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[Crítica] Tusk - A Transformação


Direção: Kevin Smith
Ano: 2014
País: EUA
Duração: 102 minutos
Título original: Tusk

» Será distribuído pela Sony Pictures, direto em DVD, com o título Tusk - A Transformação. Não é uma escolha ruim, porque apesar de não ser a tradução literal, o subtítulo consegue captar a proposta central do enredo.

Crítica:

O homem é o animal mais perigoso.

Existem algumas ideias que nós simplesmente não conseguimos imaginar que poderiam virar um filme. Só mesmo vendo para acreditar. E esta é uma delas! Algo tão absurdo e grotesco, que consegue bater de frente com outro filme nonsense do gênero, A Centopeia Humana. E o mais irônico é que a inspiração para a trama surgiu durante um podcast - um programa semanal do próprio diretor do filme. No episódio em questão, Kevin Smith falava sobre um anúncio de emprego, onde o anunciante oferecia sustentar uma pessoa caso ela se vestisse como uma morsa (!). A discussão sobre o assunto durou mais de uma hora, onde os participantes desenvolviam diversas situações para o tema, o que eventualmente originou o filme.

A história acompanha Wallace Bryton, um narrador de um podcast, que viaja para o Canadá em busca de uma história que se tornou viral na internet. Depois de descobrir que o entrevistado se matou, Wallace encontra o anúncio de Howard Howe em um banheiro público, com o objetivo de trocar suas interessantes histórias de vida pela ajuda em serviços na casa - considerando que ele é cadeirante. Os verdadeiros objetivos de Howard, no entanto, são muito mais sombrios do que aparentam. Logo, Wallace se verá preso em um conto agonizante de transformação, que desafiará seu próprio conceito do que é ser humano. Em paralelo a isso, os amigos de Wallace vão para o Canadá para encontrá-lo, mas sequer imaginam que ele está nas mãos de um psicopata, que o grotesco plano de criar uma morsa humana.

É isso mesmo que vocês estão pensando! Este é um filme sobre um louco tentando transformar um ser humano em um morsa (!!). Pode parecer estranho, mas não consegue ser tão espantoso quanto o enredo do já citado A Centopeia Humana. A grande questão aqui seria como o diretor abordaria a temática do roteiro que tinha em mãos. Valeria a pena fazer um filme sério para uma proposta tão absurda? Ou ele deveria ter se jogado de cabeça no humor negro? Na primeira metade, pelo menos, o diretor consegue equilibrar muito bem o tom do seu filme, dosando perfeitamente os momentos mais tensos com as cenas em que o riso é involuntário. Infelizmente, esse equilíbrio não se estende até a metade final, que é quando a história começa a desandar.

Os melhores momentos do filme giram em torno das cenas envolvendo os dois personagens principais, Wallace Bryton e Howard Howe. Apesar de manter o humor negro, a primeira metade do filme está repleta de sequencias tensas e muito bem construídas, que conseguem pegar um conceito ridículo e torná-lo convincente. Essa base da história, que deveria ter sido o ponto mais difícil de se desenvolver, foi o melhor momento do filme. Este começo poderia facilmente ter sido levado pelo seu próprio absurdo - exagerando na comédia boba -, mas manteve um ótimo balanceamento entre o humor ácido e o drama de estar à mercê de um psicopata insano, garantindo assim boas doses de terror e desespero.

Os outros núcleos da história, no entanto, são completamente dispensáveis. Todas as cenas envolvendo a namorada do protagonista e o seu melhor amigo são chatas, inclusive a subtrama envolvendo o caso entre os dois, que é apresentada em vão, já que nunca se torna relevante em momento algum. O pior, porém, são as cenas envolvendo o personagem do Jonnhy Depp (!!!) - que é o verdadeiro momento em que o filme perde mesmo a linha da narrativa. Talvez seja pelo fato do Depp ser um nome de peso, ou talvez por ele ser amigo do diretor, mas a grande questão é que seu personagem destoa completamente do resto enredo, recebendo um foco muito maior do que realmente deveria (com direito a um longo e entediante flashback). É como se todo mundo estivesse fazendo Todo Mundo Quase Morto, e o Depp estivesse atuando em Todo Mundo em Pânico.

A segunda metade se entrega a um humor escrachado, que pouco tem a ver com a atmosfera construída na primeira parte do filme. Seria muito mais interessante se o roteiro tivesse preenchido os núcleos dispensáveis com uma narrativa decente da história de vida do vilão, desde sua infância sofrida até o seu encontro fantástico com a morsa. Aliás, somente no final entendemos suas motivações para querer transformar uma pessoa em uma morsa, o que acaba sendo uma revelação interessante (que eu certamente não posso comentar para não dar pistas sobre o que acontece). No final de tudo é um filme minimamente curioso e bizarro, chato em algumas partes, mas também muito divertido em outras. De fato não é para todos, então pensem bem se vale a pena. Não me arrependo de ter visto, mas certamente não o veria novamente.


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