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[Livro] A Punhalada - Capítulo 2: Pânico Coletivo


- A pergunta do dia é: Qual o seu filme de terror favorito? A policia e a comunidade de New Britain estão chocados com os crimes da noite passada, onde os adolescentes de dezessete anos, Nick Tavera e Jake Lindley, foram brutalmente assassinados e expostos como recado na casa vizinha, no mesmo dia da estréia do tão aguardado filme Pânico 4. Coincidência ou não, não é a primeira vez que um crime desta magnitude acontece. Ano passado, um casal de professores foi assassinado a facadas em sua residência, e a única pista deixada foi a mesma fantasia usada pelo assassino ghostface na série de filmes Pânico. Estamos aqui hoje com um ex-morador local que virou celebridade, Aaron Estwood, o que você acha dos crimes que têm acontecido em sua cidade natal?

Sarah olhava para a televisão com repulsa, enquanto sua irmã Samantha ao lado estava parecendo interessada demais em tudo aquilo. Sarah achava que o programa daquela mulher estava fazendo o mesmo que Gale Weathers nos filmes pânico, usando a tragédia dos outros para obter fama. E Aaron era pior que ela. Desde que virara celebridade, deu as costas para sua cidade e seus amigos e agora fica dando entrevistas polemicas em programas sensacionalistas só para não sair dos holofotes.

- Bom, Casey – Começou Aaron, e logo cruzou as pernas – Acho que o país todo está chocado. Eu mesmo sou um deles, conhecia esses garotos, eles eram duas séries abaixo da minha e eu realmente fiquei muito triste com tudo isso. Nem posso imaginar o que os moradores de lá estão passando...
- Falso – Cuspiu Sarah.

- Cala a boca, me deixa ouvir – Pediu Samantha.

- Você acha que os assassinatos têm alguma relação com o filme? – Perguntou a entrevistadora a Aaron.

Sarah podia ver a falsidade no rosto de Aaron, ela sabia que ele não estava nem aí pra quem morria ou deixava de morrer na cidade em que morara, mas continuou vendo-o na TV, só para ter mais certeza do ponto em que ele era capaz de chegar para aparecer.

- Creio que não, Casey – Respondeu Aaron – Um filme é só um filme, creio que simplesmente algum doente, que tinha uma rincha com aqueles dois, decidiu usar sua mente perversa para o mal.

- E você acha que podem acontecer outros assassinatos?

- Eu espero que não. New Britain é uma linda cidade, não merece ser manchada com vários assassinatos. Falando nisso, estarei lá dia dezesseis, para divulgar meu novo livro chamado “As duas faces”, vou dar uma força para o pessoal de lá, claro, espero que todos possam ler o meu livro.

A platéia gargalhou e Sarah se enojou. Naquele momento, o pai delas passou em frente à TV e a desligou.

- Chega de noticias ruins, chega de Aaron Estwood – Disse ele e sentou-se a mesa da cozinha junto das filhas.

- Pai, eu estava vendo! – Reclamou Samantha – E ele é um gato.

- Não acredito que você gosta dele – Sibilou Sarah – Esse cara é nojento, você soube que ele limpou as mãos com álcool quando cumprimentou alguns moradores daqui?

- Como se não fosse compreensível, tem gente aqui que é realmente nojenta – Samantha fez uma careta para demonstrar que apoiava Aaron mesmo assim. Levantou-se da mesa e deu a volta para beijar seu pai no rosto – Tchauzinho pai. Você não vem, maninha?

Sarah fitava Samantha com discórdia e algo parecido com nojo, que demonstrava claramente que ela odiava a pessoa que a irmã tinha se tornado. E se isso fosse recente, até daria para fazer drama, mas Samantha era assim desde pequena, tecnicamente, desde que ela descobriu que podia ser amiga de Amanda Rush e isso lhe daria a imortalidade no colégio.

- Claro, maninha. – Sarah levantou-se, beijou seu pai e saiu logo atrás de Samantha, que zombou do jeito de ser boa moça da irmã.

Não demorou muito para as duas chegarem ao colégio, foram andando como sempre, já que moravam bem perto. De longe, já avistavam carros de repórteres ao redor do pátio do colégio, uma multidão estava formada. Mas chegando à porta, as coisas só pioraram. Elas passavam pelas pessoas, que estavam cochichando mentiras sobre como Jake e Nick morreram. Algumas diziam que haviam sido cortados em pedacinhos e outras que o assassino ligou antes para avisar que iria matá-los, Sarah e Samantha não podiam ter certeza de nada. Elas pararam para olhar o movimento, viram o Sr. Van Der Lance dando uma entrevista para a imprensa, assim como muitos outros alunos. De repente, Megan Bower chegou, tropeçando literalmente em Sarah e Samantha.

