[Livro] The Double Me - 4x02: Catholic Boys In Trouble [+18]
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4x02:Catholic Boys In Trouble
“Lembre-se, garotos não choram”.
No começo da tarde, Alex deixou a mansão
Strauss e dirigiu até o centro de Manhattan. Encontrou Thayer semivestido em
seu apartamento, com o telefone pendurado em uma orelha e a gravata azul em
mãos.
— Tudo bem — Ouviu-o dizer. — Sem problemas,
eu entendo. Retorne-me assim que puder — E colocou o telefone de volta no
gancho.
— Hey. Quem era? — Alex jogou a bolsa em cima
do sofá mais próximo.
— Minha secretária. Como foi no estágio?
Alex hesitou por um segundo, já na defensiva. Algo
em seu rosto poderia estar dizendo tudo o que Thayer não deveria saber.
— Não trabalhamos às sextas, apenas de terça a
quinta.
— Que engraçado — Thayer o assistiu tirar o
casaco e jogar as chaves em cima da mesinha ao lado da porta. Seu tom de voz,
assim como o olhar, exalava desconfiança. — Sua chefe acabou de ligar
perguntando se está melhor da mononucleose e se precisa de mais alguns dias de
folga.
— Eu? — Alex estremeceu. — Acho que é um mal
entendido.
— Eu disse que o vi sair ontem de manhã, mas
ela afirmou que você não apareceu. Não faço ideia do que pode ter acontecido.
Alex suspirou em derrota. A verdade, a sua ocasião,
parecia ter duas facetas. A primeira regia um salvamento, a única maneira de proteger
sua relação com Thayer através da honestidade. Mas a segunda demandava uma
punição. Havia um preço a se pagar pelos pactos com o Diabo, como dizia no
final de cada contrato.
— Eu não fui para o estágio.
— Para onde você foi?
— Cameron e eu fomos fazer Bungee Jumping.
Thayer deu um ar de risos depressivo, debochando
da situação em que acabara de se encontrar.
— Cameron, é claro.
— Foi por causa dessa atitude que eu decidi
não contar. Toda vez que ele está por perto você esquece que confia em mim e
brigamos sem razão.
— E a culpa é minha?
— Não precisa ser culpa de alguém. Cameron é
meu amigo e você é me namorado.
— Eu entendo que você tenha amigos, Alex, mas
se começarmos a mentir um para o outro... — Thayer foi interrompido pelo toque
de seu celular. — Se começarmos a mentir um para o outro... — Tentou ignorar o
barulho, mas sabia que esta era sua deixa. — Merda! — Tirou o aparelho do bolso
e levou-o a orelha. — Sim?
Alex manteve o silêncio enquanto ele
dialogava. Podia ver em seus olhos a inquietude e a decepção; a impaciência e o
cansaço. Parecia mais disposto que no dia anterior, e mesmo assim ainda parecia
preocupado. Alex perguntou a si mesmo até onde as aventuras ao lado de Cameron levariam
seu relacionamento. Thayer era o que tinha de mais precioso. E Cameron... Cameron
era apenas a via mais fácil para sair de uma rotina deplorável.
— Nossa, eu esqueci completamente — Thayer segurou
o topo do nariz com o polegar e o indicador, fechando os olhos por alguns
instantes. A ansiedade havia vencido sua paciência. — Tudo bem, estarei lá. Não
se preocupe — Encerrou a chamada com um clique. — Era o meu pai — Disse ao
namorado enquanto guardava o celular no bolso. — Meus tios chegaram da Alemanha
e faremos um jantar de boas-vindas na mansão. Está dentro?
— Não posso, — Alex respondeu, cauteloso até o
último fio de cabelo. — Nate nos chamou para investigarmos aquele clube. É
importante para ele.
— Tudo bem — Thayer assentiu em concordância.
Alex havia comentando sobre isso no dia
anterior, quando chegou ao apartamento trazendo o jantar. As pistas que Mia
encontrara no galpão abandonado os levaram a crer que o possível assassino de
Quentin frequentava a boate Sweet &
Hurt junto de seus companheiros — provavelmente membros dos The Judges. Nate precisaria de todo
apoio necessário para juntar as peças e sobreviver no covil do inimigo.
Em aceitação a ausência de Alex, Thayer levou
os pensamentos a Travis e a tudo o que ditou seu declínio fraternal nas últimas
semanas. Seria injusto pedir-lhe ajuda
só agora que estava ciente de sua condição? O medo de sua família fechar-lhe a
porta o fez ficar acordado a noite inteira, remoendo o resultado de seus exames
até conseguir gravar as palavras. E ali estava ele, perguntando a si mesmo se
realmente valia a pena passar por tudo isso sozinho. Talvez descobrisse no
jantar, diante de todos os Van Der Wall.
