem um estrago.
Na sala de jantar, os empregados receberam instruções para que fossem preparadas todas as sobremesas disponíveis no armazém. Gus tomou sorvete com profiterole, comeu trufas negras, uma taça de morango e uma porção avantajada de petit gateau. Nate o observava balançar as pernas sobre o assento privilegiado sem entender o que havia de tão apavorante. Crianças, afinal.
— Acha que comeu o bastante? — Perguntou.
— Sabia que fui o campeão da competição de quem comia mais torta no dia de ação de graças? Larry the bunny vomitou nos próprios sapatos.
— Eu acredito em você, mas ainda não sei para onde vai isso tudo — De tão magro e pequeno que o estava vendo.
— Minha mãe Tara não me deixava comer a sobremesa. Ela dizia que eu gastava dinheiro demais.
Não era difícil acreditar. Nate se viu pensando a quantos maus tratos ele foi submetido até buscar conforto e proteção na casa de um estranho. Lhe era isso, um estranho; alguém que encontrou apenas uma vez, há quase um ano. E agora estava lá, porque não havia outro lugar.
Nate checou seu relógio de pulso.
— Preciso leva-lo de volta. Não queremos preocupar as irmãs da Amazing Grace.
— Eu não posso ficar aqui?
— É contra a lei. Se souberem que o deixei ficar, posso ter problemas.
— Como o pai Simon?
— Talvez um pouco menos — Nate sorriu. — A propósito, como chegou até aqui?
— Eu roubei uma bicicleta. Não estou orgulhoso disso.
De certa forma, Nate ficava mais tranquilo em saber que ele não se arriscou pedindo carona na estrada – o que não minimizava a gravidade do seu delito.
— Vamos fazer assim: Eu te levo de volta, devolvemos a bicicleta e prometo convencer as irmãs a deixa-lo passar algumas tardes aqui. Temos um acordo?
— Pergunta: Posso levar um pouco do patí gatão comigo? — Referia-se ao petit gateau que não teve a chance de terminar.
— Só se prometer comer após o jantar.
— Temos um acordo.
Exatamente o que Nate gostaria de ouvir.

— Agora vem — Atrapalhou o cabelo dele. — Ou nós dois ficamos de castigo.


Jensen abriu a porta do dormitório a tempo de ver Stacey Abrahams abotoando o sutiã dourado. Então é para isso que servem as placas de “Não Perturbe” no lado de fora.
— Sinto muito — Recuou fechando a porta.
— Entra aí, perdedor — Emmett disse a ele. — Ela está de saída.
Antes, mesmo assim, precisou checar por entre a fresta. Emmett jazia na cama com uma guitarra em mãos, sem camisa, enquanto a menina calçava o segundo salto.
— Ele é todo seu agora — Disse ela, ao sair.
Jensen observou cada um de seus passos até bater à porta. Algo não estava certo.
— Você é um nerd. Não deveria me pedir ajuda para conquistar garotas ao invés de transar com elas? — Apontou para trás com o polegar.
— Cara, você é gay.
— Mais um motivo para confiar em mim.
— Acho que já tive essa conversa com meu pai.
Jensen duvidava.
— Às duas da tarde?
— Bem, você me conhece... — Deixou a guitarra de lado e caminhou até o banheiro.
— Na verdade, não conheço — Jensen acabara por perceber.
Jogou-se na cama de braços abertos, os sapatos ainda tocando o chão. Podia ver o forro retro iluminado em três áreas ao longo do drywall. Podia ouvir a torneira ligada e a escova elétrica de Emmett por trás da porta. Aquele era o seu mundo agora.
— Onde você disse que morava? — Perguntou.
— Harrisburg, Pensilvânia. Rio Susquehanna e a porra toda.
— Parece adorável.
— Não é — Ele cuspiu. — É apenas propaganda.
— E sua família?
Emmett apareceu na porta com a toalha sobre os ombros.
— Mudaram para São Francisco. Essa é uma cidade de verdade.
California Dreaming... — Agora a música entoava em seus pensamentos.
