[Livro] My Last Lie - Capítulo 9: Keep the Secret or Die Trying
Don't Tell Anyone.
- Ok, esqueçam ela – Effy saiu da janela e colocou as mãos na cintura, queria parecer firme para que Paige e Lola não dessem pra trás – Vamos agora, temos tempo.
- Você tem
certeza? – Paige parecia indecisa – Não quero que aconteça comigo o que
aconteceu com Tessa...
- Bom, então
você quer mais cobras na sua cama?
- Ok, calem a
boca – Lola tirou o celular do bolso – Effy está certa, pelo menos dessa vez.
Mas precisamos primeiro falar com Courtney e Skye, quanto mais pessoas, melhor
– Lola deu meia volta e se afastou das garotas, deixando de ouvir o que tinham
começado a tagarelar.
Ela se
escorou na parede podre e colocou o celular na orelha, estava ligando para
Courtney. Seu celular chamou três vezes antes da garota atender. Estava deitada
em seu quarto, não conseguia parar de pensar nas mensagens. Todo aquele jogo de
intimidação lhe tirou a vontade de comer e o sono, só em imaginar o que
aconteceria se Charlie cumprisse a ameaça.
- Sou eu –
Disse Lola – Vamos à polícia agora, precisamos de você.
- O que? – Courtney
deu um pulo da cama, parecia que havia tomado um susto – O que aconteceu?
- E você
ainda pergunta? Tem alguém brincando com a gente e isso está passando dos
limites. Precisamos de você pra confirmar a história.
- O que? –
Courtney hesitou. Se não se concentrasse, acabaria gaguejando – Eu não sei, é
muito perigoso...
- E é
exatamente por isso que devemos ir à polícia.
Courtney
levantou da cama e deu um suspiro sem fazer barulho. Começou a andar de um lado
pro outro com a mão esquerda no pescoço, ela mais do que ninguém sabia que não
poderia ir à polícia, não se ainda queria toda a história com seu pai
permanecesse debaixo do tapete.
- Court?
Ainda ta aí?
- Sim.
- Então vem,
agora, estamos no The Purple.
- Eu... Eu
não posso.
- Que droga,
Courtney! – Sussurrou Lola, e por alguns segundos, olhou para trás. Effy e
Paige ainda estavam conversando, e pareciam não estar prestando atenção na
conversa de Lola – Vem pra cá agora!
- Eu não
posso... Ele disse que iria contar pra todo mundo sobre meu pai se eu chamasse
a polícia...
Lola demorou
alguns instantes para raciocinar. No começo pensou até não ter ouvido direito.
Courtney nunca falava sobre “a coisa com seu pai”, nem mesmo quando estava
triste por causa disso. E as únicas pessoas que sabiam era ela, sua mãe e Lola,
sua melhor amiga. Nenhuma delas jamais se atreveu a contar a história pra mais
alguém, mas de alguma forma, Charlie sabia tudo, e estava em todos os lugares.
- Ai meu
Deus... – Lola fechou os olhos e suspirou. Se ser colocada num freezer cheio de
animais mortos era passar dos limites, o que tinham dito a Courtney ainda não
havia nome – Ok, fique calma. Vou ver o que faço.
- Por favor,
não deixe ele contar pras pessoas...
- Eu vou
matá-lo primeiro – Lola desligou e colocou o celular de volta no bolso, parecia
revoltada. Caminhou na direção das garotas, logo a conversa cessou.
- Então, ela
vai dar pra trás? – Effy cruzou os braços.
- Sim –
Mentiu Lola, mas dessa vez, seu talento para fingir lhe pregou uma peça. Ela
aparentava nervosismo, e logo tratou de cobri-lo de todas as formas para que
Effy e Paige não desconfiassem de nada. Nem mesmo elas podiam saber o que tinha
acontecido, mesmo que ter um segredo à aquela altura do campeonato parecesse
quase um crime – Você sabe como ela é, sempre deu pra trás. Agora vamos – Ela
tomou à frente, parecia estar liderando novamente.
