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[Livro] A Punhalada 3 - Capítulo 5: Doce Sacrifício



PS: Usem o tema instrumental que coloquei abaixo para ter uma melhor experiência durante a leitura.

— Somos todos iguais perante o senhor. — Megan ouviu o Padre dizer. Não parecia ser verdade quando lembrava o motivo de estar ali.

Melanie, a irmã que tanto lhe serviu como exemplo, estava dentro de um caixão florido, rodeada de todas as pessoas que queriam vê-la mais uma vez. E de todas aquelas que talvez não quisessem tanto assim.

Apesar da segurança absoluta financiada por Aaron, Megan ainda sentia como se estivesse sendo vigiada o tempo inteiro. Eram os olhares de seus amigos, vizinhos e parentes distantes, imaginando o momento em que Megan precisaria de ajuda; tão ronceiros que não conseguiam enxergar o enorme precipício onde ela deixou-se estar.

Percebendo a inquietude de Megan em seus braços, Aaron aproximou o rosto para sussurrar algumas palavras de consolo.

— Está quase terminando...

Megan suspirou, ajeitando seus óculos escuros. Por quanto tempo conseguiria disfarçar sua falta de ar e o tremor nas pernas?

— Amém. — Disse finalmente o Padre. E então, todos os presentes aproximaram-se do caixão para prestar uma ultima homenagem a Melanie Bower.

Megan, que manteve uma rosa espinhosa nas mãos durante o discurso inteiro, mal conseguiu dar dos dois passos a frente.

— Não posso... — Ela jogou a flor no gramado e passou por Aaron, ignorando suas tentativas de impedi-la.

Suas pernas trêmulas e o pulmão desgastado não lhe permitiram ir mais longe que a enorme macieira próxima ao portão, onde escorou-se para abanar o próprio rosto e respirar mais aliviada. Megan quase debochou de si mesma por estar pensando na palavra “alívio”. Não era uma coisa que o universo estava disposto a lhe oferecer.

— Megan... — Aaron chamou, há alguns passos de distância.

— Eu quero ficar sozinha...

— É por isso que eu estou aqui. — Aaron deu mais um passo a frente. Se Megan estava pedindo um pouco de solidão, era sua função oferecer um pouco de companhia.

— Não posso fazer isso agora. — Megan passou a mão pelo rosto. — Não posso deixar você se aproximar.

— Por quê?

— Porque isso não é sobre a gente. Não há nada que você possa fazer, nada vai mudar. Nada vai... — Sem perceber, Megan deixou uma lágrima escorrer.

— Megan, eu...

— A maneira que ela morreu, foi tão... Cruel. Eu quase não a reconheci naquela mesa. — Megan enxugou as outras lágrimas que caiam sobre suas bochechas. Mesmo que estivesse de costas para Aaron, sentia-se inutilmente constrangida em demonstrar sua fraqueza.

— Megan, eu estou aqui por você.

— Não! — Megan finalmente se virou. Não havia mais como controlar sua exaltação. — Eu não quero que você esteja aqui por mim! Aaron, não há nada que você possa fazer! Está acontecendo de novo e tudo no que eu consigo pensar é que eu vou ser a próxima e vou morrer sozinha.

— Eu sinto muito... — Vendo o choro descontrolado de Megan, Aaron tentou se aproximar, apenas para vê-la afastar-se novamente.

— Não! Fique longe! — Megan deu dois passos para trás e levantou a palma da mão. — Por favor, apenas fique longe. Só hoje...

Assistindo sua noiva correr desesperada pelo gramado do cemitério, Aaron aceitou que precisava simplesmente respeitar sua vontade. Não era o momento adequado para ficar sozinha, mas talvez não importasse. Foi exatamente o que ele sentiu quando a viu levar uma facada e desmaiar em seus braços há cinco anos. Não tinha como saber se ela havia partido, nem mesmo quando chegara ao hospital para uma operação de emergência. Mas a revolta, o ódio e o culpa só lhe deixaram em paz quando Megan abriu os olhos e disse que estava bem.

Se era revolta que Megan estava sentindo, nada poderia ajuda-la. Nem mesmo a presença da única pessoa que pode entendê-la e ficar ao seu lado para o que está por vir.

