Livro | The Double Me - 5x02: For a Minute, Maybe Two, But Not In Public [+18]
5x02- For a Minute,
Maybe Two, But not in Public
“Quem de
manhã repete a sobremesa, à noite perderá o jantar”.
Eles entraram em completo silêncio. Enquanto
Jensen ficou de fechar a porta, Nate jogou as chaves em cima do sofá maior.
— Estão todos dormindo? — Jensen perguntou.
— Acho que sim.
O relógio na parede marcava às três e vinte
dois da manhã. Em tal caso, haviam perdido pelo menos duas horas conservando e quarenta
minutos a mais para ir do apartamento de Jensen ao flat dos Strauss. Jensen foi o primeiro a sugerir que parassem no
local mais próximo para que Nate tomasse um banho – e também que vestisse
algumas de suas roupas, visto ter as suas tornado inutilizáveis pela areia do
cemitério. Agora Nate sentia seu cheiro como se estivesse em todo lugar.
— Você deveria dormir um pouco — Jensen sugeriu.
— Não sei mais como fazer isso — Pegou uma
garrafa de whisky na adega e bebeu um gole. A ardor na garganta o acalmava
todas as vezes.
— Se importa se eu dormir aqui? Não quero
voltar para casa e ver Laurel dormindo na minha cama.
Nate olhou para ele. Levou dois segundos para
lembrar do havia dito.
— Ah é, mamãe está de volta. Claro, podemos
dividir a cama.
— Tem certeza?
— Jensen, podemos dividir uma cama sem deixar
as coisas estranhas entre nós.
— Agora não. Vou dar um tempo por aqui —
Sentou-se logo em seguida.
Nate fez o mesmo, na outra ponta do sofá.
Estava pensando, com uma mão sobre a testa, e de olhos fechados, no quanto fora
estúpido em achar que as coisas não podiam piorar.
— Estou completamente fodido — Disse. — Como posso
contar à Judit que sua filha forjou a própria morte e me enterrou vivo dentro
do seu caixão? Teria sido mais fácil se ela aparecesse durante o brunch e me acertasse no rosto com uma
torta de maçã.
— Minha mãe abandonou os dois filhos para
fugir com o amante e passou os últimos nove anos chantageando meu pai por
dinheiro. Ela tinha que voltar logo agora? Não tenho culpa que a morte de seu
marido a tenha feito pobre outra vez.
— Você acha que ela o matou?
— Aposto na filha. Ela deve ter algum problema
para andar com Laurel.
Nate ofereceu a garrafa.
— Aqui. Você também precisa.
— Obrigado — Jensen tomou um gole. — Achei que
esta noite nunca acabaria. Ainda acho — Pela janela, vislumbrava uma Nova York
que sempre estaria acordada depois dele.
— Eu também. Nem consigo mais chorar; é mais
seguro ligar o piloto automático.
Por acaso, Jensen havia lembrado do
compromisso da manhã seguinte.
— Vai ao brunch?
— Judit quer que a gente vá. É a nossa primeira
aparição pública após o incêndio.
— Ela está bem?
— Ela tenta. Fará uma cirurgia semana que vem
para o uso da prótese ocular.
Jensen virou a cabeça no recosto. Tinha aquele
olhar fascinado apenas para Nate, sem poder esconder.
— Vamos ficar bem. Eu vou para Dartmouth e
você pode viajar o mundo.
— Gwen me seguirá aonde eu for — Nate tinha
certeza.
— Você pode arrumar uma nova identidade, como
naqueles programas de proteção à testemunha.
Não era uma
má ideia. Nate não resistiria a tentação de
ser qualquer outra pessoa em qualquer outro lugar.
— Não conte a ninguém o que aconteceu hoje —
Pediu. — Se Gwen não contar ela mesma, é minha responsabilidade.
— Tudo bem. Podemos dormir?
— De acordo.
Naquela manhã Jensen acordou mais cedo para
voltar ao apartamento. Deixou um bilhete em cima do criado mudo, que Nate releu
quantas vezes precisava. Às oito e quarenta Nate estava ainda em busca do terno
perfeito. A família Strauss já havia atrasado em torno de meia hora.
— Por que você ainda está falando comigo? —
Thayer indagou, em vídeo.
— É elegante chegar atrasado — Colocou a
camisa branca.
— Não em uma Olimpíada.
— Você sente falta? Das competições? —
Enrolava as mangas sobre os pulsos em frente ao espelho.
— Sinto falta de ser bonito.
Nate sorriu.
— Você só está careca. Meu ator pornô favorito
também, e ele é o melhor.
