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[Livro] The Double Me - 3x02: Life's a Beach and Then You Swim [+18]

   3x02:Life's a Beach and Then You Swim
      “De cardinal a tubarão em um piscar de olhos”.

— Eu não acredito nisso... — A decepção nas palavras de Nate levou todos a um desconforto imediato.
Estava em frente a enorme janela da sala de estar, com as mãos na cintura e os olhos fixos na escuridão do jardim Strauss. Em seus pensamentos mais obscuros, poderia encontrar uma insensata saudade da reação explosiva que tanto definiu sua personalidade para o mundo. Porque ao lado dela, pouco espaço restaria a dor que não compreendia. Judit e Simon estavam se divorciando. E ao invés culpar o universo, tudo o que gostaria de fazer era permanecer em silêncio.
Mia e Alex, sentados no sofá, também careciam de todas as palavras de conforto que não seriam pronunciadas. Havia decepção acima de qualquer outra coisa.
— Como isso aconteceu? — Mia perguntou.
— Eu conheci alguém na minha última viagem para a Itália... — Judit respondeu.
— Então é por isso que vocês vão se separar? Por que você conheceu alguém especial na sua ultima viagem? — Alex usava o tom de voz agressivo para deixar clara sua indignação.
Judit trocou um olhar cauteloso com o marido.
— Não apenas por isso. Seu pai também conheceu alguém...
— Só pode estar de brincadeira... — Mia deu um ar de risos depressivo.
— Eu imagino como deve ser difícil para vocês, mas estamos aqui para provar que nos importamos.
Nate finalmente virou-se para encará-los. Havia uma única coisa que não fazia sentido naquele espetáculo de palavras desnecessárias.
— Então vocês nos tiraram da nossa festa de aniversário para dizer que estão se divorciando? Precisava mesmo ser hoje à noite?
— Não tivemos escolha — Simon soava transigente em cada sílaba. — Uma repórter descobriu sobre Tara e tentou me chantagear.
— Ela ameaçou publicar a notícia hoje mesmo se não entregássemos o dinheiro... — Judit continuou. — Então resolvemos dizer a verdade a vocês antes que virasse um escândalo.
— A questão não é dizer a verdade, é pensar em todos nós — Disse Alex. — Nate viveu a vida inteira ao lado de vocês, mas Mia e eu não tivemos a chance. Não é justo ver nossa família se separar agora que finalmente temos uma.
Judit virou para o marido. Tudo o que seus corações profanavam estava presente naquele olhar e no singelo encontro de suas mãos. Seus filhos poderiam não entender, mas era a única decisão capaz de oferecer-lhes uma chance no mundo em que foram obrigados a viver. Uma chance que o passado revogou durante tantos anos.
— Nós amamos todos vocês — A mãe proferiu. — E não importa o que digam, vocês são nossos filhos; não há nada no mundo que possa mudar o que sentimos. Mas eu e Simon... Nosso casamento acabou muito antes de termos uma família. Eu o amo pelo homem que ele é para os meus filhos, não como um homem para mim.
— Você não está apaixonada por ele... — Mia soltou. Após o breve discurso de Judit, sua mente pareceu clarear.
— As coisas não funcionavam dessa maneira na nossa época — Disse Simon, em concordância. — As pessoas não casavam por amor, casavam por ser um bom negócio para suas famílias. Tentamos durante muito tempo fazer a magia acontecer com aquilo que nos foi exigido, mas no final terminamos aqui, com quatro filhos rebeldes, um legado bilionário e um casamento exausto. Precisamos de algo novo se quisermos continuar seguindo em frente.
Nenhum dos presentes na sala teve coragem de falar. Mia e Alex permaneceram quietos, na mesma posição, apenas refletindo sobre as palavras do pai. Nate também não parecia adepto a fazer qualquer objeção quanto ao discurso. Como poderia, se tudo o que Judit e Simon estavam pedindo era uma chance de fazer tudo diferente?
Depois dos trágicos eventos de seis meses atrás, Nate recusou-se a acreditar na inexistência do perdão. Ele merecia outra chance. Kerr e Amber mereciam outra chance. Jensen merecia todas as chances do mundo. E Justin... Justin merecia qualquer outra coisa que não fosse seu cruel destino. Se ninguém terminasse machucado, Judit e Simon não teriam motivos para não seguir os próprios corações.
— Okay... — Nate assentiu. — Acho que não há nada que podemos fazer.
