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[Livro] A Punhalada 3 - Capítulo 12: Sobreviva Ao Horror



Chloe atravessou as portas da delegacia como um furacão. Seus olhos, tão desesperados quanto atentos, conseguiram avistar ao longe a única pessoa que poderia lhe dizer o que estava acontecendo.

— Senhora? — Perguntou um dos policiais atendentes quando a assistia correr dentro do salão.

— Onde ele está? — Ela perguntou a Jeremiah assim que o alcançou. Não precisava de cerimônias e cumprimentos para falar sobre um assunto tão sério.

— Aqui... — Jeremiah abriu a porta azul ao seu lado.

Kyle era a única pessoa dentro da sala de interrogação. Estava sentado na cadeira de ferro do outro lado, com os olhos vermelhos de tanto chorar e a cabeça baixa. Quando notou a presença de Chloe, ele levantou com todas as suas forças e correu para abraça-la.

— Hey, Aaron me ligou! — Chloe sussurrou. — O que aconteceu? Você está bem?

— Eu não sei, eu não sei... — Kyle se afastou. Por mais que tentasse, não conseguia parar de chorar. — Eles dizem que eu fiz algo terrível, mas eu não fiz...

— Fique calmo. Vamos sentar... — Chloe obedeceu ao próprio comando logo depois de Kyle. — Preciso saber tudo o que aconteceu.

— Eu já contei tudo pra polícia. Eu a encontrei. Eu fui ver Amanda no hotel e a porta do quarto estava aberta... Eu entrei, eu a vi no chão! Eu nem sei quem ela é...

— Você tocou no corpo?

— Tinha uma faca no peito dela, eu tentei ajudar, eu tentei... — Kyle hesitou para tentar controlar o choro. — Eu não fiz isso, eu juro. Eu juro por tudo que é de mais sagrado, eu não sou um assassino!

— Kyle... — Chloe estava sem palavras. Poderia dizer a verdade sem machucar seu melhor amigo? — Isso aconteceu antes, quando David morreu...

— Eu não matei ninguém, eu o encontrei! Você tem que acreditar em mim!

— Hey, eu acredito em você. — Chloe tocou a mão dele em cima da mesa. — Eu sempre vou acreditar em você, mas isso não significa nada. Você está sendo acusado de cometer os crimes mais hediondos da América e eles vão fazer até o impossível para encontrar um culpado.

— Você precisa me tirar daqui. Encontre um advogado, encontre alguém... Eu não posso ficar aqui, eu não posso...

— Farei tudo o que eu puder. — Chloe manteve a voz firme. O mais importante – no momento – era fazer o amigo acreditar que havia uma saída.

Kyle apenas assentiu, de cabeça baixa. Apesar dos discursos convincentes de Chloe, era fácil notar o quanto ela estava preocupada. Talvez nem acreditasse em sua versão dos fatos. Talvez estivesse pensando naquele momento em ir para o hotel de Aaron conspirar sobre a mente conturbada de seu melhor amigo, como se ele não soubesse de todas as suas suspeitas bem fundamentadas.

Kyle lembrou por um segundo de Washington, quando estava começando sua carreira de vendedor. Seus colegas de trabalho só precisaram ler alguns itens em sua ficha para que começassem a chama-lo de louco. Escondiam tesouras, falavam pausadamente, cochichavam sempre que não estava perto... Como se ele não soubesse o que estava acontecendo diante do seu nariz. Como se os apagões e a sensibilidade a ruídos estrondosos fosse culpa sua.

Era pedir demais que alguém confiasse em sua integridade?

— Se algo acontecer comigo...

— Kyle, não faça isso... — Chloe suspirou. Não deixaria que aquela fosse sua despedida definitiva.

— Se algo acontecer comigo, diga a Amanda para ficar orgulhosa.

— Orgulhosa?

— O filho dela... Ele é um ótimo garoto. E está seguro.

— Você o encontrou? — Chloe não sabia se gostaria de ouvir a resposta. Lembrar que Amanda desistiu do próprio filho em nome de sua segurança causava uma sensação horrível.

