Livro | The Double Me - 5x03: You and Me Go Masquerading [+18]
5x03: You and Me Go Masquerading
“Elegante em duas faces”.
Thayer passou a maior parte da manhã de sábado
em uma rotina de exames. Pelo resto do dia não conseguira manter nada no
estômago, e lhe era pedir demais que levantasse da cama para ir ao banheiro
sozinho. Segundo a Doutora Farber, a normalidade de seus sintomas era um fator
decorrente ao término da primeira fase do tratamento, não a uma piora
significativa. Thayer verificou os resultados ele mesmo; estava ganhando peso
outra vez.
Um convite para o baile de máscaras havia sido
entregue na mansão dos Van Der Wall. Thayer pediu a ajuda do irmão para
comparecer, mas agora soava como uma péssima ideia. Não havia dormido quatro
horas na noite anterior; a cada gole de água, vomitava o que nem havia
consumido; e Nick, seu novo melhor amigo, não estava em condições de ajuda-lo
em outra fuga. Foi visita-lo na noite anterior, após uma cirurgia de emergência.
E havia Travis, que escolheu estar ali todos
os dias. Thayer aproveitava qualquer brecha para fazer uma piada infantil,
apenas para que ele não sentisse que também estava morrendo.
— Deixe-me ver seus olhos — pediu a Doutora.
Travis estava em pé ao seu lado, torcendo em
silêncio por boas notícias e igualmente esperando pelas más. O residente que os acompanhava era novo no
caso. Travis não lembrava seu nome – lhe chamava mais atenção seus olhos e a
maneira como as bochechas retraiam em covinhas sempre que ele sorria.
— Se sente nauseado? — A Doutora perguntou.
— Um pouco — Thayer notara ele mesmo a exaustão
na sua voz. — O vômito é a pior parte.
— Seu corpo está respondendo ao tratamento, não
é algo com o que se preocupar — Garantiu o residente.
— Okay, dezoito porcento. Podemos fazer isso.
Travis virou o olhar. Odiava vê-lo fazer
aquilo, e a maneira como falava com suas probabilidades como se fossem um ser
consciente e inspirassem alguma segurança.
— Ele está pronto? — Perguntou à doutora.
— É claro. Seria bom se ele dormisse um pouco
agora, os exames podem ser extremamente exaustivos — Virou ao seu residente. — Precisarei
que a realize as checagens de hora em hora. Avise-me se houver alguma mudança.
— Tudo bem.
Assim ela se retirou, ele deu a volta na cama
para checar o funcionamento das máquinas.
— Doutor.... — Thayer estava tentando lembrar seu
nome. Schwarz? Schuster? Schott?
— Schaffeld — Ele mesmo respondeu, os dedos
sobre o tablet. — Parker, se preferir. Ninguém está olhando.
— Você é novo aqui?
Travis observava tudo da poltrona amarela. O
irmão estava com aquele olhar
novamente.
— Fui transferido — Parker lhe disse. — O
Liberty County é mais próximo do meu apartamento.
— E você vive sozinho?
— Eu tenho um gato contrabandeado. Ele é
ótimo.
— Como todos os solteiros — Thayer lançou um
olhar sugestivo ao irmão. Travis mimicou as palavras “vou te matar” com os
lábios.
— Espera, este é um teste de aptidão para
encontros? Porque eu sou péssimo nisso. E acho que posso perder meu emprego.
— Eu não estava falando por mim, então...
Travis levantou da poltrona num pulo.
— Okay, acho que é hora de Thayer descansar.
Mas Parker e Thayer não lhe deram ouvidos.
— Ele? — Parker perguntou.
— Sim — Thayer confirmou.
Aquela era a primeira vez que Parker pensava a
respeito. Travis lhe parecia como o irmão, talvez um pouco mais musculoso agora
que Thayer perdera peso. Tinham os mesmos olhos, o mesmo nariz e o mesmo
sorriso. Diferenciavam-se apenas no corte de cabelo e na escolha de roupas.
— Seria interessante — Sua resposta final.
Travis sentiu a bochecha corar.
— Vocês estão me vendo aqui, não é?
— Não se preocupe, ele está brincando com você
— Foi até a porta, sorrindo. — Volto em uma hora. Falem coisas boas sobre mim
enquanto eu estiver ausente.
