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[Livro] The Double Me - 1x14: You Can Cry Now, Champion [+18]



“Nade o mais rápido que puder.”


— Estou na cozinha. — Murmurou Alex ao abrir a porta da geladeira.

— Vá pro seu quarto, alguém pode nos ouvir. — Jensen jogou um dardo no alvo que estava pregado na porta de seu quarto, deixando-o pregado na cor verde.

Alex parecia relaxado quanto a isso, mas entendia a preocupação de Jensen. Fazia quatro dias que eles estavam vendo filme, mentindo pras pessoas e falando escondido no celular. Ontem mesmo quase foram flagrados por Lydia quando resolveram dizer que estavam sentindo saudades. Por sorte — de maneira egoísta. — a velha mulher já não ouvia mais as coisas como há vinte anos.

— Não se preocupe, não tem ninguém aqui. — Alex fitou a enorme geladeira, estava decidindo o que pegar em meio a diversas coisas. Era outra coisa boa em ter aquela vida, uma geladeira cheia de comida que faria qualquer mercadinho do Brooklyn ficar com inveja.

— Onde eles podem estar num sábado de manhã?

— Tem uma festa da Vogue hoje à noite. Judit e Simon vão patrocinar e precisavam ter uma reunião com a presidente. — Alex decidiu pegar seu jantar congelado que não comera ontem. Só pelo cheiro percebeu que estava ainda mais delicioso.

— E onde estão seus adoráveis irmãos? — Jensen jogou mais um dardo, ele parou bem perto de onde o primeiro estava.

— Gwen está no balé e Nate disse que iria “curtir”. Acho que você entende porque fiquei com receio. — Alex levou sua comida até o micro-ondas e o programou para três minutos, ele estava mantendo o celular pressionado entre o ombro e a cabeça para que as mãos estivessem livres.

— Então, você vem hoje?

— Hoje? — Alex olhou para o chão da cozinha, pensativo. — Acho melhor não. Eu saí todos esses dias, eles podem suspeitar se não dermos um tempo.

— Escalar sua janela não é mais uma opção?

— E eu preciso responder? — Alex sorriu. Estava achando incrível como Jensen conseguia ser tão compreensível pra um garoto que as revistas sempre chamaram de egoísta. E era óbvio que escalar sua janela não era mais uma boa opção, mas isso não impedia Alex de querer. Por enquanto era o suficiente.

— Eu ouvi essa risada, foi quase um sim. — Jensen jogou o ultimo dardo e se atirou na cama. Ficou olhando para o teto enquanto esperava uma resposta.

Alex começou a tagarelar sobre o quanto era perigoso um encontro dentro da mansão de seus pais, sem saber que estava sendo observado. Gwen não estava no balé, graças a mentira que contara pra enganar a mãe. Ela estava atrás da porta da cozinha, ouvindo com bastante clareza tudo o que o irmão falava a seu. — até então. — admirador secreto. Há uma semana que não conseguia desgrudar daquele celular e sempre desligava quando alguém aparecia, era óbvio que se tratava de um amor proibido. E mais proibido que namorar o ex do irmão, ainda não foi inventado.

O que será que Alex faria se ela revelasse que estava escutando tudo? Será que iria gaguejar e inventar a pior desculpa de todos os tempos? Gwen não podia saber, mas tinha certeza que seria divertido. Ela ficou parada na porta enquanto Alex retirava sua comida do micro-ondas, apenas esperando ele virar e fazer aquela expressão assustada que estava esperando.

Assim que ele virou, Gwen cruzou os braços e sorriu com malícia, só queria deixá-lo constrangido antes de fazer um favor ao seu amigo Justin.

— Gwen? — Exclamou Alex, obviamente assustado.

Jensen subitamente ficou alerta do outro lado da linha. Gwen. — logo depois de Nate. — era a ultima pessoa que poderia ouvir sua conversa com Alex. Além de egoísta e falsa, ela também era amiga de Justin, e não iria aceitar o término do que julgava ser o casal perfeito.

