Especial

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[Livro] The Double Me - 1x05: V For Van Der Wall [+18]



“A festa está apenas começando.”


Enquanto o jantar na mansão dos Strauss não era anunciado pelos empregados, Alex permanecia deitado em sua cama, tentando decifrar o novo aparelho celular que ganhara da mãe. Já tinha sido difícil encontrar o botão que o fazia ligar, mas nada se comparava àquela interface ultramoderna que não lhe deixava ir além das fotos.

Na enorme caixa azul ao seu lado. — com um laço vermelho em sua tampa e tão grande que poderia caber duas TVS de plasma dentro. — estavam os outros presentes que acompanharam o celular na grande surpresa feita por Judit. Havia roupas, sapatos, aparelhos eletrônicos e entradas para lugares importantes que Alex nunca pensou que poderia conhecer, junto de um enorme bilhete dizendo o quanto estava feliz por tê-lo em sua vida. Se soubesse como recusar um presente dado com tanto carinho por sua mãe biológica, ele o teria feito, mas algo lhe dizia que ainda tinha uma série de mimos pendentes desde que nascera, e que Judit não abriria mão disso.

Depois de várias tentativas, ele finalmente tinha conseguido encontrar as pastas de seu aparelho. Estava tudo ali, todas as musicas que fizeram parte da sua vida, desde quando se interessou pela primeira garota até quando descobriu que era adotado. Pensou que Judit deve ter tido muito trabalho, mas lembrou que provavelmente havia pagado pra alguém fazer isso depois do interrogatório sobre seu estilo musical.

Ele colocou os fones ao seu lado e deu play nas musicas da banda Evanescence, era o que costumava ouvir quando estava prestes a dormir. O som da musica estava tão alto que ele não percebeu Gwen abrindo a porta de seu quarto. Só soube que ela estava ali quando tirou o joelho da frente e a viu sorrindo. Ela estava com um vestido cinza que ia até os joelhos e na cintura possuía um enorme cinto preto, que de tão apertado, modelava seu corpo. Os cabelos loiros acinzentados estavam jogados na frente dos ombros e com um brilho especial, provavelmente por causa do tratamento que sua cabeleireira europeia tinha lhe dado naquela tarde.

Ela lhe dirigiu a palavra, mas Alex precisou tirar o fone e perguntar de novo pra poder escutar.

— Tem alguém aí embaixo querendo falar com você.

— Falar comigo? — Ele repetiu, como se fosse improvável.

— Sim, você. E não é a imprensa, eu juro.

— Ok. — Alex deu um meio sorriso. — Obrigado por avisar.

— Disponha. — Gwen saiu, deixando a porta escancarada.

Alex deu um suspiro baixo antes de levantar da cama. Andou com o celular nas mãos e um dos fones ainda no ouvido, nem percebeu que a musica ainda estava tocando. Quando desceu as escadas do hall, viu as empregadas perambulando com lençóis impecáveis nas mãos. Provavelmente era o momento em que tiravam todas as roupas da lavanderia par organizar na segunda área, como Judit havia lhe explicado.

— Boa noite, senhor Alex. — Elas disseram, sorrindo.

— Boa noite. — Ele respondeu, fazendo o mesmo.

Ele não sabia se elas estavam sendo simpáticas de verdade ou se haviam lhe cumprimentado por obrigação, mas sabia que algumas delas pensavam ter o rei na barriga por trabalharem na mansão de um bilionário. No entanto, ele não contribuía para que houvesse um ódio voluntário da parte delas. Sempre que podia, lavava a própria louça, arrumava sua cama, preparava seu próprio banho, e quando sua mãe não estava em casa, comia junto deles, como o patrão que os empregados sempre sonharam em ter. Era o que precisava fazer se quisesse conquistar todas as pessoas daquele novo mundo.

Ao descer as escadas do Hall, Alex caminhou na direção da sala, agora totalmente revigorada e sem traços da destruição do irmão. Lá ele viu Jensen parado, fitando o enorme quadro da família em cima da lareira. Apenas Nate chamava sua atenção, parecia ser o centro da família desde antes de tudo aquilo acontecer. Ele ainda estava gordo e com aquela aparência angelical, sem traço algum do garoto que havia arruinado a apresentação de sua irmã com um strip-tease lendário.

Alex olhou pros dois lados, perguntando a si mesmo se aquela era sua visita ou Gwen estava enganada. Afinal, por que Jensen McPhee desejaria vê-lo se eles nem se conheciam? Ou aquela conversa amigável no teatro tinha sido o começo de uma nova amizade?