Aaron estremeceu quando se deu conta que o horror estava apenas começando. O que o novo psicopata havia guardado para o final do que todos estavam chamando de Trilogia? A brutalidade dos novos crimes e o suspense empregado com a ajuda da mídia estavam muito além dos filmes de horror que todos conheciam. Havia um padrão necessário, mas acima de tudo, uma bizarra poesia. Por que um assassino escreveria a palavra “justiça” próximo ao corpo de Melanie quando fazer um filme de terror sempre fora seu real propósito?

Aaron resolveu organizar melhor suas ideias e ligar para o pai em busca de informações. Era o mínimo que poderia fazer para impedir a nova ameaça.

— Aaron? — Jeremiah atendeu após duas chamadas.

— Precisamos conversar. Onde você está?

— Na cena do crime.

Jeremiah olhou a sua volta. Estava passando ao redor da piscina, próximo ao local onde a palavra “justiça” foi gravada com sangue. Havia policiais, detetives e analistas forense tirando fotos por todos os lados.

— Descobriram alguma coisa?

— Depende. Estamos nessa juntos, ou vamos terminar com você batendo a porta na minha cara outra vez? — Jeremiah chegou até o hall da mansão. Havia mais três policiais conversando sobre o crime.

— Eu só quero pegar esse desgraçado...

— Estamos sem nada. Nenhuma impressão digital, nenhuma pegada, nenhum presentinho para a polícia... O único motivo para acreditarem em um novo serial killer é o sobrenome da vítima. E as marcas de facada em suas costas. — Após cumprimentar um amigo que estava passando, Jeremiah continuou. — Falando nisso, como está Megan?

— Ela quer ficar sozinha, precisa de algum tempo.

— Essa não é uma boa ideia.

— Não há nada que eu possa fazer. — Aaron hesitou para pensar. Na verdade, havia uma coisa que poderia tentar. — Preciso ir, ligo depois.

Em fração de segundos começou a discar o número de Luke. Se ele não poderia ficar por perto, talvez o melhor amigo pudesse.

Jeremiah guardou o celular de volta no paletó e sem querer, acabou notando a enorme pintura na parede a sua frente. Seu nome estava escrito em letras cursivas no canto inferior direito, num tom de amarelo queimado. “A lucidez impede a humanidade”. Apesar dos problemas de visão, era possível compreender. Talvez fosse apenas um quadro bizarro que nunca mais gostaria de ver em sua vida. Ou talvez... Talvez não houvesse motivos para se preocupar.
φ

— É aqui. — Disse Isaac. Amanda parou o carro imediatamente.

Do banco do passageiro ele podia enxergar a pequena casa branca no subúrbio de Chicago onde morava. A calmaria noturna e o barulho dos grilos faziam parecer um lugar pacífico para se morar, mas no momento em que a viu o pequeno sino de vento que lhe trazia tantas lembranças, Isaac lembrou de todos os motivos que o levaram a nunca chamar aquela casa de lar.

— Volto em cinco minutos.

— Espere. — Amanda puxou o braço do garoto antes que pudesse descer do veículo. — Pegue apenas o necessário. Você não pode ficar por muito tempo.

— Eu conheci você há quatro dias. Não é o bastante para nos casarmos.

— Eu sei. E você não tem idade pra isso.

— Continue dizendo isso pra si mesma. — Isaac deu um ar de risos e saiu.

Ainda dentro do carro, Amanda o observou correr para dentro da casa como um atleta do colegial. Sua consciência imediatamente iniciou o processo de desaprovação. Se ele fosse um pouquinho mais baixo e não tivesse o abdome definido, seria mais fácil não infringir a lei americana.

— O que eu estou fazendo? O que eu estou fazendo? — Ela repetiu para si mesma, dando um grande suspiro; e um sorriso que não via há anos.

Isaac passou pela porta de entrada e correu diretamente para o quarto. Nem precisou ligar as luzes para saber onde estava cada coisa que precisava. Algumas camisas, algumas calças, algumas cuecas, perfume, desodorante, escova de dentes, e é claro, um dinheiro guardado para qualquer emergência. Ele precisava admitir que manter Natalie Strauss ao seu lado era uma grande emergência.

