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[Livro] My Last Lie - Capítulo 17: Kill Your Darlings

Don't Cry For Pain.

- Ai meu Deus, esses saltos estão me matando – Reclamou Lola. Já estava sentindo a dor dos calos e por isso diminuiu o ritmo da caminhada. Effy, bem ao seu lado, parecia tranquila.

Elas estavam na frente do prédio ao lado de onde acontecia o baile de formatura, era uma corte judiciária, com uma bela escadaria e corrimãos que lembravam a arte grega. Era lá que planejavam sentar para conversar, e quem sabe, dar uma chance pra beleza do céu estrelado.

- Sério, nunca dance de saltos – Lola sentou junto de Effy, e hesitou enquanto se equilibrava – Sua sorte é que você só gosta de usar all star.

- Ok, vou anotar isso na minha lista.

Lola deu um grande suspiro e fitou a rua. Ainda via alunos chegando de limusine para o baile, e por um segundo, sentiu inveja deles. Não por causa dos modelitos bregas que por acaso iam contra seu senso de moda, mas porque estavam todos felizes. Até mesmo Natasha Clark, da turma de cálculo, parecia uma princesa e sustentava um sorriso de orelha a orelha. Lola se sentia impotente por não conseguir fazer o mesmo, mas ao mesmo tempo forte, porque continuava ali, mesmo com tudo o que tinha acontecido.

Já Effy, não estava ligando muito pra felicidade alheia. Estava mais preocupada em organizar as palavras na sua cabeça para falar com Dean da maneira correta.

- Então... Quais os seus planos pro futuro? – Perguntou Lola.

- Planos pro futuro? – Effy deu um ar de risos depressivo enquanto observava o horizonte – Bom, acho que não posso me dar a esse luxo.

- Você sempre dá um jeito de fugir das perguntas. Isso quando não as responde com outra pergunta.

- Não fale como se me conhecesse bem.

- Bom, se você prefere que eu ignore doze anos de amizade antes de falar com você, tudo bem.

- Doze anos? – Effy parecia surpresa.

- Sim, você não lembra? Faz doze anos que uma certa garota me viu chorando no corredor da escola porque meus pais tinham brigado e me disse que iria ficar tudo bem. Você deveria lembrar dela, não saia de casa sem seu lençol vermelho na cabeça.

- Ai meu Deus – Effy sorriu, mas estava envergonhada – Eu não acredito que você lembra disso...

- Eu me lembro de tudo. Lembro até que Paige vomitou nele na aula de matemática e você nunca mais o usou.

- Nossa – Effy gargalhou. Estava com as imagens na sua cabeça, tão nítidas que nem pareciam ser de doze anos atrás – Eu lembro, Skye também vomitou com nojo. Ela sempre foi meio sensível...

- Pois é... – Lola fitou o horizonte, estava lembrando de todas as vezes em que humilhara Skye. Se soubesse que a perderia tão cedo, teria lhe dito todos os dias o quanto tinha sido importante na sua vida. Mas pensar no que poderia ter sido não era mesmo seu estilo. Logo ela se animou – Olha só pra gente, duas formandas com vestidos luxuosos sentadas na escadaria de uma corte e falando sobre vômito.

- Como nos velhos tempos – Effy sorriu sem mostrar os dentes, parecia estar tendo novamente uma conexão com Lola, a mesma que perdera há muitos anos. E a mesma que o toque do seu celular a fez perder novamente. Era seu pai, Dawson, iniciando mais uma série de ligações para saber se a filha estava bem.

Effy apenas passou os olhos pelo visor e ignorou.

- Você pode atender, se quiser – Disse Lola, havia achado que Effy ignorara a ligação para não lhe fazer uma desfeita.

- Não, é só meu pai... Tudo bem.

- Humm – Lola assentiu – Acho que este é mais um motivo pra você atender.

- Não é nada de mais, ele só quer saber se estou bem e me dizer o que comeu no jantar. Ou qualquer outra coisa irrelevante pra mim...

- Ok – Lola assentiu – Olha, eu sei que você faz o tipo roqueira solitária e não gosta de falar sobre seus problemas, mas sua péssima relação com seu pai atingiu o limite da minha curiosidade.

- Ok – Effy sorriu – E isso significa que...?

- Significa que só vamos sair daqui quando você me contar essa história direito.

- Você está me sequestrando?

- Não, estou sendo sua amiga – Lola ficou séria, estava falando com o coração – Deixe eu ser, pelo menos dessa vez...

