[Livro] The Double Me - 3x07: Riding In Town Cars With Boys [+18]
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3x07:Riding in Town Cars with Boys
“Rumo a perdição, estaremos a mil por hora”.
A mesa fora aposta a serviço de Alex e Judit.
Com os aperitivos recém trazidos pelo garçom do Le Fair, poderiam dar início ao primeiro café da manhã exclusivo
para mãe e filho caçula.
— Obrigada — Judit agradeceu o bom dispor do
garçom. Alex fez o mesmo logo em seguida, talvez não tão interessado. — Estou
tão feliz por ter aceitado meu convite... — Tocou na mão do filho em cima da
mesa.
— Eu também — Alex sorriu enquanto servia-se.
— Mas estou um pouco curioso. Esta é uma ocasião especial?
— Na verdade, não. O trouxe aqui para
conversamos sem interrupções.
— Algo errado?
— Não — Judit garantiu. — É sobre Frank.
Alex assentiu. Muita coisa lhe passou a mente
durante a pausa dramática de sua mãe. Entre elas, a iminente separação do casal
após a cena deplorável de seu irmão no jantar de feriado. Mas isso não explicava
porque Judit acabara de dizer que nada estava errado.
— Ele está preocupado com Cameron — Disse ela.
— A noite passada deixou claro que vocês já se conheciam e não tinham uma boa
relação.
— Eu não o conheço. Quer dizer, ele era o
garçom do restaurante onde marquei a entrevista com o Reitor da Yale e tudo o
que eu sei é que ele estava tentando me usar para ser despedido.
— Sim, Frank o obrigou a trabalhar em um dos
restaurantes de sua franquia quando ele fez vinte e um anos. Algo sobre
aprender o valor do dinheiro.
— E Frank sabe que ele está disposto a tudo,
menos aprender? — Alex tomou um gole de cappuccino para mascarar a indireta. As
táticas de seu irmão provavam ser infalíveis a cada tentativa, precisava
admitir.
— Frank é o homem por trás do suborno
fornecido aos tabloides para manter as imprudências de Cameron em segredo.
Assim como Nate, ele tem demonstrado muita competência em protagonizar
escândalos. É por isso que precisamos da sua ajuda.
— Não sei se entendi.
A ingênua relutância de Alex fez Judit
repensar todas as suas palavras. Ele não era frágil como imaginava, e não
aceitaria um pedido que ofendesse sua moral e tudo no que prostrou-se a
acreditar.
— Frank teme que uma desavença entre nossos
filhos possa comprometer a relação que construímos; e os deuses sabem que já
está por um fio depois do último jantar de 4 de Julho. A única coisa que
queremos é fazer isso dar certo ao lado das pessoas que amamos. Acha que pode
esquecer o que aconteceu e dar mais uma chance a Cameron?
— Eu... — Alex precisou hesitar. Não por
indecisão; por temer as consequências que viriam a partir do momento em que
decidisse fazer a coisa certa. — Eu acho que sim. Se for importante para você e
Frank...
— Obrigada, querido — Judit acariciou a mão do
filho, cheia de sorrisos. — Eu aprecio muito o esforço que você está fazendo
para lidar com tudo isso. Preciso retribuí-lo de alguma maneira.
— Você pode começar não me colocando para
dormir com Cameron no mesmo quarto.
Ela acompanhou seu sorriso zombeteiro com uma
risada alegre. Convencê-lo a ajudar não fora tão difícil quanto seu pessimismo
esperava. Difícil mesmo seria convencer Nate a aceitar que apenas ele estava
satisfeito com a formação original da família Strauss.
— Com licença — Alex chamou o garçom que
conversava na mesa ao lado; era o mesmo que os atendera cinco minutos atrás. —
Lembro-me de pedir pão integral, não essa massa gordurosa que está no meu
prato.
— Oh... — O rapaz mal sabia o que dizer. — Eu
sinto muito — Pegou o prato de cima da mesa e preparou sua deixa. — Eu devo ter
me enganado...
— É claro, porque é muito difícil servir uma
mesa... — Alex tomou um gole de seu cappuccino enquanto o rapaz seguia de volta
para a cozinha.
Judit estava confusa em pensamento. Não sabia
se Nate havia colocado novamente as lentes de contato para confundi-la ou se
havia algo errado com o dia de Alex. De qualquer maneira, decidiu sorrir; e
assim esqueceu todos os motivos de sua anódina má impressão.
