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[Livro] My Last Lie - Capítulo 16: Wonderland

Don't Believe in Fairy Tales.

Tinha uma razão para que todos os estabelecimentos estivessem fechados. O baile de formatura aconteceria naquela noite, e como qualquer outra ocasião, era tratado como prioridade pelos moradores de Ridgefield.

Nada deixaria uma garota tão feliz como ganhar a preciosa coroa de rainha, ou fazer uma entrada triunfal ao lado do amor de sua vida, ou até mesmo criar inveja pras amigas usando um dos vestidos mais caros que o dinheiro podia comprar. E quanto aos garotos, só precisavam estar acompanhados pelas mulheres mais lindas da cidade para que a festa que encerrava sua vida escolar se tornasse lendária.

Mas enquanto uns encaravam este rito de passagem de forma positiva, Effy preferia ver como uma maldição. A ausência de um sorriso em seu rosto deixava claro sua insatisfação, e estava tudo bem, pois de acordo com seu reflexo no enorme espelho do quarto de sua mãe, os olhos ainda podiam disfarçar o medo.

Atrás dela estava Mary Beth, dando os toques finais em seu penteado super trabalhado para que a filha conseguisse pela primeira vez o que ela tinha conseguido por dois anos consecutivos. Se Effy voltasse pra casa com a coroa de Rainha, seria tratada como tal pelo simples fato de ter continuado o legado de gerações. Mas que tipo de Rainha usava maquiagem preta e pintava as unhas de roxo? Se não tivesse certeza que seu novo eu atrapalharia tudo, Effy teria deixado a si mesma ter esperanças.

- Tem certeza que não quer trocar de vestido? – Perguntou Mary Beth, com a voz arrastada por estar segurando dois grampos com a boca.

- Tenho, eu gostei desse – Effy suspirou. Olhou pra si mesma pelo espelho dos pés a cabeça. Até que o chantagista tinha bom gosto para vestidos e sabia exatamente seu estilo, mesmo que usá-lo parecesse levar consigo uma parte do horror até pra onde deveria haver apenas alegria.

- Preto é uma cor forte demais, você deveria usar algo mais alegre – Mary Beth colocou a cabeça no ombro da filha e olhou para o espelho. Não conseguia não sorrir ao olhar para Effy – Sua sorte é que você é linda de qualquer jeito.

- Obrigada...

- Que horas Dean chega? – Mary Beth se afastou. Começou a juntar seus objetos de costura que jogara na cama para consertar pequenas falhas no vestido da filha.

- Às sete.

- Bom... – Mary Beth olhou em seu relógio – Então já deve estar chegando. Ele vai cair duro no chão quando olhar pra você...

Effy observou a mãe por alguns segundos, e depois, voltou a olhar pra si mesma no espelho. Estava pensando em Dean. Era ele quem a pegaria de Limusine, e a traria pra casa assim que visse pela ultima vez todos os seus amigos.

Mas no fim, não deveria ser ele. Nos poucos momentos em que pensara no futuro e imaginava seu baile de formatura, era sempre Harry quem estava ao seu lado, num ambiente que mais parecia ser um casamento.  Se o impossível acontecesse, talvez faria mais sentido para ela repassar todos os seus sonhos que não puderam se tornar realidade.

Ela olhou pra penteadeira ao lado por reflexo, havia uma foto virada pra baixo com os dizeres “Maio de 1991”. Acionada pela curiosidade, ela a pegou, e não demorou nem cinco segundos para saber quem era o casal abraçado com roupa de formatura.

- O que é isso? – Perguntou ela, virando a foto pra mãe.

- Ah... – Mary Beth sorriu, aproximando-se. Parecia envergonhada, mas não o suficiente para se importar – Somos eu e seu pai na nossa formatura. Acho que foi uns três anos antes de você nascer... – Ela pegou na foto junto com a filha.

