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[Livro] The Double Me - 3x10: Hello World, I'm Your Wild Girl [+18]

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3x10:Hello World, I'm Your Wild Girl
 “A pista de dança nunca mente".

     Mia deixou as pressas o banheiro de sua suíte. Vestindo apenas uma leve roupa preta de ginástica, marchou até a mala aberta em cima da cama. Seu celular tocou em um instante.
— Hey — Disse ao atender.
— Estou apenas a duas bebidas de me envolver com um homem casado — Amber respondeu, do outro lado da linha. Há vinte minutos havia tomado um assento no bar solitário apenas para observar o cotidiano noturno de hóspedes argentários. — Onde você está?
— No quarto, procurando pela roupa perfeita. Mas se você pretende destruir uma família, pedirei que espere por mim.
— Você sabe que eu não faria isso sem você.
Mia arremessou uma bola de roupas para cima da cama. Entre biquínis emaranhados e produtos de higiene pessoal, encontrou as peças de roupa que jurara ter devolvido à amiga.
— O que você quer fazer? — Perguntou. Os primeiros sinais de interferência chegaram em forma de zumbidos estridentes. — Alô? Amber? Você está aí? — Tentou falar mais alto apenas por precaução. — Alô? Amber? Merda de tempestade! — E arremessou o celular na cama.
De volta a sua busca, encontrou uma blusa dourada e preta com o decote discreto que decidira usar por baixo da jaqueta. Cinco minutos bastaram para colocar o modelito, pentear os cabelos, passar maquiagem e posicionar seus brincos de ouro. Os saltos pretos vieram logo depois. E então, estava pronta para a noite das garotas.
Colocou o celular em sua bolsa de mão e abriu a porta. Cameron a esperava do outro lado, silencioso como uma sombra, e cheio de segundas intenções. Mia não podia negar que havia sido pega de surpresa.
— Senhorita Strauss, você está encantadora esta noite — O cinismo de sempre estampava-o no rosto com naturalidade. — Alguma ocasião especial?
— Posso ajudá-lo? — Mia suspirou.
O silêncio lhe deu as respostas que queria, mas só valorizava a esperteza do observador que seguira Cameron do saguão ao quarto de Mia. Escondido por trás da parede que dobrava o corredor, podia ouvir tudo o que estavam dizendo e olhar sorrateiramente sempre que podia.
— Acredito que você esteja com algo que me pertence — Cameron disse.
— Você sabe não pode fazer isso aqui.
— Eu entendo. Você teme que seus irmãos descubram sobre suas atividades ilegais. Mas se for este o caso, pedirei para superar seus traumas e cumprir com o combinado. Você não é a única fornecedora, só é a mais conveniente... E a mais fácil de lidar — Passou delicadamente um dedo nos cabelos dela.
Mia agarrou o pulso dele no ar.
— Eu cumprirei minha palavra. E então você me deixará em paz.
— Eu prometo — Uma vez livre, Cameron levantou a mão como em rendição.
Mia caminhou até sua mala e libertou o fundo falso. Tirou dois pequenos sacos brancos, fechou a mala e os entregou nas mãos de Cameron. Mesmo diante da discrição dos garotos, o observador misterioso não supria dúvidas quanto ao que estava acontecendo.
— Não foi tão difícil, ou foi? — Cameron provocou.
— Adeus, Cameron.
— Sim... Nós vemos por aí.
Cameron deu meia volta e partiu. Passou direto pelo corredor seguinte sem notar a presença do estranho. Quando chegou ao primeiro andar, viu uma grande multidão uniforme atravessando o salão rumo aos fundos. Do lado esquerdo estava a recepção, expedindo os velhos hóspedes e atendendo aos novos. E do outro um punhado de pessoas distintas que iam e vinham. Alex estava entre eles, caminhando pelo salão. Cameron reconheceria aquela nuca estressada e o andar de playboy em qualquer cidade.
— Alex, espere! — Gritou.
Alex olhou para trás. Notou o meio irmão do outro lado do salão e voltou a caminhar, sem paciência para besteiras. Cameron alcançou seus passos fazendo uma pequena corrida para que ficassem lado a lado.
— Minhas tentativas de ignorá-lo devem ter passado despercebidas — Alex disse, focado em nada mais que sua trajetória.
— Olha, eu só queria dizer que sinto muito. Sei que você pensa que estou aqui para estragar seu fim de semana, mas eu juro que não é minha intenção. Se não fosse a insistência de nossos pais, eu nem estaria aqui.