— Bom, eu espero que o novo milionário da
cidade tenha algo a oferecer. Um de nós precisa se dar bem.
— Nate? — Ouviu Alex chamar, seguido de três
batidas.
Nate foi ligeiro em encerrar a chamada antes
que ele entrasse. As chamadas de vídeo aconteciam todas as manhãs, como se Alex
não soubesse.
— Estava falando com Thayer? — O de olhos
azuis perguntou.
— Você sabe que não podemos falar sobre isso.
— Porque eu sou abominável, entendi. Tome —
Entregou-lhe um envelope. — Chegou ontem à tarde.
— O que é isso?
— Um convite para um baile de máscaras, no
sábado. Lydia pediu para que eu entregasse.
— Uma distração cairia bem — Leu uma última
vez os dizeres no folheto antes de fechar o envelope.
— Algum de vocês viu minha bolsa? — Mia entrou
no quarto apressada.
Usava um vestido azul claro de alças largas,
mas sem decote, e salto altos da mesma cor. Os cabelos estavam dispersos por
cima dos dois ombros, simples e elegante, com uma presilha transparente. Nate
viu apenas uma argola presa na orelha direita, o que o levou a pensar que
estava no meio da produção.
Enfim os trigêmeos estavam no mesmo lugar, na
hora certa.
— Não vi — Nate lhe disse. — Acho que precisamos
conversar, pessoal. Eu esperaria o brunch,
mas vocês já estão aqui.
— É sobre ontem à noite? — Alex cruzou os
braços. — Ouvi você e Jensen chegando.
— Entrem — Fez sinal com a cabeça para que
fechassem a porta. Aproximou-se três passos da cama, com as mãos na cintura. Por
seu semblante, Alex e Mia já esperavam por más notícias. — Não sei como é
possível, mas Gwen não está morta. Ela me interceptou ontem à noite com o
carro.
Mia achou ter sido esta a piada.
— Você ta brincando, não é?
— Jensen falou com ela, caso pensem que eu
enlouqueci — Nate virou ao irmão. —Me pergunto o que deu errado quando você foi
reconhecer seu corpo no necrotério da St. Jude.
— Isso é impossível, ela estava lá — Alex
confirmou.
— Ou alguém com as mesmas características físicas
dela estava lá — Foi a primeira possibilidade a julgar sua irmã.
— Você viu seu rosto?
Alex queria dizer que sim, mas temia que fosse
um não. A verdade é que lembrava bem pouco daquela noite. Passara o caminho
inteiro até a St. Jude pensando na melhor forma de perder o julgamento de
Cameron e concretizar a farsa. Não passou quinze minutos lá dentro assinando os
papeis – e muito menos tempo diante do corpo que achava pertencer à irmã.
— Não havia muito a ser visto. Ela caiu dois
andares, estava desfigurada.
— E os testes de DNA? — Mia quis saber.
— Não faço ideia, mas ouvi algo a respeito de
braceletes de identificação. Cada paciente tem uma numeração própria de
checagem.
Agora Nate não tinha mais dúvidas.
— A vagabunda trocou de identificação com o cadáver.
— Você acha... — Alex quase fora incapaz de
dizer a palavras. — Você acha que ela matou alguém para forjar a própria morte?
— Gwen não é uma assassina, deve ter
aproveitado a oportunidade. E claro, alguém a ajudou lá dentro.
Mia sentou na beira da cama, os cotovelos
sobre as coxas e as mãos cobrindo o rosto.
— Achei que isso tinha terminado...
— E agora? — Alex esperava que um deles
soubesse.
Estava esgotado, inteiramente. Nate havia
notado desde que entrara pela porta.
— Precisamos contar isso às damas da família —
Disse Nate. — Você na frente, se quiser.
Em outra ocasião, Mia teria se encarregado
disso. O irmão só não havia pensado nas consequências.
— Não podemos — Ela disse. — Judit ainda está
em observação e Lydia quase precisou ser levada ao hospital dois dias atrás com
a pressão a dezesseis por nove. Conte a elas e enterraremos alguém de verdade.
— Ai meu deus... — Alex fez uma careta ao
lembrar do falso enterro de Gwen. — Enterramos aquela desconhecida no lugar dela?
Nate também havia pensado nessa possibilidade.
Mas para que fosse assim, Gwen teria primeiro que cavar o túmulo para tirar a
desconhecida do caixão, e só então coloca-lo em seu lugar. A garota estaria
morta por alguns dias quando antes de ir para debaixo da terra. Mais um motivo
para Nate omitir o que houve no cemitério.
