Especial

Foto:

[Livro] The Double Me - 1x03: Boys Just Wanna Have Fun [+18]


“Uma vez que você entra, aproveite o espetáculo".


— Acorda, dorminhoco. — Quentin sorriu.

O relógio na parede marcava as quatorze horas e Nate continuava na cama, sendo levado a continuar dormindo pelo lindo sonha que estava tendo. Para alguns, sonhar com sua irmã entrando em desespero devido a careca em sua cabeça, seria no mínimo estranho. Mas para Nate, era quase uma conquista, ou simplesmente uma bela projeção do que ele gostaria que acontecesse.

Ele ouvia a voz de Quentin, sentia que estava sendo chacoalhado, mas sua cabeça doía demais para que pudesse se importar. Será que tinha bebido demais na noite passada? Ele não conseguia lembrar. A ultima coisa que estava em sua mente a respeito do dia anterior era a garota que conheceu no bar, a mesma que passou horas dando um monólogo doentio sobre um casamento fracassado. Então, parecia que ele tinha mesmo exagerado na bebida.

— Nate, são duas horas, trouxe seu café. — Quentin colocou a bandeja em cima da cama e sentou ao lado dele. Estava pensando em continuar insistindo para que acordasse, mesmo que durante cinco minutos após seu sono interrompido, Nate fosse soltar fogo pelas ventas. E esta, era a rotina da manhã de toda a segunda feira. — Ta na hora de acordar.

— Eu não tenho hora, me deixa em paz. — Para proteger-se da voz irritante de Quentin, Nate colocou o travesseiro em cima da cabeça. Não importava que estava sendo difícil respirar, ele só queria continuar dormindo até cansar de tentar voltar pro mesmo sonho.

— Você precisa se alimentar...

— Não fale como se fosse minha mãe. Não é sexy... — Gemeu Nate, tendo a voz abafada pelo travesseiro.

— Nate, anda logo...

Nate suspirou. Quentin estava usando aquele tom de voz uniforme e deprecante mais uma vez. Então, havia mesmo um jeito de dizer não?

— Merda! — Finalmente Nate levantou. Ficou sentado na cama olhando para Quentin, enquanto o garoto lhe lançava um olhar risonho. — Como eu estou?

— Zero vírgula dois por cento menos perfeito por causa do sono.

— É, eu já imaginava... — Nate olhou pra bandeja bege ao seu lado. Havia tanta coisa que só de olhar lembrava sua infância desmedida. — Isso é carne humana misturada com sorvete de passas?

— Isso é geleia light de morango. Eu mesmo preparei.

Nate sorriu cortês.

— Você sabe que eu não sou uma garota, não é?

— Não significa que não pode ser mimado de vez em quando.

— Tudo bem então. — Nate deu um pulo da cama. — Vou tomar banho, quer vir?

— Não. — Quentin jogou a bandeja na cama, dando um suspiro. Ele olhou para Nate, o garoto já estava começando a se despir. — Não posso, preciso sair.

Nate jogou a camisa para o lado e olhou para ele, perguntando-se como não tinha percebido que ele estava de terno e gravata. Foi só assim que conseguiu lembrar que aquele era o seu dia. O dia em que Quentin iria começar a trabalhar numa filial de Nova York da empresa de seu pai, e ele só teria uma chance para provar que não é mais criança e está pronto para entrar no mundo dos negócios.

— Certo, você e a empresa do seu pai...

— Vai dizer que tinha esquecido?

— Claro que não. — Nate abaixou a guarda assim que Quentin lançou aquele olhar desconfiado. — Talvez eu tenha esquecido, mas não é o fim do mundo. E você vai se sair muito bem, disso eu tenho certeza.

— Obrigado. — Quentin deu um meio sorriso. Apesar de Nate ter esquecido sobre o seu grande dia, ele ficou feliz em vê-lo acreditar na sua capacidade como homem de negócios. E isso, é claro, renderia a Nate um beijo.

Quentin caminhou em sua direção e segurou seu rosto com as duas mãos enquanto seus lábios estavam juntos. 

— Boa sorte você também. — Murmurou ele antes de se retirar.

Quando ouviu a porta bater, Nate olhou pra trás, novamente sentindo-se péssimo. Eles se comportavam como um casal de verdade, com direito a café da manhã na cama e beijo de boa sorte. — que ia muito além do combinado -, mas no fim, eles não eram um casal. Isso poderia ser esclarecido em uma conversa amigável entre ele e Quentin durante um jantar no Four Seasons, pois esse seria o momento perfeito pra lhe explicar como as coisas funcionam. O único problema é que Quentin havia mudado. E se ele resolvesse lhe exigir outro tipo de comportamento agora que eles passaram de nível? Se isso acontecesse, seria um completo desastre.

