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[Livro] Hell Yes - Capítulo 3: Vale da Morte


- Eu disse que era perigoso – Camerom usava um tom acusador em sua voz

- Me desculpe, a ultima vez em que estive aqui, caçadores davam a vida para me proteger – Taylor limpou o sangue de sua boca com um lenço – Aquele cara tem uma força enorme, estava quase quebrando meu queixo com aqueles tapas. Quem é ele? – Taylor olhava para Camerom atrás de si pelo espelho que estava à sua frente.

Atrás de Camerom, ela podia notar algumas armaduras paradas, como se aquilo fosse um castelo, mas ainda era a família Van Der Lance, eles eram estranhos e colecionavam um monte de porcarias nos poucos anos em que conseguiam viver.

- Axel Hevovich – Respondeu Camerom – Um ótimo caçador ativo.

- Vai me explicar o que significa ativo no mundo caçador ou terei que fazer uma associação homossexual?

- Ativo significa em movimento. Ele não faz missões apenas numa cidade, é um viajante.

- E você é passivo? – Taylor olhou para ele, sorrindo.

- Nos denominamos fixos, é mais perigoso.

-Por que?

- Sabem onde você está, onde te encontrar.

- Qual o problema dos ativos? – Taylor amassou o lenço nas mãos e jogou pro lado. Logo sentou-se de frente para Camerom encima da mesinha do lado, apoiando as duas mãos nela.

- Como assim?

- Já conheci muitos. Alguns perderam a vida tentando me proteger e outros perderam os movimentos de alguma parte do corpo. Digamos que estes tiveram sorte. Mas, todos tinham o mesmo olhar.

- Que olhar?

- De que uma dor muito grande queimou seus sentimentos.

 Camerom percebeu o olhar de Taylor pra cima dele, ela estava tentando decifrá-lo. Ele sabia que olhar era este, e como sabia. Era obrigado a encará-lo todos os dias na frente do espelho. E Taylor também havia percebido. Então, não era apenas uma coisa dos caçadores ativos, era simplesmente uma coisa de caçador. Mas, a associação feita por Taylor fazia muito sentindo, considerando que noventa por cento dos ativos tinham sofrido no passado, algo como pais sendo mortos por alguma criatura ou crescer com um pai que só pensa em destruir monstros. Pelo que Camerom sabia, Axel não era tão diferente.

- Aquele cara... -Começou Taylor, olhando pro chão, estava lembrando do olhar de Axel - Esse tal de Axel. Ele era... Diferente. Qualquer caçador teria me matado quando soubesse que eu não sei de nada, mas ele hesitou.

- Ele viu a mãe e o pai sendo assassinados por um vampiro, depois foi adotado por um homem que batia nele e ensinou a caçar coisas. Depois disso foi obrigado a dar um tiro na cabeça da namorada porque ela havia virado vampira. Sem falar que muitos caçadores dizem que ele viu seu irmão sendo puxado para o inferno. Ele não é do tipo que tem misericórdia de alguma coisa, acredite.

- E ele vai vir atrás de você de novo – Rebecca apareceu no hall de repente, e logo suas botas grandes e pretas fizeram um barulho no chão.

Taylor e Camerom voltaram seu olhar para ela. Ela tirou um cigarro do bolso e um isqueiro do outro. O acendeu e deu uma tragada, aquela cena era deprimente para Camerom.

- Não me diga que ele é vingativo – Ironizou Taylor, todos os caçadores são vingativos.

- Você está muito despreocupada pra quem quase foi morta duas vezes só num dia – Provocou Rebecca.

- Está me dizendo que estou à beira da morte de novo?

- Não, só disse que você não sabe pra onde vai se morrer de novo. E eu conheço um lugar pra onde sei que você nunca iria querer ir.

- Touché – Taylor levantou uma sobrancelha, estava até gostando da infelicidade de Rebecca ter melhorado seu vocabulário.

