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[Livro] A Punhalada 3 - Capítulo 9: A Noiva


Amanda olhou para si mesma através do espelho do banheiro. Não sabia quanto tempo havia se passado desde que permanecera imóvel no chuveiro, mas sabia que todas aquelas horas de reclusão não haviam surtido efeito. Entre um pensamento e outro, só conseguira chegar a conclusão de que não havia mais para onde correr. O quarto de hotel onde Aaron se hospedara iria lhe serviria apenas como um refúgio temporário, que não dizia nada sobre seu futuro quando finalmente chegasse o momento de seguir em frente.

Ao enrolar-se no casaco de banho preto deixado a sua disposição, amarrou um nó em sua cintura e caminhou diretamente até a sala; no momento exato em que alguém batia sutilmente na porta.

Pensando ser um dos funcionários com o almoço que pedira, Amanda dispensou o olho mágico e abriu a porta sem hesitar. Era a sentença involuntária para que nada pudesse lhe salvar quando visse a ultima pessoa com quem gostaria de refazer seus laços: Chloe Field.

— Ai meu Deus... — Chloe parecia abismada. — Então é verdade...

Amanda não esperou que o estômago digerisse a nova surpresa de sua vida. Ao invés disso, socou o rosto de Chloe com o punho direito, fazendo-a cair sentada no chão e escorada na parede do outro lado do corredor.

Chloe não entendeu o que estava acontecendo, mas a pancada lhe deixara confusa demais para tomar uma atitude. Limpar o sangue que escorria do nariz e assistir Amanda caminhar até a adega do apartamento para pegar uma bebida era só o que podia fazer enquanto a cabeça tentava voltar ao normal.

— Mas que porra? — Ela tossiu.

— Página vinte e quatro, capítulo dois. — Amanda colocou whisky no copo de vidro a sua frente. — “Amanda não sabia o motivo que lhe levava a ser tão desleal, mas era sempre fiel a sua natureza cheia de hipocrisia e superficialidade”.

— Oh Deus... — Era difícil levantar-se enquanto tentava estancar o sangue que saia do nariz. — Pensei que você não guardava rancor.

— Você está sangrando por minha causa. Então podemos dizer que eu já segui em frente. — Amanda lhe jogou a pequena toalha branca que havia na adega.

— Ok, talvez eu mereça isso... — Chloe colocou a toalha no nariz e posicionou a cabeça para cima enquanto sentava no sofá maior. — Mas não é como se eu tivesse mentido. Eu estava narrando a Amanda de dezesseis anos que cometia bullying contra os colegas de classe, não a Madre Teresa que você se tornou depois que... Bem, você sabe.

— Isso não importa mais.

— Não seja tão fria, eu vim te visitar. — Chloe fitou o lenço em suas mãos. Estava cheio de sangue, e parecia que seu nariz não estava mais precisando dele. — Aaron me contou o que aconteceu...

— É claro que contou...

— Olha, eu sei que você está com raiva de mim agora. E sei que isso não a impediu de tirar sangue do meu nariz de uma maneira bastante agressiva. Mas eu estou aqui, essa também é a minha história. E eu estou morrendo de medo, mesmo que não pareça.

— Eu não posso ajuda-la. — Amanda virou-se para encará-la. — Toda vez que confiamos em alguém, as pessoas morrem. Precisamos ficar sozinhas se quisermos ter uma chance.

— Eu estou sozinha. Mas acho que talvez esse seja o problema...

— O que você está dizendo?

— É Kyle. Ele tem um problema e eu não sei como ajudar...

— Kyle? — Amanda hesitou misteriosamente. — Ele está na cidade?

— Sim, ele veio comigo. Acho que é melhor ficarmos todos juntos.

— O que aconteceu? — Amanda sentou no sofá de frente para Chloe.

— Há alguns dias meu namorado David foi assassinado no prédio onde trabalhávamos. Denver Above, você já deve ter ouvido falar. Eu fui atacada, mas consegui escapar. E dois minutos depois encontrei Kyle no primeiro andar com as mãos e as roupas cheias de sangue. Ele disse que encontrou David e...

— E...? — Amanda a incentivou a continuar.