— Eu deveria imaginar que você é um péssimo mentiroso.
— Você estava lá quando nos obrigaram a sair juntos.
— Por uma noite — Alex afastou-se para desviar da mulher de óculos com o celular. — Você tem vinte e um anos, não acha que já está na hora de impor?
— Você não precisa acreditar em mim, mas não custaria nada fingir pelas próximas vinte e quatro horas. É a única maneira de sobrevivermos a Wilmington.
Alex parou. Estavam prestes a adentrar a loja de conveniências do hotel.
— Olha, eu não quero problemas — Disse à Cameron. — Obviamente é importante para nossos pais que sejamos uma família, então é isso que faremos. Não precisamos gostar um do outro, só precisamos respeitar o espaço de cada um. Se você estiver de acordo, eu também estou.
— Isso não será um problema.
— Ótimo — Alex finalmente entrou. Foi tudo tão fácil concluir que não houve surpresa alguma quando percebeu que Cameron o seguia.
A loja de conveniência de Fairmont era mais modesta do que esperava. Seu tamanho podia ser calculado como um terço de um grande salão, dividido em quatro corredores e a pequena área do caixa. Pelo menos nada parecia estar em falta. Havia guloseimas, bebidas, trajes de banho, utensílios de praia, produtos infantis, revistas atuais e kits de primeiros socorros para qualquer emergência. O álcool chamava-o pelo nome em sua imaginação.
— Que tal começarmos nossa trégua com você admitindo que se divertiu ao meu lado na última corrida? — Cameron provocou.
Alex pegou uma garrafa da prateleira e deu um ar de risos.
— Eu gosto da velocidade, não da sua companhia.
— Isso não é verdade. Você tem sentimentos não correspondidos pelo Lamborghini do meu pai — Deu dois passos adiante para acompanhar Alex.
— Isso significa que eu seu quiser dar uma volta, terei que roubar as chaves?
— Nós dois sabemos que você é puritano demais para isso.
Juntos dobraram o corredor. Alex pegou algumas guloseimas enquanto Cameron dispusera-se a pegar apenas uma bebida.
— Você não imaginava que eu gostava de velocidade até aquela noite. Mas não seria a primeira vez que me subestima — Com o olhar arrogante, Alex arrancou uma pequena caixa de preservativos da prateleira. Havia dado certo se Cameron lhe retribuíra com um sorriso sem graça.
Alex voltou por onde caminharam e jogou sua pilha de compras no balcão do caixa. Não havia uma pessoa sequer para atende-lo, nem mesmo o famoso sino de alerta ao vendedor.
— Não deveria ter alguém aqui?
— Eu acho — Cameron alongou o pescoço para ver além da porta de vidro.  — Apenas deixe o dinheiro e vamos embora.
— Só uso cartões de crédito. Você trouxe dinheiro?
— Só uso cartões de crédito.
E de repente encontraram-se em meio a completa escuridão.
— O que está acontecendo? — A voz de Alex soou alarmada.
As luzes voltaram cinco segundos depois, mas não com força total. Um dos corredores da loja mantinha-se um breu; e as geladeiras não possuíam energia o suficiente para permanecerem ligadas.
— Acho que é a tempestade — Cameron olhava para cima, para a lâmpada que aos poucos deixava de piscar.
— Okay, vamos apenas sair daqui — Alex caminhou até a entrada. De todas as peças que má a sorte poderia lhe pregar, encontrar a porta trancada poderia ser a mais cruel. — Essa não... — Tentou bater e forçar a enorme maçaneta, mas nada aconteceu. Sem a energia adequada, a trava eletrônica nunca cederia. O pânico ganhava permissão para tomar o controle a cada segundo. — Abre! Não! Alguém me ajude! Por favor!
— Alex...? — Cameron chamou, cauteloso.
— Não! Por favor! Por favor! Não! — Ele gritava, batendo incessantemente contra a vidraça.
Podia sentir o corpo tremer da cabeça aos pés; e aquele gosto de água de esgoto... Sempre o maldito gosto de água de esgoto. Às vezes até podia ouvir os ratos circulando para fugir do que lhe iria acontecer.
— Alex! — Cameron chamou; dessa vez com a voz firme.
Alex virou para ele, com a respiração ofegante. De repente sua pele ficara tão pálida quanto o branco dos olhos.
— Eu não posso ficar aqui, eu não posso... — Ele correu até o balcão do caixa, totalmente desorientado.