— Na verdade, tem...  — Judit hesitou. Parecia constrangida antes mesmo de pronunciar seu pedido. — Faremos um jantar especial daqui a duas noites. Eu quero que vocês conheçam Frank.
Nate sentiu as veias pularem em sua testa.
— O que? Você quer que a gente socialize e tome vinho com seu novo namorado?
— Não acha que é pedir demais? — Alex, pela primeira vez em muito tempo, concordava com o irmão. — Acabamos de descobrir que nossos pais vão se separar, não podemos adicionar tão rápido um jantar de gala com seu novo namorado a nossa lista de afazeres.
— Tudo bem... — Judit assentiu. — Podemos conversar sobre isso depois. Acho que vocês precisam de tempo.
— Preciso ir — Mia levantou-se. — Amber ainda está me esperando na festa e de lá vamos para sua casa.
— Pensei que dormiria aqui depois da viagem...
— Eu prometi a ela, mas estarei de volta amanhã.
Mia caminhou até a extremidade da sala. Com a certeza de sua partida, Nate decidiu fazer o mesmo.
— Preciso encontrar Jensen. Alex, poderia me dar uma carona?
— Sim, — Alex respondeu — Thayer está esperando no carro.
— Tudo bem.
— Vejo vocês amanhã? — Judit perguntou, toda esperançosa.
— É claro — Os três responderam ao mesmo tempo, num tom abrangente.
Judit quase sorriu quando percebeu a conexão que eles haviam estabelecido. Era o primeiro gesto em trio desde que Mia se juntura a família. Não deveria estar presente num momento intenso de despedida.
— Preciso pegar algumas coisas no meu quarto — Mia colocou uma mão na testa, demonstrando preocupação. — Falo com vocês amanhã.
Nate e Alex assentiram antes de passarem pela porta enquanto a irmão partia para o andar de cima. Subiu as escadas, entrou no quarto e correu até o closet, sem se importar em fechar a porta atrás de si. Além das peças de roupa que Judit comprara assim que decidiu mudar-se para a mansão Strauss, tomou posse de três sapatos importados e uma pequena parte dos acessórios que não gostaria mais de usar. Havia uma mala em baixo da cama que comprara especialmente para organizar tudo o que não lhe faria falta.
Judit não pôde sair ilesa da primeira impressão que aquela cena lhe causou. Apareceu de surpresa na porta do quarto, em silêncio, e já preparada para as más notícias que pudessem atingi-la nos próximos minutos.
— Pretender sair da mansão? — Perguntou, num tom de voz hesitante.
Mia estava dobrando as blusas amarelas quando sua presença no quarto.
— O que? Não... — Olhando ao redor por meio segundo, percebeu o motivo do equívoco. — Estou só organizando algumas coisas para doar aos abrigos do Brooklyn. Eles precisam mais que eu.
— Oh, Okay — Judit parecia mais tranquila. — Simon e eu apreciamos muito seu gesto.
— Você não precisa fazer isso.
— Isso o que?
— Ser exageradamente simpática para evitar um desentendimento. Eu não vou a lugar algum se você não quiser, e estarei feliz se você e Simon decidirem que também estão.
— De verdade?
— Sim... — Mia hesitou para organizar as ideias. Havia algo confuso que precisava ser esclarecido. — Quer dizer, se você está perguntando se eu concordo com a separação, minha resposta será não. Mas isso não quer dizer que eu não torça para que tudo dê certo.
— Entendi... — Judit apenas assentiu.
Enquanto dobrava a penúltima peça de roupa, Mia deu uma olhadela à mãe para certificar-se de que estava tudo bem. Aquele olhar entristecido não dizia muita coisa sobre a grande mulher que aprendera a admirar. Sempre tão elegante e educada, parecia carregar uma enorme culpa sobre os ombros, capaz de desvanecer toda a vivacidade de quem era.
— É tarde demais para aceitar o convite daquele jantar? — Mia ofereceu.
Os olhos de Judit chegaram a brilhar de surpresa e contentamento.
— Significa muito para mim...
— Eu se — Mia avançou para um abraço apertado. — Não é fácil para nenhum de nós — Ao afastar-se, trocou um sorriso cortês com a segunda mãe. — E eu realmente espero que você tenha bom gosto para homens.
— Você vai gostar de Frank. Só precisa dar uma chance.
— Bem, conte comigo — Mia segurou na alça da mala e passou por ela.
— Mia? — Judit chamou, fazendo-a virar. — Acha que seus irmãos podem mudar de ideia?
— Por você? Sim.
— Obrigada.
— Nos vemos amanhã — Mia despediu-se com outro sorriso magnífico. Faria qualquer coisa para não ver sua nova família caindo aos pedaços.