Sua mãe, sem que soubesse, estava se aproximando sorrateiramente do quarto para espionar o que filho fazia. Ela ligou as luzes, amarrou o baby doll cor de rosa e lançou o olhar preocupado que ele conhecia muito bem.

— Isaac?

— Hey... — Ele não parou de arrumar as coisas dentro de sua mochila nem por um segundo.

— Você vai se encontrar com ela? Por favor, diga que não vai se encontrar com ela.

— Não sei do que você está falando, Norah.

— Lexi me contou sobre a mulher que você conheceu naquele bar. É na casa dela que você está dormindo? — Como não obteve respostas, Norah decidiu ser mais rígida. Deu dois passos a frente e alterou sua voz. — Isaac, me responda.

— Por que você se importa? — Isaac decidiu finalmente olhar para ela.

— Eu sou sua mãe. — Norah aveludou sua voz novamente e deu um passo a frente. — Se você está longe dos caminhos do senhor, eu tenho a obrigação de...

— Ai meu Deus! — Isaac deu um ar de risos debochado. Estava demorando para que Norah começasse a agir exatamente como Norah. — É só nisso que você pensa? Eu já cansei de ouvir suas besteiras. Volte para suas orações e me deixe em paz. — Isaac já tinha decidido que sua vida não seria mais controlada por uma lunática. Apenas virou-se e continuou arrumando as coisas dentro da mochila.

— Você pode me odiar o quanto quiser, mas Deus tem o plano para você, que não inclui sair com a primeira depravada que você conhece em um bar. Ele me prometeu que você ficaria bem, mas você precisa querer. Por favor, Isaac... — Ele tentou tocar em seu braço, mas ele se afastou no mesmo instante.

— Eu não... Eu não consigo mais ficar perto de você.

— Diga o que quiser, mas o inimigo não vai vencer. Não importa o que você faça, você pertence a Deus!

— Saia da minha frente! — Isaac passou por ela, diretamente até seu banheiro.

— Se você não for por amor, você irá pela dor. Ele não irá perdoá-lo se você trocar o seu amor pelo amor de uma qualquer!

— Eu vou embora! — Isaac passou pela porta do quarto. Sua mãe não hesitou em segui-lo.

Quando ambos chegaram até a sala de estar, encontraram Amanda sentada na mesa de pernas cruzadas, segurando a garrafa de Vodka que sempre levava consigo. Pela maneira como fitava Isaac e Norah, tinha ouvido toda a conversa, e estava pronta para dar sua opinião.

— Olá Senhora Channing.

— Quem é você? — Norah a observava com repulsa.

— A mulher que está fodendo com o seu primogênito. É um prazer conhece-la.

— Saia da minha casa agora ou eu chamo a polícia!

— Por favor, não faça isso, em nome de Jesus. — Amanda deu um sorriso debochado. — Já estamos de saída.

— Eu não acredito que seja você. — Norah observou Amanda dos pés a cabeça. — Eu não acredito que meu filho tenha sido corrompido por tão pouco. Eu repudio você e sua depravação.

— Cale a boca, Norah! — Isaac gritou. — Natalie, vamos embora. — Ele caminhou até a porta de entrada.

— Me desculpe por ser rude, mas... — Amanda se levantou. — Há quanto tempo você não sabe o que é ter um homem? Transar a noite inteira, gritar por mais, torcer o braço com uma posição inovadora... Qualquer um ficaria amargo se fosse você.

— Eu não admito que você...

— Admita o que quiser. — Amanda deu meia volta em direção a porta. — Seu filho escolheu a mim ao invés de você. Tenho certeza que vai adorar lidar com isso. — Com a mão na maçaneta, Amanda virou-se para se despedir. — E mais uma coisa. Vá se foder.

Decidida a terminar aquele diálogo, Amanda bateu a porta. Isaac estava sorrindo do lado de fora enquanto Norah morria aos poucos do lado de dentro. Era uma tarde magnífica.

— Isso foi incrível! — Ele disse enquanto seguia Amanda de volta até o carro.

— Tem algo que você precisa saber sobre mim, Isaac. Sou muito boa em ser uma vadia. E faço isso de graça.

