Livro | A Punhalada 4 - Capítulo 5: Autópsia
Quinta-Feira: 1:42 do dia 28 de
outubro.
Quatro horas após o ataque no
hospital, Aaron fora designado a levar Matty da delegacia para casa, na 47 Haight Lane Street. Havia muito
silêncio, o tempo inteiro; mas não em seus pensamentos. E não depois da última
conversa que tiveram.
Não fora algo que Aaron decidiu fazer
no último minuto, a ponto de deixar com que a verdade parecesse um pouco mais
assustadora do que realmente é. Aaron imaginou-se naquela posição todos os dias
desde que Amanda forjou a própria morte e confiou o destino do seu filho a sua
família. Há sete anos, era levado a crer que precisaria interromper a vida de
uma criança de oito anos para dizer-lhe que foi concebida em meio a assassinatos
em série. Ontem à noite, imaginou-se dizendo o mesmo, só que, então, a um jovem
de quinze anos cujas únicas preocupações deveriam ser a escola e os amigos.
Chegou a ensaiar frases prontas, esperando que este dia chegasse. E agora sabe
que até as palavras certas, na hora certa, não mudariam a nuança de qualquer
verdade.
Matty não esboçou qualquer reação
enquanto falava. Não viu escorrer uma
lágrima de seus olhos, ou notou seu coração palpitar aceleradamente. Tampouco
houve negação, de um jovem que se recusaria a acreditar que sua vida inteira
foi uma mentira. Era quase como se já soubesse que havia algo errado, desde o
começo, e um desconhecido tivesse acabado de confirmar suas suspeitas. Não à
toa que estivesse perdido nos próprios pensamentos desde que saíram da
delegacia.
— Chegamos — Aaron disse. Por algum motivo,
teve a impressão de que era só até ali que Matty poderia fingir estar tudo bem.
— Eu sei.... — Matty abriu a porta do carro,
colocando um dos pés para fora. — Obrigado pela carona.
— Aqui, seu celular — Estendeu-lhe.
— Ah, obrigado.
Do momento em que olhou para o visor ao
momento em que havia decidido não mais olhar, Aaron analisou sua expressão.
Pôde notar, mesmo à distância, que as notificações de Matty estavam prestes a devorar
seu celular por inteiro em vibrações constantes e importunas. É claro. Tinha esquecido da fama
involuntária que sempre vinha após os ataques do assassino mascarado. Megan
costumava gostar de toda aquela atenção, se bem estava lembrado.
Não era o caso de Matty.
— Desculpe — Ele disse, apressado e inquieto. —
Obrigado de novo pela carona.
— Matthew — Aaron chamou. Matty estava prestes
a pisar na calçada quando o ouviu. — Tudo o que eu disse hoje à noite deve
ficar apenas entre nós. Agora você conhece a nossa história, e sabe que não
pode confiar em ninguém.
— Isso inclui você?
— Isso inclui a mim, se assim preferir. E se
quiser conversar...
— Não... — Matty o interrompeu. — Eu não
sei... não sei se tenho algo a dizer que não seja morbidamente dramático e não
me coloque na posição de vítima que eu não quero estar. Preciso ouvi-los dizer.
Agora. Amanhã, eu não... eu não sei.
Aaron só fez assentir.
— Justo. Espero que tudo dê tudo certo.
— Valeu, Aaron.
Matty o observou partir da calçada, segurando
a alça de sua mochila. Quando a luz dos faróis se extinguiu de vista, caminhou
em linha reta até a porta de casa e entrou. Sua mãe pulou do sofá como se
tivesse levado um susto.
— Matthew! — Envolveu-o em um abraço e
apertado; e, aparentemente, não requisitado também. — Você está bem? Não nos
deixaram ir à delegacia, disseram que estavam investigando assassinatos em
série. Fizeram algo com você?
— Estou bem — Ele malmente respondera.
