[Livro] The Double Me - 3x13: I Left My Heart In San Francisco [+18]
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3x13:I Left my Heart in San Francisco
“A indulgência se afoga com apenas uma gota do triunfo”.
— Eu compreendo — Alex disse ao celular. — Estarei
aguardando a ligação. Obrigado novamente. — E desligou.
Ao seu lado, no banco do motorista, Thayer mantinha
um olho na estrada periférica a sua frente e o outro no namorado.
— Está tudo bem? — Questionou.
— Sim — Alex guardou o celular no bolso. — Judit
conseguiu convencê-lo a me dar uma segunda chance. Jantaremos semana que vem.
— Então... Acho que você está indo para a
faculdade.
O pessimismo em sua voz fez Alex ficar na
defensiva. Não brigariam por isso outra vez, tinha certeza. Podia até ver
romantismo na relutância às decisões que os manteriam afastados.
— Lembro de você dizendo que iria me apoiar — Alex
sussurrou, mantendo um sorriso descontraído no rosto.
— Este sou eu apoiando você — Apenas ele sabia
o quanto era difícil manter aquela promessa e fazer de tudo para não mostrar-se
em ruína. — Quanto a ficar feliz em vê-lo se mudar para outro estado, acho que
ainda estamos a caminho.
— Por que você não faz o mesmo? Faculdade é
importante.
— Foi o que meu pai disse antes de me ver
colecionando medalhas de ouro — As lembranças sempre deixavam sua voz cheia de
orgulho. — Tentei um estágio há alguns meses para facilitar minha ascensão na
Editora Van Der Wall, mas aparentemente, estou difamado. Cortesia de Nathaniel
Strauss.
— Esse é meu irmão.
Alex recostou-se no banco, sendo invadido por
pensamentos. Todos os seus amigos pareciam ter encontrado um bom motivo para
abrir mão da faculdade em nome da vida adulta. Thayer ficara por dois semestres
na Columbia, mas decidiu trocar os livros pelas medalhas de ouro e pela glória
das piscinas. Com o respaldo do pai, Jensen decidiu tirar um ano de repouso
para melhorar de suas recentes operações e ascender como um atleta saudável em
Dartmouth quando chegasse a hora. E Mia ignorara todo o preceito dos bons
costumes e do legado familiar somente por ter vivido durante dezoito anos ao
lado de uma mulher que desacredita no sistema de ensino superior.
Nate era um caso à parte. Terminou o ensino
médio ainda em Paris, mas decidiu dedicar-se a vingança e ao desfruto do
dinheiro, talvez, de certo modo, para provar ao mundo que não precisava
submeter-se a ninguém além de si mesmo para realizar seus objetivos. Agora que
ocupava o cargo de presidente de uma empresa internacional, as chances de ver
Yale com os mesmos olhos idealistas de seus quinze anos eram quase nulas.
Os únicos que levaram a sério os ritos de
passagem, além de Alex, foram Kerr, Andy e Amber. Kerr e Andy decidiram passar
o verão em casa após o primeiro semestre em Princeton, e estarão de volta assim
que o outono chegar. Amber completará dezoito anos em Setembro, e comemora
desde já sua aceitação na Brown. Em fevereiro do próximo ano estará arrumando
as malas para uma grande aventura como universitária em Rhode Island.
Alex perguntou-se para onde Gwen e Justin estariam
indo se estivessem lá. Apenas um deles teria uma chance... Ou então nenhum,
nunca mais.
— Quer trocar de novo? — Perguntou a Thayer. Fazia
um tempo desde que o deixaria dirigir para descansar.
— Estamos quase chegando — Thayer observou seu
prédio a alguns metros de distância.
Alex também olhou, por curiosidade. Sentiu
alívio em saber que estava apenas a alguns minutos de suas séries preferidas e da
cama quente de Thayer. Nada se comparava ao conforto dos flets do Upper East Side uma vez que ele descobre todas as suas
fraquezas.
Entraram no edifício em poucos minutos. Com as
malas em mãos, subiram até andar de Thayer e entraram no apartamento. As malas
foram jogadas no canto da porta e os casacos em cima do sofá.
— A porta não deveria estar trancada? — Thayer
franziu a testa ao fazer a pergunta.
