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[Livro] My Last Lie - Capítulo 19: Love the Way You Lie - Part 1

Don't Ruin the Plan.

Provavelmente lutar já nem era tão importante, assim como não importava mais viver ou morrer. Tinha algo estranho em toda aquela situação, que de alguma forma, fazia Effy ver tudo por outra perspectiva. Às vezes a justiça não acontece, mas era óbvio que cada pessoa tinha sua própria definição pra palavra.

De acordo com Lola, justiça é proteger todos que ama sem se importar em prejudicar inocentes com suas atitudes. Para o assassino – que continuava com sua vontade obsessiva de se tornar Charlie Abrams -, justiça era despedaçar todos os envolvidos numa tragédia sem se preocupar se pode existir um inocente no meio de uma história tão mal contada. E para Effy, justiça era apenas evitar que mais sangue fosse derramado. O que infelizmente parecia estar longe de acontecer.

Apesar de tudo isso, e da ciência de que era só uma questão de tempo para que tivesse o mesmo destino das outras amigas, Effy não estava sentindo vontade de continuar naquele chão sujo e esperar sua morte. Estava debilitada por causa do que havia passado, e com uma grande atração pelo momento em que pararia de respirar, mas desistir ainda era uma palavra que não existia em seu dicionário. Nem mesmo nos piores momentos sua consciência lhe permitiu jogar a toalha, e novamente, sentiu-se obrigada a seguir os instintos para que todo aquele sofrimento não tivesse sido em vão.

E não seria, se ela pelo menos conseguisse sair dali. Quando se levantou do chão e limpou o rosto com o braço, fitou o corredor escuro a sua frente por onde tinha chegado. Não podia ir por aquele lado, não quando o assassino estava há poucas salas. Ou já havia ido embora? De qualquer modo, passar pelo lugar onde o vira pela ultima vez nem de longe seria uma opção.

Então, a escolha foi o corredor do outro lado, onde havia mais uma porta pregada com madeiras e uma enorme brecha no canto inferior direito para o outro lado. Foi por ali que ela passou. Com dificuldades pelo tamanho do buraco, mas conseguiu chegar a outra sala sem demora.

Logo depois correu mancando pelo corredor da direita, tomando cuidado para que seu passos não fizessem barulho e nem assustasse os ratos que passeavam por ali. Ela encontrou outro corredor, mais estreito e também, com mais obstáculos. Havia uma série de plásticos pendurados em toras de madeira que dificultavam sua visão, e faziam barulho quando eram tocadas.

Foi no meio do barulho de seus passos que ela ouviu um som ao fundo, que parecia vir do final do corredor. Ela se aproximou devagar para checar, e acabou encontrando uma sala. Parecia um ginásio velho, com arquibancada e redes de futebol completamente destruídas. E isso apenas com a visão limitada que os plásticos e a janela quebrada do local podiam lhe dar.

Mas ali havia muito mais que um cenário devastado de um lugar que costumava ser bom. Era onde o assassino estava, e onde ele estava amolando seu machado para poder usá-lo em sua próxima vítima.

Effy quase gritou quando o viu, mas decidiu se controlar. Se ficasse calada e assistisse tudo, talvez pudesse ganhar algumas respostas. Ou talvez, acabasse vendo o que não queria.

Só quando o assassino se afastou da mesa de ferro que ela pôde ver Penn amarrado perto de um móvel na parede, com uma mordaça na boca e completamente indefeso. Ele tinha um ferimento na cabeça, provavelmente causado numa briga, e duas manchas de sangue enormes nas bainhas da calça. Parecia ter se machucado no pé, Effy não podia ter certeza.

Enquanto o assassino caminhava em sua direção, ele o observava com os olhos cheios de pavor, os mesmos olhos que também imploravam por sua vida. Mas não teve jeito. Ele recebeu uma machadada no ombro, tão forte que o machado perfurou quinze centímetros e quase cortou seu braço fora.