— Alex, eu estava pensando... — O toque do
celular do filho a interrompeu.
Alex deixou o copo de volta na mesa e olhou
discretamente para seu bolso. Uma nova mensagem de Thayer havia chegado para
fazer companhia as outras quatro que Alex não respondera.
— É Thayer, desculpe — Avisou a mãe.
— Tudo bem, você pode atender.
— Tem certeza?
— Sim. Continuarei aqui quando terminar.
Alex assentiu. Levantou-se da cadeira com o
celular na orelha e caminhou alguns passos em direção a janela do restaurante.
— Hey, estou aqui — Disse ao entender, a voz
apressada.
— Jantar. Você e eu. Hoje a noite. Meu
apartamento.
— Qual a ocasião? — Alex podia ouvir o barulho
de motor e buzinas do outro lado da linha. Thayer parecia estar no meio de um
engarrafamento quando decidiu fazer mais uma tentativa de comunicação.
— Fome. Todos os seres humanos devem jantar.
Alex sorriu abobalhado. Não havia mais motivo
para perguntar do que se tratava.
— Conte comigo — Respondeu em aceitação.
— Venha as sete. E traga algo congelado se
acontecer algum imprevisto na minha cozinha.
— Acho que essa é a nossa tradição — Alex
olhou de relance para trás. Judit parecia estar fazendo um novo pedido ao
garçom... Ou demandando a conta por causa de sua demora. — Preciso ir agora, eu
te amo.
— Eu te amo. Te vejo no jantar.
Alex voltou para a mesa no momento em que o
garçom se retirava. O olhar amedrontado que recebeu acabou despertando um
estranho sentimento de culpa. Infelizmente era tarde demais para pedir
desculpas e cedo demais para lidar com drama.
— Ele escarrou no meu prato, não é — Perguntou
a Judit.
Ficaram felizes em concordar que era apenas
uma brincadeira.
൴
Nate acordou com uma furadeira industrial
latejando em sua cabeça. Abriu os olhos pouco a pouco e fitou os primeiros
indícios de que não estava em uma calçada. Decoração branca, móveis novos,
vídeo games e uma enorme TV 3D. Jensen era o único que se importava o
suficiente para leva-lo a seu apartamento mesmo depois de estragar seus
sapatos.
“Os sapatos...” — Foi a primeira coisa que lembrou. E o ponto
de partida para recuperar grande parte das memórias da noite passada. Algo lhe
dizia que havia um jantar e seu novo meio irmão era mais bonito do que deveria.
— Você está acordado — Jensen apareceu na sala
de estar. Usava um shorts de caminhada e uma camiseta suada.
— Por que você está gritando? — Nate fechou os
olhos e levou uma mão a testa. Até o mais simples dos movimentos irritava o
batuque em seu cérebro.
— Não estou. Mas você precisa de um suco de
cenoura com beterraba para curar essa ressaca.
Jensen caminhou até geladeira atrás do balcão.
Tirou de lá um copo de quinhentos ml com seu preparo especial e entregou ao
namorado. Nate só havia reparado que estava deitado no sofá da sala quando
precisou se erguer.
— O que tem aqui? — Fitou o copo com repulsa.
— Nada do que você gosta, tudo o que vai
fazê-lo melhorar.
— Parece uma bebida para Alex.
— Apenas beba.
Nate obedeceu. O primeiro gole quase
desencadeou uma erupção indesejada. O gosto ruim na boca afirmava que muitas
delas aconteceram na noite passada.
— Jesus Cristo, você pôs a maldade nesse copo?
— Sim,
e esse é o seu castigo por não beber com moderação — Jensen ouviu dois baques
na porta. — Eu volto já — E partiu para atender.
Enquanto o namorado dialogava com a visita
inesperada, Nate deixou o copo de gororoba em cima da mesinha de centro e
apoiou o corpo sobre os braços para colocar os pés no chão. A boa notícia era
que conseguiria andar quando fosse necessário. A má notícia era que precisaria
sair do conforto do sofá de Jensen muito antes do que esperava.
— Nate, você tem uma visita! — Jensen informou
aos gritos.
— Diga que estou indo tomar banho.
— Você sabe que pode mentir melhor, Nathaniel
Strauss — Quentin apareceu de surpresa, acompanhando do velho sorriso cortês
que nunca aprendeu a deixar de lado.
Nate precisou repetir seu nome como
interrogativa duas vezes antes de constatar que não era uma ilusão. E não
satisfeito com a certeza, correu para o abraço apertado que estava devendo ao
velho amigo.