Por impulso, Alex encerrou a ligação. Não sabia se Gwen tinha ouvido alguma coisa, mas sabia que seu rosto assustado já tinha entregado tudo.

— Quem era no celular? — Gwen apontou com a cabeça pro aparelho que Alex havia abaixado. — Você desligou com uma pressa...

— Era só... — Alex olhou para o celular em sua mão e engoliu em seco. Rapidamente pensou numa resposta, mas não sabia se poderia enganá-la. — Privacidade. Não posso deixar você me ouvir falando com a minha mãe enquanto ela me mima, não é?

— Toda mãe é assim, relaxa, eu te entendo. — Gwen passou por ele e abriu a geladeira. Lá de dentro, retirou uma jarra de suco de maracujá junto de um copo.

Alex ficou parado, apenas observando-a se movimentar. Ele realmente deveria ter ouvido Jensen e tomado mais cuidado, pois agora, seu segredo poderia estar nas mãos de alguém em quem ele sabia que não poderia confiar. E se ela contasse a Simon? E se ela contasse a Judit? E se ela contasse a sua mãe? Nada disso assustava tanto Alex quanto a possibilidade de Nate descobrir.

— Onde está nosso querido irmão? — Com leveza, Gwen derramou metade do suco em seu copo, o suficiente para que dissesse cheia de convicção que havia tomada café da manhã.

— Ele só disse que iria sair, mais nada...

— Deve estar destruindo mais alguém por aí, ou algo parecido...

Alex fechou a mão num punho. Estava com vontade de lhe dizer boas verdades para que não se sentisse no direito de difamar seu irmão por aí, mas sabia que Gwen não era o tipo de pessoa com quem deveria se meter. Se ela fez coisas horríveis contra o próprio irmão que cresceu com ela apenas para tirá-lo do testamento e ficar com mais dinheiro, o que seria capaz de fazer contra Alex que não era nada mais que um estranho dono de um rosto conhecido? Era melhor deixar a justiça com seu irmão.

— Acho que você deve saber o que ele fez com a Amber. E como se não bastasse, ainda tenho que lidar com o relacionamento dos meus amigos indo por água abaixo. — Gwen levou o copo mais uma vez até seus lábios, estava esperando Alex morder a isca.

— Como assim?

— Ah, você sabe. Justin e Jensen não estão mais como eram antes. Terminaram há dois dias, Jensen o traiu. Ele realmente não consegue ficar com o piu-piu dentro das calças.

— O que?

— Não se faça de bobo, você sabia que eles estavam namorando, não é? — Gwen fingiu indiferença, mas por dentro estava gargalhando. — Enfim, não se preocupe, eles vão voltar. Sempre voltam. — Após esvaziar seu copo, ela sorriu. — Agora vou à casa da Amber, diz pra mamãe que não chego a tempo pro almoço. Tchauzinho. — Gwen acenou para ele e saiu.

Uma pena que não havia levado consigo todo aquele sentimento de inferioridade que Alex estava sentindo. Então Jensen não havia mudado? Não era fiel e tinha namorado? Mas como podia ele mentir tão bem? Será que depois de assistir filmes ele corria pros braços de outro como se nada tivesse acontecido? Alex precisava tirar isso a limpo, mas já podia ouvir a voz debochada dentro da sua cabeça dizendo “Bem-Vindo aos Hamptons”.



— Eu quero que vocês me escutem, seus brutamontes de tanguinha. — Disse o treinador Barclay a seus pupilos.

Os nadadores estavam há centímetros da piscina, lado a lado e com os braços para trás. Era o que ele exigia que fizessem sempre que fosse lançar um discurso sobre como está insatisfeito com seus números. Afinal, a próxima competição seria em dois meses, e estava disposto a fazer da vida de cada um deles um inferno se não levassem a medalha de ouro pra casa.