— Tudo bem, não contamos. Mas algo me diz que
Gwen já tem um plano para se revelar.
— O baile de máscaras? — Alex finalmente ligou
os pontos.
— Seria perfeito para ela. Ainda quer ir?
— Agora sinto que devo.
— Um dia de cada vez, meninos — Mia tomou a
frente. — Judit está contando com a gente agora.
Os dois só fizeram concordar.
A caminho das docas eles mal trocaram uma
palavra entre si. Lydia sabia exatamente que jogo era aquele. Havia um segredo
determinante que resolveram não compartilhar, por isso investiam em trocas de
olhares nada discretas. Se Lydia não fosse tão perspicaz, não teria fingido que
nada havia de errado para pega-los desprevenidos depois. Este era o jogo que eles
não sabiam estar em andamento.
Quando chegaram ao local, o motorista lhes
abriu as portas. Atrás da barreira os fotógrafos amontoavam-se como animais
selvagens em frente a presa.
— Sorria — Nate pediu ao irmão. De todos, era
o único a manifestar seu desgosto. — Precisamos agir normalmente.
— Não para eles.
— Sorria ou te jogo de boca no hidrante.
Alex então revelou o sorriso monótono da vez. Na
pior das hipóteses, contribuiria indiretamente para a renovação de memes virtuais.
O iate erguia-se à frente em sessenta e dois metros de diâmetro e três andares com piscina, salão de festas e ampla área esportiva. Cerca de cento e cinquenta milhões de dólares faziam valer a compostura ostensiva da maior aquisição marítima das famílias tradicionais dos Hamptons. Do lado de dentro, a estrutura adequava conforto e extravagância em tons claros e escuros, facilitando o acesso e dedicando uma vista impressionante do oceano atlântico.
Mia achou ser um grande desperdício de patrimônio.
Alex, que deveria comprar um igual com sua parte da herança. E Nate, que havia
melhores em Mônaco.
Os rostos davam ênfase aos nomes, e pelo visto
estavam todos lá. Nate, dessa única vez, lamentou não ter passado despercebido.
Cada cumprimento lhe custava um pouco mais de sua capacidade de fingir que nada
havia de errado, como se, em algum momento, ela fosse esgotar.
— Vocês vieram — Andy os recebeu.
Viola, ao lado dele, cumprimentou os três com
um beijo na bochecha.
— Fomos forçados — Alex disse. — É como
estupro social.
— Você poderia não fazer essa merda agora? —
Mia por pouco não usou outra palavra.
— É claro. Eu vou beber.
— Eu também — Nate o seguiu.
Viola não tinha certeza se deveria perguntar;
Andy era quem não tinha tais restrições de cortesia.
— Algum problema? — Ele perguntou.
— Eu não sei — Pelo menos até agora, Mia pensava. — Tem sempre alguma coisa
rolando entre a gente.
— Amuse
Bouch? — Um garçom ofereceu.
Ela tomou uma porção em mãos, apenas para ser
educada.
— O pós-Frank
é difícil para todos nós — Viola admitiu.
Ao ouvirem os gritos dos convidados, todos
olharam para fora. Um balão de três cores sobrevoava a costa com um aventureiro
prestes a pular. Ele abriu o paraquedas e a equipe de pouso se posicionou para
sua aterrissagem. Tudo fazia parte do show.
Estavam diante de seu anfitrião, Matthew ---------,
o novo investidor do clube Lavish Resort.
Mal havia colocado os pés em terra firme e fora ovacionado pela multidão.
— Perdão pela bagunça — Pediu a todos.
Logo em seguida disse seu nome; não que algum
dos trigêmeos estivesse prestando muita atenção. Ainda era estranho, de certa
forma. Mia teve a impressão de que ele a encarava no parapeito, e Nate pensou
tê-lo visto em algum outro lugar.
— Okay, estou indo me esconder agora — Alex
saiu.
— Ótima ideia — Mia foi logo depois.
Nate ficou observando por mais alguns
instantes antes de tomar o caminho das taças de champanhe. Seu celular tocou
dentro do bolso.
— Alô?
— Sou eu — Gwen o surpreendeu. — Vá para um
lugar onde ninguém nos ouça.
E assim Nate o fez. O corredor a estibordo encontrava-se
vazio.
— O que você quer?
— Um acordo. É só uma questão de tempo até que
eu seja indiciada por falsidade ideológica.
— Você deveria. Nós enterramos você.
— Duas vezes. Uma quando meu caixão foi
selado, outra quando me internaram numa clínica fora do estado.