Effy ficou analisando seu olhar, não tinha como tudo aquilo ser fingimento. De uma forma ou de outra, todos aqueles crimes tinham feito Lola mudar, e pela primeira vez, ela parecia se importar com alguém. Era até estranho vê-la daquele jeito, interessada nos problemas das amigas, sendo doce e engraçada, nem parecia a garota que induziu as amigas a condenar um inocente. Se tivesse feito isso conscientemente, talvez nada disso pudesse mudá-la.

- Bom... – Effy virou pra frente, queria fazer parecer com que suas palavras soassem como um “tanto faz” – É a mesma história de sempre. Quando eu era criança Dawson descobriu que minha mãe tinha um caso de anos com o marido de uma das suas amigas e nos abandonou. Ficou anos sem dar notícias, sem fazer uma ligação, sem se importar com sua filha. Foi preciso alguém tentar me assassinar com uma machado pra ele poder lembrar que eu existo, mas já era tarde demais. Não acho que eu posso amá-lo agora... Eu não preciso de um pai, eu só preciso de paz... E isso também não importa muito, talvez seja o menor dos meus problemas...

- Mas machuca você, não é?

Com apenas um olhar a pergunta de Lola havia sido respondida. Effy não teve coragem de dizer em voz alta, pois ainda tinha muitas duvidas. Não sabia se estaria do mesmo jeito se tivesse tido um pai presente ou se Dawson em sua vida era irrelevante de qualquer jeito. Só sabia que de uma forma ou de outra, é sempre bom ter um pai ao seu lado, e foi exatamente o que ela não teve.

- Hey, aí estão vocês – Disse Dean, quebrando completamente o clima. Effy se levantou imediatamente e tentou disfarçar a tensão – Procurei vocês por todos os lugares.

- Eu enviei uma mensagem pra você dizendo que tomaria um ar com Lola aqui fora.

- Sério? Eu não recebi – Dean tirou o celular do bolso do smoke e olhou pro visor, não havia nem sinal da mensagem de Effy – Droga de operadora. Me fez achar que você tinha me abandonado no nosso próprio baile.

- Eu nunca faria isso – Effy o beijou, mas interrompeu assim que percebeu que era uma boa oportunidade para falar com ele – Hey, precisamos conversar.

- Meus amigos estão me esperando lá dentro, precisa ser agora?

- Sim, é importante.

- Ok – Dean assentiu. Depois olhou para Lola por cima do ombro de Effy – James estava procurando você.

- Argh – Lola bufou enquanto se levantava – Aquele idiota. Diga que estou morta, ou eu vou matá-lo.

- Bom, faça o que achar melhor – Dean sorriu. Lola sorriu de volta de um jeito falso, e passou por ele rápida como um raio.

O sorriso de Effy e Dean durou apenas alguns segundos, e depois, eles se fitaram de uma maneira séria.

- Vem comigo – Effy o puxou pelo braço, e eles começaram a caminhar na direção da enorme porta de madeira da corte.

--

- Ah, droga – Resmungou Courtney assim que a musica parou de tocar.

Ela olhou para Penn, ele parecia distante, mas não o suficiente para não reparar na girl band que ainda tocava encima do palco. Assim que elas anunciaram que a próxima musica seria uma balada romântica, Penn olhou para Courtney. Seu sorriso doce e sem graça fazia com que ela pudesse ler sua mente.

- Vamos dançar? – Perguntou ela.

- Não sei dançar musicas lentas...

- Eu posso te ensinar...

- Se você estiver disposta a ser pisoteada...

- Deixa de besteira, vem – Courtney o puxou pra mais perto, e assim como o resto dos casais na pista, começaram a dançar bem devagar, colados um no outro.

Courtney era tão pequena que Penn a cobriu facilmente, era como se ela fosse uma boneca nas mãos de seu mestre. E de um jeito estranho, era desse jeito que ela se sentia. Mal sabia que para ele, era apenas uma dança, e que só no que pensava era o momento em que poderia pedir para Effy ter uma dança com ele.

E então, aconteceu o que ele temia. Sem querer pisou no pé dela, e isso lhe roubou uma risada.

- Desculpa.

- Tudo bem, acontece – Courtney o puxou pra mais perto de si. E então, foi consumida por uma ideia maluca. Não era tão maluca se considerasse o que sente por ele, mas já que provavelmente era a ultima vez que iriam se ver, poderia aproveitar para fazer aquela noite se tornar especial. Afinal, ele estava com ela naquele baile, quando poderia estar com qualquer outra. Isso significava que ela tinha chances – Está cansado de dançar?

- Se eu disser que sim vou estar sendo um idiota? – Penn fez uma careta.

- Claro que não, também não estou muito afim.