O que tirou Nate de seu devaneio foi a visão de um convite formal em cima da penteadeira com letras prateadas no verso. Mesmo estando longe, ele sabia exatamente do que se tratava. E pelo sorriso malicioso que brotou em seus lábios, parecia que o show de Balé de Gwenett Strauss e Amber Foster seria inesquecível.


— Aonde você vai? — Judit escorou-se na parede do hall e sorriu para Gwen, que já estava de saída.

— Encontrar os amigos, vovó. — Respondeu Gwen, de maneira indiferente. Ela colocou a mão na maçaneta, mas antes que girasse, Judit articulou novamente.

— Alex? — Ela olhou para o filho recém-chegado ao Hall da mansão. — Você gostaria de conhecer os amigos de Gwen?

— O que? — Soltou Gwen, deixando o nervosismo tomar conta da voz. Mas não era essa sua intenção. Ela ainda queria ser a irmã exemplar só para ter Alex do seu lado agora que é o preferido da família. Se tinha como voltar atrás em sua reação, ela não sabia, mas precisava ao menos tentar. — Claro que ele quer, não é, maninho?

Alex olhou para Judit com uma expressão que dizia “sinto muito”, ela sabia que ele iria recusar. Não com a intenção de fazer uma desfeita, como temia que ela pensasse. Era apenas porque ele sentia que não estava preparado pra isso. Sair, conhecer pessoas, ser apresentado aos costumes desse novo mundo, tudo isso ainda parecia dispensável para ele. Ou tudo ficaria mais fácil se ele fizesse amigos? De repente sair com a irmã não parecia tão ruim assim.

— Tudo bem se eu for? — Alex estava esperando a aprovação da mãe.

— É claro. Você também precisa se divertir.

Alex assentiu e lançou os olhos na direção de Gwen, sem imaginar que por dentro a irmã estava quase orando em línguas para que não aceitasse. Porque andar com a cópia fiel de uma das pessoas mais odiosas de Nova York poderia destruir sua reputação. Principalmente no seu círculo de amizade cheio de adolescentes influentes, que ela considerava ser uma das coisas mais importantes da sua vida. 

— Se estiver tudo bem para Gwen. Eu vou.

— Ótimo! — Gwen sorriu, superando-se novamente na atuação. — Então vamos. — Ela abriu a porta e saiu.

Judit abraçou Alex imediatamente. Não tinha nenhum motivo em especial como uma despedida, ela só estava aproveitando todas as oportunidades de tê-lo perto e sentir seu cheiro, como sonhou a vida inteira. 

— Se cuide. — Murmurou ela enquanto ele se afastava.

Ela caminhou até a porta e observou o momento em que Alex entrava na BMW de Gwen. Ela parecia entediada como sempre, e ele lindo e inocente do mesmo jeito.

— Segura firme. — Alertou Gwen assim que Alex bateu a porta do carro. Ele ficou com medo do seu sorriso malicioso, mas nada se comparava a adrenalina de estar dentro do carro enquanto ela pisa com fúria no acelerador.

O lugar para onde estavam indo chamava-se “DaLie”. Ele era o preferido da maioria dos adolescentes que moravam nas redondezas ou visitavam a cidade. Qualquer jovem rico o suficiente para comprar uma camiseta Ternos Kiton ou um relógio Patek Philippe poderia ser encontrado ali, tomando um expresso para enganar o frio e fumando um cigarro importado feito especialmente para sua família. 

Por fora, poderia ser apenas mais um local de encontro como tantos outros espalhados por Nova York. Mas por dentro, seu design era brilhante. Tinha os aspectos dos bares oitentistas de Paris exaltando a beleza dos verdadeiros clássicos, mas também, algo moderno e inovador, que mistura as cores preto, marrom e azul escuro sem criar um ambiente monótono para seus visitantes. Deve ser por isso que os jovens da cidade transformaram-no em seu ponto preferido de encontro.

Os primeiros a chegarem ao local e reservarem uma mesa foram Justin e Jensen. Eles adoravam o clima antigo que o bar lhes dava e sempre que podiam se encontravam lá. Mas dessa vez eles estavam acompanhados. Amber estava bem ao lado de Justin, encostada na janela com o rosto pensativo, enquanto Kerr e Andy ocupavam os lugares do outro lado da mesa. E o Assunto do dia, era a polêmica envolvendo os gêmeos Strauss.

