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[Livro] A Punhalada - Capítulo 6: Não Confie Nele


O telefone de Aaron tocava. O toque era semelhante ao telefone de seu antigo quarto hotel e ele só conseguia lembrar daquilo. Fitava o aparelho tocando, imaginando se poderia ser alguma emergência, ou simplesmente o doente que sai por aí matando as pessoas querendo mandar um recado. Poderia também ser Ginger querendo falar com ele, marcar um encontro pra uma séria conversa sobre os fatos que estavam ocorrendo.

Mas do outro lado da linha, Amanda estava com o celular na orelha esquerda, que era segurado por sua cabeça em seu ombro, já que estava com as mãos ocupadas demais tirando leite da geladeira. Mais uma vez, caiu na secretária eletrônica. Amanda colocou a caixa de leite encima da mesa da cozinha e suspirou quando ouviu a mensagem que Aaron deixara em sua secretária.

- Oi, Aaron, é a Amanda. É a quarta vez que ligo pra você hoje, me liga assim que atender? Tchau – Amanda desligou o celular e o colocou ao lado do copo encima da mesa. Encheu-o de leite e tomou um gole, fazendo uma careta quando seus dentes doeram por estar muito gelado.

Seu celular tocou, olhou no visor e leu o nome de Daniel. Pegou o celular e enquanto andava pra sala, atendeu.

- Eu estou completamente exausta, se ficar perto de Brandon não me fizesse bem, juro que dormiria por cinco dias seguidos...

- Não quer vir aqui em casa? Meus pais viajaram, a casa ficaria só pra gente.

Amanda andou até a janela da sala e devagar afastou a cortina para olhar pra rua.

- Não, valeu, me sinto mais segura aqui em casa mesmo. Fica pra próxima – Amanda notou uma luz ao lado, era o carro de seu pai chegando à garagem.

- Que barulho é esse? – Perguntou Daniel, ao ouvir o som do motor.

- Meu pai acabou de chegar, estou tão feliz por isso... – Ela fez uma careta, além de deixar bem clara a ironia em sua voz.

- Brandon está aí?

- Foi ao banheiro... – Amanda fechou a cortina – Vamos ver um filme de comédia, só pra... Você sabe, tirar a tensão – Ela andou até o sofá da sala e sentou-se.

- Tem certeza que não quer vir? Estou sentindo que você precisa de companhia, mas está se fazendo de forte porque você é Amanda Rush, uma lenda no New Britain High.

Amanda hesitou por alguns segundos, prestou mais atenção no que Daniel dissera. Foi muito parecido com o que o assassino disse ontem à noite para ela pelo telefone no Vulcanical’s. Mas logo pensou que era coincidência, não estava mentalmente pronta para desconfiar do próprio namorado.

- Não. Estou legal, os repórteres já saíram daqui da porta e eu vou aproveitar os cinco minutos de silencio que Brandon deixou pra mim agora. A não ser que... Você tenha algo pra mim quando eu chegar ai... – Amanda mordeu o lábio, tinha gostado da própria provocação.

- Você não muda mesmo hein – Daniel riu – Vou acreditar em você. Amanhã passo na sua casa. Eu te amo.

- Eu também te amo... – Ela desligou.

Do outro lado da linha, Daniel ouviu os bips de fim de ligação e guardou o celular no bolso. Ele estava rodeado de gente no que parecia ser uma festa, mas o som estava desligado e todos estavam calados. De repente, ele levantou os braços e gritou:

- Ela não vem! Yeah!

O resto da festa deu gritos histéricos de alegria, eles estavam louvando Daniel. Seus amigos logo entregaram um copo de cerveja pra ele, enquanto o DJ liberou o som. Era uma festa na casa de um dos seus amigos milionários, a mansão estava completamente lotada. Pessoas bêbadas comemoravam a fortuna que tinham enquanto Daniel apenas ficava ao lado deles, como agregado, já que sua família não é daquelas que possui muitos recursos.