— Preciso ir agora — Disse à Alex. Caminhou
dois passos até o sofá, jogou a gravata na almofada e pegou a camisa que deixara
ali. — Conversamos depois. — Avançou alguns passos e pegou as chaves em cima do
balcão da cozinha.
— Não quero que você fique chateado.
— Não estou chateado — Parou com a mão na
maçaneta. — Só preciso resolver algumas coisas agora. Volto antes do jantar.
Thayer
bateu a porta e caminhou estritamente até o elevador. Só quando as portas se
fecharam pôde se ver livre da expressão apática com que se despediu do
namorado. Havia um Thayer inseguro e angustiado por baixo de cada máscara que enfeitou
seu rosto desde que voltara da clínica. Podia ouvir a voz do médico no lugar do
seu coração palpitante, como o espelho refletia a imagem do irmão ao invés da
sua. Eram tão parecidos, as pessoas diziam. E mesmo assim nunca apreciaram a
companhia um do outro. Bem, isto poderia mudar.
Thayer dirigiu do Upper East Side ao extremo
da cidade, onde se localizava a sede empresarial das Editoras Van Der Wall. De
acordo seu pai, Travis havia ganhado um cargo menor que o colocava entre um
assistente pessoal e uma secretária em um grau de importância. Tinha acesso a
sala do Presidente, podia atender as chamadas e assistir a algumas reuniões,
mas nunca interagir com os sócios sem o consentimento do pai.
Numa tarde de sexta-feira, Travis sempre seria
encontrado assistenciando o
Presidente em todas as suas vontades. Naquele dia, porém, Theodor estava em
reunião, e Travis acabou tendo a sala do pai só para si e sua companheira. Chamava-se
Lynda, se a memória de Thayer não lhe falhava. Se falhasse, poderia chama-la de
Weasley como todos os outros que
faziam grande coisa de seus cachos vermelhos.
— Hey... — Thayer murmurou ao adentrar na
sala.
Travis levantou os olhos do documento que
estava analisando. Fulminou o irmão, de cima a baixo, e então correu em sua
direção. A velocidade os fez ir de encontro a parede, as costas de Thayer
absorvendo toda a força do impacto. O duelo não poderia mais ser evitado.
Foram da porta ao sofá, do sofá a mesa, do
chão a parede, e com eles toda a decoração da sala do Presidente. Socos,
chutes, gritos, arremessos, palavrões... nada parecia ser o suficiente para os
dois irmãos.
— Não, por favor... — A Weasley sussurrava amedrontada
em meio à confusão, apertando a pasta branca sobre seu peito.
— Aqui está a sua vice-presidência — Travis
disse ao irmão antes de lhe acertar um soco.
Thayer caiu com a cabeça próximo a mesa, mas
levantou rapidamente para dar o troco. O quadro da santa ceia de trinta mil
dólares que decorava a parede esquerda da sala teve um fim inesperado na cabeça
de Travis com apenas um movimento rápido de seu irmão. Travis, por sua vez, tentou
prendê-lo em uma gravata e acabou fazendo com que caíssem por cima da adega de
vinho.
Furiosos, molhados e sagrando, cada irmão
tentou infligir o máximo de dano que seus corpos permitiam. Thayer teve parte
de sua camisa rasgada e a bochecha arranhada; Travis ganhou uma mordida no
ombro e uma enorme rachadura no lábio inferior. Weasley gritava sem parar, como
se o desespero lhe oferecesse a proteção que precisava.
O embate só chegou ao fim quando ambos os
irmãos estavam esgotados. Travis socou o irmão uma última vez e se jogou no
chão ao seu lado, de peito para cima. Pareciam competir até mesmo na respiração
ofegante que inflava e murchava seus peitorais por baixo da roupa.
— Eu estava precisando disso... — Travis
sussurrou.
— É, eu também — Thayer fez uma pausa para
respirar melhor. — Mas Jesus não. — O que seu pai faria quando descobrisse que
seus filhos não estavam se comportando como bons católicos e haviam destruído a
pintura mais sagrada já feita nos últimos dois milênios?
Travis virou a cabeça para fita-lo. Agora que os
golpes cessaram, seus hematomas ficavam ainda mais visíveis. Havia feito um bom
estrago no rostinho do Príncipe Van Der Wall.
