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[Livro] My Last Lie - Capítulo 14: Anagram

Don't Look Inside.

Dos portões da mansão dos Ridell, os empregados observavam a aglomeração de carros feita pelos convidados da festa do lado de fora. Quando os portões foram abertos, eles entraram em fila, e logo se misturaram com os outros convidados que já tinham chegado. A maioria estacionava seu carro perto do chafariz da mansão, bem próximo à limusine de Barry Singleton.

Effy já estava lá dentro há vinte minutos, esperando por algum sinal de sua melhor amiga. Usava um vestido preto até os joelhos e uma enorme joia da mãe de Dean no pescoço. O cabelo estava irreconhecível, parecia um penteado de casamento e nas mãos, carregava uma bolsa preta discreta que era mais cara que seu carro. As pulseiras já não estavam nos braços, e a maquiagem pesada não estava no rosto. Tinha definitivamente se transformado em outra pessoa para encarar o tapete vermelho.

Ela estava em uma roda de três pessoas, sendo uma delas seu namorado. Os outros dois eram um casal de namorados e amigos de faculdade da irmã de Dean, mas que pareciam velhos de tão formal e educados que demonstravam ser.

Effy nem prestava atenção na conversa, apenas olhava pra entrada de cinco em cinco minutos pra saber o momento exato em que Paige apareceria. Por não ter dado tempo de abrirem a caixa, tinham combinado de fazer isso num dos doze quartos vazios daquela mansão durante a festa. Porém, já havia se passado vinte minutos do combinado e Paige nem atendia seu celular.

- Você ouviu isso, Effy? – Dean olhou pra ela, estava tão distraída que não percebeu o namorado se pronunciar – Effy? Você ouviu isso?

- Oh – Effy virou. Encarou os dois amigos da cunhada, que assim como Dean, esperavam uma resposta – Sim, é legal – Ela tentou sorrir pra disfarçar, não fazia ideia do que estavam falando.

Dean trocou um olhar desconcertado com os amigos, era a terceira vez que Effy fazia aquilo.

- Bom, agora vamos indo – Disse a garota – Precisamos cumprimentar seu pai, ainda não nos encontramos.

- Tudo bem – Dean assentiu.

- Com licença – A moça sorriu uma ultima vez antes de partir dando braços com seu namorado.

Dean só esperou eles se afastarem consideravelmente para que pudesse repreender Effy. Bebeu um gole do champanhe que segurava nas mãos e ficou frente a frente com ela.

- Você pode, por favor, pelo menos parecer que ainda está viva? – Sussurrou ele – Isso é uma festa, não um funeral.

- Sinto muito... – Effy olhou pra baixo.

- É, você deveria mesmo sentir. Agora sorria e seja educada, por pelo menos mais uma hora. Ou é tão difícil assim?

Effy olhou nos olhos dele novamente, queriam intimidá-la, mas não iriam conseguir. Se não fosse arruinar a festa, teria lhe dado um soco por ter sido tão grosso. E realmente não valia a pena. Então, bastou contar até cinco mentalmente para manter a calma e dar o mais belo dos falsos sorrisos.

- Tudo bem.

- Excelente – Dean se afastou, tomando um gole de seu champanhe.

Ele ficou lado a lado de Effy observando a festa, ambos sem dizer uma só palavra. Ele sabia que tinha sido muito duro com ela, mas se não fosse, quem ouviria tudo aquilo seria ele. Seu pai havia sido claro quanto a postura de Effy em eventos sociais, apenas um erro cometido e ele não poderia namorá-la.

No fim, a culpa era mesmo do tempo que havia pagado empregados para criar seus filhos. Obrigava-os a ser simpáticos com pessoas fúteis e preconceituosas em seus eventos só porque tinham dinheiro o suficiente para comprar a cidade inteira. Se Dean que fazia isso desde pequeno não aguentava, Effy também não aguentaria.

Quando os olhos do garoto fitaram a entrada, ele viu Penn passando pelo tapete vermelho com sua mãe e sua pequena irmã. Corbin havia dito há alguns dias que Penn dava encima de sua namorada e Dean sempre quis lhe dar uma lição. Era realmente uma pena que eles estavam num local como aquele e não poderiam acertar suas contas.

- Penn está ali – Dean apontou pra porta, Effy virou imediatamente – Devo me preocupar por ele ainda estar dando encima de você?

- Penn é só meu amigo.

