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[Livro] A Punhalada 3 - Capítulo 8: Sem Pistas



— Desculpe pelo atraso. — Disse Megan ao passar para dentro da sala de interrogação.

Aaron estava em pé no centro, de braços cruzados, olhando fixamente para a pequena TV a sua frente. A mesma Tv que roubava a atenção do ex delegado Estwood e o Detetive Hatrett, sentados ao redor de uma mesa cinza.

A tensão entre Megan e Aaron, mesmo afastados, estava presente a cada passo que ela dava enquanto evitava contato visual.

— Megan, você... — Antes de Jeremiah terminar sua pergunta, Aaron o interrompeu.

— Eu a convidei.

— Esta é uma investigação privada. — Disse o Detetive.

— Exatamente. — Megan sentou em uma das cadeiras vagas próximas a mesa. — Eu passei por isso três vezes seguidas. Sou a testemunha ocular das testemunhas oculares. Quer ver minha cicatriz?

— Isso é mesmo necessário? — O detetive quase revirou os olhos.

— Isso é impossível... — Aaron deu dois passos a frente, na direção da televisão. — Ele matou dez pessoas e não aparece nas câmeras de vigilância de nenhuma cena do crime.

— O que estamos assistindo? — Megan finalmente voltou a atenção para o video.

— São as câmeras de vigilância da mansão vizinha a de Melanie Bower. — Aaron hesitou para observar as imagens novamente. — Mas não há nada aqui.

— Precisa haver, de acordo com os depoimentos das testemunhas... — Jeremiah abriu sua pasta. Lá estavam todos os detalhes do caso inteiro. — Bianca Linderman afirma ter visto um homem correndo pela propriedade e pulando os muros no momento do apagão. Assim como Marta Lawless, duas casa a frente. O apagão ocorreu as onze e vinte e três...

— E é exatamente o que estamos vendo. — Aaron apontou para a televisão com o controle remoto que tinha nas mãos. Onze e vinte e três, onze e vinte e quatro, onze e vinte e cinco, mas nada além de uma rua deserta foi gravada.

— Ah é... — Megan parecia ter desvendado o mistério na própria cabeça. — A gravação pode ter sido programada para repetir certos trechos do video para substituir os minutos selecionados. É muito fácil, qualquer ladrão de banco em Washington sabe fazer isso.

— Ela tem razão. — Jeremiah suspirou. — Isso não vai nos levar a lugar algum.

— Na verdade, vai. — Megan levantou e correu até a pequena televisão. — As gravações só podem ser editadas por um computador conectado a uma rede. Se as analisarmos minuciosamente, podemos descobrir a localização exata do computador que operou a modificação. E essa seria a pista mais importante que este caso já teve.

Jeremiah, Hatrett e Aaron e se entreolharam. Estavam surpresos em ver a patricinha que acabara de passar pela porta provar sua capacidade para ajudar a polícia a desvendar crimes. Para alguém que fora julgada no livro de Chloe Field como uma simples garota de sorte, Megan estava bem acima de seu patamar.

— Na verdade, essa é uma ótima ideia. — Aaron quase sorriu.

— Talvez eu não seja tão frágil quanto você pensa.

Logo o pequeno sorriso de Aaron desapareceu. Mas os ataques de Megan nunca iriam impedi-lo de se sentir orgulhoso pela mulher que escolheu.

— É uma pena que os técnicos já estejam responsáveis por este trabalho enquanto conversamos. — Informou Hatrett. — Nossa missão, por enquanto, é descobrir qualquer coisa que podemos ter deixado passar.

— Então não há nada que podemos fazer... — Megan voltou para perto de sua cadeira, mas resolveu permanecer de pé.

Aproveitando o silêncio que se instalara no local, Aaron apertou alguns botões no controle remoto para mudar o quadro de video. Agora todos estavam olhando para a filmagem forense feita na mansão onde Melanie fora assassinada. Devagar, a câmera captava todos os ângulos que podiam ajudar na solução do crime, incluindo objetos de decoração e simples marcas de arranhões no canteiro das paredes.

— Tem sangue... — Megan comentou.

— Não pertence a Melanie. — Aaron passou alguns quadros através do controle. — É sangue de porco.

— Como Carrie?

Por um segundo, todos os presentes na sala refletiram.

— Então estamos falando sobre filmes de terror novamente? — Hatrett suspirou.

— Talvez. — Aaron olhou novamente para a televisão. — Os dois primeiros massacres tiveram como base os filmes de terror que já conhecemos. Não seria impossível encontrar alguns elementos nos crimes recentes.

— Temos certeza que estamos lidando apenas com um assassino? — Megan perguntou.

— Não. Existem dois. — Disse Chloe, adentrando a sala ao lado de Kyle. Junto da bolsa Chanel que ganhara de presente do seu amante, ela trazia consigo um maço de papeis, que foi jogado sobre a mesa assim que se aproximou. — Um em Chicago e outro em Denver. Fomos atacados há dois dias. E oi, a propósito. — Ela sorriu para Aaron.