- Ai meu Deus... – Effy sorriu – Seu cabelo... – Ela olhou com mais atenção pra foto, ver os pais com sua idade e sendo definitivamente mais estranhos e caretas que ela não tinha preço. E de algum jeito bem estranho, também era emocionante.

- Eu sei, meu cabelo... Anos oitenta, as pessoas achavam legal ser estranhas.

- Olha pro Dawson todo bonitão...

- É, ele era – Mary Beth suspirou – Lembro que uma vez Elisa Banks me jogou dentro de uma piscina por causa dele. Era um partidor de corações profissional...

- Nossa – Effy deu um ar de risos – Parece que faz um milhão de anos...

- É... – Mary Beth pegou a foto, ainda estava triste e pensativa por causa das lembranças – Eram bons tempos...

Effy observou enquanto a mãe caminhava até a cama e guardava de novo a foto dentro de sua caixa. Estava cabisbaixa demais, como se há poucos segundos não estivesse quase pulando de alegria por causa do baile de formatura da filha. Ao que tudo indicava, terminar mal com Dawson ainda mexia muito com ela. E ver uma foto com ele era torturante, do mesmo jeito que era uma boa lembrança.

- Vocês parecem felizes...

- Nós éramos... Mas é passado. O que importa é ser feliz agora... – Mary Beth levou a foto junto de sua caixa até seu armário.

Effy abaixou a cabeça. Queria fazer algumas perguntas, mas não sabia se podia. Não por achar que a mãe não as responderia, mas porque tinha medo de ficar próxima o suficiente para se decepcionar. Será mesmo que não podia, ou isso realmente importava quando estava tendo que lidar com a morte de pessoas próximas?

- Posso fazer uma pergunta?

- Claro que pode, querida.

- Ok... – Effy sentou-se na cama, colocando o cabelo atrás da orelha. Demorou alguns segundos pra falar, e isso fez Mary Beth esperar ansiosa por algo na sua frente – Se eu dissesse que estou prestes a ir ao baile com a pessoa errada, você acreditara?

- Honestamente... Sim – Mary Beth assentiu devagar. Depois, sentou-se ao lado da filha e tocou na sua perna – Dean é um rapaz bonito e um ótimo partido, mas todo mundo sabe que não é por causa disso que se ama alguém...

- Ou eu não estou dando valor ao que tenho...

- Claro que está. E é exatamente por isso que você vai ao baile com ele. Pode não ser o certo pra você, mas por enquanto, é tudo o que você tem, e desistir disso não é uma opção.

- Eu tive o certo, e estraguei tudo... Agora é tarde demais, como sempre...

- Querida – Mary Beth pegou nos ombros da filha, parecia ter palavras cheias de entusiasmo na ponta da língua – Nunca é tarde demais.

- Por que você não fala isso pro Dawson, então? – Effy olhou pra mãe, e percebeu o momento em que ela ficara desconcertada com a pergunta.

- Bom, porque são coisas totalmente diferentes. Eu cometi muito erros no passado...

- Você quis dizer que traiu ele por anos com o marido da sua amiga e depois deixou ele se envolveu com uma viajante misteriosa do circo...

- Ok, não precisamos ser tão específicas... – Mary Beth quase sorriu.

- Desculpa... – Effy passou a mão na perna da mãe com um sorriso no rosto. Era engraçado o jeito como não levava nada a sério quando estava calma.

- O que estou querendo dizer é que você não pode voltar ao passado, mas já que você o conhece, pode fazer seu futuro ser diferente. Eu sei como você gosta de ser teatral, então por que não aproveita o dia do baile pra tomar uma decisão e dar sentido a toda essa história de “rito de passagem”?

- Essa é sua maneira inteligente de dizer que devo me separar do meu namorado?

- Essa é a minha maneira inteligente de dizer siga seu coração.

Effy demorou um tempo para raciocinar, estava sem palavras por causa da conversa que acabara de ter com a mãe. Nem lembrava a ultima vez em que elas se deram tão bem, só poderia estar muito feliz para finalmente ter falado algo inteligente sem colocar sua religião em primeiro lugar.