Jensen não esperava sentir saudades de casa tão cedo. E mais que isso, desejar conhecer outros lugares. Quatro anos parecia tempo demais para ficar no mesmo lugar e ter as mesmas ambições e não questionar cada uma de suas escolhas idealizadas. Seu pai costumava dizer que falhar só é uma opção a partir da desistência. Surpresa seria se começasse a ouvi-lo agora que suas palavras tornaram-se as palavras sorrateiras de Laurel.
— Boa tarde, senhoritas — Disse a jovem garota de black power, regata verde e short estampado em frente a porta do dormitório. Jensen sentou na cama para ver melhor. — Interrompo alguma coisa?
— Rylee Gauthier, sempre um prazer — Emmett não soava assim tão convidativo.
— A casa da Theta Kappa Theta está em reforma e precisa de dois homens fortes, másculos e viris para ajudar a carregar os móveis e equipamentos. Podemos contar com a ajuda do nerd asiático e do... — Olhou para Jensen. — ...Namorado de Nathaniel Strauss? — Fez uma careta.
Jensen não achava que podia piorar.
— Adoro quando as pessoas me chamam assim — Sorriu fingido.
— Ótimo! — Ela bateu uma mão na outra. — Nos encontramos lá embaixo. Por favor, usem algo sexy.
— Não tenho algo assim para vestir — Emmett contrapôs.
— Não seja tão duro consigo mesmo. Sua camiseta do Capitão América é uma gracinha.
E de repente ouviram alguém chama-la. Uma garota de tranças loiras abriu a porta do quarto e a puxou pelo braço, alertando sobre um dos professores na escadaria principal do The Lodge. As duas saíram correndo, aos risos, sem se preocupar em fechar a porta. Outras três garotas vestidas nos mesmos trajes, só que em cores diferentes, as seguiram corredor adentro.
— Você a conhece, não é? — Jensen torcia pelo sim e esperava pelo não.
— Rylee? — Emmett foi até o armário. — Nós namoramos no ensino médio.
— Homem de sorte — Era uma clara ironia. — Podemos?
— Espere. Minha camiseta do Capitão América deve estar por aqui em algum lugar.
Jensen torcia para que não encontrasse – e esperava vê-lo escolher qualquer outra coisa pior.


      A casa da Theta Kappa Theta localizava-se a oeste do campus conforme seguiam as vias até a área de urbanização. A estrutura central, de fachada triangular, fora coberta por lonas de plástico e andaimes de alumínio temperado, enquanto os segmentos laterais exibiam um novo tom de amarelo queimado para o novo semestre. No lado interior, quase tudo necessitava de acabamento. A extensão do assoalho foi coberta por lonas complementares, onde foram posicionadas duas escadas portáteis de madeira e um conjunto de latas de tinta.
Jensen, Emmett, Rylee e a garota de tranças loiras ficaram responsáveis pela pintura da cozinha e da repartição dos fundos, especificamente. Levou uma hora até que terminassem, entre um e outro gracejo. Piadas, imitações cômicas dos professores, selfies com o celular, e até uma pequena de tintas com armas de brinquedo – quando a líder da casa não estava olhando. No final, deitaram-se sobre a lona central, um ao lado do outro.
Jensen precisou tirar a camiseta para evitar de inutiliza-la.
— E agora? — Perguntou aos outros três.
— Tem festa hoje à noite na Delta Beta Psi — Rylee anunciou. — Devemos ir.
— Não sinto meus dedos — Emmett abria e fechava as mãos seguidamente.
Ao ouvirem o ruído de notificação, checaram seus celulares. Alarme falso para todos exceto Jensen, que deixara o aparelho sobre um dos degraus da escada removível em frente a porta dos fundos.
— Mal posso esperar pela Hell Week — Ele foi até lá.
— Isso é tão injusto — Disse a jovem de tranças. Melissa Lionel, se Jensen estava lembrado. — Levei seis semanas para ser oficialmente admitida na Theta Kappa Theta, e você, que acabou de chegar ao campus, já tem lugar reservado entre os Deltas.
— Eu herdei este lugar, é bem diferente — Checava as novas mensagens.
O desfile para a linha da Sebert Designs teria início dentro de duas horas no salão principal do New Capitale, em Manhattan. Jensen lamentava não poder comparecer; Alex desfilaria naquela noite e Viola precisaria de todo o apoio que encontrasse.