Effy pensou em gritar, e até iria, se seu instinto de sobrevivência não tivesse falado mais alto. Ela colocou a mão na boca para evitar o grito, mas os olhos transbordaram em forma de lágrimas toda a dor e o ódio que estava sentindo. Era o ultimo lugar onde queria estar, e a ultima coisa que desejava ter visto.

Seu medo e sua dor estavam lhe ordenando que saísse correndo imediatamente para se proteger, e por um segundo, esta lhe pareceu ser a única opção. Então, seus olhos captaram algo que lhe deixou petrificada. Era o assassino se abaixando para olhar nos olhos de Penn e tirando sua máscara. Ele estava se revelando, ela mal podia acreditar. Finalmente Charlie ganharia um rosto, finalmente ela olharia nos olhos do desgraçado que matou todos que amava, e finalmente, tudo faria sentido.

Quando a máscara caiu, os olhos de Dawson Wheeler brilharam ao enxergar mais uma de suas obras primas. Ele tinha uma expressão fria e sádica, como se estivesse vendo algo sem importância, mas ainda assim, notável. Era uma mistura de desprezo, alegria, sarcasmo e egocentrismo, nunca visto antes num dos pais de família mais queridos de Ridgefield.

- Ah garoto – Disse ele, seguido de um suspiro – A curiosidade matou o gato, você já deveria saber disso...

- Pai...? – Sussurrou Effy, completamente inaudível até para si mesma.

Não era difícil achar que tudo aquilo era um pesadelo. Não fazia sentido algum, e não faria nem mesmo se estivessem num universo paralelo, ou fosse uma brincadeira de mal gosto. Era seu pai quem estava ali, próximo ao garoto que acabara de matar, fazendo justiça em nome de Charlie Abrams mesmo que tivesse que matar a própria filha.

Mas Effy não teve muito tempo para raciocinar. Logo seus olhos captaram outro acontecimento bombástico. Ela viu alguém entrando pela porta usando a mesma fantasia, e com o corpo de Lola pendurado no ombro.

Dawson se levantou para que pudesse recebê-lo, e o esperou jogar Lola no chão como se fosse um saco de lixo para se pronunciar.

- Ela está morta?

- Não – Respondeu Dean, ao tirar a máscara. Seu cabelo quase loiro estava arrepiado e os rosto machucado – Fiz como combinamos. Daqui a pouco ela acorda.

- E onde está Effy?

- Ela fugiu do cativeiro, mas Lola a trancou aqui. Deve estar perambulando por todo esse lugar.

- Mas que merda! – Exclamou Dawson – Você não deveria ter deixado isso acontecer.

- Bom, eu estava ocupado demais tentando fazer com que a vítima principal não fugisse – Dean se aproximou dele, só para desafiá-lo. Queria provar que não seguia ordens de ninguém e estava fazendo aquilo por conta própria – Você pode me agradecer depois – Ele caminhou até a mesa de ferramentas, onde havia deixado suas luvas.

- Isso não é uma brincadeira – Dawson olhou pra ele, estava de costas, deixando os arranhões em sua fantasia completamente a mostra.

- Esse lugar está todo trancado, eu mesmo fiz isso. Ela não vai a lugar algum – Dean virou-se, agora estava de frente para o cadáver de Penn há quatro metros de distância. Era impossível não ficar feliz ao ver seu grande rival daquele jeito – Então, você já matou o apaixonadinho?

- Sim...

- Legal... – Dean caminhou até Penn e se abaixou só para olhar mais de perto – Pobre idiota, foi se meter onde não devia. Acho que eu teria matado ele mesmo que não tivesse xeretado, de qualquer jeito.

- Não seja infantil – Dawson caminhou até a mesa. Dela, pegou uma faca de açougueiro por onde podia ver seu reflexo – Precisamos matar por um propósito. Você não quer ser comparado a todos aqueles animais na prisão que matam simplesmente por matar. Ou quer?

- Você sabe que não... – Dean se levantou, e no mesmo instante, Dawson começou a andar na sua direção já com um machado nas mãos – Estou em outro nível.