— Há alguns meses. Aaron se certificou de que ele fosse adotado por uma família aleatória que o levaria para longe de toda essa bagunça. Era o que eu planejava dizer a ela...

— Você ainda pode dizer... — Chloe assentiu, levantando-se da cadeira. — Quando sair daqui.

— Obrigado.

— Preciso fazer uma ligação. Volto assim que puder. — E passou pela porta por entrara.

Ali, no meio da multidão que circulava, ouvindo o barulho de telefones sem parar, parecia o lugar perfeito para dar um tempo. Ninguém pararia para perguntar o que tinha acontecido. Nenhum conhecido estava por perto para interromper seus pensamentos de um minuto par ao outro. Chloe Field, a autora bem sucedida de “O Fantasma de New Britain”, precisava admitir para si mesma que estava em pedaços. Escorou-se na parede ao lado da porta e fechou os olhos para repassar todos os acontecimentos em sua cabeça.

Seu melhor amigo estava sendo acusado da cometer um massacre. Sua ex melhor amiga estava outra vez na mira de dois serial killers. E para completar a enxurrada de desastres, Aaron e Megan tinham acabado de adiar o casamento. Não era a toa que se tratava de uma trilogia onde qualquer coisa pode acontecer.

Ela caminhou em direção a porta de entrada e tirou o celular do bolso. Era hora de ter uma conversa com seu contanto principal do FBI.

— Leon? — Ela perguntou assim que a ligação foi recebida.

— Estou aqui. — Ele respondeu, com os olhos atentos aos três computadores a sua frente.

— Por favor, diga que tem algo pra mim.

— Estou neste momento tentando descriptografar os novos arquivos confidenciais do sistema. Vai levar um tempo.

— Pode mandar pro meu email?

— Eles podem rastrear o aparelho que realizou o pedido de abertura do arquivo. É uma medida de segurança bastante eficiente.

— Ok, estou a caminho.

— Espere, tenho outra coisa que você gostaria de saber...

Chloe estava tão concentrada nas palavras de Leon que nem notou Megan e Aaron sentados em um dos bancos em frente a delegacia. Ele falava ao celular enquanto ela fitava o horizonte com o olhar vazio, ignorando o enorme copo de café em suas mãos.

— Amanda não está atendendo. — Aaron guardou o celular de volta no bolso. — Talvez tenha voltado pra mansão...

— Não podemos fazer isso com ela, não pelo telefone. — Megan quase engasgou com as próprias palavras. Se estava doendo nela, Amanda ficaria completamente em pedaços.

— Você está bem?

— Já acabou? — Megan não precisava dizer mais nada para que Aaron soubesse ao que estava se referindo.

— Eu não sei. Não deveria ser tão fácil... E Kyle é nosso amigo.

— Ele matou aquela mulher, eu vi. Não queria ter visto, mas eu vi.

— Você viu Kyle próximo ao corpo de uma mulher. Não quer dizer que ele é o assassino.

— Você é inacreditável. — Megan deu um ar de risos debochado. — Eu preciso estar a beira da morte pra você acreditar em mim e me dar atenção?

— Megan, isso não está relacionado a nós dois. É um caso de múltiplos homicídios. Trabalhamos com evidências, não intuição.

— É claro. — Megan gargalhou, novamente debochando.

— Você pode não ter percebido, mas estou aqui tentando.

— Tentando o que? — Megan levantou, furiosa. — Tentando provar que estou sempre errada? Tentando provar que não sei me defender e preciso de um guarda costas por vinte e quatro horas? Eu estava sozinha dentro daquela maldita loja de vestidos de noiva quando fui atacada. E adivinha? Eu sobrevivi. Sem precisar da ajuda de ninguém; porque eu já sou alguém. Eu não sou A futura senhora Aaron Estwood, eu sou Megan Bower. E se você não consegue enxergar isso, pode subir naquele altar sozinho. — Megan arrancou a aliança da mão esquerda e jogou no rosto de Aaron. Era a deixa perfeita para que pudesse dar fim a mais uma noite impetuosa.

