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[Livro] Hell Yes - Capítulo 9: Garotas Levadas Adoram Cemitérios

- Taylor, é o vigésimo recado que eu te deixo. Por favor, me liga, preciso saber onde você está e se você está bem – Camerom suspirou, não sabia mais o que falar depois de vinte mensagens de voz que deixara para Taylor – Apenas... Me ligue – Ele apertou “end” e jogou o celular na cama.

- Creio que o feitiço de localização não deu muito certo – Rebecca estava deitada na cama de bruços folheando uma revista, enquanto balançava suas botas pretas.

- Feitiços mentais são muito difíceis. Se eu tivesse alguma coisa dela, ajudaria. Mas tudo o que ela tem é seu – Camerom sentou-se na cama e suspirou, estava cansado de tanto tentar encontrar Taylor.

- Já faz dois dias, Cam. Eu que era a mais interessada nela sumir, estou preocupada... – Ela olhou ao redor do pequeno quarto de hotel, tudo parecia sujo e pequeno – E estou com saudades de casa.

- Talvez tivesse valido mais a pena sermos Ativos...

- Corta essa – Rebecca levantou-se – Nada é melhor que a nossa mansão e o nosso trabalho, me sinto dentro de um livro do Stephen King.

A conversa foi atrapalhada pelo toque do celular de Camerom. Ele e Rebecca trocaram um olhar, ambos esperavam que fosse Taylor. Ele pegou o celular e viu um numero desconhecido no visor.

- Alô?
  
- Camerom... Camerom Van Der Lance?

- Sim. Quem fala?

- Axel Hevovich. Estou com um problema.

Do outro lado da linha, Axel tentava dirigir e conversar com Camerom sem que isso lhe causasse um acidente. Mas ele estava desesperado. Nate e Emma estavam no banco de trás, já cientes do que iria acontecer. Ele estava no colo de Emma, com a garganta doendo, tentando se controlar e não sentir o cheiro gostoso que Emma e Axel tinham. Ele sabia que se bebesse sangue humano, assinaria seu contrato para sempre como imortal e teria que matar outras pessoas para sobreviver.

Emma chorava, mesmo dizendo palavras de consolo a Nate, que já estava mudando. Sua pele branca já estava pálida como de um defunto e ele tinha olheiras. Sua pele estava tão gelada que Emma se assustou quando ele segurou sua mão, mas não recuou, apertou a mão dele com todas as forças para transparecer confiança.

- Na verdade, dois problemas – Continuou Axel, no celular – Mas primeiro, você conhece algum feitiço para reverter uma transformação de vampiro?

- O que? Você está se transformando? – Camerom levantou-se da cama, aquele era um assunto serio, já que ele sabia que nem o melhor dos caçadores conseguiria conter a fome como recém-criado.

- Eu não, mas caso não haja cura, terei que matar alguém que não quero.

- O que? – Nate gritou.

- Se acalma – Pediu Emma.

- Taylor está com você? – Perguntou Camerom.

- Quem é? – Rebecca ficou curiosa.

- Ela foi levada até o cemitério Saint Jacob, acho que vão fazer um ritual. Temos que ir pra lá.

- Certo. Traga quem foi mordido até aqui e Rebecca vai com você ao cemitério. Estamos no Hotel Frontier.

- Sei onde fica – Axel desligou e jogou o celular no banco ao lado.

- Eu não quero morrer... – Sussurrou Nate, tentando chorar, mas não havia lágrimas.

- Você não vai morrer! – Emma relutou para sua voz sair firme e confiante, mas nem sabe se conseguiu.

Axel olhou pros dois pelo retrovisor, Emma estava olhando pra ele também. Nate fechou os olhos, estava se concentrando para não pular no pescoço de Emma e drenar todo seu sangue.  Mesmo que parecesse tentador, ainda era errado e bizarro.