- Acho que ele não sabe disso.

- Não seja paranoico.

- Paranoico? – Dean deu um ar de risos – Só acho que alguém precisa lhe dizer que existem limites que não podem ser ultrapassados. Se eu fosse você diria a ele, porque se não disser, eu mesmo vou ter que dizer. E você sabe que palavras podem doer.

- Há – Effy fechou os olhos e balançou a cabeça negativamente. Dean poderia ter tudo aquilo que fazia as garotas da cidade inteira quererem namorá-lo, mas às vezes, não parecia ser nada além de um grande idiota.

Ela pensou em sair dali e ir até o banheiro só pra se refrescar. Ou até mesmo sair daquela festa e só voltar quando estivesse preparada para encarar tudo aquilo sem sentir a cabeça prestes a explodir. Mas antes que pudesse, ela ouviu vozes estranhas. Elas vinham das escadas há alguns metros a sua direita. Tori, a irmã mais velha de Dean, estava fazendo das suas e importunando os convidados. Estava tão bêbada que o cabelo loiro antes impecável estava desarrumado e o vestido amarelo, rasgado na perna.

- Então você pode votar no meu pai, eu juro, ele vai roubar você menos que eu outros... – Disse ela a duas convidadas.

- Dean – Effy tocou em seu braço. Quando ele viu a irmã naquele estado, ficou em choque. Sabia que tinha que fazer alguma coisa antes que aquilo tomasse uma proporção maior.

- Ai merda! – Ele correu até ela, sendo seguido por Effy.

- Hey Dean – Tori sorriu. Puxou o irmão pra um abraço apertado que lhe fez embrulhar o estômago, ela cheirava a três bebidas diferentes – Estava com saudades de você, Harvard é tão chata, ninguém gosta de festejar...

- Ok, ok – Dean olhou pros convidados. Alguns já tinham percebido, e cochichavam coisas que era melhor ele nem saber – Também senti sua falta. Por que não saímos daqui e vamos até a cozinha pra comer alguma coisa.

- Não – Tori o empurrou – Não quero comer, quero beber. Onde está a garçonete que parece a Queen Latifah? – Ela olhou pro lado, estava vendo tudo embaçado, e parecia que a estátua do hall era quem estava procurando – Hey senhorita! Venha aqui, preciso de um coma alcoólico!

- Ok Tori – Dean puxou a irmã dali com a ajuda de Effy, mesmo contra sua vontade. Ela não tentava se debater, pois não tinha forças, mas resmungava coisas que diziam claramente que não estava gostando nada daquilo.

Dean a levou até a cozinha, onde viu os empregados da mansão ainda fazendo aperitivos e abrindo bebidas. Eles olharam pra eles naquela situação, e já era de se esperar. Desde que Tori fora para Harvard que não tinha havido mais escândalos e bebedeira, e agora com sua volta, era certo de que iria haver.

- Ela precisa de ar – Disse Dean.

- Leve ela até o jardim – Respondeu uma das cozinheiras.

Dean não disse mais nada. Com a ajuda de Effy ele levou a irmã até a porta vermelha do outro lado. Agora eles estavam no jardim. Assim como o restante da mansão, ele estava decorado com estátuas de pedra e enfeites brancos. As plantas também foram aparadas, e serviram para deixar o arco em formato de anjo ainda mais bonito.

Dean e Effy ajudaram Tori a se sentar num nos vários bancos transparentes, e seguraram-na para que não cambaleasse pro lado. Se soubessem no que ela estava pensando em fazer com aquela decoração, sairiam dali imediatamente.

- Ok, estamos aqui Tori – Disse Dean, com a voz aveludada.

- O que aconteceu? – Effy olhou para Tori, ela estava quase dormindo.

- Ela tem problemas. Ela é alcoólatra, papai deveria estar cuidando disso.

- Eu não sou alcoólatra, eles vão pra reuniões. Eu sou uma bêbada, nós vamos para festas – Logo depois de Tori terminar sua frase, começou a vomitar.

Dean pegou no cabelo dela para que não sujasse enquanto Effy dava dois passos pra trás. Estava achando aquilo tão nojento que nem conseguia olhar. Então, ouviu Paige chamando seu nome ao longe. Ela estava na porta por onde passaram, com um vestido azul e uma bolsa grande da mesma cor pendurada no ombro. Provavelmente a caixa e as ferramentas estavam ali dentro.