- Obrigada... – Murmurou Effy – De verdade...

- Effy! – Gritou Edward. Ele entrou no quarto correndo e pulou no colo da irmã, por pouco não machucou ela e a si mesmo – Seu namorado chegou! Ele tem um carrão! Vem comigo! Anda! – Edward a puxou pelo braço, então, realmente não tinha escolhas. Ela sorriu pra mãe antes de se deixar levar.

Levou vinte minutos para que Mary Beth finalmente deixasse a filha ir. Entre uma foto e outra – e a emoção de ver Effy na maior idade – a sessão de fotos acabou sendo prolongada. Effy já nem sabia mais qual pose fazer, e Dean, reclamava baixinho perto da namorada o papel que sua sogra estava lhe fazendo passar.

Por fim, Effy e Dean partiram na limusine. Pela janela ela podia ver a mãe ainda parada na calçada observando sua partida, com lágrimas nos olhos. Uma grande pena que o dia não podia melhorar, pois Effy achava que nem mesmo com Paige boicotando o baile tinha alguma chance de ganhar a coroa de Rainha.

- Bom, ela começou a chorar... – Disse Effy, ajeitando-se no banco do carro.

- Minha mãe nem sabe que minha formatura é hoje, acho que isso é um bom sinal.

- É... – Effy deu um ar de risos depressivo – Acho que sim...

Dean ficou olhando para ela, não fazia ideia de que estava linda e por causa disso, acabava ficando ainda mais linda. Parecia até fazer de propósito só para que seu namorado se sentisse cada vez mais sortudo por lhe ter ao seu lado.

- Hey – Ele entrelaçou sua mão na dela, fazendo-a olhar para ele – Sei que não costumo falar isso com frequência, mas estou feliz por você estar aqui comigo...

- Eu também... – Effy assentiu, mas suas duvidas não lhe deixaram expressar qualquer emoção.

E então, ela foi surpreendida com um beijo, mas não era igual aos que ele costumava lhe dar. Ao invés da selvageria, havia delicadeza, cortesia, como se estivesse beijando uma princesa e não a namorada troféu como muitos diziam.

Effy poderia estar cheia de duvidas, mas precisou admitir pra si mesma que havia gostado. Ela conseguiu sentir uma pequena alegria no coração, a primeira em meses desde quando fora obrigada a lidar com tanto desespero e catástrofe. Uma demonstração tão pura de afeto seria sempre bem vinda, se ela não soubesse que era apenas uma em um milhão.

Depois do beijo, eles se afastaram devagar, e sorriam um pro outro ainda bem próximos. Effy virou pra janela enquanto Dean voltava ao seu lugar, e por sorte, ele não podia ver sua expressão. Ela estava cheia de duvidas, cheia de angustia e cheia de culpa. Mas em compensação, as coisas já estavam começando a ficar claras.
 --

Penn estacionou seu Jeep em frente à casa de Courtney assim que chegou. Não resistiu e se olhou no retrovisor, tudo parecia em ordem. O cabelo arrepiado continuava perfeito, a barba que fizera há poucos minutos não tinha falhas, e por mais que fosse difícil acreditar, o paletó de seu pai havia servido perfeitamente. A única coisa que parecia estar errada era a sua acompanhante, mas isso não iria mais questionar.

Sem hesitar, ele saiu do Jeep e caminhou por entre o jardim dos Hobbs até a porta da frente. Apertou a campainha duas vezes, e enquanto esperava ser atendido, aproveitou para ajeitar o paletó. Pelo demora, pensou que alguém poderia não ter ouvido, então decidiu apertar de novo. Foi aí que começou a ouvir gritos vindos de dentro da casa, parecia que duas pessoas estavam discutindo em espanhol. Penn sabia que isso sempre acontecia na casa de Courtney, mas nem por isso deixou de ficar com medo.

- Cala-te! – Gritou Courtney assim que abriu a porta – Es una loca!

