Livro | The Double Me - 6x12: There's Something Wrong with Me and You Know What It Is [+18]
6x12: There's Something Wrong with Me
And You Know What It Is
“Dor exposta é para ser sentida".
Sou eu, Nate.
Sei que provavelmente você nunca lerá esta
carta, mas foi a única solução que encontrei para tirar tudo isso de mim. Restou
muito a dizer, Dominik; muito que eu gostaria que soubesse. E aqui estou eu. De
novo.
Imagine ser Nathaniel Strauss. Imagine ganhar
as medalhas de ouro no colégio. Ser o melhor aluno da turma. Superar o
bullying. Tirar sempre as notas mais altas. Namorar o garoto dos meus sonhos. Crescer
e se tornar um modelo exemplar da alta sociedade. Ser o herdeiro de seis
bilhões de dólares. Parece fácil, não é? Por um tempo, até foi. Agora imagine o
quão frustrado eu me sinto por ter tudo nas minhas mãos, exceto o que eu mais
queria. Você.
Acho que estou mal-acostumado. Quando
você me diz "não", não é um simples “não”. É como dizer que não sou
bom o bastante. Que ficou esse tempo todo pelo sexo. Que o terei apenas na
minha cabeça, a partir de agora. Sim, você está aqui. Acuse-me do mais absurdo
que surgir em sua mente, não importa mais. Você sempre estará aqui e este
sempre será meu ponto fraco.
Lembra do dia que passamos juntos no
Lavish Resort? Lembra de estar em meus braços, em nossa cama, e dizer que amava
até o meu lado vil? Nós éramos assim, Dominik. Sempre fomos. Mas tudo o que vejo
agora é um borrão. Um pequeno traço disforme do que costumávamos ser.
A verdade é uma só. O tempo passa, a
gente se desgasta. Seu coração não parte, eu finjo não ter um. Você me deixa,
eu não arranho sua superfície. Como chegamos a isto?
Suspirou.
Você costumava achar meu hábito
narcisista um verdadeiro charme nos dias que deixamos para trás. Pergunto-me
que outra disfunção de caráter, em qual outro garoto quebrado, você admira
agora.
—
Conte-me sobre seu pai, Nate — Pediu a Doutora Casey.
Ele
sentava em frente a ela, no outro sofá.
Faltavam
dez minutos para o fim da sessão.
—
Não nos vemos há algum tempo — Declarou ele.
—
Por escolha sua?
—
Não saberia dizer. Talvez nós dois estejamos bem com isto.
—
Por que pensa assim?
Mostrou-lhe
um sorriso descontente.
—
Temo não haver uma resposta que não seja perturbadora.
—
Vá em frente — Ela permitiu.
Ele
se acomodou à poltrona.
— Não é nada que não tenha ouvido antes —
Começou a dizer. — Se me perguntar se meu pai e eu temos problemas pessoais, a
resposta é sim. Se me perguntar se meu pai bebia e ficava agressivo comigo, minha
mãe e minha irmã, a resposta é sim. Se me perguntar se meu pai me bateu, para
tentar impedir que eu me tornasse homossexual, a resposta ainda é sim... — Deu
um ar de risos. — Tenho muitas dessas histórias.
“Nos meus sete anos, uma de nossas tradições
era chamar as outras crianças da vizinhança para uma festa na piscina da
mansão. Minha mãe sempre contratava um buffet e alugava brinquedos de
parque aquático. Vezes sim, vezes não, tínhamos show de mágica e apresentações
circenses. Estes eram os meus preferidos – e os de Gwen”.
“Numa dessas manhãs, Judit precisou fazer uma
viagem de última hora para resolver um problema na Strauss International e
pediu ao meu pai que cuidasse da gente. No começo eu adorei a ideia, pois não
nos víamos muito entre as viagens para o exterior, as reuniões e os eventos da
alta sociedade de Nova York. Eu era muito ingênuo nesta época”.
“Tudo começou após eu recusar a oferta de
Jensen, meu melhor amigo, que queria me ensinar a nadar. Meu pai não gostou
nada da ideia. Chamou-me de maricas, gorducho e fracote. Disse-me que eu deveria
perder algum peso se quisesse boiar...” – A lembrança o roubou um sorriso amargo.
“Não sei se por me ver chorar na frente de
todos, ou por seus insultos não terem me convencido, ele acabou se zangando. Lembro
de ouvi-lo dizer alguma coisa, um palavrão, algo do tipo. Então ele me ergueu
no colo e me jogou na parte mais funda da piscina. Eu quase me afoguei. Ele não
fez nada para me ajudar. Gritava: Seja homem, nade! Você é um Strauss! Honre
o seu sobrenome! Não criei um filho maricas!”.