- Então prove – Dawson jogou o machado para ele, e lhe lançou um olhar cheio de desdém. Dean gostava de desafios, e naquele momento, tinha pegado o mais emocionante deles: Caçar a namorada só para vê-la morrendo depois – Faça o que tem que ser feito.

- Entendi – Dean olhou pro machado e o balançou duas vezes nas mãos. Depois, passou correndo pela porta.

Dawson observou sua partida com um olhar cínico no rosto. Como um mestre orgulhoso de seu aluno, e do bom trabalho que ele estava fazendo.

Effy ainda não entendia o que estava acontecendo, mas não ter sido vista ainda estava sendo uma vantagem. Era a chance que tinha de sair dali e acabar de vez com tudo aquilo. Já sabia a identidade dos assassinos, e isso era o bastante para entregá-los a policia e salvar sua vida. Só o que precisava fazer era correr.

Ela escolheu uma direção contrária a que Dean tinha corrido, mesmo sabendo que ficava do outro lado. Passou pelas cortinas de plástico até a brecha por onde havia chegado, mas também a ignorou. Correu pelo próximo corredor, perto das bonecas carbonizadas, e então, tudo aconteceu rápido demais. Ela mal teve tempo para piscar, e quando viu, já tinha sido agarrada por Dean após ele atravessar a parede podre ao seu lado.

Eles caíram na outra sala, ela se debatendo, enquanto Dean tentava conter seu desespero. Ele era indiscutivelmente mais forte, e só precisou agarrar seu cabelo com jeito para arrastá-la. Ele a puxou pelo corredor até onde estavam as cortinas de plástico, rindo dos gritos de pavor que a garota soltava.

- O que é isso? – Gritou Dawson, aproximando-se da porta.

E então ele viu de camarote a entrada triunfal de Dean, arrastando sua filha pelos cabelos até o centro do ginásio.

- Isso, grita vadia! – Dean a jogou no chão – Pode gritar!

- Você ficou maluco? – Dawson empurrou Dean – Você está sem máscara!

- Ela estava vendo a gente! E você foi burro o suficiente pra não perceber!

- Pai, não! Por favor! – Gritou Effy, ainda no chão.

- Cala a boca! – Dawson lhe deu uma bofetada, fazendo-a cair com o rosto no chão e os cabelos todos por cima dele.

Aquilo não podia ter acontecido, não deveria ter sido daquele jeito. O plano estava bem claro na mente de Dawson, e era tão perfeito que vê-lo dando errado era completamente inaceitável.

- Isso está errado! Você sabia qual era o plano!

- Foda-se o seu planinho ridículo! Isso não é minha culpa! Foi a vadia estúpida da sua filha que nos viu!

- Hey! – Dawson pegou no queixo de Dean e apertou com força. Chegou bem perto, o suficiente para que sentissem a respiração um do outro e os olhares de ódio tivessem mais intensidade – Não grite comigo, imbecil! – Dawson o saltou, e por causa da força, Dean quase caiu no chão.

Ele se aproximou da mesa e apoiou-se com os braços. Abaixou a cabeça e deu um grande suspiro, que deixava claro toda a sua frustração. Nunca saberia lidar com a desordem por causa da personalidade perfeccionista, ainda mais com algo que planejou por tanto tempo, e que custou muito caro manter. E tudo só piorava com Effy soluçando no chão atrás dele e impedindo-o de pensar.

- Ok – Disse para si mesmo, assistindo. Logo depois ele olhou para Dean ao lado, o garoto não sabia o que fazer – E o video?

- Acho que ela já viu. Ela estava brigando com Lola lá fora.

Dawson permaneceu quieto, pois queria deixar que as atitudes falassem por ele. Com a faca de açougueiro nas mãos, ele correu até Effy. Colocou a faca gelada em seu pescoço, e lhe fitou com um olhar cheio de ódio.

- Você tem ideia do que acabou de fazer? Você destruiu o plano perfeito, sua vadiazinha estúpida!

- Mate ela agora!