- Hey, preciso falar com Paige, tudo bem aqui?

- Ok, eu cuido dela.

- Ok – Effy correu até a amiga em fração de segundos. Antes de chegar o coração já estava batendo acelerado – Você trouxe?

- Sim, onde vamos fazer isso?

- Na biblioteca, fica no segundo andar. Ninguém vai até lá.

Paige assentiu, parecia seguro o suficiente. Elas passaram pela cozinha novamente para depois chegarem até as escadas. Alguns convidados estavam descendo, mas o primeiro corredor se encontrava completamente vazio.

A biblioteca ficava do outro lado, perto dos quartos de hóspede. Por sorte ela não estava trancada e era longe o suficiente do hall para que não pudessem escutar nem mesmo a musica que tocava. Então talvez pudesse abafar o som de uma caixa sendo quebrada com ferramentas de mecânico.

Paige não perdeu tempo, abriu sua bolsa e tirou a caixa junto das ferramentas. Effy sentou no chão de frente para ela e deu uma olhada. Ela tinha trazido dois martelos e um punção enorme, exatamente do que precisavam.

- Só coube isso – Informou Paige – A bolsa ficou pequena por causa da caixa.

- Tudo bem, é o suficiente – Effy posicionou o punção no cadeado e com o martelo bateu na sua cabeça. Nada aconteceu com o cadeado, ele apenas teve sua parte dourada riscada – Droga! – Ela suspirou. Decidiu fazer o mesmo procedimento de antes, mas dessa vez, não teve medo em colocar força. O cadeado apenas balançou.

- Você já fez isso antes? – Paige olhou pra ela e logo depois fitou a caixa.

- Bom, pra tudo se tem uma primeira vez.

- Tenha cuidado, não sabemos o que tem aí dentro, podemos quebrar.

- Eu sei – Effy tentou novamente, do mesmo jeito de antes, e nada.

Ela tentou mais uma vez, e mais uma vez, até perceber que era inútil. Paige gostaria de poder ajudar, mas se Effy não conseguia, nenhuma das sete garotas o faria.

- Merda! – Effy jogou o punção pro lado e colocou as mãos encima das coxas. Deu um grande suspiro pelo cansaço, aquele martelo pesava mais do que deveria.

- Talvez a gente deva chamar alguém.

- Não, eu vou conseguir – Effy pegou o martelo e deu uma porrada encima da caixa.

- Effy, você enlouqueceu? – Paige arregalou os olhos.

- Você não viu nada – Effy bateu mais uma vez, e agora, ela havia quebrado. Tinha formado um enorme buraco por onde ela e Paige já podiam ver alguns papeis.  Estava dando certo, e não havia nada ali que pudesse se quebrar.

Então, Effy acertou a caixa mais algumas vezes até que a parte de cima quebrasse completamente. Elas afastaram a madeira podre da tampa e olharam por dentro.

A primeira coisa que Paige pegou foi a cabeça de uma boneca sem os olhos. Já Effy, tinha conseguido algo interessante. Havia mais de vinte cartas no nome de Violet, e de acordo com o conteúdo, eram de alguém que ela namorava.

- Hey, são cartas de amor – Disse Effy, entregando algumas para Paige.

- De quem?

- Não sei, estão endereçadas a Violet, mas identificadas apenas com “E”.

- Que estranho – Paige passou algumas cartas. Estava lendo alguns versos aleatórios e já tinha a certeza de que Violet e o garoto estavam completamente apaixonados – Violet nunca disse que tinha um namorado.

- Talvez seja uma garota, faria sentido se ela escondesse.

- Não, olhe – Paige mostrou uma das cartas a Effy – Aqui ele diz que é o homem mais feliz do mundo por tê-la junto dele. É um homem.

- Então por que ela escondeu isso de todo mundo? Não faz sentido – Effy olhou novamente pra caixa, tinha acabado de encontrar um colar em forma de coração e tinha certeza que dentro dele havia alguma foto.

Enquanto ela tentava abri-lo, Paige remexia novamente na caixa em busca de outra coisa que ajudasse. Acabou encontrando um pacote lacrado onde pensava haver mais cartas. No entanto, se tratavam de fotos. Elas mostravam apenas Violet sorridente, feliz, de bem com a vida, e isso fez Paige dar um sorriso sem graça pela emoção que estava sentindo.