Ele correu pra pista junto com os amigos para fazer alguns passos de dance break e impressionar a multidão, mas lembrava de Amanda e do que tinha passado na noite de ontem, mas sua consciência estava limpa já que foi ela quem recusou o convite.

Voltando a casa dos Rush, Amanda discou o numero de Erin e ela entendeu.

- Erin, ele ainda está na festa? – Perguntou.

Erin olhou pro lado e viu Daniel ainda dançando com os amigos.

- Está sim, dançando. Não se preocupe, se ele pegar alguma vadia ligo pra você imediatamente.

- Obrigada, querida – Amanda desligou. Jogou o celular pro lado e começou a pensar em várias formas de se vingar de Daniel.

Quando ouviu um barulho atrás de si, virou a cabeça e viu Brandon chegando.

- Demorou... – Reclamou ela.

- Desculpa. – Ele sentou-se ao lado dela no sofá – Já fez a pipoca?

Amanda tentou disfarçar, mas não tinha jeito, ela havia esquecido completamente de ligar o microondas. Deitou sua cabeça no sofá e gemeu, estava com tanta preguiça de fazer que Brandon preferiu ele mesmo ir até a cozinha e preparar.

--

Samantha acabou derrubando o espelho. Ela estava bêbada e, possivelmente drogada, enquanto fazia sexo no banheiro da casa da líder de torcida Adrianna McCoy, com um desconhecido. Do lado de fora, a festa rolava solta. Samantha mal conseguia ouvir seus próprios gemidos enquanto o cara se aproveitava da situação.

Era uma coisa rápida, os dois mal tinham colocado tudo pra fora e já estavam transando. Samantha ainda estava com a parte de cima da roupa intacta, assim como ele ainda estava com sua camisa. Ele estava lúcido, sabia que aquele banheiro estava prestes a explodir com os movimentos selvagens de Samantha, mas a bebida a fez achar que só tinham eles dois ali.
Quando terminaram, apenas levantaram a calça e abriram a porta. Ele saiu primeiro, sem nem olhar para Samantha e se despedir, aquilo era completamente casual. Samantha escorou-se na porta do banheiro aberta e fitou o corrimão do segundo andar, não conseguia ver o que estava rolando no Hall, a não ser, belos balões coloridos.

Enxugou o suor do seu pescoço e depois passou a mão no rosto, já estava querendo dormir, mas a festa tinha acabado de começar. Ela andou até o corrimão e com seus olhos pesados de cansaço fitou o Hall abaixo de si, não conseguia reconhecer ninguém. Apoiou-se no corrimão com as duas mãos e seu corpo na perna direita.

- Oi, e aí, beleza? – Disse o carinha baixo do segundo ano para ela. Ele estava com uma garrafa de cerveja em mãos e bebia um gole de dez em dez segundos.

- Se manda – Disse Samantha, curta e grossa.

- Mas eu...

- Cai fora! – Ela gritou, estava cansada demais e já tinha batido a cota de sexo com desconhecidos pela noite.

Tomando outro gole de sua cerveja, o garoto se mandou. Sussurrou que Samantha era uma vadia, mas ela fez questão de não ouvir. Saiu do corredor onde estava e andou pra esquerda até encontrar a primeira porta branca. Dois homens haviam saído de lá, eles estavam de mãos dadas.

- Gays do caralho... – Ela reclamou, mas tinha certeza que isso não era preconceito, era apenas a reação da bebida que a fazia odiar tudo e todos.

Entrou no quarto e olhou pela janela, lá fora não tinha ninguém, estava apenas o vizinho de Adrianna em sua varanda, fumando seu charuto noturno com seu pijama listrado dos anos cinqüenta. Fechou a cortina e deu dois passos pra se jogar na cama e só acordar depois de três dias. E foi isso mesmo que fez. Com aquela cama macia e confortável, seria difícil de acordar.