Camerom deu as costas para Taylor e andou até sua mochila jogada no chão. O zíper abrindo fez um barulho enorme que ecoou no hall, e Taylor fez uma careta, nunca havia visto ou ouvido barulho de zíper tão alto. Ela olhou para Camerom, ele estava remexendo algumas coisas. Pôde notar quando ele tirou uma estaca e sal grosso lá de dentro, ele realmente estava preparado para tudo.

Ele fechou a mochila e colocou uma das alças em seu ombro direito. Olhou para Taylor e disse:

- Agora só falta o livro de feitiços, e vamos sair.

- Não me diga que vamos voar numa vassoura.

- Vamos romper um selo hoje. Você vai ter que me ajudar, Taylor. Não vivi naquela época e estou longe de ser um bom feiticeiro.

- Você enlouqueceu, Camerom? – Rebecca quase gritou – Não podemos libertar essas criaturas, foram seladas por um motivo.

- Exatamente, porque minha avó queria foder mais ainda com a minha vida. Como se não bastasse ter entregado minha alma pro capeta, selou meus amigos, acho que ela não era muito minha fã.

- Camerom! –Repreendeu Rebecca, novamente num tom repreensivo.

- Não há nada que você possa fazer, Becca – Taylor deu um pulo da mesa e cruzou os braços, fitando Rebecca – Precisamos tirá-los dessa prisão eterna.

- Camerom, eles são criaturas. Brian é um demônio e Jennifer é uma vampira.

-Rebecca, você fez a lição de casa? – Camerom não acreditava que ela estava falando aquilo de Brian e Jennifer, com certeza nunca havia lido uma linha do livro Van Der Lance, não sabia o que eles haviam feito no passado para proteger Taylor.

- Acho que ela estava muito ocupada ouvindo seu disco de vinil gótico.

- Nesta era chamamos de cd, mas vou relevar, você estava tostando, esta deveria ser sua ultima preocupação.

Taylor sentiu vontade de pular no pescoço de Rebecca e matá-la ali mesmo, mas se controlou. Só que seus olhos espelhavam o ódio da garota, que desde o começo tinha mostrado ter sido um pé no saco. Primeiro com a surra que lhe deu, depois com seus olhares depressivos e desconfiados, depois com sua incredulidade a respeito das intenções de Taylor, que por sorte não fizeram a cabeça de Camerom. Mas falar sobre o inferno, isso era demais, ela não sabia nem metade do que era aquele lugar, teria enlouquecido fácil.

- Eu e Camerom vamos libertar meus amigos. Eles vão me ajudar a me manter viva de seja lá quem estiver querendo me matar dessa vez. E se for tão importante pra você, prometo manter a vida de qualquer humano insignificante que aparecer pelo caminho, inclusive a sua, que vai me custar um pouquinho mais de esforço. Se você quiser ajudar, ótimo. Mas se não, preocupe-se apenas com a maquiagem pesada em seu rosto porque calada você vale mais.

Rebecca se calou. Fitou Taylor com um arrependimento, queria ter matado-a antes que Camerom chegasse ao hall quando Taylor invadiu a mansão. Mas sabia que tinha que ajudar. Não porque acha tudo isso certo, mas só porque Camerom decidiu que assim seria. E talvez, bem lá no fundo, Rebecca sentisse pena de Taylor por tudo que passara, qualquer ser humano sentiria.

- Eu dirijo – Rebecca passou pelos dois e agarrou as chaves que Camerom jogou em seu peito.

- Voilá – Taylor comemorou, adorava aquela expressão francesa.

--

- Fala comigo, Axel – Pediu Annie, mas Axel não tirava o olhar sem vida da estrada.

A sede de caçadores estava bem à frente deles, mas eles não saíam do carro. Axel estava pensando na batalha contra Taylor, queria saber quem tinha sido ela quando era de fato humana. Mas sua real curiosidade era saber se o inferno era realmente como ela descreveu. Ele sentia que conseguia ouvir Taylor dizendo as palavras mais sombrias que ele já ouvira. Ele estava desejando nunca ter sabido como era o inferno, não poderia existir nada mais cruel. E sendo assim, não poderia existir um Deus que mandava as pessoas pra lá, nem o assassino de seus pais merecia aquilo, ou merecia?