Dawson olhou pra trás, não lembrava de ter deixado Dean se expressar desse jeito na sua frente. Mas o comportamento do seu ajudante era a ultima coisa em que queria pensar.  Porque dessa vez, ele poderia ter razão. Effy era forte, esperta, e já sabia o suficiente para morrer com um nó no coração.

Por outro lado, se soubesse de toda a verdade seria muito pior, mesmo que isso lhe desse tempo para arrumar um plano ou ser resgatada. Dawson pensava em tudo, desde as possibilidades de fuga até a probabilidade de alguém ir salvá-la, e não descartava nenhuma hipótese. Paige ainda estava presa no terceiro andar, Owen estava saindo da cidade com seu caminhão, Lola estava desacordada no chão, e ninguém sabia que eles estavam ali.

- Dean, amarre Lola – Dawson se levantou. Enxugou o suor que escorria pela testa e fitou o horizonte enquanto o parceiro obedecia sua ordem.

Effy apenas observava tudo, tentando não soluçar. Ela viu o momento em que Lola teve as pernas e mãos amarradas e foi colocada ao lado do corpo de Penn, onde também estavam os galões de gasolina. A garota ainda estava desacordada, e com uma enorme cicatriz no rosto devido a pancada na cabeça.

- Tem algo de muito engraçado nisso, sabe filha? – Dawson deu um ar de risos. Depois, virou-se para ela – As coisas não podem ser do jeito que queremos, mas temos sempre a chance de fazê-las melhor. No seu caso, por exemplo. Eu estava pensando em levar você e suas amigas até a sala do video, fazê-las jantar com os corpos de Skye e Matt, revelar nossas identidades e matá-las segundos depois usando todos aqueles galões de gasolina. Mas aqui estamos, prestes a improvisar – Dawson hesitou, apenas para contemplar calado a expressão com que Effy lhe fitava – Eu gosto do seu olhar, sabia? Ele diz que você não entende nada do que está acontecendo, mas já sente ódio por isso. É pela mania de julgar sem conhecer que você está nessa situação.

- Vai pro inferno!

- Eu vou, mas antes... – Dawson deu dois passos a frente, estava tentando ser indiferente – Você não quer saber o que leva um pai de família querido por toda a cidade a estraçalhar meia dúzia de adolescentes? – Ele cruzou os braços e sorriu com malícia – Aposto que você está curiosa.

Effy raciocinou em fração de segundos. Aquilo tudo era um jogo pra ele, ela podia ver que tudo já tinha sido planejado e que sua encenação fazia parte do show. Ele queria vê-la curiosa, queria que implorasse por respostas, só pra depois vê-la se chocar com seus motivos. Afinal, ele também era do tipo teatral. Planejou uma vingança completamente doentia contra todas elas, com sustos e torturas, que tiveram uma organização invejável. Ele não quer apenas matar, ele quer fazer as vítimas sofrerem, e Effy nunca lhe daria esse gostinho.

- Não estou – Respondeu ela – Não faz diferença, um assassino vai ser sempre um assassino.

- Não banque a durona. Você mais do que ninguém quer dar sentido a toda essa esquizofrenia homicida.

- E você quer o título de assassino do ano?

- Essa vadia está brincando com você! – Gritou Dean. Só no que estava pensando era no momento em que finalmente poderia ver a namorada pagar por ter sido tão insuportável a vida inteira.

- Assassino do ano? – Dawson deu um ar de risos – Talvez Pai do Ano. Eu não sei, me diga você. Restou algum filho pra comemorar comigo ou você colocou todos eles na cadeia com as suas mentiras?

- O que? – Effy franziu o cenho.

- Ah, você ficou perdida? – Dawson se afastou, ainda indiferente – Como posso te explicar...? Sabe todas aquelas vezes que dizem não importar um filho ser de sangue ou não? Bom, essa é uma das maiores mentiras que já inventaram. O sangue sempre fala mais alto no final. É como um amor genético, que você não controla, apenas aceita. E do mesmo jeito que ele pode trazer sentido a sua vida, ele também pode tirar. Foi assim que eu me senti quando descobri que o assassino que o país inteiro estava odiando era na verdade meu filho.