Mas isso logo se dissipou quando ela percebeu, nas próximas fotos, um homem misterioso junto da amiga. No começo apenas suas pernas e braços apareciam, como se seu rosto estivesse sendo escondido de propósito. Mas as ultimas fotos revelaram a identidade do homem misterioso. Era Edgar LockWood, o pai de Charlie, beijando, abraçando e protagonizando cenas de sexo doentias de sadomasoquismo com Violet.

O coração de Paige imediatamente disparou. Foi como receber uma pancada no peito, ou levar um susto e sentir o estômago embrulhado.

- V e E... – Sussurrou ela, levantando as fotos para que Effy pudesse ver – Violet e Edgar LockWood.

- O que? – Effy pegou as foto das mãos de Paige. Enquanto as passava, o coração ia se enchendo de dor e angústia – Isso não é possível... Ela estava tendo um caso com o pai de Charlie?

- Ai meu Deus... – Paige colocou as duas mãos no rosto e suspirou. Se não estivesse com os sentimentos totalmente petrificados, começaria a chorar.

- Deve ter mais alguma coisa – Effy jogou as fotos pro lado e voltou a vasculhar a caixa.

Encontrou mais algumas cartas e alguns cartões postais que não lhe diziam absolutamente nada. Porém, no fundo da caixa, parecia ter algo que valia a pena. Havia uma folha de papel grampeada a um bilhete, como se fosse uma mensagem. E só precisou ler algumas linhas para saber do que se tratava.

- Ai meu Deus... Aqui diz que Violet foi uma das garotas que acusou Edgar LockWood de assédio.

- O que? – Paige tomou a folha de sua mão. Teve que levantar o bilhete pregado no canto para poder ler direito.

Não tinha como não ficar chocada com aquilo, não tinha como não achar que iria enlouquecer com aquela enorme quantidade de informações. Effy se levantou do chão e caminhou de um lado pro outro na biblioteca. Sentia que sua vida tinha acabado de ficar completamente desestruturada, pois tudo no que sempre acreditou tinha acabado de ser dissipado. E o pior de seus pesadelos estava acontecendo exatamente por isso.

- O que isso significa? – Paige olhou pra caixa, depois pras fotos, e depois pro bilhete. Nada ainda parecia fazer sentido – O que isso quer dizer? Que estamos passando tudo isso por causa da Violet?

- Isso só pode significar uma coisa – Effy virou – Estávamos erradas. Charlie não é inocente, foi ele quem matou Violet. E fez isso pra proteger o pai.

- Não, isso... Não, Charlie não a mataria, seu pai correspondia, leia as cartas e veja as fotos.

- Eu não sei! Mas dentro dessa caixa tem as provas de que Edgar violou uma menor de idade, e teve uma denuncia. Eu acho... – Effy hesitou para suspirar. Doía-lhe muito admitir aquilo, mas precisava – Eu acho que Charlie fez o trabalho pro pai antes dele ser condenado.

- Isso não faz o menor sentido... – Paige se levantou – Se Violet correspondia, por que o denunciou? Ela estava feliz nas fotos, eles se amavam, ele escrevia cartas de amor que ela provavelmente respondia...

- Acho que Abby descobriu e a obrigou a entrar no processo, não deixaria um senhor de quarenta anos dormir com sua filha de dezesseis.

- Essa história faz realmente algum sentido pra você?

- Eu não sei! – Gritou Effy, tão alto que Paige acabou levando um susto – Eu só... Eu não sei o que pensar...

Paige assentiu. Tinha entendido sua alteração, porque por dentro também estava sentindo vontade de gritar. Ela olhou pra baixo como num reflexo e viu que ainda estava com aquela folha na mão. O bilhete que antes lera e parecia algo em sueco ainda estava lá, e só quando olhou direito percebeu que algumas palavras estavam escritas na sua língua.
“O tesouro AGRTMAER SRIEGM”
- Effy, tem alguma coisa aqui.

- O que? – Effy olhou pra ela, parecia desinteressada e ao mesmo tempo cansada.

- Tem um nome estranho junto de uma frase, não consegui entender – Paige estirou o braço para Effy pegar o bilhete.

Effy leu a frase pelos menos duas vezes antes de começar a pensar. Não fazia sentido algum, porque nem poderiam ser consideradas palavras. Apenas as duas primeiras tinham algum significado, mas o resto, era uma incógnita.