- Olá siamesas, acham que estou bem para uma entrevista? – Megan fez uma pose, mexendo seus cabelos castanhos claros e tentando ser sexy e ao mesmo tempo chocada.

- Megan, você não perde uma, né? – Disse Sarah, com a voz chata.

- Meu amor, uma mulher como eu jamais perde uma. Já fui colocada para escanteio quando Amanda tirou minha popularidade, perdi o papel principal da peça da Rapunzel gótica e minha plástica não funcionou, sim, estou desesperada, mais, ainda assim, sou glamorosa e branca. Vocês têm inveja de mim porque andam com esse cabelo ruivo e com as roupas iguais, como se não bastasse serem gêmeas, agora se me dão licença, tenho uma fama a conseguir – Megan levantou o queixo, soberbamente e engraçada, e foi até a coletiva de reportagem, tentando ser entrevistada.

- E você ainda reclama do jeito que eu sou... – Comentou Samantha, enquanto olhava com desprezo para Megan.

- Sinistro...

Logo atrás delas, Josh Sinclair e Kristen Daniels estavam chegando ao colégio, cheios de teorias sobre os assassinatos. Josh comentava que tudo tinha um motivo, que não era coincidência eles serem assassinados no dia da estréia do filme mais aguardado do ano, enquanto Kristen revezava entre ajeitar seus óculos fundo de garrafa e tossir.

Os dois estavam frenéticos. Josh parecia desesperado, já que era o estranho do colégio e sabia que se houvessem mais mortes, ele não seria um dos sobreviventes. Kristen estava tranqüila, pensava em como isso poderia ajudar Amanda a esquecer dela por um tempo e parar de atormentá-la. Eles passaram por uma van de reportagem e Kristen olhou seu reflexo. Seu cabelo preto, altamente liso e longo parecia mais feio do que achara quando acordou. Seus olhos pretos e fundos ficavam maiores com aqueles óculos que ela era obrigada a usar, e sua roupa estava deixando claro que ela estava ali para liderar o clube de ciências.

Ela parou de olhar para si mesma e decidiu prestar mais atenção em Josh, que não parava de falar. O rosto branco dele, já estava vermelho de tantas teorias que ele soltava.

- Josh, espera um pouco. Nem tudo é um filme de terror...

- Viu só? Ninguém acredita no garoto que sabe das coisas, ninguém acredita! Eu to dizendo, eles não foram mortos à toa, e quem não acreditar em mim vai ser o próximo!

- Shhh! Fala baixo, quer que alguém pense que você é o assassino? – Repreendeu Kristen.

- Ta, tudo bem, mas você precisa admitir que o recado deixado foi suspeito...

- Josh, por favor. Eu sou feia, nerd, excluída, inteligente, séria e virgem, e não estou preocupada em morrer agora. Não se preocupe, se alguém tiver que ser o próximo, serei eu. Agora cala a boca e tenta não chamar atenção.

Eles continuaram a andar, virando rapidamente seus rostos para as câmeras, para não correrem o risco de aparecer.

Logo atrás deles, Amanda chegava com seu carro prata importado, logo de cara deixando todos babarem. Quando abriu a porta, o sol bateu em seus óculos escuros e de alguma forma isso a deixou mais radiante ainda. Enquanto andava, sua saia preta e curta balançava, assim como seus cabelos negros, lisos e compridos. Amanda sabia que era linda, e usava isso a seu favor. Ela desfilou até Erin, que estava escorada numa das árvores do pátio, olhando todo aquele movimento.

- Buh! – Ela gritou, e Erin pulou.

- Amanda! Que susto!

- Relaxa – Sorriu Amanda, maliciosamente – Você só morre na metade do filme...

- Não tem graça, Mandy. Duas pessoas morreram. A coisa ta pegando fogo, estão chamando todos os alunos para serem interrogados.

Amanda suspirou, e posicionou-se ao lado de Erin na árvore. Ela olhou ao redor, era realmente como em um filme, mas ela não conseguia se incomodar com aquilo. Duas pessoas tinham morrido, e quando pensava nisso, um frio subia a sua espinha, mas ela não via motivo para todo aquele escândalo.

- Ta legal, Erin. Onde está o Daniel?