Enquanto ela se distanciava, Aaron juntou a aliança do chão e observou com atenção. Uma lágrima quase escorreu do seu olho esquerdo quando percebeu que estava segurando a prova de que sua vida ao lado de Megan estava acabada. E por um segundo, ele desejou ter sido uma das vítimas do que parecia ser uma trilogia bem sucedida.
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A festa de boas vindas para Chloe Field estava preparada antes mesmo que batesse a porta da casa dos Merriman. Jason e Penelope, os pequenos filhos de Leon, a receberam de braços abertos e com gritos histéricos para que soubesse o quanto fizera falta. Chloe sabia que ter dez anos e ver um ídolo batendo a sua porta não era uma coisa que acontecia com muita frequência. Não com as crianças normais.

— Ai meu Deus! — Chloe gritou, cheia de animação. Era hora do abraço triplo de boa vindas. — Como vocês cresceram!

— Você veio para contar histórias de terror? — Perguntou Jason. Chloe não sabia por que seus olhos brilhavam tanto quando o assunto era o mundo do horror.

— Vai passar o natal com a gente? — Era a vez de Penelope usar sua voz suave para expressar-se.

— Eu... — Chloe não sabia o que dizer. Se Leon não estivesse caminhando em sua direção, provavelmente diria que só estava ali para tentar resolver vários casos de homicídios que pareciam ter saído de filmes de terror. Com certeza um dos motivos para nunca pensar em ter filhos era a sinceridade inconveniente.

— Crianças, deixem a tia Chloe respirar. — Leon sorriu. — Por que não vão preparar um lanche pra ela?

— Ok! — Penelope e Jason disseram ao mesmo tempo enquanto corriam.

— Tia Chloe? Não me lembro de ter ficado velha... — Chloe ajudou Leon a fechar a porta.

— Tive que inventar outro apelido quando eles começaram a perguntaram se você era minha namorada.

— Entendi. — Chloe sorriu. Não seria tão ruim namorar o loiro musculoso de olhos castanhos que conseguia cuidar de um casal de gêmeos sozinho.

— Ok, venha comigo...

Caminhando ao lado de Leon até a ultima porta a direita, Chloe conseguiu chegar ao porão onde seu amigo habilidoso operava todas as suas trapaças. E suas ajudas não remuneradas também.

— Este é o quartel general. — Leon acendeu as luzes. — Não é um nome muito original, mas tenho certeza que você entende.

— Nossa... — Chloe estava abismada.

O espaço era muito pequeno, mas Leon parecia mesmo o tipo de cara que poderia operar milagres. Havia três computadores bem distribuídos no fim da sala, rodeados por impressoras e equipamentos tecnológicos de ultima geração que Chloe nem sabia nomear. Também havia um pequeno sofá preto a direita junto de uma escrivaninha cheia de copos. “Santuário” parecia ser o nome mais apropriado para o que estava diante de seus olhos.

— Me lembre de ser sua amiga para sempre. — Chloe brincou.

— Não sei se isso vai ser possível depois do que eu tenho a mostrar... — Leon sentou-se na cadeira em frente ao computador principal. Chloe o seguiu até o local, posicionando-se atrás dele para que pudesse ver o que ele queria mostrar.

— O que você descobriu?

— Após a prisão de Kyle Fuller, o FBI iniciou uma investigação particular para descobrir se ele possui alguma ligação com os crimes anteriores. Eu sei que você pensa que ele teve alguns problemas emocionais, mas essa é apenas a ponta do iceberg. Ele foi diagnosticado com esquizofrenia simples há cinco anos pela Psiquiatra Sarah Reyes, que ordenou uma internação temporária para controlar seus surtos de alucinação. Como respondeu bem aos medicamentos, ele foi liberado três semanas depois e continuou o tratamento apenas a base do remédio.

— Isso é impossível... — Chloe deu um ar de risos desconcertado. — Ele nunca me contou isso.

— E não para por aí. Kyle recebeu alta após seis meses de tratamento, mas em maio do ano seguinte ele foi acusado de estrangular uma garota de dezenove anos no estacionamento de um clube em Nevada.

