Livro | The Double Me - 6x23: Young Hurt [+18]
6x23: Young Hurt
“A paz pela vingança traz o fim".
Nate acordou sozinho, na cama, com a luz do
sol batendo contra seu rosto.
— Jensen? — Ele chamou.
Sua voz sucedera ao barulho da porta do
banheiro, que Jensen abriu com um dos pés. Usava apenas uma cueca boxer, negra,
da noite anterior. A mão direita segurava a escova de dentes e a outra o tubo
de pasta.
— Bom dia — Disse ele.
— Bom dia... — Respondeu Nate, em tom
arrastado. — Que horas são?
— Dez em ponto. Acordamos tarde.
— Não, ainda é madrugada para mim... — Ele deitou
outra vez.
Jensen aproximou-se da pia e cuspiu
diretamente no ralo.
— Vamos, Nate. O dia está brilhando lá fora.
— Não podemos ficar aqui?
— Podemos, mas não irei beija-lo se não
escovar os dentes e não tomar banho.
— Jensen, não se diz essas coisas a ninguém.
— Não era você que acordava primeiro todas as
manhãs para escovar os dentes e me dar um beijo de bom dia?
Nate suspirou.
— É, esqueci que você é meu ex... — Levantou-se.
No tempo que levou para chegar até ele, Jensen
lavou a boca com uma passada de água e pôs a escova no lugar.
— O que acha de abrirmos uma exceção? — Nate
agarrou pela cintura.
Começou com um beijo, uma passada de mãos. Um
sorriso bem próximo um do outro, com cheiro de pasta de dentes.
— Quer que eu te foda aqui... — Sussurrou
Jensen. — Ou vamos para o chuveiro?
— Quero que me foda em todos os lugares — Disse
Nate.
Seu pedido foi quase atendido.
Jensen teve tempo de posiciona-lo de costas,
despi-lo das partes de baixo e se encaixar entre suas pernas, numa única
estocada. Então ouviram a voz de lex.
— Nate? Jensen? — Ele perguntou. — Não estou
vendo nada, não estou vendo nada... — Tapou os olhos. — Vistam-se, por favor...
— Esperou um momento. — Posso olhar agora?
— Pode — Consentiu Jensen.
Ele e Nate dividiam uma toalha minúscula para
esconder a ereção.
— Como podem ter forças para transar depois de
ontem à noite? — Alex mencionou — Eu achei que estavam matando alguém. A noite
inteira.
— Nós o ouvimos roncar do outro quarto também
— Disse Nate.
— E dar a descarga quatro vezes — Completou
Jensen.
— Eu bebo muita água. Whatever... —
Revirou os olhos. — Só passei para dizer que vou à cidade ver Thayer. Vocês
precisam de alguma coisa?
Nate e Jensen se entreolharam.
— Não, estamos bem — Sorriu Jensen.
— Não precisamos de mais nada — Completou Nate,
também com um sorriso.
A expressão no rosto de Alex poderia ser
deboche ou constrangimento.
— Sério? Nem uma camisinha?
— Não, obrigado — Nate se afastou. — Não corro
riscos sem um útero.
— Para o seu próprio bem, espero que seja uma
ironia.
— É uma ironia. Agora vá.
— Okay... — Assim ele foi.
Nate e Jensen trocaram outro olhar, seguido de
uma gargalhada.
— Então, continuamos? — Era a sugestão de
Jensen.
— Se tentarmos agora, não vou parar de rir —
Admitiu Nate. — Olha, termine seu banho primeiro... — Ele caminhou. — Enquanto
isso eu vou arrumando as coisas.
— Se quiser uma mão...
— Sim, claro. É só pra adiantar.
— Okay — Concordara o outro.
Nate resolveu começar pelos livros nas
poltronas, que ontem não teve tempo de organizar. Um deles, ali no meio,
escondia uma foto. Ele viu ao cair aos seus pés. Vinte e dois de abril, no Wollman
Rink. Gus e ele dividiam um pote de sorvete de chocolate com trufas depois
da patinação.
— É seu filho? — Perguntou Jensen, abraçando-o
por trás.
— Seu nome era August. O chamávamos de Gus. Quer
dizer... — Balançou a cabeça — Eu... eu o chamava de Gus. Ninguém realmente o
conhecia.
— Eu gostaria de ter conhecido.
— É, eu sei — Ele deixou sobre a cômoda.
Estava claro para Jensen que não gostaria de
tocar no assunto, ou não se fecharia totalmente. Mesmo assim, resolveu
perguntar:
— Você está bem?
— Sim, estou... — Respondeu Nate. — Eu vou
ficar... — Reformulou. — Eu espero... — Tentou sorrir.
Jensen abraçou-o e beijou-o no topo da cabeça,
de forma protetora.
— Estou aqui, beleza?
— Beleza. Agora pare de sertão sentimental.
— Eu gosto de ser sentimental. Sou sentimental
por nós dois.
— Isso é verdade — Riu Nate.
Jensen afastou-se logo em seguida.
— Agora vem comigo? A água está na temperatura
ideal...
— Tudo bem, vamos.
— Vamos — Jensen tomou-o por uma mão.
A foto de Gus e o porta-retratos da família de
Henry ficaram lado a lado.
൴
A caminho do Linnard Report, Thayer ligou para
ele. Alex vinha saindo de um posto de gasolina com algumas com um cappuccino
nas mãos, que colocou junto ao suporte lateral do celular.
