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[Crítica] Martyrs (2008)


Direção: Pascal Laugier
Ano: 2008
País: França | Canadá
Duração: 99 minutos
Título original: Martyrs

Crítica:

Martyrs pode não ser muito conhecido no gênero como os grandes lançamentos nas telonas, mas quando se trata de "filmes perturbadores" ele é constantemente citado. Procure por listas envolvendo o assunto e certamente encontrará o título por lá. Confesso que resisti um pouco até conferir a produção; além de não ser meu estilo favorito, geralmente acabo decepcionado com o todo o hype que circula por aí. Com a notícia de um remake brotando no horizonte, a curiosidade falou mais forte (seria um belo dia para Hollywood destruir mais uma ideia original?). Não conferi nada a respeito do filme antes de assisti-lo; não vi trailers, nem mesmo uma sinopse completa. Queria me deixar ser surpreendido – E que surpresa! Este é um filme extremamente visceral, simplesmente único em sua proposta. E, vamos deixar uma coisa bem clara, não foi feito para todos.

Na trama, acompanhamos a pequena Lucie, que depois de ser cansativamente torturada, consegue escapar do seu "cativeiro". Ela cresce em um orfanato, tornando-se amiga de Anna, uma garota que está disposta a ajudá-la a vencer os seus demônios. Muitos anos mais tarde, Lucie está disposta a se vingar das pessoas que fizeram mal a ela no passado, arrastando Anna para uma trajetória macabra de horror e sofrimento. Atormentada por lembranças do passado, culpa e ilusões, Lucie rapidamente sucumbe à loucura de seus próprios pensamentos, deixando Anna em uma situação perigosa da qual ela desconhece. Sem saber exatamente sobre o mal que está lidando, Anna não irá demorar para descobrir o sofrimento que acompanha a palavra mártir.

Eu não sou afetado facilmente por filmes, mas este certamente conseguiu mexer comigo. Não é uma questão de medo ou nojo, mas o enredo consegue, ao poucos, te "quebrar" psicologicamente – assim como também o faz com a sua protagonista. Estamos acostumados com tons diferentes, programados para nos ater àquele fio de esperança de que as coisas ficarão bem; porém, neste caso, elas não ficam. Muitos falam o quanto este filme é violento e ficam impressionados com isso, mas, o grande destaque aqui fica por conta da violência psicológica. Até porque, ela transcende a tela e consegue chegar até você. Já vi muitos filmes de tortura – como a franquia O Albergue –, mas nenhum havia sido tão devastador em sua mensagem quanto Martyrs.

E o mais interessante é que em nenhum momento a violência soa gratuita. Todas aquelas cenas servem ao propósito central do roteiro, que é revelado nos minutos finais. Os trinta minutos finais são realmente difíceis de se acompanhar; desagradáveis de se assistir. Quando pensamos que as coisas não podem piorar, elas superam nossas expectativas, terminando sua narrativa com um golpe tão forte e inesperado que é impossível não ficar abalado com o que está acontecendo na tela. Martyrs corresponde a todo o hype que circula ao seu redor e consegue quebrar todos aqueles que duvidaram de sua capacidade destrutiva. Uma das coisas mais chocantes para o espectador é que, na segurança de sua casa, ele é colocado no centro do horror ao lado da protagonista. Passamos por todos os estágios psicológicos que ela enfrenta, e isso machuca.

Quando terminei de assistir, confesso que não gostei muito da explicação que motivou todo aquele sofrimento; me pareceu aleatório. Mas, dando um tempo para a ideia amadurecer na sua cabeça, você vai perceber que o desfecho entrega muito mais do que absorvemos com o primeiro choque. É uma conclusão perfeita para a trama, onde o próprio espectador pode desenvolver sua própria interpretação. E, buscando na internet, você irá encontrar muitas outras especulações tão interessantes quanto as que você havia elaborado. Não há uma resposta definitiva, os fatos não serão mastigados para você. A profundidade do desfecho está diretamente ligada a sua singularidade, dependendo exclusivamente da sua interpretação subjetiva.

Martyrs foi um filme único e brilhante em sua proposta, mas eu com certeza não o assistiria novamente. Pelo menos pra mim, não é o tipo de filme para se assistir várias vezes. Não é divertido; é chocante e incômodo. Além do mais, tudo em torno desse filme é tão forte que ele dificilmente será esquecido. Eu o assisti há alguns meses, mas parece que foi ontem. Todas aquelas cenas continuam vívidas na minha cabeça. Eu já deixei bem claro no primeiro parágrafo, mas é sempre bom reforçar: não é um filme para todos. Deve ter sido por isso que acharam que seria uma boa ideia fazer uma nova versão da trama, mais leve e com o heroísmo americano gritando na tela. Agora, a grande questão que permanece é: você se sente corajoso o suficiente para assistir ao remake?


Trailer:

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