Quando chegaram ao hotel Frontier, Axel saiu do carro e abriu a porta para Nate e Emma saírem. Eles viram que Camerom e Rebecca estavam andando na direção deles.

- São eles? – Perguntou Nate, sentindo uma forte atração pelo sangue de Camerom.

- Sim – Respondeu Axel – Obrigado por me ajudar – Ele disse à Camerom.

- Certo – Ele olhou para Nate, que parecia um zumbi. Ele parecia fraco, mas estava bem longe disso – Creio que ele é o infectado.

- Vamos ao cemitério – Disse Rebecca – Ninguém que não seja Cam vai usar minha prima em algum feitiço – Ela entrou no carro e esperou por Axel.

- Venham comigo – Camerom começou a andar e Emma e Nate o seguiram.

Axel entrou no carro e partiu junto de Rebecca, ele só esperava que Nate conseguisse resistir a tentação do sangue, não queria que nada que Penn fizesse desse certo, muito menos transformar um pobre garoto em uma criatura grotesca.

Camerom, Nate e Emma entraram no quarto do hotel. Ela ajudou Nate a se sentar na cama e ele gemeu, estava sentindo que estava quase no seu limite.

Camerom logo tratou de abrir o livro e procurar a parte sobre reversão de transformação. Nunca havia feito um feitiço desses e estava um pouco inseguro sobre suas habilidades, afinal, ele era um feiticeiro por causa de uma linhagem de sangue, mas isso não significava que ele era capaz de realizar todos os feitiços do livro de mais de mil paginas.

Quando encontrou o feitiço, percebeu que era simples e suas esperanças de que desse certo aumentaram.

--

- Estamos chegando? – Perguntou Rebecca, quando notou que as ruas estavam ficando escuras demais.

- Estamos – Respondeu Axel, a voz quase trêmula.

Rebecca olhou pra ele, notou que estava soando e parecia estar muito afetado. Não fazia idéia do que tinha acontecido, mas se ela pudesse chutar, falaria que ele está assim por causa de Taylor. E até vê-a em segurança, o nervosismo iria consumi-lo.

- Chegamos – Axel deu uma freada brusca, Rebecca quase voou pela vidraça.

Ela abriu a porta e saiu, assim como ele. Ela tirou a pequena arma que ficava presa na sua perna e quando olhou para Axel, percebeu que ele já estava com a sua. Eles andaram até o enorme portão do cemitério e logo viram um homem caído sangrando no chão. Trocaram um olhar, mas foi Rebecca quem se atreveu a chegar perto para ver se ele estava morto. Ela colocou dois dedos no seu pescoço e depois virou-se para Axel.

- Está morto – Ela olhou novamente para o homem – E não foi uma morte normal.

- Como?

- Ele tem ferimentos... – Rebecca analisou o corpo do homem morto, não perdia nenhum detalhe – Que foram feitos de dentro pra fora... – Ela olhou para o cemitério assim que ouviu o uivo de um lobo.

Axel pensou no que ela havia dito. Apesar de já ser experiente no mundo sobrenatural e ter visto muitas criaturas, nenhuma seria capaz de causar ferimentos de dentro pra fora.

- Ta rolando uma coisa bem pesada por aqui – Disse Rebecca, sem tirar os olhos do cemitério – Acho que estão nos esperando... Deus, que não seja uma suruba de zumbís...

Axel passou por ela com sua arma em posição de ataque. Ele abriu o portão e ambos entraram. Começaram a andar entre os inúmeros túmulos, olhando para todos os lados procurando Taylor.

Um ruído fez Axel parar. Rebecca avançou uns dois passos, mas olhou pra trás quando percebeu que ele havia parado. Ela ficou calada, sabia que ele tinha um motivo. Axel estava ouvindo um gemido, bem fraco, e tentou seguir o som. Ele andou para perto das grandes tumbas, feitas para colocar o corpo dos ricos e dos que se não misturavam quando vivos. Rebecca o seguiu e depois de alguns passos também começou a ouvir. Só que seus sentidos eram muito mais aguçados que os de Axel e ela foi na direção da enorme tumba cinza. Ela pegou na grade, percebeu que estava aberta e lançou um olhar para Axel.