— Eu não sei. Você trancou antes de viajarmos?
— Eu não sei... — Deu de ombros,
desinteressado na questão.
Jogou os sapatos para longe e caminhou em
direção ao quarto. Quando de levemente abriu a porta, viu um homem de preto e
máscara angelical pichando a parede de seu quarto com as palavras “Deus odeia Bichas”. Tudo aconteceu
muito rápido a partir deste momento. Thayer gritou o nome do namorado, o
invasor foi surpreendido, Thayer avançou para cima dele e juntos travaram uma
batalha de socos e chutes, destruindo tudo que seus corpos tocassem. Foi-se a
TV, o notebook, a escrivaninha e parte do guarda-roupa, até que o invasor
conseguiu quebrar o abajur em sua cabeça.
— Alex! — Thayer gritou novamente.
O invasor correu para fora do quarto e foi acertado
com um taco de baseball. Levantou do chão, limpou o sangue que escorria da
testa e avançou para cima de Alex com um punhal. Conseguiu cortar o ombro
esquerdo do garoto, mas levou outras duas pancadas; uma no peito, outra no
joelho. Em mais um ataque, atracou-se com sua vítima, fazendo ambos caírem por
cima da mesinha de centro da sala de estar. O taco de Alex caiu para o lado, e
agora era apenas ele e o invasor.
Teria perdido a medida de forças com o punhal
próximo ao rosto se Thayer não tivesse acertado, de surpresa, a torradeira de
ferro na cabeça do malfeitor. Ele caiu para o lado, inconsciente, e Alex pôde
respirar aliviado finalmente. Levantou-se do chão cheio de cacos de vidro para
olhar o que o namorado havia feito.
— Você está bem? — Thayer perguntou, a
respiração ofegante.
— Sim — Alex garantiu. Entrou em estado de
alerta quando viu o namorado tirar o celular do bolso. — O que você está
fazendo?
— Ligando para a polícia.
— Não! — Lhe tomou o aparelho. — Eles têm infiltrados
na polícia.
Só então Thayer assimilou o que estava prestes
a fazer. A polícia não podia ajuda-los, e não sobrara muitos rostos dignos de
confiança.
— O que fazemos agora? — Perguntou.
— Vamos ligar para Nate.
Alex estava feliz em não haver outra saída. Nada
mais justo que deixar os julgadores provarem um pouco da justiça de Nathaniel
Strauss.
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Afastaram os móveis e amarraram o invasor em
uma cadeira de ferro, centrada no meio da sala de estar. Por precaução, cada
membro seu ganhou um nó preciso em uma parte do assento.
O homem acordou no exato momento em que sua
máscara era retirada. Não parecia ter mais de vinte anos com seus cabelos negros
espetados e o rosto liso e sem barba como o de um bebê. Em compensação, seus
olhos negros refletiam uma fúria desumana. Ofendia-se ao menor toque de Alex e
Thayer, como se temesse ser contaminado. Na verdade, era um bom epítome de tudo
o que se passava por sua cabeça.
— O que vocês estão fazendo? — Disparou. Fora
dominado repentinamente por suor e calafrios.
— Deixando-o confortável — Thayer quase sorriu
com desdém.
— Vão me torturar?
— Por que? Isso te excita?
— Não fale com ele — Alex preveniu.
O invasor gargalhou.
— Vocês não fazem ideia de com quem estão
lidando, não é? Se me deixarem ir embora, talvez não mencione nada disso a
nosso líder.
— Você foi rendido, não a gente — Alex
aproximou-se em passos curtos. — Nós fazemos as regras.
— Vocês tentam. Às vezes os deixamos acreditar
que venceram, mas a verdade é que sempre estaremos um passo à frente. Estamos
em todos os lugares, Alexander Bennett. Nas escolas, nos planaltos, nos
shoppings, na internet, dentro de sua casa... Você pode ter forças para impedir
a mim, mas nunca será bom o bastante para impedir a todos nós.
Alex sentiu os pelos de sua nuca arrepiarem. Quem
eram aquelas pessoas? E por que sentiam tanto prazer em cominar dor e
sofrimento? Poderia defender a si mesmo com a ajuda dos amigos, mas havia um
mundo inteiro a mercê de quem quer que fossem.