— Entrega para o Senhor Jensen McPhee — Um homem de uniforme e boné azul apareceu na porta dos fundos.
— Para mim? Aqui? — Ele estranhou.
— São as políticas do campus — Rylee ergueu-se no chão, sustentando o peso do corpo sobre os dois cotovelos. — As encomendas só podem ser entregues aos destinatários.
— Mas eu não moro aqui.
— Alguém deve ter dito que estava aqui.
Fazia sentido. E não importava, afinal. Jensen só fez assinar os documentos e pegar o caixote. A ornamentação em papel presente de múltiplas cores e o laço vermelho no topo o fizeram desconfiar de Laurel automaticamente. Este seria o sexto – ou o sétimo – presente que recebeu desde sua chegada ao campus, há três dias.
— Quem mandou? — Emmett quis saber.
Nenhum dado do remetente aparecia disponível no cartão.
— Provavelmente da minha mãe — Jogou a caixa no chão para os curiosos. — Não estou interessado.
Mas Rylee estava. Ela engatinhou até a caixa, já com a permissão para abri-la.
— Tem muita coisa aqui dentro — Chacoalhou próximo a orelha.
No tempo em que vestiu a camiseta, Jensen pensou melhor sobre aquela situação. Laurel nunca deixava de assinar seus presentes e escrever cartões amorosos, pois a intenção era mostrar ao filho o quanto se esforçava para recuperar seu afeto. E não sendo ideia dela, só poderia ter sido...
— Espere, não abra! — Ele gritou tarde demais.
Um conjunto de pênis de borracha enegrecidos saltou sobre a lona ao mesmo tempo em que um homem efeminado gemia e os consolos acoplados ao fundo da caixa espirravam leite de vaca sobre o rosto de Rylee. Emmett e Melissa olhavam incrédulos.
— Ai meu deus! — Rylee passou as mãos sobre os olhos. — Esse brinquedo acabou de gozar na minha cara. É incrível! Quem fez isso?
— É, Thayer está aqui — Jensen deduziu.
Viu-o escorado, de braços cruzados, no acabamento da porta dos fundos. Usava um moletom fino em azul claro com uma extensa gola v, conciliado a uma camiseta tradicional branca, por baixo, e uma calça chino amarronzada.
— Alguém pediu um orgasmo? — Ele sorria como uma criança travessa.
Jensen pegou depressa uma das armas sobre os degraus da escada e atirou para acerta-lo no rosto.
— Qual é? Para com isso! — Com uma mão Thayer cobria os olhos, e com outra cobria a primeira mão. Três jatos depois e ele parecia tão sujo quanto Jensen e seus amigos após uma tarde produtiva de reformas.
Os dois se secaram usando duas toalhas bordadas com as iniciais da Theta Kappa Theta antes de saírem pelo campus. Jensen, dessa vez, ficara apenas de expectador. Era sobre Thayer que caiam os olhares, os sorrisos bobos e os grandes suspiros, não importava se fossem homens, mulheres, seguranças, ou até mesmo professores. Um dos alunos que deixava o edifício Hitchcock bateu de encontro com ele e sorriu ao longe como se o despisse com os olhos. Thayer retribuiu tão provocante quanto achou que deveria.
— É bom saber que você continua fodendo tudo que se move — Jensen caminhava ao seu lado.
— Isso não é verdade, estou de dieta.
— De garotas, eu suponho — Tomou um gole de cappuccino.
— Soube que você está estudando na minha instituição.
Referia-se ao Thayer School Of Engineering, onde esperava se formar em quatro anos. Jensen pensou nesta mesma eventualidade durante a admissão.
— A cada dia mais perto de ser um engenheiro civil.
— Que bom que só faltam 1456 dias.
— E você, algum progresso?
— Eu não diria isso — Thayer alocou as mãos no bolso. — Meu treinador me convenceu a fazer inscrição para uma competição regional na Argentina durante o verão, mas não é um bom momento. Acabei de receber uma proposta de emprego em Manhattan.
— Se você está procurando um conselho motivacional que o ajude a escolher uma carreira, não sou a pessoa certa. Este é meu terceiro dia na faculdade e eu não faço ideia do que estou fazendo e do que vai ser do resto da minha vida.
