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Livro | The Double Me - 6x18: He's Dead [+18]

   6x18: He's Dead
“Quem planta vento, colhe tempestade".


Eles não chegaram a dormir naquela noite. Talvez lá pelas duas da manhã, após a segunda garrafa de Solaia Antinori. Ou quando Thayer tentou cozinhar macarrão com funghi e o alarme de incêndio afugentou o sono de Alex.  Ou após a terceira vez seguida, quando Alex rolou para o lado e Thayer fechou os olhos por alguns minutos – até ouvir o alerta da tv para o início da maratona de terror.
Mas eles realmente não chegaram a dormir.
Na manhã seguinte estavam juntos, na cama, quando os primeiros raios de sol irradiaram o quarto.  
— Bom dia — Disse Alex.
— Bom dia — Thayer o beijou. — Que sorriso é esse?
— Nada não. É que eu sentia muita falta do seu pau no Canadá.
— Isso soa romanticamente obsceno.
— Que tal isto? — Beijou-o de volta.
Um sorriso acompanhou-os nos lábios.
— Passamos o dia aqui? — Sugeriu Thayer.
— Se tiver algo para comer... — Alex levantou. — Não sente fome?
— Eu não sei. Meu estômago pós câncer é estranho.
— E eu ainda tenho algumas restrições... — Vestiu a cueca e as calças.
— De que tipo?
— Álcool, frituras, comidas picantes e carne de porco — Vestiu a camisa.
Aquela não era a primeira vez que Thayer notava as cicatrizes em seu abdome, mas era a primeira vez que pensava no que podia ter acontecido no Canadá, enquanto estavam separados.
— Não dói mais — Disse Alex.
— Sinto muito. Eu só estava curioso.
— Eu sei. Isso vai acontecer algumas vezes — Abotoou a camisa. — Quer saber como foi?
— Antes do brunch? Péssima ideia.
— Péssima.
— Venha aqui — Thayer puxou-o por uma mão.
As janelas do quarto ofereciam uma vista panorâmica da cidade grande, com o sol brilhando sobre o alto de edifícios e pouquíssimas nuvens dispersas pairando o céu. Não seria um dia de chuva, embora também não fizesse calor.
— Conte-me — Pediu Thayer, com ele nos braços.
Alex encarou e manuseou o pingente de placa em seu colar.
— Naquela noite, decidi voltar mais cedo para casa — Contou-o. — Alguns homens de máscara me pegaram na saída do clube e colocaram-me em uma van.
— E ninguém viu?
— Ninguém vê o que acontece à noite no centro da cidade — Temia ele. — Após rodarmos alguns quilômetros, levei cinco facadas. Depois eles me jogaram numa floresta para ser comido por animais. Um deles sugeriu — Lembrava bem.
— Foi quando Henry o encontrou?
— Por sorte — Sorriu Alex. — Ainda me pergunto se tudo não aconteceu para que nos encontrássemos, por aí. Aprendemos muito um com o outro.
— Você o amava?
Alex pensou nisto.
— Algo entre querer e amar. Não existe outra definição — Virou a ele. — Você pode me perguntar, se quiser.
— O que?
— Qual de vocês dois fode melhor.
— Eu não ia perguntar.
— Mas está pensando nisso.
— Não.
— Eu posso ver — Tocou-o entre seus olhos
Thayer deitou-se de peito para cima.
— Houve um momento, lá atrás, em que eu achei que nunca iria voltar. E que se um dia voltasse, não seria por mim, seria pelos seus irmãos. Eu tentei viver com isto.
— E foi bem-sucedido. Se não fosse por você, o Linnard Report não seria o que é hoje. Seu pai deve estar tão... — Pensou melhor. — Sinto muito. Eu não queria...
— Não, tudo bem — Apaziguou Thayer, com seus dedos entrelaçados.  
Mas mesmo que ele dissesse, Alex achou melhor não tocar mais no assunto – ou em qualquer outro assunto. Não até Thayer perguntar:
— Então, qual de nós fode melhor?