- O som vem daqui...

- Vamos entrar – Axel passou por ela, ignorando seu olhar de aviso.

Rebecca estava achando que era uma armadilha. As coisas estavam fáceis demais e quando estão assim é porque o inimigo já os está esperando. Mas mesmo assim, ela não poderia deixar Axel seguir sozinho. Desceu os degraus cheios de barro com cautela, queria estar pronta para qualquer coisa.

Axel já estava andando num corredor onde havia água no chão, algum cano estava quebrado, mas quem precisaria de água ali? Rebecca o seguiu, olhando pra tudo, suas botas faziam barulho na água que havia lá e era com este barulho Axel conseguia saber que ela estava bem atrás dele.

Os gemidos ficaram mais fortes, e Axel já sabia de onde vinha. Ele deu um chute na enorme porta marrom à sua frente e entrou na sala dos cadáveres. Taylor estava pregada a uma cruz no fundo da sala, com os braços esticados e as pernas juntas igual Jesus Cristo. Axel correu até ela enquanto Rebecca ficou na porta, olhando Axel tentando tirar Taylor dali. Ele logo notou que sua boca estava costurada, ela nem conseguia falar, apenas gemia. Ele também notou que ela estava realmente pregada e não sabia como tirá-la dali sem machucá-la.

- Eu vou te tirar daqui, Taylor – Ele disse e olhou nos olhos dela.

Por um segundo, Axel sentiu como se uma fagulha tivesse iniciado um incêndio dentro dele. Taylor o fitava nos olhos, lágrimas caiam de seus olhos, ela suplicava por ajuda e isso partiu seu coração, que nem sabia porque ele estava com mais pena de Taylor do que sentiu de qualquer pessoa que salvara ou que estava em situação semelhante.

Rebecca cruzou os braços e deu um ar de risos, não acreditava no que estava vendo, estava tirando suas próprias conclusões com a cena e não eram das melhores, ou pelo menos, ela pensava que Axel viu as coisas assim.

Foi só Axel lembrar que Taylor podia se regenerar que teve uma idéia, mas seria muito dolorosa.

- Taylor, preciso que confie em mim agora. Você pode fazer isso?

Ela balançou a cabeça positivamente.

Axel olhou para o braço dela e engoliu em seco, estava prestes a arrancá-la da cruz. Ele puxou sua mão, que foi rasgada. Taylor gritou, mas o único som que saiu foi um gemido alto. Ela olhou pra mão rasgada, ela estava se regenerando. Axel, então, puxou a outra mão, que também rasgou e regenerou-se rapidamente. Com os pés, ele fez a mesma coisa, mas não conseguiu olhar, eles ficaram piores que as mãos e era horrível, mesmo sabendo que iriam se regenerar em questão de segundos.

Assim, Taylor livrou-se da cruz e só faltava tirar o fio de sua boca. Ela caiu no chão, estava fraca e Axel pensou que ela poderia entrar em choque por causa da dor. Ele se abaixou e perguntou se ela estava bem. Ela olhou pra ele, e ele sentiu outra onda de pena, que também não entendia. Por que ele estava salvando aquela criatura, mesmo?

Taylor olhou pro lado e respirou fundo. Colocou a mão na boca e puxou com todas as forças o fio que a prendia. Sua boca rasgou e ela finamente conseguiu dar o grito que tanto queria. Axel virou o rosto, a boca dela havia ficado de um jeito indescritível.

