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[Livro] A Punhalada 3 - Capítulo 14: Catarse



— E essa é a sala de jantar. — Carter abriu os braços. O copo de whisky que segurava na mão direita estava deixando-o cada vez mais teatral.

Kyle, que o seguiu para onde ia desde que a turnê pela mansão dos Rustler começou, não poderia evitar em sentir-se como um forasteiro. Era estranho conhecer o passado de Carter a aquela altura do campeonato; principalmente depois de ter conhecido todas as outras coisas. Há quanto tempo ele, Carter e Francine estavam juntos? Após várias noites de sexo, crime e perigo, finalmente estava diante do que Carter realmente era: Um homem cheio de lembranças felizes. E com uma conta bancará invejável.

Apenas a sala de jantar onde estava conseguia ser maior que qualquer outro lugar onde Kyle já teve a chance de viver. As janelas gigantescas e os quadros espalhados pelo teto completavam o visual clássico do século passado, mostrando a qualquer visitante o quão imponente era a família Rustler.

— Costumávamos passar o natal aqui até os meus cinco anos. Depois meus pais compraram um flat em Paris e começamos a visitar a Torre Eiffel nas datas importantes.

— Então... Você era um garoto rico? — Kyle colocou as duas mãos nos bolsos.

— Sim, eu sou. — Carter olhou para ele e sorriu brevemente. Estava contornando a enorme mesa de jantar de sua família onde cabiam pelo menos vinte e uma pessoas. — De acordo com o testamento, eu sou dono de quarenta e sete milhões de dólares. É claro que isso diminuiu com o passar dos anos, mas ainda posso dar a você e à Francine a vida que merecem.

— Então somos nós três, um jatinho, Argentina... Mas e depois?

— Você me diz. — Carter parou de caminhar. Precisava dedicar sua total atenção a conversa com o parceiro. — O que você quer fazer?

— Lembra quando estávamos em Amsterdã e você me fez a mesma pergunta? Eu disse que gostaria de ser alguém que as pessoas nunca irão esquecer. Você disse que eu precisava trabalhar nisso e eu simplesmente concordei, sem me preocupar no caminho que eu precisava traçar. Agora sou o homem mais procurado da América e acusado de cometer os crimes mais brutais envolvendo serial killers da história do nosso país. As pessoas nunca vão esquecer quem eu sou, e estou satisfeito com isso. O único problema é que ser inesquecível foi a única coisa que eu planejei. Nunca pensei no que gostaria de fazer quando estivéssemos aqui onde estamos agora.

— Apenas me siga, somos uma família agora e precisamos ficar juntos... A não ser que você resolva ir embora...

— Eu posso ir? — Kyle deu um meio sorriso. — Você não vai sacar uma arma e atirar nas minhas costas?

— É um argumento interessante. — Carter se aproximou da vitrola no canto do salão. — A maioria dos estudiosos acredita que psicopatas são seres incapazes de ter sentimentos verdadeiros. Mas nossa franquia de filmes de terror é a prova viva de que esta ideia está completamente equivocada. — Ele remexia nos vinis enquanto tagarelava. — Brandon era apaixonado por Amanda. Nina era apaixonada por bebês. Eu tenho você e Francine. E todos nós só estamos em busca de qualquer coisa que possa preencher nosso vazio. Seja amor, vingança ou sangue.

Ao terminar seu discurso, o clima do ambiente foi impregnado com as musicas dos anos setenta que Carter colocara no vinil. Eram melancólicas e angustiantes; inapropriadas para a época, mas perfeitas para o momento.

— O que as pessoas precisam entender, Kyle, é que não escolhemos ser quem somos. Mas isso não quer dizer que não podemos ser melhores. Como diz a pintura preferida da minha mãe... — Carter apontou para o maior dos quadros de decoração. Havia pelo menos trinta deles decorando a parte de cima da sala de jantar. — “A lucidez impede a humanidade”. Sabe o que significa? Significa que o conceito do que realmente é certo pode impedir que sejamos fieis a nossa natureza, a nossa humanidade. A lei pode abolir o homicídio, mas não vamos deixar de ser quem somos. Porque nós somos o futuro, a justiça verdadeira. E fala sério, eles nunca vão nos pegar.

— Estou impressionado. — Kyle sorriu cortês, caminhando pela lateral da mesa para ter uma boa visão do lado de fora através das janelas. Carter caminhou em linha reta, apenas para acompanhar a movimentação do amigo. — Você melhorou bastante suas habilidades de persuasão desde a ultima vez que eu precisei ouvir seus discursos.

— Você é meu melhor projeto, Kyle Fuller.

De tanto caminharem, agora estavam na mesma direção, com apenas a mesa na separando-os na horizontal. Carter parou próximo aos castiçais e Kyle a menos de um metro de uma das janelas em forma de arco.

— O mundo é nosso. — Carter concluiu.

— O mundo? — Kyle observou a movimentação das árvores do lado de fora. — Acho que a Argentina é o suficiente para mim.

Por um segundo, Kyle pensou ter visto algo se mover na escuridão da floresta. Seria apenas mais uma impressão infundada se meio segundo depois não estivesse vendo uma pessoa vestida de preto próxima a extremidade do terreno. Era Amanda, ele tinha certeza, mas quase não houve tempo para assimilar. Quando percebeu, ela já havia atirado uma flecha em seu peito e outra em sua perna direita.