No andar de baixo, Sarah estava entrando na casa, com aquele olhar de “eu não pertenço a este lugar”. Quando percebeu o jeito como a festa estava, tratou de colocar logo seu casaco que já estava quase sendo tirado. Luzes batiam em seu rosto e ela fazia uma careta, e um balão gigante da cor vermelha chegou a acertar sua cabeça. Ela andava entre as pessoas que estavam dançando loucamente, tentando abrir caminho pra encontrar alguém conhecido e perguntar sobre a sua irmã.

Chegando ao meio do Hall, viu cabelos pretos tão grandes e tão lindos quanto o de Amanda e andou até lá, pensou que fosse ela. Tocou em seu ombro, pedindo licença. A garota virou-se, ainda rindo do que o grupo de amigas na frente dela disse. Assim que Sarah notou o erro que cometeu, fez uma cara de desgosto.

- Desculpa... – Pediu.

- Hey, você é Sarah Richards, não é?

- Sim...

- Ai meu Deus! Eu sabia! Uma das gêmeas Richards! – Gritou a garota, alegre – Eu acesso o seu blog tipo assim, todos os dias!

- Sério? – Sarah sorriu – Você gosta?

- Ai meu Deus! Você ta brincando? Adoro suas críticas! Pena que sua irmã não participa, seria genial um blog de gêmeas!

- Seria é?

- Ah! – A garota gritou, correu e deu um abraço em Sarah – Não acredito que é você!

- É sempre bom conhecer uma fã... Mesmo que estava bêbada. Falar nisso, você viu minha irmã?

- Ah, vi sim, eu confundi ela com você e quase apanhei – Disse a garota, rindo – Ela estava transando com um garoto naquele banheiro ainda a pouco – Ela apontou pra porta do banheiro aberta do andar de cima, Sarah olhou.

- Certo. Obrigada.

- Tchauzinho!

Sarah mais uma vez começou a desviar das pessoas para passar, até chegar à escada. Subiu olhando para o banheiro. Logo percebeu que Samantha não estava lá. Andou pelo corredor, queria procurá-la, mas todas as portas do lado esquerdo estavam abertas, Samantha não estava lá. Quando abriu a primeira porta da direita, viu a irmã jogada na cama, encima de uma coxa de casal vinho. A cama parecia estar estranhamente arrumada.

- Droga – Sarah suspirou, já estava cansada de buscar a irmã completamente desacordada nas festas. Aproximou-se da cama e tocou no pé da irmã – Acorda Samantha.

Samantha estava ali quase roncando. Sentiu o toque da irmã e ouviu sua voz, mas não quis levantar. Isso custou outro suspiro de Sarah.

- Manthy, acorda! – Ela balançou a irmã, mas também não obteve resultados – Manthy! Acorda!
- Vai se foder gêmea genérica – Sussurrou Samantha.

Sarah virou o corpo de Samantha pra sua frente, mas Samantha virou-se de volta, não queria sair dali de jeito nenhum.

- Me deixa em paz!

- Papai e mamãe pediram pra eu vir te buscar! Anda! Eles estão esperando!

- Fodam-se eles também! – Samantha pegou a coxa e cobriu sua cabeça, fazendo Sarah perder ainda mais a paciência.

- Ou você vem comigo, ou você vai ficar aí até aprender o caminho de casa, sozinha!

- Adeus!

Sarah não acreditou que a irmã tinha escolhido a opção mais difícil. Com passos furiosos, caminhou para fora do quarto e bateu a porta com todas as forças que pôde.

Na cama, Samantha já estava se sentindo culpada, mas o cansaço era maior, tinha certeza que estaria de bem com sua irmã assim que olhe pedisse desculpas ou lhe fizesse algum favor, era sempre assim.

--

- Foi um bom filme – Disse Brandon, enquanto tomava os últimos goles de sua coca.