...e ele perceber que era seguro outra vez lhe dirigir a palavra.
— Você venceu por três pontos — Sorriu Alex.
— Três pontos ou três centímetros?
— Três pontos e dois centímetro — Alex beijou-o. — Cale a boca.
— Okay — Ele acatou.
Foi quando ouviram tocar o celular de Alex, sobre a cômoda.
— Tecnologia... — Resmungou Thayer.
Alex levantou-se para atender.
— Alô? — [...] — O que? Na cadeia? — Quase gritou. — Não, tudo bem. Espere por mim — Desligou e virou a Thayer.
— O que aconteceu?
— Nate foi preso ontem à noite por assassinato. Precisamos ir.
— Assassinato? É sério?
— Se Gwen está na cidade, é muito sério — Jogou a ele suas roupas. — Vamos, eu dirijo.
Thayer vestiu-se depressa.

— Gwen! — Kieran chegou correndo.
Encontrou-a encolhida em um canteiro da sala, de cabeça baixa, e os braços em volta das pernas. Havia sangue no chão, no tapete, nas paredes, nos móveis e por todo o cabelo dela e as roupas dela.
— O que você fez? — Observou Kieran.
O corpo de Matt jazia em uma poça de sangue à sua frente.
— Ele está morto — Sussurrou Gwen, quando ele abaixou para checar o pulso.
Yeah, no shit. O cara tem um maldito buraco de bala no peito.
— Eu não mirei.
— Bom, se você diz... — Ele pegou a arma do chão e travou com um clique.  — Sua segunda morte, não é? — Alocou-a no bolso traseiro. — Quer fechar uma trinca?
— Não trate isso como um grande evento, seu imbecil. Alguém pode ter ligado para a polícia.
— Acho que não — Ele levantou. — Ouvi as transmissões de rádio enquanto vinha para cá e nenhuma denúncia apontava para este endereço. Você está limpa, meu amor. Bom, tecnicamente — Fez menção aos cabelos.
Gwen lançou a ele um olhar impetuoso, mas que de nenhuma forma escondia sua fragilidade. Estava suja, fedendo a sangue. Seu corpo inteiro estremecia.
— Então, vai me dizer porque fez isto? — Perguntou Kieran, sentando-se no braço de uma das poltronas. — Matthew tentou algo com você?
— Ele não é quem dizia ser — Foi a resposta.
— O que descobriu?
Ela olhou para baixo.
— Eu o ouvi no celular. Nos trairia mais cedo ou mais tarde.
— Não é assim com todos nós?
— Isso é uma acusação?
— De forma alguma — Ele levantou. — Enfim, o que faremos? — Pôs as mãos na cintura. — Cortamos ele em pedacinhos e enterramos na floresta, ou jogamos na banheira e compramos ácido?
— Escondemos o corpo — Ela respondeu, prontamente.
— E como o tiraremos do hotel? Ele é grande demais, pesado demais e há muitas câmeras de vigilância.
— Talvez se o colocarmos em um carrinho hoteleiro...
Ele riu.
— Você faria qualquer coisa para evitar o gore, não é?
— Não precisa chegar a tanto — Disse ela. — Ele ainda é uma pessoa.
— Ninguém mata por acaso, Gwen. Muito menos um Cavanaugh — Tirou um par de luvas dos bolsos. — Aliás, este é outro inconveniente — Pôs nas mãos. — O pai de Matthew dará por sua falta.
— Até lá, teremos nos livrado de todas as provas.
— Se fizermos direito — Jogou-a um par também. — Venha, ajude-me aqui.
Ela olhou para a caixa, depois para ele.
— Não pode fazer isso sozinho?
— Na saúde e na doença, meu amor. Acostume-se.
Ah, é. Ótimo.
Ela deixou a poltrona e posicionou-se ao lado dele.
O que não entendia era a marca vermelha no rosto de Matthew, no mesmo lado, com o mesmo tamanho e na mesma espessura que a cicatriz que corria seu rosto. Não lembrava de tê-la feito, como também não lembrava do disparo. Onde estava a arma?


