[Livro] The Double Me - 3x05: Daddy Issues [+18]
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3x05:Daddy Issues
“Deixe chover”.
A porta do elevador abriu-se após o soar da
campainha. Do lado de dentro jazia Travis, escorado na parede, esperando
pacientemente a chegada de seu andar. E do lado de fora estava tudo o que ele
gostaria de evitar: Seu irmão mais velho, Thayer Van Der Wall; tão surpreso
quanto ele ao descobrir a infeliz coincidência que os faria pegar o mesmo
elevador.
Uma vez do lado de dentro, as portas se fecharam,
e o botão do terceiro andar ganhou o mesmo brilho do segundo com um toque sutil
dos dedos de Thayer. Ambos os irmãos conseguiam ser bem sucedidos quando o
assunto era manter o silêncio e fingir que apenas um deles era o herdeiro Van
Der Wall... A não ser que simplesmente não conseguissem.
— Veio aqui ver nosso pai? — Travis perguntou.
— Eu pensei que você soubesse de tudo.
— Sei o suficiente para ser Vice-Presidente, mas
isso não faz de mim um PHD em todo o resto.
Thayer deu um ar de risos debochado, sem saber
se estava realmente ofendido.
— Vá se foder.
— Quem te dera — Travis passou por ele assim
que a porta se abriu. — A propósito, a matéria sobre a minha ascensão na
Editora Van Der Wall vai ao ar dentro de duas horas. Não se atreva a perder.
— Eu juro que não perderei.
Travis hesitou por um breve momento, franzindo
o cenho. Algo na sentença de Thayer parecia inapropriado.
— Que engraçado — Comentou. — Você fala como
se já não tivesse perdido a guerra.
— O que eu posso dizer? Sou um péssimo
perdedor.
Enquanto a porta se fechava automaticamente,
os irmãos Van Der Wall trocaram um último olhar provocante; mas a grande
verdade era que apenas um deles tinha a situação sob controle.
Thayer já estava com o celular nas mãos e admirando
a própria imagem impecável no espelho. O toque de seu aparelho soou como uma
doce melodia.
— Estou aqui— Disse ao atender.
— Você já terminou? — Nate perguntou. — Estou
a caminho do teatro neste momento.
— Sim, tudo está ocorrendo perfeitamente bem.
— Tem certeza que seu amigo vai dar conta do
recado?
— Eu conheço meu irmão — Thayer amaciou os
cabelos, soberbo e narcisista. — Acredite, ele não resiste a um bad boy.
No segundo andar, próximo a janela do final do
corredor, suas palavras tomavam o rumo de uma típica concretização. Havia um
jovem de cabelos negros e terno cinza escuro discutindo ao celular – alto o
suficiente para lhe roubar a atenção, e atraente demais para passar
despercebido. Travis foi obrigado a parar em frente a porta de sua suíte e
apreciar a vista.
— Eu não dou a mínima para o que sua mãe diz!
— O jovem gritava ao celular enquanto Travis espreitava. — Você não pode
deixa-la controlar sua vida dessa maneira! [...] É claro que eu não entendo!
[...] Então o problema sou eu agora? Quer saber? Estou cansado disso, estou
cansado de viver no mundinho da Bianca. Boa sorte fodendo sua mãe e vá para o
inferno!
Quando terminou, abaixou o celular da orelha e
olhou para trás. Travis ainda estava lá, observando discretamente.
— Algum problema?
— Não — Travis exibiu um meio sorriso.
— Gostou do show? Eu teria me esforçado um
pouco mais se soubesse que tinha público.
— Desculpe, não tive intenção de ouvir sua
conversa. Mas parece que você acabou de se livrar de uma roubada.
— Ah, sério? — O jovem debochou.
Travis deu um passo a frente sob o tapete.
— Sim. A monogamia é superestimada,
definitivamente não foi feita para qualquer um. Descobrir isso pode ser a
melhor coisa que já aconteceu na sua vida.