— Fique calmo...
— Não, eu não posso... Eu não... — Veio-lhe as lembranças que tanto tentara evitar. Brett segurava seu corpo contra o chão alagado e gritava claras ameaças antes de preparar seu corpo para a violação. E novamente a água de esgoto tentando afoga-lo...
Cameron permaneceu impotente no mesmo lugar durante toda a crise. Viu Alex acocar-se em frente ao balcão e recuperar a lucidez pouco a pouco; tão naturalmente quanto a havia perdido, sempre abrindo e fechando as mãos de maneira obsessiva. Era um mantra, Cameron tinha certeza. Algo criado para espantar a face de todos os demônios que guardamos por dentro.
— Água... — Alex pediu num sussurro.
Cameron caminhou até a geladeira mais próxima, abriu uma garrafa e entregou em sua mão. Após o primeiro gole, viu o rosto do garoto voltar a corar. O ataque de pânico ficara para trás.
— Não me olhe assim — Alex pediu após o segundo gole. A cor voltava para os lábios a medida que o corpo era hidratado. — Eu não sou louco.
— Não... Mas você tem sérios problemas.
— Minha psiquiatra chama de “Transtorno de estresse pós traumático”. Não me faz sentir menos anormal, se é isso que imaginaram.
Embora pretendesse respeitar seu espaço, Cameron estava curioso demais para evitar a indagação.
— Quer me contar o que aconteceu?
— Acho que você já sabe — Alex brincava com a garrafa em mãos sem o mínimo propósito. — Os tabloides fizeram questão de informar ao país inteiro sobre minha temporada em cativeiro. Parece que quando o filho de um bilionário é sequestrado, todos têm o direito de saber.
— Meu pai disse para nunca falarmos a respeito.
— Eu agradeço sua boa vontade, mas a negação pouco me serve de ajuda. Eu sobrevivi ao inferno, por três dias. E seis meses depois ainda não posso ficar em ambientes fechados, usar o elevador ou dormir com a luz desligada sem ter um ataque de pânico. Não sei mais quem eu sou, e agora tenho medo de tentar descobrir.
Cameron assentiu. A sinceridade nos olhos de Alex era selvagem, quase cortante. Hipnotizando-o por inteiro, poderia convencê-lo de que fazia parte da história sem que precisasse estar lá.
— É verdade o que dizem? — Perguntou. — Thayer o salvou?
— Sim... E no último instante. Gostaria de poder dizer que o amo porque lhe devo minha vida, mas sei que a nossa história começou muito antes disso. Ele é o motivo para eu tentar, não importa o quão clichê isso possa soar.
— Eu sinto muito, Alex. Não deveria tê-lo julgado como fiz.
Alex sorriu.
— Essa é a parte em que você diz que me ama?
— Quer que eu retire o que disse?
A energia foi restaurada antes que Alex respondesse. Os dois olharam para os lados e para cima instintivamente.
— Olá? — Chamou a moça de cabelos loiros do outro lado da porta.
Alex se levantou rapidamente. Pairou em pé ao lado de Cameron, de frente para a entrada da loja.
— Vocês ficaram presos aqui dentro? — Ela adentrou.
— Sim — Alex respondeu.
— Ai meu Deus, vocês estão bem?
Alex e Cameron trocaram um rápido olhar.
— Sim, sem problemas.
— Sinto muito por isso. A tempestade fez o hotel inteiro hibernar, parece que vai ser uma daquelas noites.
A resposta de Alex foi um assentir. Quando a jovem perguntou como poderia ajuda-lo, caminhou até o balcão do caixa e informou sobre as compras.
Não seria uma daquelas noites, desejou. Nunca daria a Brett esse gostinho.


As luzes continuavam oscilando quando Mia encontrou o caminho para o restaurante. Espiando com a cabeça erguida, conseguiu avistar Amber sentada no bar, do outro lado do salão. Caminhou por entre as mesas e sentou-se ao seu lado, jogando a bolsa de mão em cima do balcão. Além do jovem desolado e malvestido a alguns assentos de distância, eram as únicas em volta a enorme adega.
— Estou atrasada para o show? — Mia indagou.
— Nem um pouco — Amber sugou a bebida pelo canudo enquanto mexia no celular. — É a segunda bebida que o homem da mesa dois me envia — Um sinal com a cabeça mostrou a Mia para onde deveria olhar. Nada havia a declarar sobre o negro esbelto e indiscutivelmente atraente que as encarava. — E graças à internet, já pude comprovar que ele seria o caso perfeito de verão.