— Você vai construir alguns edifícios e merdas assim — Precisou esquivar-se para dar passagem a um jovem de bicicleta. — Talvez eu contrate seus serviços — Disse, dando de ombros.
Jensen poderia gostar do Thayer otimista, só não mais que o Thayer bêbado.
— Olhe para você, falando sobre o futuro.
— As pessoas precisam saber que eu definitivamente não estou morrendo de câncer — Colocou-se em frente a ele e tomou-lhe o cappuccino. Já no primeiro gole sentiu aquecer os lábios. — O que você sugere? Seja diabolicamente criativo.
— Minha futura fraternidade dará uma festa hoje à noite. Se você me envergonhar o bastante, talvez não me deixem ingressar.
— Por que eu faria isso? Eu nunca o privaria de sexo gay no dormitório — Atirou o copo de plástico na lixeira. — Mostre-me o caminho.
Antes disso, precisariam de roupas novas. Jensen conhecia o lugar perfeito.


Alex esperou até o fim da tarde para realizar a mudança.
Estava sentado sobre uma mesa de carvalho, com uma taça de Chateau em mãos e o pôr-do-sol a sua disposição para além da vidraça. O céu cintilava em tons de roxo, azul e alaranjado sobre seus olhos, refletindo igualmente sobre o porta-retratos com a foto dos irmãos e as caixas de papelão branco espalhadas pelo apartamento. Na linha do horizonte, o sol já não era mais que um pequeno feixe de luz sobre uma Toronto notívaga que começava a mostrar brilho próprio. E havia também o mar; Alex esperou tempo suficiente para vê-lo de perto.
A fim de repousar a taça no chão, entre suas pernas, ele acabou soltando cedo demais para manter o equilíbrio. Parte do vitral se partiu durante a queda e vinho se espalhou pela extremidade exposta do tapete.
Foi quando a campainha tocou.
— Só um minuto! — Ele correu com os cacos, os despejou na lixeira, limpou as mãos com um guardanapo e correu para atender.
A garota estava prestes a tocar a campainha outra vez quando ele abriu a porta. Pelo pouco que vira, parecia encantada.
— Olá, sinto muito pelo incômodo. Sou Octavia Delare, do 1804. Estamos no meio de uma confraternização e o gelo ainda não foi entregue. Você não teria algum, como um favor?
— Gelo? — Alex pensou por um instante. — Sim, claro, acho que tenho — Foi em direção à cozinha. Quando voltou, viu que ela dava seu melhor para fingir que não bisbilhotava o apartamento pela porta entreaberta. — Aqui está — Entregou-lhe uma vasilha com todos os cubos de gelo que tinha.
— Muito obrigada. Acho que você não me disse seu nome.
— Alexander... Field — Seu pai adotivo costumava chama-lo pelo nome completo, e Field era sobrenome da autora do último livro que leu: O Fantasma de New Britain.
— Bem americano, não como o meu.
— É, eu acho... — Ele desviou o olhar.
Ela tinha a pele clara, os cabelos negros e lisos na altura dos seios e os olhos gateados em verde vivo. Seus salto-altos compensavam a baixa estatura de forma simples e elegante, do mesmo que fazia o casaco escuro a justificar a área do busto. A maquiagem pesada no rosto talvez indicasse algum traço de rebeldia; era adolescente, ou um pouco mais velha que isso. E estava interessada em mais do que simples cubos de gelo. Alex nunca viu alguém sorrir daquele jeito e por tanto tempo sem motivo aparente.
— Você mora sozinho? — Ela perguntou.
— Sim, acabei de me mudar — Ele esperava que as caixas de papelão já tivessem entregado.
— Podia passar na nossa festa, se quiser. Tem comida e bebida para todos os gostos.
— Não sei se é uma boa ideia.
— Só por quinze minutos — Ela insistiu. — Farei uma margarita de agradecimento com gelo e limão.
Uma proposta irrecusável. Alex apreciava a solidão à moda antiga, mas não estava disposto a se privar da companhia de outras pessoas. Pouco importava que estivesse sendo convidado com segundas intenções.
— Tem certeza que não vou atrapalhar?
— Venha comigo — Ela tomou a frente. — Vou apresenta-lo ao esquadrão suicida.