- Você quer sentar ou...?

- Na verdade, quero te mostrar uma coisa... Vem comigo?

- Ok – Penn assentiu. Se deixou levar pelo braço, e na pressa, acabaram esbarrando num casal – Me desculpe – Pediu ele, quando o garoto lhe lançou um olhar furioso.

Quanto mais eles iam andando, mais se distanciavam do baile e das pessoas. Passaram pela fileira de professores perto de uma das mesas com ponche, até um corredor onde duas garotas conversavam misteriosamente. Era onde ficava o banheiro, e a escada que levava até a saída de emergência.

Penn não teve escolha, foi levado até o próximo corredor, onde ficava a extremidade do salão e há alguns passos a decoração que formava a recepção do hotel. Courtney o imprensou na parede perto a um vaso de plantas gigantesco e sem seu consentimento, lhe beijou.

A primeira reação de Penn foi manter os olhos abertos e assimilar o que estava acontecendo. Depois, fez de tudo para afastá-la, mas ela sempre vinha querendo mais, como se não estivesse vendo que estava sendo rejeitada.

- Courtney... – Sussurrava ele, entre os beijos – Courtney...

- Não fale nada – Pediu ela, lhe beijando novamente.

- Courtney, para – Ele segurou suas duas mãos e a afastou – O que você está fazendo?

- O que estou fazendo? – Courtney deu um ar de risos – Você me chamou pro baile...

- Porque seria divertido, não porque queria alguma coisa com você...

- E por que você não quer?

- Eu gosto de outra pessoa...

- Outra pessoa... Ou a Effy? – Courtney pareceria furiosa, mas ainda tentava manter a classe.

Penn suspirou, não teve coragem de responder sua pergunta, mas também não queria mentir. Queria simplesmente poder dizer alguma coisa, mas não havia nada que faria Courtney manter a calma e continuar com ele no baile.

- É a porra da suicida, não é? – Courtney o empurrou.

- Courtney, para...

- Quer saber? Que se fôda, vocês se merecem – Courtney saiu correndo pela direção em que viera, ignorando todos os gritos de Penn que lhe pediam para ficar. Estava tão nervosa que acabou deixando o celular cair.

Ela sabia que não deveria se importar com uma coisa dessas quando tinha problemas maiores, mas doía tanto que ela não conseguia se conter. Não podia fingir que não estava mal com tudo aquilo e que odiava Effy mais que tudo. E também não conseguia ver o que ela tinha de tão especial que fazia os homens se interessarem. Talvez fosse bonita, mas ainda era uma suicida infeliz. Suicida que conquistou Harry, o garoto mais legal do colégio. Depois Dean, o garoto mais rico. E agora Penn, o único pra quem ninguém olha e exatamente o mais afetado.

Mas o pior de tudo era saber que ela não tinha culpa. Provavelmente nem sabia sobre os sentimentos de Penn, e se soubesse, a primeira coisa que iria dizer era que ele não tinha chances. Não porque ela tem namorado ou Penn não seja bom o suficiente, mas porque ela sabe do que Courtney sente, e nunca faria uma coisa dessas com uma amiga. Era tão altruísta que culpá-la parecia ser a coisa mais injusta do mundo.

- Courtney! – Penn juntou o celular do chão – Você esqueceu seu... – Ele desistiu de chamá-la assim que ela dobrou o corredor. Deu um leve suspiro de arrependimento, sabia que tinha estragado tudo, apesar de estar ciente que não pôde evitar.

Ele olhou pro celular, havia uma janela de bate papo, Courtney estava online. Era uma mensagem anônima, junto de um anexo.
“Enviar pra policia ou não enviar... Eis a questão” – Charlie.
Penn olhou pra frente só pra ter certeza que ninguém estava vindo. Não tinha entendido muito bem a mensagem, só sabia que naquele anexo poderia haver algo que poderia interessar a polícia. A curiosidade realmente matou o gato ou ele estava seguro?

--

- Então... – Sussurrou Dean, assim que ele e Effy chegaram onde ela queria.

Eles estavam perto de um enorme pilar da cor bege, sendo quase engolidos pela escuridão. Era o lugar perfeito para Effy lhe dizer tudo o que estava em seu coração.

 – Então... – Respondeu ela.

- Você me trouxe aqui pra me estuprar? –Dean sorriu com malícia.

- Dessa vez, não – Effy hesitou. Pensou que teria mais coragem pra dizer tudo, mas simplesmente, havia travado – Precisamos conversar algo sério...

- Ok – Dean assentiu. Tinha entendido o que ela estava querendo dizer e de repente, a graça tinha sumido – Pode falar.