A conversa fluiu por vários tópicos antes de
precisarem improvisar.
— Então, como está Nate? — Perguntou Thayer.
— Muito bem, na verdade — Disse Alex. —
Hoje de manhã quase flagrei ele e Jensen
transando no banheiro.
— Eles reataram?
— Bom, suas genitálias reataram. Isso eu posso
afirmar.
— Neste caso, nos preocupamos em reestabelecer
nosso record. Nate e Jensen são uma ameaça.
— Você ainda lembra disso? — Alex meio sorriu.
— Nem sei em que número paramos.
— Seis horas, doze minutos e trinta segundos —
Disse Thayer, orgulhoso de si.
Alex chegou a balançar a cabeça negativamente,
ainda sorrindo – mesmo que aquele número tenha feito muito bem ao seu ego.
— Okay — Ele disse. — Você contou de verdade.
— Você não?
— Não, eu estava fodendo você por seis horas.
Precisei administrar minha energia.
— Você é bom nisso. Vamos para sete, dessa
vez.
— Você quer morrer?
— Literalmente.
Alex tentou imaginar.
— Se este silêncio é um sim... — Continuou
Thayer.
— Bom, acho que seria justo bater o record de
“Jate”. Quando começamos?
— Podemos tentar em casa, hoje à noite.
— Não pode ser no seu escritório?
— Estão todos aqui.
— É, transem em casa! — Ouviu Travis gritar.
Thayer deve ter jogado alguma coisa nele, pois
seguiu de um estranho ruído e vários palavrões. A outra voz poderia ser de Dawn,
a secretária. Sua única preocupação era com os artigos decorativos.
— Vocês estão bem? — Alex achou melhor ter
certeza.
— Perfeitamente — Respondeu o namorado. — Eu queria
perguntar, ouça. Você tem planos para hoje à noite? Soube que abriu um novo
restaurante japonês na 5th com a 7th.
— Sobre isto... — Ele começou a dizer, mas
logo parou.
Tinha certeza que o jovem rapaz loiro, de jeans
e moletom, na outra calçada, era quem chamavam de Dominik. Além dos olhos
vermelhos, também ostentava duas marcas de olheiras da noite passada. Hmm,
alguém não consegue mais dormir com a consciência tranquila.
— Thayer, nos falamos depois — Alex despediu-se.
Em uma rápida virada, o carro atravessou
a movimentação e invadiu a área de pedestres. Dominik não o viu chegar, ou
tampouco reagiu ao ser colocado contra a parede.
— Nate? — Ele perguntou, de olhos arregalados.
— Tente outra vez, vagabunda.
— Alex... — Ele então percebeu.
Seus braços foram imobilizados para trás.
— Você é tão lindo, inteligente e educado, não
é Dominik? — Alex o confrontou. — Seus pais devem estar orgulhosos do homem de
bem que criaram.
— Alex, está me machucando...
— Esse é o ponto — Ele apertou. — Quero que
sinta uma pequena fração do que o farei sentir se algo acontecer a Nate.
— Nada vai acontecer. A polícia já sabe a
verdade.
— Você confessou? — Riu ele. — Não, não, você
nunca confessaria. Alguém deve tê-lo desmascarado. Porque além de tudo, você também
subestima seus inimigos.
— Solte-me! — Dominik empurrou-o, de uma vez.
Alex envolveu uma mão em seu pescoço.
— Você sabe que eu posso fazer qualquer coisa
com você agora, não é? Se eu terminar o serviço que meu irmão não pôde, quem
irá me impedir? Os pais de um mentiroso? A polícia para quem ele mentiu? As
pessoas na rua, que já sabem ou estão muito perto de saber quem eu sou, quem
você é e o que você fez?
— Então faça... — Dominik desafiou-o.
Algo em seus olhos levou Alex a pensar que era
exatamente o que queria; alguém que desse um fim nisso tudo. Porque ele mesmo
não teria coragem.
— Para onde você vai, seu verme esperto, se
sangrar seu hospedeiro? — Recitou Alex, antes de solta-lo.
Podia até sentir pena vendo-o ali, sozinho, inclinado
sobre o próprio corpo, sem conseguir respirar.
Nate tinha toda a razão. Não vale à pena.
൴
A família Foster se reuniu com os
advogados e os médicos responsáveis naquela manhã, no escritório do Liberty
County Hospital. Kerr conhecia os procedimentos.
Após as primeiras seis horas, podiam
declara-la morta. Falariam sobre doação de órgãos, serviços funerários e o
registro dos bebês. Se assinassem, uma equipe médica desligaria seus aparelhos
e removeria os cateteres, drenos e tubos, um por um. Eles podiam estar ao seu
lado, mas não por muito tempo. O corpo precisaria ser preparado para o funeral
o quanto antes.
Então, assinamos, pensou Kerr. Uma assinatura por
uma vida.
— Podem nos deixar a sós, por favor? — Pediu
aos médicos e advogados.
Eles liberaram a sala.
— Não sei se concordo com isto — Disse
Julianne. — Acho que devemos esperar.
— Ela teve morte cerebral — Lembrou Donato. — Não
podemos fazer nada.
— Mas há pessoas que se recuperaram, não é?
— Não, querida. Para todos os efeitos, nossa
filha se foi.
— Não, ela está logo ali, na outra sala. Está
respirando.
— Que parte de morte cerebral você não
entendeu? — Gritou Kerr.
Seus pais olharam espantados.