Thayer estava no meio dos garotos, com uma sunga preta e o cabelo bagunçado por causa da água. Apesar de estar sendo chamado atenção, ele não se incomodava com os gritos de seu treinador competitivo. Era desse jeito que se divertia antes de uma competição.

— Vocês não são sereias. — Barclay virou seu boné. — Se querem brincar de Aquamarine, vão ter que sair da minha piscina! Vocês precisam nadar como verdadeiros campeões ou estão fora! Carlos. — Ele olhou pro nadador negro na ponta da esquerda. O garoto sentiu-se imediatamente intimidado. — Você nada como se quisesse ser comido por tubarões, fez dois segundos a mais. Você sabe o que isso significa? Pra você, nada, mas esses dois segundos podem te dar ou te tirar uma medalha!

— Vou me esforçar mais, senhor.

— Não, idiota, você vai pro banco até aprender que natação não é brincadeira. Estou brincando agora, você é um dos melhores, mas precisa nadar como homem.

Os nadadores prenderam um riso.

O treinador olhou pro garoto da direita, o antepenúltimo na fileira. Seu nome era Mike, e parecia bem relaxado apesar de ter sido chamado atenção.

— Mike, Mike, Mike... — Barclay deu dois passos na direção dele, hesitando em seu diálogo. — Você é o melhor de todos, conseguiu um número mais alto que o de Thayer. Meus parabéns. Mas um segundo é coisa pra mariquinhas, quero vê-lo humilhar o adversário. Acha que pode fazer isso?

— Sim senhor. — O garoto respondeu.

— Agora, meu medalhista. — Ele sorriu. Era óbvio que estava falando de Thayer. — Se você não fosse tão feio, juro que te beijava, garoto da boca rosa. Posso te chamar de Guadalajara a partir de hoje?

— Como quiser, senhor. — Thayer sorriu.

— Muito Bem! Guadalajara e os outros perdedores, já pra piscina! — O treinador apitou.

Os nadadores não perderam tempo, apenas viraram pra colocar suas tocas e caíram na piscina. Após alguns segundos lá dentro, Thayer e Mike tomaram a vantagem, mas ainda estavam perto demais para saber qual dos dois venceria. Só nos momentos finais que Mike conseguiu ultrapassá-lo e sair como o vitorioso.

Um segundo, apenas um segundo havia ficado entre Thayer e a vitória. Se continuar desse jeito, com certeza vai deixar de ser o favorito nas próximas Olimpíadas para que Mike consiga trazer mais medalhas ao país. Era revoltante perder desse jeito, alguma coisa precisava ser feita.

Com fúria, ele arrancou os óculos de proteção e olhou pra borda da piscina. Estava vendo sapatos caros e importados junto de uma calça jeans marrom mais cara que um carro. Aquilo só poderia pertencer a uma pessoa: Nathaniel Strauss.

O garoto estava de braços cruzados observando-o na piscina. Seu olhar desprezível dizia claramente que não estava ali pra fazer amizades, ou ver vários homem perfeitos nadando seminus.

— Você é péssimo, Guadalajara. — Disparou ele.

— Não foi isso que você disse naquela noite em Paris. — Após um sorriso malicioso, Thayer usou a borda para se equilibrar e sair da piscina. A água que caia do seu corpo derramava em Nate, mas ele fingia não se importar.

— Bom, eu digo muitas coisas.

— O que não quer dizer que eu precise ouvi-las. — Thayer passou por ele tirando sua toca, o cabelo imediatamente ficou arrepiado.

— Tem certeza? Tenho algumas noticias sobre nossos amigos que podem lhe chocar.

— Sério? — Thayer caminhou até o banco de ferro vermelho onde estava sua toalha. A primeira coisa que enxugou foi o cabelo, e depois, passou pras pernas. Iria continuar fazendo de tudo para que Nate percebesse que não estava nem um pouco interessado na sua companhia ou em suas novidades. E iria começar fazendo tudo o que faria se ele não estivesse ali. Com um pouco sorte, talvez Nate terminasse de dizer tudo o que queria antes dele voltar a piscina.