— Não sou eu quem vai impedi-los —
Respondeu-lhe ao som da entrada de Nate e Mia. — É meu irmão.
O invasor olhou para a porta a alguns metros
de distância. Nate e Mia caminhavam deslumbrantes apenas em existência, ambos
em seus melhores trajes negros.
— Olá, cavalheiros — Nate cumprimentou
enquanto se aproximava. — Sinto muito pelo atraso.
— Estávamos esperando — Alex respondeu.
Nate ignorou o irmão e fitou o invasor
amarrado na cadeira. Era atraente, precisava admitir. Principalmente pelo olhar
perverso que ostentava no rosto banhado de suor.
— Esta é a emergência?
— Vai se foder, seu viadinho patético! — O
invasor disparou.
Nate o socou no rosto em questão de instantes,
sem que pudessem impedi-lo. O jovem cuspiu sangue para a esquerda e gemeu estridente.
O som agonizante de seu nariz quebrando levou-o para outro ambiente onde tudo o
que se entendia por mundo era a dor.
— Olá. Meu nome é Nathaniel Strauss — Massageou
o punho ferido com a outra mão e enrolou as mangas do paletó. — E eu sou o
homem que irá infringir-lhe dor caso não responda as minhas perguntas — Ouviu o
sorriso de deboche da irmã atrás de si. Claro, ela estava adorando o show. — Alguma
dúvida antes de começarmos?
A resposta veio fulminante em um olhar
ameaçador.
— Muito bem — Nate continuou. — Vamos começar
pelo básico. Qual o seu nome?
— Vai tomar no cu!
Nate acertou mais um soco em seu rosto. O
jovem gritou um palavrão enquanto tentava se livrar da dor e do sangue que
escorria pelos lábios feridos.
— Vamos tentar novamente — O gêmeo de olhos
verdes quase sorriu.
— Nate, vai com calma... — Alex segurou seu
braço, em súplica. Não podiam tortura-lo, não podiam igualar-se a podridão que
lhe estavam diante.
— Isso não é nada comparado ao que fizeram com
dezenas de jovens homossexuais ao redor do país.
— Eles merecem coisa pior — Thayer desprezava
o invasor com o olhar.
— Perguntarei mais uma vez — Nate aproximou-se
de maneira intimidante. — Qual é o seu nome?
— Me mate. Apenas me mate — Disse o invasor,
com sangue escorrendo de seus lábios. — Eu não direi nada. Prefiro morrer a
deixar que vocês arruínem o trabalho do senhor.
Nate o teria socado mais uma vez se não fosse
o pedido solene do irmão. Inconsciente ele dirá muito menos, afinal.
— Então você realmente acha que Deus está
guiando a todos vocês?
— O tempo inteiro — Um pequeno sorriso brotou nos
lábios do jovem. — Ele nos escolheu para livrar o mundo das abominações e criar
uma nova era onde Jesus possa reinar sobre os homens outra vez. E não somos os
únicos, Nathaniel Strauss. Existem grupos de oposição para cada escória da
sociedade. Homossexuais, ateus, bêbados, adoradores de imagens... Qualquer
pessoa que se opor a Jesus Cristo e aos ensinamentos bíblicos serão passados à
espada. Não há como nos parar. Você
vence hoje sobre alguns de nós, mas amanhã milhares voltarão as ruas para
cumprir nosso propósito.
Nate afastou-se, bufando. Colocou as mãos na
cintura e olhou para o teto por alguns instantes. Era pior do que imaginava. Se
ao menos conseguisse um nome...
— Mia, ele é todo seu — Disse enfim, isento de
ideias.
Mia abriu caminho, sentou no colo do invasor,
puxou os pelos de sua nuca e aproximou o rosto bem próximo ao dele.
— Você acha que pode ir atrás dos meus e sair
impune? — Cravou as unhas da outra mão no pênis dele. — Acha que não podemos
revidar?
— Mia, já chega — Alex pediu. A irmã nem deu
ouvidos.
— Adivinha? Agora você é a minha vadia —
Continuou ao som dos gritos do invasor. — E eu vou até o inferno para
encontra-lo... Barry Leighton.