— Ele não está bem. Há alguns anos ele começou a ter visões com os crimes que presenciou e foi parar na terapia. Só que agora, com os novos assassinatos, as visões também voltaram. Com força total.

— Eu sei o que você está pensando... Ele teve alguns problemas, não quer dizer que seja perigoso.

— Esse é o problema, eu não sei o que pensar. — Chloe relaxou os ombros. — Ele é o meu melhor amigo de uma vida inteira, mas se você estiver certa, não posso confiar em ninguém. Quer dizer, não é como se eu estivesse no roteiro de “Dia dos Namorados Macabro”. — Ela deu um ar de risos debochado, mesmo soando entristecida.

— Perdão?

— Dia dos Namorados Macabro, Jensen Ackles. O cara que ficou alguns anos num hospital psiquiátrico e depois apareceu no filme como o protagonista inocente só para no final se revelar como o assassino. Não acredito que você não lembra.

— Acho que você continua assistindo muitos filmes de terror. — Amanda se levantou e caminhou em direção a vista da janela principal.

— Você não?

— Minha vida já é um filme de terror. Não existe nada que a supere.
φ

Megan virava de um lado para o outro em frente ao espelho. Aquela poderia ser a grande decisão de sua vida.

Infelizmente, a vendedora da loja de vestidos não pensava do mesmo jeito. Megan estava provando os vestidos de sua loja há três longas horas, que foram intensificadas a medida que suas lamentações por Aaron se tornavam mais frequentes. “Eu vou casar com um homem que prefere dormir em um hotel ao invés de ficar com sua noiva” – Era a frase que tinha destruído a tarde de ambas.

Francine, que mantinha seu caderno de anotações ao fundo, era a única a estar confortável com aquela situação. Ajudar Megan Bower a escolher seu vestido de noiva não era um desperdício de tempo, era uma honra.

— Esse ficou ótimo! — Ela sorriu.

Megan observou a si mesma pelos inúmeros espelhos ao seu redor. Não havia nada demais em um vestido de cauda longa que destaca os seios através de um decote bastante ousado.

— Você disse isso dos ultimos cinco... — A vendedora quase revirou os olhos. De tão elegante que tentara ser para provar que Megan estava na loja certa, agora seus cabelos estavam quase todos em pés.

— Todos estavam ótimos!

— Mas nenhum combina com o meu John F. Kennedy... — Megan lamentou.

— Eu acho que prefiro não saber sobre o que você está falando... — A vendedora voltou a se abanar com o leque.

— Não importa. — Megan olhou para si mesma pelo enorme espelho a sua frente. Aquela era a milésima imagem de si mesma que encarava no dia, e antes mesmo da terceira, sua euforia já havia terminado.

— Preciso terminar de contar o estoque. — A vendedora se levantou, caminhando em direção a enorme porta em forma de arco atrás de Francine. — Me avisem quando terminarem... Ou não.

— Obrigada, senhora... — Francine só estava tentando ser simpática, mas a mulher não parou de caminhar nem por um segundo. — É muita gentileza da sua parte nos deixar permanecer em sua loja até... — Quando percebeu, a mulher já tinha saído de sua vista. — Agora... Acho que ela está chateada.

— Não importa...

Megan desceu do pequeno pedestal branco onde fora posicionada e começou a abrir o zíper na parte de trás do vestido. Tinha certeza que o calor insuportável que o vestido lhe trazia era consequência dos problemas que não lhe saíam da cabeça. Aaron, Melanie, Ghostface, Amanda... Como poderia continuar planejando o casamento no meio de uma chacina? Talvez Aaron não estivesse tão enganado quanto imaginava.

— Uma ajudinha aqui, por favor... — Megan quase exclamou, e Francine obedeceu no mesmo instante.

Uma vez longe daquele vestido, Megan pôde respirar aliviada. Deitou as costas no sofá marrom onde sentara e jogou no rosto algumas gotas da água que guardara na sua inseparável garrafa térmica. Afinal, que tipo de loja de vestidos de noiva não oferecia um banho gelado a suas clientes com problemas respiratórios?