As garotas
desceram as escadas pro primeiro andar, onde tiveram que arredar careteiras
velhas jogadas no chão para que pudessem passar lado a lado. Tentavam evitar
poças d’água e tocar nas paredes sujas. Parecia haver um problema no
encanamento, que por algum motivo, ainda não havia sido consertado.
Antes que
chegassem à porta dos fundos, o celular de Effy apitou. Lola e Paige não
conseguiram disfarçar a tensão no olhar, era impossível. Sempre que ouvissem
aquele barulho iriam ligá-lo as mensagens, e consequentemente, a Charlie
Abrams.
Effy tirou o
celular do bolso do casaco esperando que fosse apenas uma coincidência, apesar
de tudo. Mas o remetente, era exatamente quem temiam.
- O que diz?
– Indagou Lola.
- “Vocês não
podem ir a polícia sem pagar o preço” – Effy olhou para Lola e hesitou antes da
ultima palavra – Charlie.
- Nem pensar!
Ele só quer nos assustar, precisamos ir! – Lola tomou a frente cheia de fúria,
e passou por Effy como um vulto de tão rápida.
A garota apenas
observou Lola caminhar, estava com tanto receio que só daria um passo a frente
quando organizasse as ideias. Logo outra SMS chegou, também de Charlie, e
confirmou que aquela ameaça não era aleatória.
“Se eu fosse você não deixava ela se aproximar
do carro”
- Vem Effy,
ela ta certa – Paige puxou a amiga pelo braço, mas Effy não saiu do lugar.
- Espera, tem
alguma coisa errada – Effy olhou para Lola, estava chegando cada vez mais perto
do carro.
Foi aí que
juntou os pontos e percebeu que algo estava prestes a acontecer. Gritou pelo
nome da amiga o mais alto que pôde para que pudesse impedi-la de prosseguir,
mas já era tarde demais. Ao chegar bem perto do carro, Lola acionou uma
armadilha de urso no chão em fração de segundos. Os dentes de metal cravaram em
sua perna e fizeram-na cair no chão com a dor. Sentia que seus ossos estavam
quebrados e que os dentes tinham atravessado sua perna para o outro lado.
Effy não
pensou duas vezes, não iria ficar assistindo Lola agonizar mesmo que mais
armadilhas daquelas estivessem espalhadas por ali e pudesse se machucar. Junto
de Paige ela correu, sem saber que o culpado por tudo aquilo estava mais perto
do que pensava.
- Paige, me
ajuda! – Gritou ela, abaixando-se para fazer pressão na armadilha.
Paige demorou
alguns instantes para assimilar o que tinha que fazer, parecia estar sob uma
hipnose de pânico por causa dos gritos e do sangue. Mas mesmo em estando de
choque, e tremendo como se estivesse levando um choque, Paige se obrigou a
ajudar.
As duas
forçaram a armadilha ao mesmo tempo para que se abrisse, mas ela não cedeu mais
que dez centímetros.
- Para de se
mexer, Lola! – Gritou Effy. Se Lola continuasse se debatendo, seria impossível
de retirar a armadilha.
- Tirem essa
merda de mim!
- Lola, se
acalma! – Paige tentou tocar o ombro da amiga, mas se afastou assim que Lola
voltou a se debater.
Ao ouvir o
barulho do vento, Paige olhou pras árvores, e por alguns segundos achou ter
ouvido algo além das folhas balançando. Também notou uma série de ruídos
estranhos, semelhantes a algo de ferro batendo numa lataria. Barulhos tão
estranhos que não pareciam vir de lugar algum e a deixavam-na com apenas uma
certeza: Alguém mais estava ali.
- Effy, ele
está aqui! – Ela gritou, segurando a blusa de Lola com força.
Effy olhou
pras árvores, também estava ouvindo os barulhos estranhos. E não levou nem dois
segundos para perceber o que tinha que fazer.
- Puxe ela
pra dentro! Agora! – Ordenou a Paige.
Era uma
péssima ideia mover Lola ainda com a armadilha na perna, elas sabiam, mas era a
única coisa que podiam fazer quando não tinham ideia do que havia lá fora. Lola
foi arrastada pelas duas até a porta do The Purple enquanto sentia os dentes de
ferro entrarem ainda mais em sua perna.