- Não... – Sussurrou Effy. Dentre as zilhões de explicações lógicas para tudo isso, aquela era a mais bizarra e a mais chocante de todas, que definitivamente parecia ser apenas fruto de uma imaginação fértil – Você está mentindo! – Gritou ela, com ódio.

- Não seja dramática – Soltou Dean – Você sabe que é verdade e é por isso que você está chorando...

- Não! – Effy socou o chão – Não!

- Você deve me odiar agora, mas tudo bem – Dawson deu de ombros – Eu te odiei minha vida inteira mesmo. Não faz diferença.

- Não, meu Deus... – Effy passou a mão na cabeça. Não estava conseguindo controlar a tremedeira, e nem os batimentos cardíacos acelerados – Não...

- Não fique assim, querida – Dawson se aproximou. Tocou no rosto dela fingindo leveza, e ela deixou, porque realmente não faria diferença – Isso se chama justiça. Afinal, vocês estragaram a vida do meu filho.

- E acobertaram o verdadeiro criminoso – Disse Dean – Como você acha que eu deveria me sentir vendo o verdadeiro culpado pela morte do amor da minha vida sair impune por causa de todas vocês?

Effy olhou para ele, sem entender o que tinha acabado de dizer. Mas não demorou nem dois segundos para juntar todas as peças. Então o namorado que teve um caso com Violet segundo Lola, não era Harry, era Dean. E Violet era a mesma garota que o traiu com o jogador que ele tanto odeia, Ted Schwartz, como Mark dissera quando estavam no baile. Tudo fazia sentido agora.

- Viu? – Dawson sorriu – Vocês merecem tudo o que está acontecendo. Agora, vamos brincar. Dean, acorde Lola.

Sem protestar, Dean lhe obedeceu. Ele chegou perto da garota e lhe deu duas bofetadas para que despertasse. Lola quase pulou com o susto, e percebeu o que estava acontecendo em poucos segundos. Ela estava com as mãos e os pés amarrados, próxima do cadáver de Penn enquanto Dawson e Dean lhe observavam de maneira sádica.

- Hey vadia preguiçosa – Disse Dean – Hora de acordar.

- O que vocês estão fazendo?

- O que parece que estamos fazendo? – Dean se afastou de Lola e ergueu os braços pra cima com um sorriso, no exato momento em que um trovão ecoava – Estamos brincando de justiça! – Ele apontou para ela com o indicador, parecia um perfeito lunático – E você é o nosso peão.

- O que? – Lola lançou um olhar de ódio na direção deles.

- Não se enganem – Dawson tomou a frente – O jogo é só uma desculpa para que a justiça seja feita. Nós matamos pessoas, mas só aquelas que merecem morrer. Como Lola, por exemplo – Ele sorriu em sua direção – Rica, arrogante e superficial, capaz de condenar um inocente pra salvar a pele de um assassino e deixar a melhor amiga pra morrer. Mas não cabe a mim decidir.

- O que vocês vão fazer? – Perguntou Lola, com a voz rouca e desesperada.

- O que nós vamos fazer? Não sabemos, isso depende de Effy – Dawson fez um sinal com a cabeça para Dean, e ele correu imediatamente até onde Lola estava já com o machado nas mãos – O jogo se chama “Mate a Vadia”, e as regras são bem simples – Disse ele a Effy – Apenas com uma ordem minha Dean irá fazê-la pagar por tudo o que fez e você estará vingada. Mas caso seja fraca, quem pagará é você.

- O que? Eu não vou fazer parte desse jogo!

- Você está dizendo que prefere morrer no lugar dela? Pense Effy, não é hora de ser a heroína, é hora de fazer justiça.

- Effy, não escute ele! – Gritou Lola.

- Pense, Effy – Dawson se aproximou dela, ficou perto o suficiente para tocar seu rosto fingindo gentileza. Effy nem se preocupou em se afastar, não iria fazer diferença – Essa é a sua chance. Ela foi a responsável por tudo isso, ela preferiu proteger o irmão e a si mesma do que fazer justiça.