— Oi? — Disse Alex, confuso.

Jensen virou para ele e sorriu.

— Oi. Bonito celular. — Disse Jensen ao perceber o que Alex tinha nas mãos.

— Hã? — Alex olhou pra baixo, nem lembrava que o celular ainda estava ali. — Certo. — Ele tirou o outro fone que ainda estava na orelha direta e guardou no bolso junto do aparelho.

— Eu sei que é meio estranho eu vir aqui, e sei que você curte esse lance de ser solitário, mas, se esquecer que eu acabei de te chamar de antissocial, poderia considerar meu convite para uma das teen parties mais ilustres que os Hamptons já teve? Isso logo depois dos aniversários de Gwenett Strauss, é claro.

— Nossa. — Alex sorriu — Você seria um péssimo vendedor.

— Mas...? — Jensen deu dois passos em sua direção.

— Eu não sei. Depois do que aconteceu na apresentação da Gwen, acho que preciso de um tempo antes de me envolver com a “elite”. — Alex quase tirou sarro da ultima palavra.

— Tem certeza? Você pode dançar, fazer amizades, azarar alguém, ou penas me dar uma força quando eu for fazer isso. Porque sabe, eu não levo muito jeito...

— Sério? — Alex parecia impressionado, como o “garoto perfeito” que Manhattan idolatra podia não levar jeito pra isso?

— É meio difícil encontrar alguém que se interesse por quem você é e não pelo que você tem.

— Certo. — Alex quase assentiu, entendia perfeitamente. — Não tenho certeza se sou a melhor companhia para estar em uma festa. Quer arriscar? — Por um breve segundo, Alex lembrou da primeira vez em que tomara um porre. Foi divertido, mas não no dia seguinte.

— Tudo bem por mim. Você faz parte do grupo agora.

— Sério? — Alex parecia surpreso.

— Claro. Você é um de nós agora. Espero que isso não te ofenda.

— Não, de jeito nenhum.

— Ai meu Deus, apenas venha com a gente. — Gwen tinha acabado de chegar à sala sendo acompanhada por Amber. Ela cruzou os braços e lançou um olhar impaciente na direção dos dois enquanto ambos olhavam para ela. — Vai ser legal, e um dia você vai ter que aceitar que faz parte desse mundo agora.

— Se Gwen quer que você vá, você tem que ir. — Disse Amber.

— Bom. — Alex olhou voltou o olhar novamente para Jensen. — Parece que não tenho escolha.

— Acho que não. — Jensen sorriu, todo encantador.

— Então vamos. — Gwen e Amber deram meia volta até a porta. Agora sim a festa estaria completa.

— Sério que você quer que ele vá? — Amber sussurrava, aproveitando que Alex e Jensen estavam na sala ainda se preparando para segui-las.

— Vou deixar ele porre, você não tem ideia de como isso vai ser divertido. — Com um sorriso malicioso, elas abriram a porta da mansão Strauss, inevitavelmente pensando a mesma coisa: Apenas épico definiria a festa para onde dirigiam-se.
 

Quem entrasse na mansão dos Van Der Wall naquele momento teria sérios problemas em ficar parado. Os jovens de toda Manhattan tinham marcado presença, inclusive os filhos de gente com menos recursos que tentavam de todas as formas entrar no circulo de amizade dos mais prestigiados. As taças caríssimas de Peter Van Der Wall estavam sendo quebradas num jogo inútil entre garotos bêbados na cozinha enquanto um casal sóbrio ignorava a festa inteira só para continuar de amassos nas escadas.

A enorme sala da mansão parecia uma boate. Estava lotada de pessoas dançando com a bebida na mão enquanto o jogo de luzes as atingia no corpo. Andy estava perto a um bar criado especialmente pra festa perto da janela e do DJ. Ele tomava seu Bloody Mary enquanto assistia Justin dando um show de dança na pista ao som de Ke$ha. Aparentemente, ninguém era melhor que ele.

Andy só se sentiu animado depois que olhou pela janela e viu a BMW de Jensen sendo estacionada perto ao chafariz. Ele tomou mais um gole de seu Bloody Mary e deu um meio sorriso quando viu quem marcaria presença na festa.

A primeira coisa que Alex fez ao sair do carro foi colocar as mãos no bolso do casaco preto e esperar pela saída dos outros. Olhou pra enorme mansão dos Van Der Wall, era menor que a dos Strauss, porém, perdia por muito pouco.