— Lembrarei disso da próxima vez.
— Hey, vai com calma — Travis colocou-se à sua
frente para impedir que ele fosse adiante. — Só estou dizendo que você tem uma
escolha.
— Uma escolha?
— É claro. Você pode continuar se levando a
sério desse jeito ou... Simplesmente relaxar — Aproximou-se dele cheio de
segundas intenções, passando a mão suavemente na parte da frente de sua calça.
O jovem o afastou com as duas mãos e sorriu
desconcertado.
— Cara, o que você ta fazendo? Eu sou hétero.
— Beleza — Travis rebateu. — Isso não é um
problema para mim.
— Não, cara, eu não gosto disso.
— Sabe a diferença entre mim e as pretendentes
que você dispensa pelo telefone? Eu deixo no quarto tudo o que acontece dentro
dele. E você nem precisa me ligar no dia seguinte para demonstrar que se
importa...
O jovem parecia tentado até o ultimo fio de
cabelo. Encarou Travis com a expressão duvidosa, como se a ideia de repente estivesse
provando o seu valor. O meio sorriso quase impressionado servia discretamente
como um aperto de mãos, que fechava o negócio sem dar relevância as
entrelinhas. Graças a Nathaniel Strauss, Travis tornara-se o mais descarado dos
manipulares, capaz de deixar o irmão para trás e encontrar uma aventura
passageira em cada corredor de um hotel cinco estrelas.
O poder, pela primeira vez, estava todo em suas mãos.
Levou o jovem estranho para dentro de seu
quarto e entrelaçou-o com beijos ardentes cheios de ferocidade. Embora seguisse
todas as regras de encontros casuais, Travis tinha muita criatividade para
satisfazer sua nova distração. Tirou as calças dele em um rápido puxão, e com
um sorriso estampado no rosto, direcionou os lábios a pulsante exuberância a
sua frente. Sua língua já estava acostumada com o novo gosto quando o jovem
soltou os primeiros gemidos inacreditáveis.
— Porra, porra, porra, porra, porra — Seu corpo
inteiro parecia responder as brincadeiras do parceiro.
— Qual o seu nome? — Travis perguntou, mantendo
seus dezenove centímetros entre os dedos da mão.
— Porra... Meu nome? David. Porra!
— Okay, David. Vamos explodir.
David nunca pensaria em recusar. Agarrou os
lençóis da cama com todas as suas forças e deixou Travis continuar seu árduo
trabalho. Cinco minutos depois, sentiu o êxtase extravasar através do corpo e
molhar o rosto do parceiro com um jato. Pelo menos fora cavalheiro em alertar antes
que fosse tarde demais.
— Porra, porra, porra, porra, porra! — Exclamou,
com as pernas trêmulas.
— Guarde suas forças — Travis levantou-se,
limpando o rosto com a manga da camisa. — É a minha vez.
David levantou da cama e avançou para
beijá-lo, com as duas mãos em seu rosto. Envolveu sua língua na dele e o virou de
costas para beijar seu pescoço. A
proximidade fê-lo estremecer.
— Estou mais interessado no que você tem aqui
atrás... — Deslizou as mãos por todos os lugares que o fascinavam no corpo do
parceiro.
— Eu... — Travis gaguejou. Agora era ele quem
sentia-se totalmente dominado pelo estranho mal humorado que acabara de
conhecer. — Eu nunca fui passivo...
— Está afim de tentar?
David fez uma trilha de beijos molhados dos
ombros de Travis até suas orelhas, já com as mãos preparadas para invadir as
calças do garoto. Toda a sedução estava pronta para ter um desfecho se a vítima
colaborasse como Thayer havia prometido. “Uma vez tendo provado seu gosto, ele
nunca mais vai querer parar” — Disse no último encontro. E David estava bem
longe de desacreditar em sua capacidade.
— Sim... — Travis respondeu, com um suspiro
leve.