Nate cerrou os olhos devagar.
— Você pode ficar com todo o meu dinheiro —
Disse a ela. — Não me importo.
— Chegaremos lá. Agora preciso que vá a St.
Jude e faça tudo o que eu disser.
— E se eu me recusar?
— Denunciarei Ivy Vlasak pelo assassinato de
Theon De Beaufort. Estou com a arma do crime cheia de digitais. Cheque seu
celular, mandei uma foto.
E assim Nate o fez. Ela tinha razão – e por
consequência, ele também. Ivy matou Theon, e agora ela estava nas mãos de Gwen.
— Estou ouvindo — Ele decidiu.
No salão principal, Mia iniciava sua
abordagem.
— Eu estava na festa surpresa de Dorian Sibley
ontem à noite — Disse a avó. — Não sei se ouviu os rumores.
No parapeito, Lydia encontrara um refúgio sob
a brisa matinal.
— Eu ouvi, querida. Foi obra sua?
— Efetivamente. Ele mentiu uma última vez a
seus clientes.
— Você sabe que eu preciso tomar a
responsabilidade por isso, não é? — Virou a ela, depois de volta ao oceano. — Dorian
prestava serviços a mim.
— Por que?
Se pudesse dizer, Mia seria a primeira a saber.
Lydia também tinha seus próprios segredos determinantes.
— Você não quer encontrar seu pai, querida —
Tocou-a no rosto delicadamente. — Se ele quisesse, teria encontrado você — E
caminhou para longe, cada vez mais longe.
Mia sentiu suas palavras pesarem na
consciência. Soavam como uma verdade escancarada, que atribuía muito pouco
sentido a sua necessidade de comprovação. Ivy já havia partido para que vivesse
a vida dos sonhos em Nova York. Seu pai tinha que estar em algum lugar, para o
seu próprio bem.
Decidiu voltar ao salão principal, agora
lotado. Subindo as escadas laterais, acabou esbarrando em um homem de camisa
social que procurava um banheiro. Não fez questão de pedir desculpas, apenas
caminhou para longe.
— Outch —
Ele reclamou.
Um garçom passou ao seu lado no exato momento.
Ele perguntou onde era o banheiro, mas o outro falava em uma língua ininteligível
para um jovem magnata de Nova York.
O homem então percorreu o pavilhão esquerdo
até o final, quando encontrou a primeira porta destravada. Não era um banheiro,
estava mais para uma dispensa. Havia alguém sentado do chão, entre as caixas de
comida.
— Perdão, achei que era o banheiro — O homem
recuou um passo, depois voltou. — Eu não acabei de ver você no salão principal?
— Deve ter sido meu irmão gêmeo — Alex
respondeu. — Ele tem olhos verdes, e eu, azuis.
— Não sei se é assim que funciona a genética.
— Nem eu.
— Você é um dos trigêmeos Strauss, não é? — O
homem finalmente entendeu. O de olhos verdes estava no salão principal. A
menina, também de olhos verdes, tinha acabado de esbarrar-lhe nas escadas. O de olhos azuis resolvera esconder-se para evitar a multidão. — Sabia que o
conhecia de algum lugar.
— Sim, das revistas de fofoca e dos tabloides
de internet.
— Não, de outra coisa.
Soava a Alex como uma indireta. Era bonito,
sem sombra de dúvidas. 1,87 de altura, por volta dos vinte e seis anos, a pele
negra acentuada, de porte atlético. Seus olhos diziam que sim, seu sorriso
malicioso um pouco mais.
— Você assistiu aos vídeos? — Alex tirou a
prova.
— Até o final.
Os vídeos
íntimos dos herdeiros dos Hamptons que vazaram na internet. Alex se divertia com Thayer em uma boate gay
quando aconteceu. Também fora a noite em que conheceu George, seu pior
pesadelo.
— Aquele era meu irmão — Esclareceu a ele.
— Eu não vejo a diferença.
— Feche a porta.
Não precisava saber seu nome para beija-lo
como o fizera. Por um minuto, talvez dois, esqueceria de tudo.
൴
A família Foster recebeu um casal de amigos de
longas datas para o desjejum. Entretinham-nos com histórias de viagens
marítimas e peças de teatro europeias, enquanto a mesa não fora aposta. Kerr não
teria outra oportunidade de falar com a irmã antes que se acomodassem na sala
de jantar.
— Podemos conversar? — Sussurrou a ela.
Amber pediu licença educadamente, embora
ninguém a tivesse notado. Seguiu Kerr até a suíte dos pais.