— O que é isso? — Mia esticou-se para observar a tela do aparelho.
OkCupid. A última plataforma de interação virtual com possíveis pretendentes. Olhe — Entrou no perfil do homem com apenas um clique. — Seu nome é Oliver Hazzard, tem trinta e um anos, gosta de atletismo, animais de estimação e filmes clássicos da década de sessenta.
Mia observou as fotos com atenção. Havia algo errado no pretendente perfeito.
— Por que ele tem quarenta fotos parecidas e no mesmo lugar?
— Eu não sei... E por que todo mundo está tão obcecado com o pau de selfie?
— Talvez todos precisem de um pau — Mia fez sinal para o bartender. — Dry Martini, por favor.
— Isso faz sentido... Eu acho.
As luzes oscilaram outra vez. Mia e Amber olharam para cima até que se estabilizassem novamente.
— Acho que ainda está chovendo... — Mia comentou.
— E minha internet já era — Amber jogou o celular em cima do balcão. — Ótimo.
Quando a bebida lhe foi entregue, Mia remexeu as azeitonas e tomou um gole. A garganta chamuscou com o deleite aturado de sua distração preferida.
— Não foi isso que esperavam encontrar em Wilmington, não é? — Perguntou o garçom que enxugava os copos. Não parecia ter mais de vinte e cinco anos em seu uniforme da Fairmont e com a barba mal feita tão negra quanto seus cabelos.
Mia fora pega de surpresa.
— Perdão?
— A chuva — Respondeu à ela. — Não deve ser o fim de semana perfeito.
— Não é o pior.
— Não tenho tanta certeza disso — Amber sorriu com o canto da boca e roubou uma azeitona da bebida da amiga.
— Meu amigo é dono de uma boate do outro lado da rua — O jovem continuou. — Se não tiverem medo de se molhar um pouquinho, podem chegar lá sã e salvas.
— Isso é uma cantada? — Amber parecia interessada antes mesmo de saber.
— Meu turno termina à meia noite. Só estou dizendo que seria bom vê-las por lá.
Mia e Amber entreolharam-se. A resposta estava no sorriso atrevido que desafiava a nova aventura.
Com as informações anotadas, pegaram um táxi na portaria do Fairmont e pediram para atravessar até a próxima rua. A contramão obrigou o motorista a seguir alguns metros adiante para dobrar na primeira bifurcação.
E lá estava o Eye Candy, o colírio para os olhos da juventude de Wilmington. Sua estrutura revezava as cores roxa e branca, com dois enormes pilares decorativos que lembravam queda d’água e várias pinturas de coqueiros transparentes na vidraçaria. Mia e Amber colocaram as bolsas na cabeça para proteger os cabelos da chuva e correram até a entrada. Após uma breve verificação de maior idade, encontraram-se no meio de uma multidão extasiada pela música eletrônica. Havia dançarinos exóticos em prisões de vidro, sofás, uma pista de dança para cada andar e pelo menos quatro bares, um em cada extremidade do salão.
— Bem, isso é interessante — Mia comentou, a voz abafada pelas batidas da música. Precisaria de mais alguns minutos para decidir se gostava de todo aquele exagero.
— Querida, estamos em casa — Amber a puxou pela mão. — Vem, vamos encher a cara!
Juntas correram ao bar mais próximo, que ostentava a cor vermelha em neon. Amber inclinou-se no balcão como se quisesse beijar a adega... Ou o bartender... Ou metade das pessoas na pista de dança que não deixaram de notar sua calcinha a mostra. Mia quase se sentiu culpada por olhar na mesma direção, mas preto realmente era uma cor fabulosa.
— Duas vodcas com gelo, por favor — Amber pediu.
— Devemos ligar para os meninos?
— Claro que não. É a noite das garotas, lembra?
Mia estava prestes a responder quando um casal beijoqueiro a atropelou em sua trajetória.
— É a noite da orgia — Disse.
— Melhor ainda. Toma! — Amber ofereceu-a uma das bebidas recém servidas. — Deixe-me orgulhosa.
Mia tomou o maior gole que sua garganta permitia. Amber fez o mesmo, quase queimando os lábios com o limão.

Rabiosa by Pitbull/Shakira on Grooveshark

— Acho que encontrei o amor da minha vida — Mia encarava a vodca com o olhar que guardava para os amantes.
— Ai meu Deus, eu não acredito que estão tocando a minha música! Vem dançar!
