Especial

Foto:

Livro | The Double Me - 5x06: Best Friends with Benefits, No [+18]

5x06: Best Friends with Benefits, No
“Vivendo o sonho americano".

       O vídeo ficava cada vez mais autêntico a cada repetição.
— Ele é um ótimo ator — Alex disse. — Consegue ser eu melhor que eu mesmo.
— Talvez vocês sejam mais parecidos do que imagina — Ivy serviu-lhe uma xícara de café.
Vestia um moletom verde musgo que parecia despelar em fiapos, e uma calça flare na cor vinho, com bocas de sinos. Nas unhas o esmalte azul celeste contrastava com seu tom de pele. Nada realmente havia mudado desde a última vez em que Alex a viu, exceto pelo corte de cabelo. Ivy trocara seus cachos ruivos por mechas onduladas que chegavam até os ombros, junto a uma franja parcial à esquerda.
— Há quanto tempo isso acontece? — Alex introduziu uma nova guia no navegador, de onde apurava os ensaios fotográficos que o irmão fez em seu nome.
— Não tenho certeza. Após o atentado, os jornais disseram que Alex e Mia voltaram para casa, mas Nate fugiu do local.
Fazia sentido. Nate não teria outra oportunidade de tomar seu lugar se não fosse na noite do atentado, tendo em vista a similaridade de suas fantasias. Bastava trocar a gravata vermelha pela azul, uma máscara pela outra e colocar as lentes de contato. No mais, contaria apenas com sua vocação para interpretar.
— Minha reputação nunca esteve pior — Disse Alex. — Aqui diz que ele espancou um dos modelos da sua agência em frente a uma boate ontem à noite — Virou o laptop para que ela visse.
— Talvez o outro garoto tenha merecido.
— Não sabia que você tinha um preferido.
— Eu não tenho. Só estou dizendo que seu irmão não fez tudo o que fez porque seria divertido. Se Gwenett Strauss tivesse unido um time para tirar tudo o que era seu, não aproveitaria a primeira oportunidade de escapar?
Alex odiava quando ela tinha razão. Ainda assim, ter alguém usando seu nome e relacionando sua imagem a agressões físicas e atentado ao pudor lhe era perturbador. E não tinha certeza se esta era uma mentira que Nate contava a mídia ou do tipo que contava a todos, o que incluía sua família.
— Não é isso. Ele não parece estar bem.
— E você está bem? — Ela tomou coragem para perguntar. — Sete meses pode ser muito tempo.
— Não para mim.
— Você ficou todo esse tempo em um quartel?
— Sim — Ele tomou o primeiro gole de café. Não da manhã, dos últimos dois dias. — Eu tenho uma amiga. Ela promoveu a viagem e a estadia em segredo.
— Então Nate não era o único que estava tentando ser outra pessoa.
Ele olhou para ela. Era tão diferente, mas estava tão cansado de dialogar...
— Aprendi muito sobre mim lá dentro.
— Algo que ainda não saiba?
Ivy poderia colocar desse jeito. A ele, aprazia às memórias que lhe vinham em flash. Sexo, sexo, exercícios, acordar cedo, aulas teóricas, sexo, brigas, exercícios, sexo, sexo, fome, aranhas, sexo e mais sexo. Em algum universo paralelo, Nate o invejaria.
— Algo que eu nunca tinha visto.
— Bem, você está aqui. Isso quer dizer alguma coisa — Ela levantou. — Preciso abrir a lanchonete. Você ficará bem?
— Claro, não se preocupe.
— Tem pizza congelada no freezer, caso sinta fome. Volto em algumas horas — Beijou-o na têmpora.
Alex esperou para ouvir seu carro partir, do lado de fora, para começar a se mexer. Tirou a farda, guardou-a na mochila, vestiu as peças que separara na mala, esquentou a pizza e parou na sala de estar. Uma foto mostrando ele, os irmãos e a mãe biológica lhe chamou atenção na estante. Colocou-a na parte frontal de sua mala e enfim saiu.
Ivy com certeza não se importaria.
Na rua em frente à casa tomou o primeiro táxi de passagem. Este o levou até o aeroporto mais próximo para pegar seu voo, com destino ao Canadá. Foi em um telão de propagandas defronte à área de embarque que viu o outdoor do irmão pela primeira vez. Nate aparecia usando terno e gravata e de pernas cruzadas sobre uma poltrona negra avermelhada, de modo que o calcanhar de uma de suas pernas pendesse sobre o joelho da outra. As palavras Alex for Emporio Armani acompanhavam-no em letras de forma sobre o cenário empresarial.
