Especial

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[Livro] The Double Me - 2x08: Left to Cry There [+18]

Previously on The Double Me...  
Hamptons, Nova York. Foi lá que tudo começou.

Nate tinha apenas 15 anos quando foi traído pelos amigos e exilado da cidade para evitar os escândalos de sua vida secreta com o namorado. Eles pensaram que a guerra havia acabado, mas este era apenas o começo.

Nos três anos que sucederam sua trágica perda, Nate transformou-se em um cruel vingador, capaz de perder a si mesmo dentro do próprio ódio para derrubar todos aqueles que lhe fizeram mal. A chegada repentina de seu irmão gêmeo pode ter mudado seus planos, mas nada irá impedi-lo de concluir seus objetivos. No final, será olho por olho. E dente por dente.

A estrada até aqui deixou muitos assuntos inacabados. Com a crise existencial que levou Nate a uma tentativa de suicídio, Andy decidiu continuar seu legado finalizando tudo o que Nate planejara para Justin. E no final, todos comprovaram que Nathaniel Strauss é realmente imortal. Quem vive, quem morre, quem vai ao topo e quem vai à falência, é apenas uma questão de tempo até descobrirmos.

2x08:Left to Cry There
"Uma vez que se vai à Paris, ela te assombra pelo resto da vida".

No final do dia, Judit já tinha percorrido todos os corredores do hospital. Os passos sempre vagarosos, os olhos cheios de olheiras e o cabelo bagunçado. Não havia tempo para cuidar de si mesma quando seu filho estava numa cama de hospital lutando para sobreviver. Tampouco encontrava motivos para que voltasse a viver a própria vida.

Lydia, que oferecia companhia para Nate sempre que Judit precisava espairecer, agora observava o garoto pela janela de vidro do corredor. Faria qualquer coisa para que Jensen continuasse segurando as mãos de seu neto enquanto ele precisasse.

— Ele ainda está aqui? — Judit ainda parecia ter forças para reprovar o que via.

— Ele ficou aqui o tempo inteiro. — Respondeu Lydia.

— O tempo inteiro? — Judit tentava disfarçar o próprio desconforto. Nem mesmo os pais de Nate puderam ficar o tempo inteiro. Jensen McPhee com certeza não tinha nenhum direito.

— O tempo inteiro, Judit. Ele passou a noite aqui...

Judit engoliu em seco. Achava que seria a única capaz de acabar com o desconforto daquela cena.

— Vou chamar os médicos, o horário de visitas já acabou. — Mal teve tempo de virar-se. Quando percebeu, Lydia já estava segurando seu braço para força-la a ficar.

— Não dessa vez, Judit. E eu estou pedindo gentilmente.

— Mas eu tenho...

— Confie em mim. Quando Nate acordar e descobrir que você colocou para fora a única pessoa que gostaria de ver, não vai acabar bem.

Judit puxou o braço com agressividade. Gostaria de poder questionar a decisão de Lydia, mas seus argumentos nunca tomariam a frente do amor pelo filho. Se ele quisesse ficar ao lado de Jensen, ela deixaria. Se ele pedisse ajuda para livrar-se de alguém, ela ajudaria. Faria qualquer coisa só para provar que seu amor de mãe é incondicional, independente das escolhas de seus filhos.

— Eu o amo. — Ela disse.

— É por isso que você não vai fazer nada.

— Se ele acordar, me chame.

Judit estava farta daquela conversa. Seria uma boa ideia voltar ao jardim e tomar um pouco de ar se não tivesse esbarrado na segunda surpresa do dia.

— Alex? — Ela quase arregalou os olhos. Alex tinha ido visitar o irmão depois de tudo o que aconteceu? Era uma atitude louvável.

— Ele está bem? — Alex se arrependeu da pergunta no mesmo instante. Bastava olhar pela janela de vidro para obter todas as suas respostas.