A manhã começou com Nate e Jensen traçando a rotineira caminhada em volta do litoral dos Hamptons. Usando apenas camisetas suadas e bermudas pretas que terminavam antes dos joelhos, já tinham percorrido cerca de quatro quilômetros em voltas paralelas que estendiam-se tanto aos arredores da mansão Strauss quanto das outras casas de famílias nobres. Jensen era o único que parecia desestimulado quanto ao restante do trajeto; e lamentava com o rosto encharcado não poder justificar a fadiga com a bala que fora cravada em seu peito.
Seis meses se passaram desde o incidente no edifício governamental, mas o momento continuara ao seu lado; e nem sempre representado pela pequena cicatriz do lado direito do peito. Sua resistência já não era a mesma, tão qual como as noites de sono. Precisou reduzir pela metade o tempo na academia e manter os exercícios em dia utilizando apenas aparelhos leves, por tempo indeterminado. Jogar futebol há dois meses seria uma ideia terrível comparado ao que já conseguia fazer com uma bola nos pés.
Até segunda ordem, sua vida saudável seria resumida em partidas curtas e árduas caminhadas ao lado do namorado.
— Preciso de um minuto — Sentou-se no banco de ferro do parque, com as mãos sobre os joelhos e a cabeça para cima, de olhos fechados. Escorria suor tanto de sua testa quanto de seu pescoço.
— Beleza — Nate sentou ao seu lado. A respiração ofegante e o corpo pingando de suor diziam muito pouco sobre seu fervor em continuar a caminhada. Qualquer coisa que o ajudasse a manter o corpo e ficar ao lado do namorado seria realizada com o mesmo entusiasmo de uma noite inesquecível nas boates de Madrid. E por ventura, a manhã realmente estava linda.
Havia pessoas passeando com seus cachorros, jovens atletas desenvolvendo suas maratonas, surfistas com pranchas importadas e turistas japoneses tirando fotos de qualquer coisa que agradasse seus olhos inexperientes.  Só faltavam os paparazzi carniceiros que morreriam de desnutrição antes de perderem um clique exclusivo do casal gay mais badalado de Nova York. Nate nunca admitiria para si mesmo o quanto sentia falta da perseguição da mídia e da atenção desmedida de todas as revistas de fofoca que imortalizaram seu nome.
— Aqui — Ofereceu sua garrafa térmica ao namorado. Jensen esgotou metade dela em fração de segundos, com direito a um grande suspiro de prazer no final. — Você está bem?
— Eu ficarei.
— A Doutora Bailey disse que você está indo muito bem.
— Mas não o suficiente para jogar tênis... — Jensen fitou o horizonte, pensativo.
— Seu braço ainda dói?
— Sempre que eu pego em uma raquete. E acho que é tarde demais para aprender a jogar com a mão esquerda.
— Tudo no seu tempo.
— Seis meses não é tempo o suficiente?
— Para tornar-se um super herói após levar um tiro no peito e ficar em coma? — Nate ironizou. — Eu não sei. Você vai entender se eu disser que isso nunca aconteceu antes.
— É, talvez eu seja mesmo o milagre que os tabloides disseram... — Jensen tomou mais um gole de água.
Nate hesitou por alguns instantes para refletir. Estava decidindo se levaria a sério as reclamações saudáveis do namorado ou jogaria toda a carga dramática para debaixo do tapete. Jensen nunca fizera questão de conversar sobre o que aconteceu há seis meses, nem mesmo mencionara o nome de Justin entre as conversas intensas de fim de noite. Mas ao cair no sono, pelo menos duas vezes por semana, era assolado por pesadelos terríveis; estes que achava poder esconder de Nate sempre que via o namorado fingir estar num sono profundo.
— Quer furar a praia? — Perguntou Nate, aproximando de Jensen gradativamente. — Poderíamos ir para o seu apartamento e... Cozinhar.
Jensen acompanhou o sorriso que veio logo após sua insinuação criativa. Estavam perto demais para passarem despercebidos por qualquer curioso no meio da rua.
— Cozinhar? Pensei que seríamos saudáveis.
— Nós estamos... — Nate começou a beijá-lo aos poucos, intercalando o movimento de seus lábios com um sorriso. — Mas hoje... Eu quero... Uma exceção...
— Okay... Teremos uma. Mas primeiro vamos a praia.
— Tudo bem.
Nate e Jensen olharam para frente, como de relance. Quase todos os presentes no local mantinham o olhar de sempre em cima do casal, sem o intuito de disfarçar o interesse no que não lhes dizia respeito. Alguns estavam apenas curiosos. Outros julgavam-nos sem qualquer pudor.