Assim que tocou o sinal, Dominik deixou a sala do Senhor Finch e caminhou para o corredor de armários. Ansel abordou-o enquanto arrumava seus livros. 
— Diga sim — Propôs o rapaz, escorado em uma porta.
— Sim a que? — Perguntou Dominik.
— Nós dois, hoje à noite, às vinte e duas, na minha casa. É só dizer sim.  
— Você sabe que preciso estudar para o exame de geografia. É amanhã cedo.
— Mais uma desculpa para relaxar... — Afagou-o nos ombros. — Se ainda não mencionei, meus pais inauguraram uma sauna e uma banheira de hidromassagem há dois meses.
— E tem levado muitos garotos para lá?
Ansel virou de frente, ainda escorado.
— Não muitos — Respondeu. — Às vezes pulamos o tour.
— Mas não a sobremesa.
— É claro — Virou outra vez. — Diga que sim, Dominik. Preciso de um pouco mais daquilo que tivemos na festa do Blake.
— Quer dizer meu cu — Corrigiu-o. — Mas você é sempre muito sutil.
— Eu não preciso ser — Beijou-o no pescoço, por trás. — Deixe-me fode-lo, Dominik. Vamos ser adolescentes por uma hora ou duas. Depois mais duas.
Dominik sorriu nervoso.
— Tem gente olhando... — Sussurrou.
— Deixe-os olhar — Ansel o tomou pela cintura. — Não peitamos nossos pais conservadores para nos esconder de uma maldita prole republicana. Além do mais... — Apalpou-o no traseiro. — Ficamos muito bem juntos. Vão todos querer ser um de nós e nos odiarão por não poder.
— Talvez o que odeiam são a eles mesmos.
— Talvez... — Beijou-o. — Até hoje à noite?
— Até — Ele concordou.
Seus olhos não deixaram a bunda de Ansel enquanto ele não dobrava o corredor. É bem durinha, pensava.
Bethany chegou sem dar avisos e puxou-o porta adentro pelo colarinho do uniforme.
— Que porra é essa? — Protestou Dominik. — Esse é o banheiro masculino.
— Foda-se! — Ela gritou de volta. — Eu quero saber se você ficou maluco.
— Por que?
— Foi a única explicação que encontrei para ter contado à polícia todas aquelas mentiras sobre Alex. Quer dizer, Nate. Eu nem sei mais.
— Nate fingiu ser o irmão gêmeo esse tempo inteiro. Apenas eu sabia.
— Tudo bem, não importa. As acusações que fez são muito graves, Dominik. Nate pode passar a vida inteira na cadeia.
— Primeiro, não é a vida inteira. Segundo, ele vai sobreviver. E terceiro, ele tirou tudo o que era meu. Não é com ele que você deve se preocupar.
— Você não acha que parte disso é culpa sua? Se for traí-lo, usá-lo e chantageá-lo, sempre receberá algo em troca. 
Ele suspirou. Escorou-se na pia.
— Nada é tão simples, Beth. Nós dois fizemos coisas que nos arrependemos.
— Você não me parece nenhum pouco arrependido.
— Eu sobrevivi ao jogo de Nate; talvez seja o único. Já parou pra pensar?
— Que jogo?
— Tudo é um jogo para ele. Foi o que eu aprendi.
Seriously? — Ela faz uma careta. — Na boa, cara. Você está mal.
Ele cruzou os braços.
— E você, por que se importa tanto? Nate e eu não somos da sua conta.
— Você percebe que acusou um homem inocente de abuso sexual e corrupção de menores, não é? O único que te amava pra caralho e cuja vida pode ser arruinada.
— Pelo visto, a palavra inocente tem outra definição no seu vocabulário.
— Alguma vez ele fez o que você alega?
— Não, fez pior. Mas eu não espero que entenda. Você não tem nada que ele possa ou queira tomar.