Divirta-se, irmão – Alex desejava em pensamento, com um sorriso formado. Até onde você aguenta?


— Beba isto — Mia entregou-a o copo.
Natasha podia sentir o aroma desagradável da mistura verde pastosa, à medida que as bolhas estouravam na superfície.
— Isso é lodo? — Fez uma careta. — Havia um cenário em Mortal Kombat II com essa mesma substância.
— Cale a boca e tome, você se sentirá melhor.
— Não havia um quarto mais agradável?
— É a suíte presidencial. Não diga que não é o bastante para você.
— É ótima. Eu só não teria escolhido este hotel...
É claro; Mia ofertou um ar de risos debochado.
— Falei com sua mãe — Disse Lola, de volta a sala de estar; o celular em mãos. — Ela quer que você pegue o primeiro voo de volta à Nova York.
— Aquela estúpida — Natasha arquejou.
Mia e Lola não acharam ter entendido direito, se estivessem mesmo falando da mulher cuja reputação Natasha tentou vingar pelos últimos sete meses.
— Isso é... normal? — Lola perguntou a ninguém em particular.
— Ela gosta de me controlar — Disse Natasha, tomando mais um gole. — Quando eu disse que viria à Londres com as amigas, ela tentou me convencer de que havia um serial killer à solta.
— Bem, nisso ela acertou — Mia leu no jornal que acabara de pegar. — Mas você não é o tipo dele.
— Por que não?
— De acordo com a matéria, ele gosta das loiras.
Isso dava a Natasha uma nova perspectiva da sua realidade.
— Espera — Ela afastou as cobertas abruptamente. — Você está dizendo que ser ruiva pode ter salvado a minha vida em Londres?
A reação mais apropriada fez-se em uma troca olhares entre as outras duas.
— Foi exatamente o que eu não disse — Mia deixou claro, mesmo que ela não estivesse prestando tanta atenção.
— Eu quase morri duas vezes durante a viagem. Primeiro aquele homem no bar, agora o serial killer. Talvez eu tenha sido escolhida para algo, sabe?
— É, falando nisso... — Mia sentou ao seu lado na cama. — Você precisa decidir o que fazer.
— Em que sentido?
Natasha ainda não sabia sobre Gwen, Matt, Lexi e a participação que tiveram na tentativa de sequestro da noite passada. Seria bom para Mia – e seus irmãos – que restringisse algumas informações.
— Você pode prestar queixa, se quiser — Mia disse, apenas.
— Estaremos lá por você — Lola avançou dois passos.
A de cabelos ruivos encarou-as nos olhos.
— Fariam isso por mim depois do que eu fiz?
— Isso não é sobre nós duas, é sobre todas nós — Mia declarou. — Quantas garotas antes de você ele conseguiu levar para casa quando ninguém estava vendo? Ele precisa pagar.
Muito em breve, seria nos seus próprios termos. Por enquanto, contentava-se em fazer Natasha tomar o controle.
— Você está certa — A garota assentiu.
Não lembrava muito da noite passada, embora as outras duas tivessem preenchido as lacunas. Mas do entorpecer dos seus sentidos a chegada no hotel, havia uma soma de memórias caóticas que precisava entender. Não tinha medo de chegar a fundo disso caso precisasse; o que lhe afligia estava além do seu controle. Existiria sempre uma brecha para que o mesmo acontecesse, por quanto fosse uma garota de um metro e setenta que não fora ensinada a se defender – e por quanto houvesse homens capazes. Bastava uma oportunidade.
— Eu quero fazer isso — Decidiu. — Eu quero pegar o filho da puta.
— Tenho o cartão dele — Mia ergueu em mãos.
— E o carro também — Lola ergueu as chaves.
— Garotas... eu tenho uma ideia.
As três então foram às docas em seus respectivos sobretudos, e cada uma armada com um cano de ferro. Não sobrou muito do veículo quando elas terminaram. O capô afundou, os pneus furaram, o teto ruiu sobre os bancos e os vidros foram raspados.
— Me sinto bem melhor — Disse Natasha, ofegante.
Mia e Lola compartilhavam do mesmo sentimento.
— Vamos à polícia agora? — Lola perguntou.
— Vamos nos trocar primeiro. Tenho o look perfeito para a ocasião.