Quando
chegaram até a parte de dentro, Effy deixou Lola no colo de Paige para que
pudesse trancar a porta. A única coisa que poderia usar era uma mesa de ferro
velha e queimada, que dificultaria a entrada de qualquer um pelo menos por um
tempo.
Pra ter
certeza que não vinha ninguém, ela olhou pro lado de fora por uma das inúmeras
brechas na porta. Nada havia além das árvores balançando, e os barulhos
estranhos já não podiam mais ser ouvidos. Ela queria acreditar que quem quer
que tenha colocado a armadilha já tivesse ido embora, mas não poderia arriscar
em sair dali tão cedo, muito menos quando deixar Lola para trás e pedir ajuda
na estrada não era uma opção.
- Merda! –
Gritou Lola. As lágrimas que caiam de seus olhos misturavam-se com o suor em
seu rosto e a lama nas bochechas – Tirem isso de mim!
Effy correu
até ela e olhou para sua perna. Não estava quebrada, ou triturada, mas os
dentes de ferro cravaram-se de um jeito que qualquer remoção não seria indolor.
- Paige,
preciso que você faça força, ok?
- Ok – Paige
assentiu.
- No três –
Effy segurou na ponta da armadilha. Esperou Paige fazer o mesmo para que
pudesse começar a contagem – Um, Dois, Três!
Quando a
contagem terminou, cada uma fez força pra um lado. No pouco que conseguiram abri-la,
Lola tentou mover a perna, mas isso só piorou a situação. Cada vez que tocavam
naquela coisa os dentes pareciam cravar ainda mais, como se isso ainda fosse
possível.
- Eu não
consigo! – Exclamou Paige, a voz desesperada – Não vamos conseguir!
- Ok, vamos
tentar de novo! – Effy segurou novamente na armadilha, dessa vez colocaria
todas as suas forças mesmo que lhe custasse caro - Um, Dois, Três!
Mais uma vez
elas forçaram, mas o resultado foi o mesmo. Effy não estava mais aguentando os
gritos de Lola e aquele cheiro de sangue, sentia que deveria olhar pro lado
para evitar que vomitasse. Tinha sangue em suas mãos e por todo seu casaco.
Havia também um pouco em seu rosto quando tocou na ferida de Lola e teve que
tirar os cabelos da frente dos olhos para que pudesse enxergar.
- O que nós
fazemos? – Paige franziu o cenho, quase chorando.
O pior de
tudo era que nem mesmo Effy sabia o que fazer. Lola estava ferida, Paige estava
em pânico, e ligar pra pedir ajuda era exatamente o motivo de tudo aquilo.
Mesmo que tentassem sair, havia alguém do lado de fora que não iriam deixá-las
ir muito longe. E esse mesmo alguém tinha acabado de dar mais um sinal que
estava por perto, apenas mais um barulho do lado de fora, porém o suficiente
para que as garotas se assustassem. Elas deram pequenos gritos e olharam pra
porta, temendo que a qualquer momento algo poderia acontecer.
- O que foi
isso? – Sussurrou Paige.
Effy levantou
do chão, já com o celular nas mãos. A luz da Tela era a única maneira de
conseguir ver alguma coisa no meio de toda aquela escuridão. Ela o apontou pro
lado direito, onde pensou ter ouvido o barulho, mas logo ele se repetiu do
outro lado.
Effy virou o
celular pro outro lado de maneira brusca, foi aí que percebeu o que estava
acontecendo. Viu uma das janelas batendo e alguém correndo. Estava indo de um
lado para o outro, batendo as janelas, causando pânico como se estivesse em
todos os lugares. Effy tentou acompanhar os barulhos com o celular, mas não
conseguia ver nada além das janelas balançando. Ele era rápido demais. E aquele
jogo só aumentava o desespero de todas elas.
- O que ele quer?
– Gritou Paige.
Então, de
repente, tudo se acalmou. Effy levou o celular de um canto à outro pra ter
certeza que não havia mais ninguém. E por alguns segundos, até pensou que ele
havia ido embora.
- Ele foi
embora? – Lola engoliu em seco.
Antes que
Effy pudesse raciocinar, a porta foi forçada pelo lado de fora e a mesa arredou
alguns centímetros.
