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[Livro] The Double Me - 1x13: Where Is Your Winning Smile Ever? [+18]



“O que não te mata, faz da sua vida um inferno.”


A porta do elevador se abriu e Kerr não hesitou em entrar no seu apartamento para finalmente por um fim naquela noite com o sono. Ele passou pela sala, a TV estava ligada e o controle remoto jogado no chão. Com certeza não havia ninguém ali a não ser sua mãe, e com certeza ela estava dopada demais para se importar.

Quando chegou até a cozinha, ele abriu a geladeira e tirou um copo com água, que mais tarde lançaria na parede sem dó nem piedade. Tudo estava errado. A música, sua família, seus relacionamentos. Parecia que finalmente havia conhecido o fundo do poço que tanto as pessoas comentavam.

Ele pensou que um banho quente iria tirar toda aquela carga negativa em cima dos seus ombros, mas nada adiantou. A água caia sobre sua cabeça e descia o ralo da banheira, mas não levava seus problemas, nem seus pensamentos obsessivos que já estavam começando a se agravar. Será que poderia fugir e simplesmente deixar tudo isso pra trás? Seu corpo lhe pedia algumas semanas em Madrid ou Veneza para relaxar, mas sua mente obrigava-o a ficar por causa do estado de sua irmã. Se Amber tivesse alguém para ajuda-la a se recuperar, não havia dúvidas quanto a fuga repentina.

Após desligar o chuveiro, ele passou a toalha pelo corpo e saiu com o primeiro pijama que encontrara dobrado. Passou pelo quarto dos pais para que encontrasse o seu logo adiante, mas percebeu que havia algo errado. Pela porta entreaberta ele viu a mãe jogada no chão, com um frasco de calmantes nas mãos e vomitando uma espuma branca enquanto seus olhos tremiam.

Imediatamente ele correu para prestar socorro. Colocou a cabeça da mãe em cima de sua perna e começou a gritar e dar tapas em seu rosto para que ficasse consciente novamente. Ele não sabia, mas se demorasse um pouco mais para leva-la à um hospital, todos aqueles remédios que ela tomara acabariam por matá-la.

— Não me deixa! — Ele continuou gritando. — Eu preciso de você!

E de repente sua mãe tornou-se o menor de seus problemas. A polícia tinha acabado de invadir seu apartamento com uma ordem de prisão. Não importava que havia uma mulher inconsciente no chão precisando de ajuda, a prioridade era levar o traficante dos Hamptons direto à uma delegacia.

— Peguem-no. — Ordenou um dos policiais, cheio de autoridade.

Os outros obedeceram as ordens de seu comandante num piscar de olhos. Foi preciso três deles para tirar Kerr de cima de sua mãe e conter sua agitação. Os outros três policiais saíram do quarto para vasculhar os pertencer de Kerr. Foram encontrados mais de dois quilos de cocaína, além de alguns fracos de LSD adulterada em laboratório, exatamente como Nate dissera quando fez a denúncia anônima.

— Isso é um engano! Ela precisa de ajuda! Ela precisa de um hospital!

— Senhor. — Um dos policiais apareceu na porta com todas as drogas que haviam encontrado no quarto ao lado.

Kerr não conseguiu disfarçar o medo que estava sentindo, mas talvez nem tudo estivesse perdido. Ele ainda poderia mentir, poderia se defender, ou subornar todos eles como seu pai costumava fazer. Ele só não podia ir pra cadeia enquanto as vidas de sua mãe e sua irmã corriam risco.

— Isso não é meu! Isso não é meu! Vocês estão enganados! Armaram pra mim!

— Levem-no. — Ordenou o comandante.

Kerr foi arrastado aos gritos pra fora do quarto, e depois, pra fora do apartamento. Assim que ficou sozinho, o comandante tirou o celular do bolso para chamar uma ambulância. A Senhora Foster ficaria bem, mas seu filho, ninguém poderia dizer o mesmo.



Alex e Jensen sentiram vontade de bater palmas quando o filme acabou e os créditos finais começaram a rolar. No entanto, Jensen não fazia ideia porque havia gostado tanto. Não entendeu o final dos protagonistas, quem realmente sobreviveu ou sequer os motivos do assassino. Só sabia que o terceiro ato tinha sido um verdadeiro espetáculo, e que ao lado de Alex, qualquer filme era excelente.