— Não podemos prometer — Thayer alertou.
Seu irmão ainda tentava entender como fora
parar em Jogos Mortais às duas da
tarde de um sábado.
— Ótimo, agora precisaremos transferir você a
outro hospital.
— Relaxa, ele vai voltar com o número do
telefone — Thayer cobriu-se com o lençol.
— Porque não existem homens héteros nessa
cidade, aparentemente. O que torna meu desinteresse um pouco menos entendível.
— Não vou deixar que meu tratamento seja a
coisa mais importante da sua vida. Vá a um encontro, beije, chupe o pau de
alguém no elevador. Eu faria de tudo se pudesse. Aliás... — Jogou o convite
para ele. — Leve-o ao baile de máscaras hoje à noite. Eu não vou, de qualquer
forma...
Travis não tinha tanta certeza. Da última vez
que se distraiu, um paciente foi raptado e um residente teve o carro roubado.
Seu irmão sempre tinha um plano.
— Você inspira um total de zero confiança.
— Acha que estou em condições de roubar um carro
e ir a uma festa sem convite? Seria deselegante vomitar na pista de dança.
— Eu não sei. Alex estará lá.
Thayer já imaginava. Como ele passou a dizer...
— Há um Strauss em qualquer lugar. Diga oi ao
Nate por mim — Piscou.
Seu irmão deixou o hospital meia hora depois
para resolver o problema da fantasia. Thayer, novamente, só esperou que ele
dobrasse o corredor para sair da cama. Embora sofresse dos efeitos colaterais, conseguiu
roubar um jaleco e entrar no quarto de Nick sem chamar atenção. Levou o amigo
numa maca até o elevador no fim do corredor e pressionou os botões. Um gracioso
pôr-do-sol os recebeu no terraço; Thayer fez questão que o amigo tivesse a
melhor vista.
— Thayer... — Quase sem voz, o garoto
murmurou. — Eu não... eu não vou conseguir.
Eles lhe haviam dito o mesmo na noite passada.
— Eu sei... — Passou a mão sobre os cabelos
dele. — O que você acha de um último pôr-do-sol?
Nick olhou em direção as luzes. Lhe era de uma
grande surpresa haver algo tão belo estando tão próximo de tudo acabar. Um
sorriso radiante fez-se lentamente por seus lábios.
— Ah, cara... isso é incrível.
— Não fale — Thayer pediu. — Aproveite. —
Sentou ao lado dele, em uma das estruturas cimentadas.
Vinte minutos depois precisou leva-lo de volta
ao quarto. Nick partiu naquela mesma noite, enquanto dormia. Thayer ficou ao
seu lado o tempo inteiro.
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Jensen a seguira desde o Marymann Hotel. Fez um mapa virtual demarcando os locais por onde
passou, e posteriormente, recalculou as rotas uma a uma. Estava certo, a
limusine tinha ordens para dar voltas irregulares antes de chegar ao destino – visando
assim despistar um provável seguidor. De um clube de golfe a um salão de festas,
e do salão de festas a uma loja de antiguidades no centro da cidade, ela viria
fazer sua última parada em um presídio.
Jensen viu-a deixar a limusine, esperar pela
abertura dos portões e finalmente entrar. O que ele não viu, da colina onde
estava, dava à Gwen toda a vantagem.
— Pensei que nunca a veria de novo — Kieran
disse a ela.
Estavam separados apenas por uma parede de vidro,
o telefone preso a orelha
— Fiz uma promessa a você — Ela notou a nova
cicatriz que fizera aparente. — Como vai o braço?
— Como vai o olho esquerdo? — Ele quase
sorriu. — Eu sempre soube que éramos iguais.
— Você não tem onde cair morto, não somos
iguais — Diria sua mãe.
Em compensação, ele ainda era atraente. Os
cabelos negros agora caiam sobre os ombros, e a barba cobria a maior parte do
seu rosto. Seus olhos castanhos a provocavam, como uma lembrança de um
arquétipo de dor que costumava monopolizar sua atenção. Não era tão diferente
agora, estando tão distante e tão próxima ao mesmo tempo.
— Devo fazer minhas malas? — Ele sugeriu.
— Ainda não. Tenho outras prioridades agora.