Nate estava deitado na cama, ainda inconsciente, e ligado a vários aparelhos que mantinham estável tanto sua pressão quanto a respiração. De acordo com o ultimo telefonema de Lydia, uma grande quantidade de drogas foi injetada em seu organismo causando insuficiência respiratória. A única coisa que poderiam fazer era esperar quarenta e oito horas para saber como o organismo do paciente iria reagir aos novos medicamentos.

Talvez a ciência sobre o estado de Nate fosse o grande motivo por trás da dedicação de Jensen. Ele segurava a mão de Nate próximo a sua boca com bastante convicção, enquanto os olhos cheios de lágrimas aprisionadas inutilmente suplicavam por um milagre... E um pedido de desculpas que Nate poderia nunca mais ouvir.

Bastou uma troca de olhares para que Jensen percebesse que ele e Alex tinham assuntos não resolvidos.

— Judit, me acompanhe até a lanchonete? — Lydia se levantou. Era melhor deixar os dois a sós. — Estou morrendo de fome.

— Você vai ficar bem? — Judit tocou no ombro do filho.

— Eu vou — Alex assentiu.

E então, Jensen finalmente passou pela porta. Sua timidez desmedida seria reprovada por Alex até sua raiva passar. Considerando a hipótese de que ela não duraria para sempre.

— Hey Alex, que bom que você veio... — Jensen colocou as mãos no bolso, envergonhado.

— Ele está bem? — Alex decidiu ser direto.

— Estável.

— O que aconteceu? Como pensaram que ele tinha morrido?

— Encontraram resíduos de uma toxina capaz de forjar a morte do organismo, eu ainda não sei como funciona...

— Como alguém poderia não saber disso? — Alex perguntou, tanto para Jensen quanto para si mesmo. Até a “ressurreição” do irmão, só tinha visto este tipo de coisa em filmes na televisão.

— Andy planejou tudo. Subornou os doutores tão bem que acabou convencendo-os a roubar um corpo e mentir para todos. Se isso não tivesse salvado a vida de Nate, eu estaria pronto para julgar.

Eles se olharam por algum tempo, ambos esperando uma iniciativa para continuar a conversa.

— Você está bem? — Jensen decidiu quebrar o gelo.

— Acho que sim, eu não sei. — Alex olhou novamente para o irmão. Como poderia estar bem se estava morrendo de preocupação? — Eu só quero que ele fique bem logo...

— Alex, sobre aquele dia...

— Não — Alex deu um passo para trás. — Eu não quero ouvir.

— Mas você precisa.

— Não, eu não preciso. Você transou com meu irmão enquanto estávamos juntos, é tudo que eu preciso saber.

— Eu só queria dizer o quanto eu sou idiota.

Alex não disse nada, apenas esperou pela continuação do discurso desnecessário de autopenitencia.

— É verdade. — Alex estava começando a aprender os artifícios da ironia.

— E você tem todo direito de estar com raiva de mim.

— Você acha?

Jensen suspirou. Nunca poderia pedir perdão enquanto Alex estivesse magoado, ou sob os efeitos da preocupação com o irmão.

— Alex, eu... — Jensen olhou para Nate através da vidraça. Queria poder explicar para si mesmo o que significava aquele turbilhão de sentimentos que chegavam sempre ao mesmo tempo. — Eu não sei o que está acontecendo comigo. Eu só... Não posso deixa-lo.

— Eu acho que sempre soube disso.

Alex também olhou para Nate. Uma parte de si mesmo ainda estava com raiva por todas as atrocidades que o irmão cometeu. Mas a outra entendia perfeitamente o que estava acontecendo. Sempre foi Nate e Jensen. E sempre seria Nate e Jensen. Não havia como competir com a história deles dois.

— Você acha... Que ele vai querer me ver? — Jensen suspirou. A insegurança novamente ameaçou deixa-lo inquieto. — Quando acordar?

— Você é a única pessoa que ele vai querer ver. Confie em mim.

— Obrigado.