Uma vez entendido o recado, eles poderiam seguir em frente.
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Mais um gole de café e um longo bocejo para continuar acordada. O relógio do computador marcava as duas da manhã, mas Chloe tinha certeza que seu trabalho estava apenas começando. Os laudos dos crimes antigos precisavam ser revisados, as fotos da perícia organizadas para encontrar padrões, e o depoimento das testemunhas assistidos pela primeira vez, assim que chegassem em ordem através de seu email. Estar informada a respeito de todos os crimes do estado era a prerrogativa daqueles quem tinham contatos anônimos no FBI, e daqueles que eram espertos o suficiente para usá-los no momento certo.

Enquanto repassava as fotos do corpo de Melanie dentro da piscina, pouca coisa conseguiu lhe chamar atenção. A palavra “justiça”, escrita com sangue na beira da piscina, não parecia tão importante, sabendo que tags misteriosas estão presentes em todas as cenas de crimes desde a era de Brandon Rush e Sarah Richards. Mas um corpo eletrocutado dentro da piscina simplesmente não fazia sentido. Sendo uma das sobreviventes do ultimo massacre, Chloe tinha certeza que nenhum dos quatro assassinos estava disposto a sair de sua zona de conforto para cometer seus crimes. Nenhum deles teve coragem o suficiente de divergir sua arte fazendo uma mudança tão brusca na contagem de corpos. A não ser que... Este seja o objetivo do novo assassino.

Ela lembrou de todos os artigos que lera a respeito da poesia homicida empregada nos crimes de New Britain. Brandon e Sarah tentaram quebrar todas as regras. Nina e Gabriel tentaram utilizar o clichê inesperado. Então, o que restou para a possível ultima parte da franquia? Que tipo de inovação poderia se encaixar perfeitamente no pouco em que o assassino já mostrou? Chloe sentia que era muito cedo para especular, mas tinha certeza que depois poderia ser tarde demais.

— Bem, essa é a minha deixa. — Disse Janine, a amiga de óculos e rabo de cavalo sentada na mesa ao lado. — Você quer uma carona?

— Ainda não terminei.

— Boa noite então. — Janine pegou a bolsa e caminhou em direção ao elevador. — Te ligo amanhã.

— Ok. — Chloe mal conseguiu tirar os olhos de seus relatórios para dar um sorriso de boa noite a amiga.

De dentro da sala do presidente, no fim da repartição, David a observava enquanto arrumava seus pertences dentro da pasta marrom. Estava curioso para saber o que sua colunista menos pontual estava fazendo até aquela hora dentro do prédio. Não havia ninguém naquele andar, muito menos nos andares superiores. Com um pouco de sorte, talvez o segundo andar ainda estivesse funcionando para que David pudesse fazer mudanças de ultimo minuto na edição de amanhã.

— Trabalhando até tarde? — David caminhou até a mesa de Chloe. — Isso é... Incomum.

— Estou revisando os relatórios dos antigos assassinatos. Até agora não encontrei nenhuma pista.

David suspirou.

— Chloe, vá para casa. Temos o FBI pra cuidar disso.

— Sete pessoas já foram assassinadas e só o que o FBI sabe fazer é dizer a imprensa que não está acontecendo de novo. Alguém tem que fazer alguma coisa.

— E como você pretende ajudar? — David posicionou-se ao lado dela, perto o suficiente para ver as folhas e as fotos que tinha em mãos.

— Os assassinatos sempre seguem um padrão. Se descobrimos qual será empregado desta vez, talvez possamos descobrir quem será o próximo.

— Está é Melanie Bower? — David pegou uma foto do corpo de Melanie na piscina. Por causa de sua profissão, vira muitas coisas que nunca gostaria de ter visto. Mas a foto que estava em suas mãos com certeza era uma das piores.

— Sim...

— Ai meu Deus... — David lamentou. Só havia reconhecido Melanie por estar dentro de uma piscina, uma vez que seu corpo desfigurado não lembrava nem mesmo um animal abatido. — Isso é doentio.

— Megan deve estar... — Chloe suspirou. Nem queria pensar no que sua amiga estava passando naquele exato momento. — Ela não merece isso...

— Preciso ir. Brad deve estar me esperando lá em baixo. — David jogou a foto de Melanie ao lado e beijou a cabeça de Chloe. Só ela sabia o quanto estava se sentindo melhor depois deste gesto de carinho.