Entre uma carícia e outra, David tirou uma
seringa de dentro do bolso de seu paletó e injetou-lhe no pescoço. Levou apenas
alguns segundos para que o garoto perdesse as forças e caísse inconsciente no
chão. Era uma pena que tivesse que terminar daquela maneira depois da ótima
noite que tiveram.
— Sim — David olhou com desdém para o garoto
no tapete. — Foi bom para mim.
൴
Nate bateu a porta do carro. Fechou o casaco,
olhou para a entrada do teatro e suspirou a medida que seu nervosismo
demandava. Theon estava em todos os lugares; em seus piores pesadelos, nos
melhores planos, no pior de seu passado e na pretensão de seu futuro. Paranoia,
como Jensen costumava dizer sempre que demonstrava acreditar na eficiência de
um suposto carma. Talvez não fosse tão ruim respirar o ar de Nova York sem
esperar a intervenção do inimigo o tempo inteiro.
Nos últimos seis meses, Nate teve a impressão
que até mesmo suas piores partes poderiam ser felizes com as influências
certas. O vingador impiedoso já não ditava seu estilo de vida, porque estar ao
lado de Jensen McPhee supria a necessidade de tudo o que conhecia como a “si
mesmo”; e já não havia espaço para a dominância incontrolável de tudo o que não
pode mudar. Theon, para todos os efeitos, era a grande vítima de seu esquema. E
nenhum reencontro inesperado passaria por cima disso.
— Nate? — Thayer estava caminhando em sua
direção, certo de que o amigo estava nas nuvens.
— O que foi? — Nate lhe deu atenção imediata.
— Está tudo bem?
Nate fez de tudo para tirar os pensamentos
obsessivos da cabeça e fingir que nada estava errado. A partir do momento em
que as pessoas descobrissem sobre Theon, seu retorno seria muito mais real do
que gostaria de admitir.
— Você está olhando para o futuro presidente
da Strauss International. É claro que estou bem — Passou por Thayer com um
sorriso vencedor e a esnobe pretensão de seu sobrenome.
Thayer o seguiu para dentro do teatro até
abrirem as portas para o imenso salão, com todos os assentos de costas para
eles. Enquanto os ricos e poderosos acomodavam-se em seus lugares, Nate contemplou
o ambiente com um meio sorriso no rosto. Em breve toda aquela beleza seria
dizimada para dar vida a uma obra de arte abstrata.
— A casa está cheia — Thayer comentou.
— Como a gente gosta — Nate conseguiu
identificar os três homens que abordara no cassino. Estavam sentados entre as
cinco primeiras fileiras; acompanhados, desta vez, por suas respectivas
esposas.
— Preciso dizer oi aos meus novos sócios.
Encontre-me aqui no horário marcado — Thayer partiu rumo ao corredor lateral
direito, onde havia vários homens de paletó conversando.
Alex apareceu quase no mesmo instante. Assim
que avistou o irmão, preparou sua abordagem e apressou seus passos.
— Então, como anda o plano?
— Por favor, sem perguntas com duplo sentido —
Nate ironizou. — Hoje estou muito inspirado para ser decente.
— Eu sei que você e Thayer estão planejando
alguma coisa para essa noite. Sabe o quanto o evento de hoje é importante para
o nosso pai?
— Importante o suficiente para ter convidado a
nova namorada.
Nate fez um sinal com a cabeça para uma das
primeiras fileiras. Tara estava lá, usando um vestido roxo que novamente
valorizava seus seios e um salto alto tão caro quanto os que Judit mantinha em
seu closet. A criança estava ao lado dela, fazendo inúmeras perguntas sobre o
que iria acontecer em cima do palco.
Alex não poderia estar mais confuso.
— Mencionei que ela tem um filho de sete anos?
— Nate provocou, e finalmente o irmão entendeu a cena que estava vendo. — Foi
gerado no primeiro casamento. Aposto que tudo o que ela quer é dar um pai ao seu
filho e ter a vida que fizeram-na acreditar que merecia. Mas ca pra nós, os
Strauss não nasceram para cair neste golpe.