— Eu contei pra minha mãe o que aconteceu. — Disse Kerr. — Ela não acreditou. Disse que Nathaniel Strauss não pode nem mesmo ser um bom exemplo de beleza interior.

— Se eu não tivesse visto com meus próprios olhos, também não acreditaria. — Andy sorriu, debochando. — Por favor, né? Ainda é o Nate Strauss. Se existe alguém em Manhattan que é exatamente o oposto de sexy, é ele.

— Podemos mudar de assunto? — Justin fitou Andy, quase furioso. Se olhasse mais um pouco, transpareceria a raiva que estava sentindo.

— Vocês acham que ele voltou pra se vingar de todos nós? — Amber finalmente olhou para todos na mesa, colocando o copo do suco que tomava em cima dela. 

— De todos nós, vírgula. — Andy sorriu novamente com deboche, mas durou apenas um segundo. — Eu não tenho nada a ver com o que aconteceu.

— Pode ser. — Sibilou Amber. — Mas não acho que ele vai se importar com isso. 

— Não digam asneiras. — Repreendeu Justin. — Não é como se não soubéssemos nos defender.

— Ta, desculpa. — Amber revirou os olhos, não estava nem um pouco disposta a discutir com Justin — Só acho estranho que ele tenha voltado apenas para nos mostrar seus bíceps.

— Olha só a carinha dele. — Andy olhou para Justin com um sorriso, o garoto se segurava para não ficar furioso. — Está com ciúmes do Nate? Está com medinho de perder o Jensen pra ele?

— Me lembro da época em que todos vocês eram inteligentes.

— Chega disso, não é? Justin está certo. — Jensen olhou para seu namorado. — Essas coisas só acontecem na TV. Nate pode ter mudado a aparência, mas não quer dizer que ele não seguiu em frente.

— Bom, isso vai ser divertido. — Amber olhou pela janela de vidro. 

Do lado de fora estavam Gwen e Alex, saindo de dentro do carro e caminhando na direção do bar. Todos na mesa pareciam estar curiosos a respeito disso, e nem fizeram questão de disfarçar quando a porta se abriu.

A primeira coisa em que Alex notou foi a enorme pele de urso em cima da adega de vinhos, o que logo lhe fez perceber que aquele não era um bar comum. Mas o que poderia esperar de um bar frequentado apenas pelos jovens milionários? Se ele saísse de lá vivo, com certeza iria rever suas expectativas.

Quando ele e Gwen aproximaram-se da mesa, ele olhou para seus futuros novos amigos. Todos ainda pareciam desconfortáveis ao estar diante da réplica de Nate, a não ser Amber e Jensen. Eles estavam curiosos a respeito o gêmeo do bem, mas não tinham preconceito, e poderiam aceitá-lo no grupo de boa vontade. Talvez com um pouco mais de convivência eles pudessem esquecer que Alex lembra alguém tão perverso, a não ser que os outros membros do grupo desaprovassem essa ideia.

— Pessoal, esse é meu irmão. — Disse Gwen. — Alex, esse é o pessoal.

Alex respondeu dizendo “oi” de maneira vaga, sem saber que as apresentações não haviam acabado aí. Gwen apresentou todos na mesa, um por um, e cada vez que dizia seus nomes eles acenavam para Alex, tentando ser simpáticos. Justin foi o ultimo a ser apresentado, e fez o mesmo que os outros, ainda demonstrando que Alex não agradava a todos eles.

— Então, você é o Alex? — Perguntou Kerr. Ele logo tornou-se o membro mais corajoso do grupo, que teve coragem de fazer uma pergunta direta sem se importar se estaria sendo inconveniente. — Se não fosse a cor dos olhos eu diria que você e eles são a mesma pessoa...

— Isso não deveria ser geneticamente impossível? — Amber virou a cabeça para o lado e manteve os olhos vidrados no garoto, como se estivesse vendo o resultado de uma incrível experiência científica.

— Eu não sei. — Alex fez uma careta, quase sorrindo. Não tinha sido um elogio, mas também estava longe de ser um insulto.

— Você pode sentar ao lado de Andy. — Disse Gwen. — Eu posso pegar alguma coisa pra você? Chocolate quente?

— Tudo bem. — Alex assentiu e sentou-se assim que Andy cedeu espaço.

Gwen caminhou até o balcão, aproveitando que ninguém estava vendo seu rosto para fazer uma careta de desânimo. Aquele era apenas o começo de uma série de falsidades que ela precisava jogar para cima de Alex, mas já estava sem paciência. Se não tivesse um plano de manipulação a ser seguido, já teria ligado pra roça onde sua mãe adotiva trabalha pedindo para que viesse buscar seu filhinho indesejado. Talvez ela nem trabalhasse na roça, mas isso não importava. Para Gwen, aquela era a referência universal a quem não tinha tanto dinheiro como ela.