— O que você está fazendo aqui?
— Precisamos conversar.
— Não temos nada a tratar — levantou-se e
caminhou até a mesa. Não lembrava de ter visto Weasley ir embora, e nem do
momento em que seus gritos cessaram. Aonde ela estava?
— Mas nós temos — Thayer fez esforço para
sentar-se escorado na parede. — Estava esperando que pudesse deixar de fora os
detalhes sobre nosso inconveniente no jantar de hoje à noite.
Travis suspirou, com uma mão na têmpora direita.
A dor de cabeça o teria derrubado no chão se não estivesse apoiado com a outra
mão sobre a mesa.
— Merda, o jantar... Mamãe ficou de pegar Tia
Monica no aeroporto.
— Elas já estão em casa. O jantar começa às
sete.
— E daí? — Travis o fitou por cima de seu
ombro.
Thayer engoliu em seco, sentindo o gosto metálico
de sangue. Havia uma chance do irmão ter sido completamente saciado pela briga
de minutos atrás. Se havia melhor momento para fazer sua revelação, não saberia
afirmar.
— Travis, eu não estou bem. Preciso da sua
ajuda...
Mas seu irmão debochou com um ar de risos.
Cuspiu sangue no tapete e limpou a boca com a manga da camisa.
— Sabe o que aconteceu depois que o pai me
flagrou na sala de reuniões com o seu gigolô? — Sussurrou enigmático enquanto
observava a tapeçaria intacta atrás da cadeira de Theodor. — Ele me colocou
dentro do carro, dirigiu até a mansão e me socou no rosto. Suas exatas palavras
foram “Você não merece carregar o meu nome”. Depois de passar a vida inteira me
esforçando para nunca ouvir essas palavras, elas finalmente foram ditas; e o
mérito é todo seu. Você é o herdeiro, não é? O medalhista de ouro, o grande
Thayer Van Der Wall. Até Nate preferiu você a mim, então por que alguém tão insignificante
como eu deveria tomar posse do legado da família?
— Eu nunca o vi dessa maneira.
— Você nem ao menos me viu... — Balançou a
cabeça negativamente com um sorriso sarcástico, outra vez debochando de si
mesmo. — Lembra quando éramos crianças e eu implorava para vê-lo nadar na
piscina do colégio? Você nunca me deixou ir. Thayer Van Der Wall não poderia
aparecer na frente dos amigos com seu irmão desdentado.
Thayer lembrava muito bem desta época.
Lembrava da sunga azul que lhe dava sorte, do garoto de olhos claros que sempre
o assistia nadar, do irmão sem dentes e com catarro escorrendo do nariz
implorando para ver seu irmão campeão dentro da piscina... Travis estava certo,
ele sabia. Tudo começou com o egocentrismo de um inocente Thayer Van Der Wall,
aos seus nove anos de idade.
— Eu não sou o mesmo de antes.
— Eu também não. E agora não preciso pedir
permissão para chegar aonde eu quero — Travis virou-se para encará-lo. — O que
quer que esteja precisando, sentirei prazer em negar. Você está por conta
própria.
Thayer não se atreveu a responder. Tragou
todas as verdades não ditas e desejou que o irmão encontrasse seu próprio
caminho. Ele estará melhor sem mim,
pensou. A única coisa que posso fazer é
poupá-lo de me ver morrer. Não lhe parecia haver outra escolha.
Recém-chegado de sua reunião, Theodor adentrou
a sala em passos cautelosos para não se ferir nos destroços. Um ciclone parecia
ter deixado em ruínas tudo o que conhecia como escritório particular.
— O que, em nome de Deus, aconteceu por aqui? —
Franziu a testa.
Thayer e Travis apontaram um para o outro em
acusação.
— Foi ele — Disseram em uníssono.
E por um momento voltaram a ser crianças.
൴
Uma hora se passou enquanto Jensen observava o
movimento da avenida. Seguiu Theon desde o começo da tarde, após o almoço, e
foi levado do edifício da Strauss International à uma galeria de arte
famosíssima no centro da cidade. Tomou o cuidado de estacionar seu carro do
outro lado da rua, a vários metros da entrada; uma distância adequada para
passar despercebido e ter uma ampla visão do carro de Theon, parado no
acostamento principal.