— De nada... — Alex começou a caminhar. No terceiro passo, virou novamente para esclarecer uma ultima dúvida. — Eu sei que você já tem muita coisa na cabeça, mas eu preciso perguntar. Você só... Eu e ele somos gêmeos. Era por isso que você estava comigo?

— Alex, eu amei você, não a parte que lembra seu irmão. Pensar no que tivemos de qualquer outra forma é errado. E injusto com nós dois.

— Tudo bem. — Alex assentiu.

E então, nada mais havia a ser dito. Caminhou em direção a porta no final do corredor enquanto Jensen refletia com suas ultimas palavras. Ele não sabia, mas Alex ainda estava na ala de UIT, escorado em uma das paredes com os olhos fechados. Precisava de um tempo para organizar os pensamentos antes de voltar ao mundo real. O mesmo mundo que lhe obrigaria a fingir benevolência para esconder a bomba relógio dentro da própria cabeça.

Jensen, ainda parado em frente ao quarto de Nate, também compartilhava do mesmo dilema. Desde que recebera a notícia sobre o estado de Nate não hesitou em assumir a responsabilidade de todas as coisas que deram errado. Se tivesse respeitado Nate como seu namorado, ele estaria naquela cama de hospital? Seria preciso dedicar sua vida inteira para fazer tudo voltar ao normal.

— Jensen? — Lydia havia chegado de surpresa. — Você não acha que precisa descansar um pouco?

— Não — Após um breve segundo dando atenção a ela, Jensen virou novamente para observar Nate. O mínimo que poderia fazer era ficar ao seu lado. — Eu estou bem, não se preocupe.

— Agradeço pela sua dedicação, mas estava pensando se você poderia nos ajudar de outra forma.

— Sim, claro. — Jensen cruzou os braços.

— Eu e Judit precisamos ficar aqui caso aconteça algum problema. Você poderia ir até a mansão pegar algumas roupas? Nate vai precisar delas quando acordar.

— Tudo bem, eu faço isso. — Jensen assentiu.

— Obrigada, meu filho. — Lydia sorriu gentilmente.

A essa altura, Alex já estava atravessando a rua para chegar ao carro de Thayer, improvisadamente estacionado em frente a uma loja de doces. A expressão impaciente do garoto ao volante fez Alex apressar seus passos.

— O que ele disse?

— Ele fez uma escolha. — Alex bateu a porta do carro e colocou o cinto de segurança.

— Hmm... — Thayer assentiu. Como deveria reagir perto de alguém que se sente infeliz? Nunca havia precisado ser amigo de alguém antes de Nate retornar. — Você está bem?

— Sim. — Alex olhou pela janela do carro. Nate estava bem, Jensen estava bem, Judit e Lydia estavam bem. Ele não tinha mais o que fazer ali. — Vamos embora.

— Você quer que eu te leve pro meu apartamento? Acho que você precisa ficar sozinho.

— Não quero incomodar você. — Alex fungou, ainda olhando pela janela.

— Você não me incomoda...

— Não finja que se importa. — Alex olhou para ele. — Nós transamos, não significa que você precisa ser prestativo.

— Uma vez conheci um garoto com os mesmo olhos que os seus. Ele me disse a mesma coisa, e agora está num leito de hospital entre a vida e a morte. Você vem comigo, querendo ou não.

Thayer pisou fundo no acelerador. Pelo menos havia conseguido arrancar um sorriso dos lábios de Alex. Nos ultimos dias, este gesto poderia ser considerado uma prova da existência dos deuses.

Jensen arremessou o primeiro monte de roupas para dentro da mala. A pressa fazia-o caminhar do closet até a cama, sempre trazendo aquelas peças que se destacavam para agradar Nate. Só ele sabia como os Strauss eram temperamentais quando se tratava da vestimenta.