— Você está machucado! — Notou o curativo em
seu ombro. — Ai meu Deus, Ian — Falava com o pai de Matty. — Ele foi atacado!
— Estou bem, mãe.
Matty passou por eles dois, direto à sala de
estar. Jogou a mochila em frente a lareira e olhou para o quadro na parede. A
família Hilliard parecia tão feliz que ninguém questionaria seus sorrisos
premeditados.
— Lembram quando tiramos essa foto? Eu estava
zangado porque não haviam me deixado terminar de assistir aquele filme de
terror na noite passada. Mesmo assim, dormi como um anjo, acordei no outro dia
e posei para a foto, achando que vocês me deixariam continuar assistindo caso
eu fosse um bom menino. Você estava bêbada no dia seguinte, mãe — Ele virou. —
Lembra o que você disse? “É tudo culpa da
porra do seu pai, pare de assistir esses malditos filmes”. Nunca entendi
muito bem o que você quis dizer, já que Ian, meu pai, sempre teve medo de
filmes de terror. Agora eu finalmente entendi de que pai você estava falando.
— Querido, você está mesmo bem? Não está dizendo
coisa com coisa — Claramente, Genevive tentava mudar de assunto.
— Você vai fingir que não sabe do que eu estou
falando? Tudo bem, Aaron me disse que vocês negariam.
— Aaron? Quem é Aaron?
— Querida, ele sabe — Ian sussurrou. De
súbito, recebeu um olhar de reprovação da esposa.
Matty retribuiu sua honestidade com uma salva
de palmas.
— Parabéns. Ian, você ainda sabe como dizer a
verdade. Não podemos dizer o mesmo da sua esposa.
Ele sabe, ela lamentou. E continua falando como se os pais que o adotaram com tanto amor fossem
os grandes vilões.
— Não fale assim conosco! Eu sou sua mãe, ele
é seu pai, não importa de onde você tenha saído. Nós o amamos, nós o educamos,
nós o alimentamos. Quer culpar alguém? Culpe a vagabunda da Amanda Rush que nem
conseguiu ser mãe o bastante para te manter por perto!
— Que tipo de mãe gloriosa você pensa que é?
Não faz nem dois dias que usou todos os meus fundos de faculdade para financiar
um salão de beleza.
— Eu fiz isso porque sabia o quanto você era
bom no lacrosse e iria ganhar uma bolsa para a faculdade.
Matty soltou a mais infeliz das risadas,
repleta de lágrimas.
— É claro que você estava pensando em mim —
Ironizou. — Como no dia em que saiu de casa sem dar explicações e tivemos que
descobrir através dos vizinhos que estava em um hotel de estradas fazendo
apostas para recuperar o dinheiro que perdeu. O dinheiro da minha festa de
aniversário. Se não fosse meu pai, eu teria morrido de fome.
— Sim, seu pai é um grande homem, e eu nunca o
mereci de verdade. Mas ainda sou sua mãe, e eu te amo mais que qualquer outra
coisa no mundo.
— Menos quando está bêbada e começa a lembrar
que sou filho de um serial killer e minha mãe foi estuprada.
— Matthew, já chega! — Ian gritou.
Tanto Matty quanto Genevive pareciam acatar
suas ordens. Dos três, talvez fosse o único a entender que precisavam estar
juntos naquele momento.
— Estou a um passo de arrumar minhas coisas e
ir embora desta casa para que vocês a destruam de uma vez. Essas brigas
precisam parar, ou não iremos aguentar por muito tempo.
— Eu sei porque vocês mentiram para mim —
Matty disse. — Mas não posso ficar aqui e fingir que me sinto amado por uma mãe
que nunca está presente e um pai que viu isso acontecer minha vida inteira e
não fez nada. Vou ficar com o Dylan até me formar, daqui a dois anos, depois
morarei no campus da faculdade.