Logo depois de desligar o blu-ray com o controle remoto, Alex levantou-se para pressionar os interruptores no fim da sala. Jensen piscou algumas vezes e esfregou os olhos para acostumá-los novamente a claridade. Por quanto tempo ele e Alex permaneceram assistindo filme naquele sofá? Ele tremia só de pensar que poderia ter ultrapassado o horário estipulado por seu pai para voltar à mansão.

— Então, que filme a gente assiste amanhã? — Perguntou.

— Amanhã? — Alex voltou ao sofá. — Você sabe que só pode vir quando estou sozinho aqui...

— A gente podia ir pro meu apartamento e assistir outro slasher promissor da década de noventa enquanto come pizza e toma chocolate quente. Não precisa ser necessariamente aqui.

— Seu apartamento? Eu acho que não. — Alex pegou a vasilha de pipoca e começou a comer os restos.

— Não é como se eu fosse me aproveitar de você, Alex. Às vezes você me trata como se eu só quisesse roubar sua inocência.

— Não disse isso. Só disse que não quero ir pro seu apartamento por causa dos motivos que ainda estão ocultos. Mas... A gente podia ir pra sua casa. — Alex ficou na defensiva, estava com medo da resposta de Jensen que poderia fazê-lo se arrepender por ter cedido.

— Meu pai fica o dia todo fora e meu irmão... Eu não quero ser preconceituoso e fazer pouco caso dele só por causa da forma que ele se veste, mas acho que deve passar a maior parte do tempo com seus amigos num cemitério. — Jensen sorriu, debochando.

— Jacob McPhee? O renegado? Já li sobre ele. Dizem que seu pai o odeia.

— Isso é pouco, se nossa mãe ainda estivesse aqui ele teria arrumado um jeito de colocá-lo de volta no útero.

— O que aconteceu com a mãe de vocês? — Alex diminuiu o ritmo em que comia a pipoca. Ele estava vidrado nos olhos de Jensen e em seu sorriso perfeito, mas assistiu de camarote o momento em que ele se desfez. Parecia que havia tocado numa ferida adormecida.

— Ela... — Jensen olhou para suas mãos. Não estava envergonhado, só não conseguiu falar naturalmente sobre um assunto tão delicado. Se a pergunta fosse feita por outra pessoa, teria dado qualquer desculpa para esquecer o assunto. Mas se tratando de Alex, o garoto pra quem implora confiança, precisava contar a verdade. — Ela meio que fugiu do país com o amante há alguns anos. Acho que não posso culpá-la, qualquer um fugiria com o dentista se fosse casada com Patrick McPhee...

Agora Alex estava arrependido de ter perguntado. Aquele era obviamente o único assunto que poderia entristecer Jensen McPhee, e mesmo que os olhos deprimidos contribuíssem para convencer qualquer um de que ele era mesmo perfeito, Alex sentia que não tinha esse direito.

— Eu sinto muito...

— Tudo bem. Eu acho que mesmo assim eu sou feliz. Ficar perto de você me faz bem.

Alex não disse nada. Quase deixou a si mesmo engolir em seco, mas não podia deixa-lo ver o quanto suas palavras o atingiam.

Jensen também não esperava que ele dissesse alguma coisa, aquilo tudo era novo demais pra ele. Se quisesse uma chance de mostrar que pode fazê-lo feliz, precisava ir devagar;

— Não consigo imaginar uma vida sem a minha mãe. — Alex olhou para o lado para não encará-lo. — Ela é tudo pra mim.

— Você nunca falou sobre ela. — Jensen escorou o cotovelo no sofá e depois a cabeça em sua mão fechada. Era estranho, mas aquele olhar de “Adoro ouvir histórias” no rosto de Jensen estava lhe deixando um pouco mais à vontade.

— Não tem muita coisa pra contar. Quer dizer, eu estava num orfanato, ela me viu e gostou de mim, então me levou pra sua casa e cuidou de mim até hoje.

— Só isso? É só o que você consegue dizer da pessoa mais importante da sua vida?

— Ok. — Alex deu um meio sorriso e começou a pensar, como poderia falar sobre ela? — Eu tive uma infância bem melhor do que as pessoas costumam imaginar. Apesar de não admitir pra minha irmã, eu era o filho preferido, e ganhei toda a atenção e o carinho que uma criança precisa. Então não tenho do que reclamar. A não ser por ela ser uma árdua defensora da moral e dos bons costumes.

— Se ela soubesse que a gente se beijou, o que faria?

— Eu quero acreditar que ela me apoiaria, mas... — Alex ficou com o olhar vazio, apenas pensando. — Acho que ela se perguntaria o que fez de errado pra merecer uma coisa dessas.