Balançou a cabeça, tentando afastar todos os pensamentos que pudessem atrapalhar sua missão. Caminhou até o closet novamente e olhou para cima. Havia algumas caixas novas de sapatos que Nate poderia exigir assim que acordasse. Ele ficou na ponta dos pés e bateu nas caixas para caírem no chão. Infelizmente não aconteceu como previa. Tudo o que tinha dentro delas foi espalhado pelo quarto, e algumas coisas até chegaram a quebrar.

Viu algumas coisas velhas como cabeças de bonecos, pulseiras arrebentadas, e até mesmo uma coleção de CDs arranhados. Mas em meio a tudo aquilo, ele conseguiu reconhecer várias coisas que fizeram parte de sua história ao lado de Nate. O ingresso do primeiro filme que viram juntos no cinema foi a primeira coisa que lhe interessou. Era uma boa lembrança, mesmo que as letras já estivessem apagadas.

Próximo a bola azul que Nate ganhara aos dois anos de idade havia um bilhete enrolado em uma casca de ovo quebrada. Ele dizia: “Primeiro café na cama que Jensen me fez”.

Jensen sentiu no mesmo instante que poderia simplesmente desabar. Precisou sentar-se no chão para suportar os efeitos colaterais de tantas lembranças perdidas. E tudo indicava que não pararia por aí. Ao longe ele conseguiu avistar uma foto antiga, que mostrava o momento em que ele e Nate chegaram a Disneylândia. Nate estava tão feliz com suas orelhas de rato que acabou ofuscando o próprio Mickey ao seu lado, assim como Jensen e seu famoso aparelho azul que marcou a sexta série.

Como pude deixar isso escapar? – Jensen repetia dentro da própria cabeça. Tudo o que queria era uma segunda chance, mesmo que soubesse o quanto não merecia.

Seus olhos, como num relance, pairaram sobre os dois diários jogados no chão; um da cor preta e outro da cor branca. Ambos tinham a frase “Abra quando estiver preparado” na capa, como se fosse um aviso.

Então, aqueles eram os famosos diários de Nathaniel Strauss? Jensen mal conseguia conter sua curiosidade. Era errado, uma total invasão de privacidade, uma grande prova de deslealdade... E a oportunidade perfeita para descobrir a verdade.

Decidiu deixar tudo no mesmo lugar e correu com os dois diários para cima da cama. Por ser obviamente uma cor sombria, resolveu começar pelo preto. Não era difícil imaginar que estava prestes a ler as crônicas mais interessantes do mundo inteiro.


Paris, 3 anos atrás.

“Me olhei no espelho só para ter certeza se ainda era eu mesmo. Não conseguia sentir minhas pernas, mas tudo bem, eu também não conseguia sentir qualquer outra coisa que não fosse saudade, como se ele merecesse. Como se ele não estivesse tentando esquecer o erro que eu fui agora mesmo.”

— Você está bem, Nathaniel? — Perguntou Lydia.

— O espelho grande é o único em que eu posso me ver... — Nate girou as rodas de sua cadeira e virou para Lydia, cheio de apatia no rosto. — Tudo bem se você quiser sair, eu faço algo pra comer.

— Você tem certeza?

— Eu dou um jeito. — Ele quase engoliu em seco. — Tem macarrão instantâneo e pizza congelada. É só do que eu preciso.

Nate sorriu entristecido. Depois de ficar seis meses em uma cadeira de rodas, sua lista de desejos havia diminuído consideravelmente. Não poderia ter suas pernas de volta, muito menos a vida que levava. Macarrão instantâneo e pizza congelada caracterizavam de forma completa os seus melhores dias, assim como a vista da praça ornamentada do lado de fora do prédio.

— Você é um garoto forte, Nathaniel — Lydia aproximou-se com apenas três passos.

Ficou olhando por alguns instantes, apenas para ter certeza que a sua intuição estava certa. Nate havia aceitado a condição de vítima que todos sempre tentaram lhe impor. Não havia qualquer vestígio do garoto que costumava ser, nem do homem que deveria ter se tornado. Por quanto tempo teria que fingir não ouvi-lo chorar a noite e abraça-lo sempre que tem um pesadelo?