— Ela se foi — Ele continuou. — Se não
assinarmos os papeis, é por sermos incapazes de seguir em frente, não porque é
o certo a se fazer.
— Não fale assim — Repreendeu seu pai. — Ela
ainda é sua irmã.
— Ela sempre será minha irmã. Mas nada muda o
que aconteceu.
Sua mãe debulhou-se em lágrimas.
— É tão injusto. Ela merecia mais que morrer
dando à luz aos filhos de um cafajeste.
— Não é culpa dos bebês — Lembrou Kerr.
— Eu sei, mas se tivesse me ouvido e feito o
que eu disse...
— O que? Um aborto? — Kerr levantou. — Você vai
mesmo tocar nesse assunto?
— É a única coisa em que consigo pensar. Que
minha filha estaria viva se não cometesse essa loucura.
Kerr avançou, seu pai o conteve.
— Você não conhecia a Amber! — Ele cuspiu. — Ela
tinha tanto amor no coração que sobrava até para uma racista categórica feito
você!
— Kerr, já chega! — Gritou seu pai.
— Solte-me! — Ele o empurrou.
Donato equilibrou-se no vão das janelas.
— Assinaremos estes papeis — Disse Kerr. — Ela
merece estar em paz mais do que vocês merecem que um milagre os salve.
— Filho...? — Chamou seu pai.
— Não, preciso ficar sozinho — Ele saiu.
Lá fora
a chuva começava a cair, e o sol escondia-se atrás de algumas nuvens cinzentas.
As gotículas marcavam a calçadas com um tom mais escuro que o habitual. Ela
ficará bem, pensou Kerr. Será que existe um paraíso, onde todos vamos
nos encontrar? Seria bom se existisse.... – Suspirou.
— Amigo...? — Chamou Andy, atrás dele. — Estou
aqui, okay? — Abraçou-o por trás.
Ali eles ficaram.
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— Queria poder vê-la — Disse Mia, com pesar em
seu tom.
Lola respondeu da poltrona em frente a ela:
— Bom, talvez se falasse com os Foster...
— É melhor não. Eles precisam de espaço para
decidir.
— Não deve ser uma decisão fácil.
— Não é — Mia tocou seu pingente.
Lola parecia perdida nos próprios pensamentos.
— Sabe, eu não consigo entender. Como nosso
cérebro simplesmente para de funcionar? Não podemos ser tão frágeis.
— Eu nunca a vi assim. Frágil. Isso é o
que me surpreende — Ela hesitou. — Uma vez, em Wilmington, nós bebemos tanto
que ficamos quase imunes ao frio. Saímos descalças na chuva, pela praia, até
encontrar uma barraca que pudesse nos proteger. Ali nos beijamos pela primeira
vez.
— Foi o seu primeiro beijo lésbico?
— É claro que não — Deu risada. — Meu primeiro
beijo lésbico foi aos treze anos, com uma colega da aula de piano. E minha
virgindade eu perdi aos quinze, com uma jovem que morava no mesmo prédio que
eu. O irmão dela descobriu sobre a gente, me ameaçou, e por isso minha mãe,
Ivy, arrastou-o pelos cabelos até a entrada do prédio, para que todos vissem a
cria homofóbica da família Pardo.
Lola gargalhou.
— Eu não acredito. Sua história de vida é um
roteiro de Stanley Kubrick.
— A propósito, você é a primeira pessoa a quem
eu conto — Admitiu Mia. — Nunca contei nem mesmo a Amber — E agora era
tarde.
O olhar de Lola dizia tudo.
— Você já foi apaixonada por ela?
— Devo ter sido, não sei... — Disse Mia. — Terminou
muito antes de começarmos.
— Por causa da gravidez?
— Não, isso aconteceu depois. Ela preferiu
confiar em alguém que a machucou muito, não em mim.
— Esse alguém era um homem?
— Ainda pergunta?
Eram sempre os homens, não eram?
— Deus me livre — Lola concordou.
O silêncio seguiu sua deixa. Mia recostou-se nos
travesseiros, com o rosto virado para a brisa diurna. Lola pegou o celular para
ver as notificações.
— Sinto algo estranho — Comentou Mia,
aleatoriamente. — Não sei explicar. É como se ainda não tivesse acabado, ou nos
restasse uma última surpresa.
— O que aconteceu a Amber mexeu com todos nós
— Disse Lola. — É normal sentir-se assim.
— Não é isso. É só... eu não sei. Parece que
ainda não estamos seguros.
— Okay, vá para lá — Lola sentou ao seu lado e
a abraçou. — Sabe que estou aqui e não vou eixar nada acontecer a você, não é?
— Eu sei — Disse Mia, num sussurro. — Não é
comigo que estou preocupada.
— É com quem?
Ela refletiu em silêncio.
— Nada não. Vai passar.
൴
Judit jogou uma pasta de documentos sobre o
balcão.
— O que é isto? — Perguntou Gwen.
— A verdade — Ela sentou no bar, ao seu lado.
— Você quis saber sobre o processo de adoção e seus pais biológicos. Está tudo
aí.
— Você...?
— Sim — Fez sinal para o bartender.
Gwen folheou de sua certidão aos documentos do
hospital e do orfanato; das informações sobre seus pais biológicos às assinaturas
de Simon, Judit e Lydia Strauss. Estava mesmo tudo ali.
— Oh, great... — Ela jogou de volta no
balcão. — Mais drama familiar.