- O tesouro... – Repetiu Effy.

- Tem que significar alguma coisa...

- Talvez seja um anagrama. Temos... Oito letras. São 40.320 maneiras de se escrever a primeira palavra.

Com o barulho da porta da biblioteca se abrindo, as duas tiveram que olhar pra trás. Viram Penn com a mão direita na maçaneta e na esquerda uma taça de champanhe.

- Oops, desculpe, pensei que não tinha ninguém... – Quando estava fechando a porta, acabou olhando pro chão. Viu a caixa destruída, papeis espalhados e Effy e Paige assustadas - O que está acontecendo?

- Na verdade... – Effy deu um passo a frente – Precisamos da sua ajuda.

--

- Voltei – Disse Effy ao entrar na biblioteca. Estava com um notebook na mão direita e o bilhete com o anagrama na esquerda – É o de Lola, estava encima de sua cama – Ela deixou o notebook encima da mesa onde Penn e Paige estavam sentados – Tem certeza que vai servir?

- Sim – Respondeu Penn – Na verdade, é tudo bem simples.

- Espero que funcione.

Effy trocou um olhar cauteloso com Paige, ambas esperando que aquilo desse certo. Elas assistiram Penn mexer no computador com facilidade, mas apenas Effy conseguiu compreender. Ele baixou um programa e era tão rápido que já estava finalizando sua instalação.

- Então, deixe-me ver – Ele estendeu as mãos para Effy lhe dar o bilhete. Quando leu, teve a certeza que poderia ajudá-las – Com certeza é um anagrama. A primeira palavra tem oito dígitos, então, 40.320 maneiras distintas de serem escritas. A segunda possui seis dígitos, e é a mais fácil, apenas 720 maneiras distintas de ser escrita.

- Então... – Effy colocou a mão na cadeira de Penn para se escorar e poder ver a tela do notebook melhor – O que fazemos?

- Tenho um programa que serve como decodificador. Anagramas geralmente são criados para dar informações e ao mesmo tempo impedir que elas sejam lidas. Apenas quem tem acesso a mais informações e ao real conteúdo da mensagem consegue entender, pois ninguém pararia pra ler milhões de hipóteses podendo elas ter vários significados ou não. O Ana-Code funciona como um separador, ou um contador inteligente de anagramas. Pega as palavras e separa apenas aquelas que fazem sentido e que podem ser encontradas no dicionário de nomes e palavras que tem eu seu sistema. E então, um conjunto de letras que antes não tinha sentido finalmente toma forma.

- Uau – Disparou Effy – Não sei o que faríamos sem você.

- Provavelmente teriam que ler anagrama por anagrama, mas tudo bem – Penn deu uma risada. E então, iniciou uma sequencia de botões que abriu algumas janelas.

Effy viu quando ele digitou a primeira palavra, e não demorou nem cinco segundos para obter um resultado.

- Aqui está. De 40.320, temos apenas trinta palavras encontradas no dicionário. Vocês conseguem reconhecer alguma?

Effy e Paige se aproximaram da tela para ver a lista. Nem sabiam que algumas daquelas palavras existiam, e entre uma e outra, a maioria nem parecia fazer sentido.

- Nada – Respondeu Paige.

- O que estamos procurando mesmo?

- Encontramos esse bilhete no bolso do meu pai – Effy engoliu em seco. Estava dando graças a Deus que Penn ainda fitava o monitor ou então veria que estava mentindo – Achamos que pode ser o nome de alguma vadia, ou o local onde eles se encontram.

- Ok, então vamos pesquisar na lista de nomes – Com apenas um clique, Penn lançou um novo comando ao programa. Eles esperaram mais cinco segundos, e então, já estavam olhando para o resultado – Aqui está. Conseguem reconhecer algum desses nomes?

Effy e Paige se aproximaram do monitor de novo. Havia apenas seis nomes na tela e o ultimo era o que fazia mais sentido. Foi Effy quem viu primeiro, e então, toda aquela história de anagramas começou a lhe dar esperanças.

- Olhe, Margaret – Effy apontou – É isso, não é? – Effy olhou para Penn e Paige, eles concordavam.

- Ok, então temos um nome. Pode ser de uma mulher, ou algum lugar. Existem ruas e locais públicos com nomes de pessoas.

- Então só precisamos descobrir seu sobrenome.