— Finalmente... — Ela suspirou. Ainda não havia percebido que estava só de lingerie na sala de provadores de uma loja conceituada. — Nós estamos demorando muito. Talvez a gente tenha que comprar um lanche pros dois idiotas do lado de fora. — Olhou para uma das janelas.

Ao longe, parado no acostamento, estava uma viatura com dois policiais quase dormindo no meio do serviço. E não era como se Megan pudesse reclamar. Eles a seguiram o dia inteiro para dentro de shoppings, lojas de grifes e de produtos para animais antissociais. Enquanto não houvesse perigo, era dessa maneira que iria encontra-los.

— Eles parecem bem... — Francine também olhou, no mesmo instante em que um dos policiais se assustava com o rádio escuta apitando. — E você? — Ela voltou a atenção novamente para Megan.

— Estou com calor.

— De acordo com o meu celular... — Francine colocou o aparelho em frente ao pequeno caderno de anotações que segurava. — Está fazendo onze graus célsius em Chicago, considerado “frio moderado” pelos meteorologistas.

— Ai meu Deus! Não importa, Francine. Se eu quiser soar em Dezembro, eu soo. Se eu quiser sentir calor no natal, eu sinto. Se eu quiser patinar pelada e fazer um boneco de neve dotado com galhos de árvore, eu farei! Sabe por quê? Porque eu tomo minhas próprias decisões e não preciso de nenhum homem pra me dizer o que fazer!

— Não, você não precisa... — Francine engoliu em seco.

— Agora me passe aquele vestido! — Megan apontou para o ultimo vestido pendurado no cabideiro do final da sala.

— Ok... — Francine levou menos de cinco segundos para chegar ao vestido e entrega-lo nas mãos de Megan.

— Agora saia e vá fazer algo produtivo!

— Ok... — Ainda com as mãos trêmulas, Francine obedeceu.

— Era só o que me faltava... — Megan olhou para o vestido em suas mãos através do espelho. — Me sentir mal na escolha do meu vestido de noiva por causa de um homem... Hoje não, Aaron Estwood. Não no meu país. — Furiosa, ela subiu no pedestal a sua frente e começou a colocar o novo vestido.

A essa altura, Francine já estava no saguão principal da loja, onde se localizavam os manequins bizarros e as vitrines cheias de joias que até mesmo Megan não poderia pagar. Sem dúvidas era a loja mais sofisticada que tivera o prazer se conhecer, mas estar sozinha num espaço tão grande e silencioso com certeza tirava toda a magia que uma mulher poderia apreciar.

Entre um vestido e outro, além de acessórios banhados em ouro e prata, Francine decidiu dar uma pausa em sua exploração de território quando notou uma pequena câmera de vigilância no alto de uma coluna grega decorativa. Era tão curioso e inútil que decidiu voltar completamente sua atenção para o objeto.

Em baixo da luz vermelha que piscava sem parar, ela notou uma placa amarela dizendo “Sorria, você está sendo filmado”. Foi o bastante para se convencer de que deveria obedecer.

Colocou uma mão na cintura, olhou para a câmera e lançou o sorriso mais alegre que a situação poderia lhe oferecer. Talvez alguém fosse assistir aquela filmagem. E quando chegasse o momento, veriam Francine Waldorf em sua melhor forma.

— O que você está fazendo? — Perguntou a vendedora, alguns passos atrás. Estava segurando um manequim com as mãos e olhando para Francine como se estivesse assistindo um show de gafes.

Francine imediatamente mudou de postura, mas era tarde demais. Agora a dona de uma loja elegante sabia que Megan Bower tinha a assistente que merecia.

— Eu estava apenas... — Francine gaguejou. — Aquela câmera é verdadeira ou falsa? — Ela apontou. — Eu não quero ser uma dessas vítimas de pegadinhas...

— Por favor, não fale mais comigo.

— Pode deixar! — Francine sorriu sem graça enquanto a mulher se retirava.

Quando Megan ordenou que fizesse algo produtivo, definitivamente irritar a moça da loja estava fora de contexto. Seria melhor voltar para onde Megan estava e torcer para que sua raiva passasse em breve.