- Ele está
tentando entrar! – Gritou Effy, correndo para a porta junto de Paige.
As duas
empurraram a mesa contra a porta, mesmo com alguém do lado de fora fazendo de
tudo para arrombá-la. Estavam gritando tanto que mal conseguiam ouvir seus próprios
pensamentos.
Paige encostou-se
à porta e imprensou o pé na parede para que não pudessem abri-la. Então, o
assassino do lado de fora acertou uma machada que atravessou a madeira podre e
ficou há centímetros de seu rosto. Ela correu imediatamente dali, e coube
apenas a Effy fazer de tudo para que ele não entrasse.
Mas como da
ultima vez, ele simplesmente parou. Effy não sentiu mais a porta sendo forçada
para que abrisse e parou de gritar. Olhou pela brecha na porta feita pelo
machado, ele não estava mais ali, não havia nada além das árvores e do carro.
- Effy, sai
de perto da porta! – Paige esfregou o rosto com a manga da blusa para enxugar o
suor.
Effy se
afastou, mas continuou olhando só para que não fosse pega de surpresa. Já tinha
visto esse filme antes. Ele finge que vai embora pra depois atacar. Mas elas
não podiam fazer parte daquele jogo por muito tempo. Lola precisava ir a um
hospital ou a ferida poderia infeccionar. E Paige... Ela estava uma bagunça. Estava
tão atordoada que parecia estar desejando a morte internamente só para ser
poupada do sofrimento.
Mas o jogo
ainda não havia terminado. No meio de todo aquele silencio, o celular de Effy
começou a apitar. Ela olhou pro chão, nem tinha percebido que havia deixado ele
cair. Estava com medo que outra coisa fosse acontecer, mas já que não tinha
escolhas, deveria entrar no jogo para se salvar.
“É isso o que acontece com vadias fofoqueiras.
Guardem o segredo ou morram tentando” – Charlie.
A única coisa
que se ouviu, então, foi o barulho da janela de vidro da esquerda
despedaçando-se. O assassino arremessou uma boneca em chamas por ela, que caiu
próximo aonde Lola estava deitada.
Aos gritos,
as garotas tentavam apagar o fogo usando o que podiam. Lola começou a dar
chutes na boneca enquanto Effy tentava conter as chamas com o casaco. Apenas
quando as chamas cessaram que elas perceberam que havia uma mensagem. No peito
da boneca, em forma de costura, estavam as palavras “Mentirosa Morre”.
Era mais do
que suficiente para terem certeza do que deveriam fazer. Ou manteriam o
segredo, ou morreriam tentando.
--
- Dava pra
ser mais rápido? – Tessa colocou as mãos dentro do casaco amarelo – Ta muito
frio aqui.
Ela olhou
para Corbin, esperando uma resposta. Ele estava agachado ao lado do carro
tentando pela segunda vez trocar o pneu furado, como se entendesse de mecânica.
Ele mal sabia o nome das ferramentas que tinha nas mãos, ou manuseá-las sem sujar
a própria roupa de graxa.
- Bom – Ele
jogou a chave pro lado e fitou o pneu – Eu definitivamente não sirvo pra ser
mecânico.
- É, não me diga
– Ironizou Tessa.
- Então, o que
fazemos? – Ele olhou pra ela, apoiando o braço no joelho direito.
- Ué,
deixamos o carro aqui e chamamos um guincho pela manhã.
- Não vou
deixar Francine no meio da estrada sozinha.
- Francine? –
Tessa cerrou os olhos – Sério? Isso é patético.
- Você deu um
nome pro meu pau e não quer que eu dê um nome pro meu carro? Isso é mais
patético ainda – Corbin se levantou, junto com as ferramentas que havia tirado
do porta malas.
- Anda logo,
Corbin! Quero chegar logo em casa – Tessa se balançou, como uma criança fazendo
birra. Observou o namorado guardando as ferramentas no porta malas esperando
que sua insistência resolvesse o problema – Você não ta querendo que eu empurre
essa lata velha, não é? Porque eu não sirvo pra isso.