Os quatro, após saírem, caminharam até a porta, sendo Alex o ultimo a entrar. Ele olhou para o casal se beijando na escada e sentiu algo estranho, mas preferiu ignorar antes de chegar na conclusão de que algum dia ele teria que fazer o mesmo. Depois teve que fazer uma careta porque as luzes batiam em seu rosto, ele sabia que aquilo era bem diferente do que ele pensava, ou tinha visto. Da ultima vez que fora a uma festa havia lideres de torcida vagando com copos de plástico nas mãos enquanto jogadores de futebol tentavam entrar em suas calças, mas aquilo era completamente diferente. Nada como uma festa na casa de um cara rico pra mudar a realidade de qualquer um sobre o assunto.

Mas enquanto ele parecia impressionado com o que via, Gwen fazia questão de olha para tudo com desdém, pensando que poderia fazer muito melhor. Afinal, talvez aquele fosse o melhor de Travis, sendo ele filho do dono de uma empresa de revistas e não de um bilionário que coleciona hotéis pelo mundo inteiro.

Quando olhou pro lado, ela viu duas garotas molhadas e usando biquíni correndo na ponta dos pés na direção das escadas. Poderia enfrentar as duas piscinas nos fundos de onde as duas garotas vieram e ficar perto das pessoas que odiava, ou subir e relaxar na hidromassagem, fingindo não estar numa festa que não tinha superado suas expectativas. A escolha parecia óbvia demais.

— Vou subir. — Disse a Amber, quase gritando por causa do som alto. — Tem hidro neste casebre?

— Por que você não vai pra piscina?

— Eu tenho cara de quem divide piscina? — Gwen sorriu, de maneira falsa.

— Ta. — Amber revirou os olhos. — Lá em cima, não sei se mudaram de lugar. Eles vivem mudando tudo.

— Deveriam ter mudado primeiro a decoração, neste caso. — Gwen deu meia volta e subiu as escadas.

O restante do grupo caminhou até a porta da sala, de onde podiam ver a festa por seu melhor ângulo. Andy olhou para eles e sorriu, mas não estava nem um pouco interessado em se aproximar, não antes de Nate chegar e dar seu ar de sua graça. Ele tinha certeza que ele não perderia essa festa por nada.

Jensen olhou para Alex, o garoto realmente parecia perdido, como se não existisse ninguém mais socialmente virgem que ele. Mas talvez aquele excesso de timidez fosse seu charme, porque Jensen não conseguia lhe tirar os olhos. Inclusive dentro do carro, quando Alex havia recostado sua cabeça na janela para descansar os olhos e pensar. Jensen o secara pelo retrovisor até o garoto perceber e ficar mais sem graça do que sua personalidade lhe permitia.

Agora ele estava olhando para Justin na pista de dança, estranhamente interessado naqueles passos de dança incríveis.

— Então, Justin sabe dançar. — Comentou ele.

— Muito. — Respondeu Jensen.

— Por que ele parece ser o rei daqui?

— Porque ele é. — Jensen quase sorriu quando percebeu que era mais apropriado chama-lo de Rainha.

O toque do celular de Jensen acabou interrompendo a conversa. Ele o retirou do bolso e olhou pro visor, era uma mensagem de Kerr, que dizia “Estou na piscina”. Foi o que bastou para ele guardar novamente o celular no bolso e ir na direção da porta dos fundos.

Alex o observou se afastar sentindo-se completamente perdido. Sem Gwen por perto e com Amber mantendo distância, Jensen era o único que podia lhe guiar ali dentro, e não podia perdê-lo de vista. O único jeito foi segui-lo até a piscina, aproveitando o distanciamento de Amber para falar com Andy no ar.

Jensen olhou pra piscina da esquerda, Kerr estava nadando de um lado pro outro como um peixe. Mas não era apenas ele quem estava ali, havia duas garotas conversando na beira da esquerda e o magnata Julian Grigori ao redor de várias mulheres de biquíni, provavelmente prostitutas contratadas para estarem ao seu lado.

Jensen jogou-se na piscina assim que tirou sua roupa, enquanto Alex permaneceu quieto, com as mãos no bolso. Ele definitivamente não sabia como se encaixar.

Quando Kerr voltou a superfície, ele colocou o cabelo inteiro molhado para trás e olhou para Alex, dando um sorriso. Nadou até a borda da piscina e apoiou-se com os braços no piso.

— Alex Strauss. — Ele disse. — Estou surpreso.

— É Alex Benett. — Corrigiu o garoto.