— Você não precisa fingir que não se importa,
Gwenett. Vejo por trás de sua máscara. Obrigada — Ela agradeceu ao bartender.
Gwen terminou sua dose primeiro que ela.
— Ou eu simplesmente não me importo — Disse. —
A verdade não mudará o que aconteceu comigo e não me define pelo resto da minha
vida.
— Nada no mundo pode mudar algo assim —
Concordou Judit.
Gwen a encarou.
— O que você acha que sabe?
— O que Nate me contou na última vez em que
fui vista-lo. Ele se culpa por tudo.
— Bom, ele deveria — Virou outra dose. — Mesmo
sabendo que nem ele, Simon ou você poderiam ter feito alguma coisa para me
ajudar.
— Mas esta era minha responsabilidade. Mantê-la
segura, longe de ameaças. Nisto eu também falhei.
— O mundo em que vivemos consente todas essas
falhas quando se trata de abusos sexuais — Virou outra dose, pediu mais uma ao bartender.
Judit preferiu não responder.
— Sabe, eu fico tendo esse pesadelo... — Continuou
Gwen. — É meu aniversário de sete anos, e eu estou cercada por todos vocês na
sala de jantar, com um enorme bolo à minha frente. Então as luzes se apagam,
exceto as das velas. É quando ele aparece — Hesitou. — Ele nunca sorri, ou diz
qualquer coisa. Apenas fica me encarando com seus olhos escuros. É como se isso
bastasse para demonstrar seu poder sobre mim — Olhou para ela. — Já teve um sonho
desses? De faze-la acordar suada e desorientada? — Virou novamente. — Eu nem me
surpreendo mais. Embora, é claro, me interesse pelas inúmeras interpretações
metafóricas que formulei através dos anos. Se você me perguntar porque meus
familiares sempre desaparecem quando o bicho papão está por perto, eu diria que
é por se preocuparem mais em salvar o outro filho, não a mim. Estou enganada?
— Completamente enganada — Disse sua mãe. —
Nunca a abandonaríamos.
— Eu lembro de uma e outras vezes em que já
fui abandonada.
— Eu lembro de você partindo por conta própria,
sem que pudéssemos impedir.
— Vocês poderiam ficar ao meu lado.
— Não se estiver à beira de um abismo. Sabemos
melhor, querida — Judit deixou seu lugar.
Gwen, bem a tempo, fez sua última jogada:
— Você nunca me perguntou o porquê.
— Sobre...?
— Sobre eu nunca ter contado a vocês. Não é
estranho?
Judit voltou a sentar.
— Talvez achasse que Simon e eu não
acreditaríamos.
— Não... — Respondeu a filha. — Eu não contei
por medo. Achei que deixariam de me ver como uma boa garota se eu os
decepcionasse — Deu um ar de risos. — No final, eu só queria ser amada por
papai e mamãe.
— Você é. Apesar de tudo.
O olhar dela encontrou o seu.
— Obrigada por dizer a verdade, Judit. Nunca
mais nos veremos.
— Espero que não seja assim.
— Não espere tanto — Ela saiu.
Já no lado de fora, seu celular começou a
tocar.
— Alô? — [...] — Você tem a localização? —
Perguntou ao seu contato. — Okay, estou caminho — Desligou.
As coordenadas em seu GPS apontavam para
Jersey City, Nova Jersey.
൴
A sala presidencial do Linnard Report foi
ficando pequena demais para eles dois, à medida que o tempo passava. De um
lado, Thayer, com olhos apenas para os documentos em sua mesa. Do outro, Alex,
que tinha sempre as piores ideias para matar o tédio.
Na primeira vez, Alex girou a cadeia tão
rápido e por tantas vezes que bateu um dos pés na quina da mesa.
— Perdão — Ele disse.
Thayer resolveu deixar essa passar.
Na próxima vez, Alex pegou os artigos de
decoração sobre a mesa e brincou que eles se beijavam. Os estalos das placas de
ouro levaram toda a concentração de Thayer.
— Pode parar, por favor? — O namorado pediu.
—Tudo bem — Alex pôs de volta.
Na última vez, ele notou um amontoado de cinzas
sobre as folhas a sua frente. Um sopro fez com que sujasse os documentos e o
terno de Thayer.
— Alex, por favor... — Thayer usou seu tom de
advertência.
— Okay, eu sinto muito! — Alex levantou-se. — É
que esse tédio me mata. Não há nada para fazer aqui.
— Você podia escolher um dos livros na
estante. Também temos ficção.
— Eu não quero ler, quero fazer algo para o
qual eu não precise pensar muito.
— Assista qualquer coisa em seu celular.
— Eu não trouxe os fones.
— Então jogue.
— Não consigo me concentrar.
Thayer suspirou.
— Tudo bem, vá para debaixo da mesa e me
chupe. Isso também é entretenimento.
— Eu não estou no clima — Ele começou a
caminhar. — Na verdade, sinto um pouco de fome... — Observou a pintura na
parede. — Por que não vamos jantar agora?
— Porque acabamos de terminar o almoço.
Alex virou.
— Uma pessoa saudável come de três em três
horas.
— Não somos saudáveis — Disse Thayer. — Somos
viciados em academia.
— Não tão viciados se você não concluiu a meta
dos dois quilos e meio... — Ele insinuou.
O olhar de Thayer poderia ser apaixonantemente
ameaçador, se isso fosse possível.
— Você não vai conseguir me enlouquecer hoje,
Alex — Voltou aos papeis. — Este é um dia maravilhoso.