- Hija de La puta! – Gritou sua mãe de volta, mas logo o som foi abafado quando a porta foi fechada.

Courtney olhou para Penn, envergonhada, ainda não entendia porque todos que iam a sua casa precisavam ver de camarote aquele show.

- Oi... – Sussurrou ela.

- Você está bem...?

- Sim – Courtney passou a mão pelo cabelo – Então, vamos?

- Ok – Penn assentiu.

Ele deixou Courtney ir na frente, mas quando chegaram ao Jeep, passou por ela pra poder abrir a porta. Ela apenas agradeceu com um sorriso e entrou. Colocou o cinto de segurança e esperou Penn dar a volta para entrar.

- Sei que não é uma limusine... – Disse ele – Mas acho que o melhor não está aqui dentro, então...

- Não, tudo bem, eu adorei seu Jeep. É bastante original.

- Obrigado – Penn girou as chaves para ligar o motor, mas antes de partir, olhou pra ela de novo. Courtney estava usando um vestido azul claro e um cinto preto na cintura. No rosto, ela havia jogado uma maquiagem leve para não parecer exagerada, junto de um batom para que seus lábios fossem realçados – Você está linda.

- Obrigada – Ela sorriu, sem graça.

Penn sorriu de volta, esperando que aquele elogio não fosse entendido de outra maneira. Ele pisou no acelerador, e finalmente, Courtney estava longe de casa.

Os dois permaneceram quietos durante os primeiros minutos da viagem, e o único som que ouviam era o dos motores do Jeep. Courtney até pensou em tomar a liberdade e ligar o rádio, mas não conhecia o estilo de musica de seu parceiro, e não queria lhe obrigar a ouvir nada cantado por uma adolescente famosa só porque ela gostava.

Desse jeito, Courtney achava que o melhor a se fazer era ficar quieta e guardar toda e qualquer conversa já planejada na cabeça pra hora do baile. Foi enquanto pensava nisso que ouviu o celular tocar. Tirou ele da bolsa rapidamente, e não demorou nem dois segundos para olhar no visor e saber quem era.

- Oi Paige – Disse ela ao atender – Algum problema?

- Não – Respondeu a garota.

Paige estava andando no corredor do hospital, esperando que seu pai terminasse de ser medicado para voltar ao seu quarto. Ela usava um moletom cinza e uma blusa azul por baixo, com uma calça jeans e um salto pequeno, totalmente o oposto do que a cidade esperava da eterna Rainha do Baile. Seu cabelo amarrado e a ausência de maquiagem no rosto completavam o look cansado, e tiravam todo o brilho que ela costumava ter.

- Só liguei pra perguntar se está tudo bem com vocês e como está o baile...

- Tudo bem. Ainda não cheguei, mas não sei quanto a Lola e Effy. Acho que ainda dá tempo de você vir...

- Não posso... – Paige sentou num dos bancos azuis do corredor e suspirou, sentia que a cabeça estava prestes a explodir – Estou com meu pai, ele piorou hoje cedo. Preciso ficar por perto...

- Tudo bem, apenas não fique sozinha. Tem alguém aí com você?

- Sim – Paige olhou pro lado – Uns cem médicos andando de um lado pro outro. Estou segura...

- Acho que o baile não vai ser a mesma coisa sem você subindo ao palco pra pegar a coroa...

- É... As coisas não estão sendo as mesmas há um bom tempo...

Courtney abaixou a cabeça, não conseguia não ficar triste com tudo o que estava acontecendo. Nem mesmo um baile ao lado do garoto que gosta podia camuflar tanta tragédia.

- Senhorita, já pode entrar – Disse uma enfermeira.

- Ok. Hey Court, preciso desligar – Ela se levantou – Se conseguir falar com Effy, peça pra ela me ligar, estou tentando desde cedo, mas só cai na caixa postal.

- Pode deixar.

- Se cuida, por favor.

- Você também... Tchau – Courtney desligou.