— Então, de onde você é? — Perguntou Amber, quebrando o gelo que se formou na mesa quando Gwen partiu na direção do bar.

— Islip. Fica a alguns quilômetros daqui.

— Odeio essa cidade.

Amber levou um chute de Kerr por debaixo da mesa, estava sendo indelicada e superficial. Mas Alex não se importou, não quando a insatisfação no rosto de Justin estava completamente visível e chamando sua atenção. Se Alex não entendesse que sua semelhança com Nate poderia causar desconforto as pessoas, ele já teria feito alguma coisa a respeito disso. 

— Então, está gostando de morar nos Hamptons? — Perguntou Justin, numa simpatia duvidosa.

— Sim, é um ótimo lugar.

— Já saiu pra fazer compras?

— Ainda não. — Alex franziu a testa por milésimos de segundo. Tudo culpa da maneira estranha que a perguntava havia soado.

— Bem, quando for, espero que me convide. Ninguém conhece essa cidade melhor que eu. — Justin sorriu.

— Chocolate quente. — Gwen interrompeu, no exato momento em que Alex dispensaria o convite de Justin. Ela deixou a xícara em cima da mesa e sentou-se ao lado de Jensen.

— Obrigado. — Alex sorriu de volta e depois olhou para sua xícara. A água na boca era inevitável, aquilo iria ajudá-lo a se aquecer, já que o frio daquela cidade era intenso.

Ele segurou a xícara com cuidado e levou até a boca, mais uma vez sendo simples, porém o centro das atenções. Principalmente no caso de Jensen, que observava o garoto tomar seu chocolate quente com um olhar curioso. Kerr. — o mais detalhista do grupo. — foi o único a prestar atenção em seu comportamento, tendo até uma ideia do que estava pensando. Porque todos eles sabiam que Alex era perfeito em absolutamente tudo, e por isso, Jensen insistia em censurar seus pensamentos.

— Então, Alex. — Gwen sorriu mais uma vez. Alex colocou a xícara de volta na mesa e olhou pra ela. — Eu soube que você recusou o convite da nossa mãe pra ir ver minha apresentação de balé hoje à noite. 

— Nossa apresentação de balé. — Corrigiu Amber, recebendo um olhar cansado da amiga, como se estivesse importando-se apenas com detalhes.

— Ok, nossa apresentação de balé. Enfim. — Gwen virou para Alex. — O importante é que todo mundo vai estar lá, e essa seria uma ótima oportunidade de você ser apresentado formalmente aos nossos amigos.

— Nossos amigos? — Alex estava em dúvida. Ele deveria ser apresentado aos magnatas da cidade ou interagir com todos os jovens da região?

— Somos uma família agora. E famílias permanecem unidas — Gwen olhou para Kerr por dois segundos. Pelo sorriso malicioso que mantinha em seu rosto, ele sabia que ela já tinha começado a despejar seu veneno. — Vai ser divertido.

Andy prendeu um riso, mas não fez barulho. Ele achava engraçado demais Gwen tentar ser gentil com alguém que ela claramente não gostava. E se isso estivesse acontecendo, só poderia significar uma coisa: Ela estava tramando algo que fosse beneficiá-la no futuro.

— Ok, eu vou. — Alex quase se arrependeu, mas era tarde demais, já havia dito.

— Adoro essa parte. — Gwen sorriu, adorava quando podia usar sua frase de efeito.

— Aposto que sim. — Kerr lhe lançou um olhar malicioso e ao mesmo tempo simpático, só queria saber porque Gwen estava sendo tão simpática com seu novo irmão.


— Ai meu Deus! — Travis tentou segurar, mas não conseguiu. Seu corpo e sua mente estavam experimentando o tipo perfeito de êxtase que poucas vezes já sentira.

Nate, que ainda estava brincando no seu andar de baixo, sorriu vitorioso. Era a prerrogativa daqueles que poderiam oferecer um orgasmo tão intenso.

Ele levantou a cabeça e fitou o rosto de Travis. O suor, a respiração ofegante, os pelos em seu peito, aquela era uma combinação sexy que Nate gostava de contemplar. E parecia que Travis sentia-se do mesmo jeito. Ele olhava para Nate como se estivesse olhando para um anjo, sendo a característica mais marcante o poder de literalmente levá-lo ao céu.

— Eu te disse... — Nate sorriu e depois o beijou. 