— Ai meu Deus... — Chloe fixou o olhar no monitor a sua frente. Estava olhando uma das inúmeras matérias de jornal citando Kyle como o principal suspeito da morte de uma universitária.

— Ele foi liberado algumas semanas depois pela falta de evidências. Mas agora... O caso foi atualizado, deve ter algo que podemos descobrir.

— Merda... — Chloe tirou o celular do bolso. Aaron deveria ser o primeiro a escutar as novidades.

Mal ela sabia que os detetives da delegacia de homicídios de Chicago já estavam dois passos a frente. Já sabiam sobre os problemas de Kyle, sua internação, e a acusação de homicídio que esfriou antes mesmo de sair do estado de Nevada.

Com o auxílio de Jeremiah e outro oficial fardado, Hatrett interrogava novamente o suspeito, tentando obriga-lo a lhe dar as respostas que precisava. Mesmo que tivesse que usar a suposta vítima de Kyle para isso.

— Esta é Caroline Hastings. Consegue reconhecer? — Hatrett apontou para a pasta que jogara em cima da mesa.

— Carol... — Kyle passou os dedos para uma das sete fotos a sua frente.

— De acordo com nossos arquivos, esta é a garota que você matou.

— Hatrett... — Jeremiah estava tentando alertá-lo. Pouco a pouco via o amigo ir longe demais para desvendar aquele crime.

— Não fui eu... — Kyle encarou o detetive.

— Estou aqui há mais de doze horas ouvindo você dizer a mesma besteira como se fosse ajudá-lo, mas talvez eu não tenha sido claro o suficiente. Sua vida acabou. Seu filme acabou. Aposto que você não imaginava que a polícia chegasse antes dessa vez.

— Eu não sou um assassino! — Kyle gritou com todas as suas forças. Logo depois veio o choro descontrolado de alguém que não tinha mais esperança alguma. — Não sou um assassino! Por favor não faça isso comigo, não agora que todas as pessoas que eu amo estão morrendo! Por favor!

— Estamos perdendo tempo... — Hatrett virou de costas e suspirou.

— Por favor, eu não sou um assassino...

— Acho que você deveria descansar... — Jeremiah colocou uma mão nos ombros de Hatrett. Era a sua maneira de reconfortar alguém que poderia estar exageradamente alterado.

— Eu não sou um assassino...

— Eu não vou sair daqui até que ele conte tudo o que está escondendo. — Hatrett impôs a si mesmo.

Enquanto ele e Jeremiah discutiam sobre a maneira correta de comandar um interrogatório, Kyle continuava repetindo as mesmas palavras para si mesmo. “Eu não sou um assassino, eu não sou um assassino, eu não sou um assassino”. Estava começando a se tornar uma obsessão involuntária a medida que perdia seus sentidos. Dez segundos após a intervenção e Jeremiah, ele já não podia ouvir mais nada além da própria voz, muito menos enxergar algo que passasse de um borrão.

Ainda no santuário de Leon, Chloe continuava tentando contatar Aaron e Amanda através do celular. Mas a chamada sempre caia na caixa de mensagens. Até mesmo quando discava o número de Megan.

— Merda, por que ninguém atende? — Ela gritou.

— Estou quase decifrando a criptografia dos arquivos baixados. — Leon informou.

— Aaron, por favor! — Chloe tentou mais uma vez. Quanto mais demorava a contatar seus amigos, mais o estado de Kyle piorava. Ele continuava de cabeça baixa na sala de interrogação, dizendo para si mesmo que não era o assassino.

— Chloe... — Leon chamou.

— Aaron, por favor... — Chloe já estava começando a implorar.

— Chloe, eu consegui!

Mesmo impaciente, Chloe olhou para o monitor principal de Leon. O video em baixa qualidade que estava assistindo era de uma câmera de segurança do estacionamento do clube Red Lips, em Nevada. Kyle e Caroline apareciam escorados no único carro amarelo do estacionamento, protagonizando uma cena quente de beijo. Mas de repente, não era mais a paixão que estava diante dos olhos de Chloe e Leon. Caroline começou a afastar seu pretendente pouco a pouco, e quando percebeu que ele não iria embora, começou a se debater em seus braços.