Annie percebia seu jeito, sabia que ele estava pensando naquilo, e sabia porque. Taylor havia dito uma coisa que ele relutava em saber desde que seu irmão fora para o inferno. Annie lembrou-se de quando ele estava contando a história para Elvira, ela estava espiando pela porta entre aberta. Os olhos de Axel estavam fundos, ele prendia o choro com todas as forças enquanto contava que viu seu irmãos sendo puxado para debaixo da terra por mãos de demônios. Ele deveria estar em choque de saber o que seu irmão deve ter passado por lá.

- Axel? – Disse Annie, tirando-o do devaneio.

Ele olhou para ela, com dúvidas, queria saber se ela sabia no que ele estava pensando, e queria parecer o menos frágil possível.

- Você ta legal?

- Claro, vamos – Ele abriu a porta do carro e saiu.

Annie deu de ombros, se ele não quisesse falar a respeito, era um direito dele, ela já estava cansada de insistir pelas palavras de Axel. Abriu a porta e o seguiu para dentro da casa.

Por fora, uma casa normal. Uma família de classe média parecia morar ali. Tinha parquinho na frente e isso demonstrava que os donos tinham filhos. Da janela aberta podia se ver uma decoração luxuosa, sofás brancos impecáveis e uma TV de plasma enorme, ninguém desconfiaria que aquele era o point dos caçadores.

Os dois subiram as pequenas escadas do pátio e ficaram de frente pra porta onde encararam um interfone branco. Axel apertou um dos botões, aproximou-se dele e disse “Intravenosa”. Annie deu um ar de risos, a senha era completamente nada haver, mas deve ter sido por isso que havia sido escolhida.

Eles entraram, e a casa novamente parecia ser normal. Andaram até a porta do porão e abriram, já podiam ouvir vozes lá embaixo. Fitaram a escada que descia, estava suja, aqueles caçadores não tinham um pingo de higiene. Os dois desceram e logo olharam pro enorme quadro magnético à frente. Paloma, uma caçadora, estava explicando algumas coisas para os demais, que estavam sentados. Parecia ser uma teoria sobre as possíveis ressurreições que andam acontecendo.

- Apocalipse Zumbi? Ta certo – Gargalhou um caçador de barba branca, ele estava conversando em uma roda isolada de Paloma, nem prestava atenção no que ela dizia.

- Isso aqui cheira a ração pra gato – Resmungou Annie, fazendo cara de nojo enquanto olhava para tudo.

- Não sei! – Gritou Paloma, para um caçador estressado à sua frente – Só sei que eles estão saindo das covas e matando pessoas! Me processa, gordo infeliz.

- Axel Hevovich! – gritou Sean, abrindo caminho entre os caçadores – Ele encontrou uma das criaturas! – Sean apontou para Axel.

Todos os caçadores olharam. Axel fez questão de fitar cada um deles no olho enquanto se perguntava porque haviam feito silencio.

- Você podia falar pra gente como ela era? – Paloma fitou Axel, esperando uma resposta. Ela dava cliques intermináveis na caneta que segurava, estava nervosa e ansiosa.

Mas Axel não queria responder. Era perda de tempo dialogar com aquelas pessoas que ele julgava ser incompetentes. Se ele que era um dos melhores havia falhado, com certeza todos que estavam ali também iriam. Mas então não faria sentido ele estar ali, apesar de ser obrigatório. E a garota que enfrentara parecia ser mais humana que muitos ali, não havia mistério nenhum.

- Ela não é um demônio, não reage a água benta. Ela não é uma vampira, ou então teria colocado as presas pra fora. Não possui muita agilidade e nem força, parece uma humana treinada. Ela definitivamente ressuscitou em sua forma humana, mas pra que, eu não sei.