       Eles deixaram a cidade à uma da manhã para cruzar a fronteira interestadual. Passaram por Long Island, New Haven, Middletown, Springfield e Hartford, no Condado de Windsor, até que enfim chegassem a Hanover, New Hampshire, à nordeste do país. Uma viagem que, de início, seria de cinco horas e meia, e agora entornava às sete sem que deixassem as estradas.
Quase sempre eram vistos cantando músicas da rádio, inventando histórias de terror ou rindo de qualquer coisa que não teria a menor graça quando seguissem seus caminhos. Jensen ficou com o primeiro turno no volante após saírem da mansão McPhee, e seu irmão com o trajeto do pedágio ao local de destino.
Do alto da colina podiam vislumbrar antecipadamente as instalações da Dartmouth College.
— Então isso é uma faculdade — Jake observava.
— Se sente tentado?
— Nenhum pouco. Eu não seria mais a ovelha negra dos McPhee se me formasse.
— Faz alguns meses que disputamos este título.
Jake mostrou um meio sorriso. Sabia que era meio verdade e meio mentira, naquelas condições.  
— Já sabe qual das casas vai ocupar?
The Lodge, na South House — Jensen observava as imagens no cartão de visitas. — Cortesia de Patrick McPhee. Agora ele me tem exatamente onde quer.
— Ele também reservou uma suíte individual para você?
— Eu não deixei — Lembrava bem daquela conversa. Laurel, sua mãe, foi quem defendeu seu ponto de vista. Com segundas intenções, se bem a conhecia. — Disse a ele que queria uma experiência completa na faculdade, o que incluía dividir o dormitório com alguém. Aliás, isso nem é importante. Pretendo ingressar em uma fraternidade assim que possível.
— Contanto que não seja a Delta Beta Psi...
A fraternidade de Patrick McPhee. Jensen tinha um lugar reservado como herdeiro de um dos antigos líderes.
— Não é tão ruim — Gostaria de acreditar. — E pode até ser meio sexy, como frequentar um vestiário masculino.
— Ah, cara... sentirei pena do cu desses universitários quando você chegar.
Jensen gargalhou. E assim, tão repentino, pôs-se a refletir.
— Eu estou solteiro. Isso nunca tinha acontecido antes.
— Ir à faculdade é como ir ao Big Brother. Você precisa ir solteiro ou aquele lugar o fará solteiro, eventualmente.
— Então tudo está correndo como o planejado.
Exceto por Nate, ele quis dizer. Fazia sete meses. Não um, nem dois, como no verão; sete. Nate não estava a uma mensagem de distância ou esperando-o ficar disponível nas redes sociais. Jensen ainda deixava mensagens em seu correio de voz para o caso de sentir-se tentado a voltar para casa. Não estaria lá se realmente acontecesse, mas sua família estaria. Eles também sentiam sua falta com a urgência que Jensen conhecia.
— Olhe quantas pessoas — Jake diminuiu a velocidade.
À frente avistavam um conjunto de edifícios em tom carmesim com janelas verticais de acabamento nevado; as do segundo andar, de topo circular; as do primeiro, retangulares. O edifício principal, cercado por vegetação, ostentava um relógio analógico sobre a torre na coluna central.
— Chegou a hora — Jensen foi o primeiro a descer.
Juntos foram atrás das caixas de papelão que acomodaram no porta-malas. Por incrível que viesse a parecer, Jensen não levou muitos pertences. Havia algo extremamente convidativo na ideia de renovar tudo o que precisaria ali dentro, e quando precisasse, ou se precisasse.
— Vou fazer o check in — Correu enquanto o irmão redistribuía o peso nas caixas. Alguns minutos depois estava de volta com a autorização assinada.
— Leve essas duas — Jake pediu.
— Tudo bem.
Nem dois passos ele havia dado e o fundo da última caixa cedeu por baixo de suas mãos. Os estudantes que não se puseram a rir do seu pequeno acidente simplesmente ignoravam-no.
— Nada mau para o novo perdedor do campus — Jake ajudava-o a recolher.
— Ta brincando? — Seguiu pela entrada do pavilhão, deixando o irmão dois passos atrás. — A melhor coisa que pode me acontecer é ser desajustado na faculdade. Quem sabe eu passo despercebido.
— É a hora certa de tentar coisas novas.
— Por isso não usa mais seus piercings?
— Quando disse coisas novas, não quis dizer que está tudo bem ser a menina malvada do campus.