Quando notou o primeiro sinal de movimento,
Jensen atentou para a entrada. Viu Theon deixando a galeria ao lado de uma
mulher loira usando terno e salto altos. Theon apertou sua mão, sorriu em
resposta, sussurrou alguns gracejos e caminhou em direção ao carro. Jensen
girou a chave de ignição ao mesmo tempo em que ele. Parecia que estavam prestes
a dar outro passeio.
Dirigiram para oeste, na maior parte do
trajeto; Theon na frente, em seu Lamborghini preto, e Jensen atrás, em uma
gloriosa BMW cinza. Vinte minutos depois estavam em Hampton Bays. Um enorme
estádio preto e branco erguia-se adiante, rodeado por tendas da mesma cor e por
uma pista de areia que circulava a área. Corrida
de cavalos, Jensen reconheceu. Houve uma época em que era o único lugar
onde seu pai desejava passar as tardes de sexta-feira.
Theon estacionou em sua vaga reservada, deixando
para Jensen um posto nada cordial entre os últimos carros da fileira. Jensen
esperou alguns instantes no mesmo lugar antes de segui-lo para a aglomeração. Com
o próximo arranque tomando início, os comparecentes deixavam suas tendas para
encontrar o lugar de honra em seus camarotes. Reconheceu vários rostos entre a
multidão, e até foi obrigado a cumprimentar um ou outro admirador de seu pai.
A essa altura, já tinha perdido Theon de
vista.
— Próximo arranque em dois minutos — Ouviu dizer
o locutor.
Passou rapidamente o casal que caminhava a sua
frente e dirigiu-se ao gramado. Estava agora atrás dos assentos. Podia ver a
pista, os cavalos em suas casas e o movimento de pessoas que acomodavam-se em
seus lugares. Theon não estava em lugar nenhum.
— Próximo arranque em um minuto — Soou a voz
do locutor outra vez.
Jensen olhou para os dois lados. Havia pensado
em tudo, menos em procurar atrás de si mesmo.
— Este é o último lugar onde pensaria
encontra-lo, Senhor McPhee — Theon sussurrou. Jensen virou a tempo de vê-lo apertando
obcessivamente uma caneta em suas mãos. — Justo no dia em que a sorte está a
meu favor. Devo temer seu palpite?
— A menos que duvide de sua sorte.
— Eu sempre duvido da minha sorte. Não perdi
um olho por ser cauteloso.
— É olho por olho, não é?
Theon mostrou um sorrisinho presunçoso.
— Não sei o que está sugerindo, mas garanto
que haverá tempo para discutirmos quando a corrida terminar.
Jensen ouviu os sons de largada ecoando atrás
de si. A multidão nos assentos parecia fazer a terra tremer com sua torcida
gritante.
— Não sou estúpido, Theon — Deu um passo à
frente. — Conheço o jogo que está jogando com Nate.
— Deixe-me adivinhar. Você é o namorado
territorial e eu o seu grande rival. Essa é a parte em que você me pega pelo
colarinho da camisa e sentencia sua ameaça?
— Tudo
o que você precisa fazer é ficar longe dele. E então poderá assistir a suas
corridas sem ser incomodado.
Theon fingiu estar tomando uma decisão.
— Nada mais justo. Agora você só precisa
informar ao seu namorado.
— Não cairei nessa.
— A decisão é sua — Theon deu um passo à
frente, a voz enigmática. — Mas se eu fosse você, perguntaria a ele aonde
estava na tarde de ontem. Tenho certeza que tudo será esclarecido.
Jensen o fitava sem reação. Era tarde demais
para fingir que não estava em dúvida.
— O que Nate e eu temos não pode ser arruinado
com blefes. Guarde-os para o pôquer — Deu meia volta.
— Seja como for. Nada mudará o fato de que eu
o fodi de todas as maneiras possíveis.
Jensen o puxou pelo colarinho da camisa e o
imprensou contra o pilar de ferro da arquibancada. A sete centímetros um do
outro, Theon sorriu nervosamente. Então ele mesmo o namorado territorial.
— Fique longe dele ou você me verá outra vez —
Jensen proferiu, olhando no fundo de seu único olho verde.
— Você promete?
— Este é seu único aviso — E saiu pelo mesmo
lugar por onde entrou.
Livre de suas mãos, Theon pôde respirar
aliviado. Ajeitou a manga de sua camisa e observou o rival partir.
— Você não sabe o quanto esperei por isso... —
Sussurrou para si mesmo.
As lembranças vieram como se tivessem sido convidadas.