— Hey — Sorriu ao se afastar. — O que você
está fazendo aqui? Quer dizer, é bom ver você, não entenda errado.
— Tudo bem — Quentin respondeu. — Na verdade,
fui encarregado de fechar um grande negócio em Nova York e aproveitei para
fazer uma visita.
— Então seu pai...?
— Sim, ele finalmente deu o braço a torcer.
Você está olhando para um diplomata agora.
Nate o olhou de cima a baixo. Os cabelos
estavam mais claros, a expressão mais serena e a barba bem definida. O paletó
importado dava um toque especial ao look
de jovem empreendedor que impressionaria seu pai. Era bom saber que o
homofóbico Doug Cavanaugh havia desistido de sua guerra contra a sexualidade do
filho para lhe dar uma chance, no fim das contas.
— Isso é ótimo — Nate abriu um sorriso
amigável. — Você pode me contar tudo no jantar de hoje a noite. Comida italiana
ou tailandesa?
— Na verdade, o jantar com o meu cliente é
hoje a noite. Mas eu poderia usar seu conhecimento em atualização de software para
impressionar Fassbender.
Nate ficou na defensiva. Jensen não sabia, mas
Fassbender era o código de emergência que Nate e Quentin costumavam utilizar
quando eram aliados. Isso significava que precisavam falar a sós sobre algo
importante. Provavelmente do tipo que Jensen não poderia saber.
— Amor, você pode nos dar um minuto? — Nate
pediu. — É hora de falar sobre negócios.
— Tudo bem — Jensen assentiu, já traçando seu
caminho até a porta.
Com uma parede entre eles e Jensen, Quentin
sentiu-se livre para revelar sua expressão abismada.
— Eu não acredito que você domesticou Jensen
McPhee...
— É uma boa maneira de definir nosso
relacionamento — Nate cruzou os braços. — Mas você não está aqui para isso.
— Theon está na cidade. E o meu melhor palpite
é que você já sabe disso.
Nate suspirou. Deu dois passos para o lado e fugiu
dos olhos de Quentin.
— Ele foi dizer olá para mim no Cassino — As
memórias ainda estavam vívidas dentro de sua cabeça. Lembrava da musica, do
cheiro e da maneira como as luzes do dark room incomodavam seus olhos. — Eu o
ameacei.
— E ele está um passo a frente — Quentin o
entregou a pasta que carregava. — Com a presidência em suas mãos, muitos
investidores revogaram seus contratos com a Strauss International. Haveria uma
crise de demissões em pelo menos três setores diferentes se Theon não tivesse
entrado como acionista. O valor da multa da quebra de contrato dos desistentes
nem se compara ao valor do seu investimento.
— 20%, não é? — Após uma leitura minuciosa,
Nate lhe devolveu a pasta.
— Você conseguiu o que queria, mas fez dezenas
de inimigos pelo caminho. Deveria estar preparado para o que está por vir.
Nate sentou-se no sofá maior atrás de si, com
os cotovelos sobre os joelhos e os olhos preocupados.
— Ainda tenho o poder majoritário — Respondeu
a Quentin.
— Por enquanto. Com 20%, Theon terá acesso e
credibilidade. Seus acionistas podem ser o alvo.
O silêncio caiu sobre a sala do mesmo jeito
que Nate sentiu os problemas caindo sob seus ombros. Se o plano de Theon era usurpar
a Strauss International e dependia de seus acionistas, tudo o que precisava
fazer era garantir que a maioria ficasse ao seu lado. Não através de chantagem;
através de interesses recíprocos que poderiam render-lhe a estabilidade de seu
novo cargo e impedir a rotulação negativa da mídia sobre a empresa. Nada que
uma boa pesquisa não pudesse elucidar.
— Tudo bem — Nate assentiu. — Se Theon quer
brincar, eu não recusarei. Mas agora é a minha vez.
Quentin conhecia muito bem aquele sorriso. E
muito em breve, Theon também teria seu ar da graça.
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Theon preparou mais uma tacada. Relaxou os
braços, fitou atentamente o alvo e disparou. A bola atravessou vários metros pelo
gramado até alcançar a caçapa mais distante, seguindo estritamente o trajeto que
ele precisava para pontuar. Uma verdadeira jogada de mestre; como se houvesse
público para impressionar.
— O mercado de ações é como um tanque de
tubarões, Camille — Ele sussurrou através do comunicador na orelha.