Francine mal conseguiu dar dois passos e um enorme estrondo lhe chamou atenção há alguns metros de distância. Algo de vidro parecia ter quebrado, mas não era o suficiente para fazer tamanho barulho. Talvez a vendedora estivesse com problemas Talvez, de tanto carregar manequins para cima e para baixo, um acidente tenha acontecido.

— Senhora? — Francine gritou enquanto se aproximava do local.

Quanto mais chegava perto, mais tinha certeza que havia algum problema com a iluminação do local. A lâmpada do corredor onde tentava chegar estava piscando, como se houvesse quedas simultâneas de energia.

— Senhora, está tudo bem? — Ela gritou mais uma vez.

Mais dois passos foram necessários para dobrar o balcão e ter uma vista completa do corredor, quando finalmente percebeu que era a hora de correr. Havia um rastro de sangue que se estendia até uma das portas, de onde podia ver o corpo da vendedora completamente mutilado. As luzes do pequeno corredor continuavam piscando a medida que a lâmpada balançava, como se alguém tivesse lhe acertado com força.

— Ai meu Deus... — Ela deu dois passos para trás.

Antes que pudesse correr para longe, Ghostface apareceu sorrateiramente atrás de seu corpo, tapando sua boca para esfaqueá-la em silêncio. Mordendo as mãos do assassino, Francine recebeu apenas duas facadas no peito, que lhe fizeram cair no chão completamente sem forças.

— Não... — Ela se arrastou no chão, com as mãos em frente ao corpo para alcançar qualquer coisa que pudesse lhe ajudar. Mas já não havia como escapar. Se conseguira arrastar-se por um metro enquanto o assassino lhe seguia, era apenas para que o seu sofrimento fosse prolongado.

O que poderia fazer para salvar a si mesma? Absolutamente nada. O assassino era indiscutivelmente mais forte e mais perspicaz. Conseguiu virá-la de peito para cima, conter seus braços e lhe dar uma facada certeira enquanto o ultimo grito de sua vítima era ecoado pelo salão.

Megan, que ainda provava o ultimo vestido a algumas salas, mal conseguiu notar alguma diferença no ambiente. Em seus pensamentos, a vendedora ainda estava organizando os ultimos detalhes para encerrar o dia de expediente enquanto Francine fingia interesse por qualquer inutilidade apenas para escapar dos gritos de sua patroa. Nem lhe passava pela cabeça que naquele exato momento, Ghostface estava criando um rastro de sangue com o corpo de Francine, que se estendia para o lado de fora do estabelecimento.

Virando o corpo para encarar a lateral do vestido, Megan percebeu que seus esforços para entrar haviam feito um rasgo de pelo menos doze centímetros próximo a costura. Era o suficiente para deixar a mostra parte de sua lingerie vermelha e danificar a decoração sobreposta que seguia um padrão elegante usando cristais.

— Ótimo... — Ela resmungou. — Francine, preciso de você aqui!

Ela abaixou as alças do vestido e fitou novamente sua imagem no espelho. Só precisava de alguns ajustes feitos a mão e logo o vestido estaria como novo.

— Francine! — Megan olhou para trás. Não havia ninguém, muito menos um indício de que estavam se aproximando. — Senhora? Era só o que me faltava...

Ela segurou nas pernas do vestido e caminhou até a porta da sala, por onde vira Francine e a vendedora passando. A entrada dava acesso a um pequeno corredor onde todas as noivas devem passar para chegar aos provadores. Megan decidiu caminhar por ele seguindo a lógica de sua entrada, mas de alguma forma, as coisas pareciam diferentes.

Os manequins de destaque já haviam sido retirados, e com as luzes desligadas, era quase impossível distinguir para onde deveria ir. Megan só sabia que aquela solidão e aquele silêncio não estavam lhe fazendo nada bem.

— Francine! Mas que droga, apareça! Eu não quis ser rude, eu só... — Ela suspirou enquanto dobrava para o salão principal. — Não está sendo uma semana fácil.

Ao notar o salão completamente vazio, Megan ficou quieta. Tudo ao seu redor lhe fazia acreditar que aquilo já havia acontecido antes. Não nos filmes que costumava assistir, mas em sua própria vida. A prova definitiva era o toque do telefone em um dos balcões de troca, a sua direita, que num ambiente silencioso, formava um ruído ensurdecedor.