- Olha –
Corbin fechou o porta malas e com a expressão séria, olhou pra namorada – Vamos
rodar mais um pouco com o pneu furado, tenho certeza que tem um posto de
gasolina por aqui. Então eles trocam nosso pneu e vamos pra casa. Ok?
Tessa
suspirou, não queria demonstrar que faria de bom grado o que ele estava
pedindo.
- Tudo bem.
Sem mais
delongas, os dois entraram no carro. Tessa foi a primeira, deu logo um jeito de
se acomodar no banco do passageiro para que ficasse confortável e ao mesmo
tempo olhasse a montanha pela janela.
Corbin olhou
pra ela antes de girar as chaves, não se atreveria a dizer uma só palavra ou
então, com aquele humor, poderia acabar sendo jogado pra fora do carro.
- Só espero
que seja rápido – Resmungou ela.
- Não se
preocupe, é apenas um pneu.
- Se é apenas
um pneu, por que você não conseguiu trocar?
- Ah vai,
esquece – Corbin pisou no acelerador.
Eles
continuaram a viagem calados, cada um olhando para uma direção. Conseguiram
dobrar a colina mesmo com o pneu furado e fazendo ruídos. O tempo que levaram
calados dentro do carro serviu para que Tessa refletisse. Estava arrependida de
tê-lo tratado tão mal e descontar seus problemas todos encima dele. Era
injusto, quando ele sempre fez de tudo por ela e nada do que estava acontecendo
era culpa sua.
- Hey, me desculpe
– Pediu Tessa, ainda mantendo a expressão dura – Desculpa por ter gritado com
você, é que eu to com a cabeça cheia, ta acontecendo muita coisa...
- É, eu sei –
Corbin assentiu.
- Então,
apenas... Me desculpe.
Após o
diálogo, os dois trocaram um olhar. Ele um pouco surpreso, por estar vendo a
namorada pela primeira vez lhe pedindo desculpas. E sua imaginação tinha razão,
ela ficava linda quando fazia aquilo.
- Sem
problemas – Ele respondeu, logo depois olhou pra frente – Acho que hoje é seu
dia de sorte – Com o dedo indicador ele apontou pra frente.
Tessa olhou,
havia um posto de gasolina apenas há alguns metros. Ela não conseguiu disfarçar
o alívio, já tinha começado a achar que iria andando pra casa. Seria um longo
caminho de volta, considerando que estavam numa das extremidades da cidade, exatamente
na estrada que levava ao próximo município.
- Ah, graças
a Deus.
Antes de
estacionar, Corbin notou um funcionário do posto se aproximando. Era um senhor
que aparentava ter setenta e poucos anos, usando um uniforme alaranjado como o de
um gari. A camisa de mangas estava amarrada na cintura, deixando a mostra sua
camisa branca completamente suja de graxa. Por cima dela, além da sujeira,
apenas sua identificação. Ele se chamavam Earl.
- Hey cara,
estou com um pneu furado – Disse Corbin, olhando pra trás – Você acha que pode
consertar?
Earl
permaneceu quieto. Apenas cuspiu pro lado oposto e analisou o pneu.
- Vinte
Dólares – Despejou ele.
- Tudo bem.
Ao saírem do
carro, Tessa correu, sem avisar a Corbin para onde estava indo.
- Hey, onde
você vai? – Perguntou ele.
- Ao
banheiro, não demoro.
- Ok, vou
comprar algumas coisas – Corbin virou-se para Earl – Hey, você pode encher o
tanque por favor?
- É claro –
Respondeu Earl. Seu olhar suspeito como o de alguém culpado incomodou Corbin
apenas no começo. Afinal, que mal um pobre idoso poderia fazer?
- Obrigado – Disse
Corbin, com um sorriso. Ele correu até a lojinha logo em seguida.
Ao que tudo
indicava, Corbin e Tessa eram os últimos clientes do dia. Não havia ninguém no
local a não ser a moça do caixa que parecia ter raiva de seres humanos e evitar
simpatia. Tão séria e tão medonha que Corbin poderia sentir náuseas apenas em
olhá-la. Então, estava ali o motivo da falta de clientes. O mal humor da
atendente do caixa e o cheiro do frentista lá fora.