Kyle desabou no chão instantaneamente.

— Merda! — Ele gritou.

Carter também não teve tempo para reagir. Assim que correu para socorrer o amigo, olhou brevemente pela janela quebrada. Quem estava fazendo um ataque a residência era Amanda Rush, usando o novo brinquedinho que comprara especialmente para aquela situação: Uma crossbow automática de ultima geração. E deliciosamente fatal.

— Filha da puta... — Ele sussurrou. E logo foi bombardeado por várias outras flechas.

Amanda, apesar de tudo, ainda não tinha uma mira tão boa. Acertou na mesa, no relógio da parede do outro lado e nas cadeiras de madeira, mas seu inimigo número um continuava intacto.

Carter conseguiu se abaixar a tempo para tirar Kyle do chão e começar a correr para o outro lado. Amanda disparou mais flechas em direção enquanto corriam, mas tudo o que conseguiu foi quebrar o vidro de todas as janelas em sequência.

Carter e Kyle estavam agora trancados na sala de jogos da mansão, que ficava logo após o primeiro corredor da direta. Havia uma enorme mesa de bilhar no centro da sala, uma mesa de pebolim, duas máquinas de pinball e um espaço com tapete verde designado aos jogadores de poker. Foi em cima do sofá preto da direita que Carter deitou o amigo para descansar. O peito e a perna estavam sangrando tanto que parecia uma grave hemorragia.

— Porra! — Kyle gemeu. — Ela está viva!

— Ela tem a porra de uma crossbow! — Carter estava histérico.

— Você tem que tirar as flechas... — Kyle olhou para o próprio corpo. Por mais que tentasse, não poderia controlar o suor exagerado e a respiração ofegante. — Tire as flechas.

— Não se mexa! — Carter tocou na flecha cravada nas pernas de Kyle, apenas para vê-lo gritar de dor.

— Filho da puta! Isso dói pra caralho!

— Merda! Merda! — Carter estava com medo de tocar nas flechas novamente. Preferiu andar de um lado para o outro enquanto tentava raciocinar em meio ao caos. — Eu tenho que mata-la! Eu tenho que mata-la...

— Como ela sobreviveu?

— Eu não sei! — Após mais um grito histérico, Carter correu até o mural de vidro para pegar uma das armas expostas e o pente de balas. Precisou quebrar o vidro que protegia usando os punhos, mas um corte pequeno em sua mão era o menor dos seus problemas.

— Carter... — Kyle apenas sussurrou. A cabeça estava começando a girar. — Por favor...

— Ela vai nos expor. — Carter colocou as balas no revolver freneticamente. — Se eu não mata-la, ela vai nos expor. Ela sabe demais!

— Carter, não vá lá fora...

Carter hesitou por alguns instantes após preparar sua arma. Assistir Kyle morrer aos poucos era a ultima coisa que pretendia fazer na sua vida.

— Eu vou estourar os miolos daquela vagabunda. — E saiu pela porta.

A arma estava posicionada e pronta para o disparo. Qualquer coisa que entrasse em seu caminho levaria tiros certeiros, a não ser que estivesse lidando com Amanda Rush.

Quando saiu do corredor por onde chegara até o salão de jogos, ele ouviu o celular tocar. O número era restrito, só poderia se tratar de Francine.

— Amor? — Ele perguntou.

— Tente outra vez. — Amanda debochou. — Tenho certeza que não vai errar.

— Sua vagabunda!

— Quer saber onde seu amor está? Tente no inferno. Megan acabou de manda-la para lá.

Carter demorou alguns instantes para assimilar as palavras de Amanda. Francine estava morta? Ele nunca mais a veria? Nunca mais estaria ao lado de um dos seus amores? Era o suficiente para deixar seu coração em pedaços. E a mente inundada de ódio.

— Eu vou te matar, sua vagabunda! — Ele começou a atirar quando notou um movimento próximo a porta da sala de estar. A arma em sua mão só poderia carregar sete balas e já tinha desperdiçado pelo menos cinco delas. Se não houvesse um estojo com mais doze em seu bolso, estaria bastante inseguro.

Mal sabia que seus olhos tinham acabado de flagrar apenas uma distração. Este era o plano de Amanda para pegá-lo de surpresa pelo outro lado, e já era tarde demais para que pudesse perceber. Assim que ele se aproximou da porta da cozinha, Amanda usou a crossbow em suas mãos para acertar o rosto dele, fazendo a arma cair para o outro lado.

Mesmo em desvantagem, Carter conseguiu usar sua rapidez para socar Amanda no rosto e empurrá-la para dentro da cozinha antes que pudesse usar a crossbow novamente. Só pararam de se mover quando chegaram ao balcão central da cozinha, e ficaram impossibilitados de avançar. Algumas panelas e pratos caíram no chão, mas Carter não se importava com o barulho, muito menos com a bagunça dentro de uma casa sagrada. Estava com as duas mãos no pescoço de sua maior inimiga, e nem mesmo ver a casa em chamas iria impedi-lo de terminar o que começou. Por Kyle. E Também por Francine.

De tanto insistir, Amanda conseguiu bater três vezes na cabeça de Carter com sua crossbow para que enfim estivesse livre. Ele caiu no chão, com a cabeça sangrando, enquanto ela descobria que suas flechas tinham acabado.

— Essa não... — Reclamou, dando tempo para Carter pular em cima dela novamente e tentar segurar sua garganta.