— Você pode estar tirando conclusões
precipitadas...
Nate precisou aproximar-se do irmão para dizer
o que deveria ser dito.
— No nosso mundo sempre haverá pessoas
tentando tirar proveito de quem somos. Se você não está preparado para lidar
com isso, não está preparado para viver esta vida.
Era a segunda vez naquela noite que Alex
duvidava de seu próprio eu. Primeiro com Cameron, no restaurante português.
Depois com Nate, enquanto tentava evitar que a família fosse protagonista de
mais um escândalo. Até quando deixaria que as pessoas dissessem quem era quando
tinha todas as armas para provar o contrário?
— Merda! — Nate parecia ter visto um fantasma por
cima dos ombros do irmão.
— O que foi?
— Dimitri Chevack está vindo para ca. Se eu
tiver que chutá-lo no saco, você corre.
Alex quase não teve tempo de perguntar o que
estava acontecendo. Dimitri chegara logo em seguida, com seus cabelos loiros
penteados para os lados e os olhos azuis chamuscados com audácia.
— Strauss — Olhou para Nate. Era sua forma
especial de cumprimentar todos os seus antigos casos. Os desprezíveis, pelo
menos.
— Chevack — Nate rebateu.
— Gêmeo — Dimitri olhou para Alex.
— Estranho — Alex respondeu.
Uma vez terminado os cumprimentos, Dimitri sentiu-se
livre para iniciar a conversação.
— Acho que as revistas estavam certas. É a
primeira vez que eu vejo os gêmeos Strauss reunidos e não consigo pensar em um
escândalo mais imponente.
— Cheguei, idiotas — Mia passou por eles,
destemida da cabeça aos pés. — Deixem-me bêbada.
Dimitri parecia impressionado com o que via.
— Acredito que aquela seja Mia, a irmã
perdida.
— Nada escapa dos seus olhos de águia, não é,
Dimitri? — Nate preparou o sorriso cínico que não havia deixado Dimitri se
acostumar.
— Não posso evitar.
— E o que um diplomata bem sucedido como você
está fazendo em uma arrecadação de fundos?
— Tomei a liberdade de doar uma parte de meu
patrimônio para a nobre causa das famílias de Nova York. Melhorar a qualidade
de vida de uma nação subestimada sempre foi o meu real propósito.
— Duvido muito, mas tenho certeza que a
família Byron e seus investidores apreciam sua generosidade.
Dimitri sorriu, talvez envergonhado.
— Você fala como se eu o tivesse levado para a
Espanha, roubado seus pertences e deixado pedir carona pelado no meio da neve. Quer
dizer, todos sabem qual de nós é capaz de fazer esse tipo de coisa.
— E você não se divertiu? — Nate provocou. —
Foi o melhor feriado de ação de graças que eu já tive. Um sexo terrível e um
branquelo pelado correndo pela neve. Não poderia ser grato por mais nada.
— Mas você ficará — Dimitri sorriu uma última
vez antes de partir.
Nate não sabia se era uma ameaça ou apenas a
melhor resposta que um oponente derrotado poderia proferir, mas estava ciente
na necessidade de álcool em seu organismo.
— Isso foi... Constrangedor — Alex fez uma
careta constrangida.
— Dimitri é apenas uma memória histriônica da
época em que eu vitimava o sexo masculino de maneira carnal e diplomática.
— Sério? — Alex parecia um tanto
impressionado.
— Algum problema?
— Não. É que ele é meio... Feminino. Não acha?
Nate mostrou-lhe um sorriso curioso que
combinava perfeitamente com o olhar. Era a primeira vez que Alex pronunciava
uma sentença que Alex Bennett nunca pronunciaria.
— Isso que eu estou vendo é preconceito, Little Brow?
As bochechas de Alex ficaram vermelhas em um
instante. Não havia como defender sua integridade sem gaguejar e sentir a
dignidade desvanecer.