— Ok, nos vemos amanhã.

— Ok. — David assentiu.

Antes que pudesse chegar ao elevador, Chloe chamou seu nome. Ele virou, mas ela continuou virada para o outro lado, encarando a parede enquanto tentava organizar as palavras que iria dizer.

— Eu posso... Eu posso dormir com você essa noite? Eu sei que devemos evitar suspeitas, mas... Mas eu não quero dormir sozinha.

— Tudo bem. Só preciso falar com Brad, e então venho te buscar.

— Ok, vou arrumar as coisas por aqui. — Chloe virou para sorrir.

David sorriu de volta igualmente cortês, e então, entrou no elevador. Permaneceu quieto com as mãos dentro do bolso e a pasta em baixo do braço até que as portas se abrissem para o segundo andar. Como já imaginava, o local estava completamente vazio. Sem editores, secretárias, ou qualquer visitante caminhando pelos corredores. Perfeito para combinar as novas mudanças com Brad sem que outras pessoas desconfiassem.

David caminhou pelo corredor da direita para dobrar diretamente até a sala dos computadores. Ao tentar forçar a maçaneta da porta de vidro, constatou que ela estava trancada. Mas era a primeira vez em sete anos que aquela sala estava trancada. E se estava trancada, então Brad, um de seus melhores funcionários, não estava do lado de dentro.

— Ótimo. — Ele resmungou enquanto tirava o celular do bolso. Afastou-se enquanto discava o numero de Brad, mas na primeira tentativa, caiu diretamente na caixa postal. — Brad, vou matar você.

Dando um longo suspiro, David escorou-se na parede, decidido a ligar novamente para seu amigo. Enquanto a ligação chamava, ele observou a sala a sua frente, perguntando-se o que poderia ter acontecido. Ela estava trancada e completamente dominada pela escuridão, mas ele conseguia enxergar alguns objetos que estavam lá dentro. Como por exemplo, a cadeira azul giratória do computador central, a pequena lata de lixo próximo a parede e vidro e o pôster do ACDC pregado por um de seus funcionários.

— Brad, sou eu. — Ele resolveu deixar uma mensagem através do celular. — São duas da manhã e não tem ninguém aqui. Não posso esperar por muito tempo, então me ligue assim que receber essa mensagem.

David suspirou mais uma vez. Guardou o celular no bolso e escorou a cabeça na parede, ainda de frente para a enorme sala com parede de vidro onde Brad deveria estar. Além dos inúmeros objetos que conseguiu notar, agora também enxergava uma pequena luz amarela, que acendia e apagava consecutivamente. Foi quando seu celular começou a tocar.

— Brad? — Ele atendeu.

— David? Você ainda está na Denver Above?

— Sim, estou esperando por você. — David deu dois passos a frente, queria saber do que se tratava aquela estranha luz.

— Me esperando? Você me enviou um email cancelando e me mandando pra casa.

— Eu enviei o que? — David fez uma careta.

— David, você está bem?

— Brad... — David hesitou quando percebeu que a pequena luz amarela se assemelhava a faíscas. Mas para ter certeza, resolveu se aproximar um pouco mais da parede de vidro. — Mas que diabos...?

Por apenas um segundo, a pequena faísca acabou se intensificando. E então, o assassino atravessou a parede de vidro na direção de David, que foi imprensado na parede. Para proteger o próprio corpo de uma facada, ele colocou a mão na frente, mas não adiantou. O assassinou cravou a faca de maneira tão brutal que atravessou a palma da mão de David e grudou no peito, onde a faca também conseguiu cravar.

David aproveitou a retirada da faca para segurar as mãos do assassino e impedir outra facada certeira, que seria diretamente em seu rosto. Ambos ficariam testando suas forças por alguns segundos até David chutar os joelhos de Ghostface e depois socar seu rosto. Agora tinha tempo para fugir daquele local, ou simplesmente lutar por sua vida.

O assassino conseguiu levantar-se rapidamente do chão, e aproveitando a lentidão que a facada rendeu a sua vítima, conseguiu ser rápido o suficiente para chegar até David e impedir que continuasse correndo. Ambos caíram no chão, ainda medindo forças, ainda tentando atingir um ao outro da maneira que pudessem para realizar seus objetivos.