O impacto entre seus corpos foi tão grande que já estavam imprensados no armário do outro lado, onde a família de Carter costumava guardar todos os tipos de utensílios. Entre eles, um liquidificador atolado de sujeira que Amanda não evitou em jogar na cabeça de Carter. Ele cambaleou para o lado, com a cabeça sangrando, enquanto ela olhava para a pequena parte de vidro que restou do liquidificador em suas mãos. Estava se esforçando para mata-lo de uma vez por todas e tudo o que o universo dizia era que precisava fazer melhor.

Sendo assim, ela decidiu livrar-se do pedaço sobrevivente do liquidificador e começou a arremessar para cima de Carter tudo o que estava a seu alcance. Ele apenas colocava o braço na frente para não ferir seu rosto, avançando para cima dela novamente. Dessa vez nada iria impedi-lo de concluir seu objetivo principal.

Deu um soco no nariz de Amanda com todas as suas forças e assistiu-a cair por cima do balcão do outro lado onde se localizava a pia de mármore entupida.

Para infligir mais danos, Carter a segurou pelos cabelos e bateu sua cabeça no mármore do balcão. Amanda quase perdeu a consciência com o ferimento na testa, e já estava fraca demais para se defender. Agora a pia entupida que Carter sempre ignorou iria servir como uma artimanha acidental para ganhar vantagem sobre sua inimiga.

Amanda estava totalmente a mercê de sua força bruta. E por um breve momento, enquanto engolia todo tipo de porcaria que poderia estar naquela água suja, ela pensou que havia chegado sua hora de partir. Não adiantava se debater, não adiantava espernear. Carter era indiscutivelmente mais forte que ela e estava disposto a tirar sua vida a qualquer custo. Mas se deixasse o vilão se dar bem, ela não seria Amanda Rush. Nem chegaria perto de ser Natalie Strauss. E não poderia ser mais ninguém.

Foi vasculhando a bagunça ao lado da pia que ela encontrou uma arma para se defender. Nunca confiaria sua vida a uma vasilha cheia de frutas estragadas, mas conseguiu acertá-la na cabeça de Carter e derrubá-lo na parede ao lado como um golpe de sorte. Agora estava longe de todas as impurezas daquela água suja e podia respirar aliviada. Ou quase isso.

A vasilha tinha partido em mil pedaços, e seu inimigo parecia estar precisando de um tempo para se recuperar dos ferimentos. Era a chance que tinha de sair dali antes que fosse encurralada novamente.

No mesmo instante em que chegara a porta da cozinha, Carter segurou seus pés. Ela conseguiu livrar-se facilmente, mas sua fuga acabou despertando os instintos do assassino para continuar a perseguição. Era tudo tão semelhante aos filmes de terror que por um breve momento, Amanda achou que tudo estava acontecendo em câmera lenta. Seus passos se tornaram duradouros, o medo triplicou em seu coração, e assim como acontecia em seus piores pesadelos, o corredor onde estava parecia infinito. Mesmo que a distância entre ela e Carter pudesse ser diminuída com facilidade.

A sensação só terminou quando ela viu uma luz no fim do túnel. Sabia que Carter estava correndo a poucos metros para alcança-la, então, tudo precisava ser rápido demais. Assim que chegou a sala de jantar, puxou uma cadeira para se defender. Não precisou olhar para trás ou fazer cálculos, apenas centralizou suas forças e virou com o móvel nas mãos no momento exato em que Carter conseguia alcança-la. A cadeira quebrou em vários pedaços desiguais. E seu inimigo, caiu diretamente no chão.

Ver Carter agonizar de dor era algo que nunca iria esquecer.

— Você não deveria ter me subestimado... — Amanda levantou parcialmente sua blusa. Havia um colete a prova de balas com duas marcas recentes representando os tiros que Carter disparara a queima roupa.

Ela podia ver as através de flashes na própria mente como se as lembranças estivessem acontecendo naquele exato momento. Primeiro a noite magnífica ao lado de Carter. Depois esperar que dormisse para correr ao guarda-roupas e vestir seu colete. Mesmo sem saber que estava dormindo com o inimigo, ela precisava estar um passo a frente do assassino para quando chegasse o momento certo.

— Vadia miserável... — Carter usou a mão direita para segurar o outro braço. Parecia ter quebrado com a pancada de Amanda.

— E acho que você deveria saber sobre a irregularidade das montanhas de Chicago. Não há queda livre, apenas uma descida. Não foi divertido rolar trinta metros até o chão, mas talvez tenha sido necessário.

Mais uma vez Amanda colocou as lembranças de volta a sua mente. Poderia ter caído de mal jeito e quebrado um braço, poderia ter caído por cima dos galhos das árvores mortas, mas ao invés disso, caiu em cima da neve, que amorteceu uma queda que desde o começo nunca seria capaz de mata-la.

— Foi um prazer conhecer você... — Amanda preparou o ataque com sua arma improvisada. — Mas acho que já está na hora de seguirmos em frente.

Sem mais delongas, enfiou o pedaço de madeira no peito de seu inimigo. O ferimento anulou todas as forças restantes que Carter usaria para derrota-la e se transformou num gemido agonizante de morte, que o fazia cuspir o próprio sangue pela boca.

A morte perfeita para um grande vilão.

Amanda tinha certeza que no fundo ele estava orgulhoso por ter terminado dessa maneira. Só faltava uma ultima coisa para sua despedida ficar completa.