- Ele entrou, acabou de ser chamado pra depor – Erin cruzou os braços.

- Não me diga que meu namorado é o suspeito só porque não estava ontem com a gente no cinema... Por favor...

- Não, eles estão chamando todo mundo mesmo. Falaram seu nome ainda pouco, acho melhor você entrar...

Amanda deu outro suspiro, só faltava essa, ela virar suspeita do assassinato de dois garotos que podiam matá-la com apenas um soco.

- Ta legal, eu vou lá, depois a gente se vê, beleza?

- Ok – Erin mandou beijos pra amiga, de longe.

Amanda fez o mesmo, só que usou uma das mãos. Ela andou entre as pessoas, que circulavam entre si, quase não deixando caminho para passar. Quando entrou no colégio, percebeu que lá dentro não estava diferente, perguntou-se como não tinha idéia do numero de pessoas que estudavam em seu colégio. Andou até a diretoria, passando por Kristen, que já estava em seu armário, ao lado de Josh.

- Gostei do cabelo, como você consegue reciclar pêlo de animal e transformar nisso? Achei digno – Zombou Amanda, e fechou o armário de Kristen.

Kristen, por sua vez, ficou calada. Isso acontecia todos os dias, ela não via mais diferença entre ela zombar de seu cabelo ou filmá-la no banheiro e exibir nas telas espelhadas pelo colégio.
Amanda viu uma fila, seu namorado Daniel estava escorado na parede, atrás de dois outros alunos que ela não conhecia. Amanda sorriu e quando Daniel a viu, demonstrou o alivio que sentiu.

- Onde você estava? Chamaram seu nome duas vezes – Sussurrou Daniel.

- Calma, amor. Estou aqui. O que eles estão falando lá dentro?

- Você acha que eu sei? Ainda não entrei, só sei que eles acham que o assassino ou a assassina estuda neste colégio.

- Por que você está sussurrando?

Naquele momento, a porta da diretoria se abriu. Um policial de meia idade apareceu, ele não estava de uniforme, então Amanda presumiu que ele fosse um detetive.

- Próximo – Ele disse, e olhou para Amanda – Amanda Rush?

- Detetive Lionel? Ai meu Deus, eu não reconheci você! – Amanda deu um sorriso e foi cumprimentá-lo – Você ta muito bem, hein? Andou malhando?

- Bom... – O detetive ficou sem graça, mas pareceu acreditar no elogio, que era tão falso que Amanda fez uma careta para Daniel, e isso provou que ela apenas estava sendo falsa e gentil, como sempre – Eu me exercito um pouco...

- Percebi... – Amanda assentiu.

- Chamamos seu nome agora a pouco. Venha, entre. Se livre logo disso.

- Tudo bem – Amanda entrou, e sentiu um arrepio, sem saber por quê.

Quando fitou a sala, viu o diretor em pé, perto a uma das janelas, e um policial sentado na cadeira dele, sério como ela nunca tinha visto. Atrás dele, um policial jovem que segurava em sua arma e parecia estar muito preocupado com sua postura.

- Sente-se aqui, Amanda – Disse o detetive, apontando para a cadeira do outro lado da mesa do diretor.

- Ta legal – Amanda sentou-se, e fitou o que parecia ser o delegado.

- Você conhecia Jake Lindley e Nick Tavera?

- Sim, éramos amigos, tínhamos aula de Espanhol juntos.

- Muito próximos? – Perguntou o delegado, e cruzou as mãos na altura de seu nariz, fitando seriamente Amanda.

Amanda também olhava para ele, sabendo que ele estava fazendo aquele olhar para intimidá-la, mas ela não caiu. Olhou seu nome escrito no peito, “Delegado Estwood”. Logo ela ligou o sobrenome a Aaron, o gostosinho da TV, como chama, e talvez eles fossem pai e filho.

- Depende da profundidade da pergunta... – Respondeu ela, com um sorriso malicioso.

- Você consegue pensar em alguém que tenha motivos para matá-los?

- Nem imagino. Eles eram até legais, e todo mundo que conheço estava na estréia do filme ontem, então... Acho que quem os matou foi alguém de fora do colégio...

- Sabia que eles foram encontrados sem suas colunas vertebrais, senhorita?


- Não, eu... – Amanda fez uma careta, não sabia por que ele havia dito aquilo.
- Muito bem, é só isso. Obrigado por cooperar conosco.