Assim Matty correu até seu quarto, sob os
gritos de protesto de Genevive. Esvaziou a mochila, colocou-a em cima da cama e
começou a encher de tudo o que precisaria para sobreviver. Roupas, sapatos,
materiais escolares, objetos de higiene pessoal, CD’s musicais e BD’s de
filmes, e pequenos eletrodomésticos, como seu gravador e o ventilador portátil.
Fechou o zíper da mochila e saiu do quarto com
ela nas costas. Genevive, por sua vez, passou rapidamente por ele para
interditar a porta.
— Não, você não vai! — Ela ordenava, aos
prantos.
Se não fosse por Ian, que tão delicadamente a
pegou pelos ombros e a escoltou até a sala de estar, Matty não teria o caminho
livre para ir aonde sua consciência mandava. Neste caso, qualquer lugar onde
não se sentisse como Matthew Rush, o filho perdido de um famoso serial killer das
Américas.
φ
Knock, knock.
Dylan correu aos tropeços para abrir
a porta.
— Hey, cara — Foi só o que pôde dizer antes de
ser envolvido em um abraço apertado. Era a primeira vez, desde que se
conheceram, que via Matty chorar. — Está tudo bem, estou aqui. Estou aqui.
Juntos eles caminharam até a sala de estar,
onde Matty jogou sua mochila. Conversaram por duas horas seguidas, com apenas
uma pausa para o lanche, e então foram dormir; mas isso nem de longe queria
dizer que conseguiam.
Dylan armou um colchão improvisado ao lado de
sua cama, tirou dois lençóis extras do armário e compartilhou uma de suas
almofadas com o amigo. Nos primeiros trinta minutos, chegaram a dar uma chance
ao sono. Depois disso, até as luzes desligadas e o silêncio reconfortante
pareciam incomoda-los.
— Está acordado? — Dylan perguntou num
sussurro.
— Defina acordado.
— Se sentir esgotado mentalmente e fisicamente
e não conseguir pregar os olhos mesmo assim.
— Então estou acordado por uma vida.
Dylan se esticou para ligar o abajur no criado
mudo.
— Não consigo parar de pensar no que você
disse.
— Qual parte?
— Sobre seus pais biológicos — Colocou um dos
braços atrás da cabeça. — Todo mundo conhece a história sobre os assassinatos
de New Britain, e que tinham a ver com aquela franquia famosa de filmes dos
anos noventa. Mas agora está simplesmente acontecendo. É como se...
— Não fosse mais só uma história — Matty
concluiu.
— Você não deveria ter proteção policial ou
algo do tipo?
— Eu não sei. Até algumas horas atrás eu era o
grande suspeito. Nem sei se para eles eu valho a pena ser salvo.
Dylan entendia perfeitamente sua linha de
raciocínio. Por ser biologicamente filho de quem era, Matty sempre seria um
suspeito. E pelo mesmo motivo, a divisão de homicídios de Seattle não teria
como prioridade a sua proteção. Aaron Estwood poderia ser o único capaz de ver
o jovem adolescente por baixo do título de primogênito de Brandon e Amanda
Rush.
— Quando seu pai voltar para casa, como vamos dizer
que pretendo morar pelos próximos dois anos com vocês? — Matty perguntou.
— Ele só chega daqui a um mês. Teremos tempo
para pensar em uma boa maneira de usar chantagem emocional.
— Seu pai viaja muito.
— É o que pilotos de aviões fazem. Ainda não
inventaram robôs capazes de levar os primeiros ministros dos Estados Unidos em
segurança até a cidade de suas amantes.
Matty sorriu. Era a primeira vez desde que a
noite começara.
— Ele pode nos levar juntos?
— Em caixotes de embarque? Absolutamente.
— É... — Deu um grande suspiro. — Seria muito
bom sair daqui e nunca mais voltar.
Cinco minutos depois, eles dormiram sem
perceber.