A dor logo passou, a regeneração foi rápida. Rebecca se aproximou deles e olhou para Taylor. Não sentia pena, mas achava que ela deve ser uma pobre coitada para alguma outra pessoa, ou aquele era seu orgulho falando? Não bastava ter visto amigos e pessoas da família morrerem, teve que ir pro inferno. E se passou 40 anos pra ela poder sair, mas ainda estava sendo perseguida na Terra. Era a pessoa mais azarada que Rebecca conhecia.

- Você está bem? – Perguntou Axel novamente.

- Vou ficar. Vocês não deveriam ter vindo, vocês não sabem quem está aqui...

- Quem está aqui? – Rebecca não demonstrou medo algum, muito pelo contrário, Taylor pôde perceber o tom desafiador de Rebecca, ela estava querendo brigar.

- Me dá uma arma, quero atirar na cabeça dessas desgraçadas – Taylor estendeu a mão para Axel, que lhe entregou a arma que estava presa em sua perna.

Ela se levantou do chão sujo e abriu a arma, ela estava completamente carregada. Depois fechou e a destravou.

- Por que fizeram isso com você? – Perguntou Axel.

Rebecca fitou Taylor, notou algo estranho. Ela não estava mais com a expressão de vadia superior que nunca saia de seu rosto e sim com um rosto sádico e macabro. Taylor estava observando a arma, querendo encontrar a assinatura do criador.

- Taylor – Chamou Axel.

- Axel sai! – Gritou Rebecca antes de Taylor apontar a arma pra ele.

Rebecca empurrou Axel pro lado e Taylor puxou o gatilho. A bala passou de raspão pelo ombro de Rebecca. Um sorriso diabólico brotou nos lábios de Taylor, eles ainda sangravam por causa dos ferimentos.

No chão, Axel e Rebecca olharam pra ela, assim que seus olhos ficaram vermelhos sem íris. Ela coçou a cabeça com a arma e disse:

- Aqui não é mais a Taylor, me desculpem.

- Ela foi possuída... – Concluiu Rebecca, segurando seu ombro que sangrava.

- Exatamente. Você é bastante esperta, com certeza é uma Van Der Lance. Mas não tenho do que reclamar sobre o Hevovich, ele só não foi tão eficiente porque deixou seus sentimentos atrapalharem sua noção – Ela sorriu pra ele – Não se preocupe, eu não julgo ninguém, qualquer um se apaixonaria pela vadia linda e loira que brinca com seus sentimentos.

- Vai pro inferno! – Ele gritou.

- Bem que eu queria, acho esse lugar frio demais.

Rebecca olhou pra sua arma , estava há dois metros dela e só precisava que Taylor se distraísse para que pudesse pegar. Axel, por sua vez, não tirava os olhos da Mono-Hades vadia que havia possuído o corpo de Taylor.

- E pra vocês verem que não sou tão mal, devo informar que estava certa sobre as inimigas. Elas estão aqui e estão doidinhas pra brincar com vocês.

- Já chega, Manuella – Ordenou Minerva, sua voz angelical ecoou na sala.

Rebecca e Axel voltaram o olhar para a entrada, viram uma garotinha com uma fita roxa no cabelo e uma boneca de pano nas mãos. Seu vestido era branco e ia até os joelhos, e era amarrado por uma fita roxa na cintura.

- Se você não parar, não vai sobrar diversão alguma para Pietra – Minerva deu dois passos.

Ao seu lado, uma figura estava se formando. Alguem estava andando até ela, com certeza sua comparsa. Quando a pessoa misteriosa apareceu na luz, percebeu-se que era uma mulher que aparentava ter uns trinta anos e estava com um vestido azul e os cabelos ruivos presos num rabo de cavalo. Axel a reconheceu imediatamente, já havia topado com ela certa vez, e preferiria nunca mais tê-la visto em sua vida.

- Pietra... – Sussurrou Axel.

- Não me diga que você conhece ela – Rebecca olhou pra ele.

- Eu gostaria de nunca ter conhecido...