E nessa grande disputa, David provou ser o mais forte. Conseguiu impedir a si mesmo de levar outra facada, e ainda derrubou o assassino novamente com outro soco. Mas ainda não estava acabado. David estava pronto para correr o mais rápido que podia quando a sola do sapato raspou nos cacos de vidro espalhados pelo chão, fazendo-o cair de peito no mesmo lugar.

— Não, por favor... — Foi só o que ele conseguiu sussurrar.

O assassino o puxou pelo cabelo e começou a bater seu rosto contra os inúmeros cacos de vidro no chão. Em poucos segundos o rosto de David ficou desfigurado, e ele já não tinha mais forças para lutar. Teve a garganta cortada na horizontal pelo assassino e sangrou até a morte no mesmo lugar onde estava.

Ainda no oitavo andar, Chloe analisava cada folha de papel antes de guarda-la na enorme caixa verde em cima da sua mesa. David iria demorar um pouco mais até subir para busca-la, então não precisava ter pressa para terminar o que estava fazendo.

— Família e justiça... — Ela passou a mãos pelas fotos onde as tags haviam sido escritas com sangue.

Pela primeira vez desde que recebera as fotos do seu amigo, estava achando que aquelas mensagens não eram aleatórias. O novo assassino não parecia estar fazendo um filme de horror, parecia estar em busca de um acerto de contas que por enquanto não fazia sentido.

Quando pegou o celular para discar o número de seu amigo do FBI, ele começou a tocar. Ela leu o nome de David no visor e não pensou duas vezes em atender.

— Já está subindo? — Perguntou. — Acho que tenho uma pista.

— Sempre se metendo onde não é chamada, Chloe Field. — Disse a voz do assassino do outro lado da linha.

Chloe viveu o suficiente daquele horror para saber que não se tratava de uma brincadeira. Ficar em estado de alerta era a única coisa que poderia mantê-la viva.

— Onde está David?

— Todos nós precisamos fazer sacríficos por um bem maior. E David acabou de fazer um em seu nome.

— Você está mentindo... — Chloe começou a andar pela ponta dos pés até o elevador.

— Você não entende, Chloe? É você quem eu quero, meu filme precisa de você. E derramarei o sangue de qualquer um só para conseguir o que eu quero.

— Então o que está esperando? Venha me pegar! — Chloe gritou, com os olhos cheios de lágrimas.

— Com prazer! 


Assim que a chamada foi encerrada, o assassinou revelou-se atrás da porta que levava as escadas. Não houve tempo para Chloe apanhar o elevador, então, a única maneira de ter uma chance foi correr para o lado dos corredores, jogando no caminho todos os objetos que encontrava pela frente. Isso lhe rendeu uma boa vantagem sobre o assassino para que pudesse escolher uma das inúmeras portas sem que fosse vista.

Agora ela estava na biblioteca antiga, rodeada por prateleiras cheias de livros e mesas desocupadas. Passou por todos os obstáculos até a porta mais próxima, que dava acesso a outro corredor. Pensou em usar o celular em suas mãos para pedir ajuda, mas precisou se esconder na sala mais próxima quando viu o assassino prestes a descobri-la.

A nova sala, apesar de ficar no mesmo andar onde trabalha, era uma completa novidade. Parecia um escritório de presidente, todo marrom, com um mini campo de golfe próximo a janela e uma adega cheia de bebidas caríssimas. Foi atrás da enorme mesa de centro que ela resolveu esconder-se para pedir ajuda através do celular.

— 911, qual a sua emergência?

— Sou Chloe Field... — Ela sussurrou. — Estou no prédio da Denver Above, alguém está tentando me matar.

— Senhora, tente se acalmar.

— Por favor, mandem alguém, eu...

E de repente a faca do assassino atravessou a mesa, a apenas dois centímetros do rosto de Chloe.

— Não! — Chloe gritou, e imediatamente forçou a mesa a virar na direção do assassino. O celular que estava em suas mãos, ela não fazia ideia de onde havia ido parar.

Com o assassino em sua direção, Chloe correu até a enorme adega do outro lado e começou a atirar todas as bebidas para se defender. A maioria não conseguiu acertar seu inimigo, mas conseguiu machuca-lo o bastante para fazê-lo cair no chão.