Quanto a
decoração, nada se destacava, parecia tudo comum demais, como toda e qualquer
lojinha nas redondezas. E seria tudo comum demais, se não fosse por um detalhe
que fazia toda a diferença. Havia uma cabeça de alce empalhada entre duas
lanças cruzadas. Talvez fosse o símbolo usado por alguma religião, ou nação,
considerando a pequena bandeira vermelha e verde perto do animal. No fim, mais
uma cultura inútil que não acrescentaria nada.
- Sim, estou
indo – Respondeu a atendente, desligando e saindo da loja imediatamente.
Corbin dobrou
no primeiro corredor onde havia duas enormes geladeiras de portas transparentes
com os refrigerantes e os iogurtes. Começou a pegar todas as besteiras que via
pela frente, incluindo cerveja.
Quando os
autofalantes dos canteiros emitiram um som agudo, ele olhou pra cima. Nem tinha
percebido que estava tocando uma música, eles estavam sintonizados numa estação
de rádio onde uma garota parecia estar dando um depoimento sobre suas
experiências sexuais.
- Legal –
Disse ele, antes de dobrar o corredor.
Ele acabou
encontrando no canteiro do corredor uma cesta de compras, que lhe serviu como
uma luva. Depois, continuou observando as prateleiras, até chegar nos vinhos. Abriu
alguns para que pudesse sentir o cheiro, não pareciam ruins. Logo depois
observou a data, seu pai sempre dizia que os melhores vinhos eram os mais
antigos.
Ao observar
com mais cautela, ele percebeu que podia ver o outro corredor porque as
prateleiras eram duplas e podiam ser facilmente separadas. E do outro lado,
havia exatamente o que ele queria ver. Por sorte, a moça do caixa ainda não
havia voltado, ele poderia aproveitar para ver todas aquelas edições da
playboy.
E Earl, ainda
não tinha trocado seu pneu. Estava fazendo de tudo para que o serviço demorasse
pelo menos o dobro de tempo, para que pudesse fazer o que tinha em mente. Tessa
ainda estava no banheiro e Corbin, completamente hipnotizado com as revistas.
Era quase um convite para que ele tirasse proveito da situação.
Após uma
ultima checada, ele atacou os porta luvas em busca de qualquer coisa que
tivesse valor. Pegou um relógio, algumas notas de cinco e o celular de Corbin.
Estava tão distraído com suas reais intenções que nem notou a chegada do
assassino. Ele estava há poucos metros, arrastando o corpo da moça do caixa com
a mão esquerda enquanto a direita carregava um machado. O silencio seria seu
aliado para que ele desse um fim num homem desonesto sem que espantasse as
verdadeiras vítimas.
Ao jogar o
corpo no chão, ele caminhou na direção de Earl e parou assim que chegou perto o
suficiente. Não esperou o homem notar sua presença para que pudesse agir, lhe acertou
nas costas com o machado e o derrubou. Earl não conseguiu gritar, nem se mover,
ou sequer entender o que estava acontecendo. A ultima coisa que viu foi o
machado vindo na direção de seu rosto, e então, teve o crânio partido em dois.
O assassino
olhou pra lojinha, o caminho já estava livre para que concluísse o que tinha
ido fazer. Sem testemunhas, sem empecilhos, era hora do acerto de contas.
--
- Merda! –
Resmungou Tessa ao sair do banheiro. Olhou para sua mão, tinha sido molhada com
alguma coisa grudenta que estava na porta – Que droga... – Ela passou a mão na
calça e olhou pra frente.
Agora, estava
encarando o posto. Os corpos de Earl de da moça do caixa não estavam mais lá, e
Tessa estava longe demais para notar a possa de sangue formada pelo cadáver de
Earl. Só o que conseguia ver era o carro de Corbin ainda sendo suspendido pelo
macaco, e nenhum sinal do homem que realizava o trabalho.
- Ótimo –
Disse ela, caminhando na direção da lojinha.
Quando
entrou, a primeira coisa que fez foi olhar pra loja como um todo para tentar
encontrar Corbin. Mas aquilo era tão grande que seria impossível achá-lo desse
jeito.