Chloe estava torcendo para Kyle recuar e ir embora, mas ao invés disso, ele agarrou o pescoço da garota com as duas mãos, e só soltou quando ela já estava sem forças para continuar respirando.

— Ai meu Deus... — Ela repetiu para si mesma enquanto saia correndo.

— Chloe! Chloe! — Leon estava certo de que se tentasse, nunca conseguiria alcança-la.

Kyle, por coincidência, havia acabado de sair de seu estado de transe. Já estava entendendo tudo o que tinha acontecido. Já estava ciente de que não era mais um simples inocente.

Ele olhou para Hatrett e Jeremiah, que ainda discutiam bem a sua frente. Ninguém havia percebido o olhar sádico em seu rosto. Ninguém estava ligando para a frieza em sua expressão. Apesar de tudo o que haviam descoberto, ainda tratavam Kyle Fuller como se fosse um amador. E ele adoraria estar diante deles para provar o contrário. Este era o plano. Este sempre fora o plano.

Na primeira distração do oficial a sua direita, Kyle puxou o pedaço de madeira afiada que guardara dentro da meia e saltou por cima da mesa na direção de Hatrett. Tudo, então, aconteceu rápido demais. Ele conseguiu furar Hatrett duas vezes no peito, partindo logo em seguida para o policial que já havia sacado sua arma. Só precisou acertar um soco para fazer a arma cair e golpear o abdome da vítima para se ver livre de mais um empecilho. Era dessa maneira que rotulava todos aqueles cujo sangue estava em suas mãos.

Jeremiah pensou em dar a volta na mesa para sair, mas antes que pudesse, Kyle pegou a arma que o policial deixara cair e apontou em sua direção. O jogo havia terminado.

— Dê mais um passo e eu estouro seus miolos.

— Kyle... — Jeremiah estava sem palavras. Kyle conseguiu assassinar um detetive e um policial como se não fosse nada. Do que mais ele era capaz?

—Estarei me gabando se eu disser que tudo saiu exatamente como eu planejei?

— Você não precisa fazer isso, você está doente...

— Sério? — Kyle se aproximou devagar. Jeremiah nunca tinha visto alguém tão cínico e doentio. — “Todos nós ficamos um pouco loucos às vezes”. Reconhece esta fala?

— Kyle, por favor...

— Adeus, Delegado Estwood.

Sem hesitar, Kyle usou o pedaço de madeira que ainda tinha em mãos para ferir o abdome de Jeremiah seguidamente. Só parou de golpear quando sua vítima caiu no chão, completamente sem vida. A poça de sangue que se espalhara rapidamente parecia agradar tudo o que fazia parte de seu ser.

— Ok... — Ele suspirou profundamente. Estava na hora de concluir seu plano.

Havia três corpos espalhados dentro da sala. Mas nem todos poderiam ajuda-lo a escapar. A única maneira de sair dali e passar despercebido no meio da multidão era usando o uniforme do policial Jorvins; talvez ao contrário para disfarçar a mancha de sangue que havia feito.

— Me desculpe por isso... — Sussurrou ao cadáver enquanto retirava suas roupas. — Não é nada pessoal.

Cinco minutos depois, Kyle já estava pronto para sua retirada. O uniforme e o boné de cadete tinham servido perfeitamente para seu tipo físico, assim como os sapatos e os óculos de grau doados por Jeremiah. A mancha de sangue – que pensou ser um grande problema – quase não podia ser notada graças a lavagem improvisada usando a pequena garrafinha de água em cima da mesa. Agora nada poderia lhe impedir de terminar sua trilogia.

Devido ao número absurdo de paparazzi em frente a delegacia, ele decidiu caminhar para o lado oposto, visando encontrar uma saída de emergência ou qualquer porta dos fundos. Quando dobrou o corredor para ingressar a outro salão, Chloe passou correndo pela porta da frente.