— Eu sinto muito por tudo — Ela finalmente se pronunciou — Queria poder fazer algo para ajudar.

— Você pode começar se divertindo. Você cuidou todo esse tempo de mim, precisa de umas férias. Além disso, a fisioterapia está funcionando, o médico disse que em breve vou voltar a andar, então...

— Nathaniel... — Lydia suspirou e olhou para baixo, já estava se arrependendo do que iria fazer. — Eu sinto muito por isso.

— O que?

Lydia o puxou pela camisa e o jogou em cima do tapete de maneira agressiva. Nate apenas gritou, sem saber o que estava acontecendo.

Quando olhou para trás, percebeu que ela estava levando sua cadeira de rodas até o outro quarto, e virando no chão todos os móveis do apartamento. Primeiro as cadeiras na cozinha, depois os dois sofás e a poltrona. Qualquer lugar que Nate poderia usar para descansar estava fora de cogitação.

— O que você está fazendo? — Ele perguntou aos gritos.

— Não vou vê-lo definhar dia após dia. Viva por você mesmo, ou morra nesse tapete. — Lydia marchou até a porta da frente e saiu, deixando Nate gritar por ela o mais alto que podia. 


Breathe Into Me by Red on Grooveshark

Ele olhou ao redor, perguntando-se como algo tão impulsivo poderia ajudar. Talvez fosse uma brincadeira, talvez Lydia entrasse por aquela porta após alguns minutos dizendo que aquilo era apenas um teste. Ou talvez, na pior das hipóteses, ela estivesse em busca de realizar o mesmo objetivo do restante da família: Livrar-se da ovelha negra que só causa problemas.

— Socorro! — Ele gritava. E não havia ninguém para ajudar.

As horas foram passando enquanto tentava arrastar-se até o móvel mais próximo. Por mais que tentasse, a força lhe permitia avançar apenas alguns centímetros por vez, fazendo-o cair no chão para respirar logo depois. Já não tinha forças para colocar os sofás no lugar, nem para se arrastar até a mesa da cozinha e apoiar-se em alguma cadeira. O sol estava se pondo sem que tivesse ao menos se alimentado.

— Socorro! — Ele gritou novamente, deixando as lágrimas escorrerem pela bochecha.

Quando anoiteceu de verdade, ele olhou para o relógio na parede. Tinham se passado sete horas desde que Lydia o deixara naquela situação. Além da fome, ainda precisava lidar com o frio de inverno que chegava junto com a neve. Mais alguns minutos naquele chão e teria problemas sérios de saúde.

Ele se arrastou pela sala forçando os braços ao trabalho, e num processo vagaroso, conseguiu se aproximar da porta do quarto. Lá dentro estava sua cadeira de rodas e uma cama confortável para deitar; exatamente tudo o que precisava.

Quando finalmente estava prestes a tocar a maçaneta, Lydia apareceu de surpresa.

— Ainda não. — Disse ela; e segurou nos dois pés de Nate para puxá-lo de volta até a sala de estar.

Nate cravou as unhas no assoalho para impedir sua locomoção, mas não houve escapatória. Lydia só parou quando ele estava próximo a porta de entrada. Era seu ponto de largada para mais uma tentativa de sair do chão.

— Nathaniel, não seja tão covarde! — Ela gritou. O choro inconsolável de Nate estava obrigando-a a exagerar na rigidez. — Você quer ficar para sempre nesta cadeira de rodas? Faça alguma coisa!

— Não consigo...

— Olhe para mim! — Lydia precisou gritar novamente para que ele prestasse atenção. — Olhe para mim!

— O que você quer? — Nate lhe lançou um olhar cheio de ódio.

E apenas por um segundo, Lydia conseguiu enxergar quem ele realmente era. Havia algo em sua expressão, algo capaz de enxergar sua alma e intimidá-la. Havia algo maligno que por muito tempo ficara adormecido.