Sentir-se desconfortável contra sua própria vontade tornara-se o grande desafio de ambos depois que o namoro foi assumido publicamente.
— Acho que isso sempre vai acontecer... — Nate comentou, ainda constrangido.
— É, eu acho... — Jensen tentava olhar para todo lugar, exceto nos olhos de todas aquelas pessoas.
— Vamos indo — Nate levantou-se — Se você não se exercitar, vai perder sua definição. E se perder sua definição, vai perder um pouco disso aqui também —Levantou as duas mãos sobre o peito, referindo-se de maneira narcisista a si mesmo.
Jensen sorriu de primeira.
— É por isso que você está comigo? Por causa do meu corpo?
— É claro. Se não tiver definição, eu vou procurar outro saradão por aí — Deu-lhe uma piscadela combinada a um sorriso provocante. — Agora vamos.
— Vamos.                                      
E a corrida continuou.  Passaram por alguns estabelecimentos beira-mar até chegarem a areia da praia. Havia meia dúzia de garotos descamisados disputando uma partida de futebol enquanto as meninas se bronzeavam do outro lado da praia. Nate ficou surpreso por reconhecer a maioria deles, mesmo tendo trocado uma palavra com cada um há mais tempo do que poderia lembrar.
O jovem loiro de bermuda azul chamava-se Jason Bell, filho de um importante empresário que não poupava escândalos envolvendo prostitutas. O de cabelo encaracolado usando um pingente em forma de âncora chamava-se Lionel Dodger, irmão mais velho da garota de maiô preto que passava protetor solar a alguns metros de distância. Ainda havia Dave Widell, Regina Oliveira e Aaron Versace. Todos membros da nova panelinha colegial dos Hamptons. E cada um representado seu devido papel na história que Nate e seus amigos costumavam protagonizar.
Ao notar a presença do casal, Lionel correu ao encontro dos dois. Os olhos cor de âmbares pareciam destacar-se sem a ajuda de qualquer fator externo da paisagem tropical.
— Hey, você veio! — Cumprimentou Jensen com um moderno toque de mãos, olhando para Nate logo em seguida. — E trouxe seu amigo.
— Nathaniel Strauss — Nate estendeu a mão. Lionel não hesitou em responder seu cumprimento.
— Lionel Dodger. Acho que já nos conhecemos antes.
— Na festa de Janine, é claro.
— Sim, eu lembro. Abusei do open bar, mas sempre tive boa memória.
E sempre foi convencido, Nate pensou. Nenhum dos outros estava longe dessa definição. Só não entendia porque os herdeiros nobres dos Hamptons haviam trocado a cultura local por um pouco de bola nos pés como faziam os países pobres.
— Hey, Lionel! — Jason chamou a alguns metros de distância. Parecia impaciente esperando o amigo com a bola na mão.
Lionel virou por meio segundo, o suficiente para pedir um minuto ao amigo com um gesto de mãos.
— Preciso ir. Temos vaga no time, se quiserem.
— Beleza — Jensen aceitou.
— Estou dentro — Nate disse.
— Sério? — Jensen deu um ar de risos debochado. — Você quer jogar futebol?
— Algum problema?
— Não, é só... Eu não quero que você se machuque.
Lionel prendeu um riso e olhou para baixo. Qualquer um poderia dizer que aquela conversa não terminaria bem.
— Você não acha que eu sou homem o suficiente para jogar futebol? — Nate pressionou. Tudo o que queria era tirar aquele sorriso machista dos lábios de Jensen e provar-lhe o contrário.
— Não, estou dizendo que da última vez que você tentou, foi parar na enfermaria com o nariz quebrado. Futebol não é pra você.
— Entendi — O namorado assentiu. Um plano mirabolante já estava começando a surgir em sua cabeça. — Acho que você tem razão, eu sou o maior perna de pau. Mas não quero ser o único a não participar.
— A escolha é sua.
Após outro breve sorriso, Jensen tirou a camisa e começou a correr ao lado de Lionel para o campo improvisado. Nate fez o mesmo logo em seguida, parando a alguns metros de distância do local onde a maioria dos garotos estava concentrada. Havia duas pequenas traves separadas por nove metros de areia e um espaço reservado a esquerda para que todos pudessem colocar suas pranchas e sandálias. Estudar o território seria crucial se Nate quisesse fazer o que estava pensando.
— Hey Nate! — Jason gritou, do outro lado do campo — Pega essa! — E empregou a força de seu pé direito em um chute.