Camille era uma das poucas pessoas que tinham
direito a interromper suas sessões de golfe. Cuidava de suas reuniões e seus
investimentos como um membro da família, sempre com as melhores soluções para
evitar perdas no sistema monetário.
— E se o Senhor Baldish não está satisfeito
com a repercussão de seu investimento... — Ele continuou enquanto preparava
outra bola. — Tenho certeza que encontrará bons resultados limpando mesas em Chicago.
Mais uma tacada brilhante. Dessa vez em
direção a caçapa com a bandeira verde, um metro a frente da anterior.
— Ainda estou em forma — Disse a si m mesmo,
ou talvez para o universo.
— Ele disse que usaria termos legais para...
— Termos legais? Eu só conheço um, e chama-se
contrato. A não ser que sua assinatura perca a validade, eu diria que o Senhor
Baldish acabou de perder uma causa antes mesmo de inicia-la.
— Sua primeira vitória? — Nate aproximou-se
sorrateiramente. — Estou impressionado.
Theon virou, o olhar admirado e desdenhoso. Deveria
saber que de todos os interessados em suas conquistas, Nate seria o primeiro a
atacar.
— Preciso ir, Camille — E com apenas um toque
desligou o comunicador.
Agora eram apenas ele e Nate. E houve um tempo
em que isso era tudo o que sempre sonhou...
— Eu estava me perguntando... — Disse Nate, fazendo
bom uso de seu cinismo adorável. — Como a economia de Nova York tornou-se tão
promissora aos olhos de um Príncipe Francês que pode conquistar o mundo?
— Se você está aqui, quer dizer que aprendeu a
ler os jornais — Theon disparou mais uma bola pelo campo. Dessa vez não
precisou de concentração para acertar a próxima caçapa. — Estou orgulhoso de
você, Nathaniel.
— Não estamos aqui para falar sobre os meus
feitos. Aparentemente, você tem dado muito mais orgulho a sua nação como eu
nunca conseguiria. Salvar a Strauss International de um surto de demissões e
ganhar um lugar no conselho? Acho que você já pode riscar isso da sua lista de
ambições.
Theon deu um ar de risos, colocando novamente
outra bola no lugar de disparo.
— Você tem uma maneira bem peculiar de
demonstrar gratidão. Afinal, não é graças ao novo presidente que pais de
família puderam manter seus empregos.
— Tudo começou com a quebra de contrato de
acionistas homofóbicos que não admitiam um homossexual na presidência — Nate considerava
uma de suas melhores respostas. Tinha certeza que continuar pelo mesmo caminho
era a chave para realizar seu grande objetivo.
— Tudo começou com uma petulante armação que
difamou Simon Strauss e deu o poder de milhões de dólares a um garoto
inexperiente de apenas dezenove anos. Nenhum acionista em plena consciência do
mercado atual pode se dar ao luxo de deixar sua fortuna em mãos erradas. Você
faz um ótimo trabalho no seu mundinho adolescente onde foi eleito o imperador,
mas na vida real, aconselho que deixe os adultos cuidarem dos negócios.
Nate mascarou seu vacilo com o mesmo sorriso
presunçoso com que tinha chegado. A única coisa que o impedia de tirar o terno
e resolver as pendências como um homem de verdade era a sua próxima jogada.
Theon deveria estar inteiro quando descobrisse que Nathaniel Strauss sempre
estará um passo à frente de seus inimigos.
— Tome cuidado, Theon — Murmurou. — Eu estou
por trás do contrato milionário com a Cavanaugh Industry que deixou nossos
acionistas muito felizes. Isso quer dizer que seus 20% só garantirão seu lugar
no conselho para assistir os meus feitos.
— Você está blefando.
Nate tirou o celular do bolso.
— Você vai descobrir que está enganado em
três, dois, um...
E no fim da contagem, ambos ouviram o celular
de Theon tocar em seu bolso. Era uma mensagem informando a reunião convocada
por Nate no começo da manhã.
— Discutiremos os termos com o representante
Cavanaugh ainda esta tarde — Nate informou. — Pelo bem de seu investimento,
sugiro que compareça.
Theon estava indeciso demais para dizer
qualquer coisa. Sua expressão indicava que agora era ele quem gostaria de
resolver as pendências feito um homem de verdade.
— Eu estarei lá — Permitiu-se dizer.
— E eu mal posso esperar.
Uma vez entregue o recado, Nate partiu.