- Ok, aqui vamos nós – Penn digitou o segundo nome escrito no bilhete e deu um clique. Demorou menos que da ultima vez, pela quantidade de algarismo ser menor. Mas os resultados acabaram deixando todos eles confusos – Bom, temos vinte nomes , e mais de um faz sentido.

- Quem se chamaria “Mirges”?

- Não sei, mas eu conheço um “Mesgri”, é um nome de um jogador de basquete da Itália. Sem falar que aqui temos a lista de nome e sobrenome, e os sobrenomes podem estar em qualquer idioma.

- Ok, tive uma ideia – Disse Effy – Vamos tentar todos. Vamos jogar na pesquisa Margaret com todas as opções e ver em quais temos resultado.

- Ótima ideia, aqui vamos nós – Penn abriu um navegador e iniciou a pesquisa.

Effy começou a roer a unha atrás dele, e quase tirou a pele quando percebeu que nenhum dos três primeiros anagramas tinham resultado misturado com o primeiro. Então, o jeito era apelar para Deus. Ela não sabia no que acreditava, mas não tinha mais nada que pudesse fazer se não implorar para que aquilo desse certo. Porque se desse, elas finalmente iriam entender tudo aquilo e poderiam ter uma pista de quem tinha matado suas amigas.

- Bingo! – Gritou Penn assim que a página se encheu de resultados – Consegui. Na verdade, conseguimos. Olhem, Margaret Grimes, o único resultado, escritora de livros para adultos.

- Sério? – Effy se aproximou da tela junto de Paige. Viu a foto em preto e branco da escritora, ali dizia que ela tinha morrido há alguns anos e sido enterrada em Nova York.

Apesar de ter dado em alguma coisa, parece que descodificar o anagrama tinha piorado a situação. Margaret Grimes não tinha nada a ver com o que estava acontecendo. Não morava naquela cidade e nem conhecia Violet, portanto, não tinha motivos para estar dentro de sua caixa em forma de anagrama.

- Já tentou todos?

- Sim, este foi o único que deu resultado. E acho que está certo. Margaret e Grimes são os anagramas mais comuns das duas palavras – Penn olhou para Effy – Parece que seu pai vai comprar um livro.

- É, parece... – Effy se afastou, tirando o celular do bolso. Digitou o numero de Lola, mas antes de dar o primeiro toque, a chamada foi enviada pra caixa de mensagens – Lola está sem sinal – Ela virou – Temos que falar com ela, isso tem que significar alguma coisa. Não pode ser apenas um livro...

--

- Ai! – Exclamou Lola assim que Courtney freou o carro. Sentia que se não estivesse usando cinto de segurança, teria voado pela janela – O que deu em você?

- Estou nervosa. Acho que chegamos – Courtney fitou a frente do carro, ao fundo havia uma casa de campo com uma fogueira na frente.

Lola olhou na mesma direção e teve certeza que estavam no lugar certo. A casa batia com a descrição da foto e dos moradores. Era feita de troncos de árvores redondos, como aquelas que havia no acampamento. E também uma chaminé pra onde a fumaça da fogueira em frente a casa ia. Se havia uma fogueira, Edgar estava em casa.

- Ok, é aqui – Lola pegou o machado ao lado, o segurou com força.

- Não sei se quero fazer isso...

- Por favor Courtney, o que a gente menos precisa agora é que você dê uma de medrosa. Só vamos conversar, e temos armas. Nada vai acontecer.

Courtney hesitou antes de falar. Queria dar outro motivo para continuar no carro, mas nem sabia se isso era realmente seguro. Se Lola fosse e lhe deixasse sozinha, poderia ser atacada ali dentro, não valia correr o risco. Numa coisa Lola estava certa, juntas elas tinham mais chances de sobreviver.

- Ok, vamos.

As duas saíram do carro ao mesmo tempo, e bateram as portas em seguida. Lola segurou o machado apenas com a mão esquerda nas costas, para que Edgar não visse caso aceitasse apenas conversar.

Quando chegaram perto, notaram que um porco estava sendo assado na fogueira, porém, completamente queimado, como se tivesse ali há horas e não houvesse fedor de queimado. Lola olhou pra porta também feita de madeira, e então, as duas pararam.

- Você está com a sua faca, Courtney?

- Sim, está no bolso.

- Ok, vamos lá. – Lola tomou a frente e caminhou até a porta, subindo pelas pequenas escadas que levavam até a varanda.