— Seu irmão continua dando trabalho? — Ele tinha
uma vaga lembrança. — Agora sei onde arrumou essa cicatriz.
Gwen olhou-o de perto.
— Eu queria ouvir sua voz, antes de...
— Eu entendi. Faça o que tiver que fazer, não
vou a lugar algum.
Tudo
conforme os planos, ela pensou. Era
exatamente o que precisava.
Deixou o presídio no término do horário de
visitas, quando o sol se pôs. Jensen fez o mesmo, agora em direção ao
apartamento. O mural que havia criado no começo do dia estava repleto de
informações adicionais.
Quem Gwen
visitou? — Jensen sabia apenas que não fora
seu pai, Simon, que estava sendo mantido em outra instalação.
O clube de
golfe — Por ser restrito a homens, chegou à
conclusão de que ela se encontrava às escondidas com alguém da alta sociedade
de Nova York.
A placa da
limusine — Finalmente ligou para cobrar o favor
de seu amigo policial e descobrir a quem pertencia. Matthew Cavanaugh; o novo
investidor da Lavish Resort.
Cavanaugh — O sobrenome de Quentin, o ex cúmplice de
Nate, assassinado por Theon. Isso só poderia significar uma coisa.
— Eles estão juntos... — Murmurou em voz alta.
O baile de máscaras reservava outras
surpresas.
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Cada um deles tentava resolver um problema
diferente naquela noite. Caminhavam de um lado para o outro no apartamento,
usando apenas as roupas de baixo. Mia tinha metade dos cabelos enrolados em
bobs, Nate escovava os dentes apressadamente e Alex gritava ao celular. De
clara evidência, o número de imprevistos antes do baile superara suas
expectativas.
— Como a informação não consta no sistema? —
Alex pisou em uma panqueca espalhada pelo corredor. Tentava livrar-se dela com
algumas sacudidas, sem obter resultado. — Eu e meu irmão encomendamos as mesmas
peças e as minhas não estão aqui. [...] É claro que não é sua culpa, você não
sabe responder qualquer pergunta que eu faça sem gaguejar.
Na saída do corredor, Mia interceptou Nate.
— Por que meu sutiã estava no seu quarto? —
Ergueu-o em mãos.
— Eu e Alex usamos como estilingue — Ele fez
uma careta.
— Por que você sempre escolhe agir como um
garoto hétero?
— Cara, o que houve com o seu cabelo? — Tocou
uma mecha.
Mia, impaciente, optou por trancar-se no
quarto. Na próxima curva Nate deu de encontro com o irmão. A camisa que Alex
escolhera para substituir sua fantasia agora ostentava uma marca de pasta de
dentes.
— Ta brincando comigo? — Ele passou a mão.
— Desculpa. Você vai mudar de roupa, de
qualquer jeito. Onde está sua fantasia?
— Provavelmente enfiaram no cu — Passou por
ele. E ainda ao celular, fez sua primeira ameaça. — Não ligarei para seu
supervisor, ligarei para sua mãe. Ela sabe oprimir seu bebezinho melhor que
qualquer um.
Chegando ao quarto, Nate encontrou a janela
aberta e o tapete todo molhado. Um dos irmãos tinha de levar a culpa.
— Qual de vocês deixou minha janela aberta? —
Perguntou, de volta ao corredor. — Meu tapete está todo molhado por causa da
chuva.
Nem Mia, ou sequer Alex, estavam em um bom
momento para lidar com tais acusações. Seus argumentos perpetuaram uma
discussão, e ela só terminou quando notaram o olhar de reprovação de Lydia, na
sala de estar – o mesmo de antes, de quem os julgava em silêncio.
— Desculpa, vó... — Os três disseram, da sua
própria maneira.
Não foi tão problemático selar a paz depois
disso. Na frente de Lydia os três se comportavam como se fossem a mesma pessoa.
Isso também ajudou a esclarecer as prioridades daquela noite. Tinham certeza
que o baile de máscaras serviria à Gwen com um grande propósito – o que também
indicava alguma propensão às coisas saírem de seu controle espontaneamente. Tudo
por trás das máscaras, mas com cobertura de imprensa.