--

Nate sentou-se numa cadeira que ficava no centro do quatro de hotel a pedido de Camerom. A aquela altura, seus olhos já estavam mudando de cor, estavam pretos, como se ele estivesse morto, e de certa forma, ele estava. Emma ficou ao seu lado, colocou sua mão em seu ombro e prometeu que tudo iria ficar bem. Depois, olhou para Camerom, que lia seu livro de magia com bastante atenção.

- Então, você é um bruxo? – Ela perguntou.

- Mais ou menos – Ele respondeu, sem tirar os olhos do livro.

- Espero que você consiga ajudá-lo... Ele não merece isso... – Ela olhou para Nate, ele parecia estar sentindo náuseas.

- Eu vou tentar... Vai depender muito dele também...

- Ai meu Deus, andem logo com isso – Suplicou Nate – Minha garganta está em chamas.

- Muito bem – Camerom aproximou-se dele, ficou em pé a sua frente e colocou a mão em sua cabeça. Ele fechou os olhos e se concentrou.

Logo vieram dezenas de palavras em latim, que nem Emma e nem Nate conseguiam entender. Foi aí que o quarto começou a ventar. Nenhuma janela estava aberta, muito menos a porta, mas de alguma forma, havia ventos de chuva que derrubavam objetos e fazia seus cabelos voar.

Nate já podia sentir o efeito do feitiço. Além do incômodo na garganta e da vontade de correr, ele podia sentir algo penetrando seu corpo. Não era nada físico, era como uma força agindo dentro de si. Seu coração começou a palpitar e ele ficou alegre, afinal, estar com seu coração batendo era um bom sinal, o feitiço estava funcionando.

Emma fechou os olhos e segurou mais forte no ombro de Nate. Olhou de relance para Camerom e percebeu que seus olhos azuis brilhavam como águas cristalinas.

De repente, Nate começou a sentir contrações. Ele segurou sua barriga e gritou, e isso espantou Emma. Mas Camerom não parou e isso fez Emma acreditar que aquilo estava acontecendo porque o feitiço estava dando certo. Mas por dentro, Nate não estava bem. Seu coração batia e seus pulmões puxavam ar, mas isso era como se mil facas atravessassem seu corpo ao mesmo tempo. Aquilo era normal? Se era, então deveria valer a pena.

Nate deu outro grito quando sentiu sua coluna vertebral se deslocar, ele teve a sensação que ela estava viva e iria sair de seu corpo. Ele estava mudando, de alguma forma, mas ele só queria que aquilo parasse. Emma começou a chorar ao ver o sofrimento do amigo e começou a orar mentalmente para que aquilo passasse e eles voltassem a sua vida normal, mas daquele jeito, seria difícil ter fé.

O cérebro de Nate começava a latejar enquanto o feitiço ia seguindo, era insuportável, ele já estava achando que nada valia aquilo. Foi ai que ele levantou da cadeira e mordeu o pescoço de Emma, que só pôde gritar. Camerom viu a cena e tentou impedir, mas levou um empurrão e voou até a penteadeira, derrubando tudo que estava nela. Quando percebeu o que havia feito, Nate jogou Emma no chão e olhou pra ela, estava chorando e cheia de sangue. Ele queria pedir desculpas, queria voltar atrás, queria ter continuado no feitiço ou até nunca ter nascido, mas nada doeria tanto como a expressão de Emma.

Seu estômago embrulhou e ele preparou-se para vomitar, mas nada saiu a não ser oxigênio. Seu coração parou de bater e sua boca começou a doer. Ele sentiu suas presas saindo pela primeira vez, afiadas como dentes de tubarão, tão mortais quanto qualquer coisa. Ele ouviu Camerom dando um clique em sua arma, mas foi bem mais rápido, correu pela janela numa velocidade incrível e atravessou o vidro, antes que a bala o acertasse.