Ele saiu da cama e caminhou até o espelho do quarto do hotel. Pegou seu maço de cigarros em cima da penteadeira e colocou um na boca. Acendeu ele com o isqueiro que havia ao lado enquanto finalmente fitava seu reflexo. O cabelo perfeito não estava mais do mesmo jeito, mas não podia reclamar depois do que ele e Travis tinham feito.

— Você pode deixar o dinheiro na mesinha. — Nate fitou Travis pelo espelho, o garoto ficou imediatamente surpreso.

— Dinheiro? — Travis se assustou — Eu pensei... Eu pensei que você tava afim...

— Estou brincando, perdedor. — Nate abaixou para pegar suas roupas espalhadas pelo chão. Primeiro vestiria a caça preta social, que Travis fizera questão de amassar. — Você não tem senso de humor?

— Ok. — Travis sorriu. Cada centímetro do seu corpo estava transparecendo alívio.

— Deveria ter visto a sua cara... — Nate sorriu com malícia. Rapidamente ele fechou o zíper de sua calça e colocou a camisa social junto com a gravata vermelha, também amassada.

— Idiota. — Travis suspirou, sorrindo ao mesmo tempo.

— Tenho que ir. E ah, não me espere amanhã, eu tenho um compromisso.

— Que compromisso?

— Um encontro. — Nate ajeitou o paletó com a ajuda do espelho. Depois, virou novamente para encarar Travis. — Desculpa, não posso cancelar.

— Um encontro? Mas eu pensei que nós...

— O que? Que seríamos monogâmicos só porque nos chupamos? É, não vai rolar.

— Então... Eu te ligo?

— Sim. — Disse Nate, com a voz repleta de falso entusiasmo. — Aliás... — Ele caminhou até a penteadeira, onde pegou uma caneta e uma folha de um bloco para anotar o número. Depois, entregou a folha para Travis. — Esse é meu número, pode me ligar a hora que quiser.

— Ok. — Travis encarou a folha de papel. Aquele seria o número que estaria na discagem rápida do seu celular.

— Agora tenho que ir. — Nate caminhou na direção da porta. — Vou esperar sua ligação, até mais.

E então, Nate bateu a porta. Ele se escorou na parede do corredor e fitou a enorme lâmpada acima de sua cabeça. Ela estava piscando pausadamente, como se significasse algo além de um defeito na eletricidade do hotel. 

Quando ouviu um barulho do lado direito, ele virou a cabeça e viu uma prostituta saindo do quarto ao lado. Seu vestido rosa choque ainda estava aberto nas costas e seu batom completamente borrado. Ela retribuiu o olhar assim que retirou a mão da maçaneta, talvez pensando que Nate pudesse ser um futuro cliente. 

Mas ele estava muito longe disso. Pra fazer uma comparação justa, ele seria a prostituta e Travis seu cliente. Não a respeito do dinheiro, já que Nate havia desistido de fazer programa há vários meses, mas sim por ambos usarem o sexo como um estilo de vida. Ela, para sustentar a si mesma e provavelmente algum outro familiar. E ele, apenas para sentir-se poderoso, um partidor de corações, que usa garotos apenas para sentir-se bem. Ele poderia simplesmente ver as coisas por este lado e ser o melhor que o novo Nate pode ser, mas o medo de ser aquele a se machucar sempre vai prevalecer.

Ele só parou de pensar nos artifícios de ser Nathaniel Strauss quando seu celular tocou. Era uma mensagem de Quentin que dizia “Consegui o emprego. Agora estou no teatro esperando você, e os garotos também”.

A mensagem acabou lhe roubando um sorriso vitorioso. Se havia algo que pudesse fazer para se livrar dessa fossa pós-sexo, com certeza tinha a ver com a destruição de seus inimigos. 

Ele guardou o celular no bolso e andou até o elevador, imaginando a cara de todos os ricos e poderosos quando o espetáculo começar.

Enquanto isso, dentro do quarto, Travis estava terminando de colocar sua camisa quando resolveu surpreender Nate com uma ligação. Ele pegou o celular de cima da cama e rapidamente digitou o número escrito na folha de papel. Esperou ansioso pelo retorno da ligação com o celular na orelha esquerda, até que os toques pararam, e alguém atendeu.

— Pizzaria Alejandro’s, qual seu pedido?

Travis apenas abaixou o celular enquanto no rosto formava-se uma expressão indecifrável. Ele sabia exatamente o que tinha acontecido, e sabia que aquela raiva repentina só iria passar quando conseguisse agarrar o pescoço de Nate.

— Filho da puta... — Sussurrou ele, dando um ar de risos depressivo.