Matt contratou duas acompanhantes de luxo e étnico diferencial para fazer-lhe companhia na piscina do hotel. Eventualmente as jovens deixavam o salão para que atendesse uma ligação ou trouxessem os aperitivos requisitados. Foi durante uma de suas deixas que Mia decidiu agir.
  — Ligue-me depois — Matt despediu-se ao celular.
Deixou o aparelho de lado e esticou os braços sobre o mármore da piscina. Ergueu a cabeça sobre a borda, de olhos fechados, e com um sorriso formado nos lábios. Quando ela mergulhou, pôde ouvir apenas o barulho de água esguichada. Ela nadou submersa até ele num maiô preto camuflado com decote no busto; de uma mancha em desfoque sob imersão a descoberta de seus lindos olhos verdes de volta a superfície
— Michaela Strauss — Ele só teve o prazer de dizer.
Mia o prensou contra a borda da piscina e agarrou seus testículos com as unhas por baixo do short.
— Deixe-me contar a história do garotinho branco que gostava de brincar de bad boy. Ele conheceu a mulher errada.
— Está me machucando... — Ele gemia.
— Pensei que gostasse de jogar duro. Por isso mandou seu homem dopar Natasha Fairley em um pub e leva-la para sua casa.
— Não sei do que...
— Pare de mentir — Puxou-o com mais força.
Matt sentia-se prestes a perder o controle de sua dor.
— Tudo bem, tudo bem, eu mandei. Estava tentando pegar você, não ela.
— Neste caso, querido, deveria ter me procurado — Beijou-o de surpresa.
Matt viu um flash de câmera atravessar uma janela do hall esquerdo, por entre as árvores. Uma estranha movimentação rumorosa sucedeu em meio às sombras.
— O que é isso?
— Vantagem — Ela sorriu cinicamente. — Você está deixando Londres, Senhor Cavanaugh. Vai arrumar suas malas, pegar o primeiro voo para qualquer inferno e nunca mais se aproximar de mim, Lola ou Natasha. Faça isso e meu amigo não divulgará suas fotos à imprensa. Em prol ao controle de danos, temo que o Senhor Bart Cavanaugh o afastaria de suas funções na empresa.
— Como você...?
— É claro que há fotos suas e de suas acompanhantes de luxo em momentos íntimos — Subiu as escadas para fora da piscina e tirou o excesso de água dos cabelos. — Não disse prostituta em respeito a elas e sua futura esposa, não a você — Olhou de volta para ele — Temos um acordo?
Ele concordou com a cabeça, mesmo relutante.
— Que bom — Ela continuou. — Agora mande um recado meu para Gwen. Diga para que venha até mim pessoalmente, não mandar um homem para fazer o serviço.
— Diga você mesma.
Para seu agrado, ele ainda se contorcia de dor. Mia talvez tivesse empregado muita força; não tinha culpa, sua mãe ensinou desta forma.
— É evidente seu desafeto pelas mulheres, Matthew. Como se sente sendo esmagado por uma de nós?
— Como se minhas bolas fossem cair.
— Oh, querido, há medicamentos para isso — Ela disse por último.
Saiu levando uma de suas toalhas e a caixa de bombom Delafée que ele ganhou de presente.


— Ele é um ótimo garoto — Disse a Madre Esther.
Estavam diante ao painel observatório do salão de jogos do orfanato Amazing Grace. Nate observava Gus montar seu próprio posto de gasolina com lego, dinossauros, sayajins e bonecas Polly.
— Ele passou por muita coisa — Tinha certeza. — Alguém já tentou adota-lo?
— É muito difícil nestas condições. A maioria dos pais tem preferência a recém-nascidos, não a garotos crescidos. Apenas duas entre dez crianças na sua idade conseguem um lar antes dos dezoito anos.
Suas palavras lhe partiam o coração. Nate não gostava da ideia de deixa-lo ali, sozinho, para tentar a sorte. E Gus também lhe havia alertado sobre valentões que escondiam seus brinquedos para que levasse bronca das outras irmãs. Outro bom motivo.
— Ele não pode ficar aqui...
— Peço perdão pela intromissão, mas você me parece um jovem muito responsável, Senhor Strauss. Poderia realizar um cadastro e entrar na fila de espera.