— Claro que é. — Kerr sorriu. Assim que ouviu um barulho de água espatifando-se atrás de si, virou para encarar Jensen voltando a superfície.

Jensen fez o mesmo com seu cabelo enquanto nadava até ele. Apoiou-se igualmente com os braços no piso, ainda piscando devido a irritabilidade por ter aberto os olhos debaixo d’água.

— Eu e Gwen precisamos chantageá-lo para vir. — Jensen sorriu.

— Você quer nadar? — Perguntou Kerr.

— Não, estou bem. — Respondeu Alex, indiferente.

Jensen lançou um olhar malicioso para Kerr no mesmo instante. Logo ele saiu da piscina e ficou próximo a Alex, deixando a água de seu corpo respingar no garoto. Ele tinha um plano, e contava que os reflexos de Alex fossem terríveis para dar certo.

— Lembre-se disso, foi pelo jeito difícil, mas foi divertido.

— O que? — Alex estava confuso.

Jensen o segurou pelos braços e os dois subitamente caíram na piscina. Alex não teve nem tempo para gritar ou se defender, quando deu por si, já estava tendo que prender sua respiração para não se afogar.

Quando voltou a superfície, ele olhou para os dois, que boiavam há um metro de distância. Eles estavam gargalhando, completamente vangloriados por terem lhe pegado de surpresa. Se não estivesse tão convencido a tentar fazer amigos, Alex provavelmente teria deixado importar-se com aquilo.

— Viu isso em algum filme e achou legal?

— Sim. — Jensen continuou sorrindo. — Na verdade, estou lhe fazendo um favor. Há quanto tempo você não toma banho de piscina?

— Quatro. — Alex nadou até a borda e saiu, sua camisa estava colada no corpo, ressaltando os músculos de seu abdome.

— Quatro o que?

— Quatro anos. — Ele olhou para e baixo e encarou a roupa encharcada. Era exatamente por isso que odiava piscinas. Sempre ficava morrendo de frio mesmo que houvesse um sol escaldante lá fora.

— Sério? — Debochou Jensen. Depois nadou até a borda novamente para escorar-se. — Eu tomo banho de piscina duas vezes por dia.

— Talvez fique mais fácil quando se tem uma...

— Preciso ir. — Alex suspirou. Estava controlando a si mesmo para não tremer, mas todos os seus esforços foram em vão. O frio de Nova York era intenso demais naquela época do ano para alguém que estava acostumado apenas com temperaturas quentes. E foi só pensar nisso que Jensen saiu da piscina, era sua culpa que o garoto do interior estava tremendo de frio. Ele tocou no ombro de Alex e disse:

— Não precisa ir embora. Travis poderia emprestar algumas roupas à você.

— Não, eu só quero voltar pra casa.

— Alex, você não vai sair daqui desse jeito. — Jensen fez sinal com a cabeça para irem em direção a porta. — Agora vem, vamos assaltar o closet número três do Travis.

Alex suspirou. Não iria mais contestar. Mas esperava que Jensen tivesse entendido que brincadeiras de mau gosto recebem este nome por um motivo.

Os dois saíram dali enquanto Kerr guardava aquela cena na memória. Era impressão dele ou Jensen parecia estar caidinho pelo gêmeo do bem? Se fosse isso, não havia problema, pois ambos concordaram em manter um relacionamento aberto. Além disso, ele nunca conseguiria adivinhar o número de homens com quem Jensen saia, e não era Alex Benett quem iria fazê-lo ter ciúmes pela primeira vez. O único problema é que nem todos os garotos com quem Jensen se envolve pensariam da mesma forma, sendo Justin, seu namorado oficial, o mais propício a criar um motim.

— Você pode chamar o Travis, por gentileza? — Perguntou Nate a um dos porteiros de terno e gravata.

— Minhas ordens são claras. — Disse o da esquerda. — Nathaniel Strauss não pode entrar.

— Nathaniel Strauss acabou de sair na capa da Vogue sem precisar atingir o First da Billboard. Minha influência e meu direito de estar presente em qualquer evento está acima das ordens que você recebe.

— Vogue? Sério? — O porteiro olhou para seus amigos, os três riram. — Não me diga?

— Talvez seja difícil de entender, já que você, sua família e seus amigos devem aparecer apenas na página policial de jornais locais. Mas Vogue e The New York Times são meios de comunicação importantíssimos para o mundo. Se você não fosse um simples porteiro talvez soubesse disso.

— Olha aqui seu moleque...