— Em primeira mão. Bieber e Adúltero McPhee não estão mais juntos. Choque-se.

— O que? — Thayer olhou pra ele, agora enxugava o peitoral. — Ta brincando né?

Nate não respondeu, apenas levantou uma sobrancelha maliciosa, que significava muito mais para Thayer do que um dossiê completo sobre o que aconteceu. E só poderia ser verdade, Nate não perderia seu tempo indo até o clube pra contar um boato. Além disso, parecia estar mais feliz que o habitual, o que significa que alguém que ele odeia não está bem.

— E o que você fez pra separar o casal do século? Não, espera. — Thayer fingiu que estava pensando, só para debochar. — Como você ta nesse lance de vingança, deve ter arrumado um jeito de dormir com Jensen e filmar para o Justin ver. Olho por olho, vídeo amador por vídeo amador.

— Dessa vez não fui eu. Aparentemente, o casal real tem tantos problemas que Nathaniel Strauss nem precisa se envolver. Mas não posso dizer que estou surpreso. Três anos aguentando Justin não é brincadeira, ainda mais se ele ainda estiver tomando remédio controlado.

— E Justin aceitou isso numa boa? — Thayer deu um ar de risos. — Porque eu ainda não vi nenhum escândalo.

— O que ele pode fazer? Suicídio já está fora de moda, e implorar levaria ao suicídio.

— Acho que disso você entende.

— Você ficaria impressionado.

Após terminar de enxugar os braços, Thayer jogou a toalha de volta no banco. Ele se aproximou de Nate, mas o garoto não se intimidou nem por um segundo. Agora ele era tão alta quanto Thayer, tão forte quanto Thayer, e tão tudo quanto qualquer um dos garotos de ouro que já moraram nos Hamptons. Qualquer coisa que Thayer pensasse em fazer, seria retribuído a sua altura. Até mesmo um simples olhar de superioridade.

— Se você já terminou o seu Nathaniel News, tenho nadadores melhores que eu para incriminar.

— Na verdade, só falta mais uma coisa. Já viu seu outdoor lá fora?

— Para a Calvin Klein? É claro. — Thayer fingiu um sorriso. — Desculpe por isso, alguém tinha que fazer as fotos no seu lugar.

— Eu entendo, afinal, Thayer Van Der Wall sempre foi bastante prestativo, não é? Pena que esse seu sorriso falso te condena.

— Não posso evitar, eu nasci com ele.

— Pena que ele vai desaparecer quando eu disser a ultima notícia. — Nate olhou por trás do ombro de Thayer, o treinador estava caminhando em sua direção.

— Do que você está falando?

— Seu idiota! — Gritou Barclay, Thayer virou-se imediatamente. — Então foi assim que você ganhou a medalha?

— O que?

— Doping, idiota! — O sorriso vencedor de Thayer desapareceu assim que o treinador atirou os papeis em seu rosto. Ele não estava entendendo o motivo daquela acusação. — Recebi agora os exames! Te quero fora da minha piscina ainda hoje!

— O que? Isso é ridículo!

Nate prendeu o riso. Colocou dois dedos na boca e abaixou a cabeça, não queria que a ira do treinador caísse sobre ele também quando estava de bom tamanho ver Thayer ser escorraçado.

— Ridículo é você e suas drogas! Atleta de merda, sai da minha piscina agora ou então eu mesmo vou lhe tirar!

Aquele sim era um verdadeiro escândalo. O ginásio inteiro estava olhando para Thayer e julgando-o precipitadamente, mas ele nunca trapaceou. Todas as medalhas e troféus que ganhara, todos os concursos e prêmios que conquistara, tudo foi resultado do seu próprio esforço, sendo ele um atleta que sempre repudiou trapaceiros. Então como poderia haver algo errado nos seus exames de rotina?