— Eu... — Amanda apertou a mão de Carter, colocando todos os seus sentimentos neste simples gesto. — Eu sinto muito pela sua perda. Sinto muito por ter perdido seus pais tão cedo e por estar sempre tão sozinho... A Amanda Rush que você está vendo agora daria qualquer coisa pra trazer seus pais de volta, incluindo sua própria vida. Eles merecem estar aqui como eu nunca vou merecer... Só queria que você soubesse disso.

Amanda enxugou todas as lágrimas que insistiram em cair de seus olhos. E mesmo em extrema agonia, Carter também parecia bastante emocionado. Os olhos cheios de lágrimas diziam claramente que aquele discurso era tudo o que precisava ouvir antes de partir.

— Obrigado... — Ele apertou a mão de Amanda com todas as suas forças. E então, simplesmente apagou.

Já não havia mais força em seus braços, nem ar em seus pulmões. Era mesmo o final perfeito para o grande vilão. Talvez agora até mesmo os mortos pudessem descansar em paz.

— Amanda! — Gritou Kyle, no fim do corredor. Estava derrapando por cima da mesinha decorativa de tanta dor que estava sentindo. — Por favor...

Amanda lançou um olhar repugnante em sua direção. Como ainda tinha coragem de clamar por seu nome depois de tudo o que fez? Só de pensar que um dia acreditou em uma vida ao lado daquele homem, Amanda sentia nojo de si mesma. O que teria acontecido com Matty se Kyle estivesse perto demais?

— Amanda, por favor... Me mate.... — Ele caiu de joelhos no chão. Abaixando sua cabeça, ele pôde ver o sangue espirrando da própria boca no tapete. — Por favor...

Amanda estava farta. Caminhou até ele, esperou que olhasse dentro de seus olhos e preparou suas ultimas palavras.

— Pra você é cadeira elétrica, filho da puta! — E lançou um soco no rosto de Kyle para finalizar. Seria um prazer ver um dos assassinos recebendo pena de morte pela primeira vez.

Agora não havia mais nada para se preocupar. Carter estava morto, Francine estava morta e o estado iria lidar com Kyle assim que ele acordasse. Era o final feliz mais puro que conseguira experimentar. Principalmente pela neve que caia do lado de fora; tão bonita e ao mesmo tempo tão poética. Amanda precisou sair pela porta mais próxima só para seguir os flocos esbranquiçados que tanto lhe encantavam. Não importava se estrada ficava do outro lado. Ela merecia caminhar sobre a neve depois de tudo o que aconteceu.

A estrutura de gelo onde estava era plana, e livre de qualquer vegetal das redondezas. Amanda sabia que se tratava de um lago congelado, e isso lhe pareceu apenas um detalhe sem importância. Havia espaço o suficiente para que pudesse caminhar e simplesmente... Ser livre.

Quando chegou na metade do trajeto, ouviu um barulho estranho e olhou para trás. Carter estava correndo em sua direção segurando um machado marrom. Estava pronto para provar que ainda não tinha acabado.

— Não! — Amanda conseguiu esquivar-se rapidamente do primeiro golpe jogando o corpo no chão, para o lado direito.

Carter logo preparou o segundo golpe, que Amanda conseguiu desviar rolando para o lado novamente. Se não saísse dali o quanto antes, Carter bateria no chão com seu machado até que o gelo cedesse.

— Vadia! — Ele lançou o terceiro golpe. E Amanda mais uma vez conseguiu desviar.

O machado havia penetrado tão fundo no gelo, que ao invés de quebra-lo, ficou preso por alguns instantes. Amanda aproveitou para chutar o rosto de Carter e derrubá-lo no chão. Agora quem estava em posse do machado era ela. Carter tinha cometido seu ultimo erro como o assassino mascarado. Um erro que custaria sua vida.

— Ultimas palavras? — Ela deu um passo a frente. Carter ainda estava no chão de gelo, tentando se recuperar do chute e melhorar sua visão.

— Eu ia perguntar a mesma coisa...

Ele correu na direção de Amanda e pulou de maneira desfreada, justamente para que ambos caíssem no chão. O impacto de seus corpos no gelo acabou atingindo a parte frágil do congelamento, fazendo ambos afundarem na água de menos dez graus célsius. Era como ter mil facas atravessando seus corpos ao mesmo tempo sem que pudessem reagir. O único modo de evitar que aquele lago se tornasse seus túmulos era continuando a batalha.

Amanda era quem estava mais perto de chegar até a borda, e consequentemente, possuía menos vantagem. Nunca conseguiria voltar a superfície para pegar o machado que deixara cair se Carter continuasse fazendo de tudo para mantê-la de baixo d’água.

— Socorro! — Ela conseguiu gritar nos míseros dois segundos em que atingira a superfície.

Carter só deixou soltar seu corpo quando percebeu que os dois poderiam morrer. Amanda conseguiu chegar a superfície e começou a se arrastar no gelo enquanto Carter fazia de tudo para sair. A sensação de hipotermia estava impedido até mesmo seu raciocínio.

— Amanda! — Ele gritou, fazendo-a olhar para trás. Pelo que deixou sua curiosidade observar, ele já estava a um passo de livrar-se do buraco de gelo que ele mesmo criou.

Não havia outra alternativa.