— Por que? Tudo o que fez foi assinar
documentos e atender ligações.
— Com você ao meu lado. Isso ainda compensa.
— Pare de ser romântico, Thayer. Me dê comida.
— Com licença? — Chamou Dawn, em frente a
porta.
Thayer e Alex olharam ao mesmo tempo.
— Connor está aqui — Disse ela. — Começaremos
a apresentação agora mesmo.
— Certo, a apresentação — Lembrou Thayer. — Alex,
espere aqui — Beijou-o no rosto. — Não vai levar dez minutos.
— Sério? O que farei até lá?
— Seja criativo.
— Eu sou criativo.
— E eu confio em você — Ele o deixou.
Alex não teve outra escolha.
Caminhou até a estante de livros, leu os
títulos. Seguiu até as vidraças, observou a paisagem. Tirou as pinturas do
lugar, colocou-as de volta onde estavam. Caminhou até o balcão, brincou com o
abajur, o globo de neve e o pêndulo de Newton. Depois sentou-se no lugar Thayer,
escorado, com as pernas cruzadas sobre a mesa. Os documentos lhe chamaram a
atenção. Contas. Contas. Contas. Planejamentos. Esboços. Contratos. UMA
NOTA FISCAL NO VALOR DE SETENTA E CINCO MIL DÓLARES, NA JOALHERIA DAVID YURMAN.
— O QUE? — Alex gritou. — Ai meu Deus, ai meu
Deus... — Caminhava de um lado a outro.
David Yurman, setenta e cinco mil dólares, dois
anéis de noivado... ele pensava. Deve
estar por aqui, em algum lugar.
Procurou nas estantes, no balcão, nas cômodas
e atrás dos móveis. Nada. Procurou nos banheiros, entre as almofadas e
dentro do cofre. Nada. Ao menos as chaves das gavetas estavam lá; Thayer
sempre deixava no bolso direito de seu paletó. Mas para encontrar as alianças,
dependia também do acaso. Se não esvaziasse as gavetas, jogasse os documentos
sobre a mesa e derrubasse as coisas no chão, talvez nunca descobrisse que a
pequena caixinha de veludo azul estava escondida na parte inferior do cinzeiro,
que se abriu diante dele.
— Alex, voltei. Eles tiveram um problema com o
projetor... — Dizia Thayer, logo de volta.
Alex estava ajoelhado e com a caixinha nas
mãos.
— Você ia me pedir em casamento hoje à noite?
— Perguntou-o.
Podia ser um momento a se apreciar, já que
Thayer Van Der Wall, nunca, jamais, se sentia envergonhado. Imagine agora
olhar para ele e ver suas bochechas prestes a explodir, enquanto a boca tenta
balbuciar alguma coisa que não pode desfazer o flagrante.
— Eu... eu pensei que... — Ele sussurrava.
— Ai meu Deus, isso está mesmo acontecendo... —
Alex levantou e caminhou até a mesa.
Nesse meio tempo, Thayer pensou e repensou
suas palavras.
— Tudo bem, escute-me — Deu um passo à frente.
— Sei que pode parecer um pouco precipitado, porque você ainda nem chegou na
casa dos vinte e eu trabalho mais de nove horas por dia. Mas se deixarmos isso
nos impedir, podemos não ter outra oportunidade. Nate vai embora em duas
semanas. Mia está prestes a fazer uma cirurgia de risco. Até mesmo Jensen, no
auge da sua indecisão, conseguiu vencer o medo e reatar com Nate. Qual o
momento mais apropriado para trocar alianças, declarar meu amor por você e começar
a construir nossas vidas juntos, senão agora? Tudo muda rápido demais, menos
nós dois. Eu só preciso saber se sente o mesmo.
— Essa é uma pergunta oficial?
— Eu não sei. Você está preparado para que
seja oficial?
— Bom, se você perguntar do jeito certo...
— Okay, aí vai. Alex...
Ele correu para seus braços.
— Sim, sim, sim! Porra! Sim! — Gritava
e enchia-o de beijos.
— Mas eu nem me ajoelhei...
— Tudo bem, vai ser sempre sim. Não precisamos
esperar o jantar.
— É, você arruinou a surpresa.
— Eu sou criativo — Riu ele.
Seus lábios se alinharam em um beijo doce e
suave.
— Só pra você saber... — Disse Thayer. — Eu
não colocaria as alianças em uma taça de champanhe. Sou muito mais engenhoso.
— Ainda bem. Eu diria não se o fizesse.
— Diria?
Alex fez uma careta.
— É meio brega, não acha?
— É, né — Thayer também fez. — Se bem
que casar comigo já é uma grande vantagem, não importa onde eu coloque as
alianças.
— Falando nisso... — Alex abriu a caixinha. — Primeiro
eu ou você?
— Vá em frente — Ele ergueu uma mão.
Alex pôs uma em seu dedo anelar.
— Sua vez — Também ergueu.
Thayer fez o mesmo com a aliança número dois.
— Então... o que achou?
— É simplesinha... — Disse Alex, fingindo desinteresse.
— Gostei.
— As do casamento custarão mais de cem mil
dólares.
— Hmm, dinheiro. É por isso que estou
casando com você.
— Ah, é? — Thayer o agarrou. — Não tem nenhum
outro motivo?
— Não.
— Não? — Beijou-o.
Alex chegara a perder o ar.
— É, talvez tenha outro motivo...
— Okay — Thayer beijou-o novamente.