Nate não se afastou um só centímetro, não estava com medo do homem negro, gordo e alto atrás das grades que se aproximava de maneira ameaçadora, mas foi salvo pelo gongo de qualquer jeito. Travis tinha acabado de chegar, todo sorridente, perguntando o que estava acontecendo na porta de sua não tão humilde mansão. Todos ali olharam pra ele, mas apenas os empregados com receio.

— Ele é Nathaniel Strauss, senhor. — Disse o segurança. — Não podemos deixá-lo entrar, certo?

— Certo. — Travis sorriu com vitória para Nate. — São ordens minhas.

— Ah, sério? — Nate fingiu espanto. — Então eu deveria simplesmente ir pra casa porque a mansão dos Van Der Wall só aceita convidados dispostos a serem subordinados?

— Exatamente.

— Se eu pagasse um boquete pra você, me deixaria entrar?

Os seguranças prenderam o riso. Travis olhou para eles desconcertado, não acreditaria que Nate faria aquilo.

— Qual é, Travis? Me deixa entrar! — Nate balançou a grade.

— Saiam daqui. — Ele ordenou aos seguranças, e no mesmo instante, eles desapareceram feito sombras. Travis se aproximou do portão para que pudesse ficar cara a cara com Nate. — Você quer arruinar minha vida?

— Claro que não, você sabe que eu adoro você. E nunca faria nada para prejudicar seus dezenove centímetros.

— Cala a boca! — A voz de Travis era apenas um sussurro, ele estava com medo que alguém pudesse ouvi-los — Você não pode entrar.

— Isso é por causa daquele número errado que eu te dei? Foi só uma brincadeira,. Tenha senso de humor, cara.

— Tanto faz. Eu só não quero mais nada com você.

— E quem disse que eu quero algo com você? Só quero entrar na sua casa, tomar da sua bebida e balançar o esqueleto. Agora abre o portão, ta bom, coração?

— Você é louco, sabia? . — Travis deu um ar de risos depressivo.

— Qual é, Travis? Me deixe entrar e eu prometo que faço aquilo que você me pediu. Sem usar as mãos...

Travis engoliu em seco quando notou seu sorriso malicioso. Era claro que queria sentir novamente aquele efeito de céu eterno que apenas Nate foi capaz de lhe dar, era injusto usar isso como vantagem.

— Merda, você é o diabo. — Travis deu um meio sorriso debochado, deixando claro que Nate havia vencido. — Abra o portão. — Ordenou a seus empregados.

Assim que formou-se uma brecha entre os portões que abriam-se vagarosamente, Nate passou pro lado de dentro, lançando um sorriso astuto para Travis.

— Você não vai se arrepender.

Jensen abriu a porta para o enorme closet de Travis. Havia tanta coisa espalhada pelas quatro paredes que ele não fazia ideia por onde começar.

Alex, que estava sentado na cama de frente para o closet, também ficou pasmado. Se Juntassem os dois closets de Travis mais os corredores do andar de cima da mansão, teriam o tamanho quase exato da casa onde ele morava. O que nos Hamptons, significa quase nada.

— Bom, qual vai ser? — Perguntou Jensen.

— Não me sinto confortável pegando algo sem o consentimento do dono.

— Ele nem vai notar que sumiu. Mesmo assim, sei que você pretende devolver.

— Eu não pretendo nem pegar, eu acho. — Ele cruzou os braços, o frio não estava cessando mesmo que agora estivesse num ambiente fechado.

Jensen viu que ele estava se fazendo de forte e deu um suspiro. Ele não iria ceder a não ser que insistisse, era bonzinho demais pra isso.

— Eu escolho. — Jensen entrou no closet e pegou a primeira camisa social azul que viu. Andou até Alex e mostrou a ele. — Ele tem umas quinze dessas. E não se preocupe, amanhã passo na sua casa e trago de volta.

Alex olhou por alguns segundos pra camisa, parecia tentador. Mas afinal, por que Jensen estava sendo tão prestativo? Apesar do amor por cinema, eles não tinham nada em comum, não havia motivo para Jensen querer tanto que ele fizesse parte do seu grupo.

— Ok. — Ele se deu por vencido e pegou a camisa.

Jensen deu um meio sorriso e ficou observando-o enquanto se despia. Apesar de tudo, Alex não estava envergonhado por ter que tirar a roupa na frente de um quase estranho, e tal constrangimento nem passou por sua cabeça. Também não notou o sorriso malicioso de Jensen por causa de seu abdome definido agora a mostra. Havia tanta coisa que não percebia que Jensen chegava a se surpreender.