Amber deixou a bebida no balcão e puxou-a pelo braço. Quando percebeu, estavam no meio da pista de dança ao som de Shakira. O desconforto no olhar de Mia era evidente.
— O que? — Amber perguntou com um sorriso. — Não sabe dançar?
— Eu sei dançar — Mia afirmou. Só precisava descobrir o que realmente afetava seu sistema sempre que Amber estava por perto.
— Então prove.
Mia aceitou o desafio sem hesitar. Puxou-a pela cintura e deslizou devagar o quadril, perto o suficiente para lhe causar arrepios. Imposta a continuar, Amber moveu o corpo sensualmente para se adequar as curvas da amiga. A pista de dança tornou-se uma selva libertina, com homens e mulheres à espreita para roubar um pedaço da atração principal. Mia e Amber eram as donas de todos os seus olhares, e de tudo o que mantinha-se perto o suficiente para ser ofuscado.
A música chegou ao fim muito em breve, mas a noite estava apenas começando. Mia e Amber tiveram a chance de se divertir com incontáveis estranhos enquanto permaneciam nos holofotes da pista de dança. Pegaram números, marcaram encontros, compraram duas garrafas de vodca para cada uma e dançaram até o corpo implorar por descanso.
Duas horas depois, deixaram a boate e percorreram a costa em meio a tempestade. As risadas sem sentido e a falta de equilíbrio já haviam sobressaído as suas vontades, mesmo que ainda não pudessem entorpecê-las do frio que rajava em pequenas gotículas.
Ainda risonha com os gritos de comemoração, Mia avistou uma humilde barraca de cerveja a alguns metros de distância. Puxou Amber pelo braço e correu ao seu lado até estarem totalmente protegidas pelo toldo verde. A velocidade foi tanta que acabaram caindo na areia e se escorando no balcão, sem forças para fazer qualquer coisa se não gargalhar.
— Ai meu Deus... — Amber tentou mudar de posição.
— Eu não consigo... — Mia gargalhou. Tinha certeza que seu estado não-sóbrio era o único motivo para estar tão contente.
— Isso vai doer pra caramba amanhã de manhã.
— Não consigo sentir minhas pernas.
E mais uma sessão de gargalhadas sucedeu à conversa. Mia tomou um gole na boca da garrafa enquanto Amber atirava os saltos para longe.
— Ah, graças a Deus — Suspirou, massageando os pés.  
— Estou com fome. Podemos pedir uma pizza?
— Você tem dinheiro?
— Acho que o cara com o colar havaiano roubou o meu troco.
Amber acompanhou sua gargalhada.
— Ele era bonitinho.
— Eu prefiro o loiro com roupa social. Ele tinha aquelas covinhas — Mia tentou imitar usando o indicador e o polegar.
— Isso se chama “cara de bunda”.
— Mas ele tinha!
E mais gargalhadas vieram à tona. Sumiram do mesmo jeito que chegaram, e trouxeram solidão assim que foram embora. Amber jogou sua garrafa vazia para o lado e deitou a cabeça no ombro de Mia. Gostava daquele cheiro de cereja e maquiagem que emanava de seus cabelos molhados; era quase tão acolhedor quanto a chuva a derredor... Ou o abraço de seu pai.
— Queria que fosse sempre assim... — Amber sussurrou. Sem querer, seus pensamentos acabavam tomando forma em palavras.
— Assim como?
— Aqui posso ser quem eu quiser. Mas em menos de vinte e quatro horas voltarei a ser Amber Foster, a aluna que teve um caso com o professor e foi abandonada pelo pai. É uma boa razão para ficar sozinha em casa sábado à noite.  
— Não diga isso — Mia retrucou. — Você sabe que é uma mulher linda, forte e independente.
— Ainda sobrevivo com o dinheiro da minha família.
— Neste caso você é uma mulher linda e forte. E qualquer homem que preze o sexo feminino teria sorte em encontrá-la.
Amber levantou a cabeça e olhou para ela, com um meio sorriso no rosto.
— Você acha?
— É claro — Mia confirmou. — Você estava lá dentro quando aqueles abrutes nos cercaram. Fico surpresa em saber que não nos seguiram até aqui.
— Mas foi por sua causa, não minha.
— Não, tenho certeza que foi por causa da jovem que quase engoliu o copo de tequila.
Ouvindo a risada de Mia, Amber acabou se entregando a piada.