Logo todos os caçadores iniciaram um diálogo sem fim. Um falava com o outro, alguns achavam aquilo impossível e outros diziam que Axel era tão incompetente que nem havia conseguido identificar que criatura ela era. Paloma ainda fitava Axel, aflita. Sabia que tinha algo diferente nele além do olhar desafiador e da sede de caçar coisas.

- O que mais? – Perguntou Paloma.

- Ela estava no inferno, saiu de lá. Provavelmente os outros também.

Mais cochichos se formavam pelo porão imundo de caçadores. E Axel mal conseguia ficar ali dentro sem sentir uma louca vontade de sair correndo atrás de Taylor e de quem a protegeu. Ele sabia exatamente quem a havia protegido, reconheceria Camerom Van Der Lance em qualquer lugar. Mas ainda tinha dúvidas. Por que um caçador fixo de elite como Camerom iria proteger uma criatura? Estaria ele possuído?

- Calem a boca! – Gritou Axel, e todos os olhares se voltaram pra ele de novo – Se vocês quiserem beber e comer como porcos e fazer de suas vidas uma existência sedentária e medíocre, vão em frente, mas pelo menos pensem como caçadores de verdade. Ficar aos cochichos não vai adiantar em nada.

- Parece que alguém sabe exatamente o que fazer – Provocou uma caçadora lá no fundo, suas roupas pretas e apertadas a faziam parecer mais sexy ainda, sem falar que com certeza ela se destacava na multidão – Conte-nos o que um caçador exemplar pensaria.

- Primeiro, temos o mistério das pessoas saindo de túmulos. Depois, precisamos saber porque um caçador como Camerom Van Der Lance me atirou um tranqüilizante pra poder salvar a criatura.

- Nos atirou – Corrigiu Annie.

- E então... – Continuou Axel, olhando de um por um – Vamos matar todos eles, e mandá-los de volta para o inferno, sendo eles qualquer criatura misteriosa que são.

A caçadora misteriosa cruzou os braços e sorriu, era exatamente isso que pensava em fazer, só não sabia por onde começar. Mas ainda tinha dúvidas. Apesar de Axel ser durão e competente, ela não sabia o que ele poderia fazer para encontrá-los.

- E como você pretende encontrá-los? Torturando Camerom Van Der Lance? Quero ver você tentar.

- A vadia loira tem um rastreador com ela, eu mesmo coloquei.

Logo o sorrisinho da caçadora se desmanchou num olhar intenso que demonstrava claramente que ela não sabia o que dizer. Lembrou-se da primeira vez que viu Axel, provavelmente ele não se lembra dela, ele já salvou muita gente para se lembrar de nomes e rosto individualmente.

- Até logo. Paloma – Ele olhou para ela – Diga a Elvira que mandei lembranças.

Axel e Annie retiraram-se dali, tomando cuidado novamente para não escorregar nas porcarias jogadas nos degraus da escada.

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- Está quase amanhecendo... – Taylor olhava pela janela do carro, o céu estava vermelho.

- Está com medo de queimar a luz do sol? – Provocou Rebecca, do banco da frente ao lado de Camerom.

- Isso deve ter soado engraçado no seu subconsciente – Taylor endireitou-se no banco.

Camerom olhou para ela pelo retrovisor, ela estava olhando pela janela, de braços cruzados. Taylor não reconhecia aquele lugar. Só via árvores e mais árvores, não havia passado nenhum ser vivo naquela estrada há horas. E a viagem estava tediosa. Nem saber que veria Brian em pouco tempo a fazia ter um pouco de animação. Então, começou a pensar na luta que teve com Axel. Seus movimentos haviam sido surpreendentes, Taylor nunca aprendeu a fazer aquilo, havia apenas tido alguns meses de treinamento de alta defesa com seu avô, mas nada que a fizesse dar um chute no ar daquele jeito.