Ela passou
pelo caixa direto no corredor por onde ele fora da primeira vez, sem notar a
cabeça do alce e a lança que faltava ao seu redor. Agora só havia uma.
- Corbin? –
Gritou ela, esperando que ele respondesse. Esperou mais alguns segundos pela
resposta, até se convencer de que não vinha.
Com o
silencio que se formara, ela notou o sininho da entrada tocar. Isso significava
que alguém tinha acabado de entrar, e poderia ser Corbin.
- Olá?
- Hey! –
Gritou Corbin, tinha aparecido do nada.
Tessa quase
gritou com o susto, mas se controlou quando notou a risada cretina do namorado.
Não lhe daria o gostinho de parecer apavorada.
- Que medrosa
você.
- Idiota! – Ela
lhe deu um soco no ombro.
- Ai! Quanto
estresse...
- Podemos ir
embora agora?
- Relaxa
amor, eu só tava brincando...
- Que seja –
Tessa revirou os olhos – Vamos embora.
- OK – Corbin
continuou sorrindo, e seguiu a namorada pelo corredor.
Apesar de
tudo, Tessa estava se sentindo bem. O
pneu furado, o banheiro imundo, o susto que acabara de levar do namorado, tudo
contribuiu para que esquecesse temporariamente sobre Charlie e as amigas. Quando
seu celular tocou, nem houve tempo para temer, ela apenas o retirou do bolso
para ler a nova mensagem de texto que acabara de chegar.
“Estou mais perto do que você imagina” –
Charlie.
Tessa fitou o
nada, parecia em choque. Parecia que todos os últimos acontecimentos tinham
atropelado sua mente e prendido suas pernas para que não pudesse correr. Até
mesmo Corbin pôde perceber a tensão em seu olhar, e a mudança repentina após
receber a SMS.
- Tessa, o
que aconteceu? – Perguntou ele. Como não obteve uma resposta, fez a mesma
pergunta, esperando que Tessa lhe falasse porque de repente tinha ficado tão
aflita.
Tessa olhou
ao redor, basicamente, para a porta da frente perto do caixa. A primeira coisa
que lhe veio em mente foi ter ouvido o sininho da porta tocar milésimos antes
de Corbin aparecer. Então, era só ligar os pontos.
- Corbin,
acho que tem alguém aqui... – Sussurrou ela.
- O que? –
Corbin se aproximou.
- Temos que
sair...
- Tessa, não
tem ninguém aqui.
No momento
exato em que Corbin parara de falar, tudo aconteceu muito depressa. O assassino
atravessou as prateleiras e enfiou a lança em seu peito, fazendo-o quebrar a
vidraça e ir parar dentro de uma das geladeiras.
Tessa gritou
imediatamente quando viu Corbin morrer, e correu o mais rápido que pôde. Chegou
até a porta, mas antes que saísse, foi alcançada pelo assassino. Ele preparou a
lança para enfiar em sua cabeça, e num movimento rápido, Tessa desviou. Ele
atravessou a porta de vidro com a lança e caiu no chão junto dos cacos. Isso
fez com que Tessa ganhasse tempo para correr.
Ela estava no
corredor das frutas, jogando tudo o que via no chão para que dificultasse a
passagem do assassino. De tanto correr em zigue zague, acabou sofrendo uma
queda perto da caixa verde de maçãs. Sabia que não deveria olhar pra trás,
sabia que não deveria pensar, mas mesmo assim, sofreu uma reação automática.
Viu quando o assassino voltava a correr atrás dela e sentiu uma pontada no
peito. Era medo, pavor, nunca tinha ficado tão próxima da morte como estava
naquele momento, nem mesmo quando Charlie Abrams invadira o estábulo.
- Não! –
Gritou ela, levantando-se com a ajuda da caixa verde.
Ela continuou
a correr, porém, já não estava com o mesmo ritmo. Foi puxada pelo cabelo e
arremessada contra a parede branca ao lado do banheiro, pôde ouvir o barulho do
próprio corpo quebrando as taças de champanhe agrupadas numa fileira.