Nate e Alex optaram pela combinação clássica naquela
noite; ternos negros, uma capa que ia até os joelhos e uma máscara branca
cobrindo apenas metade do rosto, como em O
Fantasma da Ópera. Diferenciavam-se apenas na coloração da máscara e
gravata borboleta – Alex usava uma na cor azul, e Nate, na cor vermelha. Mia
optara por ser uma condessa do século XIX, em combinação a uma máscara dourada
e negra, das cores de seu vestido bordado. Os cabelos foram amarrados em coque,
deixando duas tiras laterais caírem sobre o rosto. E era apenas o que havia
conseguido de última hora.
Lá dentro os trajes variavam de “péssima ideia” a “como não pensei nisso antes?”. Entre eles, avistaram o cisne branco, na passarela do segundo andar.
— Ela está aqui — Nate os alertou.
Olharam os três ao mesmo tempo, justo a ela
constatar sua presença.
— Estou pronta — Mia lhes disse.
Cada gêmeo seguiu uma direção diferente. Mia
se entrosou na pista de dança, Alex pegou um lugar vazio no bar e Nate circulou
a área das colunas, na tentativa de encontrar algum conhecido. Matt Cavanaugh
decidira começar pelo de olhos verdes.
— Estava pensando se aceitaria meu convite —
Disse a Nate.
Então
Matthew era o anfitrião? O terno
branco e a máscara parcial cobrindo os olhos atestavam uma similaridade suspeita.
— Estamos aqui — Nate disse.
— Terá de ser mais específico. Sei que o
conheço, mas não sei com qual dos gêmeos estou falando.
— Não seria este o propósito de um baile de
máscaras? Esconder a verdade?
— Não da forma que eu vejo — Inclinou a taça
de champanhe em direção a pista. — O que você escolhe interpretar diz mais
sobre você do que o rosto por baixo das máscaras. Em essência, você é tudo o
que tem coragem de fazer.
Nate olhou para ele.
— Para o sábado à noite, talvez.
— Nova York é um amontoado de sábados à noite
em um baile de máscaras.
— Você só está aqui há alguns dias, ainda não
deveria ter descoberto.
— Você se surpreenderia com o que eu sei, Nate
— Disse por último, revelando um sorriso travesso.
Nate não se obstou a sorrir de volta, só que
para ele mesmo.
Kerr e Viola encontraram-se na recepção do
Capitale. Ela de vestido lilás e tons de rosa, sustendo uma máscara de tecido
fino nas mesmas cores; ele de sobretudo cor de vinho e máscara negra com
chifres – os cabelos penteados galantemente para a esquerda. Logo atrás vinha
Jensen, usando um colete cinza escuro e uma gravata azul listrada. Fora o único
convidado, até então, a burlar a regra da máscara. Para fazer sua entrada,
precisou retirar uma do acervo gratuito na recepção.
— Senhorita? — Kerr entrelaçou seu braço ao de
Viola.
Embora o cenário ostentasse características pós-modernas,
ainda era possível identificar todos os elementos da história monarca ao redor
do salão. Viola não havia decidido se comprava seu anacronismo despretensioso.
— É como paralisia do sono — Comentou.
Havia cristais lunares espalhados pelo salão
principal e entre uma coluna e outra nas extremidades. As luzes brilhavam em
amarelo, logo depois em azul soturno. Encontrar um rosto conhecido não seria
uma tarefa fácil.
— Amber não virá? — Ela perguntou.
— Não faço ideia. Faz alguns dias que se sente
doente — Para não dizer outra coisa.
Amber precisou
remarcar a ultrassonografia para a manhã de sábado, quando o irmão estaria em
um ensaio. Kerr não tinha certeza se tudo correra bem; não a via desde a noite
passada.
— Mia deve estar aqui em algum lugar — Viola
olhava ao redor.
— Boa sorte tentando encontrar nossos amigos.
Jensen precisava de um pouco mais que sorte.
Talvez um milagre.
— Preciso encontrar Nate, volto já — Os
alertou.
Caminhou até as colunas nas extremidades
direita, passou pelo bar e foi além das esculturas de mármore. Olhou ao redor,
por vezes na ponta dos pés. Ligou para Nate de novo e de novo, até cansar de
ouvir sua mensagem na secretária eletrônica. Ligou para Alex, depois para Mia. Estava
começando a se irritar consigo mesmo, a música, as luzes e as pessoas ao redor.