Lembrou de quando estava lutando contra seu avô, que obviamente sabia o que estava por vir. Ele a observava com cautela, como se fosse perdê-la mais rápido do que imaginava, e era verdade. Todos sabiam o que viria atrás dela meses depois, mas ninguém havia falado. Sua avó vadia e egoísta havia sumido e ela tinha ouvido algumas conversas onde seu avô dizia odiá-la. Mas Taylor não fazia idéia de nada, nunca imaginaria que seu destino era ir para o inferno porque sua avó queria passar o resto da vida nadando no dinheiro.

- Chegamos – Avisou Camerom, tirando Taylor de seu devaneio.

Taylor observou ao redor, estava vendo um pântano perto de onde Camerom havia estacionado. Logo ficou enojada, torcendo para que Brian não estivesse selado ali dentro. Ela saiu do carro logo depois de Camerom e Rebecca, que observavam o pântano.

- Bem-vinda ao vale da morte – Camerom olhou para Taylor, sorrindo.

- Você deveria ter dado um nome menos dramático pra este lugar, Cam – Rebeca fitou o pântano.

Taylor aproximou-se mais do pântano, era mais nojento do que pensava. Aquilo fedia como cadáver e nada crescia ali. A água era uma papa verde que parecia ser uma mistura de lodo com água sanitária. Sem falar nos entulhos jogados por lá, as pessoas se aproveitavam que aquela era uma terra morta e que ficava longe da cidade só pra jogar suas coisas imprestáveis ali.

- Pronta pra mergulhar? – Perguntou Camerom.

- Mergulhar? – Repetiu Taylor – Parece que Brian vai ter que ficar aí pra sempre.

- Estou brincando- Camerom sorriu novamente e andou para a esquerda – Rebecca, pegue o livro dentro do carro.

Rebecca obedeceu gentilmente enquanto Taylor ficava olhando para Camerom. Ela se perguntava como ele iria fazer aquilo e o que iria acontecer depois. Camerom parecia ter grandes habilidades para lutar, com certeza tinha uma mente além de seu tempo, mas seria pedir demais para um garoto de dezenove anos desfazer um feitiço de mais de 40 anos feito por mestres da magia?

Rebecca entregou o livro a ele, que abriu na página onde queria.

- Se ficar perigoso, pare – Instruiu Rebecca.

-Perigoso? –Indagou Taylor.

- Desfazer um feitiço requer muita energia. Desfazer um feitiço feito há anos atrás por alguém 10 vezes mais poderoso que ele, pode ser fatal.

- Eu me viro, Rebecca – Ele começou a ler o livro e depois fechou os olhos, com a cabeça erguida.

Taylor começou a sentir algo estranho, era uma energia, com certeza. Rebecca sentiu o mesmo, mas já estava acostumada, já havia participado de várias sessões de magia com Camerom. Ele estava concentrando suas energias para realizar o feitiço, confiando no poder que tinha.

Quando o vento forte começou a bater, Taylor percebeu que ele tinha muito poder. As folhas mortas estavam voando, os galhos das árvores balançando, os cabelos loiros e longos de Taylor estavam voando para seus olhos, atrapalhando a visão. Quando Camerom começou a falar, o vento ficou mais forte.

- Proin dominus sum unus de filiis tuis, da mihi potestatem- Repetiu Camerom, três vezes.

- O que ele disse? –Taylor colocou o braço na frente do rosto pra se proteger do vento.

- É latim. Já vai começar - Respondeu Rebecca, assim que o vento cessou.

Taylor podia ver Camerom claramente agora, ele estava se mexendo. Ele olhou para o livro e começou a ler. Rebecca deu um passo para trás e isso fez Taylor se preocupar. Quer dizer que elas podem se machucar no meio do feitiço?

- Fiquem quietas – Camerom olhou para as duas, o azul de seus olhos estava brilhante, quase como neon.