Ela ficou olhando pro celular por alguns instantes, o suficiente para que Penn achasse que algo estava acontecendo.

- Alguma coisa errada? – Perguntou ele, revezando o olhar na direção e nos olhos dela.

- Não – Ela sorriu – De jeito nenhum.

- Ok – Penn assentiu.

E em poucos segundos, ele estacionou o Jeep. Courtney não esperou ele abrir a porta para que saísse, estava ansiosa demais para entrar. E aparentemente, o baile de formatura superava suas expectativas. Apenas a entrada era maravilhosa, com arranjos de flores em todo lugar e flashes de câmeras para todos os lados. E enquanto Penn entregava as chaves ao manobrista, ela observava as amigas tirando fotos embaixo do arco florido próximo a porta do hotel. Havia uma fila pra foto, e por sorte, não estava grande.

- Vem – Disse Penn, pegando em sua mão para que andassem – Quer tirar uma foto?

- Você quer?

- Sim – Courtney sorriu a apertou a mão dele.

Junto eles caminharam até o arco para fazer parte da fila. Acabaram ficando atrás de Ian Hardley e sua namorada da semana, quase engolindo um ao outro com o beijo molhado que faziam questão de dar na frente de todos.

Courtney olhou ao redor, não via nenhuma de suas amigas ou seus respectivos pares. Pensou que ainda não tivessem chegado, por ainda estar cedo. Mal ela sabia que dentro do prédio, naquela pista de dança, os formandos do ensino médio já tinham encontrado sua rainha.

Como o colégio inteiro sempre disse, Lola era a rainha da pista de dança sempre que se propunha a dançar. E dessa vez não era diferente, mesmo que no momento não estivesse se sentindo uma Rainha. Ela dançava pra esquecer os problemas, com o rosto triste e cansado e se misturava fácil no meio da multidão quase passando despercebida. Na verdade, era exatamente o que ela queria.

Quando a música agitada terminou, a multidão parou de se mexer. E enquanto o resto deles aplaudia o DJ, Lola fitava o nada. Estava com o rosto suado e o olhar distante, apenas pensando.

Ela andou por entre as pessoas com cautela, até encontrar a mesa onde deixara seu companheiro esperando. Mas ele não estava mais lá, só o que ela via era seu copo de ponche vazio e o arranjo florido que ele lhe dera antes de entrarem no prédio.

Lola se aproximou da mesa e pegou sua bolsa em sua cadeira. Sentou-se e olhou ao redor, ainda não conseguia vê-lo, achava até que por ter sido triste e depressiva desde que chegaram ele havia ido embora sem se despedir. Então, se fosse assim, estava tudo bem. Ele apenas havia antecipado o que aconteceria no fim daquela noite.

Foi tentando achá-lo no meio da multidão que ela avistou na porta a entrada triunfal de Effy e Dean, como um casal Hollywoodiano perfeito por quem todos babavam. Effy, como sempre, estava doce e serena, tentando lidar com a timidez por ter chamado tanta atenção. Mas Dean, ele gostava que todos o encarassem e sentissem inveja. Ainda mais agora, quando a garota mais bonita do salão estava de mãos dadas com ele.

- Acho que meu vestido está rasgado... – Sussurrou Effy no ouvido do namorado – Todos estão olhando...

- É porque você está lindar, amor – Dean sorriu.

Effy sorriu de volta, mas ouvir um elogio do namorado não diminuía o nervosismo. Todos ainda estavam olhando, e tudo porque a roqueira estúpida que usava maquiagem preta todos os dias parecia finalmente ter encontrado sua fada madrinha. Era difícil de acreditar que estava tão bem a ponto de chamar a atenção de todos, e por mais que tivesse desejado a vida inteira não passar por aquela situação, ela estava gostando de ser admirada. E em alguns casos, até invejada.