Quando
percebeu o próximo ataque, ela colocou a mão na frente para que não fosse
machucada, e isso acabou lhe custando seu primeiro ferimento. A lança do
assassino atravessou a palma de sua mão e chegou até a parede, onde fez uma
pequena perfuração.
Não fazia
ideia de como havia conseguido, mas, sem nem perceber, apalpou qualquer objeto
ao lado para usar em sua defesa. Acabou pegando uma garrafa de champanhe
quebrada, e terminou de despedaçá-la no joelho do assassino. Quando ele ficou
de joelhos, ela pegou outra garrafa e quebrou em sua cabeça.
Foi a chance
que teve para correr até a próxima porta. Era a saída de emergência,
ironicamente trancada e que dava livre acesso ao lado direito do posto. Mas
Tessa não podia perder tempo tentando abri-la, precisava correr para a outra
porta. Esta, era um porão, que também servia como depósito de comida. E era também
sua ultima esperança.
Assim que
chegou ao primeiro degrau ouviu o assassino forçando a porta. Ela olhou pra
cima, a lança havia atravessado a madeira. A porta não duraria muito, aquele
lugar precisava ter uma saída.
Mas pra todos
os lados que ela olhava só via mantimentos, compras, e até mesmo alguns insetos
indesejáveis passeando por todos aqueles produtos. A única saída era a pequena
janela no canto direito, por onde podia ver a estrada. Era exatamente o que
estava precisando. Só tinha que subir aquelas montanhas de sacos de comida e
quebrar a vidraça pra poder sair, então estaria livre.
Mas antes que
subisse, o silencio lhe fez parar. O assassino havia parado de forçar a porta, como
num passe de mágica. Isso era impossível, ele estava quase conseguindo abrir a
porta, por que iria parar? Tessa estava sentindo que aquilo era uma armadilha.
Mesmo assim,
ela andou até o pé da escada e olhou para cima. Viu a lâmpada balançando e os
inúmeros buracos na porta feitos com a lança. Porém, nem sinal dele. Estava
tudo tão calmo que ela sentia que era bom demais pra ser verdade.
Quando os
ratos começaram a fazer barulho, Tessa voltou a gritar. Foi o que lhe despertou
para voltar até a janela e sair o mais depressa possível dali. Subiu nos sacos
de comida e colocou as mãos na janela. Então, o assassino atravessou a lança
pelo lado de fora e perfurou sua boca. Tessa caiu no chão, ainda com a lança cravada
na garganta.
Em fração de
segundos os ratos começaram a perambular por cima de seu rosto, andando sobre
os olhos ainda abertos e deixando sujeira por toda parte. Alguns achavam que
assim, a justiça estava sendo feita.
Aiiiii amei,adorei a perseguição no posto,adorei o capitulo esta historia esta cada vez melhor,Tessa morreu,não digo que fiquei triste pois não simpatizava muito com ela,mas morrer dessa forma deve ser terrivel.
ResponderExcluirAmei o capitulo,até imaginei a perseguição no posto de gasolina,pobre Tessa não gostava dela mais morrer sendo comida por ratos é terrivel,o Anonymous está caprichando nas mortes,é uma mais cruel que a outra Charlie Abrams estaria orgulhoso dele.
ResponderExcluirAff, me dói pensar que a Lola vai ficar com aquela armadilha até a próxima semana kkkkkk! - Eu estou em depressão agora porque eu me apego muito aos personagens, e quando eles morrem eu desabo então... / PODEM ACREDITAR QUE JÁ TA NO CAPÍTULO 9, PARECE QUE FOI ONTEM QUE O PRIMEIRO FOI LANÇADO.
ResponderExcluirAff ;/
ResponderExcluirTem algum motivo para os pais de Skye terem morrido e Corbin também? Por que lembro que em "Pacto Secreto" os outros morreram pelos segredos terem sido compartilhados. Aliás, AMEI a cena da armadilha de urso, criativade excepicional!
Amei o capitulo
ResponderExcluireu não gostava muito da Tessa mais de uns capitulos para ca eu começei a gostar dela
Ai meu Deus quem vai ser a Próxima a morrer
Número de Capítulos alterado.
ResponderExcluirAo invés de 18, agora vão ser 19 =D
Que bom,teremos um capitulo a mais :D
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