Amanda não estava entendendo, seu rosto confuso demonstrava uma certa instabilidade. Ela imaginou os dois sem suas colunas vertebrais, e isso pareceu mais cruel do que pensava. Ela levantou-se e sem nem olhar para o delegado, saiu. Olhou para o detetive e sussurrou “que sinistro”, com o rosto já formal. O detetive prendeu um riso e abriu a porta para ela, que deu de cara com Daniel.

- E aí? – Ele perguntou.

- Sei lá, esse cara é muito estranho.

- E você ta legal?

-Eu? – Amanda olhou para ele, com um certo desprezo – Estou ótima.

- Entendi. Não vou nem falar dessa sua saia curta...

- O que foi? Não achou sexy? – Ela fez um bico.

- Sexy e inapropriada.

- Próximo! – Disse o detetive.

- Foi papai quem comprou. Se quiser, tenta uma melhor, isso se o seu cartão de crédito tiver limite – Ela saiu andando.

- E não ande assim! – Ordenou Daniel.

Mas Amanda provocou, começou a andar rebolando ainda mais, com as mãos pra cima, com aquele andar de matar qualquer um. Daniel balançou a cabeça negativamente, se perguntando por que ele gostava dela, se a beleza já estava demonstrando não ser mais suficiente.

- Uh, sou linda – Gritou Amanda, para provocar ainda mais.

Ela estava rindo, vitoriosa, se achava tão legal, que as coisas que fazia eram mais legais ainda.
- Vagabunda! – Disse Megan, que havia chegado praticamente do nada.

- Eu diria que é bom te ver, mas não tenho tempo para falsidade – Amanda nem a olhou, apenas continuou andando, com um rosto de desprezo enquanto Megan a seguia.

- Eu sei o que aconteceu! Eu estava lá, você é suspeita! – Disse Megan, quase que freneticamente.

- O que? – Amanda fez uma careta, mas ainda não tinha dado a moral de olhar para Megan.

- Você transou com Jake e ele está morto. Você transou com Nick e ele também está morto. O que você acha da teoria de Daniel Clark ser o próximo?

- Acho que se você está certa, metade do colégio teria que morrer. Agora me deixe em paz.

- Você sabe o que é Amanda! Eu vou te desmascarar na frente de todo mundo! E quando todo mundo vir à vadia que você é, eu vou ser a mais popular, porque foi assim que meu pai sempre quis, prefiro perder meus seios do que perder para rainha do baile de primavera de novo, você sabe...

Fora o que Amanda estava prestando atenção, Megan tagarelou ainda mais em seu ouvido, mas Amanda parou de prestar atenção quando seus olhos se focaram na ultima pessoa que achou que veria naqueles corredores. Aaron Estwood. Os policiais da entrada impediram as pessoas de o cercarem, de pedirem autógrafos, ele só queria falar com o diretor e ir embora.

- O-M-G – Disse Amanda.

- Ai meu Deus, é Aaron Estwood! – gritou Megan.

Amanda andou na direção dele, sorrindo, enquanto Megan ia atrás dela com passos pequenos e engraçados, desengonçada, mas ainda assim linda. Quando Aaron percebeu que Amanda Rush estava andando em sua direção, ele sorriu e olhou pro lado, não estava acreditando que chegou à uma hora na cidade e já deu de cara com ela.

- Ora, ora, ora – Começou Amanda, num tom irônico – Se não é nossa celebridade local. Devo te chamar de anjo da morte, já que só aparece por aqui quando alguém morre?

- Isso não! – gritou Megan ao lado, mas eles não ligaram para ela.

- Amanda Rush... Não nos vemos desde...

- Desde os quinze minutos no paraíso da festa de aniversário da Erin no oitavo ano? – Completou ela, com um sorriso e isso desencadeou várias lembranças daquela noite, quando o recém-musculoso Aaron teve sua primeira vez marcada pela garota mais desejada do colégio.

- Vagabunda! Eu disse! – Gritou Megan, tentando chamar atenção, mas Aaron e Amanda estavam preocupados demais no jogo de olhares sedutores que jogavam um para o outro.

- Foi uma das melhores, sabia? – Amanda sorria como se quisesse agarrá-lo ali mesmo.

- E olha que eu não tive muito que aprender.

Megan os olhava, com inveja. Cada vez que Aaron pronunciava uma palavra, ela olhava para ele, e assim que Amanda falava, ela virava pra ela.

- Pena que estou apaixonada, se não eu te daria mais do mesmo, só que melhor. Adeus, celebridade – Amanda passou por ele, sorrindo soberbamente.