— Não, é só... Eu pensei que... Quer dizer, eu
achei que você gostasse apenas dos masculinos... Eu não sou... Quer dizer, eu não...
— Hey — Nate pousou a mão direita sob o ombro
do irmão. — Não se esforce tanto. Eu não dou a mínima para nada isso. — E
partiu rumo a multidão, deixando Alex para respirar aliviado com seu
nervosismo.
Passou pela fila de pessoas que chegava ao
salão até o corredor lateral. Thayer estava caminhando em sua direção, com uma
taça de champanhe nas mãos. Parecia sorridente demais para alguém que tinha
acabado de conversar com os representantes milionários das gerações passadas.
— Você precisa tirar Alex daqui — Nate pediu.
— Não o quero envolvido no que vamos fazer.
— E Mia?
— Não se preocupe, ela é uma vadia.
Mia chegou de surpresa para intrometer-se na
conversa.
— Quem é uma vadia?
— Você é uma vadia — Nate respondeu.
— Bem, tanto faz — Ela deu de ombros,
totalmente espontânea.
— Vocês dois podem discutir isso sozinhos —
Thayer tomou o último gole de seu champanhe. — Eu tenho um namorado para
resgatar — E partiu em direção a Alex, ainda parado próximo ao corredor central
do salão.
Mia demorou alguns instantes analisando Thayer
e suas últimas palavras antes de voltar a atenção para o irmão. Dois drinks
eram capazes de fazê-la indagar como Thalex
aconteceu. Talvez com mais uma dose pudesse enxergar dois nadadores olímpicos
em um mundo que não consegue parar de girar.
— E o que você está fazendo aqui? — Nate indagou.
— Pensei que cuidaria da loja a noite inteira.
— Tem uma coisa que você precisa saber.
— Agora? Estou meio ocupado com uma coisa.
— É importante — Mia tirou uma folha de papel
de dentro do bolso do casaco. Nela continha tudo o que precisava saber sobre o
atentado de algumas horas atrás. — Olhe. Existe uma seita cristã extremista
chamada “The Judges”. Eles perseguem e torturam homossexuais para depois
publicarem na internet.
Nate observou a folha de papel com bastante
cautela. Mia havia imprimido uma biografia bastante resumida sobre o grupo e
todas as suas práticas desumanas. Alguns trechos ainda citavam nomes de vítimas
que cometeram suicídio logo após as sessões de tortura, temendo que ela se
repetisse como os criminosos haviam prometido.
— Por que você está me mostrando isso? — Nate
torceu para não ouvir a resposta que estava esperando.
— Alex e eu fomos atacados há algumas horas.
Eles jogaram uma garrafa em chamas dentro do carro enquanto saíamos de um
restaurante. Alex está uma pilha de nervos desde que aconteceu.
A preocupação de Nate encontrou o irmão a
alguns metros de distância. Thayer
parecia estar fazendo de tudo para animá-lo; até mesmo trocando as carícias que
jurou nunca trocar em público. Mas Alex estava distante, preocupado, talvez
apavorado do seu próprio jeito. Nate podia sentir que as coisas demorariam para
ficar bem outra vez se estivessem mesmo lidando com o que achava.
— Eu pedi para que ficasse em casa — Disse
Mia. — Mas ele consegue ser mais teimoso que você. Disse que nada o impediria de
estar aqui para apoiar o pai.
Nate estava prestes a dizer alguma coisa quando
as luzes foram desligadas e as primeiras pessoas começaram a subir ao palco. Jackson
Fillian, o anfitrião da noite, caminhou até o pedestal de vidro para anunciar o
discurso inicial de Simon Strauss... Exatamente como ditava o roteiro roubado
por Nate há algumas horas. Não havia nada que pudesse fazer diante de uma
secretária que se encanta facilmente com olhos verdes e não tem cuidado com
documentos confidenciais.