Camerom abaixou a arma e suspirou, derrotado. Aconteceu o que ele temia. Passou-se muito tempo desde que Nate morrera com sangue de vampiro em seu organismo, o feitiço não iria adiantar para aquele estágio de transformação, só funcionária nas primeiras horas. Mas aquilo não era o mais importante, não com Emma ao lado dele sangrando no chão e berrando por causa do que aconteceu.

Lá fora, Nate corria entre as árvores, experimentando pela primeira vez como era correr a mais de duzentos quilômetros por hora. Mas isso era o de menos. Ele só tomara um pouco de sangue de Emma, sua garganta ainda ardia e pedia por mais. Ele sentiu o cheiro de humanos por perto e correu até lá. Encontrou outro hotel atrás da floresta, onde viu um grupo de amigos saindo de uma van. Ele sabia o que tinha que fazer.
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- Essas são minhas chefes – Disse Manuella, ainda usando o corpo de Taylor como recipiente para poder andar pela Terra – Vocês dois são tão sortudos. Sabem quantas pessoas tiveram o privilégio de ver Pietra ao vivo e a cores?

- Poupe-nos, Manuella – Disse Minerva, aproximando-se, seus sapatinhos brancos de criança faziam barulho na água suja – Você pode ir agora – Os olhos de Minerva ficaram completamente roxos e brilharam.

O efeito em Manuella foi intenso, ela caiu no chão e deu um grito, parecia estar sentindo dor. Foi então que ela cuspiu um animal que fazia um barulho estridente, parecia um mini lagarto de duas pernas, que correu passando por Minerva e depois virou fumaça. Rebecca aproximou-se do corpo de Taylor e tentou acordá-la, mas ela não reagia.

- Ela vai ficar bem, precisamos dela – Os olhos de Minerva haviam voltado ao normal.

- Taylor, acorde – Pedia Rebecca, dando pequenos tapas no rosto dela até ela acordar.

Ao abrir os olhos, Taylor imediatamente puxou a jaqueta marrom de Rebecca e inspirou profundamente, ela sabia que havia sido possuída e sentia como se não respirasse há dias, se é que isso seria possível.

- Você está pronta, Pietra? – Perguntou Minerva.

- Sim.

- Pena que não vou poder ficar, vai ser um show e tanto – Uma fumaça roxa formou-se e Minerva desapareceu por trás dela.

Axel aproveitou a distração para pegar a arma que estava no chão. Ele apontou para Pietra, que não moveu-se um só centímetro e ainda deu uma risadinha. Ele destravou a arma e apertou o gatilho, mirando na cabeça dela. A bala atravessou sua cabeça, mas ela não caiu. O impacto fez sua cabeça ir pra trás, mas logo voltou, mostrando que um tiro na cabeça não a mataria. Nem sangue escorria do buraco onde a bala penetrou.

- Humanos... Tão estúpidos... – Ela fez um gesto com a mão e o corpo de Axel foi lançado dois metros pro lado, dando de encontro com a parede de tijolos pretos.

- Axel! – Taylor gritou e logo olhou para Pietra.

- Você sabe o que fazer pra impedir que eles morram, não sabe?

Taylor empurrou Rebecca e levantou-se do chão. Fitou Pietra com olhos cheios de ódio, e sua única vontade era de atravessar seu braço no corpo dela, mesmo achando estranha esta vontade especifica.

Ela fechou sua mão direita num punho e raciocinou. Pietra não estava querendo nada desesperadamente ou então já teria matado Axel ou Rebecca. E não fez muita coisa com Axel, já que ele poderia ter um destino pior do que ser jogado contra a parede. Então, o que ela queria? Naquelas condições, Taylor não faria nada que beneficiasse ela ou Minerva ou qualquer outra criatura do inferno.

- O que você quer?

- Quero que você morda um deles.

- Ou? – Taylor levantou a sobrancelha.

- Os levo comigo pra um lugar que você conhece muito bem. E você sabe que eu posso. Sou a Rainha dos Condenados.