- Você chama isso de bom? – Amanda olhou pra ele, com repulsa – Sandra Bullock é uma das piores imitadoras de mulher durona que existe, por isso ficou tão maravilhosa como Miss Simpatia. O filme não tem pé, nem cabeça, quem iria querer estragar o concurso só por que envelheceu?

- Mas ela é gata – Contra-atacou Brandon, com um sorriso, sabia que o que disse deixaria a irmã mais perplexa.

- Ta vendo? É apenas isso que os homens vêem nela, ela é gata, mas história pro filme? Não senhor, isso não tem!

- Mandy...

- Nem venha! – Amanda levantou-se do sofá com os copos de cima da mesinha e foi direto pra cozinha.

Brandon, ainda no sofá, soltou uma risada, só ele sabia o quanto Amanda não gostava de ser contrariada.

Na cozinha, seu celular tocou, era Erin. Mal colocou os copos encima da mesa e já atendeu.

- O que aconteceu? – Perguntou ela, crente de que iria receber a noticia que estava sendo traída.

- Ele desapareceu. Perdi ele de vista.

- Como assim perdeu ele de vista?

- Eu não sei! Num segundo ele estava ali, dançando. Eu me virei por um minuto pra pegar Ponche e quando olhei, ele havia sumido!

- Erin! – Repreendeu Amanda – Você deveria ter ficado de olho nele!

- Eu sei, desculpa...

- Ok, ok. Ele deve ter ido pra casa, só não sei se com alguma vagabunda. Vou ter que ir até lá, te ligo depois – Amanda desligou. Deixou o celular encima da mesa da cozinha e correu pra porta.

- Onde você vai com tanta pressa? – Perguntou Brandon - Papai disse que não era seguro sair...

- Talvez – Amanda colocou o primeiro braço em sua jaqueta preta – Mas preciso resolver um assunto, não vou demorar, prometo... – Colocou o outro braço e depois se aproximou de Brandon. Deu-lhe um beijo na testa e se despediu.

Antes que Brandon pudesse dizer qualquer coisa, ela havia saído.

--

A mente de Samantha não parava de trabalhar. Ela não estava conseguindo descansar só de pensar em ter destratado a irmã. Sarah era a melhor irmã que ela podia ter, e ao contrário de seus pais, sabia como conviver com ela, já que conviveu a vida inteira. Com certeza não merecia aquilo.

Mas Samantha ainda se achava melhor. Era do grupinho favorito de Amanda e de acordo com sua líder, não deveria receber ordens, e sim dá-las, coisa que toda irmã mais velha tem que fazer.
Levantou-se da cama, amaldiçoando a si mesma pela culpa que estava sentindo. Sentou-se na cama, apoiando-se na mesma com os dois braços. O sono não passava. Muito menos o cansaço. Sua barriga estava embrulhando. Quando seu celular tocou, ela tossiu. A musica das Spice Girls parecia insuportável vindo daquele celular, devia ser sua dor de cabeça. Tirou do bolso e sentiu-o vibrando em sua mão. Não olhou para o visor, apenas atendeu.

- Alô?

- Olá Samantha. Qual o seu filme de terror favorito? – Disse a voz rouca no telefone, num tom misterioso.

Samantha deu uma gargalhada.

- Ai meu Deus... Isso é muito original, Sarah. Sério, eu já estava indo agora mesmo pra casa pedir desculpas, não precisa mais se vingar.

- Você quer ser a minha namorada sangrenta, Samantha?

- Sarah, isso já é de outro filme, você não pode mandar um trote e confundir as franquias. Isso foi burrice, onde você está?

- Abra a porta e você vai descobrir...

Samantha olhou pra porta branca do banheiro ao seu lado, estava entreaberta. Estranhou, já que ouviu Sarah sair e não se lembrava de tê-la ouvido entrar. Então pensou que era outra pessoa fazendo uma brincadeira. Afinal, quem iria matá-la ali mesmo? A casa estava cheia de gente e todos ouviriam seus gritos.