— Eu? — Nate cogitava pela primeira vez. — Não, não eu.
— Não seria tão difícil com sua condição financeira. E é notável o quanto vocês dois se dão bem   Ela havia percebido.
Passaram apenas duas horas juntos, mas Nate sentia uma forte conexão. É claro, para ele, isso pouco queria dizer. Duas horas estavam bem longe de ser uma vida inteira. E se ficasse doente? E se matasse aula? E se crescesse para se tornar um jovem rebelde? E se fugisse de casa? E se fosse gay, e a pessoas culpassem o pai pelas escolhas do filho? E se fosse hétero e lhe desse esse desgosto? Nate riu sozinho só de imaginar.
— Não posso fazer isso, posso?
— Você o trouxe em segurança de volta ao orfanato, talvez seja melhor nisso do que imagina. Obrigada, querida — Ela agradeceu a uma irmã que a entregou os relatórios. Antes que fosse embora, precisou chama-la a atenção. — Irmã Irene, a data não corresponde. Estamos em vinte e sete de março, não vinte e oito.
Vinte e sete de março. Nate se havia feito em um estado catatônico.
— Preciso ir — Disse a Madre Esther, sem dar qualquer explicação.
Chegando ao hotel, seus pensamentos lhe eram como um feixe sombrio indistinguível que falhava ao tentar reprimir. Sua cabeça doía, seus olhos ardiam, suas mãos formigavam e sua língua estava seca. Achou estar prestes a desmaiar, mas nada aconteceu; porque o que quer que o estivesse atormentando, gostaria de mantê-lo acordado.
Vinte e sete de março. Viola o estava esperando para o desfile e ele sem forçar para manter-se em pé. Não sabia quanto tempo havia passado na estrada, dando voltas sem parar. Talvez minutos, talvez horas.
Vinte e sete de março. Olhou o relógio na parede. Um minuto se passou. Dois minutos. Cinco minutos. Dez minutos. E ele permanecia imóvel.
Vinte e sete de março. E finalmente, a meia noite do dia vinte e oito.
— Feliz Aniversário, Theon — Sussurrou.
Ele mesmo não mais estava lá.

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     5x08: This Is the Closest You Got to Being a Communist Bitch (18 de Novembro)
     Como dito semana passada, os capítulos 8 e 9 farão parte de um especial que tem como principal evento o desfile de Viola. Nate reencontrará Dominik, Alex fará novos amigos na festa de Octavia e Jensen passará pelo teste de iniciação da Delta Beta Psi ao lado de Thayer. Mia, Lola e Natasha, enquanto isso, descobrem que uma noite das garotas pode terminar de muitas maneiras. Amber e Kerr retornam no capítulo 10, para quem está com saudades.
     Curiosidade: Na cena em que Alex conhece Octavia, ele diz que se chama Alexander Field; Alexander por causa do pai adotivo, que o chamava assim, e Field em homenagem a autora do último livro que leu: O Fantasma de New Britain. Sim, esta autora é Chloe Field. E sim, The Double Me e A Punhalada se passam no mesmo universo, que meus amigos apelidaram carinhosamente de Lindleyverse. Quem leu A Punhalada 4 deve lembrar que a Strauss International foi mencionada algumas vezes junto a reuniões misteriosas que Aaron Estwood não cansava de recusar. Além disso, o pseudônimo que Amanda escolheu para forjar a própria morte em A Punhalada 2 foi Natalie Strauss, uma clara homenagem aos gêmeos. Devemos lembrar que A Punhalada 4 se passa no ano de 2027, então podemos dizer, no mínimo, que a Strauss International tem um grande futuro pela frente.

      Reservei o Dreamcast desta semana para homenagear o crush supremo de todos os leitores, Thayer Van Der Wall. Não estou 100% certo da escolha do ator, mas não encontrei nenhum outro com estas mesmas características. O único diferencial é o cabelo; o Thayer nos livros tem os cabelos negros e penteados para cima, não como o ator Brendan Dooling nas fotos a seguir. É só um detalhe mesmo. Enfim, se alguém conhecer algum ator branco, de cabelos negros e com idade até 24/25 anos, sabendo que Thayer tem 21 até o momento, pode me recomendar.

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