Amanda levantou do chão e começou a correr pela neve completamente desorientada. Mas como poderia manter-se fiel ao seu propósito, se o corpo inteiro tremia? Nem mesmo Amanda Rush pôde evitar uma queda repentina justamente quando mais precisava de uma escapatória. Isso deu tempo para Carter sair da piscina de gelo e ataca-la novamente.

Agora o jogo havia mudado. Amanda, que estava prestes a escapar, agora tentava livrar-se das mãos sufocantes que Carter colocara em volta de seu pescoço.

— Morra! — Carter gritava, usando suas ultimas forças naquele ataque.

Amanda novamente imaginou que seria o fim. Não havia armas ou qualquer objeto que pudesse lhe ajudar. Só havia neve, e a força superior de Carter que ela nunca conseguiria entender.

Era assim que iria terminar? Amanda não relutava em repassar na própria cabeça tudo o que já aconteceu na vida que iriam lhe tomar. Brandon, seus pais, Erin, Chloe, a universidade, Matty, o baile de primavera, Daniel, Craig, Aaron, Megan, Isaac, New Britain, mortes, sorrisos subestimados, sonhos despedaçados, futuro inexistente... Morte. Era como assistir a um video alucinante que dispensava qualquer artifício que pudesse elucidá-lo. Mas ainda era a sua vida. Como poderia simplesmente não vive-la de uma hora para outra? Não era assim que os filmes terminavam.

— Não! — Ela conseguiu gritar.

E em fração de segundos, usou o dedo indicador para furar o olho esquerdo de Carter. A dor fulminante fez as mãos do assassino vacilarem, justamente no momento em que Amanda decidiu revidar. Puxou a cabeça dele para perto de sua boca e mordeu profundamente o pescoço. Carter nunca sentira tanta dor em toda a sua cruel existência. E já estava fraco demais para se defender.

Amanda rapidamente cuspiu o pedaço de carne que arrancara com os dentes e o jogou para o lado. Correu até o machado largado no chão e voltou para o mesmo lugar de antes, onde poderia ver Carter agonizando antes da morte. Era patético vê-lo se arrastar na neve apenas para chegar perto e arranhar seus dedos dos pés.

— Eu vou te matar! — Carter gritou.

— É, eu ouço muito isso. — Ao som dos próprios gritos, Amanda acertou uma machadada certeira nas costas do assassino.

Repetir as palavras que ele disse quando a entregou para morte lhe pareceu bastante apropriado. Era exatamente o que ele merecia.

— Amanda! — Gritou Aaron, correndo pelo lago congelado. Ao notar o gelo irregular, ele tratou de tomar cuidado onde pisava, e olhou para o corpo sem vida de Carter logo em seguida. — Ai meu Deus... — Foi só o que conseguiu sussurrar.

Mesmo que o silêncio repentino fosse exatamente o que todos precisavam, Amanda tinha outros planos. Preparou o machado novamente e com apenas um golpe, conseguiu decapitar o corpo de Carter. Aaron não acreditava no que tinha acabado de acontecer diante de seus olhos.

— Por que você fez isso? Ele já estava morto!

— Eu também já morri uma vez. — Amanda olhou para o corpo de Carter uma ultima vez antes de jogar o machado na neve.

— Ok... — Aaron não sabia como deveria reagir àquela situação.

— Chame a polícia...

— Você tem cert...

— Aaron, chame a polícia. — Amanda firmou sua voz para que ele compreendesse a importância de sua mensagem.

Aaron não precisou dizer mais nada. Apenas tirou o celular do bolso e correu de volta pra mansão. Megan e Isaac precisavam saber o que tinha acontecido.

Sozinha outra vez, Amanda se jogou exatamente onde estava para encarar o céu. A neve nunca esteve tão bela. E ela nunca se sentiu tão livre.

— Catarse. — Brandon sussurrou.

Amanda imediatamente virou o rosto para o lado direito. Brandon estava lá, deitado ao seu lado, fazendo exatamente o que ela fazia. Por coincidência, seus braços estavam esticados um para o outro, deixando apenas as pontas dos seus dedos se encontrarem. Era como aquela famosa pintura que viram em Nova York; Deus esticando os braços para chegar até o homem, que por sua vez, não relutava em fazer o mesmo. Talvez Deus soubesse que aquilo era uma despedida.

— É hora de deixar você partir... — Amanda sussurrou de volta para o irmão.

Brandon apenas assentiu. Nos segundos que sucederam, Amanda pôde ver sua imagem desfazer-se junto com a neve, como se ele nunca tivesse existido em nenhuma das vidas que ela conhecia. Era exatamente o que faria o passado inteiro desaparecer até que a morte finalmente fizesse sua parte.

Catarse, a purificação dolorosa. Ele tinha razão.

Amanda sentiria sua falta pelo resto de seus dias, mas lembraria eternamente que não precisava mais amá-lo. Nunca mais.

Ainda dentro da mansão, Aaron caminhava de um lado para o outro falando pelo celular. A atendente da 911 parecia não compreender a gravidade da situação que ele estava reportando.

— Sim, é uma grande mansão. Ela está no nome da família Rustler.

— No momento, todas as nossas viaturas estão ocupadas.

— Como é? — Aaron não estava acreditando.

— Senhor, alguém está precisando de assistência médica urgente?

— Sim, chame uma ambulância, uma viatura, um cachorro farejador, qualquer coisa!

— A ambulância chegará em vinte minutos. Há como deixar o paciente estável, senhor?