Bethany assentiu.
— Acho que me enganei com você, Dominik. Pensei que se importava de verdade.
— E eu pensei que fosse minha amiga. As pessoas se enganam.
— Pois é.
— Agora, se me der licença... — Ele passou por ela.
Um dos amigos de Bethany, Luke Henderson, deixou a cabine assim que ele saiu.
— Você tinha razão — Disse. — Dominik passou dos limites.
— Eu sei — Lamentou Bethany. — Precisamos ajuda-lo.
— Ajuda-lo? Depois do que fez?
— Ele tem dezesseis anos, Luke. Que garoto nessa idade pensa direito?
— Bom, tem... eu?
Ela revirou os olhos.
— Vem, eu tenho uma ideia.

Os convidados aglomeravam-se nos jardins da mansão McPhee em elegantes trajes brancos, polidos, e degustando de porões alentadoras de champanhe, gim e coquetéis. Mesas e cadeiras aparelhavam-se em duas linhas desiguais perante o palco, onde tocava a orquestra sinfônica. Logo atrás erguia-se uma enorme estátua de mármore representando o nascimento da Deusa Vênus.
Onde vi isso antes? – Pensou Jensen, já em sua terceira taça. Ah, sim, em todos os lugares. Pegou a próxima.
Aquele era um dia de sol, mas não de calor. Jensen sentia-se totalmente confortável com as mangas enroladas até os cotovelos e alguns botões abertos em sua camiseta. Para uma white party, talvez, fosse suficientemente casual.
— Senhor, mandaram entregar isto — Abordou um garçom.
O bilhete dizia apenas: Encontre-me no escritório.
Okay, Laurel. Ele foi até lá. Ela usava um Valentino todo branco, bordado, com alças quadradas, um colar de pérolas de fio duplo e um par de scarpins na mesma cor. Seus longos fios loiros foram arramados em um rabo de cavalo, com uma mecha solta em cada lado do rosto. Quem julgasse à primeira vista, cairia por seus lindos olhos azuis e o semblante angelical... de serpente do éden.
— Isto é seu? — Perguntou Jensen, em mãos do bilhete.
Laurel desviou o olhar das janelas a ele.
— Ah, sim. Queria vê-lo.
— Então por que não manda seus próprios recados?
— Porque você teria esta mesma reação em frente às visitas — Ela sorriu.
Jensen deixaria passar dessa vez.
— Tudo bem, o que você quer?
— Quero dar-lhe isto — Um presente. — É para o seu aniversário.
— Meu aniversário é só daqui a três semanas.
— Eu sei, mas você nunca fica muito tempo em casa. Achei melhor me adiantar.
Ele abriu o pacote.
— Um conjunto de xadrez?
— É uma das últimas peças de Piero Benzoni no mercado.
— Eu sei, custa uma fortuna.
— Não pense nisto — Pediu ela. — Não é pelo dinheiro, é pelo significado. Você me pediu um destes, em Londres, para o seu aniversário de oito anos. Mas eu não estava lá.
— É, não estava. Dois meses antes me colocou para dormir e eu acordei no outro dia sem uma mãe.
— Jensen...
— Obrigado — Ele a interrompeu. — Se era só isso...
— Não, espere — Pediu ela.
Jensen parou contra sua vontade.
— Podemos falar sobre Monte Carlo? — Ela mencionou. — Seu pai e eu gostaríamos que fosse conosco.
— Pensei que era uma segunda lua de mel para os recém-casados.
— É uma viagem em família. Jacob e Aria estarão lá.
— Ele odeia quando o chamam de Jacob — Deu um ar de risos. — Enfim, não sei porque isso importa. A resposta é não, Laurel.
— Posso dizer só mais uma coisa? — Pediu ela; mas antes de ter a chance, algo que viu a fez recuar. — Jensen, cuidado! — Ela gritou.