Nem dois segundos se passaram e o celular de
Alex deu sinal.
— Ah, droga. É o Black Swan — Ele
disse. — O carro de Gwen está a menos de dez quilômetros da cabana, pela
rodovia principal.
— Você tem certeza?
— É claro. Precisamos ir — Passou por ele.
Thayer seguiu-o logo atrás.
— Ligue para Nate e Jensen.
— Vou tentar — Disse Alex.
൴
Eles rolaram sobre os lençois, com Nate por
cima. O toque do celular parou e recomeçou, parou e recomeçou. Depois
simplesmente parou.
— Vamos mais uma? — Sugeriu Jensen.
— Em um minuto... — Disse Nate, rolando para o
lado.
Seus olhos se perderam em outro lugar.
— Algo o incomoda? — Perguntou Jensen.
— Não — Respondeu Nate. — Estava pensando
daqui a duas semanas, quando eu estiver longe. Não vai ser o mesmo para nós
dois.
— Sim, mas apenas por um tempo. Você vai
provar sua inocência.
— Já pensou em quanto tempo isso pode levar? —
Ele sentou na cama. — Se tudo der certo, alguns meses são o suficiente. Se tudo
der errado, bom... adicione alguns anos a essa estimativa. Não acho justo que
espere tanto.
— Bom, eu não tenho nada melhor a fazer... — Sorriu
Jensen.
Aquilo não pareceu amenizar a situação.
— É sério — Nate reafirmou. — Eu só... eu não
quero perde-lo outra vez.
— Você não vai me perder — Jensen tocou-o no
rosto. — Vai provar sua inocência, voltar para mim e aceitar meu pedido para
morarmos juntos, porque somos novos demais para simplesmente casar. A internet
não nos perdoaria.
— A gente meio que já morou junto, não acha?
Tivemos muita liberdade.
— Só que dessa vez faremos o ritual completo.
Não basta apenas dormir juntos todas as noites, temos que ter um lugar para
chamar de casa, onde teremos que dividir absolutamente tudo. Exceto...
— O banheiro. Cada um devia ter o seu.
— Exatamente.
Eles riram.
Nate levantou-se e caminhou até suas roupas,
no chão.
— Já pensou se pode haver outra alternativa? —
Perguntou Jensen. — Tipo, sei lá, eu ir com você?
— Essa
é a sua ideia de romance? Viver ao meu lado como um fugitivo?
— Por que não? Eu não tenho nada que me prenda
aqui.
— Você tem uma família.
— Err... — Ele fez careta. — Acho que
podem se virar sem mim.
— Essa não é a questão — Nate vestiu a camiseta.
— Se você tem uma escolha, deve sempre escolher ficar ao lado da sua família. É
o que eu gostaria de poder escolher.
Jensen assentiu.
— Então ficamos com o Plano A. Você
prova sua inocência, eu espero pacientemente. Que divertido.
— Você pode foder alguém, se quiser — Nate
vestiu a jaqueta. — Só não escolha alguém muito importante, pois ainda
precisarei mata-lo.
— Territorial, gostei. Alguma outra sugestão?
— Continue rico. Eu valorizo demais o meu padrão
de vida.
— E?
— E mantenha o seu tanquinho.
— Este aqui? — Afastou os lençois.
— Sim. Principalmente essa curvinha em V.
— Essa aqui? — Afastou ainda mais.
— Agora sorria — Nate pegou o celular e tirou
algumas fotos, mesmo com ele protestando.
Numa dessas ele viu uma nova mensagem no visor,
para somar às outras quarenta e sete enviadas por Alex. Gwen está a caminho.
— Oh, fuck — Disse Nate. — É a Gwen.
Ela descobriu onde estamos.
— É brincadeira, não é? — Jensen levantou.
— Aqui diz que ela está a seiscentos metros da
cabana. Veio sozinha.
— E a polícia?
— Eu não sei. Precisamos ir — Nate passou por
ele.
Jensen pegou suas roupas e vestiu-se a
caminho.
— Dê-me as chaves — Pediu Nate. — Você pega as
malas e eu pego os documentos.
— Onde elas estão?
— No primeiro quarto à esquerda, embaixo da
cama.
— Certo — Jensen seguiu.
Nate aproveitou a distração para ir até o
carro e sair sozinho, sem que ele pudesse impedir. Era tarde demais quando
Jensen ouviu os motores.
— Nate, não! — Bateu nas janelas, inutilmente.
Precisava pensar rápido.
Saiu de lá, dobrou dois corredores, desceu as
pequenas escadas do porão, chegou à garagem. O carro que Nate usou na noite de
sua fuga estava estacionado na vaga número um, com as chaves ainda no painel.
Jensen não pensou duas vezes antes de dar a partida e derrubar os portões.
O carro de Gwen, ele viu, cruzando a via única. Seguiu na
mesma direção.
Estava Nate na frente, no carro de Jensen.
Gwen entre os dois, a poucos metros. E Jensen na última posição, tentando
alcança-los. A distância aumentava e diminuía esporadicamente, e à medida em que
outros carros cruzavam o caminho.
— Pare, por favor... — Disse Jensen em volta
alta, para se tornar realidade.
Foi o momento em que ouviu seu celular.
— Nate, é você? O que está fazendo?
— Eu sinto muito, Jensen — Disse ele. — Não
quero coloca-lo em risco.
— Então resolve me deixar para trás?
— É a única maneira.
— Não, é a sua maneira. Você sabe que eu posso
ajudar.