Dylan foi o primeiro a levantar no dia
seguinte, empenhado em fazer um café reforçado a seu novo hóspede. Matty, até
às nove da manhã, ainda dormia o sono dos atletas – no que antes era uma cama
improvisada, e agora mais parecia um amontoado de lençóis onde encontrara
conforto. Foram as lambidas de Scott que o tiraram de seu último sonho, dentro
de um avião, rumo a qualquer lugar.
— Hey amigão — Ele acariciou os pelos ruivos
do animal.
Seus olhos relutavam em abrir, mas seu olfato captava
o cheiro de panqueca e ovos fritos da cozinha. Ele não comia desde que... era
melhor pensar apenas na fome. Esfregou os olhos e seguiu Scott até a fonte de
proteínas nas panelas de Dylan.
— Bom dia, flor do dia — Seu amigo falou, em
tom de comemoração.
— Bom dia.
— Estava falando com Scott. Ele é minha flor
do dia.
Matty apenas concordou com a cabeça e sentou à
mesa. Fazia mais sentido, em qualquer raciocínio que não estava disposto a
elaborar.
— Você cozinha todos os dias? Pensei que fosse
um cliente regular do fast food.
— Mas eu sou — Dylan virou a panqueca em um
movimento rápido. — Só que esta é uma ocasião especial. Tenho um novo colega de
quarto, sabe? Ele é menos peludo que meu pai, então não será um problema
dividir o banheiro. Tome — Despejou sobre o prato em frente ao outro. — Coma,
coma, coma.
— Estou com uma fome do caralho, você nem
imagina.
Dylan olhou sobre a mesa, no balcão, nas
prateleiras, no armário, e depois na geladeira. Só poderia ter esquecido do
acompanhamento.
— Okay, por favor, não faça uma avaliação
negativa do hotel Dylan. Esqueci de comprar o leite, mas volto em cinco
minutos. Coma sua panqueca e os ovos. E não dê nada ao Scott, ele está de
castigo por ter latido para a vizinha gostosa do outro lado da rua.
— Beleza. Estarei aqui. Óbvio.
Dylan só fez limpar as mãos em um guardanapo
antes de sair pela porta. Nem cinco segundos depois, Matty fatiou um pedaço de
sua panqueca para Scott, que tanto o observava comer, no seu canto.
— Aqui!
— Disse ao animal. — Eu sei que a vizinha do outro lado da rua é uma vadia. — E
abocanhou outro pedaço de panqueca.
Os ovos fritos vieram a seguir, também com a
fatia de bolo que encontrou na geladeira, as barras de cereal e o suco de maçã
que Dylan nunca deixava faltar. É claro, antes de hospedar um jogador de
lacrosse que treina todos os dias.
Quando notou o laptop em cima da mesinha da
sala de estar, simplesmente parou. Deu o restante da comida que havia no prato
ao cachorro e correu para o sofá. Havia uma voz dentro de sua cabeça, que ele
não sabia de onde vinha, e dizia-o exatamente o que pesquisar,
“Assassinatos
em New Britain” – Ele teclou
enter. Viu artigos especializados; fotos de formatura das vítimas do New
Britain High, e posteriormente, da New Britain University; e por fim, vários
links de web shopping para os livros
de Chloe Field e Aaron Estwood. Clicando com o indicador, descobriu que Chloe
Field havia escrito apenas um livro em vida, e o segundo volume foi lançado
apenas quando seus editores descobriram um rascunho em seu computador, após a
sua morte, contando parcialmente a história dos assassinatos que ocorreram em
Chicago há mais ou menos dez anos.
Eu estava em
Chicago há dez anos, Matty lembrou.
Seus pais nunca haviam explicado o motivo da viagem. Aos cinco anos, achava
estar participando de alguma aventura como nos filmes de Hollywood, conhecendo
– e se encantando com – novas cidades.
“Aaron
Estwood” – Ele digitou. Viu fotos do casamento
de Aaron e Megan, do nascimento das gêmeas Estwood e, contra sua vontade, fotos
da família morta de Aaron que viralizaram na internet antes que a polícia
chegasse ao hotel.