Levantou-se da cama, com um ar de risos e devagar tocou na maçaneta da porta, só para fazer um suspense para si mesma e entrar na brincadeira. Puxou a porta com tudo, e viu que dentro do banheiro não tinha ninguém. Deu meia volta e fitou a cama, achando graça.

- Sarah, você não sabe nem brincar.

- Porta errada! – O assassino saiu de dentro do armário ao lado da cama e com sua faca foi na direção de Samantha.

O grito de Samantha foi estrondoso, mas ninguém naquela casa podia ouvir, a musica estava alta demais. Ela correu pra dentro do banheiro e tentou fechar a porta, mas o assassino conseguiu empurrá-la. Samantha caiu no chão do banheiro, sentada, mas logo foi puxada pela perna direita e arrastada de volta até o quarto. Gritos e mais gritos saíram, e suas unhas estavam prestes a quebrar de tanto que ela arranhava o chão para não ser puxada.

Samantha acabou dando um chute em ghostface com a outra perna e conseguiu se livrar. Rapidamente se levantou e foi até a penteadeira a sua frente, jogou tudo o que via encima dele, que apenas se protegia com as mãos. Correu pra varanda do lado, mas quase que ao mesmo tempo em que o assassino. Quando fitou o chão, ficou com medo de pular, e foi a única coisa em que conseguiu pensar. Quando deu por si, já estava nas mãos do assassino que a jogou com força varanda abaixo.

Mal tinha desmaiado e Samantha abriu os olhos. Não sabe quanto tempo ficara ali, mas pareceu ser bem pouco, coisa de segundos. Suas costas e sua perna doíam. Sua cabeça e seu estômago latejavam e só conseguia lembrar de ter sido atacada e jogada ali embaixo.

Virou-se de bruços e olhou pra frente, viu o lado da casa vizinha. Olhou pro lado direito e viu a cerca que separava os dois, ela não podia voltar pra casa de onde veio, tinha que pedir ajuda ali mesmo. Devagar, levantou-se do chão e correu mancando, segurando na perna esquerda. Quando chegou à porta e bateu, logo gritou por ajuda, mas parou quando a viu entreaberta. Sua batida acabou fazendo a porta ir se abrindo devagar. Ela olhou pro Hall da casa, estava cheio de coisas quebradas, papeis espalhados, como se algum ladrão tivesse feito uma limpa.

Sem pensar, colocou os pés dentro da casa e andou na direção do pequeno rádio velho que estava encima da mesinha ao lado da escada. Quanto mais se aproximava, mais podia distinguir a musica que tocava. Era conhecida, aquela que ouviu num filme que não se lembrava. A letra dizia: “Tem alguém andando atrás de você, vire-se, olhe para mim”.

Samantha estava tão perto de tocar no rádio e tão ocupada ouvindo a musiquinha macabra, que notou tarde demais que o assassino estava parado atrás dela. Ela gritou, no momento em que ele esfaqueou suas costas. Com um gemido de dor, ela caiu de joelhos no chão, mas ele a imprensou na parede da escada, segurando-a pelo pescoço. Samantha levou outra facada, dessa vez no peito, e seu sangue escorreu pela boca, caindo assim nas mãos do assassino. Ela olhava pra ele, se perguntando por que ela tinha que morrer, mas o assassino apenas a fitava e a via morrer devagar.

Quando o coração e os pulmões de Samantha pararam, seus olhos se fecharam, mas o sangue ainda escorria de sua boca. Num puxão violento, o assassino tirou a faca de seu peito e a soltou. Seu corpo caiu no chão, de lado, e ficou lá formando uma poça de sangue em volta dele.
Ghostface olhou para a porta aberta, a luz de um carro passava, mas nem ligava que o vissem, já tinha feito o que queria.

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A rádio estava uma droga. Amanda apertava o botão para mudar sem parar, e ainda soltava um palavrão quando ouvia uma musica gospel tocando, aquilo era o cumulo para ela. E parecia que estava mais preocupada em colocar uma musica boa do que prestar atenção na direção.