Seu corpo permanecia no mundo real, mas a mente insistia em leva-lo para outra
época. A sala cheirava a álcool e produtos de limpeza. À esquerda ouvia os
apitos de uma máquina; à direita, a irritante melodia do tráfego. O mundo estava
dividido quando acordou, e ele mal conseguia lembrar o porquê.
Dois dias antes estava na cama ao lado de Nate,
fazendo planos para o futuro. E então seus sonhos sucumbiram a uma sala branca
de hospital. Meu olho, ele lembrou ao
tocar o curativo. O que aconteceu? Aonde
Nate está?
Sentou-se na cama e olhou ao redor. No
desespero de sua incerteza, arrancou os cabos que o ligavam a máquina e colocou
os pés no chão, os braços sangrando. Cambaleou para um lado quando a vista
embaçou, e então seguiu pela porta com o apoio dos móveis. Não tinha forças
para caminhar, mas insistiu em cada passo que o levava para fora. Tudo o que
importava era que Nate estaria ali em algum lugar.
— Theon! — Camille apareceu repentinamente. —
O que você está fazendo?
— Aonde Nate está? — Ouviu sua voz arrastada
perguntar.
Ela tentou agarrá-lo para evitar uma queda
brusca.
— Você não deveria ter saído do quarto!
Enfermeiras!
— Eu não quero enfermeiras! — Theon a
empurrou. — Aonde Nate está? O que fizeram com ele?
As enfermeiras chegaram com prontidão. Theon
cambaleou no colo de ambas, empurrou-as na parede e correu de volta para seu
quarto. O hospital inteiro havia parado para assistir ao espetáculo.
Quando Camille e as outras enfermeiras
passaram pela porta, viram Theon prestes a pular da única janela.
— Não se aproximem! — Ele gritou, um passo de
uma queda de três andares. Mal conseguia ficar de pé e manter os olhos abertos
ao mesmo tempo.
— Fique calmo — Camille ergueu uma mão. — Eu
sei que você está muito confuso neste momento, mas você precisar me ouvir.
— Não! Aonde Nate está? O que vocês fizeram
com ele?
— Você não se lembra?
Theon olhou nos olhos de cada uma delas. Mais
dois médicos haviam chegado para presenciar sua crise.
— Nós deveríamos... Ele disse...
— Nate se foi, Theon — Camille mantinha o tom
de voz vigilante.
— O que...? Como...?
— Ele desapareceu. Você foi dopado na noite do
incidente.
Theon resgatava a memória a cada palavra que
ouvia. O sexo e Nicolai. As pinturas e a luta. Seu olho... A caneta, sabia que
havia uma caneta.
— Não... — Sussurrou. Lexi, Nate e Nicolai
estavam lá. O dinheiro, a maleta...
— Os médicos disseram que poderia haver efeitos
colaterais — Agora a voz de Camille era apenas um sussurro abafado. — Você está
bem?
Theon cambaleou para frente, a vista embaçada.
A dor física das lembranças o fazia gemer em negação. Lembrava do dinheiro, do
vinho e do beijo. Nate fizera questão de condená-lo com um beijo. Amor é um investimento, ouvia-o dizer. Mas se um dia houver a necessidade, pode ter
certeza que amarei a mim mesmo.
E então seu mundo entrou em colapso.
— Não! — Gritou o mais alto que pôde. Colocou
as mãos no carrinho de auxílio e arremessou-o no chão. — Não! Ele me amava!
Não!
Camille fez sinal para que os dois médicos
avançassem, mas Theon conseguiu livrar-se de ambos em sua loucura agressiva. A
pior parte assolou sua consciência um momento depois, quando vários enfermeiros
entraram no quarto com um sedativo. A última coisa que lembrava era o rosto de
Nate desvanecendo junto de sua consciência. O resto fez-se apenas em uma
dolorosa escuridão.
൴
O crepúsculo vespertino desaparecia no
horizonte quando Jensen chegou ao apartamento. Nate avançou alguns passos para
fora da calçada e entrou no carro pela porta do passageiro. Assim como o
namorado, trajava vestes singelas e informais para que passassem despercebidos entre
os clientes da Sweet & Hurt; Nate
com uma camiseta preta sem estampa e uma calça da mesma cor, Jensen em seu
casaco marrom e um par de botas de cano baixo.
— Aonde estão os outros? — Jensen perguntou.
— Somos só nós. Alex e Mia foram na frente.
— Tudo bem — Jensen girou as chaves e pisou no
acelerador. Se Alex e Mia já haviam partido, poderia julgar que Amber e Andy
estivessem com eles.