— Sim, eu acho... — Aaron estava quase desistindo.

De repente, no meio de seu lamento, Kyle reaparece com uma faca de cozinha preparada para ataca-lo. Aaron conseguiu segurar o braço do oponente antes que fosse ferido, mas Kyle não desistiu. Continuou pressionando a faca em direção ao rosto de Aaron enquanto o imprensava na mesa de madeira em frente a janela.

Faltando apenas dois centímetros para o encontro dos olhos de Aaron com a faca, Megan apareceu pela outra porta com uma arma nas mãos.

— Hey, idiota! — Ela gritou. Kyle virou-se institivamente para encará-la. — Bem vindo ao meu acerto de contas.

E descarregou uma arma inteira no peito do assassino. Aaron mal pôde acreditar que ainda estava vivo. E que também ainda estava inteiro.

— Quem é a donzela em perigo agora? — Megan abaixou a arma e sorriu.

Aaron sorriu de volta, o alívio dominando cada centímetro de seu corpo. Precisou sentar na mesa e pegar no próprio coração para ter certeza de que não havia nada de errado. Megan com certeza era a mulher da sua vida. E ele provaria isso trocando o próprio nome para Bower... Ou qualquer outra loucura que seu pai nunca aprovaria.

— Hey! — Isaac apareceu de surpresa pelo corredor que levava a cozinha. Quando viu Megan apontar a arma para sua cabeça, levantou as duas mãos. — Uow, eu sou um dos mocinhos! — Com a arma abaixada, já não havia mais perigo. — Acabou?

— Kyle está usando colete... — Amanda tinha acabado de chegar. — Mas em tese? Sim, acabou.

Ninguém teve coragem de dizer uma só palavra. Observar a morena suja de neve e cheia de sangue era o máximo que suas mentes lhes permitiam chegar. Ou talvez absolutamente tudo já estivesse dito.
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A mídia já estava totalmente extasiada antes mesmo dos sobreviventes chegarem à delegacia. Amanda Rush, Aaron Estwood, Megan Bower e Isaac Channing foram bombardeados por centenas de jornalistas de várias localidades querendo tirar um pedaço de suas histórias. Eles eram os sobreviventes da grande trilogia, como diziam os fãs nas redes sociais. Não havia ninguém no mundo inteiro que não quisesse saber exatamente o que tinha acontecido.

— O grande terror que assolou a cidade de Chicago finalmente chegou ao fim. — Disse uma repórter em frente a delegacia de homicídios. — Amanda Rush, com a ajuda de três amigos, conseguiu vencer o trio de assassinos que chegou a fazer dezessete vítimas, sendo dez apenas na cidade de Chicago. A polícia não revelou detalhes a respeito dos ultimos acontecimentos, mas tudo indica que houve uma grande luta pela sobrevivência dentro da antiga mansão dos Rustler, abandonada há mais de dez anos [...]

Era só o que o mundo precisava saber.
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Amanda lavou o rosto e encarou o próprio reflexo no espelho. Era a primeira vez que estava diante de seus olhos depois de tudo finalmente se resolver. Não estava decepcionada, tampouco satisfeita com o que via. A normalidade de seus traços lhe trazia um estranho conforto, que de tão desconhecido, acabava obrigando-a a agir como se algo estivesse errado.

Por alguns minutos, ela achou que estava sozinha. Achou que tinha tempo para encarar seu reflexo e redescobrir a pessoa que está vendo. Mas havia um mundo lá fora. E ele não parava. Dois meses haviam passado num piscar de olhar e a vida implorava para que fosse vivida.

Ela percebeu quando duas garotas de vestidos elegantes entraram no banheiro onde estava, conversando sobre como a noiva estava linda no altar. Amanda imediatamente fechou o estojo de maquiagem e passou pela porta que lhe levaria ao resto do mundo. Lá estava Megan, com seu vestido perfeito, posando ao lado de Aaron para quatro fotógrafos. Lá estava o maior bolo de casamento de todos os tempos, com pelo menos sete andares e várias coberturas. E lá estavam os convidados, tonando o dia inesquecível com suas gargalhadas e suas danças exóticas. Amanda não poderia estar mais satisfeita com o que os olhos testemunhavam.

— Eles parecem muito felizes... — Isaac comentou. Tinha acabado de posicionar-se ao lado dela para compartilhar a mesma vista.

— Eles merecem... — Amanda acenou quando viu Megan fazendo o mesmo. Era a noiva mais linda que já vira em sua vida; e como noivo, Aaron também não ficava atrás.

— Então, estou indo para Washington. Faculdade.

— Isso é ótimo! — Amanda sorriu, orgulhosa.

— Não estou indo por causa do que aconteceu. Quer dizer, não tem nada a ver com você... Só acho que preciso de um recomeço.

— Eu entendo. Todos nós precisamos...

— Sabe, eu estava pensando em dizer uma coisa, mas depois desisti porque achei que você ficaria com raiva. Mas acho que agora eu vou simplesmente falar.

— Ok... — Amanda deu um ar de risos constrangido.

— Sei que não foi a melhor maneira de nos conhecermos, mas eu gostei de fazer parte dessa história. Da sua história. Por sua causa de você eu conheci amigos maravilhosos que vou levar pra vida inteira, e eu acho... Eu gosto de pensar que contribui para que você estivesse aqui, sorrindo, e feliz. Se eu nunca mais vir você em toda minha vida, só queria que soubesse disso...