Matt, entretanto, não fora difícil encontrar. O
vira tendo uma conversa intensa com uma jovem de cabelos loiros e vestido
amarelo à sombra de uma das esculturas. Soube num instante que era a mesma
garota que discutiu com Nate no dia do brunch,
Lexi Palmer. Antes disso, a conhecera
apenas por fotos da época em que Nate morava em Paris.
Ela conheceu Theon e Nicolai. Sabia todos os
segredos de Nate e todos os planos que ele tinha para quando voltasse à Nova
York. E confabulava com Matthew Cavanaugh, um dos nomes por trás do retorno de
Gwen.
— Eu entendo — Foi capaz de ouvi-la dizer.
Logo eles encerraram o assunto, seguindo, cada
um, em uma direção. Lexi tomou um lugar no bar, próximo de onde Alex estivera,
e Matthew atravessou a multidão na pista de dança.
Jensen seguiu-o do salão principal à passarela
do segundo andar, onde o viu tomar o primeiro elevador que subia. Quando chegou
ao terraço, através das escadas, encontrou as portas do elevador abertas, mas ninguém
estava lá. Matthew desapareceu, e o elevador misteriosamente interrompeu suas
funções motoras.
Uma ampla performance de trapezistas e
equilibristas estava em execução no salão principal. A cada manobra investida,
o público os agraciava com uma salva de palmas e gritos de incentivo. Mia
prestava atenção em cada detalhe que fazia do espetáculo uma farsa. E a garota
de cabelos ruivos e vestido esmeralda prestava atenção nela. Porquanto a máscara
de ave escondesse suas verdadeiras intenções, seu sorriso de abordagem contaria
outra história.
—
Perdão, você é Michaela Strauss?
— Na maior parte do tempo. E você é...?
— Me chamo Natasha Fairley — Estendeu-lhe a
mão. — Sou muito fã do seu trabalho.
— Não sei se entendi.
Ela contava com essa resposta.
— Sou a filha de Janine Sibley, a mulher cujo
casamento você destruiu há não muito tempo. Meu padrasto saiu de casa ontem e
minha mãe bebeu o primeiro gole de álcool após sete anos de sobriedade. Achei
que gostaria de saber.
— Espere, como o alcoolismo da sua mãe é minha
culpa?
A garota refutou com um tabefe.
— Fique longe da gente ou a farei ficar.
Mia quis dizer tantas coisas. Pensou em
devolver o tabefe, ou expor os crimes de Dorian para faze-la entender. Mas algo
lhe disse que daquela vez, e somente daquela vez, poderia ser a vilã.
A verdade é que Mia não pensou muito no que aconteceria
ao deixar o apartamento de Dorian Sibley. Todas as pessoas que encontrara na
festa surpresa, incluindo sua ex esposa, lhe eram um meio para chegar ao fim. Um
fim justificável para quem, antes perdida, encontrasse uma direção em sua
história. Algo que o dinheiro não poderia comprar em um milhão de anos.
Seu rosto doía por baixo da máscara, mais em
consciência que fisicamente.
O grupo de amigas de Natasha a esperava na
antessala atrás da escadaria principal, onde os convidados confraternizavam de
acordo à privacidade. Travis e Parker apreciavam uma das obras de artes no
recinto. Usavam as mesmas máscaras do acervo da recepção, porém os ternos em
cores distintas. O convidado optara por azul marinho; seu acompanhante, marrom
escuro.
— O que você acha que significa? — Travis
perguntou a ele, bebericando de sua taça de vinho.
Poderia significar muitas coisas, desde que Parker
trabalhasse a imaginação. Via uma mulher nua deitada em um sofá vitoriano, dois
travesseiros no chão, uma vela em cada um dos criados mudos, um quadro
minimalista na parte de trás e uma mão demoníaca sobre a coxa da mulher. O mais
interessante, talvez, fosse atribuído à dismorfia corporal. Seu corpo era
integralmente maior que sua cabeça e suas mãos cobriam o abdome inteiro.
— Ela está furiosa — Ele concluiu. — Talvez
por causar repulsa ao invés do desejo.
— Não. Ela está ciente de sua beleza, e não se
importa que apenas ela veja.
— Tem certeza que não está furiosa? Aquela
sobrancelha...