Pra se certificar de que Barclay não estava enganado, ele juntou os papeis dos chão, mas eles diziam claramente que algumas substancias foram encontradas em seu organismo.

— Que feio, Guadalajara. — Debochou Nate. — Mas em compensação, parece que cheguei na hora certa pra ver o show. Tenha certeza que nunca vou esquecer.

Thayer olhou pro nada, tentando transformar sua frustração em indiferença para não demonstrar à Nate que aquilo havia lhe afetado tanto assim. Devagar ele levantou do chão com os papeis na mão e olhou pro inimigo. Tinha certeza que havia um dedo dele nisso.

— Eu vou acabar com você, sabia?

— Talvez você pense melhor antes de se meter nessa história e tomar alguma coisa de mim. Acredite, eu nem usei minha melhor ideia pra acabar com você.

— Eu não sei como você fez, mas isso não vai ficar assim.

— Agora toda vez que você olhar praquele outdoor, vai se lembrar o que lhe custou fazer aquelas fotos. — Nate passou por ele, transpirando determinação. Depois virou-se para lhe dar o ultimo recado. — Ah sim, mais uma coisa, não me faça dizer quem foi o passivo na nossa segunda vez quando você estava bêbado. Você pode chorar agora, campeão.



Gwen olhou para o relógio na parede assim que adentrou a mansão. Seu vestido novo já estava em suas mãos enrolado num saco plástico, mas não era qualquer vestido. Era um Dior feito especialmente para aquela noite que deixaria Amber usar em seu lugar. Nunca perderia a chance de passar pelo tapete vermelho usando um vestido como esse, mas no momento, era Amber quem precisava sentir-se bem consigo mesma depois de ter passado dias numa cama de hospital. Como se Gwen fosse ficar menos deslumbrante usando qualquer outro vestido.

Ela gritou pelo nome de sua mãe duas vezes antes de se convencer que a casa estava vazia. Nenhum Strauss, nenhum agregado a família ou sequer um empregado sorrateiro para realizar todas as suas vontades. Parecia que tinha a mansão só pra ela e seu salão de beleza improvisado.

Após subir as escadas, ela entrou em seu quarto e jogou o vestido em cima da cama de colcha amarelada. O espelho a sua esquerda lhe dizia que havia perdido o quilo e meio que estava precisando, e que caberia bem melhor do que pensava em seu Vera Wanga. Agora sim todas as vezes em que privou-se dos sabores de um Profiterole estavam valendo a pena.

Em cima do criado mudo seu celular começara a tocar. Ela correu para atende-lo e depois voltou pro mesmo lugar de antes. Era Amber quem estava na linha.

— E ai? — Gwen tocou na barriga sarada por debaixo da regata branca. Estava impressionada com o que via. — Preparada pra sua primeira festa-pós-suicídio-social?

— Obrigada, isso me consola bastante.

— Eu estava brincando, você vai se sair muito bem. Prometo não deixar ninguém lançar olhares e vetar a palavra “bulimia” do vocabulário de cada um.

— Não sei se agradeço ou dou um tiro na cabeça depois dessa piada.

— Relaxa. Sabe que penteado vai fazer? — Gwen virou de perfil para fitar seu lado esquerdo no espelho. — Não pode ser igual ao meu.

— Eu sei, minha mãe vai fazer um que ela aprendeu com minha tia, não se preocupe.

Gwen olhou para sua penteadeira, estava sentindo falta das joias que emprestara de sua mãe. Ela iria precisar daqueles brincos Safira e daquela pulseira da sorte que pertencia a sua avó.

— Espera, acho que minha mãe pegou de volta as joias que eu emprestei. Preciso pegá-las de novo.

— Tudo bem.

Gwen jogou o celular na cama e caminhou na direção do quarto dos pais. Ficava no outro corredor, do lado oposto ao da escada.

Quando chegou bem perto, notou Judit conversando com alguém ao telefone pela porta entreaberta. Não estava perto o suficiente pra ouvir o que dizia, mas vendo sua mãe sentada na cama daquele jeito, tocando no colar de pérolas que usava e com um os olhos vermelhos, era impossível não ficar preocupada.