“Scream” – Digitou na pesquisa. Além de imagens e
notícias relacionadas a famosa franquia de filmes, ele encontrou artigos
comparando os acontecimentos da ficção e da vida real. Viu Neve Campbell e Courtney
Cox pela primeira vez; viu fotos autênticas dos assassinos de New Britain,
capturadas por câmeras amadoras; viu fotos dos assassinos descobertos, desde
Brandon Rush e Sarah Richards a Carter Van Der Hills; também a repercussão dos
casos na mídia, principalmente após Amanda Rush ter forjado sua morte.
Amanda Rush; este nome o fez sentir calafrios. De acordo
com os artigos, Amanda forjou a própria morte em 2012, fazendo com que Aaron
Estwood pensasse que havia morrido na explosão de um automóvel. Seu filho,
Matthew Rush, foi deixado nas mãos de Aaron, e não havia nenhuma outra
informação a respeito da criança, apenas suposições de que uma família de outro
país o havia adotado em segredo. “Eu
estava tentando proteger meu filho da minha maldição” – Alegou Amanda
durante o julgamento que a inocentou de todos os seus crimes, incluindo
falsidade ideológica.
A
partir deste ponto, Matty sentiu como se não pudesse respirar. Levantava do
sofá, caminhava pela sala e voltava ao laptop apenas para que as vozes continuassem
gritando em sua cabeça o que não queria ouvir.
“Amanda Rush
está viva”. “Irmã de Megan Estwood é assassinada em mansão”. “Aaron Estwood e
Megan Bower cancelam casamento por tempo indeterminado em virtude da onda de
assassinatos”. “Pai biológico de Brandon Rush seria possível serial killer que
atacou estudantes de New Britain nos anos 80”. “Vídeo de Brandon Rush
estuprando a irmã viraliza na internet”. “O filho de Brandon Rush e Amanda
ainda está por aí?”. “Aplicativo com a voz do assassino de New Britain volta a
ser comercializado”. “Série de terror derivada de Scream terá personagem
inspirado em Amanda Rush”. “Amanda Rush é uma vítima?”. “Por que a fixação por
Amanda Rush?”.
Amanda Rush,
Amanda Rush, Amanda Rush, Amanda Rush, Amanda Rush.
— Sai da minha cabeça! — Matty gritou,
despedaçando o laptop contra a parede.
Com as duas mãos sobre a cabeça, ele fechou os
olhos e os abriu lentamente. Ninguém estava gritando, era apenas ele e seus
próprios pensamentos.
Encarou os destroços no chão, os olhos
despejando lágrimas em cascatas. Talvez fosse por isso que seus pais nunca
disseram a verdade. Eles têm medo de mim?
– Perguntava-se.
Eu entendo.
φ
— Tudo bem, obrigada — Megan disse ao encerrar a chamada. — Elas já chegaram ao local.
Aaron, no banco do motorista, ao seu lado,
parecia ter se livrado do peso do mundo nas costas.
— Alguém mais sabe aonde elas estão?
— Não, nem mesmo Grant e Elena. É muito
arriscado.
Aaron suspirou.
— Tudo bem.
Quanto mais longe suas filhas estivessem de
todas as tragédias de Seattle e Chicago, melhor faria seu trabalho com a
polícia. Havia apenas uma pessoa, além do casal Estwood, que também sabia. E
era justamente a de maior confiança.
— Amanda — Aaron continuou. — Ela está vindo à
Seattle neste exato momento. Eu ainda acho que você deve ir, as garotas
precisam de você.
— As garotas precisam de você também, mas você
não está me vendo colocar um distintivo na cintura e enfrentar um assassino
mascarado enquanto você canta Baby One
More Time para nossas filhas dormirem em outro continente. Você sabia que o
pacífico está reverso? Eu posso morrer na primeira classe e sobreviver a uma
facada no tórax, querido.