“Se
não fosse Jensen ter pulado atrás de mim, algo pior teria acontecido”.
“É estranho pensar que todas as minhas
lembranças daquele dia sejam boas e isto não as afete. Quanto a meu pai abusivo,
já não há o que fazer. Ainda tenho em mente a última coisa que ele me disse
após eu ser tirado da piscina: Está vendo? Ser um gordo sedentário ainda vai
mata-lo”.
“Este é o homem que não quero ver na prisão. Eu
sou o filho que ele não quer ver de jeito nenhum”.
— Sua mãe sabe dessa história? — Perguntou a
Doutora Casey.
— Ela diz que não aconteceu da forma que eu
lembro.
— Alguém, além de mim, sabe dessa história?
— Ninguém — Ele afirmou. — Nem mesmo Jensen —
Levantou e foi ao hall de janelas. Chovia uma chuva fraca lá fora; a neblina
cobria a parte mais alta dos edifícios. — Está pronta para dizer o que quero
ouvir? — Perguntou-a.
A doutora cruzou os dedos.
— Fará diferença o que eu disser? —
Questionou-o. — Você já tomou uma decisão. Você quer Dominik, Gus, Alex e Mia.
Quer o dinheiro, a fama e o prestígio. Quer tudo do seu jeito, porque quer mais
que tudo e já lhe tiraram tanto. Diga-me, quem pode convence-lo de estar
prestes a cometer um erro?
— Ninguém — Ele respondeu.
— Se você ao menos tentasse...
— Eu tento — Virou a ela. — Este sou eu
tentando pra caralho, fazendo o possível para simplesmente não quebrar. Quando
levanto de manhã e me convenço a não pôr uma maldita bala na cabeça, eu estou
tentando. Quando há
heroína o suficiente para provocar uma overdose e eu escolho não injetar, também
estou tentando. Tudo em minha vida se resume a tentar e nunca chegar a lugar
algum. O que me restou agora? No que eu não estou pensando?
— No melhor para você. Por que é sempre tudo
ou nada, dor ou prazer, fogo com fogo? Não deveria ser mais simples?
Ele sorriu.
— Há algo errado comigo e você sabe o que é.
— Não importa — Ela objetou. — Você nunca será
seu pai, Nate. Lembre-se disto.
— Mas sempre serei um Strauss. Isso diz muito
sobre mim.
O relógio tocou.
— Vejo-o na próxima semana? — Propôs ela.
— Ou antes — Ele saiu andando.
Não custava uma última tentativa.
൴
Alex seguiu o barulho até uma clareira, onde
Henry treinava tiro prático. Um tronco caído de árvore servia de apoio a uma
fileira de latas vazias, garrafas de vidro e pequenas peças de aparelhos
eletrônicos na mira de Henry. Quanto a acertar, ele não se importava muito, mesmo
a uma distância relativamente curta. Alex achou ter algo errado desde o começo.
— Aqui a essa hora? — Perguntou-o, passando
por cima de um tronco coberto por vegetação.
— Vim praticar — Engatilhou e atirou.
Mais à frente erguia-se uma formação rochosa de
pequeno porte; Alex escorou-se nela e observou por um momento.
— Posso tentar? — Pediu.
— Você quer aprender?
— Não, meu irmão gêmeo me ensinou algumas
coisas.
— Irmão gêmeo? — Henry olhou-o por cima do
ombro.
— Na verdade, somos trigêmeos Eu, Nate e Mia —
Contou Alex.
Aquilo não pareceu surpreende-lo.
— Você disse que não tinha mais ninguém —
Lembrou Henry, logo a engatilhar.
— Ninguém que me queira de volta.
Ele atirou.
Em certo ponto, Alex viu-se entre a
insistência e a desistência. Quantas vezes vai me ignorar por problemas que
só existem na cabeça dele?
— Pode me dar as chaves? — Perguntou. —
Preciso ir à cidade.
— Sozinho?
— Eu prefiro assim.
Henry entregou-o.
— Lembre-se de trazer algo para comer.
— Algo picante? — Provocou Alex.
Dessa vez, Henry não respondeu.
Alex abriu as portas, sentou ao volante, deu a
partida. Na estrada, tirou do bolso um celular descartável e ligou para Nate.
Caixa postal.
— Sou eu, Alex — Dizia na mensagem. — Não
posso mais fazer isto, ligue-me para acertamos as coisas... — Hesitou. — Eu
sinto sua falta. Sinto falta de todos vocês. Saibam disso.
Em seguida ele ligou para Mia. Caixa postal.