— Oi. — Aaron devolveu o sorriso.

— Quem são essas pessoas? — Hatrett parecia perdido, tanto pela identidade dos invasores quanto pelos papeis deixados por Chloe em cima da mesa.

— Chloe Field. — Ela estendeu a mão para cumprimenta-lo. — Autora de “O Fantasma de New Britain”. E este é Kyle Fuller. — Chloe se afastou para que todos na sala pudessem ter uma visão mais ampla de Kyle. — Um dos sobreviventes.

Kyle apenas sorriu, um tanto sem graça. E Aaron imediatamente lembrou porque eles estavam ali.

Há dois dias, logo depois do assassinato de David Payne, Aaron recebera uma ligação de Chloe avisando tudo o que aconteceu no edifício da Denver Above. David estava morto e Kyle fora encontrado na cena do crime cheio de sangue, desmaiando logo em seguida. Chloe e Kyle poderiam ajudar a polícia no novo mistério, mas alguém precisava ficar de olho em Kyle, mesmo que fosse apenas para protegê-lo. Mesmo que fosse apenas de si mesmo.

E quando chegaram a esta conclusão, Chloe não teve escolha a não ser embarcar no primeiro avião para Chicago com o amigo ao seu lado.

— Ai meu Deus, não acredito que você está aqui! — Megan correu para dar um abraço em Chloe.

— Não podia perder seu casamento. — Chloe se afastou no mesmo instante em que Megan. — E parece que temos problemas por aqui. — Ela olhou para a pequena televisão no fim da sala. — O que estamos fazendo?

— Coletando evidências. Pela décima quinta vez. — O tom de voz de Aaron soava cansaço.

— É a mansão da Melanie?

— Sim, a gravação feita pela perícia forense.

— Sangue de porco, assim como Carrie. — Chloe passou os dedos levemente sobre a pequena tekevisão. — Mas é apenas para despistar.

— Como assim? — Aaron fez uma careta.

Chloe rapidamente correu até a pasta que Hatrett continuara revirando. Lá dentro estavam todas as informações coletadas por ela antes da viagem, incluindo análises minuciosas sobre suas próprias teorias e as fotos de cada cena do crime, que tinha acabado de espelhar sobre a mesa.

— Aqui. — Ela apontou para a foto onde havia escrito a palavra “Justiça” com sangue. — E aqui. — Dessa vez, apontou para a foto onde a palavra “Honra” havia sido escrita com sangue. — Não há citações de filmes de terror em nenhum dos dizeres deixados pelos assassinos, mas analisando essas fotos, parece que a motivação dos crimes é bastante pessoal; como um acerto de contas com todos aqueles que conseguiram sair ilesos.

— Isso é impossível. — Disse Aaron. — Nenhuma outra pessoa estava envolvida com Brandon Rush e Chelsea Tedesco, muito menos com seus parceiros.

— O casal Rush continua vivo, e Sarah Richards tem vários parentes morando na Europa.

— Não podemos simplesmente supor que os novos assassinos possuam parentesco com os antigos. — Hatrett finalmente se pronunciou.

— Pânico 2. — Chloe puxou outra foto de dentro da pasta. — Apesar dos indícios, a Senhora Loomis revelou ser a assassina principal, justificando seus atos através da morte do filho, que iniciou um massacre no filme original. Ela havia desaparecido desde a separação com o pai de Billy, e conseguiu voltar após realizar algumas cirurgias plásticas.

— Me desculpe, mas isso não é um filme de terror.

— O Fantasma de New Britain. Página oitenta e cinco, capítulo oito. — Chloe começou sua citação. — “Ellie não resistiu. Uma facada certeira no olho esquerdo selou sua morte para sempre. Depois de tanto afirmar que não estávamos em um filme de horror, parecia mesmo que os assassinatos seguiriam a ironia deste gênero. E saber identifica-las poderia ser a grande diferença entre viver ou morrer”. É exatamente por isso que eu estou aqui, Detetive...

— Hatrett. — Ele quase sorriu.

— Hatrett, você deveria saber que precisamos seguir algumas regras. Brandon Rush e Sarah Richards transformaram nosso mundo em um slasher oitentista e isso não vai mudar só porque algumas pessoas decidem que o ceticismo precisa vir acompanhado da arrogância. Saber os detalhes de um filme de terror barato que saiu diretamente para DVD é a única coisa que pode nos salvar.

A discussão, como previsto, tomou a atenção de todos os presentes na sala, fazendo-os questionar ao mesmo tempo como lidariam com aquela situação. Kyle era o único que parecia não ter nada a dizer. Nenhuma teoria, nenhum pensamento, absolutamente nada. Quando deu por si, sua mente já tinha viajado mais longe do que alguém pudesse alcançar. E tudo por causa da imagem pausada na televisão no fim da sala.