- Effy, não escute ele! – Gritou Lola, chorando – Violet descobriu sobre Matt, ela estava chantageando ele, não tinha outro jeito! Ela era uma vadia sem coração!

- Cala a boca! – Dean lhe acertou uma bofetada.

- Pense Effy – Insistiu Dawson. Ele podia ver a dúvida no olhar da filha, ele estava quase conseguindo fazê-la entrar no jogo – Ela te deixou aqui pra morrer, e faria isso com qualquer um só pra salvar sua pele. Agora você tem a chance de fazer justiça e nem precisa sujar as mãos com isso.

Effy olhou na direção de Lola mais uma vez. Sabia exatamente o que tinha que fazer, mas não poderia aceitar. Será que matar Lola era o único jeito de se salvar ou a ideia de vê-la morrer depois de tudo o que fez lhe daria prazer?

--

Poucas coisas poderiam fazer Paige sair de seu transe sonolento para se importar com a própria vida. Dentre um e outro devaneio pessimista, onde Effy não havia conseguido chegar tão longe, ela ouviu um barulho na parede ao lado, e pulou com o susto. Alguém parecia estar usando um martelo para quebrá-la, e não lhe parecia ser alguém para ajudá-la.

Ela correu até a extremidade da sala e ficou olhando pro lugar de onde achava que vinha o barulho. Percebeu que era um machado, e conseguia ver pelas brechas que se formaram alguém de pele clara. Não estava usando máscara, nem roupa preta, mas ainda poderia ser o assassino.

- Paige? – Chamou Owen, olhando pela brecha – Você está bem? Tem mais alguém aí com você?

- Owen? – Paige deu dois passos à frente.

- Você está bem? Onde está Effy?

Paige hesitou. Não tinha como saber se ele estava dizendo a verdade, ainda não sabia do que estava acontecendo no andar de baixo. Mas ele estava nervoso demais para ser culpado, e o assassino não precisaria quebrar a parede para chegar até ela.

- Paige, onde ela está?

- Eu não sei!

- Merda! – Owen socou a parede – Venha, vou tirar você daqui! – Ele não perdeu tempo, continuou dando machadadas na parede para que quebrasse ainda mais.

Paige se aproximou e ficou observando. Ainda não confiava nele, e tinha medo que essa duvida acabasse lhe matando.

Owen parou na terceira machadada, só pra checar se o espaço formado era o suficiente para Paige passar.

- Você acha que consegue passar?

- Eu não sei... – Paige olhou pra brecha. Conseguiria passar com algum esforço, não era tão pequena.

- Eu te ajudo, me dê sua mão – Owen estendeu a mão, mas Paige continuava indecisa. Era muito arriscado confiar em um dos suspeitos, mas ao mesmo tempo, também era a única chance que ela tinha de sair dali.

Em outra ocasião, ela teria ficado no mesmo lugar e o mandaria ir embora pelo medo de tomar a decisão errada. Mas realmente não tinha escolhas.

Ela tocou na mãos de Owen e caminhou até a brecha. Enquanto saia, Owen forçava o restante da madeira para que se abrisse ainda mais. Ele a segurou do outro lado para que não caísse, e lhe deixou de pé.

- Aqui, pegue isso – Ele lhe deu o machado – Você precisa correr. Tem uma janela no corredor da esquerda, você pode descer pelas árvores.

Paige assentiu, mas não havia entendido o que precisava fazer. Estava tremendo demais, e com o rosto completamente ensopado de suor. Nem sabia como ainda conseguia ficar de pé com todo aquele nervosismo, e com o corte no tornozelo.

- Estou ferida...

- Paige, precisa ser agora! – Owen pegou em seu rosto com as duas mãos. Olhou em seus olhos para tentar fazê-las ficar calma, só assim eles teriam uma chance de sair dali com vida – Effy está em perigo e você precisa chamar a polícia. Você pode fazer isso?

- Ok – Paige assentiu. Não pôde mover muito a cabeça, pois Owen ainda segurava seu rosto com as duas mãos.