Aaron ficou desconcertado, nunca pensou em levar um fora de Amanda, já que ela foi bastante fácil para ele anos atrás. Ele sorriu, mas estava sem graça.

- Eu disse, ela é uma vadia! Não confie nela, eu sei que ela rouba os doces da máquina do refeitório.

- E você quem é?

- Megan Bower, Atriz, cantora, compositora, modelo e baby-sitter nos fins de semana, Ochonté – Megan estendeu a mão para Aaron, mas ele pareceu querer que alguém tirasse aquela louca da sua frente.

--

- Ok, pai, eu vou tomar cuidado – Disse Erin ao celular.

- Você está com o spray de pimenta que eu dei?

- Claro, pai. Coloquei ele na minha bolsa. Não se preocupe.

- Filha, tem um louco por ai que matou dois jogadores de futebol, você é pequena e indefesa, precisa se cuidar.

Erin suspirou, ela odiava quando ele falava aquilo.

- Tudo bem, pai, vou desligar, vou encontrar com as minhas amigas.

- Tudo bem, querida. Amo você.

- Também te amo... – Ela desligou e colocou o celular na bolsa.

Não se passou nem cinco segundos e seu celular tocou de novo, mas era o barulho de uma nova mensagem de texto. Ela o retirou da bolsa e leu, era da Amanda. “Venha pro chafariz, a galera toda ta aqui, xoxo, Mandy”. Erin não entendeu, já que o chafariz era o local dos fracos, de acordo com Amanda, que escolheu a sombra da árvore do pátio como o point de todos eles. Sem nem ao menos responder, Erin colocou de volta o celular na bolsa e seguiu pro chafariz.

Quase chegando, ela já podia ver que, realmente, toda a galera estava lá. Daniel estava sentado, com Amanda deitada em sua perna com as pernas esticadas. Encostado em Amanda, estava seu irmão mais novo Brandon, calmo, sério e fofo, assim como Erin sempre achou. Sarah e Samantha estavam bem ao lado, Samantha de pernas cruzadas enquanto Sarah estava sentada como alguém que estava meditando. Erin andou e sentou-se ao lado de Daniel, colocou sua bolsa ao seu lado e falou com Amanda:

- Por que hoje você quis ficar no chafariz ao invés da árvore? Que eu me lembro isso é pros fracos.

- Ué, você não assistiu os filmes Pânico? – Retrucou Amanda, olhando para suas mãos entrelaçadas nas de Daniel.

- Claro que não. Eu mal vi o quatro ontem a noite, e isso porque você me obrigou.

- Tem a cena clássica dos jovens no chafariz, conversando sobre as mortes, se perguntando quem vai ser o próximo... – Disse Brandon, olhando nos olhos de Erin, ainda fazendo careta pelo sol bater em seu rosto.

- Acho que já chega de homenagens aos filmes de terror por esses dias. Ontem duas pessoas morreram, foram deixadas na casa da árvore da Trish e ela mal consegue ficar em casa – Disse Sarah.

- Eu vi a Ginger e ela hoje no colégio, Trish estava chorando e Ginger a estava consolando... Achei sinistro... – Comentou Daniel.

- O mais estranho... Foram os dois terem morrido daquele jeito... E serem os primeiros... – Brandon quase engasgou com as palavras.

- Como assim? – Amanda levantou da perna de Daniel e olhou para o irmão.

- A gente assiste filmes de terror, Mandy. E sabemos que em slashers, é sempre uma garota que morre no começo. Não faz sentido alguém começar uma série de assassinatos matando dois meninos. É óbvio que foram mortes isoladas.

- Isso foi tão machista – Samantha deu sinal de vida lá atrás.

- Ele tem razão – Concordou Sarah – É sempre uma garota bonita que morre no começo. Ela tem os peitos gigantes, sobe as escadas, atira coisas no assassino... Ou simplesmente vai checar que barulho estranho foi aquele no porão... Isso é tão óbvio como saber que Jason Voorhees é imortal.

- Mas então, Maninha – Samantha deu um sorriso falso para a irmã, que retribuiu com uma careta – Se as mortes foram isoladas, porque estava escrito perto do cadáver deles “As mortes iniciais”? Isso quer dizer que vai haver mais, não é?

- Pessoal, isso aqui não é um filme de terror – Disse Amanda, com indignação – Pelo amor de Deus, dois dos nossos amigos foram assassinados ontem, o doente que fez isso deixou uma mensagem e agora a cidade ta pirando. E tudo se resume a apenas isso. Ninguém mais vai morrer!