Right Round by Flo Rida Feat. Ke$ha on Grooveshark

Nate aparou a bola com o peito num movimento rápido e deixou-a cair no chão. Levou para lá e para cá, fez quatro embaixadinhas, fingiu um drible insano, equilibrou em suas costas curvadas e depois parou a bola em baixo da sola dos pés, com uma autoridade sexy. Jensen e os outros garotos só puderam ficar de boca aberta.
— Isso vai ser divertido — Seu sorriso dizia tudo o que o outros precisavam saber.
Mas foi apenas uma prévia do show que estava por vir.
Nos minutos que sucederam a pequena partida informal de futebol, Nate conseguiu fazer sete gols seguidos contra o time de Jensen, utilizando todas as artimanhas louváveis de um jogador profissional. Gols de bicicleta, dribles alucinantes, tomadas de bola, defesas impecáveis e chutes certeiros faziam parte da mesma equação que lhe daria a vitória no final da manhã. Até mesmo as meninas haviam dado um tempo em suas conversas frívolas para observar o galã descamisado humilhando todos com uma bola nos pés.
— Você sabe jogar... — Jensen comentou após a bola passar por cima de sua cabeça e render mais um gol ao namorado. As mãos na cintura e o olhar cansado não negavam sua preocupação com a derrota.
— Eu sou perfeito — Nate murmurou, já preparado para o que estava por vir.
Nos dez minutos restantes, conseguiu somar mais três aos sete gols, junto do único gol feito por Jason durante a partida inteira. O time – ainda sem nome – venceu por onze a zero, com direito aos aplausos das meninas.
— Mandou bem, Nate! — Gritou o garoto de cabelos ruivos quando o abraço coletivo do time chegou ao fim.
— Onze a zero, filhos da puta! — Jason gritava. E os membros do outro time nada podiam fazer.
Quando a comemoração terminou e os garotos correram para o mar, Nate caminhou para fazer companhia ao namorado, sozinho no canto onde estavam as pranchas. Jensen cruzara os braços e ficara observando a paisagem desde que começou a gritaria dos garotos “bons de bola” do time adversário.
— Quer jogar de novo? — Nate provocou.
— Okay, eu aprendi minha lição. Não precisa me torturar.
— Quero ouvir você dizer.
— Dizer o que?
— Que você foi um idiota e nunca mais vai me subestimar — Nate posicionou-se ao seu lado, também para comtemplar a vista.
— Tudo bem, eu fui um idiota. E sobre não subestima-lo, eu já tinha aprendido há algum tempo. Aonde você conseguiu aprender a jogar tão bem?
— Eu aprendi muita coisa em Paris — Era apenas sua maneira de dizer que não iria mencionar outros homens enquanto estivessem juntos; mas não havia como bloquear as lembranças.
Theon sempre fora um ótimo jogador de futebol, já que sua família desprezava todos os esportes de sucesso da América. Não foi difícil convencê-lo a ensinar-lhe um pouco do que sabia. Difícil mesmo foi aprender a ser um craque sem ter tido qualquer experiência anterior como jogador de futebol. E era óbvio que tudo fazia parte de seu plano para tornar-se um ser humano inabalável aos olhos do mundo.
Nate orgulhava-se da evolução pessoal que o permitia gargalhar sempre que lembrava do passado. Porque voltar atrás continuava sendo impossível.
— Eu imagino... — Jensen respondeu-lhe.
— Preciso ir agora, tenho um compromisso. Você vai ficar bem?
— Sim — Jensen assentiu sem pestanejar. Sabia exatamente do que ele estava falando, e não iria fazer qualquer tipo de objeção.
— Vejo você no jantar — Nate aproximou-se para um beijo rápido. — Eu te amo.
— Eu te amo.
Jensen observou o namorado partir com o olhar indecifrável. Sabia que estava orgulhoso e ao mesmo tempo preocupado; só não sabia qual conclusão deveria tirar. Apesar da atitude de Nate durante o jogo, tudo o que queria era poder sentir seu cheiro por mais algum tempo.