— Sou eu, Alex. Preciso da sua ajuda. Ligue-me...
eu... eu espero que tenha encontrado nosso pai — Desligou.
Nenhum deles receberia estas mensagens.
൴
Ela teve um sonho antes de acordar. Seus
irmãos se uniram de mãos dadas à beira de um abismo e estavam prestes a cair.
— Não vou ficar aqui, sozinha — Mia lhes
disse. — Levem-me.
Eles lhe deram as mãos.
— Está tudo bem, Mia — Dizia Thayer, ao seu
lado, na cama de hospital.
Sua voz a guiava para a sua esquerda.
— Thayer? É você?
— Estou aqui — Ele tocou-a em uma mão.
Se pudesse, agora, ela veria seus olhos azuis cheios
de lágrimas, os fios negros emaranhados, a barba malfeita, as roupas sujas e
amassadas, as olheiras de duas noites mal dormidas. Thayer fizera o impossível
para estar ali, ao seu lado. Ela acreditava no impossível.
— Se sente bem?
— Dói... um pouco... — Ela arrastava as
palavras. — Estou em um hospital?
— Sim, trouxeram-na a tempo. Você ficou alguns
dias desacordada após a operação.
— Meus olhos... — Tentou toca-los.
— Não! — Ele a segurou. — Por favor, não faça
nada. É muito delicado.
E incômodo.
Mia imaginou uma faixa branca ao redor da
cabeça.
— Isto é... permanente? — Indagou-o.
— Eles não podem afirmar — Disse Thayer. — Um
especialista do Colorado chegará esta noite para fazer uma avaliação.
— Oh... Okay — Ela assentiu.
Gostaria que Thayer não medisse suas palavras
agora, quando mais precisava ouvir a verdade, mas reconhecia todas as suas boas
intenções. Se voltar a enxergar não fosse uma possibilidade, seguir em frente
continuaria sendo. Ainda estava ali.
— Mia... — Chamou Thayer. — Sei que precisa de
tempo para processar o que aconteceu, além de não ser o momento mais apropriado
para tocar no assunto, mas é importante que me fale agora sobre Noah Borchardt,
Lola Cunningham, as negociações e o lugar onde foram mantidas. Qualquer detalhe
pode ajudar.
— Lola não estava comigo — Disse ela. — Tinha
outa garota... Hannah. Ela escapou... na estação de trens.
— Uma estação?
— É perto... do cativeiro. Corremos... para o
norte... depois de fugir.
— Vocês conseguiram fugir?
Ela assentiu.
— Quem fez isso nos seus olhos? Noah?
Assentiu outra vez.
— Ele tem... os olhos... de Alex — Sussurrou.
Aquelas palavras
— Hola? — Chamara alguém.
Na porta esperava um homem baixo, forte,
rotundo, de cabelos negros, barba e bigode. A sua guarda estava um menino de
jeans, boné, luva e camiseta de baseball. Seus traços físicos indicavam
algum grau de parentesco – talvez pai e filho. Eram os mesmos olhos, as mesmas
bochechas, os mesmos narizes e os mesmos lábios.
— Disculpa las moléstias — Dizia o
homem, em espanhol. — No informaron que había alguien aquí.
— Inglês, por favor — Pediu Thayer.
— Ah, sim, perdão — O homem avançou um passo. —
Viemos ver a garota.
— E quem são vocês?
— Nós a encontramos — Respondeu o menininho.
Pai e filho pararam em frente a cama.
— Olá — Disse Mia. — Sinto muito por não
cumprimenta-los formalmente.
— Não há nada — Sorriu o pai. — Se sente
melhor? Você nos deu um grande susto.
— É, eu... eu vou ficar bem. Contanto... contanto
fique longe dos coiotes.
— São criaturas infernais, tenho dito.
— Isto é para você — O menininho a entregou
uma caixa de chocolates. Mia podia sentir o cheiro. — Papai disse que presentes
trazem alegria e ajudam na recuperação tanto quanto os remédios.
Pela forma como tentou não sorrir, o coração
de Thayer pode ter derretido.
— Vou deixa-los à vontade — Levantou.
O pai tomou lugar à poltrona, à esquerda. O
menininho sentou na cama, ao lado de Mia. Thayer pensou tê-la deixado em boas
mãos.
൴
Após a vitória na final de baseball, os
torcedores organizaram uma Block Party da sede da Sigma Phi Epsilon
à sede da Zeta Psi. A multidão concentrou-se nas casas mais próximas e
ao redor do palco improvisado, onde tocava a banda feminina Bad Candy. Tinha
quem subisse as coberturas, quebrasse as vidraças, corresse pelado. E ainda nem
eram quatro da tarde.