Ela observou a decoração do Hotel logo depois que os olhares lhe cansaram, estava tudo tão lindo que ela finalmente entendeu toda a obsessão de sua mãe por um baile de formatura. Havia flores por todos os lados, e a cor das cortinas, mesas e guardanapos iam de roxo a branco. Se olhasse pra cima, veria alguns artistas enrolando-se em cordas e dançando com bambolês lá no alto, além do jogo de luzes impecável que fazia o ambiente parecer uma boate sem perder a classe. No palco, uma banda chamada Plastiscines composta por garotas estava tocando um rock animado e enlouquecendo as pessoas na pista de dança.

Tudo lhe pareceu bastante aleatório, até ela olhar para trás e ver o enorme letreiro encima da porta por onde passou. Ele estava piscando as palavras “Bem Vindos ao País das Maravilhas” com luzes de Neon, era o tema escolhido para aquele ano.

Só assim ela foi perceber que estava num ambiente familiar. As mesas, as cores, os cogumelos enormes no final do salão onde os formandos podiam se deitar... Aquilo era definitivamente o país das maravilhas, e ela estava completamente extasiada. Parece que o Baile de Formatura não era tão, no fim das contas.

Ao caminhar pelo lado esquerdo do salão, Dean e Effy acabaram topando com um conhecido. Este, Mark Ewing, mais um amigo do time de Lacrosse de Dean que Effy nunca ouvira falar.
- Dimmo! – Gritou ele, Effy tomou um pequeno susto.

- Marco! – Gritou Dean de volta, e logo o puxou para um abraço – E aí, como você ta, cara?

- Cheio de contusões, só vou poder jogar em Setembro. Mas fora isso, tudo certo.

- Sério? – Dean passou o braço pelos ombros de Effy.

- É, mas não se preocupe. Recebi uma proposta dos Jokers, acho que vou me dar bem.

- E jogar ao lado de Ted Schwartz? Isso me parece dispensável.

- Você só tem raiva dele porque ficou com a sua garota, anda, supera – Mark sorriu.

- O cara é um idiota. Fez o que? Três gols a vida inteira? Se não tivesse comprado até a avó dos patrocinadores e não dirigisse uma Ferrari ainda estaria na lama.

- Seu namorado costuma ser invejoso desse jeito? – Perguntou Mark à Effy.

- Não, só quando tocam na ferida – Effy sorriu.

- Muito engraçado...

- Ok, vou deixar vocês em paz agora. Minha garota ta me esperando. Foi bom ver você, cara – Mark tocou o ombro de Dean e sorriu para ele e Effy.

- Você também – Respondeu Dean.

Effy observou Mark indo embora, parecia ser um bom rapaz. Porém, não lembrava de Dean já tê-lo mencionado.

- Ele parece legal – Disse ela.

- Ele é.

- Por que nunca falou dele pra mim?

- Porque isso é gay demais.

- Certo – Effy sorriu. Então estava tudo explicado.

- Então... – Dean a puxou pela cintura, de forma delicada, e colocou um sorriso malicioso nos lábios – Você quer ficar falando dele ou aproveitar o baile?

- Eu tenho escolha? – Effy também sorriu com malícia.

- Eu acho que não... – Dean a beijou.

Depois, eles sorriram um pro outro. Era um bom momento para conversar com ele, mas ver Lola perto de sua mesa fazendo sinais com as mãos acabou deixando Effy curiosa. Ela estava chamando-a para conversar, talvez tivesse algo importante a dizer sobre Charlie.

- Então Dimmo... – Disse Effy, com a voz aveludada e ao mesmo tempo sexy – Por que você não vai pegar um pouco de Ponche pra gente enquanto eu falo com as minhas amigas?

- Dimmo – Ela sorriu com desdém – Deus, eu vou matar o Mark. Ok, eu já volto – Dean lhe deu um ultimo beijo antes de partir.

Effy sorriu uma ultima vez para o namorado, e então, voltou a ficar séria. Estava com medo do que Lola poderia querer conversar, e por causa disso, hesitou alguns instantes antes de ir a seu encontro.