Todos ficaram em silencio. As palavras de Amanda até que faziam sentido. Ela não queria ver ninguém desesperado, ou chorando, muito menos morto. O desespero pelo medo disso só iria aumentar.

O Vento frio da manhã bateu em seus rostos e fez o cabelo de Amanda balançar enquanto ela fitava todos os seus amigos sem respostas para dar.

- Falando nisso, Daniel, onde você estava ontem à noite? – Perguntou Samantha – Eu não vi você na estréia do filme.

- Ta falando que eu sou o assassino?

- Não, só disse que a desculpa de estar passando mal foi a pior inventada na história.

- Gente, o que eu acabei de falar? – A voz de Amanda parecia chateada – Chega desse lance de assassinato, filmes de terror e de possíveis suspeitos. Vou embora daqui – Amanda levantou-se e saiu andando – Nem pense em vir atrás de mim, Daniel Madison Clark.

- Você ouviu a garota, Daniel Madison Clark – Zombou Brandon.

- Cala a boca! – Daniel jogou água nele, que se esquivou, rindo.

--

- Vai ficar tudo bem Trish, eu prometo – Assegurou Ginger, ao celular.

Trish estava sentada em sua cama, de frente para o guarda-roupa, sem coragem nem de olhar pela janela. Lágrimas escorriam de seus olhos, que tentava não fechar, pois toda vez que isso acontecia, ela via Nick e Jake mortos em sua casa da árvore.

- Eu não consigo nem olhar na minha própria janela...

- É assim mesmo, Trish, você passou por um grande trauma. Pode ter certeza, se muitas pessoas tivessem visto o que você viu, estariam até piores.

Trish levantou-se da cama e assuou o nariz. Ela andou em passos curtos até a penteadeira de seu quarto. Fitou-se no espelho, seu rosto estava horrível, cheio de manchas vermelhas e seus olhos fundos pediam para dormir, mas ela sabia que iria ter pesadelos.

- Eu sei... – Respondeu, num sussurro, estava fingindo que acreditava nas palavras de consolo da amiga.

- Olha, os policiais não estão ai em frente a sua casa? Eles estão te vigiando, não vão deixar nenhum maluco entrar!

Trish caminhou até sua janela e afastou a cortina pro lado, só para ver o carro amarelo queimado dos policiais em frente a sua casa. E ele estava lá, intacto. Ela podia ver um deles se mexendo lá dentro, estava segurando um copo de capuccino.

- Sim, eles estão aqui...

- Então, confie nisso. Isso vai acabar, eu prometo.

- Ok... Vou confiar. Agora vou pro computador tentar me distrair um pouco, falo com você amanhã no colégio?

- Claro. Tchau, se cuida, beijos – Ginger desligou.

Trish abaixou o celular e segurou com a outra mão na cortina, só para olhar mais uma vez para os policiais dentro do carro. Quando se obrigou a se sentir segura com isso, saiu da janela e deu dois passos para o computador ao lado. Mexeu o mouse para o descanso de tela desaparecer e a primeira coisa que fez foi clicar encima de sua caixa de e-mail, um atalho estratégico na área de trabalho.

Logo, o bate papo na pequena caixa ao lado abriu-se, era Josh Sinclair falando com ela, seu Nick colorido parecia gay e ao mesmo tempo puritano, sendo assim, um dos mais estranhos.

Josh Sinclair diz:
Hey Trish, como vc está?

Trish <3 diz:
Mais ou menos, obrigada por perguntar...

Josh Sinclair diz:
Sinto muito pelo que aconteceu. Sei que não sou muito de falar com vc, mas saiba que todos do New Britain High estamos com vc =)

Trish <3 diz:
Obrigada de novo, é bom saber disso.

Josh Sinclair diz:
Ah, vc vai superar isso rápido, vai ver. Vc é a garota mais bonita daquele colégio, a mais doce e a mais inteligente, gosto de vc, prometo que vou te matar tão rápido que não vai nem sentir a faca penetrando suas entranhas.

Quando Trish leu, ela deu um pulo da cadeira. Sua respiração começou a ficar ofegante e seus olhos não saiam mais da mensagem que Josh mandara.

Josh Sinclair diz:
O que foi? Não gostou do meu roteiro? Ou você quer ser a loira peituda depenada do começo?

Trish desesperou-se na mesma hora, e com apenas um grito alertou os policiais e sua família.

CAPÍTULO 3: Na Ponta da Faca
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