Nate levou pouco mais de meia hora para tirar a areia do corpo e vestir-se de acordo com a ocasião. Pegou as chaves do carro, dirigiu para fora da cidade e parou em frente aos portões da clínica St. Mary Eunice.
Ao adentrar o edifício — já com o buquê de orquídeas azuis que compara no caminho —, só precisou mostrar alguns documentos na recepção para ter acesso aos quartos. Gwen estava internada na ala dois, quarto vinte e um; sem dizer uma só palavra há meses, sem mover-se um só centímetro durante o dia inteiro. Nate não teria acreditado nesta possibilidade se não tivesse visto com os próprios olhos várias vezes.
Tudo começou em treze de fevereiro, o aniversário de sua irmã. Judit chegara desolada na mansão contando a piora de Gwen, que fora desenganada pelos médicos a respeito das enormes cicatrizes no rosto. Não importava para onde a levassem, todos sempre diziam que era uma condição irreversível e que, ao invés da cura, tudo o que a família Strauss deveria fazer era adaptar-se a nova realidade.
Gwen não pronunciou uma só palavra desde então. E segue ignorando o mundo a sua volta como se nada mais existisse.
— Hey, sou eu — Nate disse ao entrar no quarto. Parou ao lado da porta, com o buquê nas mãos, e os lábios cheios de palavras não ditas. — Eu trouxe flores. Eu sei que você prefere lírios, mas pensei em fazer algo diferente hoje.
Gwen não demonstrou nenhuma reação ao ouvir sua voz. Continuou sentada em sua cadeira branca, de frente pra parede, com o olhar inexistente. Nate não fazia mais parte do mundo de sofrimento onde obrigou-se a viver.
— Eu estava na praia com Jensen... — O garoto decidiu continuar. Havia desistido de uma resposta há muito tempo, e não deixaria qualquer outra coisa impedir o que tinha ido fazer. — Meu time ganhou o dele por onze a zero. E quem fez a maioria dos gols fui eu. Acho que ele não esperava que eu jogasse bem, porque não faz muito tempo que eu... Bom, acho melhor deixar pra lá.
Sua hesitação trouxe o silêncio para dentro do quarto novamente. Gwen estava concentrada demais em seu nada para fazer qualquer coisa.
— Judit e Simon disseram ontem que vão se separar... — Nate sentou na beira da cama ao lado. — Parece que conheceram novos amores e entraram em um acordo. Dessa vez nem Alex está do lado deles, então você já pode imaginar o clima dentro daquela mansão.
Mais uma vez as palavras lhe faltaram. Nate tinha impressão que só ficava difícil a cada visita.
— Judit disse que você vai ser operada amanhã. Eu sei que é apenas uma nova tentativa, mas espero que dê certo. Gwen... Eu realmente espero que dê certo. Estamos fazendo tudo o que podemos para... Para que você fique bem — Levantou-se enfim. Caminhou três passos até a cômoda e deixou o buquê ao lado dos perfumes. — Preciso ir agora, mas voltarei assim que puder, eu prometo. E Alex estará comigo, se você não se importar... Enfim, espero que dê tudo certo.
Nate caminhou dois passos até a porta e segurou na maçaneta. Antes de fecha-la, olhou uma última vez para trás. Não havia resposta, reação, ou sequer um resquício de vida. Não esperava que suas visitas semanais fizessem alguma diferença, mas um dia, talvez, pudesse ultrapassar a muralha de consternação criada pela irmã. Um dia, talvez, ambos pudessem se perdoar.
A vida é uma vadia, disse à si mesmo. E ela cobra caro de qualquer um de nós.