— Por que você não me deixa ser o marido
protetor pelo menos uma vez na vida?
— Eu não preciso de proteção. Olhe, trouxe até
minha câmera digital com flash — Ela tirou uma foto totalmente não requisitada.
Não estava brincando quando havia falado do flash, ou então Aaron não teria
notado um breve início de cegueira. — É o modelo de 2015. Achei que nenhum
trombadinha de Seattle se atreveria a roubar algo mais velho que eles mesmos.
— Por que você trouxe isso?
— É para a autópsia. Não podemos confiar nas
fotos do legista, dur.
Aaron apenas balançou a cabeça negativamente,
como se estivesse tentando tirar todas aquelas informações desnecessárias da
sua cabeça.
— Tudo bem, venha comigo.
Os dois saíram do carro e adentraram ao
edifício. Após passarem pela segurança, foram instruídos a seguir pela escada
do porão e dobrar no primeiro corredor, de onde já poderiam ver as portas de
metal da sala de necropsia. Lá dentro esperavam o Tenente Aldean Schwarz e dois
detetives da divisão de homicídios de Seattle, ao lado de dois funcionários
legistas e dois oficiais do distrito.
— Quase começamos sem vocês — O legista chefe lhes
disse.
O casal os cumprimentou, mas ninguém pareceu
notar. Todos os olhares e expectativas estavam sobre o corpo de Mason Harding,
estirado sobre a mesa metálica.
— Por que eu estou sempre lá quando alguém
está prestes de abrir um cadáver? — Enquanto os legistas preparavam seus
instrumentos de trabalho, Megan aproximou-se para olhar mais de perto. — Ele
era lindo. E se está morto, significa que não valia nada.
— Perdão? — Um dos Detetives finalmente se
mostrou curioso ao que ela dizia.
— É o padrão — Olhou para ele. — Este
assassino, assim como os anteriores, acredita que cada morte é necessária para
alcançar seu objetivo final, e que cada vítima recebeu exatamente aquilo que
merecia. Por mais que algumas fiquem de fora deste padrão, podemos dizer que
Brandon Rush matou seus amigos ricos e populares; Nina Marshall matou aqueles
que se recusaram a ver a gravidez como uma dádiva e estavam relacionados a
abortos clandestinos; e Carter Van Der Hills matou todos aqueles que cometeram
delitos e saíram impunes, do mesmo jeito que Amanda e sua família saíram
impunes após o acidente de seus pais. Mason Harding era o filho do homem mais
rico da cidade e capitão do time de lacrosse do Roosevelt High, o que pode dar
a entender que talvez não tenha sido tão bom assim com seus colegas de classe.
— Bullying — Um dos policiais esclareceu. —
Adia Thompson, a segunda vítima, era a capitã das líderes de torcida. É
bastante provável.
Megan sorriu em concordância. Era bom que
soubessem que não estava ali à toa, para o caso de precisarem de boas teorias.
— Vamos ver o que você esconde, Mason Hardy —
O legista se posicionou para o primeiro corte.
— Mason Harding — Megan corrigiu. — Vocês não
têm um lema do tipo “Respeite o Cadáver”?
— Querida... — Aaron a incensou pelo ombro.
Em sua linguagem própria, significava “não
atrapalhe o moço”. Assim como o olhar de repúdio do legista significava “estou
prestes a expulsa-la da minha sala”. Do mesmo jeito que o revirar de olhos do
policial de barba loira poderia representar pelo menos metade dos presentes.
Com todos em silencio, o primeiro corte foi
feito. O segundo, então, e depois o terceiro. Analisaram seus órgãos, as marcas
em sua pele, seus olhos azuis-claros de putrefação, as substâncias na sola dos
pés e os grãos de areia na cabeça. Megan virou o olhar em várias análises
importantes, dando a Aaron a tarefa de dizer exatamente o que estava
acontecendo e o que os resultados confirmavam.