E como ironia, foram direto a um grupo de aspirantes à irmandade da Kappa Rho, que distribuíam panfletos informativos para admissão. Um deles foi parar nas mãos de Jensen por acaso ao passar por elas.
Go greek — Leu em voz alta. — Inspirando mulheres a fazer a diferença.
— Que original.
Estavam no edifício Lodge, a maior entre as três casas da South House Community. A ornamentação clássica representava antigas tendências da era vitoriana na confecção do assoalho e no papel de parede, sempre de acordo às paletas de tons como marrom, preto, vinho e suas variações. Os dormitórios, entretanto, foram elaborados a partir do que havia de mais moderno. Uma cama fora posicionada na extremidade de cada parede e junto a duas escrivaninhas. No centro, um sofá de quatro lugares e uma poltrona reclinável cobriam a maior parte do tapete indiano. Também havia um armário embutido para cada estudante e um banheiro duplo, caso os residentes tivessem urgência em utiliza-lo ao mesmo tempo.
Os irmãos empilharam as caixas ao lado da segunda cama.
— Nossa jornada termina aqui — Disse Jake, de volta ao pátio principal. — Ofereceria para ficar com o carro, mas algo me diz que você não vai precisar.
— Diga a Laurel que a resposta continua sendo não. Se eu quisesse um carro novo, teria quase um bilhão de dólares da minha herança para investir.
— Bali ainda está de pé nesse verão?
— Quer que o avião caia?
— Acho que entendi — Jake assentiu em derrota.
Sete meses depois, Jensen e Laurel continuavam incapazes de dividir o mesmo cômodo. Não queria imaginar o que aconteceria se dividissem a mesma cabine a trinta e cinco mil pés do chão por algumas horas.
— Se você tem algo a dizer, diga. Só terá outra oportunidade no verão — Não era insistência, Jensen apelava mais para a curiosidade.
— Eu sei que você é difícil de lidar, mas nossa mãe também é. Tudo a seu tempo, J — Tocou-o no ombro esquerdo solenemente. — Agora preciso ir. Explore o campus.
— Esse é o plano.       
— E tente não beber tudo o que vir pela frente.
Este também era o plano.
Quando o irmão partiu, Jensen voltou ao dormitório para organizar seus pertences. Arrumou a cama, guardou as roupas no armário mais próximo, deixou os livros sobre sua escrivaninha, separou os produtos de higiene pessoal para levar ao banheiro e abriu a janela. A vista da torre do relógio no edifício principal mostrou-se fascinante; precisava tirar uma foto.
Vivendo o sonho americano – escreveu na legenda. Logo após a publicação, enviou a mesma foto para Nate via mensagem privada. Não esperava que respondesse – não após as quinhentas e vinte três mensagens ignoradas e em contagem progressiva. Esperava que lesse, ao menos, em qualquer lugar do mundo onde estaria feliz por ele.
Emmett, seu novo colega de quarto, o flagrou no meio de outro click para o instagram. Tinha os cabelos negros cortados com franja sobre a testa e os olhos estreitos de descendência oriental. Com uma mão carregava um teclado portátil, com a outra, segurava a alça de sua mochila. Jensen não pôde evitar se sentir intimidado.
— Quem é você? — Ele perguntou.
Jensen fechou os olhos pausadamente e suspirou fundo.
— Graças a Deus alguém que não me conhece.
Em Nova York, a história teria sido diferente. Nate e Judit precisaram dobrar o número de seguranças para impedir que os paparazzi da região pulassem o muro da propriedade da nova mansão. Haviam se mudado há dois dias, como planejado. E naquela manhã, decidiram quebrar o jejum no jardim dos fundos.
Nate fora o último a acomodar-se à mesa à sombra das árvores. Pietro, o namorado de Lydia, fazia sua primeira visita formal à família Strauss.
— Isso é croque monsieur? — Nate ouviu um deles dizer.
Não era como se estivesse prestando atenção em algo que não fosse a foto de Jensen. Vivendo o sonho americano; sorria alegre sem se dar contar.
— Encomenda, senhor Alex — Uma voz lhe trouxe de volta.
Valeska levava consigo uma caixa ornamentada em papel presente de múltiplas cores com um laço vermelho no topo. Nate pediu para que a deixasse sobre o espaço vago na lateral esquerda da mesa. Este foi seu primeiro erro; não voltar ao quarto para ter privacidade. O segundo continuaria sendo abrir uma encomenda que não mostrava os dados do remetente.