Gwen arredou a cortina devagar só para dar uma espiada na plateia. Ela pôde ver seus pais junto de Alex sentados na primeira fila como a família perfeita, ao lado de todos os magnatas e suas esposas que ela precisava impressionar. Caso tenha feito uma boa apresentação, eles podem contratá-la para entrar em turnê com as melhores do Balé, e obviamente, interpretando o papel principal, como estava prestes a fazer. 

— Eles chegaram. — Ela avisou a Amber, que estava bem ao seu lado. Ninguém poderia dizer qual das duas estava mais nervosa.

— Meus pais estão aí?

— Espera. — Gwen observou novamente a plateia através da cortina. — Não estou vendo. Talvez eles estejam sentados lá atrás.

— Claro.

Gwen olhou pra amiga, precisava admitir que estava linda. As duas usavam vestidos brancos idênticos com detalhes na cor preta junto de sapatilhas impecáveis que possuíam um desenho artístico no formato de um cisne. Nos braços, estavam usando luvas gigantes que iam da ponta dos dedos até os cotovelos, do mesmo modelo que suas meias brancas bordadas a mão. Quanto ao cabelo, o de ambas estava amarrado num coque sutil e prendido por uma tela japonesa. A única diferença entre as duas era a franja loira de Gwen caindo em cima da testa, que definitivamente deixou-a mais elegante. Tanto que Amber nem conseguia sentir inveja por ela estar no papel principal. Afinal, além de ser a garota mais bonita que já vira na vida, ela era perfeita para interpretar o cisne branco e o cisne negro, teatralmente falando.

— Estou nervosa. — Disparou Amber assim que Gwen abriu novamente a cortina e ela pôde observar a plateia.

— Olha, — Gwen agarrou suas mãos. — Você vai se sair bem, todas nós vamos. Agora tente ficar calma.

— Ok. — Amber controlou sua respiração, talvez ajudasse.

Na plateia, Simon olhou para o pequeno folheto que deram a todos na entrada, não fazia ideia sobre o que era a peça e nem sabia se importava. Já Judit, praticamente espalhava aos quatro ventos o quanto estava feliz em ver sua filha apresentando-se com o grupo de balé e seu filho Alex estar ao seu lado. Ela olhava para ele o tempo todo com orgulho, e nem ligava por ele ficar tímido demais com isso.

— Estou feliz por você estar aqui. — Disse ela, pela terceira vez. — Tenho certeza que Gwen também está.

— Obrigado. — Alex assentiu, não sabia o que fazer.

— Ela está ensaiando há dois meses para esta apresentação. O balé é a sua vida.

Alex olhou para o lado, Jensen tinha acabado de sentar num dos lugares vazios. Ao contrário de quase todos, ele usava um terno cinza com uma gravata azul marinha, mas o cabelo espetado continuava impecável.

Ele e Alex trocaram olhares, mas não pensavam a mesma coisa. Jensen estava feliz em vê-lo, mas sentiu vergonha quando lembrou da ideia absurda que tinha na cabeça. Mesmo que Alex chamasse atenção de formas bastante óbvias, ficar com alguém idêntico ao seu ex namorado seria um tanto bizarro.

Já Alex, estava começando a achar que havia algo errado com Jensen. Poderia ser impressão sua, mas parecia que ele sabia sobre a duvida interna a respeito da amizade dele e de Nate, e que nada seria simples enquanto não descobrisse o que tinha acontecido.

Quando Jensen começou a andar em sua direção, Alex tratou de botar os olhos na cortina vermelha do palco.

— Oi Senhor e senhora Strauss. — Ele disse.

— Olá Jensen. — Disse Judit, transbordando uma falsa simpatia a qual Jensen já estava acostumado. — Como está seu pai?

— Ele está ótimo, obrigado. As férias fizeram bem a ele.

— É uma ótima notícia. 

— Posso sentar com vocês?

— É claro. — Judit olhou para Simon, sabendo que iria reprovar. Mas não podia fazer nada a não ser ignorar o fato de que Jensen McPhee foi namorado de seu filho e viver em harmonia como se nada tivesse acontecido.

Jensen sorriu e sentou-se na cadeira vazia ao lado de Alex.

— E aí?

— Hey. — Respondeu Alex, um pouco tímido.

— Ansioso pra ver sua irmã encarnar o cisne negro? Acredite, ela consegue interpretar os dois perfeitamente. — Jensen quase riu do próprio comentário. Era uma pena que Alex não entenderia.

— Eu assisti o filme, mas não sei o que esperar.

— Gwen é a melhor bailarina que você vai conhecer, isso eu garanto.