Caminhou pelo enorme campo de golfe até as instalações de entrada onde a
maioria das pessoas permanecia inquieta. Só então sentiu-se à vontade para
arrancar do rosto a expressão vitoriosa. Não havia nada primordial em vencer
Theon em seu próprio jogo depois de tê-lo transformado em um jogador. Foi sua
ganância quem deu a ele as peças que precisava para elaborar sua jogada, e era
a ganância quem estava criando uma nova disputa.
Nate caminhou até o bar, sentou-se em uma das
cadeiras disponíveis e ordenou uma bebida. Não era tão cedo para uma dose se
suas lembranças ao lado de Theon já haviam chegado. Mais precisamente uma
delas, referindo-se a época onde tudo parecia simples demais para ser verdade.
Era outono; as folhas rodopiavam ao silvar dos ventos nas expeças ruas de Paris. Nate havia tirado uma pequena licença de sua obsessão com o fitness para aventurar-se em uma exposição de arte ao lado de Lexi, sua fiel companheira. Nada havia a declarar sobre mais uma noite rotineira até ser abordado pelo primeiro estranho interessante.
— O que você acha? — Theon perguntou, parado
ao seu lado.
Nate havia passado os últimos quinze minutos observando
a pintura abstrata a sua frente enquanto degustava o champanhe oferecido pelo
garçom.
— Previsível — Respondeu, sem se preocupar em
olhar para o estranho. — As referências renascentistas poderiam ser melhor
aproveitadas.
— Depende do seu ponto de vista. Talvez o
autor só quisesse expressar as ideias simplistas de seu cotidiano através de
tons primários e abstratos. É algo a se pensar.
— Por que? Foi você quem pintou? — Nate debochou.
— Sim.
A resposta de Theon trouxe um sorriso
constrangido aos lábios de Nate. E finalmente ojovem sentiu-se a vontade para
dar-lhe atenção.
Theon era exatamente tudo o que Nate
acreditava estar longe de uma exposição de arte. Parecia feito especialmente
para humilhar seu ex namorado e fazê-lo repensar todas as suas aventuras sem importância
dos últimos meses... E como não se perder naqueles olhos cor de jade?
— Theon De Beaufort — Ele estendeu a mão.
— Nathaniel Strauss — Nate respondeu ao
cumprimento. Sabia que só podia elogiar o sotaque britânico de Theon dentro da
própria cabeça. — E eu sinto muito por isso.
— Tudo bem. Eu adoro abordar as pessoas
durante a exposição dos meus trabalhos. A maioria não sabe quem eu sou, por
isso tende a priorizar a honestidade.
— Se servir de consolo, eu só estava
desenvolvendo minha antipatia americana a respeito de estranhos. Não há nada de
errado com a sua pintura.
— É tudo o que eu quero ouvir de meu pai. Viu?
Não é tão difícil dizer.
Nate já parecia mais tranquilo. Uma piada com
resquícios de veracidade sempre dava certo em seus flertes mais promissores.
— Deixa-me adivinhar. Você foi criado para
assumir os negócios da família, não para brincar de Picasso com seu precioso
tempo?
— Não é tão simples — Theon respondeu. — Acredito
que teria o apoio incondicional de meu pai se decidisse virar cantor de country
ou ator de cinema. Mas artista? Repetindo suas exatas palavras, “perdeu a importância
no século passado”. Uma exposição vazia igual a esta pode provar todos os
pontos de vista que eu me recusei a validar.
— Pense pelo lado bom. Não há nenhum americano
arrogante desvalorizando seu trabalho — Nate ironizou.
— Eu posso pensar em um.
Uma troca de olhares e os dois se encontravam
na mesma sintonia. Se Nate pudesse arriscar um palpite, diria que o artista
britânico de olhos verdes a sua frente não estava interessado apenas em suas
críticas construtivas.
— Theon, é hora da foto! — Nate ouviu uma voz
feminina gritar ao fundo.
Theon olhou para trás por dois segundos. Camille
já estava preparada junto de dois convidados para a foto principal do evento.
— Eu preciso ir. Mas foi um prazer conhece-lo,
Nathaniel.
— Igualmente, Theon — Nate assentiu enquanto
ele ia embora.
Fitou a pintura novamente por dois segundos e
Theon já estava de volta.
— Diga agora se estou passando dos limites
fazendo isso, mas você gostaria de tomar alguma coisa quando a exposição
terminar?