Então, começou a ler o que estava escrito no livro. No começo nada aconteceu, mas depois, o vento voltou. A água do pântano começou a borbulhar. Quanto mais Camerom exclamava as palavras em latim, mais a água borbulhava. Logo ouviu-se um barulho de um trovão e Rebecca começou a se proteger com o braço.

Taylor havia percebido que aquele era um grande feitiço, nunca viu nada assim. A ultima vez que assistiu algum feitiço, foi tão rápido que ela parou de ter inveja por não ter poderes de bruxaria. Mas aquilo, era sério. Ela lembrou-se novamente de sua avó, certamente havia feito aquele feitiço para destruir mais sua vida, não sabia que ódio era aquele.

Logo, o nariz de Camerom começou a sangrar. Seus olhos giraram e ficaram brancos, ele sabia que era arriscado, mas precisava continuar.

Até que, tudo parou. Camerom caiu no chão e Rebecca correu para ajudá-lo. O pântano parou de borbulhar e o vento novamente havia cessado. Rebecca colocou a cabeça de Camerom em sua perna e bateu em seu rosto.

- O que aconteceu? – Perguntou Taylor.

- Acorda, Camerom! –Rebecca gritava e dava tapas em seu rosto.

Camerom abriu os olhos, devagar, e Rebecca agradeceu a Deus por dentro. Ele piscou algumas vezes e depois olhou para ela, que já estava começando a lançar um olhar repreensivo para ele. Ele ficou de pé e olhou para Taylor.

- Está feito – Ele disse, enxugando o sangue de seu nariz.

- Não estou vendo nada –Reclamou Taylor – Onde está Brian?

- Se eu fosse você, me preocuparia mais com o Protetor.

- Que protetor? – A pergunta de Taylor foi respondida quando uma criatura com a forma de um lagarto pulou do pântano.

A criatura tinha dois metros e olhos vermelhos demoníacos, sem falar na sua enorme calda que parecia uma espada.

- Que droga é essa? – Gritou Taylor.

- Quando se quebra um selo, eles aparecem.

- Eu te odeio tanto, vovó – A criatura atacou Taylor que deu um pulo mortal como se tivesse feito aquilo a sua vida toda.

- Corram! – Gritou Camerom.

Ele corria na frente enquanto Rebecca estava atrás dele. Taylor estava lá atrás, mais distante, quase sendo pega pela criatura que os perseguia.

Então, a criatura a atacou novamente. Com sua calda, tentou acertar Taylor, que deu um pulo giratório como se fosse um parafuso. Quando caiu no chão novamente, estava mais intrigada. Como ela havia feito aquilo?O que mais sabia fazer?

Na distração, acabou sendo acertada pela criatura com um chute. Taylor deu de encontro com o tronco de uma árvore e sentiu seu braço quebrando. Seus gritos fizeram Camerom e Rebecca pararem de correr. Eles olharam para trás, precisavam ajudar Taylor. Camerom deu um passo, mas foi segurado por Rebecca.

-Não vá!

- Hã? – Camerom olhou para a mão dela no seu braço e depois para seus olhos castanhos.

- Deixe ela, vamos fugir!

- Ela não merece morrer de novo, Rebecca. Ninguém merece ir pra onde ela vai – Camerom soltou-se e correu na direção de Taylor, sacando a arma do bolso.

A criatura recebeu uma sessão de tiros, cada bala penetrada em seu corpo fazia a criatura soltar um gemido estridente horroroso, além de pular sangue verde para fora.

Taylor olhou para seu braço, não sabia, mas sentia que ele estava quebrado em três diferentes partes. E a dor era insuportável.

- Que droga, Camerom! – Gritou Rebecca, e correu atrás dele, com a arma já sacada nas mãos.

Os dois atiravam na criatura, temendo o momento das balas acabar e a criatura ter tempo suficiente para matar os dois. E foi exatamente o que aconteceu. A criatura fitou ambos, com revolta, os mataria ali mesmo. Preparou-se para atacar e correu. Camerom fechou os olhos enquanto Rebecca olhou para trás, estavam aceitando a morte.