Um homem vestido de garçom, com uma meia negra da cabeça, surgiu na porta atrás dele e acertou-o com um castiçal. A luta não durou um minuto, no que Jensen tentara arrancar de suas mãos, recebeu mais dois golpes e caiu sobre o tapete, desacordado, com uma marca de sangue na testa.
Laurel assistiu a tudo com uma expressão de choque... até perceber que ninguém mais estava olhando.
— Precisava bater tão forte? — Perguntou ela ao comparsa.
O homem revelou seus longos fios loiros por baixo do disfarce.
— Uau. Pensei que odiasse esse moleque.
— Eu não odeio o rosto dele — Ela agachou e tocou em uma mecha de seus cabelos. — Jensen é o filho que mais se parece comigo.
— Não na sociopatia — O outro provocou.
Laurel pôs-se em pé e estendeu uma mão.
— Dê-me a arma, Caleb.
— Esta? — Ele tirou da cintura. — É por sua conta e risco.
Ela o tomou, checou o pente, guardou na meia calça.
— Siga-me. Eu tirei todos os empregados do nosso caminho.
— Que bom — Ele a seguiu.
Mais à frente encontram outros dois comparsas, um rapaz e uma jovem, também vestidos em trajes de garçom. O caminho até a garagem estava livre.
— Bela limusine — Disse Caleb.
— Desmonte-a e venda as peças se quiser — Respondeu Laurel. — Que sirva como um bônus.
— Beleza! — Comemorou o outro rapaz, de cabelos ruivos.
Assim que Laurel adentrou o veículo, Caleb recebeu uma nova mensagem em seu celular.
— Droga, é a Megan — Ele contou aos outros. — Um dos convidados causou problemas e ela não pode sair.
— O que faremos agora? — Perguntou a outra moça.
— Precisamos busca-la.
— Não podem — Argumentou Laurel. — É muito arriscado voltar lá dentro.
— Somos garçons, podemos transitar à vontade.
— Se alguém perceber...
— Olha, moça, não deixamos os nossos para trás. Espere aqui e voltaremos em três minutos, ou tente sequestrar-se sozinha da próxima vez. Beleza? Agora vamos — Ele fechou as portas.
Laurel não teve tempo de contestar.
— Esses delinquentes... — Resmungou a si mesma.
Checando as notificações em seu celular, ela passou por várias de aplicativos, atualizações bancárias e mensagens não respondidas. Não pensava se preocupar com isso. Não agora, pensou. E seus pensamentos estocaram aí, quando a divisória da limusine se abriu e Jake cumprimentou-a do banco da frente.
— Indo a algum lugar, mamãe? — Ele ainda sorriu.
Os olhos dela se esbugalharam como duas bolas de gude.
— Jake? Ai meu Deus!
Just call me Uber Eats, sweetie. And Uber is a bitch.
— Não! — Ela correu pelas portas.
Quem vinha do outro lado eram Jensen, Patrick, seus ex comparsas, os detetives Hartley e Bloome, e um grupo de policiais fardados.
— Acabou, Laurel — Disse Jensen.
— Você está presa por tentativa de extorsão — Declarou um dos detetives.
— Por que? O que? — Ela gaguejava. — Isso é um absurdo!
— Não de acordo às gravações — Mostrou-a Jensen.
Seu smartphone exibia um trecho de minutos atrás, enquanto estavam no escritório.
— Não é verdade! — Ela alegou. — Eles me obrigaram a tudo.
— Desista, Laurel — Jake juntou-se a eles. — Os registros em seu celular comprovam não somente esta farsa, mas todo o esquema de extorsão que vinha planejando nos últimos nove meses. Como acha que encontramos seus cúmplices e os fizemos uma nova proposta?
— Ademais, — Disse Jensen. — Devemos agradece-la por não mudar o dia do seu auto sequestro. Assim toda a alta sociedade de Nova York, aqui presente, a verá pelo que realmente é.
— Uma criminosa — Completou Patrick. — Policiais? — Convocou-os.
Laurel tirou o revólver da meia calça antes que eles se aproximassem.
— Para trás! — Alertou-os.