Thayer arremessou sua camisa para o chão. Ajoelhou-se no colchão e passou a língua delicadamente pelo corpo de Alex, começando pela virilha e terminando em seus lábios rosados. Alex deixou-se dominar pela força de seus braços musculosos, mas não por completo. Havia algo em seus pensamentos que não lhe deixava aproveitar tudo o que os toques do namorado tinham a oferecer. Seus lábios encontravam-se de maneira intensa, mas sua cabeça o obrigava a pairar em qualquer outro lugar.
Judit e Simon vão se separar, Judit e Simon vão se separar, Judit e Simon vão se separar! — gritava sua voz interna. E Thayer não tinha qualquer chance contra seus pensamentos involuntários. Quisera poder aproveitar os bons momentos ao lado do namorado sem importar-se com sua família problemática. Quisera poder passar um dia inteiro desligado do mundo e ser Alex Bennett, o namorado gentil. Porque o Alex Strauss dos tabloides lhe custava horas de estresse e negação.
Ao perceber que o dilema do parceiro não desapareceria com seus beijos, Thayer finalmente afastou-se.
— Okay, o que está acontecendo?
— Me desculpe. Não consigo parar de pensar no que Judit e Simon disseram.
Thayer rolou para o lado, dando um longo suspiro. Alex parecia não estar satisfeito em ter falado sobre a separação dos pais durante horas na noite anterior e no começo da manhã.
— Divórcio é totalmente o oposto de sexy.
— Eu sei, é só... — Alex fitava o teto com o olhar desenganado. — Eu fico me perguntando o que vai acontecer se os apoiarmos e depois descobrirem que cometeram o maior erro das suas vidas. Isso faz sentido? — Olhou para Thayer logo em seguida.
— Na verdade, faz. Meus pais se separaram quando eu tinha oito anos. Minha mãe achou que havia encontrado o amor da sua vida em um dos nossos empregados e saiu de casa. O homem roubou todas as suas joias e ela voltou para casa quatro dias depois.
— Como eu ainda não sabia disso?
— Você não perguntou — Thayer deu de ombros. — Mas a questão é que nunca saberemos aonde nossas escolhas vão nos levar. Precisamos apenas fazê-las e torcer para que o melhor aconteça.
— Eu não sei... — Alex voltou a fitar o teto, com as duas mãos em baixo da nuca. — Eles podem estar caindo em algum tipo de golpe. Aposto que a nova namorada do Simon tem metade da idade dele.
— Elas sempre têm, mas isso não quer dizer muita coisa.
— Isso não deveria acontecer agora. Estou a um passo de ser admitido na faculdade dos meus sonhos. Se um escândalo de separação vier a tona, já posso dar adeus a Yale.
— Ainda está tentando?
— Jantarei com um dos membros do conselho de aceitação hoje a noite. Não sei se estou preparado... — Alex suspirou.
Thayer hesitou por alguns instantes, sem saber o que dizer. Já haviam discutido todas as questões envolvendo Yale; inclusive aquela em que Thayer dizia não acreditar em namoro a distância. Com Yale no caminho de Alex, pouco lhes restaria para fazer o relacionamento continuar. Cinema nos fins de semana? Viajar nos feriados? Ligar todos os dias para provar que se importam? Nunca seria o suficiente depois de tê-lo por perto todos os dias durante muito tempo.
Thayer seria capaz de implorar para que ficasse se não soubesse o quanto Yale o faria feliz. Era um sonho de infância que fora intensificado com a ajuda da TV e provara ser possível assim que Alex descobriu ser membro de uma das famílias mais poderosas dos Hamptons. Não poderia impedi-lo de correr atrás do que sempre quis, ou poderia? Thayer não sabia aonde estava a linha tênue entre o egoísmo e o bem estar do seu relacionamento.
— Você é Alex Bennett, já nasceu pronto — Sussurrou. — Mas ainda acho que Yale não está a sua altura. Por que se humilhar por uma vaga se você tem dinheiro suficiente para fundar sua própria instituição de ensino?
— Porque é meu sonho. Porque eu quero ter uma vida normal. Porque eu quero ser algo além do herdeiro de um bilionário. Sei que parece ridículo, mas agora que ganhei uma chance, não pretendo desperdiça-la.
— Okay — Thayer assentiu. Aproximou-se do garoto e beijou-o com ternura. — Neste caso, te desejo toda a sorte do mundo.
Antes que Alex pudesse responder, Thayer ouviu o toque de seu celular dentro do bolso. Nem precisou atender a chamada; bastou olhar no visor para perceber que precisava ir.
— É o meu pai. Podemos fazer isso outra hora?
— É claro — Alex assentiu. — Mas achei que ele só chegaria a cidade daqui a três dias.
— É, ele adiantou a viagem por causa do feriado — Thayer juntou a camisa do chão e vestiu em meio segundo. Depois pegou os sapatos espalhados pela sala de estar. — Disse que queria ver os fogos com a família como nos velhos tempos.
Alex nem acreditava que o feriado já estava batendo na porta. 4 de Julho, dia da independência americana. Seria uma grande noite para a família Strauss se não houvesse um jantar marcado com o novo namorado de Judit.
— Estou indo — Thayer o beijou rapidamente como despedida. — Eu te amo.
— Eu te amo.
Alex assistiu sua partida até a porta do elevador se fechar. Tinha o apartamento de Thayer só para ele e nenhuma vontade de fazer loucuras. O dia realmente não estava para brincadeiras.