- Ok – Effy suspirou – Não acho que existia uma maneira apropriada de dizer isso, então vou apenas dizer... Deus... – Ela passou a mão pelo cabelo dando um enorme suspiro -  Eu acho que isso não está mais dando certo... E é exatamente por isso que devemos continuar...

- O que? – Dean estava confuso, fez até uma careta – Você está... Tipo...?

- Sei que é difícil de entender, mas, é isso que eu estou sentindo.

- Espera... – Dean deu um ar de risos – Você acha que devemos terminar e por isso quer continuar? É isso ou é algum efeito da pílula do Corbin que eu tomei?

- Acho que nunca fui o tipo de garota que tem uma boa explicação pras coisas, então, não espere isso de mim. Na verdade, eu sempre fui o maior exemplo de garota complicada que essa cidade já teve. Mas dessa vez, tenho certeza do que quero. Eu... Eu já passei por tanta coisa que você nem imagina, coisas que eu achei que iriam me destruir, mas que no fim, me fortaleceram. Deus... – Ela deu um ar de risos – Eu não saberia explicar tudo pra você mesmo que tentasse. Só o que você precisa saber é que não vou cometer o mesmo erro de novo... Eu não vou destruir uma relação por causa de duvidas, receios, brigas... Não posso me dar ao luxo de terminar com você só porque sou complicada. Uma vez eu tive a felicidade ao meu lado e não dei valor, então a vida deu um jeito de me fazer aprender a amar o que tinha, quando eu deveria ter dado valor antes de perder. Se algum dia eu tiver que perder você, vou estar ao seu lado, me esforçando ao máximo para que a gente seja feliz. Ainda não posso dizer que te amo com todas as letras, mas posso prometer que você vai sempre poder contar comigo. E que se você é o único que fica feliz ao me ver e mesmo com suas grosserias e minhas estranhezas ainda está aqui, por que não amar você?

- Ok – Dean suspirou, parecia sério demais. Estava apenas processando todas aquelas palavras e tentando entender o significado de todas essas emoções que estava sentindo – Eu... Deus, acho que essa foi a coisa mais bonita que alguém já me disse... – Os dois sorriram, era impossível não se sentirem como dois idiotas apaixonados.

- Eu nunca fui tão honesta com alguém em toda minha vida...

- Eu sei – Dean fungou, estava prestes a chorar, e isso nunca poderia acontecer. Ele olhou nos olhos da namorada e percebeu que era uma boa oportunidade para lhe dar o que estava querendo – Então – Disse ele, tirando uma caixa vermelha do bolso - Eu estava pensando em dar isso a você apenas no fim da noite, mas... Acho que agora é o momento certo.

Effy colocou as duas mãos na boca e arregalou os olhos. Sabia que não poderia ser um anel de noivado por causa do tamanho da caixa, mas ainda assim significava muito. E era impossível manter a calma quando estava prestes a viver o melhor momento de sua vida.

- Isso era da minha avó – Disse Dean, revelando o que havia dentro da caixa.

Era um colar banhado a ouro com uma pequena esmeralda no centro. Tão bonito que Effy não conseguiu prender as lágrimas. Poderia não ser um anel de noivado, mas significava tudo.

- Ai meu Deus...

- Ela passou pra minha mãe, e ela deu a minha irmã. Mas você conhece Tori, ela odeia tudo o que tem a ver com a nossa família. Então, ela me deu... – Dean olhou pro colar e depois nos olhos de Effy novamente. Tinha certeza que o lugar daquele colar era em seu pescoço – E agora estou dando à você.

- Tem certeza? – Effy fungou.

- Absoluta. – Dean assentiu. Depois, tirou o colar de dentro da caixa e esperou Effy se virar. Não levou nem dois segundos para ele colocar.

- Nossa... – Disse Effy, olhando pro colar em seu peito – Obrigada... – Ela correu até Dean e lhe deu um abraço apertado.

- Eu te amo, mesmo que às vezes não pareça... – Sussurrou ele

- Eu sei... – Effy o apertou, tinha certeza que nunca se sentira tão protegida como se sentia naquele momento.

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Courtney passou correndo pelo salão, tão furiosa que nem se preocupava com as pessoas em que esbarrava. Só queria sair dali o mais rápido possível antes que alguém lhe visse. Mas já era tarde demais. Sua correria acabou chamando a atenção de Lola, que levantou da mesa rapidamente para saber o que estava acontecendo.

- Courtney! – Lola segurou em seu braço – O que aconteceu?