Amanda estava sem palavras. Esperava um discurso infantil sobre como iria sentir sua falta quando obviamente Isaac sabia lhe surpreender.

— Obrigada. — Ela sorriu mais uma vez.

— Com licença. — Aaron se aproximou. — Preciso roubá-la por um minuto.

— Vá em frente. — Isaac sorriu.

— O que está acontecendo? — Amanda estava desconfiada.

— Eu tenho uma surpresa pra você. Vem comigo.

Amanda olhou para Isaac, mas ele parecia saber muito menos que ela. Se quisesse matar sua curiosidade, precisava seguir Aaron como ele havia pedido. O que poderia ser?

— Eu odeio surpresas... — Ela começou a andar.

— Não hoje a noite. — Aaron continuou guiando seu caminho.

— Amanda! — Megan chamou no meio do caminho. — Você tem um minuto?

Amanda virou para Aaron em busca de uma permissão. Realmente não havia como dizer não a Megan Bower. Principalmente depois que havia se tornado uma linda noiva.

— Estarei na porta. — Aaron se afastou.

— Você sabe qual a surpresa dele? — Amanda perguntou.

— Ele não me disse porque sabia que eu não conseguiria guardar o segredo. Mas enfim, não é sobre isso que eu quero falar. Eu acho que te devo desculpas, Amanda.

— Por quê?

— Quando você voltou, tudo o que eu fiz foi culpa-la pelas coisas que estavam acontecendo. Eu não conseguia enxergar que você era uma vítima como todos nós.

— Megan, tudo bem, você não prec...

— Não, eu preciso, Amanda. — Megan interrompeu. — Eu passei as ultimas semanas tentando provar a mim mesma que eu podia tomar conta de mim mesma que nem me importei em agradecer a todos aqueles que estiveram lá por mim. Se hoje eu estou completamente satisfeita sendo Megan Bower, é porque você e Aaron me ajudaram. Há seis anos, você me colocou naquele elevador de carga quando poderia tê-lo usado para se salvar. E disso eu nunca vou esquecer.

— Megan...

— Você é minha melhor amiga, Amanda. Então, por favor, você poderia dar um jeito de simplesmente estar presente na minha vida? Não quero que meu filho cresça sem sua tia legal.

Amanda mal sabia controlar as próprias emoções. Aquela era a melhor notícia de uma vida inteira.

— Você está...? — Decidiu perguntar para ter certeza.

— Sim... — Megan fungou, com os olhos cheios de lágrimas.

— Ai meu Deus, Megan! — Amanda avançou para abraça-la. — Estou tão feliz por você! Aaron já sabe?

— Não, é segredo. Pretendo contar na nossa lua de mel...

— Ai meu Deus, eu não acredito!

— Agora vá, ele deve estar esperando. Vá ser feliz, Amanda.

Amanda olhou para trás. Aaron estava parado na porta do salão, olhando para elas com a curiosidade de sempre. Era impossível não amar todo o universo de seus amigos. Porque agora, era o seu universo também.

— Nós não vamos demorar! — Amanda saiu apressada.

— Eu vou estar esperando... — Megan despediu-se com o olhar.

— Amanda, venha! — Aaron a incentivou.

— Okay, eu já disse que não gosto de surpresas...

— Amanda, cala a boquinha.

Era óbvio que Amanda nunca iria obedecê-lo. Quando chegaram até o carro de Aaron, ela começou a indaga-lo para que contasse todos os detalhes de seu plano. Mas Aaron manteve o segredo durante toda a viagem até que chegassem ao local desejado. Era uma rua comum, onde o tráfego quase não existia. Havia um posto de gasolina, um hotel na esquina e um restaurante do outro lado da rua. Amanda estava completamente perdida.

— Então... O que estamos fazendo aqui? — Ela perguntou, cruzando os braços. Mesmo com a jaqueta de Aaron por cima do vestido, aquela nevasca estava matando-a aos poucos.

— Estamos aqui para que você possa ver com seus próprios olhos.

— Ver o que?

Aaron fez um sinal com a cabeça para ela voltasse a atenção ao restaurante do outro lado da rua. Ela levou alguns segundos para perceber que aquele garoto de cabelos loiros e moletom listrado que jantava alegremente ao lado de um casal, era na verdade seu pequeno Matty. A emoção foi capaz de paralisar seus pensamentos e fazer o corpo inteiro tremer. Não havia como impedir que a única lágrima em seu olho caísse sobre as bochechas.

— É ele? — Mesmo tendo a certeza, ela resolveu perguntar.

— Sim...

— Qual o seu nome?

— Os pais adotivos decidiram manter o nome original. Foi um pedido meu... — Aaron hesitou. Só resolveu continuar quando percebeu que Amanda não diria mais nada. — Ele é um ótimo garoto, Amanda.

— Ele é feliz... — Amanda deu um ar de risos em meio ao choro. Seu pequeno Matty estava brincando com a batata frita e sorrindo para os pais.

— Sim, ele é. — Aaron estava decidindo se precisava contar como atraiu a família de Matty para Chicago. Será que Amanda era contra mentiras ou tudo bem neste caso?

— Obrigada. — Amanda olhou profundamente nos olhos do amigo e segurou sua mão. Era o melhor presente que poderia receber.

— Ok. — Aaron assentiu e girou as chaves do carro.