Se fosse no caso de qualquer outro garoto, Jensen teria conseguido o que queria ainda no teatro, após uma conversa amigável e gentil. Mas com Alex tudo acontecia de forma vagarosa. Provavelmente ainda não tinha percebido as reais intenções de Jensen, mesmo que no olhar, estivesse completamente óbvio.

Após colocar os braços por dentro da camisa, Alex abotoou a parte da frente. O alívio já podia ser sentido na parte de cima do seu corpo, mas ainda faltavam as pernas, que continuavam congeladas.

— Está se sentindo melhor? — Jensen sentou-se ao lado dele, afundando mais ainda a cama.

— Sim. — Alex passou a mão no braço, era a única coisa que não tinha esquentado muito bem.

— Se você quiser uma calça eu posso pegar...

— Não, tudo bem, acho que já vou embora.

— Desculpa ter te jogado na piscina. Não foi legal. — Jensen olhou pra ele.

— Tudo bem, você só queria me enturmar, eu entendo. Mas ainda prefiro a maneira feminina de fazer isso.

— Ah, então você tem muitas meninas atrás de você?

— Não. — Alex deu um ar de risos. — Não exatamente...

— Explique.

— Não tem nada pra dizer, foi apenas um comentário.

— Então responda minha pergunta. Você é do tipo que tem garotas aos seus pés? — Jensen sorriu. Era o momento certo para descobrir o quão difícil seria conquista-lo.

— Não como você, se é isso que quer saber. Mas tinha uma garota, minha melhor amiga. Éramos inseparáveis até ela confessar que estava apaixonada por mim. Não é algo que eu gosto de lembrar. — Alex quase fez uma careta.

— Por que não?

— Nós tivemos uma briga feia e desde então não nos falamos. Ela disse que estava cansada. E que eu nunca percebo quando alguém quer ir além da amizade.

— É, você não percebe mesmo... — Jensen deu outro meio sorriso, mas Alex novamente não havia entendido — Enfim, me conte outra história.

— História? — Repetiu Alex. Ele precisava que Jensen fosse mais específico.

— É, uma história , qualquer história. — Jensen deu de ombros. — Todo mundo tem histórias...

— Você tem?

— Demais. A maioria gera arrependimento depois. — Jensen olhou pro lençol azul da cama, o rosto de Nate lhe veio a cabeça involuntariamente.

— Foi tão ruim assim?

— Talvez. — Jensen deu de ombros, tentando parecer indiferente.

— O que aconteceu?

— Uma vez eu me apaixonei por uma pessoa e não sabia o que fazer com esse amor. Então estraguei tudo, e eu acho que isso me marcou para sempre. — Jensen fitou Alex, esperando que ele não soubesse do que ele estava falando.

— Parece que você amou mesmo. Mas acho que parar de pensar nisso pode ajudar.

— Nada vai ajudar...

Eles trocaram mais um olhar, porém, Alex não conseguia compreender. Foi quando Jensen decidiu ignorar as consequências para tomar uma atitude antes que fosse tarde. Ele virou o queixo de Alex com a mão direita e o beijou, tão repentino quanto romântico.

Alex ficou completamente sem reação, mas sabia que aquilo não deveria estar acontecendo. Primeiro porque ele não correspondia aos sentimentos de Jensen, independente da opção sexual de ambos. Depois porque não estava procurando nada além de amizade, mesmo sabendo que o beijo, em outra ocasião, poderia ser considerado perfeito.

Ele empurrou Jensen com as duas mãos e o fitou com uma expressão séria, que misturava raiva e indignação.

— O que você ta fazendo? — Perguntou ele, num tom acusador.

— Eu só... — Jensen estava envergonhado, suas bochechas imediatamente ficaram vermelhas. — Eu fiz o que eu queria, me desculpe...

— Eu pensei que você queria ser meu amigo. — Alex levantou-se da cama e caminhou na direção da porta.

— Espera, Alex! — Jensen deu um pulo da cama. Segurou no braço dele para impedi-lo de sair, pois era hora do plano B — O que eu fiz foi errado, mas não finja que não gostou.

— O que?

— Eu sei que você gostou.

— Você ta delirando. — Alex deu meia volta.