Quando sentiu que ainda estava respirando, Camerom abriu os olhos pra saber o que havia acontecido. O monstro estava se debatendo à sua frente, gritando. Foi aí que se deu conta que eles haviam sido ajudados.

Brian estava encima da criatura, dando socos que atravessavam sua pele e faziam o monstro gritar de dor. O sangue verde da criatura jorrava encima de Camerom e Rebecca, que estavam completamente enojados. Taylor olhou para Brian e deu um sorriso, aquele era o Brian que conhecia.

Depois de muito sofrer, a criatura finalmente morreu. Ela caiu no chão e Brian pulou de cima dela. Ele estava completamente pelado, mas coberto da água podre do pântano e do sangue da criatura, que quase não podiam ser distinguidas. Os olhos de Camerom ficaram arregalados, nunca pensou na hipótese de ser salvo por um demônio, e nem que algum faria uma coisa do tipo por alguém. Rebecca também estava espantada, mas não pelos mesmos motivos de Camerom, mas sim porque ele acabou com a criatura em fração de segundos, ficou se perguntando o quão grandioso era seu poder.

Brian tinha o cabelo arrepiado e castanho da cor de seus olhos, que estava cheio de sangue de uma criatura. Seu corpo era perfeito, ele havia possuído um ótimo humano há 41 anos atrás, mas não era muito diferente do que ele era em 1854. Ele estava fitando Camerom e Rebecca, só que com um pouco mais de simpatia.

- Eu estava esperando um obrigado, mas a expressão de espanto no rosto de vocês é impagável – Brian deu um sorrisinho – Espero que o fato de eu estar pelado não tenha colaborado para este olhar.

- Brian!- Gritou Taylor, ela estava caminhando na direção dos três, segurando seu braço – Obrigada por ter me salvado pela milésima vez.

- Como nos velhos tempos.

- Obrigado por ter salvo a vida deles também.

- Pare de agradecer, e me responda como está aqui. Da ultima vez que tive noticiais suas, me disseram que você estava à beira do abismo do inferno e não havia saída.

- Nem eu sei... – Taylor deu um meio sorriso e olhou para Camerom e Rebecca – Estes são os membros da nova geração Van Der Lance, eles são legais.

- Vou apertar a mão deles quando a situação não estiver tão constrangedora – Brian olhou para Taylor, se perguntou porque ela segurava seu braço –Por que você está segurando seu braço?

-Está quebrado...

-Deixe-me ver... – Brian tocou no braço dela, mesmo com as reclamações. Apertou e observou, e concluiu que não havia nada quebrado ali – Seu braço está ótimo.

- Não, eu quebrei! – Indagou Taylor, mas percebeu que não estava sentindo dor. Mexeu o braço normalmente, ele estava intacto – Não é possível... Eu sei que quebrei...

- Acho que não – Brian parecia convicto de que Taylor havia se enganado.

Camerom e Rebecca olharam para ela, com curiosidade, não achavam que Taylor poderia se enganar sobre ter um braço quebrado.

Taylor pensou por um momento, aquilo já havia acontecido, mas ela era uma alma condenada do inferno, foi feita para ser torturada e reconstruída para ser torturada infinitas vezes, seria impossível isso acontecer na Terra, ainda mais quando ela demonstrava sintomas humanos como fome e sono? Não, não seria possível, mesmo porque quando saiu do túmulo, se esfaqueou e o ferimento não regenerou.

Taylor removeu a atadura de sua mão que havia sido ferida por Camerom e percebeu que o ferimento não estava mais lá. Retirou também a atadura do braço que havia esfaqueado para saber se era humana, mas o ferimento de lá também havia saído. Sim, ela havia se curado, mas não sabe como. Na verdade, só pensava em um motivo para isso ter acontecido.

- Eu não sou humana... – Sussurrou ela, decepcionada, sabia que não tinha sua vida de volta.

CAPÍTULO 4: O Baile dos Imortais
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