Uma válvula foi acionada no mecanismo da caixa, e assim, um conjunto de pênis de borracha saltou sobre a mesa de café ao som de um gemido estrídulo – que pertenceria a um homem efeminado. Os jatos de leite de vaca que acertaram seu rosto eram esguichados de pequenos orifícios no topo dos pênis acoplados ao fundo, na tentativa de simular um orgasmo masculino. Terminou com a mesa cheia de genitálias, os presentes de olhos arregalados e Nate cuspindo uma porção de leite sobre o moletom.
— Thayer está aqui — Nada mais explicaria o espetáculo. — Sinto muito por tudo isso... — Juntou tudo o que podia e correu com a caixa para dentro.
Thayer esperava-o no hall da mansão, escorado e de braços cruzados em um dos pilares de entrada. O sorriso nos lábios atestava toda sua culpabilidade. O olhar de Nate premeditava um assassinato.
— Vejo que recebeu meu presente. Tem um pouco de leite bem aqui... — Thayer tocou o canto dos lábios com o indicador.
— É minha vez agora.
— Esperava que pudéssemos conversar antes disso.
Nate logo o envolveu em um abraço apertado. Havia saudade a ser quitada, além do proveito em lambuzar suas roupas de leite igualmente.
— Okay, eu mereço isso — Thayer mostrou um sorriso conformado. Agora ambos dividiam o orgasmo por encomenda.


Nate o levou para além do jardim dos fundos, onde a propriedade dos Strauss encontrava uma floresta parcialmente erguida. Uma trilha fora feita para caminhada entre duas fileiras de carvalhos em direções opostas. Desde que a família Strauss se mudou, Nate tem usado o espaço para corridas cronometradas, e ademais, como chegou a dizer, para promover seu próprio isolamento consciente. Thayer era seu primeiro convidado naquela manhã.
Eles deitaram sobre o gramado em direções opostas, de modo que apenas suas cabeças ficassem alinhadas. Nate estava pensando se um deles realmente precisava quebrar o gelo ou se podiam somente apreciar a queda das folhagens sob a luz do sol. Não se viam há três meses, desde que Thayer recebeu uma proposta para competir como nadador na América do Sul, mas sempre fizeram bom uso das redes sociais.
Nate acompanhou todas as fases de seu tratamento até a recuperação semi total da musculatura. Thayer só precisava voltar ao hospital duas ou três vezes ao mês, o que não comprometia sua agenda olímpica ou as campanhas publicitárias com as quais passou a trabalhar. E no que diz respeito aos gêmeos Strauss, já não era segredo entre ambos. Thayer estava ciente de que Nate precisava ser outra pessoa pelo tempo necessário até resolver suas pendências. Nada melhor, então, que fazer o papel de seu irmão gêmeo. Os dois sentiam sua falta mais do que costumavam dizer um ao outro.
— Estou no clima para um shitty life — Thayer sugeriu.
O jogo consistia em tentar superar a última confissão do seu oponente com uma confissão mais infeliz sobre sua vida pessoal. Jogaram pela primeira no hospital, dois dias após a morte de Nick, e insistentemente nos meses seguintes até se tornar uma tradição. De certa forma, o shitty life provara ser mais eficaz que um desabafo convencional entre amigos.
— Você começa — Disse Nate.
— Acho que meu pai está tendo um caso. Pensei em flagra-lo com a possível amante em uma cena constrangedora, mas ele sabe o quanto sou ardiloso para essas coisas e passou a cobrir seus rastros religiosamente.
— Minha mãe pensa que sou meu irmão gêmeo porque só consegue nos distinguir pela cor dos olhos. Fui muito estúpido em acreditar que ela me veria por baixo de qualquer pele que eu vista.
— Certo — Thayer hesitou por breve. — Ainda vivo à beira do câncer. Tenho mais oito meses de tratamento contínuo e precisarei realizar exames invasivos pelo resto da minha vida. Isso no melhor dos cenários, é claro.
— Pelo menos você voltou a ser gostoso.
— Essa não é a questão.
— Nunca é.
Nate pensou em Jensen involuntariamente.
— O amor da minha vida acha que foi abandonado e eu preciso evita-lo todos os dias para não ter uma recaída.
— Ele nunca percebeu? — Thayer virou a cabeça, como se precisasse ouvir melhor.