Jensen não disse mais nada, apenas o puxou pelo braço com força o suficiente para Alex virar e seus peitorais darem de encontro. Sem pensar duas vezes, lhe deu outro beijo repentino, muito melhor que o de antes, mas que nunca diminuiria a vontade que Alex estava sentindo de lhe socar no rosto. Quem ele pensava que era pra sair beijando as pessoas a força? Seu nome poderia significar alguma coisa nos Hamptons, mas para Alex, não passava da identificação de um completo idiota.

Antes que Alex pudesse livrar-se do beijo de Jensen, Nate abriu a porta do quarto e assistiu de camarote a verdadeira iniciação do seu querido irmãozinho naquele mundo. A princípio, o choque dominou seu rosto, mas depois percebeu que aquela era o tipo de situação da qual ele podia tirar proveito. Afinal, ter um irmão que também gostava de garotos tinha suas vantagens.

Quando sua presença foi notada, Jensen e Alex pararam o beijo, estavam completamente desconcertados. Principalmente Alex, que sentiu-se imediatamente um péssimo filho. Sua mãe adotiva dissera desde sempre que beijar garotos era errado, e que ficaria profundamente magoada se um dia visse seu filho comportando-se dessa maneira. Ela não sabia do que tinha acabado de acontecer, mas o que impediria Nate de contar pra todo mundo? Ele não parecia ser do tipo que sabia guardar segredo.

— Hey Alex. — Nate sorriu. — Bom te ver. Você está em forma. — Ele olhou para Jensen com o mesmo sorriso vencedor que encarara o irmão. — Já você, está comendo muito rolinho primavera.

— Nate, eu... — Alex começou, mas foi interrompido por Jensen, que também queria explicar sua versão dos fatos.

— Olha, Nate, isso que você viu não foi nada, ok?

— Como não? Um beijo significa tudo, não é, maninho? Mas me diga, a boca dele ainda tem gosto de hortelã? Porque eu realmente sinto falta disso.

Alex e Jensen trocaram um olhar cauteloso enquanto a mente de Alex tentava ligar os pontos. Se a afirmação de Nate estava correta, então Jensen e ele eram mais que apenas amigos de infância, e que muito provavelmente o rompimento aconteceu de maneira trágica. Era uma teoria maluca como aquelas que Alex só via em filmes Hollywoodianos, mas que estava sendo comprovada pelo olhar culpado no rosto de Jensen.

— Ah, me desculpem, é claro que atrapalhei o momento de vocês. Vocês estavam quase indo pra cama, certo? Então... — Nate pegou na maçaneta da porta. — Vou deixá-los a sós.

— Espera! — Jensen gritou, mas foi em vão, Nate já havia fechado a porta. Ele olhou para Alex novamente, prestes a assumir a culpa não só por tê-lo beijado a força, mas por não ter sido honesto a respeito de sua história com Nate — Olha, Alex...

— Me deixa em paz. — Alex abriu a porta e saiu correndo.

Pra sua surpresa, Nate estava escorado na parede do corredor, com uma garrafa de vodka nas mãos. Alex parou quando o viu sorrir, ainda achava macabro a ideia de ter alguém idêntico a ele por fora, mas que estava disposto a fazer de sua vida um inferno como se tivesse lhe dado motivos.

Nate caminhou até ele só para que pudessem ficar cara a cara, era sua maneira de intimidá-lo.

— Mal chegou a Manhattan e já fisgou o bonitão. Você é definitivamente um Strauss.

— Me deixa em paz. — Alex tentou seguir em frente, mas Nate colocou-se em seu caminho. Aquela conversa ainda não havia acabado.

— Eu só quero saber por quanto tempo você vai bancar o gêmeo bonzinho até revelar qual é sua.

— Eu não sou como você.

— Ninguém é como eu, as pessoas estão como eu. É tudo uma questão de oportunidade. — Nate deu um passo a frente. — Me diga você. Se tivesse a chance de se tornar um filho da puta miserável para se sentir melhor, você o faria?

— Você não vai conseguir me intimidar. — Alex manteve a voz firme. Nunca deixaria ser intimidade por alguém cuja alegria é intimidar os outros.

— Quem disse que eu quero intimidar você? — Debochou Nate. — Eu quero você do meu lado porque sei que podemos formar uma boa equipe. Aliás, era o que deveríamos ter sido a vida inteira se nossa mãe não tivesse dado você à uma qualquer.

— Isso... — Alex engoliu em seco. — Isso não é verdade.

— Tem muita coisa sobre a gente que você não sabe, e talvez eu seja o único capaz de dizer toda a verdade. Incluindo, é claro, o motivo pelo qual eu odeio tanto Jensen McPhee.

— O que ele fez pra você?