— Eu prefiro que esteja seguro — Ele olhou
para trás.
Gwen disparou duas vezes sobre a lataria do
carro.
— Droga! — Gritou Nate. — A vagabunda tem um revólver!
— Deixa comigo — Jensen acelerou.
O carro bateu contra a lateria do carro dela, que
cambaleou para o outro lado da estrada. Ela respondeu com uma chuva de disparos
para trás.
— Você está bem? — Perguntou Nate.
— Sim, tudo bem. Ela só quebrou meu
para-brisas — Ele notara.
Nate observou pelo retrovisor.
— Você precisa voltar, Jensen. É a mim que ela
quer.
— Se eu fizer isso, não poderei protege-lo.
— Se não fizer, nós dois estaremos vulneráveis
— Aduziu Nate.
Suas palavras se excederam a um silêncio inquietante.
— É um adeus, então? — Sussurrara Jensen.
— Não, por favor... — Nate só teve tempo de
dizer.
Quando chegaram à ponte Theodore Roosevelt,
Gwen investiu em uma manobra arriscada e bateu na traseira de seu carro, levando-o
a derrapar nove metros sobre o rio Saint Jones. Mas ao tentar desviar de
outro veículo, que vinha na mesma direção, o carro dela capotou cinco vezes na
pista e parou em pé, com as janelas quebradas, o que também levou o carro de
Jensen a derrapar sobre a encosta de árvores e cair de ponta cabeça, à beira do
rio. Lataria, cacos de vidro e pertences
pessoais foram espalhados por toda parte, como uma trilha em direção aos
veículos.
Gwen foi a única a não recobrar a consciência.
Jensen acordou em um pulo, ouvindo os gritos de Nate.
— Por favor! Me ajudem! — Gritava e
batia nas janelas.
Jensen olhou ao redor; via apenas destroços. Virou
a cabeça e focou a visão, viu Nate preso no carro, afundando vagarosamente. Isso
o fez despertar. Chutou as vidraças direitas, as esquerdas. Tentou sair por
trás, mas não alcançava as portas. Era um carro semi blindado, afinal. Teria
de passar primeiro pelo revestimento balístico.
Enquanto ele procurava algo dentro do carro
que pudesse ajudar, a água seguiu seu curso. Nate não podia abrir as portas,
porque o sistema integrado parou de responder. Não podia desenganchar os
cintos, devido a recessão dos brancos frontais. E sem as alavancas para fechar
as janelas, a água entrava mais rápido. Em poucos segundos cobriu-o do tórax à clavícula,
então chegado à ponta do queixo, e em seguida aos lábios.
Ele tentou gritar, mas seus pulmões
encheram-se de água.
— Não, por favor. Naaaaaaaaate! — Gritou
Jensen.
Ao olhar de relance, em direção ao painel, ele
encontrou um revólver. Foram necessários três disparos para comprometer a
blindagem, mais alguns chutes para desprender os suportes nas janelas. Agora
estava livre.
Jensen pulou na água, nadou até o carro. Nate já
estava inconsciente quando ele o alcançou, mas seu plano deu certo até ali. Com
um tiro na janela, pôde entrar no carro. Com um tiro no suporte, desprendeu os
cintos de segurança. Depois levou-o à superfície, deitou-o de peito para cima,
no lamaçal, e iniciou os procedimentos de ressuscitação cardiopulmonar.
— Come on, Nate!
— Ele repetiu as compressões.
Nenhuma resposta.
— Come on, please! — Fez respiração
boca a boca.
Nenhuma resposta.
— Por favor, volte para mim! — Ele acertou
murros e socos.
Mas passou-se longos sete minutos sem haver
qualquer reação.
Eventualmente, e contra sua vontade, Jensen
precisou admitir. Ele se foi. Seu toque é frio e áspero. Seus lábios não têm
cor. Sua pele tornou-se pálida e azulada. Não se move, não respira. Ele simplesmente...
se foi... – começou a chorar. Aquela dor, cravada nele, ecoou pela floresta
em um único grito.
Se não dirigisse tão devagar, ou se tivesse ultrapassado
o carro de Gwen, talvez... talvez... eu te amo tanto, Nate... aproximou seu rosto. Ali decidiu ficar.
O tempo passou. O céu escureceu. A estrada
transformou-se em um grande deserto, sem carros ou iluminação. Jensen estava
convencido de que não podia deixa-lo ali, mesmo que não soubesse exatamente o
que fazer.
— Tudo bem, vai ficar tudo bem... — Prometeu a
Nate, num sussurro.
Ele o tomou no colo, levantou do chão e seguiu
em frente na estrada principal. Foram três quilômetros de caminhada até
chegarem ao Jersey’s City Medical Center, o hospital mais próximo da
região. Alguns motoristas, vez ou outra, paravam seus carros para perguntar se estava
tudo bem. Jensen limitou-se a ignora-los. Se podiam ajudar quanto ao frio, a
chuva, a lama, ou seus pés feridos, de tanto caminhar, então não podiam
realmente ajuda-lo.
Jensen, quando passou pelas portas da recepção,
usou as últimas forças que tinha para dar um passo à frente e dizer:
— Ele está morto...
Isso fez com que tudo se tornasse real.
൴
Sou eu, Dominik.
Espero que não se importe em ler isto em uma
carta, agora que estamos longe um do outro, mas talvez seja a única maneira de chegar
até você. Quero falar a sério, Nate. Sem jogos, sem mentiras, sem rodeios. Apenas
a verdade.