O invasor arregalou os olhos. Como ela sabe meu nome? — Perguntava a
si mesmo. E então tudo havia terminado. Mia bateu sua testa na dele para desorienta-lo,
levantou da cadeira, tirou um punhal do bolso e libertou-o de todas as amarras.
— Fuja — Ordenou. — E reze para que eu não o
encontre.
Barry levantou-se bamboleando e correu pela
porta. Alex e Thayer pairavam sem reação próximo a cadeira. Não havia
explicação lógica para o que tinha acabado de acontecer, ou havia?
— Como você sabia o nome dele? — Thayer foi o
primeiro a perguntar.
— Pedi para que os vigilantes informassem caso
vissem nas filmagens alguém suspeito — Nate havia tirado o paletó; agora jazia
usando apenas uma camisa social preta e elegante. — Acontece que Barry esteve
aqui várias vezes para estudar o local. Não foi difícil contratar um expert em
reconhecimento facial para nos ajudar. Vocês se surpreenderiam se soubessem a
extensão de sua ficha criminal.
Mia avançou um passo, tirando duas folhas de
papel do bolso.
— Aparentemente, nosso menino cristão já
cumpriu pena por tentativa de assassinato, porte de droga e furto nos últimos
cinco anos — Entregou os papeis nas mãos de Alex. — Vai precisar cometer
suicídio se quiser livrar o mundo da verdadeira escória.
— E por que você o socou quando não disse seu
nome? — Era a última dúvida que Alex mantinha consigo.
— Eu sabia que ele não diria — Nate confessou.
— E com a minha falsa desistência, Mia poderia fazer a sua parte. — Olhou para
a irmã. — Conseguiu colocar o rastreador em sua roupa?
— Sim — Ela tirou o celular do bolso. — Ele
ainda está no prédio. Temos quarenta e oito horas para estudar os locais aonde vai
antes de decidirmos o que fazer.
O plano perfeito deixou Alex e Thayer sem
palavras. Como Nate e Mia se transformaram em Shane West e Maggie Q do dia para
a noite? Estavam felizes pela reviravolta, mas algo ainda lhes dizia que podem
ter exagerado.
— E se tudo tivesse dado errado? E se um de
nós fosse machucado?
— Não seja a rainha do drama, little brow — Nate passou por ele. — Nós
vencemos.
— E no caminho perderam a integridade?
— Sinto muito — Mia deu meia volta. — Deixei
meu coração em São Francisco. Irmão? — E partiu triunfante.
Nate sorriu vitorioso para os que ficavam antes
de seguir seu chamado porta afora. Os irmãos de preto acabaram de conquistar
mais uma vitória. E apenas a poeira foi deixada para trás.
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Às treze horas, Nate apareceu na porta de
Jensen com uma sacola de compras e alguns blu-rays.
Deixaram as roupas na lavanderia, cozinharam o almoço com suas próprias mãos e foram
ao sofá para mais uma maratona de filmes. Entre uma pausa e outra para beijos extasiados,
conseguiram assistir um volume e meio da duologia Kill Bill. Muitas foram as dúvidas de Jensen quando a noiva decidiu
deixar sua rival para uma vida cega ao invés de ceifá-la com sua espada.
— Como assim? Ela vai deixa-la viva?
— Há coisas piores que a morte — Nate bem
sabia do que estava falando. Ou costumava saber, de qualquer maneira. Encontrara
um refúgio magnífico agarrado ao namorado e com os olhos vidrados na tela para
importar-se com lembranças ruins.
— E por que deixaram Elle matar Budd? Não
seria melhor se Beatrix matasse todos com as próprias mãos? Ou espada?
— Você não pode questionar Tarantino.
— Nem você, aparentemente — Jensen sorriu.
Nate olhou no relógio de pulso; quatro e vinte
três da tarde.
— Okay, essa é a minha deixa — Levantou-se vagarosamente,
cheio de preguiça. As pernas já reconheciam a cãibra de três horas na mesma
posição.
— Mas o filme ainda não terminou...
— Eu sei. Fiquei de jantar com Judit, ela
disse que é importante. Também preciso pegar algumas coisas na mansão.