— Contanto que eu não o beije, ele nunca vai perceber. Nos falamos pelo celular de vez em quando.
— Eu não saberia se você não me contasse. Que tipo de namorado isso faz de mim? Não descobri a tempo que o julgamento do Cameron era uma armação para salvar a fortuna dos Strauss e não soube dizer que você não era ele quando apareceu com as lentes de contato.
— Não seja tão duro consigo mesmo. Sou muito bom no que faço para meu próprio bem.
Thayer teria assentido se posição lhe permitisse. Pós uma das mãos na nuca para ficar entre os cabelos e o gramado.
— Meu irmão tem um namorado perfeito e eu tenho contas de hospital a pagar.
— Odeio quando você usa o câncer para vencer — Nate pairou sentado, uma mão sobre a testa e os olhos fechados. — Acho que tem algo errado comigo.
— Ainda estamos jogando?
— Tenho apagões recorrentes durante o dia. Há uma semana perdi os sentidos no meio de um ensaio fotográfico.
— Nossa... — Sentou-se também. — É definitivamente algo para se preocupar. Você não pode desfilar para Viola desse jeito.
— Não deixe o Thayer hipocondríaco tomar o melhor de você. Você ganhou.
— E essa é a minha deixa — Levantou-se então, assim como o outro. Algumas folhas mortas ficaram presas a roupa; bastou espana-las com as mãos.
Aquela poderia ser a visita mais curta que ele já fez. Nate não esperava que fosse embora antes que falassem sobre Dominik e tudo o que aconteceu no topo do Strauss Capital Hotel. Ou o que não aconteceu, para ser mais exato. Dominik continuava como um irresistível mistério.
— Tem algum compromisso? — Nate preparou a sondagem. Era um encontro?
— Na verdade, sim — Thayer lhe disse. — Fiquei de visitar alguns amigos em Manhattan. Você pode vir junto, se quiser.
Então não era um encontro. Nate já não demonstrava o mesmo interesse.
— Eu passo. Não me vejo confraternizando com atletas de restrição olímpica ao álcool em uma manhã de segunda-feira.
— Provavelmente é para o melhor.
— Neste caso, divirta-se.
— Vem aqui — Aproximou-se para um abraço de despedida.
Porquanto estavam juntos, ambos se apegaram às memórias marcantes sobre Alex. Thayer voltou ao momento do primeiro eu te amo de uma manhã de quinta-feira no seu apartamento. E Nate foi de volta ao natal do ano retrasado, quando a família inteira se reuniu na sala de estar para abrir os presentes. Mia e Ivy espiavam a comemoração pela janela.
— Cuide-se — Thayer disse por último.
E Nate começou a se perguntar se o que havia de errado em si era não ser quem deveria.

 

Viola deixou o elevador privado com duas assistentes no seu encalço.
Speak — Ordenou a caminho de sua sala. E novamente o atrito de seus salto-altos no pavimento repercutia mais potente que as vozes delas. — Falem alto — Ordenou em segunda estância.
As duas garotas tomaram turnos para informar seus compromissos. Viola classificou a todos entre as três categorias principais: Estarei no aguardo, Hoje Não e Eu não saí de casa para isso.
— [...] Com o cancelamento da reunião, podemos encaixar a entrevista com Colin Fraser para hoje — Disse a assistente da esquerda.
— Colin Fraser? — Aquele nome não lhe dizia absolutamente nada.
— Do Linnard Report.
— O que ele quer?
— Disse estar escrevendo uma história sobre o crescimento da representatividade LGBT no ramo empresarial.
Viola deu um ar de risos. Só podia estar de brincadeira.
— Sim, eu sou uma transexual afro-americana que está ganhando visibilidade no cenário da moda e em escala global. Ele quer uma história de verdade? Diga para me deixar em paz e falar com meu cirurgião.
— Mas senhora...
— É tudo por hoje.
O que sua assistente falhou em informar, veio a constatar ao abrir as portas de sua sala. O logo em púrpura da Sebert Designs sobre a vidraça tapava a maior parte do assento dos convidados pelo lado de fora.
— Ele já está aqui... — A jovem sussurrou, por fim, e inutilmente.
— Estou vendo — Viola espremeu os lábios em descontento.
O homem na poltrona em frente à mesa usava um blazer cinzento em combinação a uma camisa social preta e uma calça de alfaiataria listrada em azul marinho. Assim como a barba recém aparada, tinha os cabelos lisos em um tom suave de ruivo, formados em pequena estatura na parte de cima e semi raspados na lateral. Só viu seus olhos quando ele virou a cadeira giratória para cumprimenta-la; castanhos claros, um tom bem próximo ao verde.