- Está tudo uma droga, vou embora! – Courtney voltou a correr.

- Hey , espera!

- Courtney? – Perguntou Effy, tinha acabado de passar pela entrada – O que aconteceu?

- Eu só quero ir pra casa, tudo bem? – Courtney se segurou. Queria confrontar Effy, mas preferiu evitar um vexame.

- Ok, eu te levo.

- Não, não você – Courtney olhou para Lola – Você veio de carro, não veio?

- É, mas não posso sair. Estamos no meio do baile.

- Deus! – Gritou Courtney – Apenas me dê as malditas chaves!

- Courtney – Effy tocou em seu braço – Você não pode dirigir nesse estado. E não podemos andar sozinhas.

- Não me diga o que fazer!

- Que escândalo é esse? – Exclamou Lola, estava começando a ficar revoltada com aquela situação sem cabimento.

- Lola, apenas me dê as chaves – Courtney estendeu as mãos.

- Se isso vai te fazer parar de gritar e explicar o que está acontecendo, toma – Lola tirou as chaves de dentro da bolsa e lhe deu.

- Sai da frente! – Courtney passou por Effy, fazendo questão de empurrá-la.

- Lola, você não deveria ter dado as chaves pra ela! – Exclamou Effy.

- Foi ela quem pediu. Se ela quer ir embora, tudo bem.

- Ela está nervosa. E não podemos ficar sozinhas! Droga! – Effy deu meia volta e correu na direção da entrada.

Lola ficou observando a porta, ainda não tinha entendido o que estava acontecendo. Há um minuto Courtney estava bem, dançando com o garoto que gosta, mas de repente começou a fazer um escândalo e a tratar Effy com hostilidade. Poderia até ter sido obra do perseguidor que insiste em se identificar como Charlie, mas se fosse, ela contaria pras amigas.

- Hey Lola – Disse James, seu acompanhante. Estava com dois copos de ponche nas mãos e um sorriso esquizofrênico de orelha a orelha. Lola olhou pra ele com desprezo, era retardado demais para ser levado a sério, porém rico o suficiente para ser seu  acompanhante – Trouxe ponche, você quer?

- Não gosto de ponche – Respondeu Lola, curta e grossa. Depois voltou a olhar pra entrada, esperava que uma das amigas talvez entrasse por lá novamente.

- Quer que eu vá comprar refrigerante?

Lola revirou os olhos, realmente aquilo não valia a pena.

- Vá pro inferno, isso sim – Ela caminhou na direção da porta como uma verdadeira modelo, deixando o garoto sozinho para enfrentar pela primeira vez um amor não correspondido. E Lola estava bem longe de se importar com isso.

Ao chegar ao lado de fora, ela olhou pros dois lados. Estava tentando encontrar Effy e Courtney no meio da multidão, mas elas já estavam longe.

Effy seguiu Courtney até o estacionamento onde estava o carro de Lola, e por sorte, não era tarde demais. Ela conseguiu entrar no carro antes que Courtney desse a partida, mas desde já, sentia que não era bem vinda.

- Court, o que está acontecendo?

- Não é da sua conta – Courtney limpou uma lágrima - Agora, por favor, saia do carro.

- Não até você me contar o que está acontecendo.

- Droga Effy! Eu só quero ir pra casa!

- Ok, então me leve com você – Effy se virou para colocar os cintos, fazendo Courtney dar um ar de risos irônico.

- É sempre assim né, você querendo ser a heroína, a certinha, só pra no final ficar com todo o crédito. É bem típico de você mesmo – Courtney fungou, mal conseguia disfarçar a inveja.

- Não sei o que está acontecendo ou qual seu problema comigo, mas você não vai sair daqui sozinha.

- Você quer parar com... – Antes que Courtney pudesse terminar, Effy gritou por cima.

- Eu quero que você fique viva! Ok? Ninguém mais vai morrer! Não importa o quão chateada você está, eu vou com você.

Naquele momento, a única coisa pior que ter que enfrentar uma viagem ao lado da rival era admitir que ela estava certa. Seu coração partido poderia doer, mas era um simples problema perto de ser assassinada. Então, ela não tinha escolha.

Mas se Courtney precisava dar o braço a torcer, ainda precisava manter a expressão dura para evitar qualquer tipo de aproximação. Por isso, girou as chaves com força e pisou no acelerador. Mal sabia que das sombras formadas ao lado do prédio, um carro surgiu, e estava indo na direção das duas.

- Devagar – Pediu Effy, assim que Courtney ultrapassou o primeiro carro. Ela queria poder dizer alguma coisa, e talvez diria, se não tivesse certeza que logo em seguida seria atacada.