Jensen tremeu os lábios, fazendo um ruído como
o de bolhas. Depois anuiu, dado por vencido. Parecia uma criança tentando
aceitar o inevitável.
— Okay — Bateu nas duas coxas deliberadamente.
— Virá para o jantar?
— Eu não sei, talvez eu precise cuidar de
alguns papeis na empresa — Nate já estava se arrependendo de ter tantos
compromissos. — Mas volto assim que terminar.
Jensen assentiu tristonho.
—Okay.
Sua expressão levou Nate outra vez ao velho
dilema. Até aonde deixaria que sua ascensão na Strauss International
interferisse em seu relacionamento? Quando chegava no apartamento, encontrava-o
dormindo. Quando saia de manhã cedo, era antes de acordá-lo. Comia e bebia na
rua na maioria das vezes. E quando deixava para fazer em casa, era apenas por
quinze minutos. Nem a viagem foi capaz de aproximá-los como imaginou. Então o
que seria?
— Estarei aqui, não se preocupe — Beijou-o
delicado. — Mas preciso ir agora. Prometo ligar.
— Estarei aqui.
Despediram-se com um sorriso cortês.
Nate caminhou até o elevador e desceu ao
primeiro andar. Cumprimentou o porteiro, pegou o carro e deixou o Upper East
Side. Chegou a mansão Strauss por baixo do crepúsculo rosado de um fim de
tarde. Gritou pela mãe ao adentrar, mas sem obter resposta, dirigiu-se a
cozinha. Como sempre, Judit Strauss estava atrasada.
A geladeira principal estava repleta dos
produtos orgânicos que a mãe insistia em consumir. Alguns ostentavam rótulos em
outra língua e emitiam o cheiro desagradável que mantinha o corpo em forma.
Pegou uma maçã do acervo na porta e deu meia volta para o hall.
— Alguém está em casa? — Gritava enquanto subia
as escadas. Não havia sinal nem mesmo dos empregados fuxiqueiros que adoravam
tagarelar sobre a vida dos patrões. — Judit? Alex? Mia?
Ninguém respondeu.
Caminhou até o quarto, decidido a arrumar suas
coisas antes do jantar começar. Ao abrir a porta, viu que uma grande surpresa o
esperava debaixo de lençóis molhados que fediam a comida podre. Um calafrio
atingiu-o de súbito.
— Judit? — Gritou pela mãe. Ainda não havia
ninguém para matar o silêncio.
Aproximou-se da cama em passos cautelosos e
duradouros. É apenas uma brincadeira,
tentava dizer a si mesmo. Não há nada
aqui, não há nada aqui. E puxou o lençol de uma só vez. Quentin era quem
jazia sobre a cama, com os olhos sem vida, as roupas molhadas e uma listra
vermelha que rodeava seu pescoço.
— Não! — Nate o chacoalhou para que acordasse.
— Não! Por favor!
Mas todos os seus esforços foram em vão. Não
havia mais um coração batendo, não havia mais calor em seu toque; apenas um
cadáver há dias perecendo. E aquela dor... Algo morria dentro de Nate a cada
milésimo em vão de seu choro compulsivo e dos socos que buscavam vida onde já
não havia.
— Não ele, não ele, ele não tinha culpa! —
Gritava para o universo.
Theon veio a sua mente sem ao menos tentar. Ele
era o responsável, era ele quem tinha o sangue em suas mãos. Era ele quem
deveria pagar.
— Nate? — Judit entrou às pressas no quarto.
Chegara em casa a tempo de ouvir os gritos do filho.
Nate parecia não ter notado sua presença. Palavras
paralelas rodeavam sua cabeça em busca de sentido; das mais tristes a ilusórias,
venciam aquelas onde a vingança saciaria sua sede. Ele precisa pagar, ele precisa pagar, ele precisa pagar — repetia
para si mesmo. Então já sabia exatamente o que fazer. Deixou o corpo onde estava
e correu para fora do quarto, sem notar os protestos da mãe.
Naquela noite, Theon havia desistido de um
jantar solitário no flet alugado para
jogar golfe no campo artificial improvisado em seu escritório. Respondia as
dúvidas de Camille pelo comunicador na orelha a cada tacada; até mesmo as em
vão, que necessitavam de uma nova estratégia para a próxima tentativa.