— Bom dia, Senhorita Sebert — Não apenas seu olhar era cínico, seu tom de voz podia ser equivalente.
— Podem ir — Viola dispensou as funcionárias, desde já seguindo até sua poltrona. — Senhor Fraser, temo não haver um compromisso marcado para hoje.
— Esta é uma visita extraoficial. Sei o quanto é difícil dispor de um horário para atender a demanda de clientes.
— Se soubesse, não estaria aqui.
Ele riu.
— Muito justo. Não me arrependo de lhe ter oferecido o benefício da dúvida.
— Tenho um desfile para organizar, Senhor Fraser. O que deseja?
— Saber o seu lado da história, se me permite — Tirou um caderno de anotações da pasta que carregava.
Não era a primeira vez que seus caminhos se cruzavam. No início de sua carreira no ramo da moda, enquanto ainda fazia da sala de estar do seu apartamento um ateliê improvisado, Colin publicou uma matéria comparando suas costuras ao trabalho de cirurgiões residentes no primeiro ano. Algo sobre “suturas feitas no pronto socorro serem mais atraentes que o que quer que estivesse tentando vender nas lojas de grife de Nova York”.
— Não vejo motivos para ceder ao seu oportunismo — Disse a ele. — Deveria se contentar com a propina e os anúncios que pagam seus luxos.
— A matéria será publicada, quer queira ou não. Estou apenas lhe dando a chance de contar a história da sua própria maneira.
— Para que use minhas palavras contra mim? Não seria a primeira vez.
— Você não está entendendo — Ele cruzou os dedos sobre a pasta. — Seu pai pode ser condenado a morte pelos crimes de tortura, formação de quadrilha, tentativa de assassinato, cárcere privado e terrorismo doméstico. Alguém escreverá sobre isso.
— Não precisa ser você.
Ele sorriu debochado. Na verdade, Colin Fraser era feito de sorrisinhos.
— É o meu trabalho. Não ofereço nada além do papel de vítima que você já aceitou.
— Vai se foder.
— Com prazer — Levantou da poltrona. — Estará no ar a partir das seis.                 
— Vou processa-lo se mentir.
— Neste caso, nos fodemos juntos — Fechou o botão do blazer. — Sempre um prazer, Senhorita Sebert — Com um sorriso se despediu.
Viola pegou a primeira coisa na sua frente e arremessou em direção a porta que vagarosamente se fechava. Só notou que era uma vasilha de clips coloridos quando os viu derrapar sobre o tapete.
Não é justo, pensou consigo. Tinha uma bela vista da Times Square a sua disposição, por meio a parede de vidro, mas era como encarar o passado. Via a si mesma em busca de investidores para a criação da sua grife. Via a si mesma sofrendo o misto de racismo e transfobia que a América tinha a oferecer. Via a si mesma como a vítima, a filha renegada de Frank Ridell, a próxima desafortunada que os tabloides calariam quando uma outra aparecesse.
Nessas horas sentia falta do irmão e do seu senso deturpado de justiça. Se contasse sobre Colin, Cameron cuidaria do resto no dia seguinte.
Era uma ideia tentadora.
Agarrou o crucifixo que pendia no pescoço e esperou passar espontaneamente.
Deixando o edifício, Colin tomou o primeiro táxi na avenida e seguiu rumo ao Strauss Capital Hotel. Thayer o esperava no quarto seiscentos e dois com uma garrafa de champanhe sobre cubos de gelo e um delicioso café da manhã com caviar sologne, creme fraiche e salmão defumado ao estilo dinamarquês. De bem fizeram valer os três meses longe um do outro, mesmo que a comida tenha ficado para depois.
Foram do sofá reclinável ao tapete no chão, e depois contra a vidraça lateral. Tomaram banho juntos, à vontade, e voltaram para a cama ainda molhados. Thayer o montou pela quarta vez sobre os lençóis, prensando seu rosto contra o travesseiro. Ainda estava dentro dele quando lhe veio em quatro jatos sequentes.
Senti sua falta — Disse Colin, ofegante.
Thayer o beijou por cima do ombro esquerdo.
— Prove me fodendo.
E assim ele o fez.