— Eu não sei, eu só... Não estou pronta para deixar essa noite ir embora. Só quero ser a Nova Amber por mais algumas horas e cometer loucuras.  
— Que tipo de loucura?
— Eu não sei...
Amber fitou o horizonte, pensativa. Uma ideia impulsiva tinha acabado de surgir-lhe a mente a medida que desenhava o sorriso malicioso em seu rosto.
— Mia? — Chamou. Esperou-a virar, prendeu a respiração e lhe roubou um beijo apressado.
Mia se afastou instantes depois, confusa, e completamente extasiada pelo sabor adocicado de seu batom.
— O que você está fazendo? — Eu queria, dizia a si mesma, então por que parei?
— Isso é louco o suficiente para você?
— Você nunca beijou uma mulher? — Mia estava surpresa.
— Não... Quer fazer de novo?
Mia sorriu de volta com o mesmo interesse e avançou para o próximo beijo. Seus lábios delicados moveram-se em perfeita sintonia com o deslizar de suas mãos para o evanescer do frio. Havia chuva, mas algo provara ferver com seus corpos colados e o coração acelerado. Parece certo, pensaram, sem que precisassem dizer para estar cientes.
— Polícia, paradas! — Gritou o homem que se aproximou com uma arma nas mãos.
Mia e Amber olharam para frente, assustadas. Atrás vinham mais seis homens uniformizados e com armas apontadas em sua direção.
— O que é isso? — Mia perguntou em meio ao alarido.
— Venham conosco! — Gritou o segundo policial mais próximo.
Os outros formaram duplas para levantá-las do chão e escolta-las para fora da barraca.
— Não fizemos nada! — Amber exclamou no momento exato em que um dos oficiais tirava quatro pacotes de cocaína dos bolsos de Mia. — O que? O que é isso?
Mia não teve tempo de responder. Foi escoltada junto dela a viatura mais próxima enquanto amaldiçoava a si mesma. Acontecesse o que acontecesse, não iria deixar Amber pagar por seus erros.


Activate My Heart by Natalia Kills on Grooveshark

Sem mais ligações a realizar, Nate parou no restaurante para uma breve refeição. Pediu salmão com legumes anchovados e cebolas com creme de bacon para o prato principal, acompanhados apenas do corriqueiro copo de água.
Estava livre meia hora depois, e pronto para passar a noite ao lado de Jensen. Pagou a conta, limpou a boca com o guardanapo e partiu. Seu celular tocou no bolso do paletó enquanto ele caminhava. Agora você funciona, pensou. A ironia não deixava de satisfazer seu humor.
— Alô? — Disse ao atender.
— Olá. Me chamo Nicole Lambert — A voz feminina respondeu. — Estou ligando em nome de Timothy Wilcord para informar sobre o cancelamento da reunião de posse do Hotel LeFevre, marcada para amanhã à noite.
— Perdão?
— Um dos antigos proprietários entrou com uma ação judicial e exigiu que as negociações fossem concluídas com antecedência para validarmos exclusivamente a oferta de seu comprador. Estaremos enviando por e-mail detalhes das negociações nas próximas vinte e quatro horas para maiores esclarecimentos.
Nate contou até cinco mentalmente.
— Você só pode estar de brincadeira...
— Senhor, só estou cumprindo ordens.
Nate parou de caminhar assim que chegou ao hall. Não precisava ir muito longe para entender o que estava acontecendo. Viu Theon em frente ao hotel, depois das portas de vidro, apertando mãos com meia dúzia de empresários de terno e gravata. Quando notou a presença de Nate, fitou-o com superioridade e satisfação.
— Senhor? — Nicole chamou ao celular. — Senhor, está aí?
Nate não respondeu. Nada conseguia notar em meio a ruína de sua ambição. Theon entrava na limusine junto dos outros empresários, e com ele levava tudo o que havia construído.
Assim que a chamada foi finalizada, Nate sentiu o vibrar de uma nova mensagem chegando.
“LeFevre é meu. Obrigado por isso”.
Theon sorriu uma última vez antes de partir com a limusine. Nate tinha razão; a vingança era doce como a justiça nunca foi.

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3x11: Is That Even Legal In Our Country? (25 de Abril)
Peço desculpas pela demora no capítulo de hoje. Parece que a bateria do meu notebook está morrendo aos poucos e eu terei que trocar muito em breve. Não sei se The Double Me vai atrasar, mas farei de tudo pra cumprir a grade de capítulos todo sábado. Aliás, faltam 3 semanas para a morte da temporada!
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