— Cara, eu não faço isso... — Nate olhou para
Lexi no final do salão, ainda se engraçando com o homem que encontrara na
entrada. Talvez não fosse uma má ideia aproveitar as oportunidades que aparecem
em seu caminho. Sua viagem para Nova York estava longe demais para que algo
desse errado. Ou pelo menos, era com isso que ele contava. — Mas por que não?
— Podemos nos encontrar as onze no bar aqui em
frente?
— Está marcado.
— Acho que te vejo depois, então — Um último
sorriso fez a valer a deixa de Theon.
E com a chegada de sua bebida, Nate
despediu-se de suas lembranças. Tomou a dose por completo em apenas um gole e
ordenou mais uma ao garçom. Seria uma longa manhã para o ego frágil da família
Strauss.
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Judit encontrou Alex sentado na poltrona
lateral da sala de estar junto de seus inseparáveis fones de ouvido. O bom
humor em que se encontrava seria capaz de ignorar seus pés em cima da mesa como
um tratado de paz por tudo o que foi decidido no café da manhã.
— Alex! — Ela chamou. Frank e Cameron
esperavam logo atrás.
Sem obter resposta, Judit chamou pelo filho
mais duas vezes até se convencer de que não conseguiria tirá-lo de seu próprio
mundo apenas chamando seu nome.
— Alex! — Puxou um lado do fone de ouvido.
— Oi — Alex arregalou os olhos. Notou Frank e
Cameron no final do cômodo, depois voltou o olhar assustado para a mãe.
— Estamos indo. Tem certeza que está tudo bem?
— Sim. Vocês podem ir — Alex nem precisou
pensar. Nunca deixaria que a mãe arruínasse seu jantar romântico pelo medo de
deixar o filho sozinho em casa.
— A propósito, quando você entregará as
chaves? — Cameron perguntou ao pai.
Frank tirou as chaves do bolso e ergueu na
altura do peito. Antes que o filho lhe pudesse as mãos, afastou para o lado em
nome de um último aviso.
— O que é um Lamborghini?
— Uma arte mobilística que facilita nosso
transporte com segurança e praticidade — Cameron respondeu com a voz pesarosa.
— E para que ele não foi feito?
— Para fumar com os amigos e comer fast food — Seu desconforto só aumentou
quando percebeu que Alex estava adorando o espetáculo.
— Aqui está — Frank arremessou as chaves para
o filho enquanto caminhava até Judit. — Não faça com que eu me arrependa.
— É apenas uma noite rotineira de boliche com
os amigos. O que poderia dar errado?
— Já ouvi isso antes — Frank deu o ultimo
olhar de alerta ao filho enquanto caminhava em direção a porta.
Judit atentou para as últimas palavras de Cameron.
Parecia o programa ideal para que Alex colocasse em prática o que haviam
conversado de manhã.
— Noite de boliche? Então por que não leva
Alex com você?
A única coisa que Alex e Cameron tinham em
comum, naquele momento, era o olhar constrangido. Ambos sabiam que apenas a
morte os livraria do que estava prestes a acontecer.
— Na verdade, nós já temos todos os times
formados... — Cameron disse.
— Eu tenho um compromisso inadiável hoje a
noite, acho que vocês entendem... — Alex rebateu.
— Sim — Cameron concordou. — Talvez a gente
tenha que deixar pra próxima.
Judit sabia exatamente o que estava
acontecendo. Talvez eles só precisassem de um pequeno empurrão.
— Alex...?
Era o tom de voz que Alex temia. Era o olhar insistente
que Alex não conseguia vencer. De repente tudo girava em torno da promessa que
fez a Judit e aos sacrifícios que todos devem fazer em nome da família.
— Eu adoraria, Cameron, se estiver tudo bem
para você — Disse enfim.
Cameron parecia ter se dado por vencido após
vê-lo fazer o mesmo. O olhar curioso do pai dizia muito sobre as decisões que
costumava tomar publicamente.
— Acho que posso encaixá-lo no meu time.
— Perfeito! — Judit sorriu, satisfeita. —
Agora vamos antes que nos atrasemos.
Frank ajudou-a com o casaco e caminhou ao seu
lado até a porta. Cameron e Alex entreolharam-se novamente antes de decidirem
seguir seus pais pelo hall da mansão.
— Primeiro as damas — Cameron estendeu a mão.
Alex apenas seguiu adiante, ignorando a
provocação. Com um pouco de sorte, talvez Cameron o matasse antes da noite
terminar.