- Por favor, corra o mais rápido que puder – Ele tirou uma arma da cintura e a destravou – E não olhe pra trás.

Paige assentiu mais uma vez. Observou ele correndo pelo corredor contrário, com o coração apertado. Ser aquela que vai fugir para pedir ajuda estava fazendo-a se sentir como uma inútil. Effy provavelmente ainda perambulava pelos corredores do The Purple sem rumo, procurando qualquer saída no meio daquele labirinto. E se Paige tinha certeza de alguma coisa, era que Effy nunca desistiria. Não por ela, mas por todos aqueles que morreram, e por todos aqueles que ainda têm a chance de sobreviver. Então, correr não fazia sentido algum.

Ela lembrou do dia em que Charlie as atacou no estábulo, há dois anos. Nenhuma delas estava disposta a ajudar Effy pelo medo que sentiam, e acabaram deixando-a lutar sozinha. Paige foi uma delas. Teve tanto medo que ficou parada perto de sua poça de vômito enquanto via a amiga quase ser assassinada. Nunca tinha pedido desculpas a Effy por aquele dia, e queria poder ter a chance. Só não sabia se valia a pena correr esse risco. Poderia ficar e lutar, ou correr e chamar a polícia. Era difícil escolher em qual das duas opções ela ajudava mais.

--

- O tempo está passando, Effy – Disse Dawson. Ele passou a mão pelo cabelo da filha para fingir carinho, quando só o que queria era que passasse pro seu lado e provasse que era igual a ele.

Effy se virou para encontrar o olhar de Lola. Como gritar já não era mais uma opção, a garota apenas deixava as lágrimas escorreram e sussurrava uma súplica. Era tentador não fazer alguma coisa com um ser tão repugnante, Effy mal conseguia sentir pena mesmo vendo-a naquele estado. Provavelmente era apenas fingimento para sobreviver, ela era vazia por dentro, e não mudaria nada do que fez se tivesse a chance de refazer.

Mas ainda era um ser humano. Dentro dela ainda havia uma alma, que poderia encontrar a redenção se pagasse pelos crimes que cometeu. Effy não tinha coragem de tirar sua vida, mesmo que a sua também estivesse correndo perigo.

- Não me decepcione, Effy – Disse Dawson, Effy olhou para ele novamente – Não me obrigue a matar você no lugar daquele monstro.

Effy o olhou nos olhos, cheia de ódio, rancor, e uma dor que provavelmente nunca teria fim. O pior era vê-lo se vangloriar daquilo, ver aquele seu sorrisinho presunçoso que deixava claro a sua vitória. Ela estava sentindo nojo de um dia ter chamado aquele monstro de pai.

E ele estava querendo que ela também se transformasse num monstro. Decidir se alguém vai viver ou morrer, Effy não poderia fazer isso. Preferiu descontar toda sua frustração cuspindo em seu rosto, sem medo de que sua ousadia poderia lhe custar caro.

- Há! – Dawson sorriu, mas estava bufando de raiva.

- Você vai matar nós duas, de qualquer jeito. Agora acabe logo com isso, seu merda!

Ele se levantou enquanto limpava seu rosto, e caminhou até a mesa de ferramentas com um sorriso no rosto. Effy tinha acabado de lhe decepcionar, mas se pensava que iria ter uma morte rápida, estava muito enganada. Ele tirou seu cinto e decidiu dar mais uma ordem a Dean – Segure-a, não quero que ela se mexa.

Effy, vendo o que estava prestes a acontecer, tentou correr, mas foi agarrada por Dean antes que pudesse sair do lugar. Ele era tão forte que ela mal pôde se mexer, nem mesmo nas pernas que estavam livres.

- Você é fraca, Effy – Disse Dawson ao se aproximar – Por isso foi convencida a mentir no tribunal. Logo você, a mais inteligente de todas, e a que possui um coração.

- Não! O que você vai fazer?

- Vou ser seu pai, pela primeira vez na vida.

- Não! Por favor! – Gritou ela.