Mesmo que algo tivesse acontecido, ela ainda teria como se defender. Havia amarrado uma faca na parte de trás da coxa, que era coberta completamente por seu vestido preto. Effy a ajeitou enquanto caminhava só para ter certeza de que não iria cair, mas é óbvio, de modo discreto para que Lola não desconfiasse.

- E aí, alguma novidade? – Perguntou ela.

- Não, eu ia perguntar isso pra você. Onde estão as outras?

- Courtney eu vi tirando foto lá fora. Paige não vai vir, teve que ficar com o pai no hospital – Effy preferiu não comentar, mas tinha conseguido perceber o nervosismo de Lola pela sua voz.

- Sorte a dela... – Lola olhou ao redor – Eu daria tudo pra não estar aqui...

- Nem me fale... O baile é importante pro Dean... – Effy olhou pro lado. Por uma brecha na multidão podia ver Dean e mais alguns amigos perto da mesa do Ponche, ele parecia feliz.

- E eu não tenho a mínima ideia de onde está meu acompanhante... Ricos bêbados têm essa capacidade de desaparecer, se é que me entende...

- Sei... – Effy sorriu.

- Ah – Lola abanou a si mesma – Acho que preciso de um ar...

- Eu vou com você...

- Por quê?

- Não devemos ficar sozinhas, lembra?

- É... Ta bom, você vem, mas só se prometer não fumar.

- Ok – Effy sorriu.

- É sério, estou salvando você de um câncer...

- Vai logo – Effy empurrou Lola, ainda com um sorriso no rosto.

 --

Um barulho de trovão acabou tirando Paige de seu sono profundo. Os olhos azuis – ainda embaçados – pairaram no leito de seu pai ao lado, ele continuava dormindo do mesmo jeito. Então, todas aquelas imagens dele sorrindo e dizendo o quanto era feliz tinham sido apenas um sonho.

Quando ouviu o barulho de outro trovão, ela olhou pra trás. Estava vendo a enorme cortina rosa que dividia o quarto para duas pessoas, e logo atrás, a janela de vidro aberta. Ainda não estava chovendo, mas do jeito que  o vento batia nas árvores, não iria demorar muito.

- Droga – Disse ela antes de se levantar para trancar a janela. Acabou por derrubar no chão o livro que estava em seu colo, mas não ligou pra isso.

Depois, olhou para o relógio na parede, ele marcava às oito. Parece que tinha dormido por muito tempo, mas não havia se passado nem uma hora desde que sentara na poltrona para ler seu livro.

Dando um enorme suspiro, ela saiu do quarto, e foi direto até o refeitório. Ele estava quase vazio, com apenas três médicos jantando na mesa do centro e uma adolescente rebelde brincando no celular perto das máquinas de chocolate. Próximo as janelas, Paige também podia ver a faxineira recolhendo o lixo e algumas cozinheiras conversando. Então, ficar sozinha dentro daquele lugar era impossível, ela não tinha com o que se preocupar.

Lentamente ela caminhou até as máquinas de chocolate e tirou uma moeda do bolso. Quando a colocou na máquina, ouviu seu celular tocando dentro do bolso. Era sua mãe, finalmente retornando depois de suas trezentas ligações.

- Alô? – Disse ela, ao atender, alto o suficiente para chamar a atenção da garota que brincava com o celular – Sim, estou com ele no hospital...

Ela olhou para Paige, e pôde assistir de camarote o momento em que a garota começara a se descontrolar.

- Sim, ele é meu pai, mas é seu marido também [...] Não estou dando conta de tudo isso sozinha [...] Não me venha com essa, não é só minha responsabilidade!

- Nossa... – Sussurrou a garota.

- Eu estou pedindo a porra da sua ajuda, sua idiota! – Gritou Paige. Logo em seguida, percebeu que a mãe havia desligado na sua cara – Inferno! – Paige deu um chute na máquina a sua frente, chamando a atenção de todos no refeitório. Ela olhou pra eles, pareciam assustados.

- Você ta precisando... – Começou a garota, mas logo foi cortada por um grito histérico de Paige.