Estava quase terminado, mais de uma hora
depois; mas ainda havia perguntas.
— A pele deveria estar dessa cor? — O detetive
de terno marrom quis saber.
— Ele levou seis facadas e ainda assim
conseguiu chegar até o quarto? — Era uma das dúvidas do policial da esquerda.
— Ele perdeu os dentes da frente na queda ou
na luta corporal contra o assassino? — Esta foi a pergunta de Aaron.
Assim, o relatório policial estava quase
pronto.
— Não temos muita coisa — Um dos detetives
informou. — Este caso apresenta os mesmos becos sem saída de casos não
solucionados dos últimos sessenta anos.
— Os estudantes foram interrogados? — Aaron
perguntou.
— Estamos oficializando os mandatos neste
exato momento. São menores de idade, é a única maneira. Matthew Hilliard
continua sob sua custódia?
— Está na casa de um amigo, sob vigilância.
Não há porque pensar que ele não vai colaborar com as investigações.
— Certifique-se de que ele não deixe a cidade
e nós faremos o resto.
De repente, Megan gritou em alarde.
— Há algo aqui! — Apontava para a garganta de
Mason.
Enquanto todos voltavam o olhar, o legista
manuseava uma pinça vagarosamente para retirar o pequeno objeto. Um disco de hóquei.
Nada, até então, provara ser mais confuso.
— Foi inserido depois da morte? — Aaron achava
importante saber.
— Sim... — O legista o deixou numa bacia de
metal ao lado do corpo. — E nada cirúrgico. Quem fez isso não sabia
absolutamente nada sobre os procedimentos.
— Outro enigma — Disse o policial de olhos
claros. — Alguma teoria, Rainha da TV? — Olhou para Megan com um sorriso de
escárnio.
Na verdade, ela tinha. Mas não sobre o
inquérito policial.
— Perdão; não que eu esteja duvidando da sua
competência como profissional, mas aonde você está estava quando eu, Aaron e
Amanda solucionamos três casos de assassinatos em série há dez anos e paramos
os assassinos com nossas próprias mãos? Talvez em uma academia tentando
enrijecer os músculos para não ser reprovado no exame físico, ou então sua
carreira policial seria resumida a uma sala de escritório e um telefone de
última geração para passar ligações a seus superiores. Quer falar sobre
méritos? Comece com os seus. A não ser que ache que não há nada a dizer.
Os detetives e o Tenente trocaram um olhar
abismado. Já os dois legistas, assim como o outro policial, precisaram prender
um riso. Pela expressão de desgosto que Aaron sustentava no olhar, não havia
gostado nada da provocação.
— Megan, vamos embora. Eu tenho uma entrevista
para hoje — Disse antes de sair.
Megan aproximou a câmera do rosto do policial
e deu um clique.
— Perdedor! — Debochou. — Estou indo — E saiu
pela mesma porta que Aaron enquanto o jovem tentava se recuperar da cegueira
momentânea do flash.
Depois dessa manhã, o Policial Hoyt nunca mais
assistiu a seu programa na tv.
Curiosidades:
- Eis o poster de A Punhalada 3. É, sem dúvidas, o que mais foge do padrão. Não consegui deixar a Nina Dobrev loira em outro formato (como o livro exigia) e também não encontrei muitas fotos dos outros atores, tendo utilizado as adaptáveis nos outros posteres. Espero que gostem <3
Nna Dobrev como Amanda Rush. Gaspard Ulliel como Aaron Estwood. Julianna Guill como Megan Bower. Ashley Benson como Chloe Field. Alexander Ludwig como Kyle Fuller (Não está no poster). E Jeremy Irvine como Carter Van Der Hills (O assassno).
Capítulo 6: Fogo com Fogo (Dia 12 de Outubro)
Aaron é atacado pelo assassino após uma entrevista constrangedora no estúdio de TV. Logo então, o assassino inicia seu primeiro jogo particular com a polícia de Seattle.
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