- Então eu quero te ver tentar – Taylor correu e lhe deu um soco, que foi imediatamente interrompido pela velocidade com que Pietra segurou seu punho.

Taylor então tentou um chute, mas com o mesmo braço, Pietra o bloqueou. Ela levantou o dedo indicador da mão esquerda e o moveu. Taylor saiu do chão, estava suspensa no ar e logo foi arremessada até o fim da sala, quebrando a cruz onde estava amarrada no começo.

- Não temos tempo, Taylor. Eu realmente não quero machucar você ou seus amigos, mas você precisa se transformar.

Taylor levantou-se do chão, notou que seu braço estava sangrando, pois havia um ferimento, que logo foi fechado. Ela empurrou uma madeira que estava encima da sua perna e a jogou pro lado. Fitou Pietra, novamente com ódio. Ela não podia se transformar, de jeito nenhum, não podia virar um monstro.

- Eu nunca vou fazer o que você está pedindo.

- Tudo bem – Pietra olhou para Rebecca.

Rebecca, por sua vez, virou o rosto para ela quando percebeu seu olhar. Com um movimento das mãos, Pietra implementou uma doença em Rebecca, que a fez cuspir sangue na mesma hora. Sua barriga começou a doer e ela a agarrou, dando um grito.

- O que você fez? – Perguntou Taylor, aos gritos.

- Câncer no estômago. Quer mais?

Rebecca cuspiu sangue novamente e olhou para Pietra, ela estava fazendo outro gesto com as mãos. Imediatamente a pele de Rebecca começou a empolar, estavam nascendo feridas em seu corpo, bolhas de pus e sangue. Ela ficou horrorizada e deu mais um grito, estava achando que ia morrer.

- Pare! Pare! – Ordenou Taylor.

Pietra olhou pra ela com um sorriso falso.

- Você quer que eu pare, mas o que você vai me dar em troca? – Ela olhou para Axel e fez outro movimento com as mãos.

Ele, que estava desmaiado, abriu os olhos no mesmo instante quando sentiu o osso de sua perna dar a volta. Ele gritou, como nunca havia gritado antes e os olhos de Taylor se arregalaram. Ela podia ver o osso de sua perna pra fora e a sua agonia. Agora sim Pietra estava passando dos limites.

- O que você acha se eu quebrar a outra perna também?

- Pietra, não! – Gritou Taylor, mas já era tarde demais.

Pietra quebrou a outra perna de Axel, formando outra fratura externa. Ele gritava sem parar e isso só piorava aquela sensação de morte que Taylor sentia no peito. Ela só queria que ele parasse de gritar pra poder pensar, ou que ele desmaiasse de tanta dor, e talvez até que morresse, mas não queria vê-lo agonizando daquele jeito.

- Última chance – Disse Pietra.

Taylor olhou pra ela, com angústia, estava implorando pelo olhar, só que sabia que seria impossível Pietra desistir daquilo. Era o único jeito fazer o que ela queria, mas tinha um plano.

Foi só Pietra levantar as mãos que Taylor correu e mordeu o pescoço de Axel. Ele deu outro grito enquanto estava sendo sugado. E aquilo acabou dando prazer a Taylor. Seu sangue era gostoso e quando encontrava seu estômago, se tornava a melhor coisa do mundo. Ela quase não conseguia parar.

Pietra sorriu, finalmente Taylor iria se transformar e isso significava que os planos de Minerva estavam prestes a se concretizar.

- Taylor! Não! – Gritou Rebecca, tossindo, ainda cuspindo sangue.

Taylor não estava ouvindo nada que não fosse os batimentos do coração de Axel ou o sangue passando por sua garganta.

- Por favor... – Sussurrou Axel – Não...