— Se chama “O
Paradoxo da Autonomia”. Você sabe exatamente quem é, mas não tem o controle
sobre quem as pessoas podem ver — Tocou a pintura com o dedo indicador. — É uma
das pinturas favoritas do meu pai. Ele tenta adquirir todos os anos, mas nunca
esteve à venda. Se você fosse o Capitale, aceitaria setenta e seis milhões de
dólares por ela?
Parker quase engasgou com o drink.
— Setenta e seis milhões de dólares? Parece
que vocês vivem em outro mundo.
— Patrimônio é uma vadia, há coisas muito mais
importantes — Olhou para ele. — Já dançou em público com outro cara alguma vez?
— Parece uma boa ideia. Se isso é um convite,
é claro.
— Me siga — Travis tomou a frente.
— Promete que vai ser incrivelmente gay?
Travis só o faria nestas mesmas condições.
Nate, chegando ao bar, tomou o único assento
disponível ao lado de Lexi. Ela o encarou com total desinteresse, meneando o
palito de azeitona em uma das mãos.
— Antes que diga qualquer coisa, saiba que fui
convidada.
— Sei que devo a você um pedido de desculpas. Apenas
me diga se vai facilitar para mim ou se precisarei me esforçar.
— Este já é o pior pedido de desculpas da
história — Jogou o palito sobre o balcão. — Mas vá em frente.
— Sinto muito, eu não estava em um bom dia.
Minha irmã adotiva está causando todo tipo de problema e eu achei que você
poderia ser mais um. Não esperava ter que lidar com alguém do meu passado outra
vez. Você ouviu sobre Theon?
Todos ouviram sobre Theon. E suas sessões de
tortura. E seus crimes fiscais. E seus assassinatos premeditados. Só não havia
certeza quanto ao estupro. Neste ponto, havia quem chamava Nate de mentiroso,
ou quem o acusava de ter aproveitado.
— Sim — Ela respondeu. — Eu sei o que ele fez
com você.
— E minha mãe. Temo somente pela minha
família.
— Você falou sobre uma irmã. É Gwen, a garota
no topo da sua lista de vingança?
— Agora só existe a lista dela — Desviou o
olhar.
Lexi não lembrava de já tê-lo visto com medo. Outra confirmação de que escolhera o time
certo.
— Está tudo bem — O envolveu num abraço. Sem
ele perceber, enfiou a mão em um dos seus bolsos. — Deveríamos sair qualquer
dia.
— Pelos velhos tempos?
— Em busca do próximo coma alcoolico.
— É sempre uma boa ideia — Ele a acompanhou
com um sorriso.
— Preciso ir ao toilet. Guarde uma última dança para quando eu voltar.
— Seria um prazer.
Levou somente um segundo para alçar todas as
camadas do vestido e seguir seu caminho – o tempo de, acidentalmente, ser pega
em flagrante. Jensen descia às escadas de volta a passarela enquanto ela se
despedia com o mais enganador dos sorrisos. Estava acontecendo diante de seus
olhos e Nate não fazia ideia.
Desceu até ele rapidamente, antes que
desaparecesse entre a multidão.
— O que ela te disse?
— O que? Quem? — Nate franziu a testa.
— Lexi, ela estava aqui com você agora. O que
ela disse?
— Ela é minha amiga. O que está acontecendo?
— Ela não é sua amiga. Gwen, Lexi, Matthew,
eles estão todos juntos.
Nate pensou não ter ouvido direito.
— O que você está dizendo?
— Eu segui Gwen até um presídio hoje à tarde —
Jensen mostrou-lhe pelo celular. — Mas não consegui descobrir qual dos detentos
ela foi visitar.
— Provavelmente Simon.
— Também pensei nisso, mas Simon não cumpre
pena naquela instalação. Então eu chequei a placa da limusine a seu serviço com
um amigo policial; está em nome da empresa de Matthew Cavanaugh.
— Cavanaugh? Como...?
— Quentin. Matt é seu irmão.
Nate lembrou de imediato. Matthew Cavanaugh, o
mais novo de três irmãos, e consequentemente, o mais perigoso. Aos dezesseis
fora obrigado a estudar em um colégio de elite do Canadá, que mais lhe servia
como uma prisão luxuosa a reprimir todos os seus impulsos. Nate nunca o
conhecera pessoalmente, apenas por foto. A mesma que Jensen o mostrava pelo
celular, ao lado de Quentin e Spencer, o irmão mais velho.