൴
Uma eternidade havia se passado enquanto
Cameron e Alex mantinham um silêncio confortável. Percorreram pelo menos nove
bairros no Lamborghini de Frank até chegarem a Hampton Bays, com alguns minutos
de atraso em função do trânsito. A paisagem era extraordinária, assim como
exige a fama internacional da Grande Maçã. Mas para Alex, havia algo errado entre
o trajeto atual e o objetivo de chegada. Precisou olhar para trás várias vezes
na tentativa de reconhecer o caminho que estavam seguindo.
— Hey, você passou uma casa de boliche —
Informou a Cameron, olhando por cima do ombro do banco.
— Não é aqui — A tranquilidade de Cameron
impressionava até ele mesmo.
— Foi a única casa de boliche que encontramos
em meia hora de viagem.
— Mas não é a única que existe em Nova York.
Alex o observava com desconfiança. A cada
segundo a história de Cameron perdia credibilidade com seu entendimento.
— Nós não vamos jogar boliche, não é?
Cameron permaneceu quieto. Deveria imaginar
que Alex era inteligente demais para ser enganado. E agora a única maneira de
não arruinar seu plano era contando a verdade.
— Promete guardar um segredo?
— Qual é, Cameron? — Alex bufou. — Frank e
Judit confiaram em você.
— Não, eles confiaram em você porque acham que
Alex Bennett é uma boa influência para mim.
— Isso não importa. Apenas dê a volta e vamos
embora.
— Agora não, estamos quase chegando — Cameron
apontou com a mão para a estrada.
Alex deitou a cabeça no banco e suspirou.
— Ai meu Deus, eu não sei porque isso continua
acontecendo comigo.
— Eu fui o primeiro a não concordar com este
programa pseudo fraternal. Você pode resmungar sobre isso como um adolescente
careta ou simplesmente culpar Judit e Frank por ter destruído nossa noite. Se
você me perguntar, eu sempre acharei promissora a segunda opção.
— Cala a boca, Cameron.
— E chegamos — Informou Cameron após fazer a
curva no ultimo edifício da rua.
Alex olhou para frente instintivamente. Havia
pelo menos trinta pessoas amontoadas próximo a areia da praia; a maioria vestindo
roupas agressivas na cor preta e bebendo a pior marca de cerveja barata em
volta de seus carros. Somando tudo as mulheres de roupas curtas que
acompanhavam os homens brutos, aquilo só poderia ser...
— Um racha? — Alex exclamou. — Você me trouxe
para um racha?
— O que foi? Tem medo de velocidade? — Cameron
sorriu provocante. Parou o carro próximo a algazarra e saiu. Alex só precisou
de mais alguns segundos observando o ambiente para fazer o mesmo.
— Cameron! — Gritou o homem de camisa polo em
frente ao Mercedes-Benz; um dos poucos membros com classe daquela multidão. Ele
correu em direção a seu conhecido e o abraçou como em nome dos velhos tempos. —
Meu playboyzinho preferido!
— E aí, Damien — Cameron respondeu com uma
cortesia mais tímida. Afastando-se do amigo, pôde notar as duas garotas de
sorte que competiam toda semana. — Teresa, Monique — Um beijo no rosto de cada uma
bastou para autenticar os cumprimentos.
Agora só faltava Alex, que ainda mantinha-se
acanhado alguns passos atrás. Monique foi a primeira a nota-lo enquanto Damien
oferecia uma cerveja de seu balde de gelo a Cameron.
— E o que você trouxe hoje? — Ela fitou Alex
dos pés as cabeça. Não havia como não apreciar a novidade diante de si.
— Este é Alex Strauss, meu novo meio-irmão —
Cameron respondeu.
— Sim, o gay — Teresa lembrou-se ao ouvir o
nome. — Eu vi o seu vídeo na internet.
Pela primeira vez Alex não estava em pânico perante
uma socialização. Isolando os mais de doze piercings
e a roupa nada apropriada, Teresa parecia o tipo de pessoa com quem gostaria de
trocar experiências e falar sobre carros. Apesar da atitude de rainha do ébano
e os lindos cabelos vermelhos, Monique também não parecia tão intimidadora.
— Na verdade, foi meu irmão gêmeo. Mas
obrigado — Alex arrancou a bebida das mãos de Cameron e tomou um gole ousado. —
Então, quando vamos correr?