— Você precisa contar a eles — Seu irmão
alertou.
— Durante o brunch, na frente das visitas?
— Você teve a chance ontem, anteontem, e no
dia anterior. Sua ultrassonografia é amanhã e você mal consegue colocar comida
na boca sem enjoar. Estou cansado de cobrir para você.
— Você não precisa, apenas me deixe em paz.
Ele a segurou pelo braço antes que fosse
embora.
— Você viu como Dona Mercedes está me olhando?
— Referia-se a antiga governanta da casa, que os cuidara desde pequenos. — Ela
acha que você está tomando algo do meu acervo e falta bem pouco para contar a
nossos pais.
— O que? — Amber sorriu. — Isso é ridículo.
Não sou uma viciada.
— Ela não sabe disso. Você está sempre
cansada, enjoa com tudo e exibe essas olheiras horrendas todos os dias. O que
esperava que ela pensasse?
— Ela não é paga para pensar.
— Amber, você precisa contar a eles. Isso é
importante.
Ela suspirou. Kerr estava certo, sempre esteve.
Seria mais fácil se sua coragem estivesse diretamente relacionada a
inteligência dele.
— Você não sabe o quanto é difícil.
— Você só precisa confiar em mim. Não é como
se estivesse sozinha.
— Meninos, venham! — Ouviram Julianne gritar.
Aquela era a deixa de Amber. Antes que o irmão
a impedisse, ela saiu do quarto e caminhou estritamente à sala de jantar. Seus
pais e os dois convidados já estavam apostos.
—
Perdão pela demora — Ela escolheu o segundo lugar vago à esquerda.
Ao irmão, portanto, restava apenas o lugar ao
seu lado.
— Nossa conversa ainda não ainda terminou — Sussurrou
para ela, discretamente.
— Mas eu sim. O queijo, por favor — Pediu a
uma das serviçais.
Apenas os convidados notaram algo errado em
seu comportamento. Seus pais, os anfitriões, tagarelavam perduravelmente.
— Amber, eu juro por Deus... — Kerr estava com
uma ameaça na ponta da língua.
A jeito de evita-la, Amber começou a
cantarolar a música do “Lalala, não estou
te ouvindo”. Os convidados trocaram um olhar cauteloso um com o outro.
— Pare com isso — Kerr pediu.
— Lalalalala
cale a boca e coma sua bruschetta.
— Já chega — Jogou o guardanapo na mesa e
pôs-se em pé. — Mãe, pai, Amber está grávida e o filho é do Dhiego, nosso primo
vigarista. A ultrassonografia é amanhã de manhã.
Seus pais encontraram o olhar dos convidados,
da filha, os seus, e os da filha novamente. Todos compartilhavam a mesma
expressão abismada.
— Mãe... — Amber começou a dizer.
Algo não estava certo com aquele queijo. Sentiu-se
tontear, como numa queda vagarosa. Logo em seguida, veio o vômito. Espirrou
sobre si, o prato que comia e na toalha branca da mesa.
Julianne tinha em mente apenas o cheiro e a
visão catatônica do resto de sua vida.
൴
Jensen contava as taças de champanhe na mesa a
cada aproximação de Nate. Estava ainda na quarta, se bem observou. E em apenas
quinze minutos.
— Se eu perguntar se você está bem, usará
minhas palavras contra mim? — Sua forma mais sutil de pedi-lo para parar.
— Não, ofereceria um drink — Nate virou a
quinta taça de uma só vez.
— Já falou com seus pais?
— Mudança de planos. Mia não acha que é uma
boa ideia.
Denotava, a Jensen, que os três haviam
conversado.
— Espero que dê tudo certo. É difícil manter
segredos por aqui — Enfim tomou posse de uma taça de champanhe.
— Basta enterra-los.
Algo que Gwen
diria. Nate passou apenas dois minutos
consciente dentro do caixão e já não podia pensar em qualquer outra coisa. Até
a lembrança de Theon parecia distante, inacreditavelmente.
— Ainda quer que eu vá para Dartmouth? —
Jensen passou o caminho inteiro até às docas pensando nisso.
— É claro. Você não tem nada a ver com essa
bagunça.
— Gwen também pode ter algo contra mim. Eu
perdoei você, isso deve soar imperdoável para ela.
— Ela não perderia tempo indo atrás de você. Se
você for para Dartmouth, ela não precisaria nos separar.
— Porque Theon já conseguiu — Jensen sorriu
irônico.
Era a primeira vez que Nate o via resistir ao
acordo que fizeram. Provavelmente pelo perigo que Gwen representava a única
coisa que o importava.