— Eu tenho vergonha de você, Nathaniel Strauss. Deixou meia dúzia de garotos mimados roubarem o que é seu para viver em Paris com as suas sobras.

— Cala essa boca! — Nate imediatamente levou uma bofetada pelo desaforo.

— Faça alguma coisa! Defenda-se! Vingue-se! Grite! Faça qualquer coisa que possa tirá-lo de onde está, ou então você realmente vai merecer tudo o que aconteceu.

Enquanto tentava sobreviver de acordo com as regras de Lydia, Nate foi capaz de visualizar o rosto de todos os desgraçados que destruíram tudo o que conhecera como vida. Amber, Kerr, Justin, Gwen e Jensen, todos estavam lá, todos observando-o com desprezo. Nate tinha certeza que eles eram superiores, mas e se um dia eles não fossem? E se um dia tivesse a chance de lutar de igual para igual e simplesmente... Vencesse?

O ódio pode ser tão perigoso quanto uma arma de fogo. Mas ninguém havia dito que poderia ser tão bom.

— Agora levante, Nathaniel. — Pediu Lydia. — Levante daí e destrua todos eles. Levante! Levante! Levante! Levante! Levante!

Com apenas um grito, Nate liberou toda a força que precisava na sua ultima tentativa. Conseguiu erguer o joelho esquerdo cinco centímetros para o alto, podendo sentir o frio de inverno novamente sobre suas pernas. Durou apenas alguns segundos, mas foi o suficiente para deixar Lydia satisfeita. O mais difícil estava feito. Nate só precisava de mais alguns incentivos para se recuperar totalmente.

— Você conseguiu. — Ela disse enquanto derramava suas lágrimas no cabelo de Nate. A ocasião estava pedindo por um abraço apertado.

— Eu consegui... — Ele sussurrou, orgulhoso de si mesmo.

Foi só o que conseguiu dizer antes de apagar por um dia inteiro.

Paris, dezembro do mesmo ano.

“Eu estava com uma bebida nas mãos, os sapatos na pista de dança e os olhos perdidos. Não deveria ter experimentado aquela pílula que Lexi arrumou. Eu pensei que me faria não pensar nele, mas no fim foi a única coisa que pude lembrar.”

Nate pairou o olhar cansado na direção do bar. De acordo com Lexi, não poderia confiar em nenhuma das coisas que seus olhos captassem pelos próximos trinta minutos. Era o tempo que levaria para passar o efeito da pílula, e consequentemente, para que as pessoas verdes dançando na pista voltassem ao normal. Precisava lembrar-se de nunca mais tomar substâncias estranhas dos namorados da melhor amiga. Não importa o quanto pudessem deixa-lo feliz.

— Nate, você está aqui! — Lexi apareceu na pista de dança, atrás dele. Seus cabelos loiros amarrados em um rabo de cavalo estavam deixando o decote da blusa cada vez mais visível. A não ser que aquilo também fosse uma alucinação. — Estava dando uns amassos no banheiro, aí o namorado da garota apareceu. Aonde você estava?

— Aqui. — Nate pegou em sua cabeça, já tinha começado a girar.

— Você está bem?

— Sim... — Ele franziu a testa. Estava vendo duas Lexi’s ao mesmo tempo. — Já vai passar, não se preocupe. Preciso ir ao banheiro...

Lexi estranhou, mas preferiu deixa-lo em paz. Nate não seria seu amigo esquisito se desistisse das suas esquisitices.

Ele caminhou de cabeça baixa pelo corredor da esquerda até chegar ao banheiro. A primeira coisa que notou foi o casal gay quase fazendo sexo na parede ao lado. Bem, realmente não era da sua conta. Decidiu apenas caminhar em direção ao enorme espelho para observar a si mesmo. O cabelo estava uma bagunça, assim como as roupas sujas de todos os tipos de bebida que poderia imaginar. A pele pálida e as olheiras de sempre completavam o look desleixado que ainda estava tentando superar.