Infelizmente nenhuma de suas artimanhas sorrateiras estavam lhe permitindo ouvir a conversa, então uma ideia brilhante surgiu em sua mente. Judit não estava ao celular, estava usando um dos doze telefones espalhados pela casa inteira, permitindo assim que pudesse ouvir a conversa através de outro aparelho na mesma linha.

O mais próximo de seu alcance era o da sala, logo depois das escadas. Ela desceu correndo e tirou o telefone do gancho para ouvir. Judit parecia estar conversando com um homem. Seria seu amante? Se fosse, ela faria questão de contar ao pai.

— Não há nada que eu possa fazer? — Judit fungou, estava prestes a desabar.

— Bom, precisamos nos ver. — Disse a outra voz do outro lado da linha.

— Eu queria tanto evitar esse encontro. — Ela suspirou. — É difícil sair sem que ninguém perceba...

— Mas é da sua saúde que estamos falando, Judit. Você sabe que seus problemas no útero podem encontrar complicações.

Gwen mal pôde disfarçar a maneira como aquela notícia havia lhe destruído. Então a mãe estava doente e encontrando um médico as escondidas? O que ela ganharia escondendo isso da sua família? Gwen precisava tirar isso a limpo, e faria isso o mais rápido possível.

Ela subiu as escadas com o telefone na orelha, queria enfrentar sua mãe quando ela terminasse de falar para não ter como fugir.

— Eu sei, doutor. — Judit fungou mais uma vez para controlar o choro. — Parece que meu problema nunca vai me deixar em paz. E eu nem tive a oportunidade de ser mãe...

— Judit, você é uma mãe excelente, independente da sua condição. Você tem ótimos filhos, tenho certeza que vão entender quando você decidir contar a verdade.

Gwen parou na frente da porta do quarto quando percebeu até onde aquela conversa tinha ido. Já não pensava mais em câncer, morte na família ou algo parecido. Estava pensando em algo muito pior, que destruiria pra sempre o modo como enxergava todos a sua volta.

— Posso vê-lo amanhã as sete? — Judit enxugou uma lágrima.

— Pode sim, estarei esperando. Vai dar tudo certo, Judit.

— Eu espero. — Judit fechou os olhos, só ela sabia o quanto queria que Deus abençoasse as palavras de seu médico.

Ela encerrou a chamada e apertou o telefone no peito, não queria chorar, não devia chorar. Ela era a dama de ferro, criada para ser a esposa perfeita do homem perfeito, como poderia se atrever a cair aos pedaços por causa de uma coisa tão incerta? Não, não era isso que iria fazer. Ela iria enxugar as lágrimas, descer as escadas e agir como uma verdadeira mãe de família. Ou pelo menos, foi isso que tentou convencer a si mesma.

Só descobriu que Gwen estava do lado de fora quando abriu a porta e olhou em seus olhos. A garota estava paralisada no lugar, com os olhos vazios e o telefone ainda na orelha, esmo que a chamada já tivesse sido finalizada. Sua reação acabou desencadeando um enorme desespero no coração de Judit, capaz de fazê-la ficar com as pernas trêmulas e o rosto pálido. O que sua filha estava sentindo? Dor? Alívio? Ódio? Sempre foi difícil dizer.

— Você é estéril? — Gwen finalmente perguntou, desejando que a resposta lhe esclarecesse que aquilo era apenas um pesadelo.



Alex desceu da limusine em frente ao Times Square. Havia um enorme telão. — marca registrada do lugar. — onde apresentavam um espetáculo do novo hit virtual que virou uma febre no mundo inteiro. Se Alex sabia o nome? Ele nem se atrevia a arriscar. Mas estar perto de coisas grandiosas como havia em Nova York lhe trazia uma paz de espírito que não sabia explicar.