Sabendo que já estava na hora de partir, Amanda olhou para o filho novamente. Uma infinidade de pensamentos foi capaz de cobrir a realidade enquanto tentava se despedir dentro da própria consciência.

“Eu vou amá-lo para sempre. Adeus...” — Disse para si mesma enquanto o carro partia.

Ela sabia que era a ultima vez.
φ

Kyle fechou os olhos para evitar o contato com a luz. Aprisionado em uma camisa de força dentro de um dos quartos alvejados da clínica St. Jude, pouca coisa lhe restou a fazer para matar o tempo livre. As vozes insistentes dentro da própria cabeça eram o motivo principal para seu estado vegetativo, onde apenas um punhado de palavras sem sentido era capaz de pronunciar.

— A lucidez impede a humanidade, a lucidez impede a humanidade, a lucidez impede a humanidade, mas não vai me impedir. Natalie está morta, Carter não pode morrer... — Ele sussurrava.

Com o passar das horas, as vozes eram modificadas, e as lembranças dos últimos acontecimentos consumiam inteiramente seus pensamentos. Só que dessa vez, havia a presença de um convidado especial.

A voz feminina o obrigou a abrir os olhos de maneira instintiva, e no final da sala, ele foi capaz de enxergar a imagem da antiga Chloe Field, ainda com os enormes cachos loiros. Ela usava a mesma roupa de quando fora assassinada, e mantinha um sorriso malicioso nos lábios. Se não estivesse tão perturbado, Kyle perceberia que era apenas uma alucinação.

— Olá Kyle, lembra de mim?

— Não pode ser... — Ele levantou-se vagarosamente, com os olhos arregalados.

— Eu costumava ser a sua melhor amiga...

— Não... Você está morta... Você está morta!

— Sim, eu estou morta. — Chloe deu três passos a frente. — Mas isso não me impede de estar dentro da sua cabeça...

— Vai embora! — Kyle gritou.

— Kyle, querido... — Chloe revelou uma faca de açougueiro que escondia atrás do corpo. — Eu não vou a lugar algum.

Kyle gritou o mais alto que os pulmões lhe permitiram, mas ninguém poderia salvá-lo dos próprios demônios. Chloe começou a esfaqueá-lo do mesmo jeito que os assassinos fizeram com todos aqueles inocentes, prometendo que este era apenas o começo. Mesmo que tudo acontecesse apenas na mente conturbada de Kyle, a morte estaria consigo até o final de seus dias.


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Considerações:
Nossa trilogia vai terminando por aqui, mas ainda não está tudo acabado! Prometo que esta não será a ultima vez que vocês estarão ao lado de Amanda, Aaron, Megan e todos os outros personagens do universo de A Punhalada.

Como todos já sabem, a quarta parte foi confirmada antes mesmo da terceira estrear, e já começou a ser produzida. O único problema é a “vida real”, que ocupa a maior parte do meu tempo e não me deixa escrever com a mesma agilidade de antes. Fora o fato de ter muitos outros projetos em mente que precisam ir pro papel antes que a ideia esfrie.

Então, caro leitor. Se você for fã de A Punhalada e quer ver essa quarta e ULTIMA parte ser agilizada, é só pedir aqui em baixo nos comentários. Caso o blog receba muitas respostas, farei de tudo pra agilizar essa sequência e lança-la até final desse ano – ou começo do ano que vem – depois da segunda temporada de The Double Me e de outro projeto em que estou trabalhando.

Vou listar agora três curiosidades sobre A Punhalada 4 para que vocês tenham uma ideia de como vai ser.

- Todas as regras do slasher clássico e moderno serão dissipadas. Ghostface será o mais inteligente dos assassinos, capaz de criar armadilhas para fazer as perseguições ficarem ainda mais emocionantes.

- Se você ficou impressionado com o que o trio de assassinos da terceira parte conseguiu fazer, pouca coisa vai impedi-lo de admirar o que foi guardado para o quarto livro. Os assassinos (sim, no plural desde já) levarão o jogo ao nível máximo e terão muito mais destaque como os serial killers da série The Following.

- Muitos anos vão passar na cronologia do quarto livro. Ou seja, veremos Amanda, Aaron e Megan já numa idade avançada (a idade atual 24 + 10 anos), além de introduzirmos o filho de Amanda – já adolescente – neste horror.

Então, preparados pro capítulo final? Porque eu estou, e farei o possível pra encerrar essa franquia de maneira satisfatória para todos nós.

Quanto ao final desta terceira parte, espero que tenha agradado a todos vocês que me acompanham desde o começo. Eu, como escritor, acredito que este seja o melhor dos três livros, e sinto orgulho em saber que personagens criados na minha adolescência evoluíram tanto quanto eu para compor a penúltima parte desta trajetória.

Sem mais delongas, fiquem com uma das principais musicas da trilha sonora de Pânico. Youth of America, por Birdbrain.

Aos fãs de The Double Me: A segunda temporada estreia no sábado, dia 14 de Junho, a partir das 10 da noite.
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4 Comentário(s)

4 comentários:

  1. POR FAVOR, QUERO A PARTE 4 PRA ONTEM!!!

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  2. Ficou muito bom o final... QUERO A PARTE 4

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  3. Parte 4, por favor o mais cedo possivel.
    Com certeza, o melhor livro.
    Felipe

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  4. Fazia tempo que nao vinha aqui, voltei pra ter noticias da punhalada 4, to no aguardo.

    Felipe

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