— E como você é o filho perfeito, não quer desapontá-la?

— Não quero e não devo.

Jensen assentiu devagar, tinha entendido perfeitamente. Antes ele pensava que Alex só não estava se entregando por causa de Nate e sua lealdade fraternal impenetrável, mas o garoto tinha acabado de revelar um bom motivo para não ceder ao que sente. Talvez este fosse o lado bom em não ter mais uma mãe, pois sem ela, não haveria muitas pessoas que pudessem se decepcionar com um estilo de vida diferente do habitual.

— Se servir de consolo, eu já fui um Alex.

— O que? — Alex quase riu. Aquilo só podia ser uma brincadeira.

Não era possível que Jensen McPhee, o sonho americano, tivesse sido como ele. Não nessa vida, não o Jensen que ele conhece, não nessa realidade. Afinal, como o garoto mais seguro e mais bonito poderia ter sido com um membro humilde e recatado da família Benett?

— Ninguém quer ser como eu, Alex. Todos nós lutamos contra isso algum dia. E a ultima coisa que queremos é desapontar as pessoas que amamos.

— Você acha que eu estou em negação?

— Você não pode gostar de mim por causa do seu irmão. Você não pode gostar de mim por causa da sua mãe. Você não pode gostar de mim porque não sabe o que está acontecendo ou se é certo. Então o que você acha?

Alex decidiu ficar quieto para pensar. Ele não poderia ficar com Jensen por causa de tantas coisas que era estranho querer tanto. Mas é o que todo mundo sempre diz. O amor não vem do jeito que imaginamos, ele vem pior, e te obriga a enfrentar todos os seus medos em nome do que sente. Então só precisava saber se estava preparado pra isso.

— Bom, agora eu já vou. — Jensen levantou-se do sofá. — Foi um ótimo dia.

— Espera, levo você até a porta, ou... Janela? — Alex fez uma careta por causa da indecisão.

— Janela. — Jensen sorriu. — Não posso me dar ao luxo de ser visto pelos seguranças do seu pai, eles sempre tiveram esse costume, desde quando eu namorava com... — Ele parou, assim que a expressão de Alex mudou ao saber que ele pronunciaria o nome do irmão. — Bem, eles são fofoqueiros.

— Certo. — Alex fingiu que não tinha se importado.

Os dois caminharam na direção da janela da área de serviço. Jensen a abriu e colocou a primeira perna para fora. Ele olhou para Alex, estava parado ao lado dele esperando-o sair. Será mesmo que ele achava que Jensen iria embora sem uma despedida apropriada ou permaneceu longe exatamente por causa disso.

— Vamos ver filme amanhã? Diga que sim. — Perguntou Jensen.

— Na sua casa, às sete. E devolva as minhas roupas.

— Certo. — Jensen sorriu.

Eles se olharam por mais alguns instantes, Alex sem entender porque ele ainda estava ali. Ele só percebeu depois o que precisava fazer, mas não iria se dar por vencido. Pra fugir do beijo, acertou um soco leve no ombro de Jensen e disse:

— A gente se vê.

Não era o que tinha em mente, mas Jensen se conformou com aquela atitude tímida e sem jeito do garoto. Essa foi sua deixa para correr pelo gramado até o muro da mansão, sabendo que aquela tinha sido uma das noites mais felizes em muito tempo.



Kerr já não se importava com nada. Nem com o colega de cela a sua esquerda, nem com o vaso sanitário entupido, e nem mesmo com o barulho depois das grades, que deveria despertar sua curiosidade pra saber se seus tios já pagaram a fiança. Agora sim nada poderia piorar.

Quando um policial chegou até as grades, seu colega de cela ficou em alerta. Estava escrito “Jimmy” em seu crachá e ele tinha vindo falar com Kerr.

— Hey você, mauricinho. — Ele chamou. — Você tem visita.

Kerr levantou a cabeça e o fitou com olhos cabisbaixos. Então seus tios já tinham ouvido o recado que deixara na secretária eletrônica quando ligou e ido até lá soltá-lo. Não precisava mais passar uma noite na cadeia como um delinquente qualquer do Brooklyn ou um americano sem recursos.

Quando chegou a esta conclusão, deu um pulo de sua cama e correu até as grades.

— Finalmente. — Ele disse enquanto o policial se afastava.

Ele segurou com as duas mãos nas grades e fitou o corredor, ainda esperançoso. E quando começou a ouvir passos, seus olhos brilharam.