- Me deixa em paz! – Paige saiu correndo.

Só parou quando chegou até o quarto onde estava seu pai, mas hesitou antes de entrar. Estava primeiro limpando as lágrimas e tentando se convencer de que realmente não precisava da ajuda de sua mãe. Sempre tinha resolvido tudo sozinha, e dessa vez não seria diferente.

Quando passou pela porta, ela caminhou até a poltrona e pegou seu livro do chão. Limpou suas lágrimas e o abriu, apenas ler conseguia lhe distrair naquele momento. Mas, ainda se perguntava como era possível alguém não se importar com o próprio marido ou a própria filha e ainda se dizer mãe. Talvez se tivesse estado presente pelo menos o suficiente, a filha tivesse aprendido a não camuflar seus problemas com a bebida.

De qualquer modo, a única coisa que poderia fazer se estivesse ali era assisti-lo morrer aos poucos, e ninguém poderia obrigá-la a querer isso. Então, não havia nada a fazer se não chorar, ou sentir raiva. Não de sua mãe, ou de seu pai, ou do homem que está matando suas amigas, mas sim de toda essa situação, e tudo que levou as coisas chegarem a este ponto.

De repente, junto ao barulho incessante de trovões no lado de fora e o chiado da TV sem sinal, Paige começou a ouvir vozes. No começo pareciam gemidos, mas depois ela percebeu que eram palavras sendo repetidas sequencialmente, e que faziam sentido. Era como se um robô estivesse falando, ou qualquer outro brinquedo com a voz irritante.

Ao que tudo indicava, elas vinham de trás da cortina rosa, onde havia um leito vazio. Paige não hesitou, apenas correu até a cortina e a puxou para ver do que se tratava. Pra sua surpresa, era uma boneca, do mesmo modelo daquele que vira sendo queimada quando ela e as amigas foram atacadas no The Purple.

A distração acabou não lhe deixando perceber que o assassino estava embaixo da cama de seu pai com uma faca prestes a lhe atacar. E em fração de segundos, teve o calcanhar esquerdo cortado na horizontal. Até segurou na cortina para evitar a queda, mas acabou caindo no chão do mesmo jeito.

O assassino saiu debaixo da cama e caminhou na sua direção, ignorando os gritos histéricos que ela dava. Estava achando que iria ser a próxima a morrer, sem saber que para ela outros planos estavam guardados.

Com apenas um soco o assassino conseguiu lhe deixar inconsciente, e só assim o escândalo havia cessado. Seu nariz estava quebrado, e de seu calcanhar, o sangue não parava de jorrar.

Finalmente o ultimo dia de todas elas havia chegado. E se tivessem um pouco de sorte, morreriam rápido.

#GameOn

Comentário(s)
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5 comentários:

  1. Leffy ♥ - Meu Deus, Paige não, Deus do céu, não faça isso, mate qualquer um, menos as 4, porque eu quero um My Last Lie 2. ÓTIMO capítulo, já vi que o próximo vai ser ótimo já pelo final, tirando o final, o capítulo foi mais divertido e romântico, foi realmente bom.

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  2. Nãoooooo please não mate a Paige!!!! Paige não pode morrer,ela e Effy são minhas personagens favoritas,adoro a amizade delas. O episódio foi bom,acho que as gaortas estão tão atordoadas por esse jogo doentio que nem estão aproveitando,o que pra elas deveria ser o momento mais importante,pela primeira vez não sei o que pensar,não tenho nenhum suspeito em mente e isso me da mais vontade de saber quem é.

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  3. Coitada da Paige,por favor não a mate quero as 4 vivas no final,tbm não tenho nenhum suspeito e essa situação está me deixando aflita a cada cena em que o Anonymous ataca me deixa mais desesperada quero saber logo quem ele é.

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  4. Não mate ela eu te pesso por favor
    fora a morte de Paige que eu estou sentindo a historia esta muito foda esperando o proximo capitulo

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