Afinal, Courtney era daquele jeito. Sempre demonstrando rebeldia, como ultrapassar o carro verde na pista, porém, nunca passando dos limites, como não ter se atrevido a ir pela contra mão pra passar o carro lento da frente. A única duvida era: O que tinha acontecido pra fazê-la desistir de seu baile de formatura e encarar a estrada sozinha?

Com o passar dos minutos, Courtney pareceu ter se acalmado. Ainda estava com raiva, mas ao mesmo tempo, cansada demais para investir nisso. Já estava com o rosto limpo, sem vestígios de choro, e isso deu espaço para que o olhar triste ficasse mais visível.

Quando deu o sinal vermelho, ela parou o carro, e todo aquele silencio ficou ainda mais constrangedor. Nenhuma delas sabia pra onde olhar, ou se deviam falar. Courtney já estava arrependida do escândalo que fez, mas pedir desculpas a Effy significaria explicar tudo o que tinha acontecido. E explicar tudo seria reviver todo aquele momento.

- Quer ouvir rádio? – Perguntou ela, mas não esperou Effy responder para ligá-lo.

- Tanto faz... – Effy recostou a cabeça no banco e fitou a janela.

Courtney continuou mexendo nos botões, não estava encontrando uma rádio de seu gosto. Até resmungou um palavrão quando derrubou os papéis que estavam encima do rádio, parecia que nada estava dando certo e que até as pequenas desgraças iriam importar.

Sem que elas percebessem, o carro que as seguia, lá atrás, estava se preparando para atacar. O motor estava roncando e os pneus, prontos pra qualquer adrenalina.

Foi pelo retrovisor do carro que Effy notou a fumaça que o veículo de trás estava fazendo. Primeiro achou que estava vendo coisas, mas depois, teve certeza que algo iria acontecer.

Então, o carro deu a partida.

- Ai meu Deus! – Gritou ela, segundos antes do outro carro batê-las.

Ele andou um metro pra frente, e mais meio metro com a próxima batida.

- O que é isso? – Perguntou Courtney, aos gritos.

- É ele, vai!

Courtney pisou no acelerador tão forte que os pneus fizeram barulho. O carro do assassino as seguiu, numa velocidade que elas nãos e atreveriam a correr.

- Ele está acelerando – Disse Effy, olhando pra trás – Ele ta chegando perto!

E então, elas sofreram outra batida. A aquela altura Courtney já tinha certeza que ele não estava de brincadeira. Não queria assustá-las, como fizera com as minhocas, ou o caixão, ou o freezer cheio de animais em decomposição. Ele estava ali para matá-las, e pra isso estava disposto a causar um acidente.

Pensar nessa hipótese só deixou as garotas ainda mais nervosas. Elas mal conseguiam ouvir os próprios pensamentos por causa dos gritos, e Courtney já estava prestes a perder o controle.

- Ai meu Deus, ele vai matar a gente! – Gritou ela.

- Não! Corre mais rápido!

A próxima batida aconteceu perto da encruzilhada, quando finalmente na rua deserta um carro atravessou na horizontal.

- Courtney, cuidado! – Gritou Effy. Percebeu que aconteceria um acidente, então, se jogou no volante e o girou o mais rápido que pôde.

Por sorte, o motorista do outro carro percebeu que haveria uma batida e virou pro outro lado. O carro das garotas acertou apenas seu retrovisor, e continuou na estrada do outro lado.

Effy já de volta ao seu lugar, mas aquilo ainda não tinha terminado. Ele não iria desistir, queria causar um acidente e matá-las ali mesmo, naquela estrada.

- Ai meu Deus... Ele ta vindo... – Disse Effy, com a voz falhando por causa da respiração ofegante.

- O que eu faço?

- Continue dirigindo! Precisamos de ajuda! – Effy olhou novamente pra trás, no exato momento em que aconteceu outra batida.

- Effy, não vou conseguir!

- Continue dirigindo! – No momento em que Effy voltou a olhar pra frente, viu que um caminhão estava vindo em sua direção – Courtney, cuidado!

E então, tudo aconteceu muito rápido. Courtney desviou as pressas do caminhão, porém, acabou indo na direção das plantas em caixas de concreto grudados na calçada. Apenas uma roda passou por cima delas, mas foi o suficiente para que o carro capotasse uma vez antes de parar no meio da estrada, de cabeça pra baixo.