Uma vez você me perguntou o que havia de tão
errado em você para que todos o abandonassem, e por puro egoísmo, ou até uma
pontada de inveja, decidi partir seu coração. Este foi o meu maior erro.
Convence-lo de todas essas mentiras, para então afasta-lo da verdade. E a
verdade é que eu não estava preparado para você. Nunca estive. Não sei de um
dia estarei.
Eu quero querer, Nate. É isso o que me faz
falta. Quero, um dia, ter o pior encontro de todos os tempos, porque faria de
mim um pouco mais experiente. Quero viajar por aí, conhecer alguém, em um pub, e não me
sentir culpado por viver uma aventura. Sim, também quero me apaixonar as duzentas
vezes que minha mãe disse que eu iria, porque ao final de cada uma delas terei
aprendido alguma coisa. Mas se eu me entregasse a você, se aceitasse a
responsabilidade de um grande amor, minha vida começaria no seu tempo, não no
meu.
Você deve lembrar como é ter
dezesseis anos e querer o mundo a seus pés, não é? Tudo é tão simples e tão
devastador que é difícil discernir o que precisamos da nossa própria vontade. Enfim.
Continuamos aprendendo.
Hoje eu sei que minha busca por
identificação foi a nossa ruína. Por isto, pelas coisas que fiz e por todas as
mentiras que contei, peço desculpas. O que não posso é me desculpar pelos
sentimentos que não senti, o amor que eu não amei. Eu não o amo, Nate. Não
saberia como. E desejo que estas palavras o convençam a não me amar também,
porque você merece ser feliz. Talvez até mais que eu.
Não, talvez não. Muito mais que eu. Que
qualquer outra pessoa.
Quando tudo se resolver, daqui a
algum tempo, faça algo bom de sua liberdade. Eu tentarei fazer o mesmo por mim
e meus familiares.
Adeus, querido amigo.
Dominik enviou a carta.
No bar atrás dele, a tv exibia uma
matéria sobre Nate. Aproximou-se para ouvir.
— [...] A polícia confirmou hoje à noite a
morte do modelo e empresário Nathaniel Strauss, de dezenove anos, em um trágico
acidente automobilístico em Jersey’s City, Nova Jersey. De acordo as
informações, Nathaniel foi surpreendido em seu esconderijo por sua irmã
adotiva, Gwenett Strauss, iniciando uma perseguição de carro que durou dez
minutos e seguiu até a Ponte Theodore Roosevelt, sobre o Rio Saint
Jones. Mais detalhes não foram revelados até o momento, mas a polícia
informou estar em posse de um arquivo de vídeo que exonera o acusado de todas
as imputações criminosas que o levaram a prisão, ainda por revelar os nomes dos
possíveis envolvidos em um grande esquema para incrimina-lo pela morte de
William Bettencourt e sua esposa, Carol Bettencourt [...]
Não,
pensou Dominik, com os olhos cheios de lágrimas.
Eles todos foram testados ao receber a
notícia. Viola e Andy estavam juntos na mansão Boyd. Travis, Parker e Dawn tentavam
ligar para o celular de Thayer. Kerr assistia no hospital, ao lado da irmã.
Natasha acompanhava pela tv. Mia chorou e gritou inconsolavelmente nos braços
de Lola. Cameron e Dae saíram com o carro, em direção ao Jersey’s City
Medical Center. Dominik caminhava sem direção. Jensen não via nada, não
sentia nada. Seu olhar inexpressivo.
Os enfermeiros deitaram o corpo de Nate,
puseram o respirador, fizeram as compressões, respiração a boca a boca, desfibrilaram.
Nada adiantou. Seu coração não batia no peito.
— Hora da Morte: Dezenove e vinte e sete —
Declarara uma enfermeira.
Alex, Thayer e Judit chegaram um momento
depois. O viram deitado, em uma maca, completamente imóvel; um braço seu para
fora dos lençois. Judit correu e gritou por ele. Alex trocou um olhar com
Jensen, que terminou de quebra-los por dentro. E nem mesmo Thayer, com ele nos
braços, pôde conter sua reação. Alex chorava, o empurrava, o socava no peito,
gritando furiosamente. Era seu mundo inteiro naquela maca de hospital.
— Não, por favor! Diga que não! — Implorava
Judit. — Meu filho não pode morrer! Ele nunca foi feliz! Ele não pode morrer tão jovem e sem ter sido feliz!
— Senhora, acalme-se! — Um enfermeiro tentava
arrazoar.
De um lado estavam os médicos, enfermeiros e
pacientes. Do outro, sua família. Logo à frente, o corpo de Nate, descoberto
pelos lençois.
Jensen virou de costas e saiu.
Next...
6x24: ???? [SERIES FINALE] (17 de Setembro)
Contagem regressiva para o grande final: Uma semana.
Sobre o Capítulo...
Embora já tenha ocorrido antes, no primeiro volume, gostaria de esclarecer que não haverá nenhuma surpresa quanto ao destino de Nate. Nosso protagonista realmente se foi nesse penúltimo capítulo, e este é um final que eu tenho planejado desde que comecei a escrever o livro dois, em 2015.
Mais explicações e detalhes serão dados no especial do último capítulo, na semana que vem. É muito importante para mim que vocês entendam cada decisão que eu tomei para este final e o que me levou a toma-las.
Até semana que vem, caros amigos. Por uma última vez.
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