— Essa festa nunca vai acabaaaaaaar — Gritava
Emmett. Bêbado. Com uma cueca plus size na cabeça.
— Infelizmente — Observou Jensen.
Era muito difícil reconhecer alguém na
multidão. Jensen não atentou a nenhum deles em especial, exceto os que chamavam
atenção. Este era o caso de Leah e Austin. Houve uma briga, mais ou menos. Envolvia
gritos, insultos, palavrões e bofetadas. Ela até investiu na cena clássica do
copo de cerveja na cara do namorado e depois ir embora. Simplesmente
memorável.
A mansão da Sigma Phi Epsilon projetava
uma sombra sobre ambos os jardins e uma parte da trilha pavimentada. Jensen
passou por vários renques de barris até alcançar as portas. Lá dentro não tinha
quase ninguém. Via um casal de lésbicas no parapeito das escadas, aos beijos.
Duas garotas cheias de espuma corriam de um garoto de shorts e camiseta pelas passagens
que levavam a antessala. Um porco vestido de bailarina cruzava o salão.
— Hey, McPhee! — Cumpimentou Jesse Campbell, da
Alpha Gamma.
— Viu Trent? — Jensen perguntou.
— Na biblioteca. Ele disse que vem mais tarde.
— Ah, sim. Obrigado — Acenou.
Seria bom ter Trent por perto caso as coisas
ficassem intensas.
Jensen deixou seu
copo sobre a bancada, dobrou o primeiro corredor, abriu a primeira porta. Não
era um banheiro. Avançou alguns passos, abriu a outra porta, olhou ao redor.
Também não era um banheiro. Na terceira vez, encontrou a sala de jogos. Nick
Denholm jogava sozinho em uma mesa de sinuca. Tinha anéis nos dedos, pulseiras
nos pulsos. Vestia-se todo de preto.
— Sinto muito... — Disse Jensen.
— Não, espere — Pediu Nick. — Vamos uma
partida?
Jensen pensou.
— Eu estava indo ao banheiro...
— É muito urgente?
Sorriu sem graça.
— Não, tudo bem.
No tempo de Nick organizar as bolas em um
triângulo, Jensen caminhou para perto e escolheu um taco.
— Você começa — Ofertou Nick.
— Por que eu?
— Os calouros primeiro — Sorriu-lhe.
Jensen tomou posição, tacou uma vez. As bolas dispersaram-se
pelos quatro cantos da mesa.
— Ontem à noite meus pais se reuniram com
nossos advogados — Nick começara a dizer, enquanto jogava. — Estão bem
confiantes.
— Sobre o processo? — Jensen deu a volta.
— Não apenas um. Se você pudesse depor...
— É claro — Logo respondeu. — É o mínimo que
posso fazer.
— Obrigado.
Jensen tomou posição, tacou outra vez. A bola
de número sete entrou na caçapa do meio esquerdo.
— Posso perguntar uma coisa? — Nick preparava-se.
— Vá em frente.
— Você acha que uma boa indenização é o
suficiente?
— O que quer dizer?
Nick se posicionou, tacou uma vez. A bola de
número quatro entrou em uma caçapa das extremidades.
— Acha que o dinheiro paga pelo que fizeram a
meu irmão? — Nick reformulou.
— É claro que não. Eu acredito na justiça, eles
não podem sair impunes.
Nick jogou sobre uma mesa um maço de folhas,
tirado do bolso traseiro.
— Meu irmão não é o único — Relatou. — Desde o
começo da nova gestão, em 1982, a universidade vem acobertado vários casos de
abuso e tortura cometidos por filhos e familiares de pessoas de grande
influência política e social. Está tudo nos arquivos.
Jensen mirou a ele, às folhas, depois a ele de
volta.
— Tudo bem, diga o que quer de mim.
— Nunca teve vontade de revidar? Dar a eles um
pouco do que merecem?
— Está sugerindo alguma coisa?
— Eu não sei... — Nick deu de ombros. — Pelo
que vi no refeitório, no outro dia, achei que também estivesse de saco cheio.
— De todos vocês, na verdade — Largou o taco.
Aquela era a sua deixa.
— Então é assim? — Gritou Nick. — Não é mais
problema seu?
— Nunca foi problema meu — Jensen encarou-o de volta. — Fiz tudo a meu
alcance por seu irmão, mas é loucura deixa que esse acidente seja a coisa mais
importante da minha vida. Quase fui expulso, não tenho mais fraternidade. Podia
ter sido preso por isto. Agora chega.
— E se fosse seu irmão?
Jensen hesitou.