As ruas ainda estavam claras, postes acesos, luzes de casas iluminando o caminho e pessoas transitando sem parar. Ela sabia que tinha que voltar pra casa antes das nove, por causa do toque de recolher, mas a sede de dar uma bronca em Daniel era maior.

Ela só parou de mudar de estação quando ouviu a musica “Highway to Hell” tocar.

- Uhu! Agora sim – Comemorou, enquanto curtia a musica com a cabeça e aumentava o volume.

Ainda sabia a letra, decidiu acompanhar, achando que de alguma forma sua voz estava parecida com a do cantor.

Mas foi só chegar à porta da casa de Daniel que a diversão parou. Desligou o motor do carro e com um rosto furioso saiu. Bateu a porta com força e andou até a casa, sem nem tomar cuidado em subir as escadinhas da varanda na entrada. Seus saltos faziam barulho no chão de madeira da varanda, mas ela nem ligava. Abriu a porta da casa tentando não fazer barulho e a fechou com o mesmo cuidado. Tirou os saltos na entrada e, na ponta dos pés, subiu as escadas. Parou no sétimo degrau e olhou pro andar de cima, queria tentar ouvir se Daniel fazia algum barulho, mas o silencio era a única coisa que estava presente ali. Subiu até o segundo andar, ainda tomando cuidado e andou para a esquerda até o corredor do quarto de Daniel, que estava completamente arrumado e vazio.

- Droga... – Reclamou, mas não se sentiu culpada por ter ficado paranóica. Escorou-se na porta e olhou pra coxa azul escura da cama de Daniel. Lembrou dos bons momentos dos dois ali e deu um sorriso, seguido de uma mordida de lábio óbvia.

Ela olhou pela janela o quintal de Daniel, e foi aí que teve uma idéia. Não era propriamente uma idéia, mas ela sentia desejo de tomar banho na piscina dos Clark. Rapidamente desceu as escadas e saiu pra piscina pela porta dos fundos, mal conseguia ver um palmo a sua frente de tão escuro que estava. Andou pela parede do lado, colocando a mão na frente pra encontrar o interruptor, e sem pressa o apertou quando sentiu em sua mão. Mas foi só olhar pra piscina que teve uma surpresa.

Samantha estava boiando nela, completamente morta, e a água já estava vermelha de tanto sangue que saiu de seu corpo. Amanda colocou a mão na boca, o choque do que havia visto ainda não a tinha deixado sair correndo dali. No topo da piscina, uma mensagem escrita com sangue: “A bêbada”.

Andando pra trás, Amanda não conseguiu tirar as mãos da boca e muito menos virar o seu olhar. Uma de suas melhores amigas estava morta, só estava tentando processar a idéia de que ela morreu... E de que as mortes não pararam.

Saiu correndo assim que pensou em chamar a policia. Pro seu azar, o assassino só a estava esperando atrás da porta. Ela correu gritante para a porta, mas a força que fazia na maçaneta acabou quebrando, o assassino já tinha planejado. Só restava Amanda subir as escadas rápido, já que o assassino já estava a sua espreita.

Já no andar de cima, Amanda correu pro primeiro quarto que viu e trancou-se. Olhou para a porta, não se passaram dois segundos e ouviu o assassino batendo nela. Deu um grito de desespero com o susto e afastou-se.

- Vai embora! – Gritou, já estava chorando.

Mas o assassino não foi, continuou batendo na porta e cravando sua faca nela, mas aquela porta era de um material diferente, e possivelmente, mais resistente. Amanda encolheu-se devagar no canto do quarto e tapou os ouvidos, não queria ouvir o assassino batendo na porta, aquilo era perturbador demais.

- Para! – Ela deu mais um grito, que saiu com sua voz de choro.

Mas o assassino continuou, e assim ela percebeu que só iria parar quando completasse o serviço que não havia conseguido. Ele só iria parar quando Amanda estivesse morta. Ela levantou-se do chão e olhou pela janela de vidro, havia uma pequena escada ao lado, que ela poderia usar para sair.