— É, já estou começando a acreditar nisso... — Alex deu um meio sorriso. Gwen parecia mesmo ser a princesa dos Hamptons. Amada e idolatrada por todos, menos pelo irmão. Era mais um na lista de mistérios da família Strauss.

— Então, você gosta de ir ao teatro? — Jensen amaldiçoou a si mesmo mentalmente. Que tipo de pergunta era aquela? Se quisesse chamar a atenção de Alex, precisava ser autêntico.

Tarde demais.

— Na verdade, eu nunca tive a oportunidade de ir a um. — Alex parecia relaxado 

— Se você for por prazer, vai ser divertido. Mas caso seu pai o obrigue a ir para serem vistos juntos e saírem nos tabloides, você não vai gostar.

— Problemas com o pai? — Alex deu um meio sorriso. — Isso é um clássico.

— Fugir do clichê não é uma opção por aqui. Tenho certeza que um dia você vai entender.

— Tenho certeza que ouvi a mesma coisa em um filme... — Alex tentou lembrar, mas nada lhe vinha a caneca.

— É... — Deveria ter adivinhado que você é fã de cinema.

— E que no próximo ano estarei estudando cinema.

— É mesmo. Você tem cara de quem gosta de filmes. Se eu puder adivinhar, acho que você é fã de... — Ele pensou, Alex olhava para ele o tempo todo, pela primeira vez interessado na conversa. — Spielberg.

— Passou longe. Gosto mais do estilo da Diablo Cody.

— Garota infernal, certo?

— Exato.

— Curti muito, apesar de ter achado Juno bem melhor. Deve ser porque eu tenho fobia de gravidez na adolescência, então... — Jensen sorriu.

— Sério? — Alex também sorriu, era estranho e engraçado ao mesmo tempo.

— Fazer o que? Mas, se você tiver a fim de conhecer novos diretores, a gente podia marcar com a galera pra assistir na minha casa.

Alex ficou sem palavras. É claro que ele responderia “não”, mas não sabia como fazer isso. Se a sinceridade não fosse proibida em Manhattan, ele diria “não posso me meter com você até saber porque você e meu irmão gêmeo não são mais amigos”.

Mas antes que pudesse responder a pergunta, foi salvo pelo gongo. As luzes apagaram e a enorme cortina vermelha se abriu. Agora a plateia inteira já podia fitar o palco completamente preparado para o primeiro ato.

Alex e Jensen olharam pra lá, as garotas já estavam entrando, mas Gwen não estava entre elas. Alex se perguntou porque, já que no filme não explicavam se o primeiro ato não tinha um dos cisnes.

Quando a musica começou, as garotas iniciaram a dança. Jensen tentou focar-se apenas em Amber, já que era a única garota que conhecia além de Polly Mavis, a ruiva egocêntrica da sua turma de cálculo. Alex, sem querer, fazia a mesma coisa que ele. Amber era a única garota ali que ele conhecia e deveriam lhe dar atenção pelo menos até Gwen entrar em cena.

Ao lado deles, Judit estava encantada. As luzes, a dança, o figurino, era tudo tão perfeito, ela não via a hora de sua filha entrar e provar que estudar balé desde criança tinha servido de alguma coisa. Pena que Simon não estava muito interessado nas partes onde Gwen não aparecia. Seus olhos permaneciam nas garotas dançando no palco, mas ele estava pensando na situação de Nate e em como poderia convencer seu filho a ser o que era antes.

Não demorou muito para Gwen entrar em cena como o cisne branco, com a plateia aplaudindo sua entrada. E vinte minutos depois, todos estavam extasiados com a peça. O tempo passando preocupou Quentin, que estava numa das fileiras do meio. Ele tirou seu celular do bolso e mandou uma mensagem para Nate dizendo “Onde você está? Não acredito que você desistiu”. 

O que Quentin não sabia era que Nate não havia desistido. Foi só Gwen começar a encenar sua parte dramática preferida que a musica cessou. Ela fitou a plateia, envergonhada, todos sabiam que aquilo não fazia parte do show e estavam cochichando. Depois olhou para suas amigas sussurrando uma ordem para revolver o problema, mas nenhuma delas sabia o que tinha provocado aquela falha. E quando uma musica começou a tocar ao fundo, as coisas ficaram ainda mais complicadas. 

Gwen conhecia aquela batida, era a musica de uma banda de rock que Nate adorava, mas por que começara a tocar no meio da sua peça?

Como num reflexo, Amber olhou pro lado, e acabou vendo Nate com uma cadeira nas mãos andando na direção do palco. Ele estava com quatro outros garotos, todos usando paletó e também com uma cadeira nas mãos. Foi quando ela soube que Nathaniel Strauss estava prestes a estragar tudo.