Por todas as vezes em que fez o papel de donzela indefesa e deixou o medo dominar suas escolhas, ela resolveu simplesmente não agir. Deixou o telefone tocar enquanto permanecia no mesmo lugar, esperando qualquer sinal de que não estava sozinha naquele estabelecimento. Mas e se o telefone não parasse de tocar? E se fosse Francine avisando que foi para casa depois de ser humilhada mais uma vez por sua patroa. E se fosse Aaron querendo saber se estava tudo bem?

Mas e se fosse... O assassino? Havia sempre uma ligação antes do sangue começar a jorrar. Mas nem mesmo ele seria tão estúpido a ponto de ataca-la em uma loja cheia de câmeras de segurança com dois policiais do lado de fora. Ou era exatamente o que ele queria que ela pensasse.

— Não... — Ela deu meia volta e começou a correr por onde veio. Só precisava chegar até seu aparelho celular e avisar alguém que poderia estar em perigo.

— Atenda o telefone! — Gritou o assassino pelos autofalantes da loja.

Megan tentou, mas não conseguiu chegar nem na metade do caminho. O assassino se revelou de trás do balcão do caixa e partiu em sua direção.

O susto foi tão grande que ela cambaleou para cima dos manequins enquanto tentava quebrar a proximidade com seu inimigo. Os plásticos, as peças soltas e as roupas espalhadas pelo local estavam dificultando seus movimentos. Mas uma vez ultrapassados, todos os empecilhos eram deixados no caminho de Ghostface, que precisou esfaquear e arremessar vários manequins antes que ficasse para trás.

A adrenalina que percorria o corpo de Megan era tão intensa que nem precisava de tempo para agir. Ela pegou uma das pernas soltas do manequim preto e acertou o rosto do assassino, fazendo-o cair em cima da vitrine de joias do lado esquerdo.

Quando finalmente alcançou a porta de entrada, viu os dois policiais ainda dentro da viatura como se nada estivesse acontecendo. A porta a sua frente? Completamente trancada com a ajuda de um computador. E do lado de fora? Ninguém que pudesse lhe ajudar.

— Não! Eu estou aqui! — Ela esmurrava a porta de vidro enquanto depositava sua vida inteira em gritos de desespero. — Não! Me ajudem! Olhem pra ca! Olhem pra ca! — Também tentou chutar a vidraça, mesmo sabendo que seria inútil.

Para ter certeza que não seria atacada, ela olhou para trás. O assassino já estava levantando do chão, e logo mais uma perseguição seria iniciada. Era melhor encontrar um lugar para se esconder até que tivesse uma chance de fugir.

Como estava mais acessível, ela decidiu seguir o corredor da esquerda, onde via uma escada de ferro que levava ao segundo andar. Não era aconselhável subir as escadas quando tentava fugir de um serial killer, mas ser clichê definitivamente não estava em seus planos. Ao invés disso, ela usou o discernimento de sobrevivente que adquirira muito cedo. Jogou um dos saltos, quebrou o outro que restou e deixou no quinto degrau da escada. Dessa maneira, talvez, o assassino seguisse para o andar de cima ao invés de segui-la por baixo.

Infelizmente não houve tempo para o plano dar certo. Assim que chegou a próxima porta, o assassino a surpreendeu pela porta em baixo das escadas e quase lhe acertou uma facada nas costas. Se não fosse tão pequena e tão habilidosa, não teria conseguido passar para o outro compartimento antes de ser ferida.

Agora Megan estava dentro de uma pequena capela, feita especialmente para os noivos apressados que desejam ter um casamento simples e improvisado. Havia inúmeros bancos, mesas decoradas, a sala de confissão e um enorme pedestal em frente as cortinas roxas que se arrastavam pelo chão. Seria um bom lugar para se esconder se Ghostface já não estivesse em sua cola, prestes a passar pela porta que literalmente havia salvado muitas vidas.

Ao tentar empurrar o ultimo banco para impedir a passagem pela porta, o assassino lançou um chute e conseguiu afastar o banco para adentrar a capela.