— Se fosse meu irmão, ele não gostaria que eu
me tornasse como quem o machucou — Deu-lhe às costas.
Estava nos olhos de Nick que fora atingido em
seu ego.
— Você é um covarde — Cuspiu ele.
— Posso viver com isto — Findou Jensen.
Lá fora as nuvens dispersavam-se em meio ao
céu azul e ensolarado. Os estudantes moveram os barris de cerveja e
concentraram-se nos vãos entre as casas, devido a posição contrária do sol, sem
deixar sombras. Além disso, a banda não tocava mais. As meninas agora tentavam
a sorte nos Greek Games, contra os jogadores de Baseball e o time
de basquete.
O único lugar de refúgio, na mente de Jensen, era
a sala do Senhor Altman. Não ficava muito longe dali.
— Senhor Altman? — Bateu à porta. Estava entreaberta.
Ele entrou, olhou ao redor. Neil deve ter
saído apressado há pouco tempo. A cadeira giratória estava fora de posição. A
xícara de café, sobre a mesa, ao lado do computador, ainda fumegava.
Okay, eu espero.
Jensen caminhou até as janelas. Via os veículos,
os estudantes, a vegetação, as nuvens no céu, as escadas, os edifícios mais próximos.
Ao recuar um passo, sem querer, esbarrou na
cadeira giratória, que esbarrou na mesa atrás dele, que esbarrou no mouse usb,
que reconheceu o movimento e acionou a tela do computador. Jensen não pensava
em bisbilhotar, só decidiu ir em frente por ter lido seu nome no texto. O livro
escrito pelo Senhor Altman chamava-se Pequena Realeza e contava a
história do herdeiro McPhee e suas contravenções na universidade.
— Eu posso explicar — Adentrou o Senhor
Altman.
Jensen encarou-o por cima do monitor.
— Por isso me quer aqui? Para ter material
para o seu livro?
— Não veja dessa forma. Se me deixar explicar...
— Você me usou, seu sanguessuga patético — Jensen
passou por ele.
— Não, escute...
— Fique com seu best seller — Disse por
último
...se chegasse até lá.
൴
Alex juntou-se a ele ao redor da fogueira. O veículo
fora estacionado a alguns metros da cabana. As compras ficaram na traseira,
ainda ensacadas.
— Diga-me o que há de errado — Insistiu Alex.
Henry levou algum tempo até responder.
— Não há nada de errado — Afirmou-o.
— Eu não sou estúpido.
— Não disse isso.
— Então fale comigo. Eu quero ajudar.
— Não — Ele levantou. — Você está vendo coisas
— E foi em direção à cabana.
Passado um minuto, Alex o seguiu. A espingarda
estava escorada ao balcão da cozinha. Henry batia a neve das botas.
— Você me dirá, agora, ou irei esta noite — Advertiu
Alex.
— Eu não lido bem com ultimatos.
— E eu não gosto de ser ignorado — Suspirou. —
Henry, olha... — Seu tom mudara. — Se isto é por ter dito sobre nós àquela
mulher, no supermercado...
— Quem você acha que eu sou? — Gritou Henry. —
O cara que te fode à noite e no outro dia finge que nada aconteceu? Por que
sempre pensa o pior de mim?
— Porque você sempre me deixa para tirar
minhas próprias conclusões. Diga alguma coisa, Henry. Mesmo se for me machucar.
Ele balançou a cabeça.
— Preciso ficar sozinho agora.
— Não! — Alex o empurrou. — Reaja.
— Alex...
— Reaja! — Empurrou-o outra vez.
A cada golpe eles se afastavam da porta e iam
para perto dos sofás.
— Reaja, porra! — Alex voltou a empurra-lo.
Dessa vez Henry esbarrou no criado mudo,
cambaleou para trás e derrubou sem querer o porta-retratos de sua família.
— Olha o que você fez! — Gritou a Alex.
— Sinto muito, eu o ajudo...
— Não! — Empurrou-o para trás.
De juntar os cacos e leva-los a lixeira, na
cozinha, a debruçar-se na pia, de cabeça baixa, Alex o acompanhou. Nada explicava
sua reação.
— Henry... — Chamou-o pelo nome. — Por favor,
fale comigo.
— É hoje, nove de maio — Ele soluçava. — Faz
cinco anos desde que morreram.
— Seu pai e...
— Meu irmão — Completou.
Alex sentiu o ar lhe faltar.
— Eu sinto muito. Sou um idiota.
— Tudo bem — Henry enxugou as lágrimas. — Você
não sabia. A culpa é minha por sempre guardar tudo para mim.
— Eu sei o quanto é difícil... mas não precisa
ser desse jeito. Não acha?