— E sua mãe? — Quis mudar de assunto.
— Está no quarto de hóspedes. Cortesia de
Patrick McPhee.
— Quem é vivo sempre aparece.
E por assim dizer, lá estava Lexi, desfilando pelo
convés de popa em seu vestido verde turquesa. Nate viu-a aproximar os ouvidos
da última porta, como se bisbilhotasse alguém.
— Só pode ta de brincadeira... — Resmungou. No
caminho até ela, deixou sua taça vazia de champanhe na bandeja de um dos
garçons. — O que você está fazendo?
Lexi mostrou a ele um sorriso travesso.
— Hey, você não vai acreditar... — Sussurrou.
— Eu acho que tem gente transando aqui dentro — Apontou para a porta.
Nate também ouvia gemidos baixos, além de uma
batida insistente; provavelmente duas peles distintas se tocando vez após vez.
Bom, não era
problema seu. Lexi, por outro
lado...
— Não, o que você está fazendo aqui? — Nate indagou.
— Fui até seu flat e Judit disse onde encontra-lo. Você está bravo?
— Não bravo, apenas... Achei que tivéssemos
combinado que você ficaria em Paris.
— Isso foi há mais de um ano
— E havia prazo de validade no nosso acordo?
— Eu tinha que morrer em Paris? Qual o seu
problema?
Nate não acreditava estar tendo aquela
conversa.
— Você precisa de dinheiro, é claro.
— Dinheiro? — Ela fechou a cara. — Na verdade,
eu só precisava de um lugar para ficar, mas já vi que não tenho amigos em Nova
York. Muito obrigada por nada — Jogou o restante em sua taça no rosto dele.
Nate tentou segura-la, mas ela se livrou num
movimento rápido. Voltar ao lado de Jensen, ao perde-la de vista, foi sua única escolha. Ele, ao menos, não faria nenhuma
pergunta indiscreta.
Podia ver Mia de onde estava, e agora também
Lydia. Encontrou Viola, Andy, até Matt, o novo milionário da cidade. Seu irmão era
o único em falta.
Os dois minutos de euforia que Alex planejou
mais cedo haviam se tornado quinze graças a seu parceiro. Ouvia concentrado o
som de suas peles se chocando em uma violência rítmica contra a pia; ele na
frente, o outro atrás. Houve tempo para brincar de tudo antes de Alex
oferecer-lhe a posição de macho alfa.
— Me estrangule — Pediu.
— O que? — O outro achou não ter entendido.
— Eu disse para me estrangular.
Pedindo dessa forma, ele precisou fazer. Alex
revirava os olhos em frente ao espelho.
A porta estava trancada, como Alex pedira – uma
das garçonetes constatou ao tentar abrir pelo lado de fora. A chave mestra era
a única maneira de garantir o acesso.
— Você está com as chaves? — A moça pediu a um
amigo de trabalho. — A dispensa está trancada.
— Você fez de novo?
— Não fui eu, o iate é mal-assombrado.
— Sei... — Ele forçou um olhar desconfiando.
Aproximou-se da porta, com a mão na maçaneta. E abriu.
A garçonete gritou, o homem caiu no chão, Alex
puxou suas roupas para cobrir-se e os convidados olharam instintivamente. Tudo
o que viam era exatamente tudo o que tinham.
— Ai meu Deus, vocês estavam fodendo! — A moça
acusou-os em alarde. De certa forma, Alex achou já ter ouvido aquilo em algum
lugar. — Vocês estavam fodendo em cima da minha comida! Seus pervertidos!
— Sentimos muito — O homem desnudo tentou
apaziguar.
— Ai meu Deus, eu odeio essa cidade!
— Calma, senhorita...
— Eu me demito! — Disse por último, jogando a
boina no chão.
O garçom que a acompanhava ficou com a tarefa
de tirar Alex e seu companheiro da dispensa, sem ao menos deixa-los vestir toda
a roupa. A festa inteira os esperava do lado de fora, com seus celulares em
mãos. Nate e Jensen prenderam um riso, Mia apenas revirou os olhos.
— Saiam daqui! — O garçom os ordenou.
Foi
quando Matt apareceu por entre a multidão.
— O que está acontecendo?
— Estamos indo embora — O companheiro de Alex
o garantiu.
E Alex ainda nem sabia seu nome. Nem importava mais.
— Não estamos neste tipo de evento,
cavalheiros — Matt lhes disse. — Por favor, comportem-se.
— Tanto faz — Alex passou por eles bufando.