— Olá Kerr. — Disse Nate assim que apareceu.

Então a sorte realmente não estava a seu favor. O que mais poderia acontecer pra piorar sua noite? Ele tinha certeza que não poderia duvidar da criatividade do seu inimigo.

— Vendendo drogas, senhor Foster? Que perigo. Ainda bem que existem pessoas como eu, que fariam qualquer coisa para prender um criminoso em nome da sua nação.

— Não quero falar com você. — Kerr deu as costas para ele e caminhou até sua cama.

— É uma visita amigável, relaxa, estou com seu passe livre aqui. Você merece ser deixado em paz, não acha?

— Eu não quero ouvir.

— Mas você vai. — Nate se aproximou das grades. — De acordo com Jimmy temos cinco minutos. Dez se eu for bonzinho com ele.

— Já chega, Nate! — A fúria de Kerr havia sido despertada. — Você já conseguiu o que queria, destruiu minha família. Agora me deixe em paz!

— Você fala como se soubesse que o seu pai foi embora por minha causa.

A expressão furiosa de Kerr também foi embora com a notícia, do mesmo jeito que a esperançosa dissipou-se com a chegada do inimigo. Como Nate teve a coragem de arruinar toda a sua família? Diabólico tornava-se um elogio perto do que ele realmente era.

— Isso é surpresa nos seus olhos, Kerr? Onde está o seu sorriso vencedor de sempre?

— Eu vou te matar! — Kerr correu até as grades para machuca-lo, mas Nate se afastou antes que pudesse.

— Mas primeiro, quero te ouvir pedindo desculpas.

— Pelo que?

— Por conspirar contra mim. O plano para me separar do Jensen foi ideia sua, não foi? — Nate fez uma careta engraçada, estava debochando do garoto.

— Tudo isso... Tudo isso só por que eu te separei do Jensen?

— Coração partido é uma questão de ponto de vista. Pode enlouquecer os mais fracos, e fazer os mais fortes ficarem ainda mais fortes.

— Você sabe que isso não vai ficar assim, não é? — Kerr sorriu, queria demonstrar força, mas acabou parecendo um psicopata. — Quando eu sair daqui, eu vou acabar com você!

— Não existe a vingança da vingança, pare de ser infantil. — Nate deu dois passos. — Você está acabado, Kerr Foster. Vai ter que rebolar muito só para conseguir uma boa estrutura familiar de novo e tocar em algum lugar. Imagina para destruir Nathaniel Strauss...

— Não deve ser tão difícil. Já fiz isso uma vez, lembra?

Nate estava ofendido, mas nunca o deixaria perceber.

— Você já parou pra pensar que algo tão simples como ter me deixado em paz poderia ter mudado o seu destino? Em algumas semanas você estaria tocando no Louvre e dando um grande salto na sua carreira. Amber estaria numa turnê por causa do balé, e seus pais estariam em casa sentindo saudade dos filhos, muito orgulhosos por vê-los trilharem seu próprio caminho. — Nate se aproximou mais dele, sem medo algum. O rosto de Kerr estava paralisado na agonia e nas tentativas frustradas de demonstrar força. — Eu só queria saber o que leva uma pessoa a chegar aonde você chegou.

— Quando Gwen me ligou dizendo que a gente tinha que armar pra você, eu só aceitei porque eu amava Jensen. E achei que você superaria rápido.

— E esse foi o pior erro que você já cometeu, seu verme! — Nate não conseguiu controlar a repulsa. Quando percebeu, já havia cuspido no rosto de Kerr.

O garoto apenas fechou os olhos, sem recuar um só centímetro. Quando os abriu, Nate já estava afastado, com um olhar de quem tentava raciocinar.

Devagar, Kerr passou a mão no rosto e se limpou. Só queria uma chance de algum dia poder fazer o mesmo com Nate, ou então não conseguiria mais viver em paz.

— Você já fez o seu show, agora se manda. — Ele ordenou.

— Sabe Kerr, meus motivos vão muito além do que as pessoas imaginam. Vocês sabiam que eu tive que ir a Paris em uma cadeira de rodas? Porque foi onde eu tive que ficar por seis meses depois de ter saído da casa do Jensen e batido com o carro.

Kerr ficou quieto, apenas tentando processar o que lhe foi dito. Como poderia imaginar que aquilo tinha acontecido? Era uma simples brincadeira para afastá-lo, porém, quase foi transformada em homicídio. Deve ser por isso que sempre achou que merecia ser punido. Não, ele tinha certeza que merecia ser punido.