Henry o encarou cheio de dor, raiva, afeto,
desejo.
— Obrigado — Sussurrou-o. — Por estar aqui.
— Você salvou a minha vida. Agora é minha vez.
— E isso é tudo?
— Não... — Deixou no ar. — Tome seu tempo — Ele
então saiu.
O silêncio tomara conta.
൴
Nate chegou aos portões da mansão Belmont em
seu novo Bugatti
Veyron Black. Duas empregadas
o atenderam.
— Boa tarde, Senhor Strauss — Disse a de fios
negros e olhos castanhos.
— Boa tarde — Ele respondeu da janela. —
Dominik está?
— Não senhor, acabou de sair. O motorista o
levou de limusine à estação de metrô.
— Qual delas?
— Não saberia informar, mas é melhor ir depressa.
Seu trem parte para Nova Jersey em menos de trinta minutos.
Nova Jersey? Puta que pariu.
Nate arrancou com o carro, deixando apenas fumaça
para trás. Teve sorte em encontra-lo na estação mais próxima, a caminho de East
Hampton. Dominik levava uma única mala nos ombros e estava acompanhado da governanta
da mansão e dois dos seguranças de seus pais. Parecia triste, e abatido. Seus
olhos azuis não tinham o mesmo brilho de antes.
— Dominik! — Nate o chamou.
Todos olharam ao redor.
— Está tudo bem — Disse Dominik, aos
seguranças.
Eles dois se encontraram na metade do caminho.
— Por que está aqui? — Perguntou Dominik.
— Por que está indo para Nova Jersey? — Nate
retrucou.
— Por ser a vergonha da família. Você venceu,
Nate.
— Isto não é um jogo para mim. Escute-me, — Chegou
mais perto. — Não vá agora. Não nos deixe terminar desse jeito.
— Nós já terminamos. Você acha que eu divulgaria
aquele vídeo se quisesse reatar?
— Eu não me importo mais com isso. Vamos
esquecer o que aconteceu, tentar outra vez. Ainda sinto algo especial por você.
— Mesmo depois de tudo?
— Eu fiz coisas bem piores — Riu ele mesmo.
Dominik olhou para trás um instante, meio
distraído. Nate usou o indicador para tocar seu queixo e vira-lo de volta.
— Que tal fazermos juntos aquele ensaio? —
Sugeriu. — Se a NYM quer um pouco de DomiNate, não podemos negar.
— Agora que estou indo embora você me propõe?
— Você não precisa ir, temos o meu
apartamento. Ou, se quiser, pode ficar no hotel. Eu sou o dono. Seus pais não
iriam...
— Nate, pare — Dominik firmou seu tom. — Não faço
isso por eles, faço por mim. Nós dois tentamos, tivemos nossa chance, mas não é isto que eu quero. Eu segui em frente... — Seu tom esmaeceu.
O sorriso nos lábios de Nate tinha um tanto de
amargor e insolência.
— Você faz parecer tão fácil — Ironizou.
— Não deveria ser? Ninguém precisa sair
machucado.
— Meio tarde pra isso, não acha? — Ele fungou.
— Mas é difícil acreditar. Vi um milhão de vezes em seus olhos que sentia o
mesmo. Ainda vejo.
Dominik desviou dos seus.
— Por que faz isso, Dominik? Por que nunca é o
bastante?
— Sinto muito, meu trem já vai sair... — O
garoto deu às costas.
— Precisa haver um motivo. Diga-me.
— Deixe-me ir, Nate. É melhor assim.
— Diga-me o porquê — Nate deu um passo à
frente; Dominik parou.
Estavam a dois metros de distância um do
outro.
— Diga-me, Dominik! — Nate virou-o pelo braço.
— Porque estar com você é o mesmo que estar
sozinho! — Gritou Dominik, olhando em seus olhos.
Nate lembrava bem daquelas palavras. Uma vez
confessou-as, na cama, com ele em seus braços.
“Não sou muito bom em ter companhia. Nunca
entendi o que havia de tão especial a meu respeito, sei apenas que não levam
muito tempo para descobrir que nada disso existe. Quando a diversão termina,
estar comigo é o mesmo que estar sozinho”.
“Quem tentou convencê-lo disso está errado”, disse Dominik, na ocasião.
Agora ele pensava diferente.
— Oh... Okay — Disse Nate. — Eu
entendo. Eu vou... vou deixa-lo em paz agora.
— Você não devia ter vindo atrás de mim... — Atermou
Dominik.
E se foram com ele as palavras, e a estranha frieza
em seus olhos azuis.