Logo ao lado do telão estavam os anúncios necessários dar marcas mais famosas do estado. Entre elas, o enorme outdoor da Calvin Klein com ele estampando ao lado de Thayer e a modelo que esquecera o nome.

A enorme foto estava em preto e branco, sendo a medalha de ouro de Thayer a única coisa que possuía cor. Alex estava do lado esquerdo, sentado no chão, bonito até demais para alguém que nunca se importou com a aparência. A modelo estava no meio deles, com os pés em cima de Alex e o tronco segurado por Thayer. Alex estava lembrando-se de ter pensado que aquela seria a melhor foto de todas por ser a mais provocante, e parece que todos concordavam.

Para ressaltar ainda mais o grande apelo sexual da imagem, a tagline dizia “O que Laurie não quer dizer, Thayer e Alex fazem questão de informar”. Como se precisassem de uma frase buliçosa para conseguir o apelo.

Alex só parou de olhar para o outdoor quando os primeiros pingos de chuva começaram a cair. Ele olhou pra cima, as nuvens roxas alertavam que iria cair uma tempestade. Se não quisesse ser presenteado com uma pneumonia, teria que sair dali depressa.

— Peter, me espere aqui. — Ordenou ao motorista.

Peter apenas assentiu enquanto via o garoto caminhar na direção do prédio onde ficava o apartamento de Jensen. Logo depois ele sorriu por causa do deja vu, já tinha perdido as contas de quantas vezes vira Nate correr em direção ao apartamento de Jensen.

Assim que chegou à portaria, a chuva caiu furiosa, mas Alex já estava protegido. Ele entrou rapidamente no elevador, já imaginando como seria a conversar com Jensen. Talvez tudo fosse um mal entendido, talvez Gwen só estivesse jogando seu veneno porque sabia o que eles tinham, mas talvez ele só estivesse cego pelos sentimentos, porque admitir que Jensen nunca iria mudar era doloroso demais.

Enfim a porta do elevador se abriu e Alex adentrou ao apartamento. Mal deu dois passos e já estava encarando Jensen, que mostrava-se bastante curiosos em saber porque ele estava ali.

— Diga que você não estava namorando Justin. — Alex foi direto ao ponto.

— O que?

— Diga que você não estava namorando Justin enquanto a gente saia...

Jensen nem sabia o que dizer. De que maneira poderia explicar que só terminou o namoro com Justin depois de se apaixonar e ao mesmo tempo fazê-lo entender que isso era normal? Alex com certeza nunca iria aceitar.

— Alex, quem te contou sobre isso certamente não sabe os meus motivos...

— Seus motivos? Olha, não fale mais nada, eu já entendi. — Alex apertou o botão pra porta do elevador se abrir. Não precisava mais conversar pra saber a verdade quando ela estava estampada no rosto de Jensen e sempre esteve clara na sua cabeça.

— Não, Alex, você não está entendendo. — Insistiu Jensen enquanto Alex fingia indiferença. — Eu terminei com Justin assim que percebi que eu queria ficar com você!

— Não quero ouvir. — Alex continuou apertando freneticamente o botão do elevador. Parecia que ele nunca iria subir. — Não quero ouvir sobre a época em que você tentou me conquistar enquanto estava com outra pessoa, porque ela definitivamente já passou.

— Você nem está me deixando explicar!

— O que exatamente você quer explicar? Eu fui contra minha família, meu irmão gêmeo, minha religião e meus princípios só pra te dar uma chance. Eu nem... Eu nem sabia o que eu era! Você chegou, foi se aproximando aos poucos e me convenceu a me descobrir. Eu pensei que era porque você sentia o mesmo, mas agora eu... Você só me usou.

— Alex, eu sinto o mesmo por você.

— Para de mentir. — Alex entrou no elevador assim que a porta se abriu. Ele fitou Jensen, com dureza. — Acho que no final Nate tinha razão. Nenhum de vocês vale o chão que pisa. Ainda bem que não descobri tarde demais.