— Por que não abaixa a arma e conversamos? — Pediu o Detetive Bloome.
— Não posso ser presa. A cadeia não é o meu lugar.
— Você não tem um lugar — Cuspiu Jensen.
— Cale-se! — Ela apontou para ele. — Isso é tudo culpa sua. Eu deveria tê-lo entregado àquele convento no dia em que nasceu.
— Não se atreva... — Patrick avançou.
Entre ele e ela interviu Jensen, posicionando um braço para impedi-lo. O olhar em repleto desprazer.
— Você atiraria em sua família por dinheiro? — Perguntou ele à mãe.
— Desculpe, querido — Ela apontou para a própria cabeça.
— Não! — Jake gritou.
Então ela apontou para ele e puxou o gatilho. Nada ocorreu.
— Ah, é, sobre isto... — Dizia Caleb, em tom casual. — Eu fiz algumas modificações no revólver que entreguei. Ele não dispara nem se o pente estiver cheio.
— O que? — Ela checou, desesperada.
O olhar de Patrick acompanhou o do filho.
— Vejam só. Você realmente atiraria em um de nós por dinheiro.
— Eu nunca quis esta família — Cuspiu ela.
— Agora eu sei. Senhores — Convocou os policiais. Acabava ali.
Eles a levaram algemada, descabelada e com a maquiagem toda borrada através do salão principal, diante a flashes de câmera e o olhar curioso de todos os convidados da white party. Que decadência, eles cochichavam. Eu vi o vídeo, também diziam. Que apodreça na cadeia, desejava alguns deles. A maioria esposas e garotos troféus, que faziam o mesmo. Vender-se por dinheiro.
— Sabe, pai, não achei que tinha isso em você — Comentou Jensen.
Eles observavam a operação policial a uma certa distância.
— Após ler todas aquelas mensagens, — Disse Patrick. — Não podia mais mentir a mim mesmo. Laurel é um perigo a esta família.
— Se ela soubesse que a ideia de tudo isso foi sua...
— Não importa mais. Contento-me em vê-la apodrecer na prisão.
— Me inclua nisto — Jake ergueu a taça.


Enquanto eles brindavam, era como se tudo estivesse em ordem outra vez, ou caminhando em progresso. Tudo, na verdade, exceto a ultima cabeça da Hydra que esqueceram de cortar. Foi uma surpresa para todos quando o carro de Patrick invadiu a festa e acabou derrapando sobre as mesas da primeira fileira, os convidados e os artigos de decoração.
Ah, é. Aí está Aria.
You motherfuckers! — Ela gritava das janelas.
Mas seu espetáculo não durou muito tempo, não teve um grande final e não fez nenhuma vítima. O carro se chocou contra a Deusa Vênus, os airbags foram acionados, Aria abriu as portas instintivamente e assim caiu nua no chão, tendo o vestido rasgado numa ponta solta de lataria. 
— Ai meu Deus! — Ela correu e tentou se cobrir.
O público não soube se ria, chorava ou prestava alguma assistência.
— Ela está bem? Ela está bem? — Perguntou Jake ao irmão.
— Está ótima. Você pode rir.
— Okay — Ele tomou de sua taça em um só gole.
Agora a sobremesa. Por favor.


Eles o levaram algemado a uma sala de interrogatório.
— Quem é você? — Perguntou Nate.
A jovem moça usava um vestido etsuko black, com cinta dourada, e os cabelos cor de mel, ondulados, caiam-lhe à altura dos ombros. Seus olhos de um azul safira.
Sou Nicole Rath — Apresentou-se. — Vim a pedido de seu irmão, Alex Bennett.
— É claro. Ele não desiste.
— Sente-se, por favor. Temos muito a conversar.
Nate assim o fez.
— Fui informada que pretende assinar uma confissão. Isso é verdade? — Perguntou ela.
— Sim — Nate respondeu. — Eu não deveria?
— De forma alguma. Se fizer isto, será transferido a um presídio para aguardar julgamento. Não é onde gostaria de estar.