A dor peculiar que alçava internamente até o umbigo lembrava a Thayer os velhos tempos. Costumavam matar o último período na St. Augustine para ir à mansão Van Der Wall e assistir filmes pornográficos juntos. Era muito difícil imitar todas as posições, por isso Colin admirava sua persistência. Certa vez foram pegos por um dos amigos do colégio que fizeram esperar no andar de baixo para discutir sobre o trabalho de literatura. Por sorte ele viu mais vantagem em se juntar a brincadeira a dedura-los para o Senhor e a Senhora Van Der Wall.
— Batemos o record — Thayer estava certo. Deitou ao seu lado, molhado de suor, e a respiração ofegante.
Colin esticou o braço para alcançar a taça de champanhe na escrivaninha.
— Nunca duvidei de você.
— É uma pena. Adoraria prova-lo do contrário.
— Diga-me — Tomou um gole. — Está de voo marcado?
— Ainda não. Vou a Hanover visitar um amigo nos próximos dias, mas a Argentina pode esperar.
E também as competições. E o treinador. E o hospital. E o câncer. Thayer não queria se decidir tão cedo.
— Acompanho seus artigos para o Liberty County Hospital há algumas semanas — Disse Colin, vestindo as calças. — Nunca cogitou uma carreira no meio jornalístico?
— É mais terapêutico que profissional. Meu psiquiatra acha uma boa ideia compartilhar minhas experiências.
— Tenho estagiários recém-formados me buscando café expresso todos os dias por serem incapazes de elaborar um texto objetivo e igualmente ambicioso como os seus. Poderíamos fazer bom uso disso no Linnard Report.
— Está me oferecendo um emprego? Porque eu não tenho curso superior no meu currículo.
Colin já esperava que tocasse no assunto.
— Assim como Steve Jobs e Mark Zuckerberg, dois dos homens mais bem-sucedidos de todos os tempos — Abotoava a camisa de frente para ele. — Você tem uma visão extremamente singular do que é a notícia na era digital, é só disso que precisamos.
— Não estou convencido.
— Pode se juntar amanhã a equipe de revisão. Todos começam por baixo.
— De verdade? — Thayer sentiu que poderia começar a ceder.
Como o herdeiro eminente de um império editorial, não poderia dizer que nunca havia pensado nisso. O jornalismo tornou-se um objetivo em comum com o irmão na época em que disputavam pela vice-presidência da New York Advance Publishing, há quase um ano. É claro, tratava-se de administração. Thayer não esperava pela chance de veicular as notícias de forma tão direta.
— Eu brinco com garotos, não com o Linnard Report — Colin o assegurou.
— Vou ter que buscar seu café expresso?
— Pensei em dar-lhe uma mesa e depois fode-lo sobre ela no fim do expediente.
— Melhores amigos com benefícios?
— Não. É um eufemismo para sexo no escritório.
— Pensarei a respeito — Thayer decidiu.
Colin estava a um nó de fixar sua gravata.
— Ligue-me nos próximos dias, sei que é esperto o bastante para dizer sim. Como estou?
— Como um homem de negócios.
— Que bom — Foi até a porta. — Vamos fazer algum dinheiro juntos.       

   Next...   
       5x07: Oh Darling, There Are Medications For That (11 de Novembro)
     Acho que já estamos bem estabelecidos na nova fase da história.. Lembrando que o Team Gwen está prestes a fazer um ataque, então semana que vem Mia terá que usar toda sua inteligência (e por que não seu charme?) para se livrar de um inseto.
Antes de seguirmos par ao Dreamcast da semana, um breve anúncio. Os capítulos 8 e 9 farão parte de um especial que tem como principal evento o desfile de Viola. Todos os personagens estarão no seu melhor ou seu pior, dependendo de onde foram se meter. Darei mais detalhes no capítulo de semana que vem.
Agora sim o Dreamcast. 
Eu e um amigo estávamos debatendo sobre o possível elenco de uma adaptação de The Double Me e um dos nomes mais citados para viver o Jensen foi o Patrick Schwarzenegger. Dentro outros candidatos, o ator é o que mais se aproxima da composição do personagem como um todo, incluindo a aparência. Patrick costuma viver personagens que fazem o estereótipo de homem não muito inteligente, mas com um coração bastante nobre. Não posso dizer que ficaria insatisfeito com essa escalação. 

                                                Livro 1                         Livro 2            Requisito principal KKK
Comentário(s)
0 Comentário(s)

Nenhum comentário