O que Nate não sabia, sua curiosidade o fez
imaginar. Lexi dissera há não muito tempo que alguém estava transando atrás da
porta branca; deveria ter reconhecido seus gemidos, eram idênticos aos seus.
— Você ganhou? — Provocou o irmão.
— O que?
— O pique esconde.
— Apenas me deixe em paz — Alex lhe deu às
costas.
Como se Nate
fosse perder a oportunidade de tripudiar.
— Você ao menos perguntou o nome dele?
Assim Alex parou. Não o soque no rosto, não o soque no rosto, entoava mentalmente.
Virou para ele com uma resposta pronta.
— Só você mantém uma lista com seus nomes. É a
única maneira de lembra-los após a terceira dose diária de whisky.
— Estou impressionado. Pretende fechar esse
zíper? — Apontou.
— Eu deveria, ou então você se vingaria dele.
Não poderia fecha-lo se o internasse em uma clínica psiquiátrica.
Novamente Alex lhe deu às costas, apenas para
voltar ao som da próxima provocação.
— Pensei que deixaria a festa como um Strauss,
não como o filho do porteiro.
— O que você disse sobre o meu pai? — Alex avançou
os passos que faltava para que estivessem cara a cara.
De todos os argumentos impensáveis, Nate escolheu
o mais doloroso: Seu pai adotivo. Sabia a história completa, do melhor pai do
mundo e possivelmente quem Alex mais amou em toda sua vida, ao abandono
repentino devido ao vício por jogos. Deixar a família em paz foi a última
escolha que o Senhor Jeremy Bennett fez, na última vez em que o viu.
Mia também sabia a história, pois tão prontificou-se
a ficar entre os dois, tentando evitar que os punhos de Alex encontrassem o
sorriso sarcástico de Nate.
— É o bastante — Empurrou o de olhos azuis
para trás.
— Por que está no caminho? Você não tem um pai
biológico para encontrar e implorar por afeto?
— Retire o que disse.
— A vagabunda tem razão, Mia — Nate retrucou.
— Papai não está vindo nos resgatar.
— E o que você sabe sobre ter um pai?
A multidão fez-se em risadinhas.
— Você foi criada por uma mãe solteira — Nate
rebateu.
— Que me foi um pai muito melhor do que você jamais
teve. Se discordar, poderá sempre visitar Simon no presídio.
— Ele também é seu pai, idiota — Alex não havia
entendido seu ponto.
— E fez faculdade para não precisar abrir às
portas a ninguém além de si mesmo — O de olhos verdes jogou a última pá de
terra.
Alex estava farto. Pegou uma torta de maçã de
cima da mesa e arremessou no rosto dele. Quase acertou a irmã, que saiu do
lugar no momento exato.
— Sério? — Nate tirou um punhado de chantilly
do rosto. — Você está na terceira série?
— Você pediu por isso.
E com a mesma rapidez, Nate tomou em mãos uma
torta de maracujá e arremessou sobre ele. Alex conseguiu impedir que a maior
parte o atingisse, mas não estava preparado para o banho de molho de tomate que
veio a seguir.
A festa inteira gargalhava em uníssono, e Mia
não estava de fora. Para ela, Nate reservou o recipiente de cobertura de mel e
morango para Croissant.
— Seu filho da... — Ela parou de falar quando
Alex a acertou com uma fatia de bolo no rosto.
Isso
significava guerra.
Nate pegou a outra torta de maçã e Alex foi para cima dele antes que pudesse acerta-lo. Enquanto tentava fazer o irmão engolir as iguarias francesas de uma só vez, sobre a mesa de petiscos, Mia derramava uma jarra de suco de laranja sobre ambos.
— Não deixe-a pegar a calda de chocolate! Não
deixe-a pegar a calda de chocolate! — Nate gritava.
Mia só havia pensado nisso no momento em que
ele falou. Ela tomou a bandeja em mãos, e Nate empurrou Alex no momento exato para
acerta-la. Acabou tendo todo o chocolate derramado sobre si, enquanto Alex,
tentando se levantar, puxava a toalha da mesa seguinte. As frutas começaram a
rolar pelo chão e os primeiros desafortunados a cair sobre elas.
Alex e Mia tomaram um bolo cada e acertaram
Nate ao mesmo tempo, que os acertou com os punhados do bolo no qual havia caído
sentado. Só houve uma trégua quando os três encontraram o olhar de reprovação
de Lydia em meio da multidão.
— Meninos... — Ela disse, decepcionada. — E
Mia.