Inconscientes, nenhuma delas podia fazer nada. Courtney havia parado com metade do corpo pra fora do carro, com o lado direito do rosto exatamente no local onde mais havia cacos de vidro. Já Effy, estava de cabeça pra baixo no seu lugar graças ao cinto de segurança. Seus braços estavam jogados na lataria do carro, entrando em contanto também com cacos de vidro.

Ela foi a primeira das duas a acordar. Seu ferimento na testa a fez ficar tonta, ela sentia dor apenas abrindo os olhos. Pelo menos sabia exatamente o que tinha acontecido, e que como em todos os outros acidentes, tinha pouco tempo para sair antes que tudo explodisse.

Ela começou a pegar em tudo, olhar pra tudo, mas era muito difícil de cabeça pra baixo. Do lado esquerdo ela viu Courtney com metade do corpo pra fora deitada de bruços. E por ter visto manchas de sangue em seu vestido, achou que o pior tinha acontecido.

- Court... – Sussurrou ela, tentando puxar o vestido da amiga – Courtney... Courtney, por favor! – Ela implorou, chorando. As lágrimas escorriam de seus olhos e se misturavam com o sangue que havia em sua testa – Courtney! Por favor! Não morra!

Lá na frente, Courtney ouviu seus gritos, e finalmente reagiu. Sentia que o lado direito de seu rosto estava queimado, e por causa da dor, sabia que sua perna estava quebrada.

- Effy... – Sussurrou ela.

- Courtney! – Effy quase sorriu – Ai meu Deus! Courtney!

- Não consigo mexer minhas pernas... – Courtney pegou um punhado de cacos de vidro na mão. Estava sentindo tanta dor que precisava apertar qualquer coisa com todas as suas forças – Não consigo...

- Courtney, por favor, faça um esforço... – Quando Effy parou de falar, ouviu um barulho de carro. Tentou olhar pra trás, e apesar de não ter visto nada, sabia de quem era – Courtney... Courtney corre! Corre! – Gritou ela, o mais alto que pôde.

O assassino saiu do carro junto de seu machado, e assim que bateu a porta, os gritos de Effy se intensificaram. Ele caminhou na direção do carro, fazendo questão de chutar os cacos de vidro para que Effy e Courtney ouvissem o barulho. Mas Courtney não estava entendendo nada, não conseguia levantar a cabeça, ou olhar pro lado. Só soube que ele estava andando em sua direção quando ele chegou perto o suficiente para que ela visse suas botas.

- Não, por favor! – Gritou Effy, agora podia vê-lo – Por favor! Não! Por favor! Por favor! Deixa ela em paz!

Effy não podia ver seu rosto por causa da máscara, mas podia ver seu olho. E apenas por ele tinha certeza que por trás daquela máscara, ele estava rindo. Era tão frio que parecia um demônio, encarando Effy pela brecha que se formara no carro só para que ela tivesse certeza que iriam morrer.

E com o mesmo olhar frio ele acertou uma machadada nos dedos de Courtney, que estavam estirados no chão. Ela entrou em choque imediatamente, e logo os quatro dedos de sua outra mão também foram decepados. Ela estava morrendo aos poucos, não tinha mais que um minuto. Mas mesmo assim, ainda recebeu uma machadada na cabeça. Tudo isso enquanto Effy explodia a garganta de tanto gritar.

Quando percebeu que o assassino estava vindo em sua direção, ela ficou quieta e tratou de tirar seu cinto para que pudesse se salvar. Ela caiu na lataria do carro em posição fetal, mas com astúcia, conseguiu se virar.

Não teve tempo de correr até a parte traseira do carro, o assassino puxou seu pé pela janela e com uma força bruta, a arrastou pra fora do carro.  Effy teve a perna rasgada pela lataria do carro e ferimentos leves por causa dos cacos de vidro. E mesmo sentindo muita dor, continuou lutando, e lutaria até seu ultimo suspiro.

De tanto persistir, ela acabou se soltando. Se levantou com rapidez, mas foi puxada pelo cabelo e jogada de cabeça na lataria do carro antes que pudesse correr. Ela ficou inconsciente subitamente com o baque e caiu no meio dos destroços no chão, com o cabelo por cima do rosto.

Apesar de todo o esforço feito para que ela encontrasse seu fim, Effy não morria ali. Outros planos estavam sendo guardados para ela. Planos que serviam como uma ironia para alguém que era uma perfeita incendiária.

--

Mais uma vez na caixa postal. Se Lola ouvisse novamente o recado da secretária eletrônica de Effy, atiraria o celular no meio da pista. Estava achando a amiga negligente demais pra alguém que sugeriu um celular sempre ligado para cada uma delas em caso de emergência.