— Filho da puta! — Ela agarrou o taco de golfe escorado ao lado e bateu no rosto do assassino apenas uma vez.

Vendo-o desmaiado no chão, ela paralisou. Perguntou a si mesma o que fazer inúmeras vezes, e em nenhuma delas conseguiu chegar a um denominador comum consigo mesma. Sabia que precisava fugir, encontrar David e pedir ajuda, mas sua curiosidade sempre falaria mais alto. Quem estava por trás da máscara? Quem estava causando todo aquele horror novamente? Ele estava bem na sua frente, e ela tinha a chance de descobrir. Ou simplesmente terminar com todo aquele horror.

— Ainda não acabei com você! — Ela gritou, preparando uma tacada certeira no rosto do assassino. A ultima coisa que queria era cometer o mesmo erro dos filmes de horror. Poderia descobrir quem ele era assim que terminasse de mata-lo com suas próprias mãos.

Mas para sua surpresa, o assassino era exatamente tudo o que um filme de terror precisava. Fingiu estar derrotado apenas para agarrar o taco das mãos dela e fazer um corte horizontal em sua perna direita, o único lugar em que a distância entre ambos lhe permitia.

Não havia tempo para pensar no que fazer, ou simplesmente reagir. O instinto de Chloe ordenou que saísse correndo imediatamente pelo corredor por onde chegara enquanto poderia manter uma considerável distância do assassino. Logo ela estava diante da porta que levava as escadas, sem se preocupar em olhar para trás.

Ela não fazia ideia de quantos andares estava descendo. Apenas continuou correndo através das escadas até que estivesse longe o suficiente do oitavo andar, até que não pudesse mais ser alcançada.

Ao passar pela porta que indicava o primeiro andar, acabou dando de encontro com Kyle. O susto a fez gritar o mais alto que pôde, até ela perceber o estado em que seu amigo se encontrava. Ele estava com as duas mãos completamente sujas de sangue, assim como a camisa e os sapatos. Os olhos estavam cheios de lágrimas e a pele pálida como a de um cadáver. Conhecendo-o bem como Chloe conhecia, tinha certeza que ele estava em estado de choque, mas não podia ignorar as evidências. Por que Kyle estava sujo de sangue, e o que fazia aquela hora no prédio da Denver Above?

— Kyle... — Chloe deu dois passos para trás, temendo que pudesse ser machucada.

— Não é meu. Esse sangue não é meu... — As palavras saiam da boca de Kyle como se não fizessem sentido algum.

— Você...? — Chloe deu mais dois passos para trás. Se o que estava vendo era mesmo verdade, uma das pessoas que mais ama na vida tinha acabado de tentar mata-la. E isso explicava aquela vontade incontrolável de libertar as lágrimas presas na beira dos olhos.

— Eu encontrei ele... Chloe, eu... — Kyle cambaleou um passo para frente. Parecia estar prestes a desmaiar. — Chloe, por favor... — Ele esticou a mão para ser ajudado, mas Chloe não se aproximou.

E então, ele desabou no chão, completamente inconsciente. Chloe abaixou-se para presta socorro, mas no fundo, não sabia o que queria. Não sabia se Kyle deveria ser levado até as autoridades por ser o assassino de David, ou levado ao hospital por ser o inocente que estava no lugar errado e na hora errada. Só sabia que mais uma vez, Chloe Field havia sido uma verdadeira sobrevivente.


Capítulo 6: Vocês Todos Morrerão Esta Noite (Dia 3 de Abril de 2014)
Na próxima semana teremos o grande encontro entre Amanda e Ghostface. Não percam!
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Um comentário:

  1. Meu Deus, eu entrei em estado de êxtase lendo esse capítulo, muito mais que perfeito, os meu batimentos cardíacos ainda não voltaram ao normal.

    P.S1: Não gosto muito do Isaac, não sei o porquê, mas não gosto
    P.S2: Amanda já perdeu seu posto, Chloe, agora é minha segunda personagem favorita
    P.S3: Aaron muito doce com Megan. Ahh bem que Megan poderia matar o assassino dessa vez, não o ajudante! Fica a dica.

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