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Crítica | American Horror Story: Cult - 7x02-04: Don't Be Afraid of the Dark / Neighbors from Hell / 11/9



Construindo muros, não pontes.

Dentre esses últimos três episódios de Cult, o que mais chamou minha atenção foi 11/9, que finalmente colocou a histérica personagem da Sarah Paulson em segundo plano e focou no Kai, que até então era um antagonista misterioso cujo objetivo ainda não temos certeza; além, é claro, da sua autodeclarada dominação global. Este quarto episódio foi um sopro de ar fresco na temporada justamente por apresentar um ângulo diferente dos anteriores e nos dar um descanso dos "ataques" da personagem principal. Sinceramente, está sendo cada vez mais difícil encarar Ally como a "mocinha" da história, e cada semana que passa ela parece mais e mais uma das vilãs.

O segundo e terceiro episódios foram um desfile de personagens novos, que como de costume foram introduzidos, mas nunca desenvolvidos. Tivemos os vizinhos, que em momento algum conseguem parecer pessoas normais, além da repórter e do detetive cuidando do caso. Ryan também não poupou o espectador ao acrescentar um monte de subplot que possivelmente não irá para lugar algum. O caminhão espalhando "tóxicos" e o caso repentino da Ally com a babá são exemplos disso. Este último foi uma decepção porque o terror psicológico envolvendo as cenas da Winter com a família da Ally era muito mais interessante do que um caso bobo e clichê entre elas. E o pior é que nem é ao menos justificável, porque se há alguém que não merece essa atitude é a Ivy, aumentando ainda mais minha apatia pela personagem da Sarah Paulson.

Ao contrário do que poderíamos imaginar na Season Premiere, o roteiro parece estar desconstruindo a imagem da personagem, tornando-a tudo aquilo que o Kai busca, o que possivelmente explicaria sua obsessão nela. Ela se apresenta como uma militante desconstruída, mas não demora muito para que o enredo exponha que a verdade não é bem essa; especialmente nesta quarta semana, onde foi revelado que sequer votar na Hillary Clinton ela votou. Acredito que estamos vendo a transformação da personagem, quebrada aos poucos pelos próprios medos, e que ela acabará caindo para o "lado negro da força". De qualquer forma, saturei rapidamente nas suas cenas, e é uma pena que ela ainda terá muito destaque daqui para frente.

O quarto episódio serviu para aprofundar mais a respeito do conceito do "culto" do subtítulo, seguindo quase inteiramente sob a perspectiva do Kai, que inegavelmente é um dos personagens mais interessantes nesta temporada. Assim como Lucifer, ele tem um jeito manipulador de trazer à tona o pior lado nas pessoas e ele as observa para descobrir exatamente aquilo que as fará ceder ao seu comando. Vimos o personagem estendendo o seu controle sobre duas pessoas; um dos vizinhos da Ally e a repórter. Ambas narrativas foram muito interessantes de se acompanhar. O destaque da segunda foi a introdução da personagem da atriz Emma Roberts, fazendo uma participação especial na temporada. Ao contrário do que o Ryan Murphy geralmente fez, essa introdução pareceu orgânica e fluiu perfeitamente a favor da trama. Desta vez não ficou parecendo que ele mudou os rumos do roteiro para poder introduzir um ator específico, como foi recorrente em temporadas como FreakShow.

Do outro lado da força política, vimos um flashback envolvendo um contato prévio entre a Winter e a Ivy, que, apesar de ser interessante, levanta várias questões sobre o fato delas não terem se reconhecido posteriormente. Eu entendo você não conseguir identificar uma pessoa que passou por você no cotidiano, mas elas deram uma de justiceiras sociais e isso não é algo que se faz todos os dias, não é mesmo? De qualquer formas, essas cenas contrastaram diretamente com as do Kai. É como se aquilo representasse o recrutamento da Winter para o seu próprio culto, algo que não foi adiante por causa da derrota da Hillary (?). Talvez, mas não ficaria chocado se nos deparássemos com dois cultos distintos até o final da temporada.

Apesar de já ter deslizado em alguns momentos, esta sétima temporada de American Horror Story continua sólida. Tinha perdido um pouco a fé na narrativa nas últimas semanas, mas este quarto episódio conseguiu colocá-la novamente nos trilhos. Espero que o roteiro continue investindo em novos ângulos e desenvolvendo as personalidades já apresentadas ao invés de continuar introduzindo novos elementos sem construí-los devidamente. Por mais episódios focados no Kai e menos na Ally, que definitivamente se tornou um dos personagens mais fracos e irritantes que a Sarah Paulson já interpretou na franquia. Enfim, muita coisa ainda pode acontecer, mas se a temporada seguir este nível, teremos uma temporada sólida pela frente.
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