Por um momento, Nate esperou que algo mais
acontecesse. Que voltaria atrás, pediria desculpas, ou simplesmente olharia
pelas janelas do vagão, para um último adeus. Mas ele sabia quais eram as suas
chances. O chão ruiria aos seus pés, ele veria cada pedaço fora do lugar,
levando-o embora, mas seu corpo não poderia reagir. Era a mesma sensação,
ele lembrava. A mesma de tantas noites.
Ele não saberia dizer por quanto tempo ficou
ali, parado. Ou como encontrou seu caminho de volta. Um tempo depois, ao notar,
já estava a caminho do New York County Family Court, para a última
audiência pela guarda de Gus. A não tão grande surpresa do dia ficou por conta do
advogado substituto que Diana enviou, pois se retiraria do caso. Não era
coincidência que estivesse trocando informações com o casal Alonso minutos
antes de adentrarem a corte.
Gus sentava ao lado da assistente social, na
plateia, usando terninho azul escuro e gravata vermelha. À bancada esquerda,
Nate e o Senhor Brown, o advogado substituto, falavam sobre Diana. O casal
Alonso, o advogado e sua nova testemunha, Diana Baldwin, discutiam estratégias
na bancada direita. As coisas andavam lentamente enquanto não chegava a juíza
Housenn. Mas uma vez tomado lugar, viera a sentença. Gus não voltaria para casa
ao lado de Nate.
— Fim da sessão — Ela bateu o martelo.
Nate fechou os olhos lentamente e baixou a
cabeça.
Nos corredores eles encontraram uma comitiva
da congregação cristã da Faith Ministry. As jovens mães e seus filhos erguiam
faixas e cartazes e usavam camisetas estampadas em apoio ao casal Alonso. Nate
observou-os a distância.
— Eu não quero ir! — Gritava Gus, preso aos
pulsos por Sarah.
— Não seja malcriado!
— Vocês
não são meus pais, eu já tenho pai! — Ele correu até Nate e o abraçou.
Foi mesmo um choque, para todos.
— Hey, little one — Nate ajoelhou. — Você
precisa ir agora... — Enxugou-lhe as lágrimas. — Mas prometo que nos veremos
outra vez. Basta ser um bom garoto.
— Não! Você é meu pai, diga a eles!
— Eu sou seu pai — Deixou claro. — Mas não sou
eu quem decide. Essas pessoas só querem o melhor para você.
O menino recuou.
— Por que não cumpre sua promessa? Você disse
que seria meu pai, que não me levariam embora!
— Gus, eu não...
— Você é um mentiroso! — Empurrou-o; Nate caiu
para trás. — Eu não tenho mais pai, não quero vê-lo nunca mais! Eu te odeio! — Ele
correu.
Nate não pensava em mais nada, não via mais
nada. Era forte demais.
— Senhor Strauss? — Chamou o advogado.
Ele não reagiu. Todos os seus movimentos, do
erguer-se a deixar a corte, de ir até seu carro e dirigir, decorriam do
impensado. Não estava mais no controle.
Nate bateu à porta da Doutora Casey. Ela não
veio atende-lo. Dirigiu ao apartamento de Andy, no Upper East Side. Ninguém
estava. Ligou para Alex, Mia, Judit, Kerr, Amber, Viola. Nenhuma resposta. Seus
seguidores o abandonaram nas redes sociais. Os seguranças não o deixavam entrar
nos bares, pois não tinha um documento de identificação. As igrejas estavam de
portas fechadas. Para ele.
Era uma sensação fria e paralisante. Ele mal
se sentiu capaz de sair do carro, entrar nos elevadores do Strauss Capital
Hotel e apertar os botões. O terraço, ele pensou. Seu lugar preferido no
mundo. Onde havia tantas lembranças boas.
Nate caminhou em passos curtos, cada vez mais
perto da beirada. As escadas do pódio ofereciam uma ampla visão de queda livre.
“Sente vontade de pular?”, lembrava de ter dito.
“Não”,
respondeu Dominik, em suas lembranças.
— Sim... — Respondeu Nate, a si mesmo.
Abriu os braços. Fechou os olhos. Chorou
baixinho. O vento batia contra seu casaco e formava uma asa na parte de trás.
Pensava em voar, para longe.
As vozes não o deixavam em paz.
— Como posso olhar para você? — Disse sua mãe.
— Este é o último lugar onde quero estar —
Disse Mia.
— Eu não o estou deixando, eu o estou
libertando — Disse Alex, antes de partir.
— Você não é nada! — Wren Harold o golpeou.
— Faça sua jogada — Incentivava Gwen.
— Abra a boca, vagabunda! — Gritou Theon.