Para esquecer todas as coisas visivelmente erradas em sua aparência, ele levantou a camisa. A barriga vergonhosa já não estava mais lá graças a Pierre, o renomado personal trainer que Lydia contratara. Mas em contrapartida, também não havia músculos. Nate precisava de mais quatro meses de treinamento intenso para obter o resultado desejado, e mais seis meses para ir além. Quanto custava a cirurgia plástica no nariz que o Tom Cruise fez logo quando seu nome estourou em Hollywood? Não importava. Se continuasse forçando o vômito três vezes por dia, nem precisaria de uma cirurgia.

— Eu odeio você, Nate. — Ele disse pra si mesmo antes de ligar a torneira e começar a lavar o rosto.

Quando levantou a cabeça novamente, sentiu a mesma tontura que o obrigara a deixar a pista de dança. Aquela dor insuportável fazia questão de não ir embora.

— Foda-se... — Ele saiu correndo do banheiro.

Na pressa de encontrar Lexi antes que desaparecesse novamente, acabou dando de encontro com um dos homens musculosos que estavam em frente ao banheiro.

— Você não olha por onde anda?

— Me desculpe. — Nate olhou para baixo e tentou caminhar, mas o homem impediu sua passagem.

— Precisa de um cão guia, idiota?

Sentado em uma das poltronas coloridas da esquerda, Thayer Van Der Wall observava tudo. Apesar da metamorfose, tinha certeza que aquele era Nathaniel Strauss. Ou pelo menos, a versão magra e depressiva dele. Era injusto que apanhasse de um homem com o dobro de seu tamanho por causa de um simples esbarrão.

— Eu já pedi desculpas. — Nate tentou caminhar para o outro lado, e novamente o homem lhe impediu. — Me deixa em paz, droga!

Antes que Nate apanhasse de verdade, Thayer correu para ajudar e derrubou o outro homem no chão com apenas um soco no nariz. Sua atitude impulsiva despertou a ira dos amigos do valentão, que avançaram para cima dos garotos e acertaram vários golpes até a chegada dos seguranças.

Não importava quem tinha começado a briga. Nate e Thayer, mesmo com o rosto sangrando, acabaram sendo jogados na calçada pelo mau comportamento. E nem mesmo isso conseguia fazer Nate se importar.

— Que espelunca! — Gritou Thayer assim que levantou da calçada — Nunca mais volto aqui! — Ele limpou o sangue que escorria de sua boca e olhou para Nate. Não parecia que ele o havia reconhecido. — Você está bem?

— Não pedi pra você me ajudar. Você está sangrando.

— Tudo bem, é apenas sangue.

— Até mais. — Nate deu meia volta e saiu andando.

Cinco segundos depois, já estava inconsciente no chão. Era a ultima coisa que lembrava antes de acordar no quarto de hotel de Thayer.


Everyone Falls by Beth Thornley on Grooveshark

Jensen saiu do quarto como um verdadeiro furacão. No ombro direito carregava a mala com as roupas de Nate, e na mão esquerda, os dois diários que tinha acabado de ler. Precisava ouvir dos lábios de Nate que cada palavra de sua história representava a verdade absoluta.

— Senhor Jensen? — Valeska exclamou. A correria de Jensen quase havia feito sua bandeja de frutas cair no chão. — Senhor?

Mas Jensen estava eufórico demais para dar atenção a qualquer coisa que não fossem suas expectativas. Desceu as escadas, passou pela porta e correu rapidamente através do jardim para chegar ao portão.

— Greg, abra o portão! — Ele gritou.

— O que aconteceu? — Greg parecia assustado. Mais alguma tragédia havia acontecido com aquela família?

— Abra o portão, eu preciso ir!

— Ok! — Pressionando apenas um botão, Greg liberou a passagem para que Jensen pudesse correr para o lado de fora.