Antes de bater, ajeitou o cabelo e deu um grande suspiro. Se uma delas morresse naquele momento não iria se perdoar, porém, visando a sobrevivência de todas, elas tinham que correr aquele risco.

Foi preciso apenas uma batida pra elas perceberem que a porta estava entre aberta. Ela se abriu, fazendo um ruído estridente e deixando Lola e Courtney virem uma parte da casa pela brecha que se formou. Lola olhou pra amiga, estava esperando um olhar que lhe reprovasse a entrar e que lhe instigasse a voltar pro carro.

- Olá? – Gritou Lola, afastando mais a porta.

- Lola vamos embora.

- Espere... – Lola olhou ao redor. Havia uma cabeça de alce encima da lareira e uma vitrola perto da janela – Acho que não tem ninguém em casa...

- Então vamos embora...

- Não, vamos vasculhar.

- Talvez a gente esteja na casa errada.

- Hmm – Lola notou o porta retratos com a foto de Edgar na sala – Eu acho que não. Temos que ser rápidas, não sabemos quando ele vai voltar. Vamos procurar alguma coisa que incrimine esse desgraçado.

- Como o que?

- Eu não sei, Courtney. Qualquer coisa – Lola caminhou na direção da estante enquanto Courtney ia até a mesa de centro da sala.

De lá elas só tiraram um monte de papeis como notas musicais, talvez Edgar tocasse violão ou piano. Também havia algumas provas não corrigidas de seus alunos, e pela data em que foram feitas, parecia que Edgar era um preguiçoso e deixava seu trabalho pra ultima hora.

- Não tem anda aqui – Avisou Courtney – Vou até a cozinha.

- Ok – Lola assentiu. Deu alguns passos pro lado e encarou a enorme TV de plasma. Olhou atrás dela, nada havia se não os cabos do DVD e alguns filmes jogados e com certeza, também não organizados – Que droga.

Ela se abaixou para abrir as gavetas, e também se decepcionou. Só encontrava provas e contas, provas e contas, como se Edgar só vivesse para isso. E nenhuma prova de que ele era o assassino ou que pelo menos sabia quem poderia ser. Também não havia vestígios da mãe de Charlie, era como se ela não tivesse existido, mas um filho não pode nascer sozinho.

Depois de vasculhar a sala inteira, Lola caminhou até o corredor. A primeira porta era o banheiro. Tão pequeno como o resto da casa, e que não tinha nada suspeito. Apenas escova de dentes, sabonete, toalhas, Edgar parecia ser uma pessoa tão normal que não poderia simplesmente largar a carreira de professor e começar a matar garotas.

Quando ela saiu do banheiro, deu de cara com Courtney.

- Nada na cozinha.

- Nada na sala e no banheiro – Lola olhou pra trás – Temos mais três cômodos, vamos.

Lola tomou a frente, parecia com pressa, enquanto Courtney observava tudo como se qualquer coisa naquela casa fosse lhe machucar. A porta depois do banheiro deu até o escritório. Havia uma mesa no canto junto de uma cadeira de couro, e uma poltrona virada pra janela. Atrás da mesa ficava a estante cheia de livros, poderia ter alguma coisa neles.

Lola correu até lá junto de Courtney e começou a mexê-los. Estava puxando-os até si só pra saber se havia alguma passagem secreta ou qualquer outra coisa. E pra sua decepção, eram apenas livros.

- Vou procurar no outro cômodo – Courtney se retirou.

Lola estava tão cocentrada que não teve tempo de dizer nada, estava movendo os livros esperando que a qualquer momento a parede pudesse de mover. Mas como não teve sorte com eles, foi até a mesa ao seu lado procurar alguma coisa. Nela havia alguns documentos de Edgar, e uma parte de um trabalho acadêmico que ele ainda não tinha terminado.

- Droga Edgar, você não pode ser inocente... – Ela se abaixou para olhar nas gavetas. Pensou que estariam trancadas, mas conseguiu abri-las facilmente. E a única coisa estranha que havia dentro delas era uma arma.

Lola hesitou ao vê-la, e engoliu em seco quando admitiu pra si mesma no que estava pensando. Ela pegou a arma e continuou olhando, sentindo-se culpada por querer estar com algo tão perigoso nas mãos. Aquilo poderia lhe ajudar a sobreviver, era apenas nisso que deveria pensar. E com essa ideia em mente, ela colocou a arma na cintura e saiu.