Com o passar dos segundos, a imagem começou a se mover. A mulher torturada naquela pintura virou uma gosma sem forma, e os gritos, mesmo sabendo que não eram reais, poderiam ser ouvidos como se a tortura estivesse acontecendo ao seu lado. Ele sabia que era uma alucinação, mas seu estado de transe e o medo que percorria seu corpo não lhe deixaram fazer absolutamente nada para voltar a realidade. A pintura continuou se movendo, e os gritos continuaram a ensurdecê-lo.

— Kyle? — Chloe tentou chamar sua atenção. — Kyle?

Do lugar onde estava, podia ver claramente as lágrimas nos olhos de Kyle como se estivesse assistindo a um show de horrores inimaginável. Para seu subconsciente, talvez fosse exatamente dessa maneira.

— Kyle! — Chloe agarrou seu braço.

E finalmente Kyle estava de volta. Chloe estava lá, Aaron estava lá, Megan estava lá, além do ex Sheriff Estwood e do Detetive Hatrett. Nada anormal e nada incomum. Por enquanto.

— Você está bem? — Chloe estava preocupada.

— Aquela pintura! — Kyle virou o rosto para encarar os que estavam atrás enquanto apontava para a televisão. — Eu já vi! Um monte de vezes.

Decidida a voltar sua atenção para a ideia de Kyle, Chloe acabou tendo uma surpresa. A pintura em destaque no frame pausado era a mesma que David possuía em sua sala de estar no prédio da Denver Above.

— “A lucidez impede a humanidade”... — Ela leu sussurrando.

— Essa pintura? — Megan tomou a frente. — Luke recebeu pelo correio há mais ou menos cinco dias. Ele disse que foi enviada por engano e que iria devolver.

— A mesma pintura em três cenas de crime diferentes? — De repente, Jeremiah tinha visto esperança para a solução do caso.

— Ok, é uma pista. — Hatrett levantou. — Vou providenciar várias viaturas para recolher os quadros. Suponho que você vem junto.

— Tudo bem. — Jeremiah o seguiu pela porta, tão rapidamente quanto havia chegado.

Percebendo que todos estavam saindo e que não haveria outra chance perfeita para conversar com Megan, Aaron decidiu se pronunciar.

— Megan... — Ele a chamou enquanto ela caminhava até a porta. — Podemos conversar?

— Não posso, estou atrasada.

— Dois minutos?

— Preciso provar o vestido, desculpe. — Megan continuou caminhando, mesmo contra sua vontade.

— Kyle, pega. — Chloe jogou as chaves do carro alugado. — Pode voltar para o hotel, tenho outras coisas a fazer por aqui.

— Tudo bem. — Kyle também se retirou.

Agora eram apenas Chloe e Aaron, frente a frente outra vez.

— Ele está bem? — Aaron olhou para o lado. A porta aberta da sala lhe permitia enxergar Kyle caminhando até o final do corredor.

— Sim, o hospital deu alta na mesma noite. Ele só está um pouco confuso.

— O que ele disse sobre aquela noite?

— Ele disse... — Chloe suspirou. — Ele disse que foi na Denver Above ver porque eu não estava em casa e encontrou David morto. Apenas isso.

— Kyle tem problemas, mas é um de nós.

— O assassino de “Dia dos Namorados Macabro” era o protagonista que sofria de alucinações. Tudo pode acontecer. Aaron, todos são suspeitos até que provem o contrário.

— Incluindo você.

— Incluindo a mim. — Chloe sorriu, caminhando em direção à porta. — Vejo você depois, preciso ver sua hóspede.

— Mas e os assassinatos?

— Ah é... — Chloe sorriu mais uma vez, mesmo estando de costas para ele. — Todos nós vamos morrer.

No final do dia, Chloe desejaria que Aaron tivesse compreendido o sarcasmo em sua despedida.

Capítulo 9: A Noiva (Dia 24 de Abril de 2014)
Pessoal, peço desculpas pela "confusão" da semana passada. Quando eu disse que alguém estava prestes a morrer, não quis dizer que seria no próximo capítulo (7- A Rainha Suicida), e sim, muito em breve. Um dos 5 protagonistas (Amanda, Megan, Aaron, Chloe e Kyle) vai morrer, mas apenas no Capítulo 13.
Espero que vocês estejam preparados para perder um deles! =\
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4 Comentário(s)

4 comentários:

  1. Então podemos supor que os outros quatros sobreviverão para ter o "final feliz" da trilogia ?

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    1. Não vá por este caminho. Um deles vai morrer no capítulo 13, mas nada impede de que algo aconteça no capítulo 14, que é o ultimo. A morte não é a única coisa que de ruim que pode lhes acontecer. Existem pessoas que sobrevivem, mas vão parar em um sanatório, ficam paraplégicas ou simplesmente desaparecem, deixando em aberto seu destino. Então, TALVEZ, o protagonista que morrer possa ser considerado o "surtudo", no final das contas rs

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  2. Agora estou ansioso pelo encontro de Amanda e Kyle... E espero que não seja Megan a morrer!!! Amo essa mulher kkkk

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  3. Nossa q capitulo pequeno, quando tava esquentando acabo, estou me preparando pra perder chloe. kyle sempre estive pronto, qualquer outro entro vo ficar em luto.

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