— Você fala como meu irmão. Ele é muito irritante.
— Ele só está cuidando de você.
— Ele acha que a única escolha é se dar ao trabalho.
Nicole levantou o olhar.
— As pessoas costumam temer você, Senhor Strauss? Costuma vencer jogos de intimidação e usar de sua fortuna e influência para manipular os tabuleiros? Pois nada disso importa no lugar para onde vai se assinar esta confissão. Vão tomar sua cama e deixa-lo sem comida durante dias, ou semanas. Será obrigado a lavar fezes, vômito e urina de seus companheiros, até mesmo da própria cama. Se estiverem entediados, o farão pegar um cigarro aceso com as nádegas, para rirem um pouco. E se descobrirem sua orientação sexual, é provável que o estuprem em grupo, na chamada Alcateia. Eu só preciso saber até onde iria sua pretensão se lhe privassem de sua dignidade. Até onde, senhor?
— Eu já ultrapassei este limite — Rele revidou, arrastando de volta a ela os documentos em cima da mesa.
A expressão no rosto de Nicole poderia ser de total desapontamento ou singela impaciência. Era difícil dizer.
— Talvez você não se importe com o que aconteça agora — Ela entendeu. — Mas sua família não merece passar por isso. Você é amado, Nate. Sua família quer lutar por você.
— Por mim? Por uma vida miserável? Para que alguém sempre possa me castigar por algo que eu fiz e as pessoas que eu amo continuem pagando por isto? — Deu um ar de risos. — Eu acho que não. Se Alex preza pelo próprio bem, diga para me deixar em paz.
— Você o deixaria se fosse ele?
Nate encarou as algemas. Sua mente vagou por aí.
— Aqui estarei seguro — Confessou-a. — Não sei o que faria comigo se tivesse uma chance lá fora.
— Você pensa em se machucar?
— Eu penso em tudo. Em todas as razões. Todas as formas... — Seu tom abrandou. — E se eu simplesmente me fizesse... parar?
— Sua família o perderia para sempre.
— Não é melhor que os perder por minha causa? — Ele levantou. — Oficial? Estou pronto.
Ele abriu-lhe as portas.
— Nos veremos mais vezes, Senhor Strauss — Prometeu a advogada.  
— Faça o que tiver de fazer — Nate abriu mãos, de total.
As portas se fecharam ruidosamente.


Gwen voltou da lojinha de conveniência com duas sacolas cheias de produtos de limpeza, higiene e ferramentas de marcenaria.
— Fez como eu disse? — Perguntou Kieran, sentado no capô do carro.
— Sim, está tudo aqui. Ninguém desconfiou.
— Ótimo — Ele pegou uma sacola.
Juntos contornaram o carro e organizaram as compras no banco de trás
— Tem certeza sobre as câmeras de vigilância? — Ela olhou.
— Não se preocupe — Kieran bateu as portas. — Estamos em um ponto cego.
— Mas podemos nos enganar, não é? Se calculamos errado o outro ângulo...
— Você sabe que eu não erro.
— Kieran, pode acontecer. Talvez...
— Gwenett — Ele tocou-a no rosto. — Confie em mim, por favor — Deslizou para as mãos. — Tudo vai dar certo.
— Tudo já não está dando certo — Ela baforou as palavras.
Só mesmo aquele último abraço foi capaz de faze-la desacelerar a mente.  
— Vamos acabar logo com isso, okay? — Promete Kieran.
— Okay — Ela assentiu.
O caminho até o bosque eles fizeram por estradas de terra, em silêncio. Gwen estava atenta às transmissões policiais. Assaltos à mão armada. Brigas domiciliares. Ataques de animais. Vadiagem. Tiroteios. Tentativas de suicídio. Suspeitos rondando casas. Acidentes de carro. Atentado ao pudor. Mas nada sobre o Plaza Hotel, no centro da cidade. Ninguém os viu ou ouviu.
— Daqui vamos a pé — Disse ele, ao estacionar o veículo.