Um sorriso vitorioso brotou dos lábios de Dawson, e então, ele a atacou. Acertou o rosto de Effy com o cinto dobrado ao meio, deixando uma enorme marca vermelha do lado direito de sua bochecha. A dor era insuportável, era como ter seu rosto queimando em brasas ou sendo cortado por uma faca. Mal ela sabia que aquilo era apenas o começo.

Dawson continuou lhe acertando enquanto ela soltava gritos histéricos, sempre revazando os locais, e cada vez mais satisfeito.

No meio de tanta dor, só no que Effy conseguia pensar era no momento em que teria a chance de revidar, era a única coisa que ainda a mantinha ali. Ela sabia que era errado, mas se precisasse do ódio e da sede de vingança pra continuar viva, ela iria deixar fluir.

- Você poderia ter salvado Charlie! – Gritou Dawson – Você era a única que não deveria mentir! Você matou meu filho!

A aquela altura, Effy já tinha apanhado o suficiente para que começasse a sangrar. Ela não aguentava mais aquela tortura, e decidiu implorar finalmente por sua vida.

- Não, por favor! – Gritou ela. Podia sentir em seus lábios o gosto do sangue que escorria da testa. E por causa da sua intervenção, Dawson parou – Por favor! Eu também sou sua filha! Por favor...

- Minha filha? – Dawson deu um ar de risos – Você é uma bastarda! Foi fruto de uma traição que durou anos! Não corre nem uma gota de sangue Wheeler nas suas veias!

- Não... – Gemeu Effy.

- Sua mãe era uma vadia! Uma completa vadia, que me enganou durante anos! – Dawson acertou Effy mais uma vez com o cinto – Por isso não pude estar presente, desculpe Effy, mas prefiro morrer a criar a filha de um otário – Dawson se preparou para bater em Effy mais uma vez, mas uma voz masculina ao fundo lhe fez parar.

- Largue a garota – Ordenou Owen, com a arma apontada para ele – Agora.

#SurviveIfYouCan

Comentário(s)
5 Comentário(s)

5 comentários:

  1. Ai meu Deus que droga!!!!!! no melhor da história eu vi o gif e percebi que o desfecho é só na semana que vem...

    Sem palavras pra descrever o que acabei de ler,serio,muitas coisas me passam pela cabeça,a história esta simplesmente demais,suspeitei do Dean quando percebi que ele e Effy não haviam terminado no baile,um final feliz assim antecipado me cheira a desgraça,pois dito e feito,que maior desgraça do que o próprio pai tentar matar a filha daquele jeito? humilha-la? tortura-la,sabe é doentio,revoltante e tudo isso é positivo porque mostra que a historia é envolvente e nos faz ir do chão ao céu com um simples jogo de palavras,explendido,magnifico,essa história na minha opinião foi a melhor que jaa li João Parabéns

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  2. MARAVILHOSO!!,adorei o capitulo e ao contrario do Angel não suspeitava do Dean,ele nem passou pela minha cabeça e muito menos suspeitava do Dawson e o que ele está fazendo com a filha é terrível,acho que o melhor é a Paige correr e chamar a polícia pois se ela ficar e lutar pode morrer e além do mais tem que aproveitar que os assassinos estão entretidos com a Effy,Lola e Owen,super ansiosa para o final.

    PS:Parabéns João,vc é um ótimo escritor continue assim :D!!

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  3. Fiquei irritado porque eu esperei muito ontem e não saiu... mas a raiva passou quando li, sabia que Owen não era, mt obvio, e Dean era o assassino, eu disse no outro comentário, sobre o "pai" da Effy, não fazia nem ideia, muito FODA, você é FODA! Como Angel disse, melhor conto de todos, caralho cadê terça feira que não chega logo.

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  4. Uau perfeito do pai da effy eu nao imaginava agora do dean so um pouco primeiro eu pensei que ele iria morrer mas quuando o outro asassino entrou eu tinha certeza que era ele

    Meu deus a Lola nao faz nada mas eu ainda nao sei se eu quero que ela morra

    Paige viva tomara que continue assim

    vou correndo ler o ultimo capitulo
    - D

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