- Vamos Effy... – Torceu Lola, batendo o pé no chão. Também estava prestando atenção nos carros que passavam, pois achava que Effy poderia voltar a qualquer momento.

- Oi, aqui é a Effy. Você sabe o que fazer – Disse a secretária eletrônica, seguido de um bipe.

- Effy, me liga. Tome cuidado com meu carro, e volte logo. Estou preocupada. – Lola desligou.

Quais eram mesmo as chances de Effy ouvir a mensagem? Claro, nenhuma. Do hotel pra casa de Courtney são só quinze minutos de viagem, e já fazia quase uma hora desde sua partida. Só poderia ter acontecido alguma coisa, mas Lola fazia questão de ser positiva.

- Onde vocês foram se meter? – Sussurrou ela para si mesma, cruzando os braços. Foi aí que seu celular apitou.

Era mais uma mensagem anônima, pra variar. Mas dessa vez, junto de um anexo.
"Vamos brincar? Atenda minha ligação e eu não envio a foto pra polícia.” - Charlie
Lola imediatamente ficou em choque, e não hesitou ao clicar no anexo. Era uma foto dela e das outras no momento em que estavam enterrando suas amigas. Foi tão chocante ver aquela foto que por um segundo, Lola sentiu como se estivesse sem chão. Se alguém visse aquela foto iria poderia ter uma ideia errado do que realmente aconteceu, e era dessa maneira que o anônimo pretendia usá-la.

Quando o celular começou a tocar, Lola tomou um susto. Olhou pro visor, era uma chamada restrita. Apesar de estar sendo instigada pela ideia de que poderia ouvir a voz do assassino e reconhecê-la, ela hesitou quanto a atender a ligação. Deixou uma lágrima escorrer pelo rosto que ainda tentava manter uma expressão forte, até que finalmente, cedeu.

- Alô?

- Estou vendo você – Disse uma voz rouca, provavelmente modificada no computador.

Lola olhou para todos os lados, não viu ninguém usando o celular ou escondido em algum lugar. Mas havia alguém lhe observando, e aproveitava a escuridão do outro lado da rua para se camuflar.

- Você está linda com o vestido que te dei, parece que entendeu muito bem que precisava usá-lo e vir ao baile.

- O que você quer?

- Quero brincar com você.

- Foda-se você e seus joguinhos doentios, não vou participar de nada!

- A escolha é sua. É seu grande segredo que está em jogo.

- Apenas me deixe em paz... – Lola olhou ao redor, ainda não tinha visto ninguém suspeito.

- Eu irei, mas antes tenho um desafio. Há um notebook escondido dentro do corpo de uma das suas amigas. Ele está programado para enviar um email à polícia dentro de meia hora com as fotos que tirei de vocês. Se você conseguir encontrá-lo antes do timing zerar, você ganha. Mas se não conseguir, eu ganho, e você vai apodrecer na cadeia. Não só por fraudar junto de seu pai, como pelo seu outro crime. Aquele que ninguém sabe, e que faria todas as suas amigas desejarem a sua morte.

- O que? – Lola fitou o nada, com a expressão de choque. Ela sentiu o corpo inteiro tremer, e o coração, prestes a explodir – Não! É um blefe!

- Tic Tac - E a chamada foi encerrada.

Lola abaixou o celular bem devagar enquanto tentava repassar as ideias em sua cabeça. Não era um blefe, ele sabia de tudo, e em meia hora estaria tudo acabado. Se não corresse, teria um destino pior que a morte. Mas ela sabia que era exatamente o que merecia.

#ThePurpleKilling

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5 comentários:

  1. Sem palavras, triste pela Courtney... esperando pelo próximo capítulo e tomara que mais nenhuma morra. :(

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  2. O M G!!!!!!!!! sem palavras para definir o que eu li,Courtney morreu e que morte mais terrivel a dela,meu Deus. Effy foi levada com o assassino,Page também,só espero que nenhuma das tres morra agora,que corpo será que tem o notebook? e que crime Lola cometeu além de ser uma fraudaria? estou esperando o proximo capitulo roendo as unhas de nervoso

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  3. Esse cara é muito cruel coitada da Court não merecia morrer desse jeito horrível,espero que as outras sobrevivam até o final e curiosíssima para saber quem ele é,esperando ansiosa o próximo cap.

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  4. coitada da curt no comeco eu nao gostava dela mas depois eu me simpatizei pela personagem, mas melhor ela doque minha personagem favorita paige, tomara que ela nao morra esperando pelo prodimo capitulo que para minha tristeza e o ultimo

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  5. Anônimo, não é o ultimo. A história terá 20 Capítulos ao todo =D

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