— Lidaremos com isso — Nate enrolou a folha de
papel e devolveu a irmã. — Mas agora tenho um compromisso inadiável.
Quando olhou novamente para o palco, viu o pai
subindo as escadas laterais em meio a ovação. Com os sapatos brilhantes, o
paletó impecável e o penteado conservador, Simon caminhou até o pedestal de
vidro, cheio de glória em sua expressão.
— Alex foi comprar algo para comer — Thayer
posicionou-se ao lado de Nate e Mia, com os olhos fixados no palco.
— Está prestes a começar... — Nate permitiu-se
sorrir com a audácia de sempre.
Já de frente para a audiência, Simon tirou uma
folha de papel de dentro do paletó e colocou entre os dedos.
— Então... O que acontece a seguir? — Mia
perguntou num murmúrio enquanto o pai ponderava as primeiras palavras de seu
discurso.
— Xeque-Mate — Nate respondeu. Observando as
primeiras fileiras de assento, também conseguiu notar os três homens que
encontrou no cassino.
— Devo me preocupar com isso?
— Depende. Você acha seu vestido apropriado
para sair em todos os tabloides?
— Como é?
Mia só entendeu verdadeiramente o que o irmão
queria dizer quando percebeu que uma tropa de policiais estava invadindo o
teatro. Seis corriam pela extremidade direita, seis pela extremidade esquerda,
e quatro caminhavam no corredor principal em direção ao palco. Junto deles
havia dois detetives de terno marrom com algumas folhas de papel em mãos,
trazendo sob sua proteção uma mulher de vestido simples e cabelos bagunçados
que definitivamente chamava atenção.
Não demorou muito para que o teatro inteiro ficasse
em estado de alerta.
— Nate... — Mia sussurrou. A expressão temerosa no olhar do pai em cima do palco se assemelhava a de todos que residiam naquele salão; inclusive ela, pela primeira vez alarmada com os feitos de seu irmão.
Simon olhou de relance para o final das
fileiras, onde Nate, Mia e Thayer pairavam sem reagir. Não havia dúvidas de que
o filho estava por trás de toda aquela bagunça. Só precisava descobrir o que
iria ganhar humilhando o pai e vários investidores renomados na frente da elite
de Nova York.
— Simon Strauss? — O detetive loiro de olhos
claros aproximou-se do palco.
— Sim? — Simon respondeu.
— O senhor está preso por assédio sexual e
tentativa de estupro — Mal havia terminado de falar e Simon já tinha vários
policiais algemando suas mãos nas costas.
— Ai meu Deus... — Foi a única coisa que
Thayer conseguiu deixar escapar de seus lábios.
Em meios aos gritos de Simon, a perturbação da
plateia e os flashes incessantes da imprensa, ouviu-se as primeiras palavras da
mulher que acompanhava os detetives. Era uma pena que ninguém soubesse que se
tratava de uma atriz desdenhada.
— Prendam-no! — Ela gritou. — Este é o homem
que roubou a inocência da minha filha!
— O que? — Simon arregalou os olhos.
A cada segundo que passava, os policiais
arrastavam-no para fora do teatro junto com a sua dignidade. E não havia como
defender-se de acusações tão bem planejadas.
— Você nunca mais vai encostar um dedo nela! —
Continuou a mulher. — Nunca mais!
— Nate, você é uma pessoa terrível — As
palavras de Mia soavam como uma confissão. Apesar do susto inicial, já havia
entendido o plano do irmão. E não estava nem um pouco preocupada com o que
seria de Simon, sabendo da existência de uma enorme brecha que nunca o deixaria
ser preso de verdade.
— Eu sei — Nate quase sorriu. — Todos os presidentes
de grandes empresas são.
— Nathaniel! Nathaniel! Por favor! — Simon exclamava
enquanto era levado para fora. — NATHANIEEEEEEEEEEEEEEEEL!
Nate apenas sorriu para o eco dramático da voz
de seu pai.
— Estão ouvindo isso? É o som da vitória.