— Tudo no seu tempo, Alex. — Nate deu um passo pra trás. — Até lá, não confie nele. Ao contrário do que você pensa, eu sou o mocinho da história, e posso provar. — Ele deu meia volta e saiu.

Alex suspirou enquanto o observava desaparecer de sua vista. Ele não sabia porque, mas a maior parte dele estava acreditando que Nate não poderia ser tão perverso. Sempre que olhava pras pessoas que o irmão magoava tinha impressão que elas eram capazes de fazer coisas bem piores, mas até em seus piores atos Nate parecia ser apenas uma grande vítima.

Talvez tivesse a ver com o fato de serem gêmeos, ou simplesmente um instinto natural que o alertava sobre as coisas, Alex não conseguia entender. Do mesmo jeito que não sabia o quanto o beijo de Jensen havia lhe afetado quando não deveria significar absolutamente nada. Bem, ele realmente não estava disposto a descobrir.

Enquanto isso, no andar de baixo, Amber despedia-se de Andy pra seguir em frente até a porta que levava a piscina. Ela caminhou pelos corredores após o hall com o celular nas mãos, lendo as notícias sobre os gêmeos Strauss que saíam a todo momento. Era estranho que estivesse tão interessada na história de ambos, mas todos tinham que admitir que era o escândalo mais gostoso dos últimos tempos.

Antes de abrir a porta de vidro para chegar até a piscina, ela foi barrada por Nate. Seu rosto estava estampado com um sorriso vanglorioso bastante sugestivo, como se estivesse prestes a aprontar, ou simplesmente querendo demonstrar-se superior.

— Está com pressa? — Perguntou ele.

— Não que seja da sua conta, mas sim. Agora você podia me dar licença?

— Depende. Tenho algo que pode lhe interessar.

— Eu duvido muito. — Amber passou por ele, mas parou assim que ouviu novamente sua voz.

— Sério? Então acho que vou mostrar a Sergei, seu professor de artes. — Nate tirou o celular do bolso e estendeu próximo ao rosto de Amber — Talvez ele possa me explicar o motivo de estar dormindo com uma estudante.

No monitor, estava sendo exibido um video onde ela e seu professor aproveitavam o término das aulas para beijar-se dentro de uma sala vazia. Enquanto ele vestia um terno com um cachecol em volta do pescoço, ela vestia o uniforme do colégio St. Eunice, que em apenas alguns segundos já estava decorando o chão.

Amber custou a acreditar no que estava vendo, mas a filmagem era bastante clara. E pertencia a única pessoa que poderia usá-la para arruinar sua vida.

— Acho que você está prestes a perder sua chance de entrar em Harvard, Amber. — Disse Nate. — A não ser que você faça exatamente o que eu disser.
 
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1x06: Baby, Don't Get Hooked On Me (28 de Setembro)
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5 Comentário(s)

5 comentários:

  1. Ai meu Deus, não sei se torço pro casal Alex e Jensen, ou pro casal Nate e Jensen, cara a história ta muito boa, ótimos diálogos, os gêmeos frente a frente em um embate, achei que ia rolar uma bitch fight mas não foi dessa vez. É incrível como o Nate sempre sabe as piores coisas sobre as pessoas, Amber o professor,hum...já no aguado pro próximo

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  2. OMG , a historia está cada vez melhor .Amando , pena que demora pra sair!

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  3. gente, tá na cara que alex não é gay, meu deus. então, mais um ótimo capítulo joão. esperando o próximo.

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  4. Depois de ler 5 capítulos, posso dizer? Estou realmente gostando da história. Li comentários dos mais diversos, Uns pertinentes outros nem tanto. Fato é que gostei pra caramba, mas tenho alguns receios.
    Tipo o Alex e Jensen. NOOOOOOOOOOOO. Seria injusto, sou totalmente a favor de final infelizes pra quem comete graves erros como o do Jensen com o Nate. Mesmo que a pessoa se recupere.
    Outra coisa que me incomoda bastante é o fato do Nate ta usando o Quentin nos seus planos. Sem que role sentimentos e tals. Acho que ele ta de certa forma usando as mesmas armas que usaram contra ele. E alguém que sofreu isso deveria ter a sensibilidade de não fazer alguém, que não teve nada a ver com o seu sofrimento sentir a mesma dor.
    "Aquele que luta com monstros deve acautelar-se para não tornar-se também um monstro. Quando se olha muito tempo para um abismo, o abismo olha para você."
    Ps: Nietzsche tem toda razão...

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