Nate deitou a cabeça no banco, decidido apenas
a esperar. Carros e edifícios passavam diante de seus olhos sem despertar-lhe
qualquer anseio ou curiosidade. Quentin
recebera a misericórdia de uma morte rápida? — A pergunta resistia a sua
recusa desde que tudo acontecera. Quanto mais insistia naquele mistério, mais
tinha certeza de que não há nada misericordioso na morte.
Theon também estava lá, vagando sem permissão
através de lembranças inóspitas. Ultimamente via seu rosto com mais frequência
do que gostaria. Pedia perdão, se pudesse falar. E se a voz lhe faltasse,
apenas ouvia. Jensen não carece de motivos
para amar a pessoa que você se tornou. Theon não seria a si mesmo se não
tentasse destruir seu relacionamento com Jensen. Sabendo disso, restava uma
única questão: A que ponto a verdade se bifurca para dar vida às mentiras?
A dor nos
transforma, mas o mundo continua o mesmo.
Seria possível? Jensen não enfrentou dificuldades quanto a aceitar seus
sentimentos pelo novo Nathaniel Strauss, o que é muito mais do que se pode
dizer sobre o Jensen infiel que buscava nos outros o que seu namorado não tinha
a oferecer. Se ainda fosse o velho Nate, teria Jensen ao seu lado completamente
satisfeito? Isentando a perfeição, ainda haveria motivos para ele ser fiel? Estava
tão apaixonado que esqueceu de todas as razões que os levaram a separação apenas
para tê-lo outra vez em seus braços.
Nate virou a cabeça para olhá-lo nos olhos, a
pergunta na ponta da língua.
— O quanto você me ama?
Jensen franziu a testa. Sempre que podia,
intercalava uma boa olhadela na estrada e no namorado.
— De onde isso saiu?
— Responda.
— Bom... — Ele sorriu. Até então achava estar
fazendo parte de um novo jogo que Nate inventou. — Eu interceptei uma bala com
o meu próprio corpo para que você não se machucasse. Podemos dizer que eu o amo
um pouquinho.
— Preciso que responda honestamente.
Jensen o olhou nos olhos por um segundo em
busca de esclarecimento. Não era um jogo, agora tinha certeza. Talvez tanto o quanto
sabia que a consciência de Nate implorava pela verdade.
— Honestamente? Eu não sei. Descubro uma coisa
nova que eu amo em você todos os dias, e é assim que eu quero viver os próximos
sessenta anos. É bom o suficiente para você?
— Sim... — Nate deitou a cabeça de volta no
banco e fitou sua janela.
— Quer me explicar o que está acontecendo?
— Eu não sei... — Virou para ele. — Estou com
medo, Jensen. — Queria ter coragem para perguntar se ficariam juntos acontecesse
o que acontecesse.
— Eu sei — Jensen tirou a mão direta do
volante para encontrar a dele. — Mas estou aqui. Você nunca mais vai estar
sozinho.
Nate já não tinha tanta certeza disso.
Fizeram o resto do percurso em silêncio
através da cidade. Jensen ligou o rádio na primeira estação onde reconhecera
uma boa música e Nate aproveitou para cochilar. Após uma longa travessia pela ponte do Rio
East, estavam no coração do Brooklyn.
O Sweet
& Hurt era um clube de strip
tease localizado na rua Court, pertencente à família Fedrizzi por três
gerações. Seu logotipo ostentava a silhueta de uma mulher sem roupas segurando
um chicote, com detalhes em neon rosa que lembravam doces de criança. A entrada,
porém, era exclusiva para sócios. Havia dois seguranças em frente ao que parecia
ser um albergue modesto; estavam lá para guarnecer o perímetro e impedir a
entrada de penetras. Nate e Jensen tiveram que mostrar dois cartões em código
para que lhes abrissem as portas e pudessem descobrir o mundo da Sweet & Hurt do lado de dentro.
Caminharam pelo corredor estreito em linha
reta, dobraram a esquerda duas vezes e saíram num ambiente com baixa
iluminação. Adiante viram a entrada, uma enorme porta com uma cortina vermelha
que separava a escuridão da grande festa. O logotipo da mulher dos doces estava
lá, no centro superior da entrada, dando boas-vindas aos que fizeram seu
caminho até ali.
É doce e
machuca, Nate pensou. Assim como a vingança.
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4x03: I Wanna Make This Clear, My Dear, That Heads Will Roll (06 de Fevereiro)
Semana que vem conheceremos o mundo da Sweet & Hurt. É doce e machuca, assim como a vingança rs.
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