— Foi o que eu imaginei. — Continuou Nate. — Talvez você pudesse pensar com mais clareza se eu também tirasse suas pernas.

— Me desculpe. — Kerr relutou, mas finalmente falou. — Eu sinto muito...

— Eu te perdoo, mas nunca vou esquecer. Na verdade, já que estamos em clima de novidades, você sabia que eu encontrei algumas drogas suas quando eu estava em Paris? — Nate sorriu com a lembrança. — Eu saí com alguns amigos e acabamos presos. Você não tem ideia do que os detentos podem fazer com você numa situação dessas.

— O que?

— Como as drogas eram suas, não seria justo deixar você saber exatamente como é?

— Nate, olha... — A voz trêmula e suplicante de Kerr já começara a demonstrar o medo em seu coração. O que Nate faria a seguir? Por experiência própria, sabia que não poderia ser boa coisa.

— O que você acha de se divertir um pouco com nosso amigo Billy ali atrás? — Nate apontou com a cabeça, sorrindo.

Kerr olhou para trás, seu colega de cela estava se levantando da cama devagar. Era impressão sua ou ele estava mais alto e mais forte que algumas horas atrás?

— Não se preocupe, ele não vai estuprar você, porque no fim você iria gostar disso. Ele só vai brincar um pouquinho com você pra receber a grana que eu prometi, não é Billy?

Billy parou quando chegou perto de Kerr. Era tão alto que a cabeça do garoto ficava na altura do seu peitoral.

— Nate, por favor. — Kerr segurou nas grades e implorou com os olhos. — Não faz isso.

— Não se preocupe, depois disso você estará livre. Eu te liberto. — Nate se aproximou dele e lhe deu um beijo na testa. — Você pode ir para o inferno agora. — E com um sorriso malicioso ele foi embora, deixando Kerr gritando dentro da cela enquanto Billy se preparava para brincar um pouquinho.



Assim que Jensen chegou ao seu apartamento, ele tirou o casaco verde escuro e o lançou sobre a cama, sem qualquer traço de delicadeza. Jogou as chaves em cima da penteadeira e tirou a camisa. Não iria tomar banho, só iria se deitar, dormir, e provavelmente sonhar com o maravilhoso dia que tivera com Alex.

Mas assim que ele deitou, ouviu uma voz. Ele teve que se sentar na cama pra poder saber quem era, e teve uma cruel decepção quando viu Justin escorado na porta da cozinha, de braços cruzados.

— Você voltou. — Justin sorriu. — Fiquei esperando por horas.

— Eu estava ocupado.

— Tanto faz. Me beija. — Justin tirou seu casaco e o lançou no chão enquanto caminhava na direção do namorado. — Estou com saudades.

Jensen sentiu uma enorme repulsa por ele, que nem sabia explicar pra si mesmo. A ultima coisa que queria era deitar naquela cama e fazer sexo. Até porque, eles precisavam urgentemente conversar sobre sua relação.

Jensen deixou-se levar pelos beijos quando o garoto montava em cima dele, mas logo recuou, com o pensamento fixo em Alex.

— Justin, para. — Ele pediu. — A gente precisa conversar.

— Não, não precisa. — Justin abriu o fecho do seu sinto e continuou a beijá-lo contra sua vontade.

— Sim, a gente precisa. — Jensen usou sua força para empurrá-lo. Logo depois, levantou da cama.

Justin revirou os olhos, mas estava longe de se sentir rejeitado. Afinal, se ele queria mesmo conversar, poderiam fazer qualquer coisa quando terminassem.

— O que foi agora? Quer que a gente seja um casal intelectual?

— Claro que não.

— Então cala a boca e me fode, eu sei que você gosta.

— Não. — A voz firme de Jensen fez o namorado estremecer. Mal Justin sabia que seu jeito promíscuo e mal educado era exatamente o que fazia seu namorado preferir companhia de outro garoto. — Eu não quero mais que a gente seja um casal...

— Do que você está falando? — Justin deu um ar de risos debochado, afinal, só poderia ser uma brincadeira.

— Eu não posso mais continuar vendo você. Não acho que isso vá dar certo.

— O que? — Justin lhe lançou um olhar intimidador. — Você ta brincando, não é?

— Não, e realmente acho que devemos agir como adultos. Eu não posso mais continuar com você e não tem nada que você possa dizer que vai mudar minha decisão.