— Obrigado! — O garoto agradeceu rapidamente e correu em direção ao carro.

Greg continuou no mesmo lugar, observando aquela loucura aparentemente voluntária. Ou o garoto atingira o grau preocupante da demência, ou estava completamente apaixonado por alguém. Ninguém poderia duvidar da sabedoria de alguém que passou a vida inteira assistindo a inda e vinda das pessoas.

Se Jensen soubesse de suas suposições, estaria lhe dando a razão sem hesitar. A paixão o estava obrigando a ultrapassar os sinais, ignorar as faixas de pedestres e correr por dentro de um hospital, mesmo depois de todos os avisos que encontrara em seu caminho. Não seria nenhuma novidade descobrir que a demência estaria ali enquanto as borboletas no estômago também estivessem.

Um longo caminho foi traçado da mansão Strauss até o encontro de Nate, para que no final, Jensen tivesse uma surpresa. Nate não estava mais em seu quarto de hospital. A única coisa em cima da cama era o lençol bagunçado e o travesseiro que ele mesmo trouxe de casa.

— Onde ele está? — Jensen jogou a mala no chão e olhou para a enfermeira mais próxima.

— Ele quem? — Assim como Jensen, ela olhou para dentro do quarto através da vidraça. — Ele estava aqui há dois minutos. Eu disse que ia pegar seus remédios e já voltava...

— Droga! — Jensen olhou para o chão. Havia uma trilha de pegadas em forma de água que levava até a sala no final do corredor. — É o soro dele.

— O que? — A enfermeira entrou em estado de alerta. A trilha de pegadas terminava exatamente no local onde Nate não poderia estar. — É a sala dos remédios!

Os dois não perderam tempo. Correram até a sala o mais rápido que puderam e abriram a porta. Nate estava em frente a uma das prateleiras, tentando engolir uma dose absurda de comprimidos que ele nem conhecia.

— Nate, não! — Jensen correu para impedi-lo. Apesar dos gritos constantes, conseguiu fazê-lo cuspir os remédios e afastá-lo da prateleira com um forte abraço de contenção.

De tanto de se debater, Nate acabou fazendo com que ambos caíssem sentados no chão. Jensen parecia não ter forças suficientes para impedi-lo de machucar a si mesmo.

— Chame alguém! — Ele ordenou a enfermeira.

— Eu quero morrer! — Nate gritava.

— Você não pode morrer!

— Eu quero morrer!

— Não, você não pode morrer! — Jensen colocou toda sua força de vontade em um único aperto.

Pela primeira vez em muito tempo, Nate sentiu-se estranhamente confortável em seus braços. Olhou para o lado, onde estavam todas as pílulas que Jensen o abrigara a cuspir. Por que há alguns segundos elas faziam sentido, mas agora pareciam tão irrelevantes? Nate estava cansado de sentir-se completamente dominado por aquele abraço. Mesmo que sempre o fizesse sentir completamente seguro.

— Feliz aniversário, Nate. — Jensen sussurrou. Tinha certeza que estava segurando seu mundo inteiro.


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2x09: Red Riding Grudge (16 de Agosto)
Pois é, pessoal. Ainda estou sem notebook, mas consegui um emprestado e se não acontecer nenhum imprevisto voltarei a postar The Double Me toda semana. No capitulo deste sábado teremos eventos muito importantes que vão decidir qual personagem vai morrer. E não, não é de mentirinha dessa vez, e é óbvio que não é nenhum dos gêmeos, já que precisamos deles para a 3ª Temporada rs
Bônus: Entramos em um mini hiatus improvisado, mas nossa Dreamcast também vai continuar. Este aqui é o Andy, o novo herói de vocês. Ele não tem nada de caipira como Justin falou, né? Muito pelo contrário, haha. Não sei o nome desse cara, não sei se é ator, modelo, cantor, porque peguei num tumblr +18 ontem (risos), mas qualquer coisa a gente joga a foto no google e descobre rs














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