— Estar com você é o mesmo que estar sozinho —
Dominik virou-lhes às costas.
— Não quero vê-lo nunca mais, eu te odeio! — Ouviu
a voz de Gus.
Nate gritou o mais alto de todos.
Tinha recuado alguns passos, caído de joelhos.
Chorando. Gritando. Por não ser forte o bastante.
À esquerda ele se viu no outdoor. Alexander
Strauss for Giorgio Armani. ELEMENTARY. Aquela pessoa havia se tornado
irreconhecível.
— Nãaaaaaaaaaaaaao! — Atirou seu celular. —
Você não é real! Você não é real! — Ele gritou. Isso custou-lhe as últimas
forças.
Logo ele deitou ao chão, de braços abertos. Nuvens
de chuva formavam-se à sudoeste. O céu era de um tom suave de roxo-azulado,
antes do pôr-do-sol. Ele gostava disso; da chuva, o tempo fechado, o frio. Lembrava
a ele as noites de inverno, em casa. O cheiro de chocolate quente. O calor da
lareira. Os filmes de terror que ele, Alex e Mia costumavam assistir. As gotas
de chuva que batiam contra a janela. Os cachorros latindo nos jardins.
Memórias tão distantes... suspirou.
Seus olhos fecharam. Sua expressão enrijeceu. Sua
mente clareou. Ele viu tudo, ouviu tudo, lembrou de tudo uma última vez. E então
abriu os olhos. Outra pessoa, que não era o mesmo Nate, levantou do chão e
caminhou até os elevadores. Havia frieza em seu olhar.
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Estava imóvel, no chuveiro, de cabeça baixa.
Um braço seu apoiado à parede. Seus olhos fechados.
Alex entrou junto.
— O que estamos fazendo? — Perguntou Henry.
— Nos curando — Ele o virou.
O beijo teve um sabor mais leve.
— Sou eu! — Avisou Trent. — Recebi sua
mensagem... — Deu tempo de dizer.
Jensen abriu a porta, o pegou pela cintura e o
beijou.
— Espere, espere... — Trent o afastava. — Por
quê agora?
— Porque estou cansado de esperar. Você não? —
Puxou a fivela do cinto.
Com um sorriso nos lábios, Trent deixou-se
levar. Jensen arrancou uma por uma de suas peças de roupa.
— [...] Não. Eu não romantizo os negócios... —
Dizia Cameron ao celular.
O gêmeo de olhos azuis esperava-o no banco de
trás da limusine.
— Boa noite, Senhor Ridell.
— Eu ligo mais tarde... — Ele encerrou a
chamada. — Bom, isso foi rápido. Mal
pude esquentar meu assento em Nova York até você me encontrar.
— Você deve estar me confundindo com meu irmão
gêmeo — Disse Nate.
Cameron observou-o mais de perto.
— Nathaniel — Sorriu ao dizer. — Belas lentes
de contato.
— Eu sei. Hoje é seu dia de sorte.
— Se está aqui, duvido muito.
— Não seja indelicado, prometo vir em paz — Tirou
do balde a champanhe.
Os olhos de Cameron seguiram o tintinar das
pedras de gelo.
— É uma ocasião especial?
— Ainda não — Nate serviu-se. — Preciso de
seus contatos.
— Pode ser mais específico?
— Riot Squad — Bebeu um gole.
Nenhuma outra pessoa se atrevia a falar este
nome em voz alta. Para todos os efeitos, o Riot Squad não existia. A
não ser...
— Estamos em guerra?
— Eu chamo de levantar o inferno — Nate pegou
o telefone na bancada e estendeu-o. — Quer brincar? Escolha um lado — Deixou-o
cair.
Um beijo irrompeu abrasante entre eles, de puro
fogo.
— Até que enfim... — Vangloriou Cameron. — Saia
daqui! — Gritou ao motorista.
— Mas senhor...?
— Saia! — Jogou o telefone no banco. O velho senhor
não teve outra escolha.
Nate arrancou-o as roupas, Cameron arrancou-o
as suas. Nate enfiou-o duro em sua garganta. Cameron posicionou-o em seu colo e
o pôs para cavalgar. Suas mãos deixavam marcas vermelhas no pescoço de Nate.
Nate usava as duas mãos para puxar os cabelos de sua nuca.
Terminaram juntos.
— E agora? — Sentou Cameron ao seu lado, no
chão.
De cabeça erguida, esticado os braços, Nate
pensou nos nomes de cada filho da puta em sua nova lista. A advogada. A
juíza. O pedófilo. O casal Alonso. Dominik.
Que comecem os jogos.
Next...
6x13: Who's the Dirty Twin? (02 de Julho)
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