— A chegada foi marcada para o dia doze, as
dez da manhã — Camille informou. — É aconselhável que esteja presente no
aeroporto uma hora antes.
— Por que eu tenho que servir de babá para um
homem de meia idade e sua esposa que não fala a nossa língua? — Preparou mais
uma bola.
— Porque a satisfação desses senhores equivale
a um contrato milionário. Então seja gentil.
— Esta acaba sendo minha maior qualidade — A
tacada fez a bola cair diretamente na caçapa. Uma jogada perfeita.
Foi quando Nate atravessou a porta de surpresa.
— Jogue o taco e vire-se com as mãos para
cima. Agora.
Theon observou seu reflexo pela vidraça da
adega. Havia uma arma apontada para sua cabeça e um garoto desesperado prestes
a puxar o gatilho.
Jogou o taco para o lado, encerrou a chamada
com Camille e virou-se devagar com as mãos levantadas. Agora fitava os olhos da
loucura. Via medo e agonia, demência e bravura. Nate suava frio e tremia pelo
corpo inteiro.
— Esse é o seu plano? — Perguntou à Theon, a
voz trêmula. — Matar todos que eu amo?
— Não tenho controle sobre tudo o que sou, mas
garanto que estou longe de ser um assassino.
— Por que ele? Por que você simplesmente não
matou a mim?
Theon engoliu em seco.
— Como poderia mata-lo, se me encanta até nas
mais infames das crueldades?
— Pare! — Nate deu um passo à frente. Theon
estremeceu, recuando meio passo. — Não há um dia sequer que eu não me arrependa
do que fiz com você, mas agora tudo o que quero é enfiar uma maldita bala na
sua cabeça. Quer que eu peça desculpas? Me desculpe, Theon. Mas você me tirou
coisas demais para sair impune.
Theon começou a duvidar se estava mesmo em
perigo. Nate atiraria sem hesitar... Ou só precisava colocar tudo para fora?
— Você está certo — Confessou. — Uma parte de
mim ainda quer que você sinta tudo o que eu senti na noite em que me deixou. É
por isso que estou aqui, para fazê-lo pagar do meu próprio jeito. Se você
quiser que isso tenha um fim, basta puxar o gatilho — Deu um passo à frente,
ainda temeroso.
Nate permaneceu sem reação. Queria puxar o
gatilho, queria vingar Quentin com as próprias mãos... Mas seria capaz?
— Mate-me, Nate — Theon deu mais um passo. — Termine
nossa história, dê-me um pouco de paz. Amá-lo e odiá-lo dessa maneira é uma
morte lenta demais para que eu espere.
— Eu...
— Se puxar o gatilho, estará livre — Avançou
mais um passo. — E nós dois poderemos ter nosso final feliz — E deu um último
passo para ficar cara a cara com o revolver. O frio do metal gelado em seu
pescoço fez com que suspirasse profundamente. — Estou pronto.
Aos olhos de Nate, era como se ele nem
estivesse mais ali. Só via as consequências, o final feliz, e todos os relances
significativos do passado. Machucara Theon tão cruelmente que não tinha coragem
de fazê-lo outra vez, mesmo que para aliviar a dor de sua perda. Theon era
apenas outra vítima como Justin, Lexi, Quentin e Jensen. O verdadeiro culpado
segurava uma arma e buscava a justiça nula de um derramamento de sangue.
Não podia matar Theon sem matar a si mesmo.
Recuou três passos, jogou a arma no chão e
saiu correndo sem dar explicações. Theon suspirou de alívio. Passando susto,
mirou a porta com um olhar satisfeito. Tinha Nathaniel Strauss comendo em suas
mãos.
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3x14: Fuck Me in the Paris Lights (Season Finale) (23 de Maio)
Semana que vem teremos nossa Season Finale! E sim, iremos descobrir todos os detalhes sobre a noite em que Nate enganou Theon. Quem é o Nicholai que apareceu no Prólogo? Como Theon perdeu um olho? Por que Lexi estava no hospital? Ta vindo flashback bomba por aí, minha gente. E claro, muita vingança. Falaremos do hiatus depois... rs
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