Não havia mais como impedir sua entrada. Megan, rapidamente, correu na direção da porta da esquerda e trancou-se com a chave fixa. Sua inocência ainda lhe permitiu recostar-se a porta para se certificar de que ninguém passaria por ela, até que uma faca atravessou a madeira pelo outro lado e fez um corte superficial em sua bochecha. Se estivesse a dois centímetros para a direita, o golpe teria feito um enorme estrago.

— Me deixe em paz! — Ela gritou enquanto se afastava. A porta não aguentaria por muito tempo. Então, precisava sair dali o mais rápido possível.

Dobrando para o corredor da esquerda, ela encontrou a pequena escada que levava ao porão da loja. A porta no primeiro degrau estava aberta, mas as luzes do lado de dentro não funcionavam. Megan com certeza não se importava, já que não iria precisar.

No alto da parede do outro lado havia duas janelas minúsculas que levavam a terra firme. Só precisou encontrar algo resistente no meio de todos aqueles manequins cheios de poeira para quebrar as vidraças, além de arrastar um dos móveis cheios de teias de aranhas para ajudar em sua subida.

Uma vez do lado de fora, com muito esforço, ela encheu os pulmões com ar puro. Havia deitado em uma poça de lama com insetos e frutas podres ao seu redor, mas estava grata por ter conseguido fugir. Mesmo que sua luta pela sobrevivência ainda não tivesse terminado.

Ela levantou do chão, segurou as pernas de seu vestido e correu floresta a dentro. Apesar dos diamantes, da longa cauda e do cheiro da lama que impregnara seu vestido de noiva, ela conseguiu se afastar rapidamente dos arredores da loja, seguindo a pequena trilha que encontrara entre as árvores. A mesma trilha que segundos depois desapareceu e a informou que estava completamente perdida.

Mal sabia que estavam bem próxima da nova moradia de um casal que brindava pelo novo passo em seu relacionamento. A nova casa era grande, moderna e ficava longe da cidade. Perfeito para recomeçar a vida e oferecer um lar ao novo membro da família.

— Não acredito que vou dizer isso, mas estou feliz por estarmos aqui. — Disse o rapaz, entregando uma taça de champanhe a mulher.

— Não é o pedido de desculpas que eu estava esperando. — A garota sorriu sem fazer barulho.

— Eu sou um homem da cidade. O que você quer que eu diga?

— Bom...

Entre um sorriso bobo e as palavras certas, ela notou Megan aparecendo por entre as árvores como se tivesse acabado de sair de um filme de terror.

— Por que tem uma noiva no nosso jardim?

— O que? — O rapaz olhou. Aquilo simplesmente não fazia sentido algum.

Ambos se levantaram do tapete e correram até a porta de vidro. Megan estava tão atordoada, olhando para trás, que nem tinha percebido a presença do casal.

— Com licença... — O rapaz deu um passo a frente. Megan virou imediatamente. — Você está bem?

— Eu... — Megan olhou novamente para trás. Não havia nada além de pinheiros e o barulho dos insetos.

O casal trocou um olhar cauteloso.

— Eu... — Megan virou novamente para eles.

Não era justo que as primeiras pessoas que a vissem vestida de noiva seriam dois estranhos que desde já a julgavam com os olhos. Então, era hora de dar a volta por cima e ser a estrela que sempre foi.

Ela colocou uma das mãos na cintura, e tentando inutilmente parecer elegante, disse tudo o que aqueles estranhos não queriam ouvir.

— Troco dois convites de casamento por um casaco de couro de bebê tigre... Por favor.
 
Capítulo 10: Eu Caio Aos Pedaços (Dia 1 de Maio de 2014)
Me desculpem pelo atraso. Tive um problema com meu notebook e só agora consegui ajeitar. Estou lançando o capítulo 9 hoje, mas esta quinta-feira já lançarei o 10!
Comentário(s)
1 Comentário(s)

Um comentário:

  1. Tinha certeza que Megan não iria morrer!
    Essa garota é muito perfeita, até em seus piores momentos solta uma pérola dessa!! Kkk
    Coitada da Francine, curtia a personagem!

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