 Olhou no fim do corredor, Courtney estava vasculhando o quintal, era o ultimo lugar onde iriam procurar. Quando estava voltando pra sala, ouviu seu celular tocar. Finalmente Effy daria sinal de vida e diria no que deu sua procura.

- Alô – Disse Lola ao colocar o celular na orelha.

- É a Effy. Conseguiram alguma coisa?

- Nada, e vocês?

- Encontramos a caixa. Dentro dela tinha fotos de Violet e Edgar juntos, eles tinham um caso.

- O que? – Lola parou de andar e fitou o nada.

- Parece que Abby descobriu e o processou. Não sabemos direito, não temos nada concreto. Só sabemos que Violet não o denunciara, pois estavam apaixonados.

- Você tem certeza disso tudo?

- Estou segurando as fotos agora na minha mão...

- Ai meu Deus! – Lola ainda estava chocada. Era muita informação pra pouco tempo.

- E ainda encontramos um bilhete em forma de anagrama, mas não ajudou em nada.

- O que tinha nele?

- O nome de uma escritora, Margaret Grimes. Talvez seja outro anagrama, Penn está nos ajudando.

- Espera, espera – Exclamou Lola. De repente estava eufórica – Você disse Margaret Grimes?

- Sim – Effy percebeu o tom de voz de Lola e logo pensou que ela tinha uma pista - Isso quer dizer alguma coisa pra você?

- Merda! Espera! – Gritou Lola.

Ela decidiu ignorar os gritos de Effy no celular para correr de volta até o escritório. Foi direto até a estante onde estivera há poucos minutos, tinha certeza que tinha lido esse nome em um dos livros.

Ele estava na parte de cima, com uma capa azul e o nome de sua autora em letras de forma em sua lateral. Lola não perdeu tempo e largou o machado para retirar o livro da prateleira.

Ao abri-lo, notou o enorme recorte retangular nas páginas que fora feito para abrigar um gravador de voz no centro. Seu coração disparou e finalmente, sentiu que as coisas estavam caminhando pro seu lado. Se tinha algo escondido ali que só descobriram depois de decifrar um anagrama na caixa secreta de Violet onde Owen afirmava que havia a verdade, então elas estavam perto de desvendar todo o mistério.

- Lola, você está aí? – Perguntou Effy mais uma vez.

- Estou – Respondeu Lola – E acabei de achar um gravador escondido dentro de um livro de Margaret Grimes no escritório de Edgar.

- O que?

- Lola! Lola! – Gritou Courtney desesperada.

Lola imediatamente colocou o celular no bolso e passou pela porta, com a arma preparada pra atirar em Edgar ou em qualquer pessoa que estivesse querendo matá-las. Mas ao chegar no corredor, só o que viu foi Courtney gritando em frente a uma das portas, como se estivesse vendo um monstro e não tivesse forças nas pernas pra correr.

- Courtney? O que foi? – Lola correu até ela e olhou pra porta.

Elas estavam olhando pro armário, onde tinham acabado de encontrar Edgar morto perto dos produtos de limpeza. Ele estava com a boca e os olhos costurados, e com moscas rodeando o corpo. O fedor indicava que ele estava ali há muito tempo e as marcas nos pulsos, que havia sido amarrado.

- Não olhe! – Pediu Lola, mas Courtney parecia inconsolável – Vamos sair daqui, vamos sair agora.

- Ele está morto!

- Courtney, vem! – Como Courtney parecia petrificada, Lola teve que guardar a arma na cintura novamente e sair puxando seu braço. Lembrou que Effy ainda estava na linha e tirou seu celular do bolso enquanto saia da casa – Effy?

- Estou aqui.

- Edgar está morto.

Comentário(s)
3 Comentário(s)

3 comentários:

  1. OMG!!,parece que estamos perto de desvendar todo esse mistério e as coisas estão cada vez melhores,tô loka pra saber o que tem nesse gravador talvez sejam provas de que Charlie Abrams é inocente ou seja outra coisa.

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  2. oh meu Deus quando a gente pensa que nao tem mais segredos vem um desse e da na cara da gente

    o proximo capitulo vai lancar no dia do meu amiversario

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  3. Em choque,Violet era uma safadinha e o pai do Charlie era um pedófilo,a história esta cada vez mais emocionante,não acredito que ela só vai continuar na semana que vem.

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