Nate passou por ela com um sorriso vitorioso no rosto e caminhou até o palco junto dos outros garotos. Eles posicionaram as cadeiras ao redor da cadeira de Nate, formando um V, que deixava-o no centro como um verdadeiro líder. E depois ficaram em frente a todas elas, todos com as duas mãos para trás e um olhar ofensivo. Gwen não fazia ideia do propósito dos cinco garotos ou o que aquilo significava, até que viu com seus próprios olhos o inesperado acontecendo. De repente, os garotos entraram no ritmo da musica e arrancaram seus paletós, de uma forma sexy e provocante que chocou a plateia.

— Ai meu Deus. — Sussurrou Jensen, de uma forma alegre. 

Mas ele parecia ser o único que estava se divertindo com o que acontecia em cima daquele palco. As pessoas da plateia estavam em choque, sentindo-se ofendidas e violadas com tamanha indecência. 

E ao que tudo indicava, Nate não estava fazendo aquele striptease sem ter planejado. Ele dançava como um verdadeiro profissional, como se tivesse feito aquilo durante a vida inteira ou simplesmente nascido pra ser um stripper. Era sexy, era provocante, e ficou mais ainda quando os garotos arrancaram a camisa social branca e mostraram seus abdomens definidos, ficando apenas com a gravata preta enrolada no pescoço.

— Minha nossa! — Lamentou Simon, não conseguia acreditar que aquele era seu filho.

Quando chegou na metade da musica, Nate e os outros garotos caminharam até as cadeiras, onde a dança sensual iria continuar.

Jensen estava se segurando para não aplaudir, e acabou recebendo um olhar de reprovação de Alex. O garoto parecia tão chocado quanto sua mãe, e com certeza, mais propício a acreditar que Nate realmente não era uma boa pessoa. Os paparazzi, ao lado, pareciam macacos no cio enquanto fotografavam o que com certeza estava sendo o espetáculo da década. Eles estavam sorrindo, soltando piadas e tirando fotos mais rápido que o flash de suas câmeras, sem se importar com todos os convidados ofendidos na plateia, ou com as pessoas que foram prejudicadas por aquela brincadeira.

Antes da musica acabar, todos os garotos no palco arrancaram suas calças e arremessaram na plateia. Eles fizeram apenas mais alguns passos sensuais antes do som ser desligado e terminaram fazendo poses ensaiadas. Nate, o grande líder, ficou no meio deles de braços cruzados, agora usando apenas uma cueca branca da Calvin Klein e a gravata preta enrolada no pescoço. Ele olhou para seus pais na plateia, vangloriando-se por ter sido o grande culpado daqueles olhares tristes e envergonhados. Era só o que ele queria, mostrar a todos o que é capaz de fazer e o quão incrível pode ser agora que mudou radicalmente.

Enquanto observava a reação das pessoas, seu olhar encontrou o de Alex, ao lado de Jensen e sua mãe. Eles se encararam por alguns instantes, apenas pra deixar claro o quanto estavam se odiando naquele momento. O gêmeo do bem e o gêmeo do mal, tão parecidos externamente, mas com um abismo de diferença em relação ao caráter.

Gwen, ainda parada próxima a saída lateral, estava enxugando uma lágrima que caíra do olho direito. Na plateia estavam as únicas pessoas que poderiam realizar todos os sonhos, mas agora, ela estava perdida. Não havia mais sonho, não havia mais pessoas, não havia nada além de uma vingança infantil cometida por seu irmão, que no fim, acabaria lhe rendendo a capa das revistas sobre fofoca mais importantes do país. Nathaniel Strauss estava sendo exaltado, e Gwenett Strauss, tropeçando na armadilha que ela mesma criou.

Não lhe restava mais nada a fazer se não sair correndo e deixar Nate brilhar enquanto podia, pois mais cedo ou mais tarde, seu irmão pagaria por tudo o que tinha feito.

Next...
1x04: Envy Goes Global (14 de Setembro)
Comentário(s)
2 Comentário(s)

2 comentários:

  1. ótimo capitulo, quase tive um heart atack quando percebi o que o Nate ia fazer, acho que vai rolar algo entre o Alex e o Jensen. Gwen se fudeu que legal, quando o Alex vai perceber que ela não presta? enfim anciosei pelo próximo, e devo dizer que Nate é uma vadia, e eu adoro isso.

    ResponderExcluir
  2. Sem querer se preconceituoso mas pelo menos o Alex tem que se hétero. Já tem muito gay ou todos né. Alex e Amber tinha que ter algo e a Gwen ficar com ciumes da amiga.

    ResponderExcluir