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Semana que vem será irmão contra irmão, filho contra madrasta e um novo personagem contra todos. A sobrevivência do mais forte, como os tabloides exigem.

Aliás, parabéns para mim, que faço aniversário dia 22 agora e tenho a sorte de ter leitores tão extraordinários como vocês. 22 anos em busca de seu primeiro livro publicado. Obrigado por tudo ♥
Comentário(s)
4 Comentário(s)

4 comentários:

  1. Capitulo bom, é sempre legal ter capítulos calmos para aliviar a onda de adrenalina que acompanha os gêmeos Strauss, é pelo jeito o próximo capítulo deve ser avassalador!
    Agora parabenizar nosso querido escritor, que nos proporciona histórias tão incríveis e especiais, fico muito feliz e grato por você João nos da oportunidade de acompanhar suas histórias tão fantásticas, que acredito que não apenas eu mais muitas pessoas saem um pouco da realidade e torna um momento tão prazeroso e que amo aguarda. Para concluir, desejo que todos os seus sonhos se tornem realidade, que tenha muita saúde, e amor é claro, desejo que seu sonho de publicar um livro se torne realidade o mais rápido possível, é assim que publicar o livro quero minha copia autografada kkkkkkkk, Parabéns!!!

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    1. Capítulo calmo mesmo, só pra dar continuidade as tramas paralelas. Mas obrigado, Joel. É sempre um prazer ler seus comentários aqui no blog. É por causa deles e de muitos outros que fico noites em claro escrevendo para dar o melhor de mim, mesmo que custe um tempo que às vezes eu não tenho KKKKKKK.

      Obrigado de novo, e até semana que vem <3

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  2. foi um capítulo mais calmo, mas foi bem engraçado, curti bastante. Já quero ver a primeira palavra que a vadia da Gwen vai pronunciar HAUAAHAUA. E só eu que tenho certeza que o namorado da Judit é o Theon? Já quero ver a cara do Nate hahahahah. Até sábado, João ;)

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    1. Nossos heróis precisam de um descanso, né? HAHAHAHA
      Theon só vai aparecer lá pelo capítulo 4. Não vou dar spoiler, mas vocês podem estar tão certos como errados. Veremos.
      Até lá, Rafa \o

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