Com força, levantou a janela e colocou sua perna direita para fora primeiro, e logo depois saiu completamente. O telhado estava escorregadio, mas ela agüentava. Andou até a escada e começou a descer, com medo dela quebrar por causa dos estalos que dava.

Chegando ao fim, ela acabou caindo, mas não se machucou. Levantou-se e correu para a primeira direção em que viu e quando deu de encontro com Daniel, soltou um grito. Ele pediu calma, mas ela estava desesperada demais pra isso. Só notou que era ele quando se acalmou e olhou bem, suas lágrimas não embaçavam mais sua vista.

- Samantha morreu! Ele a matou! – Amanda gritava – Ele matou! Ela está na piscina!

- Calma, relaxa! Eu já chamei a policia...

- Você não entende! Você não entende! – Amanda parou de gritar e olhou bem para Daniel. Ele estava sujo de sangue nas mãos e nos sapatos, sem falar na mancha enorme em sua camisa – Por que... Por que tem sangue em você?

- O que? – Daniel olhou para si mesmo, e depois de volta para Amanda – O que? Não é meu! Eu encontrei Samantha e o recado na piscina!

Amanda começou a dar passos lentos para trás, enquanto digeria que Daniel era o assassino, mesmo ele falando que não era.

-Amanda! Ta pensando que sou eu?

- Fique longe de mim! – Ela gritou.

- Amanda!

Amanda preparou suas pernas para correr, mas ao invés disso, deu outro grito quando viu ghostface apunhalando Daniel pelas costas.

- Não! – Ela gritou, a culpa a consumia.

O sangue de Daniel escorria pela boca, a faca podia até quase ser vista em seu peito. Ele se contorcia de dor, enquanto suas mãos sangrentas apontavam para Amanda, que só fazia chorar vendo aquela cena.

Ghostface retirou a faca das costas de Daniel e o jogou no chão. Ele fitou Amanda, que agora sim já podia correr.

Ela deu a volta na casa e saiu na ponta da piscina, tentando ignorar Samantha morta logo ali. Subiu na grade que separa a casa de Daniel com a casa vizinha e pulou. Saiu correndo para a rua, gritando por socorro, e meteu-se na frente do primeiro carro que passou.

O motorista parou e ela deu a volta para entrar no banco do passageiro. Entrou e fechou a porta com força, pedindo pra ele levá-la até a policia.

- Garota, o que aconteceu? – O motorista perguntou, ele estava assustando.

- Alguém está tentando me matar – Disse ela, olhando para todos os lados pra checar se o assassino estava perto – Ele matou meu namorado e agora quer me matar! Me leva pra policia! – Gritou.

- Ta, tudo bem – Quando ia pisar no acelerador, o assassino quebrou a janela do carro e o agarrou pelo pescoço.

Amanda deu um grito e observou a cena, mas o motorista foi mais esperto. Pisou no acelerador assim mesmo e o carro arrancou com tudo. Ghostface foi obrigado a soltá-lo, mas caiu no asfalto com o impacto. O motorista olhou pra trás e o viu no chão, comemorou que ele não conseguiu pegá-lo. Amanda fazia o mesmo no banco ao lado, e viu perfeitamente quando o assassino levantou-se do chão e desapareceu no meio das árvores.

CAPÍTULO 7: Autógrafos
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3 Comentário(s)

3 comentários:

  1. eu ri do ''A bêbada''kkkk sua história tem humor negro como em todos os filmes Scream,muito legal,esperando anciosamente o capitulo 7

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  2. Como o Daniel ia se sujar com o sangue da morta se ela tá boiando na pisicina? Esse cara é o assassino. E a louca deu vontade de tomar banho do nada? KKKKKKKKK

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  3. esse capítulo foi oque teve mais furos ate agora, toma cuidado com isso, mais fora isso o enredo esta ótimo

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