— Onde está Jeremiah? — Perguntou a um dos policiais que estava de passagem.

— Sala de interrogação, a direita.

Chloe prontamente seguiu a direção indicada. Era a mesma sala onde encontrara Kyle duas horas atrás, não tinha como errar. Mas infelizmente já era tarde demais.

Jeremiah estava li, em meio da poça de sangue, com os olhos abertos e os órgãos a mostra. Chloe nem precisava verificar se os outros dois homens também estavam mortos. Kyle havia feito um serviço completo que apenas um assassino experiente poderia fazer.

— Não! — Ela gritou, colocando as duas mãos sobre a boca.

Enquanto um grupo de policiais se dirigia até a sala para saber o que estava acontecendo, Chloe escorou-se na parede e começou a chorar. Não entendia como Kyle se tornara capaz de cometer tais crimes. Se odiava por não ter percebido seu jogo desde o começo.

Era óbvio que Kyle tinha matado David no edifício da Denver Above, Chloe podia ver dentro da própria cabeça como uma terrível alucinação. Era óbvio que o assassino de Denver se tratava do melhor amigo. Começou exatamente no momento em que ele chegou a cidade, e continuou em Chicago no exato momento em que ele havia se mudado. Kyle sempre esteve perto, sempre se escondendo por trás de uma doença que nunca vai deixa-lo completamente. Ele enlouqueceu. E precisava pagar por isso.

O celular tocou de surpresa em meio a seu devaneio. O número era restrito, e isso era o bastante para se convencer a atender a chamada.

— Olá Chloe. — Disse Kyle do outro lado da linha. — Estava me perguntando se você poderia ajudar um velho amigo.

— Seu filho da puta...

— Eu vi você entrando na delegacia. O que acha de ir a algum lugar onde teremos privacidade? — Kyle olhou para trás. Estava caminhando pelas ruas de Chicago, ainda bem próximo da delegacia.

— Vá se foder! — Ela gritou.

— Você precisa fazer o que eu mando ou mais pessoas podem se machucar. David foi assassinado por culpa sua. Tenho certeza que não gostaria de adicionar os filhos de Leon a essa lista.

Chloe hesitou. Mesmo que fosse um blefe, parecia não ter escolha.

— Estou saindo...

— Muito bem. — Kyle sorriu.

— Agora somos só eu e você. — Chloe olhou em volta da sala vazia onde se escondera. Havia uma infinidade de coletes a prova de balas que ela nunca precisaria usar.

— Como nos velhos tempos, quando eu dormia ao seu lado imaginando cortar sua garganta de um lado para o outro.

Chloe não disse nada. Já estava fazendo esforço demais para controlar o choro e não dar este gostinho ao assassino.

— Eu quase consegui algumas vezes... — Kyle continuou. — Mas então percebi que Chloe Field não merecia uma morte aleatória. Ela precisava estar no meu filme para morrer como a estrela que sempre foi.

— Prometa... — Chloe soluçou. — Prometa que não vai machucar as crianças...

— Isso não faz parte dos meus planos, é você quem eu quero. E será um prazer estripa-la até os ossos do mesmo jeito que fiz com seus pais. Enquanto a sua hora não chega, apenas sobreviva ao horror. — A chamada finalmente foi encerrada.

Chloe mal acreditava no que tinha acabado de ouvir. Seu corpo tremia da cabeça aos pés, seu coração disparava dentro do peito; todas as vozes dentro de sua cabeça estavam lhe implorando para explodir. E esta parecia ser a oferta mais sensata do universo.

Jogou o celular para ser despedaçado na parede e exclamou sua dor para quem quisesse ouvir. Aquilo era imperdoável. E Kyle Fuller precisava morrer.


Capítulo 13: Ao Cair da Neve (Dia 22 de Maio de 2014)
O jogo ainda não terminou. Nosso assassino não está sozinho, e semana que vem, um dos nossos quatro protagonistas vai morrer. Pra quem você torce? Amanda? Megan? Aaron? Chloe?
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