— É remoto o bastante?
— Eu diria que sim — Saiu primeiro; ela logo depois. — Não é permitido caçar ou fazer trilha nessa região.
— Preservação ambiental?
— Evidentemente.
A escuridão na floresta cercava-os de ambos os lados, com névoa à altura dos calcanhares. Sempre que olhavam por muito tempo, em qualquer direção, folhas, galhos e sons tomavam formas fantasmagóricas. Seus próprios passos podiam fugir-lhes a seus entendimentos.
— Aqui está bom — Ele determinou.
Gwen via um enorme tronco de árvore no meio do caminho.
— Não ficará perceptível? — Era sua dúvida.
— Não se fizermos direito. Aqui — Entregou-a uma pá. — Eu começo?
O olhar dela dizia “sim”.
— Tudo bem — Ele tomou à frente.
Aquilo levou quase meia hora – ou quarenta minutos no máximo. Ao final, ficaram encharcados de lama e terra.
— Agora o nosso anfitrião — Disse Kieran.
Eles voltaram ao carro, abriram o porta-malas, tiraram a lona com o corpo, levaram ao túmulo e posicionaram conforme a estatura. O adicional fora a Kieran cortar o plástico na direção dos olhos de Matthew e fecha-los por conta própria.
— É uma tradição latina — Explicou a Gwen.
Ela não se importou muito em comentar.
— O que faremos com as roupas e os lençois? — Perguntou-o, em seguida.
— Leve-os de volta ao carro. Iremos queima-los.
— Certo. Eu vou adiantando as coisas.
— E quem vai me ajudar aqui?
— Você é bem grandinho, Kieran. Use seus músculos para algo útil — Ela deu-o às costas.
— Tipo sair impune de assassinato — Ele continuou a aterrar.
Passou-se cinco, dez, quinze, vinte minutos. Gwen não voltou. Cada pá de terra deixava Kieran mais perto da exaustão.
— Aquela bebida seria uma boa agora, Gwenett — Sussurrou a si mesmo.
A resposta veio através dos sons da floresta.  
— Gwen? — Chamou uma vez.
Foi quando ele os viu. Vários deles. Com armas nas mãos.
— Parado! — Gritou um policial.
Kieran largou a pá, pulou sobre um tronco de árvore e correu na outra direção. Uma clareira revelou-se para ele metros à frente, no ponto mais baixo de um aclive. Ali eles o cercaram.  
— Mãos para cima! — Gritou uma das oficiais.
— Você está preso por assassinato e ocultação de cadáver — Uma outra o algemou.
Tudo o que disser poderá e será usado contra você no tribunal — Ouviu de outro homem.
Droga, Gwen. Diga que conseguiu escapar. Preciso de você.
Os oficiais o levaram em direção aos pontos de luz na estrada. Viaturas, ambulâncias, carros de imprensa, andarilhos curiosos. Gwen também estava lá. Viu-a de cabeça baixa, chorando, na traseira de uma ambulância. O casaco que cobria os ombros devia pertencer a um dos detetives que a interrogava.  
— Este é o atirador? — Perguntou o de cabelos grisalhos.
Gwen lançou a Kieran um olhar de acusação.               
— Sim — Ela respondeu. — Este é o homem que destruiu minha vida.

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   6x19: Now You See Me, Now You Don't (6 de Agosto)
   Faltando apenas seis capítulos, podemos dizer que o mérito dessa reta final é todo de Gwenett Strauss. Ela é a vilã que encomendou o assassinato de seu abusador, deu um jeito do irmão ser incriminado por isso, matou um de seus comparsas e culpou o próprio namorado por esse outro crime, para faze-lo pagar pelos anos de relacionamento abusivo. Isso é o que eu chamo de uma guerra dos nossos. 
    E no próximo capítulo, adivinha quem vai fazer uma visitinha ao irmão na cadeia? Ela se importa tanto com a família...

Jensen: Nos livramos do encosto.
A Aria:
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