A porta do elevador se fechou antes que Jensen pudesse dizer mais alguma coisa. Lá dentro, Alex encostava-se à parede, derrotado e sem entender como aquele buraco tinha ido parar em seu peito. Se pudesse chorar, era isso que faria, mas nunca daria esse gostinho a quem brinca de magoar as pessoas.

Ele queria poder bater em si mesmo, se ferir, ou fazer qualquer coisa para puni-lo por ter sido tão idiota. Afinal, por que alguém como Jensen McPhee se apaixonaria por ele se ele não era ninguém? Ele era só o filho bastardo de bilionários que não sabia deixar as pessoas se aproximarem, por que Jensen olharia pra ele? Não usava boas roupas, não frequentava os melhores lugares, e jamais seria tão bonito quanto o irmão. Eles eram idênticos, mas de alguma forma, Nate era superior de um jeito que ele não conseguiria explicar.

O que ele não sabia era que dentro daquele apartamento havia alguém que faria de tudo pra ele voltar. Jensen estava tão cansado de ficar com garotos fúteis como Justin e Thayer que Alex tinha se tornado especial desde a primeira vez que ele o viu. E talvez o fato dele ser idêntico ao irmão atrapalhe sua percepção, mas ele sabe reconhecer seus sentimentos, e que não poderia perder Alex sendo ele a única pessoa que o faz querer ser alguém melhor.

Com isso em mente, ele correu pro elevador. Alex já estava lá embaixo, correndo debaixo da chuva pra qualquer lugar. Nem se importou com a limusine de Peter lhe esperando, só queria fugir pra longe de todo aquele mundo. Longe de ricos, bonitos e poderosos, porque nunca iria se encaixar. Por mais que tentasse, nunca valeria tanto quanto eles, e precisava encontrar alguém que lhe fizesse pensar o contrário antes do próximo coração partido.

Ele correu na direção contrária a limusine, invadindo o tráfego e dando graças a Deus que a chuva disfarçava suas lágrimas. Nem fazia ideia que Jensen tinha acabado de descer do prédio e estava olhando pra todos os lados a sua procura. Ele também não se importou com o frio que a chuva trazia. Quando viu Alex chegando até o muro do outro lado da rua, correu até ele gritando seu nome.

Alex continuou fugindo até que Jensen segurasse seus braços para que fosse ouvido. Mas nada mudaria o que acabou de acontecer. Ou mudaria?

— Você não vai fugir de mim, Alex. Você não pode fugir de mim.

— Você não me deu razões pra ficar...

Jensen não pensou em nada, apenas agiu. Seus lábios encostaram severamente nos dele até que ambos se entregassem completamente. E pela primeira vez, Alex sentiu que era o certo. Pela primeira vez não estava beijando-o enquanto o coração remoía culpa por mentir a todos que ama. Pela primeira vez não importava o que Nate queria, o que sua mãe faria ou que todos diriam. Aquele beijo havia chegado no momento certo, para esclarecer suas dúvidas e fazê-lo acreditar de uma vez por todas que Jensen estava dizendo a verdade o tempo todo.

Ali, no meio da chuva, eles estavam selando um pacto, ambos sabendo que aquele gesto de amor seria capaz de mudar tudo.


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Um comentário:

  1. Seria idiota da minha parte dizer que esse episódio foi muito gay? xD Sem preconceitos, mas eu ainda não consigo engolir Alex como um cara gay, slá a imagem dele assim não me vem a mente. E ele Alex e Jensen assim como muitos outros eu também não gosto nada desse casal. Eu até leio rápido as partes deles para que acabe logo, simplesmente odeio eles juntos. Nate é com certeza o melhor personagem, amo mais ele a cada episodio *-* E estou começando a simpatizar com a Gwen, eu pensei que ela nem ligaria pra Amber, mas até que parece que ela se importa no final das contas. Também gostaria de ver uma parceria dela com Nate, só que a vadia merece sofrer antes disso. ;)

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