Monique e Teresa trocaram um olhar debochado. Alex
não era o primeiro playboy a achar que sobreviveria a uma corrida com os
melhores de Nova York.
— Sinto muito em desapontá-lo, mas você não
pode correr — Cameron disse. — Novatos precisam de iniciação... E seguro de
vida.
A provocação de Cameron roubou uma risada das
meninas.
— Posso ir com você, então? — Alex pediu.
Cameron buscou a resposta no olhar de seus amigos.
Todos concordavam que seria divertido ver o novato tendo um ataque de pânico quando
os carros atingissem trezentos quilômetros por hora. E participando do racha
diretamente, Alex não poderia contar a seus pais sobre a “mudança de planos” que
os levou a cometerem um crime.
— É claro — Foi o melhor que Cameron pôde
fazer. — Prepare-se.
Como em um decreto, ouviu-se uma voz rouca anunciando a competição. Todos os corredores voltaram a seus veículos e entraram em posição na linha de partida. Havia pelo menos sete carros preparados para a adrenalina que estava por vir.
— Você é maluco, sabia? — Cameron disse,
preparando o motor. Passara os últimos instantes perguntando a si mesmo se
aquilo nos olhos de Alex era entusiasmo ou temor.
— Se você vencer, eu não conto a ninguém sobre
isso.
— O que isso quer dizer?
— Pisa fundo, idiota — Alex sorriu.
A estranha de cabelos vermelhos arrancou o
sutiã para dar início a largada. Só nos primeiros dez segundos Cameron havia
tomado vantagem de pelo menos outros três carros, sendo um deles o Audi R8 de
Teresa. E logo na primeira curva, Damien capotou em cima dos fenos espalhados
em frente a uma pequena loja de artigos rurais.
— Ai meu Deus! — Alex exclamou quando viu o
que aconteceu. Um sorriso de euforia estava estampado em seus lábios graças a
adrenalina. Quanto a Cameron, bastava gritar o mais alto que podia.
A próxima curva chegou alguns instantes após
passarem o Bentley Preto de Monique. Seguiram o trajeto por mais alguns metros,
ultrapassaram o próximo carro e fizeram mais uma curva arriscada. Agora eram só
Cameron e o campeão Dyrant na disputa pelo primeiro lugar.
— Pisa fundo! Pisa fundo! — Alex incentivava.
— Não, filho da puta! — Cameron resmungou.
Dyrant estava do lado direito da pista tentando empurrar o Lamborghini para o
acostamento.
— Ele quer nos matar?
— Pelos duzentos e cinquenta mil da
competição? Pode apostar — Cameron quase riu de sua própria ironia; mas já
estava farto. Decidiu ceder o espaço que Dyrant estava exigindo e diminuiu a
velocidade para igualar-se a ele.
— O que você está fazendo?
— Fodendo esse desgraçado!
— O que?
Quando chegaram a última curva, Cameron girou
o volante para bater no outro carro. O impacto fez com que Dyrant perdesse o controle
e acabasse invadindo uma loja com seu veículo. Cameron e Alex gritaram de
euforia como dois lunáticos; e então alcançaram a linha de chegada.
Ao saírem do carro, foram atacados por
telespectadores extasiados que comemoravam sua vitória.
— Caralho! Caralho! Caralho! — Cameron gritava
enquanto era recebido pelos amigos saltitantes.
— Você viu a cara do filho da puta? — Alex exclamou,
ainda dominado pela sensação de liberdade. Nada se comparava a vitória, nada se
comparava ao vento batendo em seus cabelos enquanto o mundo é deixado para
trás.
Já não era mais o playboyzinho que tentava ser
descolado. Era um deles. E como um deles, também recebia os cumprimentos berrantes
dos novos parceiros.
Cameron o fitou do outro lado do carro em meio
a algazarra que se formara. Estava impressionado com o Alex que havia conhecido
naquela noite, quase como se seu novo meio-irmão não pudesse mais ser a mesma
pessoa que tornava fácil todas as suas implicâncias.
Quanto a seu novo parceiro de corrida, apenas
Judit e Frank viriam a lamentar.
Next...
3x08: But I'm Not That Evil, You Know (04 de Abril)
Nate VS Theon. Cameron e Alex. Quentin voltando... Parece que temos a casa cheia. E na semana que vem, veremos um pouco sobre as habilidades de Nate como presidente e um novo plano que irá movimentar a vida dos protagonistas. Aliás, a morte já está quase batendo a nossa porta outra vez.
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