Ninguém esperava por outro ataque àquela
altura, então Alex decidiu agir rápido. Levantou de onde os sapatos fincaram
numa poça de chantilly e empurrou o irmão do parapeito para uma dolorosa queda
de dois andares no Oceano Atlântico.
— Okay, você ganhou — Mia precisou admitir.
Todos os convidados se aproximaram do parapeito
para ver Nate nadar. E tirar algumas fotos. E gravar alguns vídeos. E rir um
pouco mais do herdeiro Strauss. Matt, em especial. Observara o comportamento
dos trigêmeos a manhã inteira e já traçava linha conclusivas.
Quanto a Alex, foi mais fácil deixar a festa com
a atenção de todos voltada ao irmão. Imaginava-se como um bolo de casamento saindo
da própria festa aos pedaços, e as pessoas que o encontravam na rua poderiam
estar pensando o mesmo. Era difícil ter certeza com todo aquele chantilly
cobrindo seus olhos. O que ele pôde ver, e tinha certeza de que viu de verdade,
foi sua irmã. Cabelos loiros, vestido branco, óculos escuros, chapéu de praia,
uma cicatriz horrenda que traçava o olho esquerdo. No fim das contas, Gwen se
importava o bastante para dizer olá.
Ele correu até o beco por onde ela desapareceu,
jogando-a contra a parede. Gwen, pela primeira vez, demonstrava medo nos olhos.
Por instante até pensou estar diante do outro irmão.
— Se essa é a sua ideia de vingança, deveria
ter voltado ao colégio.
— Está me machucando... — Ela gemeu.
— É porque eu posso — Ele apertou seus pulsos
contra a parede. — E o farei de novo se tentar se aproximar da minha família.
— Também é minha família.
— Você perdeu esse trunfo quando nos obrigou a
enterrar outra pessoa no seu lugar. Preciso dizer com todas as letras?
Ela o olhou de perto. Não havia mais medo,
apenas desprezo.
— Eu já vi o rosto do Diabo uma vez e
sobrevivi. Era idêntico ao seu — Empurrou-o para longe, e ele finalmente a
deixou.
Havia algo inquietante na maneira como eles se
assemelhavam. Alex não tinha certeza se temia uma investida a altura ou o que
seria capaz de fazer caso ela machucasse um de seus irmãos. Não era uma opção
aterradora, muito pelo contrário. Custou-lhe Thayer e sua família para fazer o
que era certo. Agora nada tinha a perder para que se prendesse a escrúpulos.
Certa vez leu um artigo na internet que
simplificava seu ponto de vista. “Nate é
impulsivo, pode causar todo tipo de problema. Mia é meticulosa, dificilmente a
verão descer do salto. Mas Alex, Alex não tem medo de trazer o pior de si”. Deveria
agradecer o autor texto por tê-lo iluminado com uma verdade tão bruta. Alex,
por si só, já se sentia o pior dos três.
Isso o levava ao misterioso encontro de sábado
à noite. Chegando em casa, a primeira coisa que fez foi ligar para seu contato.
— Você conseguiu?
— Essa não é a questão — Disse-lhe A Dama. — É mesmo o que você quer?
— Vejo você lá, sábado à noite.
A noite em que todos usariam máscaras.
Next...
5x03: You and Me Go Masquerading (14 de Outubro)
VOLTAMOS OFICIALMENTE! Mas acho que devo algumas explicações.
Como todos sabem, realizei uma operação de retirada da vesícula no dia 16 de Agosto, mas acabei tendo alguns problemas pós-operatórios, como a famosa cefaleia pós anestesia. Precisei ficar 3 semanas de repouso total, sem poder usar a internet. E logo após essas 3 semanas, tive a internet cortada por um erro no pagamento. E logo depois de quitar esta dívida, o domínio do blog expirou e eu tive que esperar até outubro, agora, para pagar. Por isso houve tanta demora na publicação.
Peço desculpa a todos pelo inconveniente e prometo que isso não vai mais acontecer. Hoje tive que publicar o capítulo um pouquinho mais tarde por ser dia de eleição, estava muito atarefado. Espero que entendam e tirem um tempinho pra ler a continuação. The Double Me será publicado todo domingo a partir das 21 horas.
No próximo capítulo teremos um baile de máscaras. Quem estaria por trás do atentado terrorista?
AAAAAAA como eu amo esses 3!!! hahahahaha. Já quero esse baile e espero que vc esteja melhor pós cirurgia, João ♡
ResponderExcluirOi, Anônimo. To melhor sim, mas é um processo leeeeeeeento. Pelo menos já posso ficar na internet e revisar os capítulos pra postar pra vcs =D
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