Quando ouviu sua voz, ela hesitou. Tirou os dentes de seu pescoço e raciocinou. Afastou-se alguns centímetros e olhou em seus olhos, ele parecia estar morrendo. Ele apertou a blusa suja de Taylor e tentou dizer algo, mas sua voz não saia. O sangue estava saindo de seu pescoço e tinha um ótimo cheiro, mas Taylor não estava mais ligando pra isso.

O sorriso de Pietra desapareceu completamente. Só o que ficou estampado em seu rosto foi a perplexidade do que estava vendo. Os Ereptus eram uma espécie nova, mas em sua experiência, nunca tinha visto algum deles que tivesse provado sangue e parado pelas súplicas da vítima. Taylor realmente era especial, como Minerva dizia.

Taylor começou a se debater no chão quando sentiu uma dor enorme na sua cabeça. Estava latejando, parecia que iria explodir. Ela caiu perto de Rebecca, que já estava no chão, morrendo aos poucos enquanto seu estômago e sua pele estavam sendo destruídas.

- É a transformação – Disse Pietra, com orgulho – Finalmente...

Taylor olhou para ela, seus olhos estavam vermelhos e sua boca tinha presas iguais de tubarão. O sangue de Axel ainda pingava de sua boca e seu raciocínio era igual o de um animal. Ela não estava assimilando que Rebecca e Axel estavam morrendo bem perto dela, seu instinto dizia que ela precisava matar Pietra primeiro. Alguma parte humana ainda estava nela, com certeza.

E sem hesitar, avançou em Pietra com uma velocidade incrível, ela mal teve tempo de desviar ou parar. Quando deu por si, Taylor já estava mordendo seu pescoço e comendo sua pele. Ela soltou um grito, nunca alguem tinha ferido ela daquele jeito. Seus olhos ficaram azuis sem íris alguma e seu grito formou um fogo azulado no céu que tapava completamente o teto do local. Taylor arrancou pedaços de seu pescoço e arranhou seu peito, estava matando Pietra.

Axel olhou pra cena, ficou decepcionado com Taylor agindo daquele jeito, mesmo sabendo que Pietra merecia por tudo o que fez. Rebecca também olhou, pensando que aquela seria a ultima cena que veria na vida. Lembrou-se logo que era uma Van Der Lance e desde o dia que nasceu seu destino estava traçado, ela, como todos os outros, iria morrer lutando contra o mal.

Taylor só soltou Pietra quando viu que ela estava morta. O fogo azul cessou, assim como tudo o que Pietra havia feito contra Rebecca e Axel. Milagrosamente, as pernas de Axel voltaram ao normal e as doenças de Rebecca se curaram. Taylor notou o que havia feito e começou a chorar. Ela olhou pras próprias mãos, estavam grossas e suas unhas enormes.

Rebecca levantou do chão e deu alguns passos na direção da prima, que se virou para ela com um rosnado. Rebecca fitou as presas dela cheias de sangue, e sentiu um aperto no peito. No final, ela realmente havia se transformado naquilo que não queria.

Quando Taylor notou o olhar de Rebecca, percebeu que não tinha mais que ficar perto dela ou de ninguém. Ela correu para fora da tumba e depois entre os diversos túmulos do cemitério, esperando que nem Rebecca e nem Axel se atrevesse a procurá-la novamente.

Ela avançou rapidamente até as estrada e no segundo em que parou para respirar, foi acertada por um carro que saiu do nada. O carro a lançou longe com facilidade e deixou seu corpo cheio de fraturas externas e internas que foram se regenerando muito mais rápido agora que ela era definitivamente um monstro.

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2 Comentário(s)

2 comentários:

  1. Oi Nefferson!!!
    Seria esse o livro que gostaria que ajudasse na divulgação?
    Claro, o que precisa que eu faça? só falar, estou a disposição.
    Também adoro seu blog, conheci a trilogia Possuída através daqui.
    abraços

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  2. Me adicione no msn para que a gente possa conversar,
    nefferson_2@hotmail.com

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