Justin assentiu olhando pra baixo. Prendeu os lábios por alguns instantes, era o que fazia pra impedir-se de chorar nos momentos de raiva. Só o que ele queria era encontrar algum objeto e atirar em Jensen para ficar leve novamente, já que não sabia como lidar com aquilo. E como poderia saber se Justin Priestly nunca tinha sido rejeitado antes? Ele não era do tipo que levava um fora, principalmente de garotos de ouro como Jensen.

— Você está terminando comigo pra ficar com o Alex, não é?

Jensen ficou sem palavras e decidiu apenas suspirar e virar o olhar. Não queria mentir para Justin, mas achava perigoso demais dizer a verdade, como se o garoto já não tivesse entendido tudo. E por entender que ele achava humilhante demais. Como Jensen poderia abandoná-lo pra ficar com a cópia de Nathaniel Strauss?

— Três anos, Jensen. — Justin saiu da cama para que ficassem cara a cara. — Íamos fazer três anos. Eu sei que você quer que sejamos adultos, mas como eu posso aceitar que você me troque por alguém desse jeito? Você quer que eu bata palmas? Quer que eu me conforme? Jensen, eu te amo mais que tudo, eu não posso simplesmente fechar os olhos pro erro que você está cometendo.

— Sim, você pode. Eu gosto de você, mas precisamos seguir em frente.

— Por quê? Isso é passageiro, você só está encantando porque ele é diferente de nós. Não significa nada.

— Não é simples. Me desculpe... — Jensen viu a imagem de Alex em sua cabeça, tinha certeza que não iria passar. — Eu só senti isso por mais uma pessoa e você sabe muito bem quem é ela.

Justin engoliu o choro. Quanto mais Jensen discursava, mais sentia vontade de arremessar nele tudo o que via pela frente. Mas se não mantivesse a calma tudo estaria acabado de vez.

— Jensen, por favor...

— Justin, acho melhor você ir embora. Conversamos com mais calma pela manhã. — Jensen caminhou na direção da porta e tocou na maçaneta, mas não a girou, Justin tinha acabado de puxá-lo pelo braço.

— Não, Jensen. — As lágrimas de Justin caíram. Era o fim.

— Justin, me solta, por favor.

— Não, Jensen! Você não está pensando direito, vai mudar de ideia amanhã...

— Justin, me solta! — Ordenou Jensen.

— Você não pode estar falando sério...

— Me solta agora! — Gritou Jensen.

— Você não pode me deixar! — Justin gritou mais alto, fazendo Jensen achar que ele era uma pessoa doente. — Você não pode! Você não pode! Eu sou Justin Priestly! Ninguém nunca me deixa! Ninguém nunca me deixa!

Jensen não sabia se aquilo era um exagero, só sabia que nenhuma pessoa normal reagiria um término de namoro daquele jeito. Até cogitou a possibilidade dele estar sob efeito de drogas ou de alguns calmantes, mas Justin nunca se atreveria a fazer isso, não quando faz apenas alguns meses que saiu da terapia e parou de tomar seu remédio controlado.

— Você é doente... Vá procurar ajuda. — Jensen andou até o telefone enquanto Justin enxugava as lágrimas. Ele fingiu que estava discando um número e colocou o telefone na orelha. — Vocês podem mandar os seguranças para o quarto seiscentos e onze?

Assim que Justin ouviu a palavra “seguranças”, percebeu que tinha que sair dali. Se já tinha sido humilhante ter levado um fora do amor da sua vida, imagina ter que ser tirado do prédio pelos seguranças como uma celebridade de quinta.

Rapidamente ele abriu a porta e saiu correndo, Jensen não precisava mais fingir que estava chamando os seguranças. Ele colocou o telefone de volta no gancho e suspirou olhando pra porta que Justin deixara aberta.

E após um enorme suspiro, ele pensou em Alex. Finalmente estava livre pra ficar com ele e não haveria mais nada que Nate pudesse fazer para separá-los. A única dúvida era o porquê de sentir-se aliviado com o término do seu namoro depois de passar três anos sendo feliz. Ou felicidade não tinha nada a ver com aquilo? Talvez sim, talvez não. Mas essa parecia te sido a melhor decisão que já tomara na vida.
 
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1x14: You Can Cry Now, Champion (23 de Novembro)

Ontem a noite o 1º Capítulo de The Double Me atingiu mais de 2 Mil views! Nem tenho como agradecer a todos vocês que apreciam meu trabalho e me incentivam sempre a continuar.
Thank you so fucking much!
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