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[Crítica] A Arma de Lizzie Borden


Direção: Christopher Ray
Ano: 2014
País: EUA
Duração: 91 minutos
Título original: Lizzie Borden Took an Ax

» Nunca lançado oficialmente em DVD no Brasil, o filme foi exibido na TV a cabo, com o título A Arma de Lizzie Borden. Não teria sido melhor se o título ficasse O Machado de Lizzie Borden? Um lançamento oficial parece improvável, mas espero que eles mudem esse título pavoroso caso ocorra.

Crítica:

É hora de enterrar o machado.

"Lizzie Borden took an axe and gave her mother forty whacks. When she saw what she had done, she gave her father forty-one". É com essa música bizarra de pular corda que vemos atualmente o legado de Lizzie Borden. Obviamente ela não é conhecida no Brasil, mas sua figura é forte no folclore popular americano, sendo reconhecida como a cruel assassina que nunca foi pega. Seu caso repercutiu na mídia da época, assim como todo o seu julgamento. Ninguém sabe exatamente o que aconteceu, mas especulações são criadas até hoje. Lizzie era inocente ou não? Seja como for, diversas produções já se aproveitaram da história, e agora o canal Lifetime tenta trazer à tona o desenvolvimento do seu julgamento, seguindo o ponto de vista considerado pela grande maioria.

Na trama, em 1892, um crime brutal chocou uma cidade pequena. Um casal foi morto a machadadas, e a principal suspeita é uma de suas filhas. Sendo a única dentro de casa no momento do crime, Lizzie Borden defende-se como pode, mas a diferença de tempo de uma morte para outra pode criar alguns buracos em sua defesa. Sem outras opções à vista, a jovem é levada a julgamento, tendo em sua querida irmã, Emma, uma das únicas pessoas que acreditam em sua inocência. Agora, somos nós, espectadores, que teremos que descobrir quem matou os patriarcas da família Borden, enquanto uma série de suspeitos, com seus próprios motivos, espreitam longe dos holofotes.

Eu sei que a sinopse parece interessante, mas a proposta final saiu direto da minha cabeça. Não há muitas dúvidas em relação ao culpado pelos crimes. O nome original do filme é "Lizzie Borden Pegou um Machado"; ela aparece segurando um machado no pôster; e o desenvolvimento do filme também não faz grandes coisas para dissuadir os espectadores dessa linha de pensamento. Ironicamente, a história fica presa entre o óbvio, mas faz questão de não entregar o que todos sabem que está acontecendo. É realmente cansativo acompanhar este filme até o final, porque a identidade da assassina só deveria ter sido mantida em total segredo caso houvesse uma grande reviravolta no final. De fato, há apenas uma espécie de "reviravolta" no final - uma confissão -, que todos já sabiam. Nem preciso dizer que não causa qualquer impacto.

O que causa tanto interesse no caso - inclusive atualmente - é o fato dele haver tantas possibilidades. Novos admirados do julgamento continuam empenhados em resolver o mistério, e muitos deles criam excelentes teorias que não colocam Lizzie Borden segurando o cabo do machado. Uma das teorias mais interessantes é a de que talvez a empregada tenha matado o casal, um plot que passou completamente batido pelo roteiro desse telefime. Seria interessante se o enredo brincasse um pouco com as possibilidades ao invés de jogar fatos batidos em nossa cara. A trama se resume em contar basicamente o que todos sabem, seguindo a versão mais comum da lenda. Não há o interesse em fazer algo maior, apenas narrar o julgamento com os detalhes verídicos que podemos encontrar tão facilmente na internet. O problema é que esse tipo de abordagem ficaria muito mais atraente em um documentário.

Além do mais, enfraquecendo ainda mais a confissão final, o filme inteiro carrega uma péssima montagem como flashes rápidos do que realmente aconteceu durante os assassinatos. Eles são recorrentes durante toda a exibição da história e, além de repetitivos, podemos facilmente entender como a Lizzie montou o cenário dos crimes para sair impune das provas físicas. Quando ela finalmente revela a sua irmã como tudo aconteceu, com direito aos flashbacks completos, nada daquilo é novo para nós, porque já conseguimos montar o quebra-cabeças muito antes do enredo se dar ao trabalho. É uma pena mesmo, porque acredito que esse filme tinha um grande potencial, principalmente por causa do seu elenco, encabeçado pelas talentosas Christina Ricci e Clea DuVall.

Como curiosidade, vale ressaltar que, apesar da rima popular fazer questão de esbravejar que a mãe recebeu quarenta machadadas e o pai quarenta e uma, o número real ficou bem abaixo disso. O pai levou onze golpes de machado, enquanto a madrasta teve em torno de dezoito. Enfim, esperava muito mais dessa adaptação da clássica história. Faltou um bom roteiro, edição e produção. Talvez algumas pequenas mudanças pudessem melhorar o resultado final, que, se fosse levado a julgamento, com certeza seria condenado... ao esquecimento. Mesmo assim, alguns contos simplesmente se recusam a morrer, e a Lifetime encomendou uma minissérie para continuar os eventos narrados por este filme. Será que em como esse machado ser afiado ou merecia permanecer escondido para sempre?


Trailer:

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