— O que ele está fazendo aqui?
— Está financiando os planos de Gwen desde que
ela voltou à Nova York. Olhe — Abriu o arquivo em PDF. — Ontem mesmo ela
descontou um cheque no valor de cem mil dólares que simplesmente desapareceram no
dia seguinte.
— Mas Lexi...
— Ela e Gwen vêm se comunicando por meses —
Mostrou os e-mails. — Kerr me ajudou a colocar as mãos nestas conversas. Ela
diz que quer vê-lo pagar pelo que Theon fez a ela após você ir embora.
Essa história Nate não conhecia. A não ser
que...
— Nicolai a drogou para usa-la como vantagem
contra Theon, mas eu não sei o que houve depois.
— Ela foi presa, Nate. E só saiu um ano depois
porque Theon permitiu. Você entende agora? Eles querem que você pague tanto
quanto Gwen.
Procurando pelo celular, Nate descobriu o
bolso vazio. Estava com ele há poucos minutos, antes de Lexi...
— Ela levou meu celular — Contou a Jensen.
— Há algo incriminador nele?
— Não, eu só... eu não acredito nisso. Eu
quero que ela me diga.
— Tenho seu número aqui.
Nate tomou o celular das mãos dele
abruptamente. Copiou o número, colou na área de digitação e pressionou o botão
verde. Gwen era a voz que o saudava do outro lado da linha.
— Não esperava sua ligação — Ela girou a poltrona.
Escorados à mesa, Matt e Lexi beijavam-se agressivamente.
E atrás dela, as luzes dos cristais lunares refletiam através da parede de
vidro como se imergissem todo o cômodo.
— Eu sei sobre vocês — Nate alertou.
— Levou tempo suficiente. Quer deixar recado?
Lexi está indisponível no momento — Ouviu quando, entre o beijo, a garota
soltou uma risada.
— Você sabe o que eu fiz a Theon. Não tenha
tanta pressa de ver o mesmo acontecendo a vocês.
— Não mostre suas cartas, querido. Neste jogo,
você e eu estaremos mascarados. Faça sua jogada — E desligou.
Uma música do lado de fora requintava seus
estímulos com veleidade. Lexi abriu o sutiã, Matt a beijou e Gwen levou uma
taça de vinho aos lábios. O espetáculo viria a ser doce de onde estava.
Next...
5x04: Fuck with My Family and I Fuck with You (21 de Outubro)
Semana que vem um atentado terrorista durante o baile de máscaras do Capitale colocará em prova a união dos trigêmeos Strauss e os planos de Gwen e seu time. Haverá um salto temporal a partir do capítulo 5, o que quer dizer que este quarto capítulo é decisivo para muitos personagens.
na vida, eu sou a Gwen sendo vela enquanto os outros se agarram HAHAHAHA.
ResponderExcluirJá ansioso pro próximo capítulo, mas vendo os novos banners pros livros aqui ao lado, percebi que vc mudou o "dreamcast" nos gêmeos, então queria saber: foram apenas eles, ou os outros personagens ganharam uma reimaginação na sua mente, João? Gosto muito de imaginar rostos enquanto leio, e acho que seria interessante vc postar seu dreamcast atualizado pra gente :D
Oi Anônimo.
ExcluirNão foi bem uma mudança de dreamcast, foi mais uma atualização. Antigamente eu usava mais fotos de modelos pois não encontrava atores que correspondiam às minhas expectativas. Foi com a renovação do blog que eu decidi dar um upgrade.
Agora, não vou dizer que esse dreamcast dos banners não existe. Desde que conheci Froy Gutierrez (O menino das fotos) eu não consigo imaginar mais ninguém interpretando os gêmeos. Isso acontece desde antes do Froy atuar Teen Wolf, então faz um tempinho já (estávamos ainda na terceira temporada).
Tenho alguns outros nomes pro novo dreamcast, que surgiram naturalmente também. Se quiserem eu posso ir postando no final dos capítulos. É uma boa oportunidade pra conhecerem melhor os atores que eu teria escolhido para viver os personagens. logo de cara temos o froy interpretando os gêmeos e a Kaya Scodelario como Mia. O restante vamos vendo =D