— Você é louco — O meio sorriso no rosto de
Thayer dizia claramente que estava longe de ser uma ofensa.
— É, podemos colocar desse jeito — Nate tirou
um guarda-chuva preto de dentro do paletó e o colocou sobre a cabeça. Thayer e
Mia não poderiam estar mais confusos. — Protejam-se. A água é apenas para os
que têm sede.
E como num passe de mágica, os irrigadores
foram ligados, ensopando a todos os presentes no salão. Thayer e Mia olharam
para cima e deixaram a chuva cair ligeiramente sobre seus corpos enquanto a
multidão corria. Quando viraram de volta, Nate já havia partido de maneira
triunfante em busca de uma boa dose de whisky.
Era ponto para o gêmeo do mal. E Thayer e Mia
definitivamente não possuíam qualquer objeção.
൴
Travis encarou o teto com os olhos sonolentos.
Ciente de sua terrível dor de cabeça, passou a mão direita delicadamente sobre
o rosto e soltou um gemido arrastado. Nem mesmo podia lembrar o que acontecera
antes de acordar com uma guerra nuclear dentro de seu cérebro.
— Você está bem? — David perguntou, ao seu
lado.
O soar da voz de sua distração noturna veio com
uma enxurrada de lembranças. O Hotel de seu pai, Thayer no elevador, o garoto
hétero brigando no celular, o volume pulsante dentro de sua boca... Agora tudo
fazia sentido, exceto por... O que estavam fazendo naquela sala de reuniões?
Por que Travis estava em cima da enorme mesa? E por que usava roupas femininas?
— Mas que merda? — Ele assustou-se ao perceber
seu estado. Estava usando um vestido confortável, salto altos na cor vermelha e
uma peruca loira. — O que você fez comigo?
— O que eu fiz?
Travis levantou-se da mesa e correu até a
vidraça do outro lado. Além do que já havia percebido, seu reflexo ainda
mostrava a maquiagem exagerada em seu rosto.
— Que porra é essa?
— Hey, a ideia foi sua — David aproximou-se
dele. — Eu estranhei quando você disse que curtia se vestir de mulher, mas
agora estou achando muito excitante — E o puxou pela cintura para beijá-lo.
Travis o afastou no mesmo instante, cheio de
repulsa. A dúvida havia sido plantada em sua cabeça e agora tudo o que
precisava era de uma explicação.
— A ideia foi minha? Eu nunca fiz isso antes!
— Sério? — David tentou não sorrir. — Não é o
que parece. A propósito, você está bem? Desmaiar durante o sexo não deve ser
uma coisa boa.
— Eu desmaiei durante o sexo?
— Você realmente não lembra ou só está me
zoando?
Travis olhou novamente seu reflexo na vidraça.
Nada daquilo fazia sentido, desde suas roupas bregas até o desmaio. O que
realmente aconteceu dentro daquele quarto?
— Hey, vem cá, nós ainda não terminamos... —
David o puxou para mais um beijo molhado.
No primeiro segundo em que Travis decidiu
corresponder, Theodor entrou na sala junto dos onze investidores que levara
para fazer um tour. E tudo aconteceu rápido demais para que houvesse solução. Theodor
estava envergonhado demais para dizer qualquer coisa. Os investidores traumatizados
o suficiente para manter o silêncio. Travis desejando morrer no mesmo instante.
E David felicíssimo com seu ótimo trabalho. Se vestir-se de mulher e transar na
sala do pai com um homem não tivesse destruído as chances de Travis Van Der
Wall de uma vez por todas, talvez garantisse a Thayer o título de filho do ano.
Next...
3x06: Trophy Boys, Trophy Wives (21 de Março)
Nate e Thayer são viados destruidores, sim ou claro? Hahahaha. Não se esqueçam que dia 21 de Março temos um jantar marcado para conhecermos o novo namorado da Judit. Nate estará bêbado, então já podemos concluir que teremos mais um épico 4 de Julho.
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